Interdisciplinareidade: a arte rompendo fronteiras entre as áreas do conhecimento
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- Luiz Vasques Carreiro
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1 Interdisciplinareidade: a arte rompendo fronteiras entre as áreas do conhecimento Donald Hugh de Barros Kerr Júnior 1 Como pensar em ensino de arte e contemporaneidade, sem perceber as transformações que a própria arte sofre e ao mesmo tempo provoca em seus espectadores, levando em consideração seu espaço de aprendizagem na escola. Pensar que a arte, por si só, é um meio interdisciplinar para que o artista possa dar expressão a seu pensamento, é o objetivo desse texto. Antes dos sistemas eletrônicos, o suporte em arte tinha uma materialidade, para dar-se expressão ao pensamento artístico, na forma plástica, um grande número de material era empregado como tela, tintas, argila, pedra, enfim. Um exemplo poderia ser a arte na rede, é uma arte sem suporte e sem matéria, possuindo infinitas possibilidades, sem limites para o pensamento e sua composição. Em nosso deslocamento diário, entre nossa casa e a escola, ou quando estamos de lazer, percebemos a presença da imagem visual em todos os lugares, dentro de metrôs, de ônibus, de taxis, em muros de casas, em paredes de edifícios, na faixada de lojas. Utilizamos as imagens visuais como forma de consumo. Assim tem sido nosso cotidiano, cada vez mais repleto de imagens visuais. Muitas vezes chegamos ao ponto de termos dificuldade em diferenciar as cidades através de fotografias, uma vez que, baseadas no apelo visual, todas estão muito parecidas, um exemplo, são as imagens de duas cidades, Nova Iorque, nos Estados Unidos, e Tokio, no Japão. O que as diferenciam? Como as identifico? Hoje, as imagens nos fazem um convite a criarmos e recriarmos. As imagens são componentes de um repertório de uma determinada cultura, quando entramos em contato com imagens de outras culturas damos novas significações as imagens já conhecidas, inclusive as que ocupam os grandes espaços nos centros comerciais, na televisão, nos meios de comunicação eletrônicos, em out-doors, ou seja, as 1 Professor IFSUL Pelotas/RS 75
2 imagens estão sempre nos convidado a estabelecer um diálogo, a ser provocado, um convite a pensar o mundo que habita, mas acima de tudo a pensar-se para poder transformar-se a partir ou com as imagens. Não podemos pensar que o encontro com essas imagens é descomprometido ou que não são investigadas no campo da arte, da educação, da sociologia, da antropologia, da psicologia podemos estudar as imagens a partir dos estudos da semiótica, da sociologia, da história, da cultura, do patrimônio, da filosofia, em muitas áreas do saber. Hoje em dia são várias linhas de pesquisa em programas de Pós-Graduação que tem como foco a imagem. As imagens chegam cada vez mais rápido em nossas casas, seja através da televisão ou de maios eletrônicos. Além da velocidade, podemos questionar sua rapidez e difusão. Há pouco tempo, passamos por essa experiência através dos jornais, em todas as redes de televisão deste país, que vincularam os protestos em uma favela da cidade do Rio de janeiro e o atentado em Boston, nos Estados Unidos. Quais teriam sidos os fatores que fizeram com que estas imagens chegassem tão rápido em nossos lares? Violência só há nestes lugares? Estamos, em nossas cidades, livres da violência? Qual seria o papel destas imagens quando as relacionamos com uma forma de poder? São isentas? Segundo Pimentel (2002, p.113), devido à velocidade com que vemos as imagens, nem sempre podemos pensar sobre elas e selecionar as que devem fazer parte do nosso repertório imagético, isto é, da preferência visual que gostaríamos de deixar registrada em nossa memória. Temos fortes referentes imagéticos que fazem parte da história da humanidade, uma é a imagem de Ernesto Che Guevara morto e outro é o assassinato do presidente dos Estados Unidos John Kennedy, em novembro de Todas estão carregadas de significados e fazem parte do imaginário de muitas culturas, inclusive sendo utilizadas como panfletárias ou como moda, no caso de estampas em camisetas, bolsas, etc. 76
3 Dentro deste contexto, pode ser uma das competências do ensino da arte estudar as imagens que nos invadem nossas vidas todos os dias, não importando se essas imagens são analógicas ou digitais, para que possamos produzir e criticar as imagens, possibilitando outras significações, tanto para quem a produziu, criou, quanto para que entrar em contato com ela das mais variadas formas. Conhecer e produzir uma imagem se dá das mais variadas formas, desde as tradicionais até as que usam as tecnologias contemporâneas, como as que utilizam o suporte da rede. Cada vez que avançamos tecnologicamente, mais possibilidades de apropriação e ressignificação, disponibilizamos. No entanto, corremos um risco, quando aumentamos o uso recursos tecnológicos, muitas vezes este uso vem sem o conhecimento artístico. Portanto, a aprendizagem dos conhecimentos em arte deve acompanhar seu desenvolvimento todo o tempo, tanto nos meios tradicionais quanto nos recursos tecnológicos contemporâneos (PIMENTEL, 2002). A expressão com a arte pode auxiliar em escolhas diversas junto aos recursos tecnológicos. O ideal é que nossos alunos, a também professores, tivessem experiências significativas com atividades e materiais diversos: scanner, computador, vídeo, câmera fotográfica analógica e digital, telefones, ipad, para que produza pensamentos em arte das formas mais variadas possíveis. Após construir estes argumentos, como garantir o acesso às tecnologias contemporâneas aos nossos alunos e professores? Como pensa-las como área de conhecimento no campo da arte? Como ensiná-las e aprender com elas? Diante de um mundo centrado na informação, o que estabelece relações de poder, ter acesso a esses meios seria um dos primeiros passos para que se possa pensar no ensino de arte contemporaneamente. Uma informação é um conjunto de palavras de ordem. São sempre ideias conforme as significações dominantes ou a palavra de ordem estabelecidas, são sempre ideias que verificam algo, mesmo se esse algo esta por vir, mesmo se é porvir da revolução (DELEUZE,1998, p. 53). Quando alguém é informado sobre algo, dizem-lhe o que julgam que deve acreditar; isso é comunicação, o que equivale a dizer que a informação é o sistema de controle. Assim, a informação é o sistema controlado das palavras de ordem que 77
4 têm curso numa sociedade (DELEUZE, 1999, p.7) Será que a arte, e os professores de arte devem se submeter e ser mais um veículo de controle? A sociedade não estaria precisando mais de rupturas e menos aprisionamentos? Mais de sensações do que informações? A função da arte é desfazer o mundo da figuração ou da doxa, de despovoar esse mundo, de apagar o que está previamente sobre a tela, de fender as imagens, para em seu lugar colocar um deserto (vazio). Na estética pictural deleuziana, o sentido é o de mostrar e alegorizar o momento da metamorfose, de mostrar a arte se fazendo em seu combate com os dados figurativos. (RANCIÈRE, 2000, p.510). Que tipos de representações, que atua como forma numérica, nos pede a arte por meios digitais? Muitas vezes, somos nós professores, que por movimento de resistência as novas tecnologias, impedimos o acesso do outro, criando um abismo cada vez maior, entre nosso modo de pensar e viver com as tecnologias, em relação aos alunos, seria de suma importância que os professores de arte estivessem sempre mudando sua postura em relação aos processos educacionais, professores que perguntam o tempo todo, que duvidam de seus conhecimentos e buscam uma transformação significativa em sua docência. De uma maneira muito imprecisa, podemos apontar que o computador nas práticas artísticas, se desenvolve por volta dos anos de Não é possível precisar o momento exato da entrada do computador nas práticas artísticas, mas se sabe que o ano de 1950, quando se desenvolve o ENIAC, o primeiro computador de porte eletrônico, serve como um ano limite, aponta um início, mesmo que de maneira imprecisa. Esta informação indica que, a partir deste ano, já estavam disponíveis os recursos informáticos de produção, manipulação e exibição de imagens (COELHO, 2009, p. 39). Quando pensamos na aproximação do ensino de arte as tecnologias e em seus estudos, muitas vezes, não percebemos o tempo que já se levou para desenvolver estas tecnologias e como elas fazem parte de nosso dia a dia. 78
5 Vivemos um mundo instantâneo. Esta é uma relação com o conhecimento que segundo Jorge Larrosa, não é uma experiência. Pensar em formação como experiência supõe cancelar essa fronteira entre o que sabemos e o que somos, entre o que passa (e que podemos conhecer) e o que nos passa (como algo que devemos atribuir um sentido em relação a nós mesmos. (LARROSA, 1996, p.19). Pensar em formação como formação de sentido. Como um texto, uma imagem, um som, uma imagem digitalizada, algo que nos envolve, que nos faz pensar, que modifica nossa percepção e nosso afecto. Há uma necessidade de ser capaz de escutar, de estar atento. Um aluno e um professor, que buscam uma aproximação com as imagens eletrônicas, que não tem essa capacidade de escuta, de atenção, poderá ter cancelado seu potencial de formação e transformação. Referência Bibliográfica COELHO, Alberto D Ávila. Instalações interativas por computador: exercícios de contemplação interfaceada de sensações. Tese; Porto Alegre: UFRGS, DELEUZE, Gilles. Conversações. Rio de Janeiro: Ed 34, O ato de criação: Folha de São Paulo, LARROSA, Jorge. Linguagem e educação depois de babel. Belo Horizonte: Autêntica, PIMENTEL, Lúcia Gouvéa. Tecnologias contemporâneas e o ensino de arte. In: BARBOSA, Ana Mae. (org.) Inquietações e Mudanças no Ensino da Arte. São Paulo: Cortez, RANCIÈRE, Jacques. La división de lo sensible. Estética y política. Salamanca: Consorcio de Salamanca,
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