O conhecimento e a incerteza do ponto de vista do ceticismo

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1 O conhecimento e a incerteza do ponto de vista do ceticismo IF UFRJ Mariano G. David Mônica F. Corrêa

2 O conhecimento e a incerteza do ponto de vista do ceticismo Aula 1: O conhecimento é possível? O ceticismo na Antiguidade. Aula 2: Como é possível conhecer? A emergência da ciência na Modernidade. Aula 3: Como se dá o conhecimento científico? A Filosofia da ciência na Contemporaneidade. Aula 4: Como confiar no conhecimento científico? A medição e a incerteza.

3 Aula 1: O conhecimento é possível? O ceticismo na Antiguidade 1.1 Contexto histórico do nascimento da filosofia 1.2 Origens e características do ceticismo 1.3 Fases/escolas e argumentos do ceticismo 1.4 O ressurgimento do ceticismo no séc. XVI 1.5 Ceticismo, razão, ciência

4 1.1 Contexto histórico do nascimento da filosofia

5 1.1 Nascimento da filosofia: Mito e Filosofia Mitos Origem do cosmos, funcionam. da natureza, origem do povo; Apelo ao sobrenatural, ao mistério, à real. exterior; Supõe adesão, aceitação, não se presta ao questionamento, à crítica. Filosofia Explicação dos fenôm. naturais: physis; Explicações por meio da causalidade; Corresp. entre a razão e o real: logos; Possibilidade crítica, de divergência e reformulação.

6 1.1 Primeiros filósofos Pré-socráticos: physis e arqué; escola jônica: físicos Escolas eleática (metafísica), pitagórica, atomista Democracia (séc. V ac): disputa retórica Sofistas: profissionais da arte do discurso, relativistas [Iniciação à História da Filosofia, Marcondes, D. (1997)]

7 1.1 Sócrates e Platão Sócrates (- 399 ac): maiêutica processo de parir a Verdade através de perguntas Só sei que nada sei (trecho de Mênon): reconhecimento da ignorância é o princípio da sabedoria Platão ( ac): os diálogos (c. de 30 nos chegaram) Dialética para alcançar a Verdade e os diálogos aporéticos

8 1.1 Platão Mundo inteligível (Ideias ou Formas) x Mundo material, sensível (cópia das Ideias): verticalidade Ideias inatas; Racionalismo; a Academia Diálogo sobre o problema do conhecimento - Teeteto: (1) sensação; (2) opinião verdadeira e (3) opinião verdadeira acompanhada de explicação racional

9 1.1 Aristóteles Aristóteles ( ac): obra imensa e muito influente Conhecimento parte da sensação, através das causas, para chegar à ciência: horizontalidade Física coerente e sistemática, porém teleológica e qualitativa Mundos sublunar (imperfeito) e supralunar (perfeito)

10 1.2 Origens do Ceticismo: Helenismo (c. 323 ac a 30 ac) Estoicismo, Epicurismo e Ceticismo Ética Arte de viver Busca da serenidade Ataraxia

11 1.2 Origens do ceticismo Influências antigas e Pirro de Élis (c ac) Ceticismo: disposição de colocar em dúvida a possibilidade de alcançar uma certeza Céticos x Dogmáticos Sképtomai indagar [O ceticismo filosófico, Verdan, A. (1971)]

12 1.2 Características do ceticismo Capacidade de opor argumentos equivalentes, alcançando-se a epoché (suspensão do juízo) e a ataraxia Aceita apenas as aparências (sensação passiva: o que se manifesta ou o que aparece ) Guias para a vida prática: natureza; as sensações; as tradições das leis, dos costumes e das artes Tropos ou modos: maneiras de questionar o conhecim. pela experiência ou pela dialética, e de alcançar a epoché [Hipotiposes pirrônicas, Empírico, S. (II dc)]

13 1.3 Fases/escolas do Ceticismo: Ceticismo primitivo (séc. IV a III ac): pirronismo Nova Academia (séc. III a I ac): impossibilidade da certeza no conhecimento Sistematização: ceticismo dialético e empírico (séc. I ac a II dc): Enesidemo, Agripa, Sexto Empírico Pensadores modernos e contemporâneos: Montaigne, Descartes, Empirismo, Iluminismo etc. [Os céticos gregos, Brochard, V. (1887)]

14 1.3 Escolas do Ceticismo: Sexto Empírico (II dc) Hipotiposes pirrônicas (esboço, tratado): Aqueles que investigam sobre um assunto podem concluir que descobriram a verdade, ou que é impossível chegar à verdade, ou que devem continuar investigando. Os que acreditam que chegaram à verdade são os dogmáticos; os acadêmicos a consideram incognoscível e os céticos seguem indagando, investigando. [Hipotiposes pirrônicas, Empírico, S. (II dc)]

15 1.3 Argumentos céticos Os cinco tropos de Agripa (visando a dialética): Modo da discordância Modo da regressão ao infinito (prova exige algo que a prove; não há fundamento sem prova) Modo do dialelo ou círculo vicioso (justificação pelas consequências) Modo da hipótese (proposição exige demonstração) Modo da relação (relativo ao sujeito ou ao objeto) [Hipotiposes pirrônicas, Empírico, S. (II dc)] [O ceticismo filosófico, Verdan, A. (1971)]

16 1.3 Argumentos céticos Problema do critério: para saber se há critério, é necessário um critério... Critério pelo qual (quem?; definições de homem são variadas, não há quem julgue o critério); mediante o qual (sentidos ou entendimento); e segundo o qual (percepção) Compromete: Indução, Demonstração, Definições e todos os recursos da racionais [Hipotiposes pirrônicas, Empírico, S. (II dc)] [O ceticismo filosófico, Verdan, A. (1971)]

17 1.3 Desdobramentos Nova Academia (séc. III a I ac): conhecimento razoável e provável Sexto Empírico: medicina empírica Ceticismo foi relegado ao esquecimento na era medieval [Hipotiposes pirrônicas, Empírico, S. (II dc)] [O ceticismo filosófico, Verdan, A. (1971)]

18 1.4 O ressurgimento do ceticismo no séc. XVI Hipotiposes pirrônicas: tradução latina publicada por Henri Estienne, em 1562 Dois caminhos: fideísmo e busca do razoável (ceticismo construtivo ou mitigado) Fideístas: verdades religiosas são conhecidas pela fé (ceticismo epistemológico) Cético e crente não se opõem: o cético duvida de razões e evidências para a crença, mas pode aceitar as crenças

19 1.4 O ressurgimento do ceticismo no séc. XVI Na disputa intelectual entre católicos e protestantes, os argumentos céticos foram empregados como máquina de guerra Disputa pelo padrão do conhecimento religioso: a regra da fé (critério da verdade) Lutero questiona os critérios de verdade da Igreja e indica a leitura das Escrituras como critério [História do Ceticismo de Erasmo a Spinoza Richard Popkin (1968)]

20 1.4 O ressurgimento do ceticismo no séc. XVI Erasmo admitia que não podia afirmar com certeza qual a posição verdadeira, mas por cautela aceitava a posição experiente da Igreja Michel de Montaigne ( ): Que sais-je? A dúvida pirrônica completa possibilita a adesão aos costumes e ao catolicismo: ideologia da Contra-reforma [História do Ceticismo de Erasmo a Spinoza Richard Popkin (1968)]

21 1.4 O ressurgimento do ceticismo Ceticismo construtivo: aceitação do ceticismo em rel. às verdades necessárias, mas admitindo a possibilidade de um conhecim. de grau inferior acerca das aparências Martin Mersenne ( ) e Pierre Gassendi ( ) no séc. XVI Ceticismo metafísico: Descartes [História do Ceticismo de Erasmo a Spinoza Richard Popkin (1968)]

22 1.5 Ceticismo, razão, ciência Demonstrações e argumentações céticas também são atingidas: suspende-se o juízo (como os remédios que são eliminados junto com os humores que eles curam) Céticos: adversários ou amantes da razão? Ceticismo, os fenômenos e o positivismo Ciências empíricas: surgimento apesar ou devido ao ceticismo? [Hipotiposes pirrônicas, Empírico, S. (II dc)] [O ceticismo filosófico, Verdun, A. (1971)] [Os céticos gregos, Brochard, V. (1887)]

23 1.5 Teoria do conhecimento Conhecimento: crença verdadeira e justificada Problema do Critério: a confiabilidade de nossas fontes de conhecimento não pode ser provada sem o uso destas mesmas fontes Ciências especificam quais questões podem ser tratadas (delimitação dos programas de pesquisa) Se a certeza absoluta não for uma condição para o conhecimento, a possibilidade de erro não o ameaça [Teoria do conhecimento: uma introdução temática, Moser, P.; Mulder, D. e Trout, J. (1997)]

24 Dúvidas? Obrigado