DECISÃO DO RELATOR (Artigo 557, 1º-A do CPC)

Transcrição

1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL N.º Apelante: CSN COMPANHIA SIDERÚRGICA NACIONAL Apelado: ESTADO DO RIO DE JANEIRO Relator: Desembargador CELSO LUIZ DE MATOS PERES Tributário. Embargos à execução fiscal opostos com o objetivo de afastar a cobrança de ICMS incidente em mercadoria sob regime especial de isenção por Drawback Suspensão e multa. Requerimento de anulação da sentença por indeferimento de realização de prova pericial, por considerá-la desnecessária ao deslinde da causa. A decisão que defere ou indefere a produção de determinada prova só será reformada se teratológica, sendo a hipótese dos autos de interpretação de legislação tributária. CDA lastreada em ação fiscal que constatou trânsito de mercadoria com documentação inidônea. Violação dos requisitos do processo administrativo que deferiu o benefício fiscal e, por consequência, afasta a isenção concedida. A responsabilidade pela infração tributária é objetiva, pouco importando os efeitos do ato praticado pelo contribuinte. Inteligência do artigo 136 do CTN. Percentual da multa aplicado dentro dos limites legais, diante do seu caráter punitivo, e porque não dizer educativo, que visa desestimular a sonegação fiscal, sem violar o princípio do não confisco. Adoção do julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial nº /SP, submetido ao regime dos recursos repetitivos nos moldes do artigo 543-C do Código de Processo Civil, onde restou pacificado o entendimento de que a transferência de bens entre estabelecimentos de uma mesma empresa, ainda que situados em diferentes unidades da federação, não se sujeita à tributação do ICMS. Provimento parcial do recurso, apenas para reconhecer a ilegalidade da cobrança do ICMS, mantendo-se a pretensão executiva quanto à multa tributária. DECISÃO DO RELATOR (Artigo 557, 1º-A do CPC) 1. Recorre tempestivamente a CSN Companhia Siderúrgica Nacional, da sentença de fls.373/376, oriunda do Juízo da Central da Dívida Ativa da Comarca de Itaguaí, em embargos à execução fiscal ajuizado pelo apelante, que julgou improcedente o pedido. A sentença condenou a parte embargante ao pagamento das custas e honorários advocatícios fixados em 10% (dez por cento) sobre o valor das custas dos embargos. 10ª Câmara Cível AUTOS N.º Fls.1

2 2. Suscita a preliminar de nulidade da sentença, argumentando que o decisum foi prolatado sem a produção de prova pericial requerida, o que viola diversos dispositivos legais do CPC, ressaltando que o indeferimento da prova fere a ampla defesa. 3. Alega o recorrente que o auto de infração foi iniciado por transporte de mercadoria desacompanhada de documentação denominada AIDF, entretanto, a operação objeto do auto não incide ICMS, pois ocorreu simples transferência de mercadorias entre estabelecimentos da mesma empresa, conforme entendimento pacificado na Corte Nacional, bem como pela operação encontra-se submetida ao regime de Drawback Suspensão. 4. Aduz que o débito tributário não se confunde com a multa, sendo certo que o agente fiscal ao constatar o descumprimento de dever instrumental deveria apenas aplicar a medida punitiva, acrescentando que eventual inidoneidade da documentação expedida enseja a cobrança da multa, diante do regime tributário especial que se submete as operações de Drawback Suspensão. Assevera que o STF reconheceu que a aplicação de multa em percentual superior a 20% (vinte por cento) configura confisco, o que viola a disposições constitucionais sobre a matéria. Requer a reforma da sentença alvejada. 5. Contrarrazões às fls. 483/499. É o relatório. Passo a decidir. 10ª Câmara Cível AUTOS N.º Fls.2

3 6. Trata-se de controvérsia entre sociedade contribuinte e o Estado do Rio de Janeiro, tendo por objeto alegado erro na lavratura do auto de infração e a cobrança do tributo e multa dele decorrente. A sentença julgou improcedente os embargos à execução fiscal. Daí o recurso. 7. Inicialmente, rejeita-se a alegação de nulidade da sentença por falta de produção de perícia técnica contábil, pois sendo o Juiz o destinatário da prova, somente ele pode aferir sobre a necessidade ou não da produção da prova pericial objetivando trazer maiores esclarecimentos à demanda, deixando de ser mero espectador na discussão existente entre as partes, assumindo posição imparcial que lhe permite determinar, de ofício, a produção de quaisquer provas ou até mesmo o prosseguimento ou não da prova técnica, visando formar sua livre convicção. 8. Ademais, a pretensão do apelante independe da produção desta modalidade de prova, que se revela completamente desnecessária e inútil no sentido de contribuir para o deslinde da causa. 9. No mérito, a questão limita-se a interpretação da legislação tributária estadual quando à falta de documentação fiscal ou documentação inidônea no transporte de insumos importados, que descaracterizaria a isenção concedida pelo ente público fiscal, em processo administrativo. Frise-se revelar-se incontroverso a questão do transporte de materiais entre os estabelecimentos da recorrente de Itaguaí e Volta Redonda serem realizados com documentação fora dos padrões deferidos pela administração tributária estadual. 10ª Câmara Cível AUTOS N.º Fls.3

4 10. Também, revela-se importante ressaltar que a isenção de ICMS deferida em regime especial, referente transporte de material importado, foi autorizada pela Secretaria Estadual de Fazenda, através do processo administrativo nº. E-04/020936/93 (anexos nº /00116), entretanto o aludido procedimento condicionou o benefício fiscal a exigência de que o transporte entre os estabelecimentos de Itaguaí e Volta Redonda deve ser acompanhado do documento denominado MOVIMENTAÇÃO DE MATERIAL com a respectiva AUTORIZAÇÃO PARA IMPRESSÃO DE DOCUMENTOS FISCAIS, tudo visando afastar eventual sonegação fiscal. 11. Feitas essas considerações, constata-se que a mercadoria descrita no auto de infração era transportada com o documento denominado Movimentação de Material, entretanto, o mesmo não possuía a Autorização para Impressão de Documentos Fiscais, o que revela a sua inidoneidade e afasta o benefício fiscal concedido. Frise-se que não se trata de mero erro material ou de excesso de formalidade, mas de ausência de requisito básico descrito no Decreto 8.050/85 e no procedimento administrativo nº. E-04/020936/93, que condicionou a isenção fiscal ao cumprimento integral da obrigação secundária. 12. No que diz respeito ao percentual aplicado a multa, ressalto, como bem lançado na sentença alvejada, que o artigo 136 do CTN estabelece que a responsabilidade pela infração tributária é objetiva, pouco importando os efeitos do ato praticado pelo contribuinte, o que evidencia o seu caráter punitivo, e porque não dizer pedagógico, que visa desestimular a sonegação fiscal e eventual burla à atuação da administração tributária. 10ª Câmara Cível AUTOS N.º Fls.4

5 13. Neste particular, o percentual de 70% (setenta por cento) de multa sobre o valor do imposto devido viu-se regularmente fixado, pois observou o limite legal previsto no artigo 59, IX, a da Lei Estadual nº. 2657/96, uma vez que a obrigatoriedade do seu recolhimento se daria em virtude da inidoneidade da documentação fiscal. 14. Por outro lado, deve ser levado em consideração o julgamento proferido pelo Superior Tribunal de Justiça, no Recurso Especial nº /SP, submetido ao regime dos recursos repetitivos, nos moldes do artigo 543-C do Código de Processo Civil, onde restou pacificado o entendimento de que a transferência de bens entre estabelecimentos de uma mesma empresa, ainda que situados em diferentes unidades da federação, não se sujeita à tributação do ICMS, conforme demonstra a seguinte ementa: PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE CONTROVÉRSIA. ART. 543-C, DO CPC. ICMS. TRANSFERÊNCIA DE MERCADORIA ENTRE ESTABELECIMENTOS DE UMA MESMA EMPRESA. INOCORRÊNCIA DO FATO GERADOR PELA INEXISTÊNCIA DE ATO DE MERCANCIA. SÚMULA 166/STJ. DESLOCAMENTO DE BENS DO ATIVO FIXO. UBI EADEM RATIO, IBI EADEM LEGIS DISPOSITIO. VIOLAÇÃO DO ART. 535 DO CPC NÃO CONFIGURADA. 1. O deslocamento de bens ou mercadorias entre estabelecimentos de uma mesma empresa, por si, não se subsume à hipótese de incidência do ICMS, porquanto, para a ocorrência do fato imponível é imprescindível a circulação jurídica da mercadoria com a transferência da propriedade. (...) 2. "Não constitui fato gerador de ICMS o simples deslocamento de mercadoria de um para outro estabelecimento do mesmo contribuinte." (Súmula 166 do STJ). (...) 7. O art. 535 do CPC resta incólume se o Tribunal de origem, embora sucintamente, pronuncia-se de forma clara e suficiente sobre a questão posta nos autos. Ademais, o magistrado não está obrigado a rebater, um a um, os argumentos trazidos pela parte, desde que os fundamentos utilizados tenham sido suficientes para embasar a decisão. 8. Recurso especial provido. Acórdão submetido ao regime do art. 543-C do CPC e da Resolução STJ 08/2008. (REsp /SP, Rel. Ministro LUIZ FUX, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 25/08/2010, DJe 10/09/2010). Grifo nosso. 10ª Câmara Cível AUTOS N.º Fls.5

6 15. Assim, considerando-se a alteração do sistema processual promovida pela Lei nº /08, que instituiu o julgamento uniforme de recursos repetitivos no âmbito do Superior Tribunal de Justiça, impõe-se a adoção do entendimento acima retratado, diante do reconhecimento jurisprudencial de que a transferência de produtos entre estabelecimentos da mesma sociedade não constitui ato de mercancia e, por consequência, deixa de ocorrer subsunção do fato a hipótese de incidência tributária. 16. Por tais fundamentos, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso interposto pelo contribuinte para reconhecer a ilegalidade da cobrança apenas relativa ao ICMS na CDA reproduzida no anexo nº , ficando mantida a sentença de primeiro grau nos demais termos. Publique-se. Rio de Janeiro, 04 de março de DESEMBARGADOR CELSO LUIZ DE MATOS PERES Relator 10ª Câmara Cível AUTOS N.º Fls.6