A RELAÇÃO ENTRE APEGO À ESCOLA E VALORES HUMANOS
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- Juan Pinho Maranhão
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1 A RELAÇÃO ENTRE APEGO À ESCOLA E VALORES HUMANOS Nathália Beatriz de Souza Amorim; Jéssyca Cristina Ferreira Nunes; Luana Vanessa Soares Fernandes; Viviany Silva Araújo Pessoa Universidade Federal da Paraíba, naathybeatriz@gmail.com Objetivou-se conhecer a correlação entre apego à escola e os padrões valorativos e, especificamente, verificar a existência de uma correlação positiva com os valores sociais e conhecer o nível de apego dos estudantes com a escola. Para tanto, tratou-se de um estudo correlacional com a participação de 200 estudantes do ensino médio da cidade de João Pessoa-PB, equitativamente distribuídos entre escolas públicas e particulares, sendo a maioria do sexo feminino (64%), com idades variando entre 14 a 19 anos (m = 16,14; dp = 0,831). Os participantes responderam a Escala de Apego ao Lugar, Questionário dos Valores Básicos e questões sociodemográficas. Os dados foram tabulados para realização de análises descritivas (distribuição de frequência, média e desvio padrão) e inferencial (correlação r de Pearson). Os resultados mostraram que a dimensão apego ao lugar se correlacionou com as subfunção interativa (r = 0,42; p = <0,01), suprapessoal (r = 0,30; p = <0,01), existência (r = 0,24; p = <0,01), normativa (r=0,23; p= <0,01) e realização (r = 0,21; p = <0,01). Além disso, foi possível notar que o nível de apego ao lugar dos estudantes com a escola foi meritório (m = 3,63; dp = 0,52). Os resultados são discutidos com base nos estudos sobre a relação pessoa-ambiente no contexto escolar e na necessidade de ampliação e desenvolvimento de projetos para a conscientização e estimulação dos estudantes que possam refletir na aprendizagem. Palavras-chaves: Apego ao lugar, Valores humanos, Psicopedagogia Institucional.
2 Introdução A organização da educação como tem-se hoje passou por modificações ao longo da história que foram fundamentais para repensar o processo de ensino-aprendizagem. Assim, deixou-se para trás uma vertente de educação autoritária para uma direcionada a construção de um sujeito ativo na sociedade. De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (BRASIL, nº 9394/96) esse é o papel principal da educação, ou seja, fornecer oportunidades para o desenvolvimento das potencialidades dos indivíduos para a sua formação biopsicossocial (ALMEIDA; SOUZA, 2012). Logo, essa nova formatação educacional sugere novas posturas estudantis que, por sua vez, podem interferir nas relações do estudante com seus pares, com os professores e com o próprio espaço de aprendizagem. Um fator que pode estar implicado na relação do estudante com as demandas dessa (nova) escola é o sentimento de pertencimento ao lugar. Sabe-se que a percepção de pertencimento com o lugar advém da convivência diária em um ambiente que proporcione bem-estar e relações afetivas entre pessoa-grupo. Para discutir essa interação, faz-se necessário entender as interfaces entre o indivíduo e o ambiente. Nesse sentido, parte-se dos pressupostos da Psicologia Ambiental, que agrupa elementos adequados para observar, descrever e explicar aspectos do comportamento humano, priorizando a relação entre a pessoa e o ambiente. Ressalta-se, dentro desse conteúdo, a discussão sobre os vínculos afetivos dos estudantes frente à escola e como isso pode repercutir em seu desenvolvimento biopsicossocial (FELIPPE; RAYMUNDO; KUHNEN, 2013). Partindo dessa visão, é interessante entender o conceito de apego ao lugar e o quanto a sua compreensão traz contribuições para a análise dos comportamentos dos usuários que pertence a um ambiente de aprendizagem, seja ele escolar ou acadêmico (LI, 2011; VAZ; ANDRÉ, 2015). Logo, entende-se por apego um vínculo ou laço afetivo com pessoas ou objetos específicos (BOWLBY, 1977) e apego ao lugar como sentimento de pertencimento a um lugar (FELIPPE; KUHNEN, 2012). Para tanto, a vertente de apego utilizada na pesquisa é voltada ao apego ao lugar ou place attachement - como é comumente mencionada na literatura - direcionado ao sentimento de pertencimento com o âmbito escolar.
3 Assim, nota-se a necessidade de considerar o apego ao lugar e suas possíveis relações. Uma delas são com os valores humanos. Emprega-se nessa pesquisa a Teoria Funcionalista dos Valores Humanos, por se tratar de uma proposta mais parcimoniosa e integradora definindo os valores humanos como princípios-guia que transcendem objetos ou situações específicas tendo como função guiar os comportamentos e expressar as necessidades humanas (GOUVEIA, 2013). Além disso, a presente pesquisa também adota a linha da Psicopedagogia institucional, campo de estudo preocupado com as interfaces do aprender, isto é, as relações construídas tanto dentro como fora do âmbito escolar, a afetividade no processo de aprendizagem, a metodologia seguida e as diferentes dimensões do ser cognoscente (SANTOS, 2016). Partindo desse panorama levantam-se as seguintes problemáticas, a saber: Qual é o nível de apego dos estudantes com a escola? Quais são as prioridades valorativas desses estudantes? Para tanto, justifica-se promover essa discussão, a partir dos achados da pesquisa, que corroborem com a perspectiva de evidenciar o apego ao lugar como um fator associado à aprendizagem. Diante disso, o objetivo geral foi conhecer a relação entre apego à escola e os padrões valorativos. Como objetivos específicos, pretendeu-se: (a) verificar se existe uma correlação positiva entre os valores sociais e o apego ao ambiente escolar e (b) conhecer o nível de apego dos estudantes com esse ambiente. Entende-se o conceito de apego ao lugar como condições, transições e processos da relação pessoa-ambiente relativamente estáveis no tempo (SPELLER, 2005, p. 134). Os aspectos que proporcionam esse apego são segurança, autonomia, apropriação, estimulação interna e externa e congruência com o lugar. Assim, ainda segundo a autora, a vinculação com o lugar orienta e motiva o comportamento, as cognições e as avaliações voltado para a criação de uma identidade positiva. Outra definição esboçada por Felippe e Kuhnen (2012), enfatiza que o apego ao lugar é estabelecido pela ligação afetiva com cenários físicos através da experiência real ou esperada sendo essa relação presente em indivíduos que apresentam uma identidade positiva com o lugar. As autoras Elali e Medeiros (2011) esboçam três dimensões que são essenciais para o entendimento do apego ao lugar, são elas: 1) A dimensão funcional, que está relacionada aos elementos que constitui um espaço; 2) dimensão simbólica, que enfoca a cultura individual; e
4 3) dimensão relacional, que é a relação entre a sociedade e o ambiente, que reflete as ligações criadas pelos indivíduos com o ambiente, sendo relevante para a formação da identidade pessoal do indivíduo. Os autores Walker e Ryan (2008), discorrem que o apego ao lugar é notado a partir do comprometimento do indivíduo com o lugar, isto é, através da sua participação social e dos sentimentos formados nesse local. Além disso, cita alguns indicadores que podem influenciar nessa relação como: ciclo de vida, tempo de permanência no local e mobilidade. No entanto, deixa claro que esses pontos não podem ser vistos como universais para mensurar o nível de apego ao lugar. Já para as autoras Felippe, Raymundo e Kuhnen (2013), uma das funções do apego ao lugar está direcionado a promover comportamentos de cuidado a partir da identidade pessoal. Esse cuidado será desenvolvido através do sentimento de pertencimento e criação de vínculos com o lugar o que pode favorecer a conservação de um ambiente estimulante para atender as necessidades dos indivíduos frente à aprendizagem (AMPARO et al., 2008; WANG; ECCLES, 2012). Para incrementar essa discussão, faz-se oportuno a inclusão dos valores humanos como construto importante para entender o comportamento humano, no contexto educacional (FONSÊCA, 2008; GOUVEIA, 2009) especificamente, aqueles resultantes da relação pessoaambiente; aja vista que é no contexto educacional que o educando aprende uma série de valores que contribuirão para a sua formação biopsicossocial. Desde uma perspectiva funcionalista os valores humanos são definidos como princípiosguia gerais, que transcendem objetos ou situações específicas, tendo como função orientar o comportamento humano e representar cognitivamente as necessidades (GOUVEIA, 2013). E, a partir do cruzamento dessas duas funções é esboçado um modelo 3x2, na qual a primeira dimensão é formada por três tipos de orientação que tem como propósito guiar os comportamentos; são elas: 1) social, cujos os indivíduos que priorizam esses valores priorizam a vida em comunidade ou apresentam um foco interpessoal, 2) pessoal, são indivíduos pautados em valores egocêntricos ou apresentam um foco intrapessoal, e 3) central, representa o eixo principal da estrutura dos valores humanos sendo referência para explicar os valores sociais e pessoais. Já a segunda dimensão, engloba dois tipos de motivadores (materialista e humanitário) que tem como função representar cognitivamente as necessidades humanas. Os valores
5 materialistas estão voltados para ideias práticas, portanto, as pessoas que priorizam esses valores são guiadas a metas específicas e a regras normativas. Já os valores humanitários exprimem uma orientação central embasados em ideias e princípios abstratos, os quais não tem como foco metas concretas e específicas. Logo, dessa estrutura emergem seis combinações (social-materialista, social-humanitário, central-materialista, central-humanitário, pessoal-materialista, pessoal-humanitário) que representam seis subfunções ou valores básicos, no qual cada uma apresenta um conjunto de descritores valorativos específicos, a saber: Subfunção existência: apresenta uma orientação central e um motivador materialista representando as necessidades básicas de sobrevivência e de segurança do indivíduo; subfunção realização: é formada por uma orientação pessoal e um motivador materialista, tem como ênfase as necessidades de autoestima com foco em realizações materiais e na busca de praticidade em decisões e comportamentos; subfunção normativa: tem uma orientação social e um motivador materialista com o objetivo de valorizar a preservação da cultura e as normas convencionais; subfunção suprapessoal: corresponde a uma orientação central e um motivador humanitário que representa as necessidades de estética, cognição e autorrealização, o que auxilia a estruturação e categorização do mundo de maneira consistente, deixando-o claro e coerente para a organização cognitiva do indivíduo; a subfunção experimentação: representa uma orientação pessoal e um motivador materialista, o que evidencia a necessidade fisiológica de satisfação, contribuindo para a promoção de mudanças e inovações na estrutura de organizações sociais; a subfunção interativa: tem uma orientação social e um motivador humanitário. Ratifica às necessidades de pertença, amor e afiliação, enquanto estabelece e mantém as relações interpessoais do indivíduo. O esboço dessa teoria faz-se importante para entender sua possível relação com o conceito de apego ao lugar, a fim de explicar e posteriormente, propor estratégias de intervenção psicopedagógicas. Neste sentido, percebe-se a necessidade de estudar o tema visando compreender seus aspectos, conforme o método apontado a seguir. Metodologia Participantes Contou-se com uma amostra não-probabilística composta por 200 estudantes do ensino médio, distribuídos equitativamente entre escolas da rede pública e particular de ensino da
6 cidade de João Pessoa-PB, com idades variando entre 14 a 19 anos (m = 16,14; dp = 0,831), sendo a maioria do sexo feminino (64%). Instrumentos Os estudantes responderam a um livreto contemplando instrumentos próprios para avaliar opiniões sobre apego ao lugar, valores humanos e questões sociodemográficas. Escala de Apego ao lugar (Place Attachment Scale; LI, 2011): Este instrumento é identificado como unifatorial, composto por 30 itens, sendo 10 referentes à ligação afetiva das pessoas com a escola (Por exemplo: Sinto-me feliz quando estou na escola ), 10 representando os aspectos comportamentais (Por exemplo: Eu não me importo sobre o que acontece na escola ) e 10 referentes aos aspectos cognitivos frente à escola (Por exemplo: Eu tenho lembranças significativas da escola ). Dos 30 itens apresentados, 11 deles são invertidos (03, 07, 09, 11, 14, 15, 16, 17, 19, 21, 23). Além disso, algumas palavras foram modificadas para se ajustar ao contexto institucional. Estes itens são respondidos em uma escala de cinco pontos, variando de 1 (Discordo totalmente) a 5 (Concordo totalmente). Vale ressaltar que a medida original apresenta um índice de consistência interna adequada (α = 0,94). Questionário dos Valores Básicos (QVB - GOUVEIA, 2013): Este instrumento é composto por 18 itens ou valores específicos, os quais avaliam seis subfunções valorativas, a saber: existência, realização, normativa, suprapessoal, interativa e experimentação. Com o propósito de respondê-lo, o participante deverá indicar o grau de importância que cada um dos valores tem como um princípios-guia na sua vida, utilizando uma escala de resposta de sete pontos, com os seguintes extremos: 1 (Totalmente não importante) a 7 (Totalmente importante). O instrumento apresenta índice de consistência variando de 0,48 (interativa) a 0,63 (normativa). Questões Sociodemográficas: Este bloco de perguntas foi elaborado com a finalidade de conhecer as características da amostra, tais como: idade, sexo, tipo de escola, tempo de matriculado, se gostaria de estudar em outra escola, lugar preferido na escola, e em quantas escolas estudou anteriormente. Procedimento A presente pesquisa foi submetida, avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba estando de acordo com os preceitos éticos vigentes para a realização de pesquisas com seres humanos defendidos pelas Resoluções nº. 466/12 e 510/16 do CNS/MS. A princípio,
7 manteve-se contato com os responsáveis da instituição escolar mediante a entrega da Carta de Apresentação com intuito de conseguir permissão para a aplicação dos questionários. Após devidas autorizações para a participação no estudo, foi entregue pela escola o Termo de Anuência e marcados os dias para a aplicação dos instrumentos. Em sala de aula foi explicado como seria o preenchimento do livreto e solicitado a assinatura do Termo de Assentimento do Menor, esclarecendo sobre o caráter voluntário e sigiloso. A aplicação do livreto foi feita em ambiente coletivo de sala de aula, porém as respostas foram individuais; a pesquisadora se fez presente na mesma para tirar eventuais dúvidas, sendo a presença do professor facultativa; e em média 30 minutos foi o tempo necessário o processo de coleta dos dados. Análise dos dados Os dados foram tabulados e analisados de forma quantitativa através do pacote estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Science 21), o qual realizou estatísticas descritivas (distribuição de frequência, média e desvio-padrão), relevantes para caracterizar os participantes da pesquisa e Correlação (r de Pearson), para verificar a relação existente entre as variáveis apego ao lugar e os valores humanos. Resultados Os resultados a seguir são apresentados em subseções organizadas de modo a contemplar os objetivos que foram propostos na pesquisa. Primeiramente apresentam-se as estatísticas descritivas, em seguida, os dados da correlação entre as variáveis apego ao lugar e valores humanos. Perfil sociodemográficos dos participantes Os dados sociodemográficos serviram para identificar o perfil dos estudantes e embasar a discussão a respeito do nível de apego com o contexto escolar. Com subsídios nos dados coletados na escala de apego, constatou-se que os estudantes apresentaram um nível de apego meritório (m = 3,63; dp = 0,52). O tempo de matriculado na escola, foi agrupado em quatro categorias a saber: os que estão na instituição de zero a um ano (15,5%); de um ano a 5 anos (30,5%); de 6 a 10 anos (30%); e os que estão matriculados na instituição entre 11 a 14 anos (23,5%). A maioria dos discente (87%) responderam que não gostariam de estudar em outra escola. Os que responderam de forma positiva (13%) completaram a resposta dando as seguintes
8 razões para a mudança: vontade de conhecer novos lugares, ensinos e pessoas; falta de uma boa infraestrutura; e problemas nas relações interpessoais. Em seguida, foi questionado o lugar na escola que mais gostavam. Nessa resposta foram elencados apenas os mais citados como: quadra de esportes (29%), sala de aula (12%), pavilhão (10%), cantina (9%), laboratório de informática (7%), biblioteca (6,5) e o sítio (5%). Por fim, foi perguntado sobre o número de escolas que os respondentes estudaram anteriormente, 8% dos estudantes relataram não ter estudado em outra escola anteriormente; 27,5% em uma escola; 27% em duas escolas e 37,5% responderam em mais de duas escolas. Estes resultados proporcionam uma melhor caracterização dos estudantes e coopera com a interpretação das análises de correlação, as quais são descritas a seguir. Correlação entre apego ao lugar e valores humanos Para atender o objetivo geral de verificar como a variável apego ao lugar se relaciona com as subfunções valorativas foi realizado uma correlação (r de Pearson). Foi verificado que as subfunções interativa (r = 0,42; p = <0,01), normativa (r=0,23; p= <0,01), suprapessoal (r = 0,30; p = <0,01), existência (r = 0,24; p = <0,01) e realização (r = 0,21; p = <0,01) se correlacionaram de forma positiva e significativa com o Apego Geral. No entanto, constatou-se que não houve correlação significativa com a subfunção experimentação (r= 0,20). Discussão No que diz respeito ao nível de apego ao lugar, foi possível identificar que, os estudantes apresentaram um nível de apego ao lugar meritório (m = 3,63; dp = 0,52). É considerado meritório porque indica pontos característicos de pouco apego com à escola. Esta afirmação é ratificada pela análise da questão sobre a quantidade de escolas frequentadas anteriormente, na qual a maioria dos estudantes (37,5%) já frequentaram mais de duas escolas. Assim, notase que a circulação entre escolas pode ser um fator que dificulta o desenvolvimento do sentimento de pertença ao lugar (WALKER; RYAN, 2008). Por outro lado, na questão referente ao tempo de matriculado na mesma instituição, foi possível notar que, 60,5% dos estudantes apresentam um tempo entre um e 10 anos. De acordo com esse achado, pode-se entender que os estudantes encontram-se em um nível intermediário de apego ao lugar, ou seja, demonstra-se que mesmo não apresentando um alto nível de apego ao lugar, não são desvinculados a esse local. Portanto, pode-se compreender que a maioria dos estudantes estão estabelecendo um vínculo com o ambiente escolar, o qual é
9 influenciado pelo tempo de permanência no local, que proporcionará experiências a partir das relações construídas durante o convívio com os espaços que o constituem (WALKER; RYAN, 2008). Outro fator que corrobora com esse achado é que a maioria dos estudantes (87%) não gostariam de estudar em outra escola, o que evidencia, mais uma vez, que existe uma boa relação com esse lugar que poderá refletir na sua apropriação (VAZ; ANDRÉ, 2015). Os demais respondentes apresentaram um desejo de mudança que pode estar associado ao padrão valorativo de experimentação que é característico dessa faixa etária, que questiona e procura mudanças e inovações no meio em que está inserido. Para completar a discussão sobre o nível de apego para com o ambiente escolar questionou-se acerca dos lugares favoritos na escola. Das respostas obtidas destacaram-se ambientes que os estudantes mais gostam, tais como: quadra de esportes (29%), sala de aula (12%), pavilhão (10%), cantina (9%), laboratório de informática (7%), biblioteca (6,5%) e o sítio (5%). É notório que boa parte dos locais supracitados estão voltados a ambientes que proporcionam interações sociais através de atividades e momentos de descontração com colegas e demais membros da equipe escolar, que refletem no desenvolvimento dos adolescentes (FELLIPE; RAYMUNDO; KUHNEN, 2013). As relações estabelecidas nesses espaços são exemplos de indivíduos que dão prioridade ao estabelecimento, regulação e conservação das relações grupais que trata-se de características da subfunção interativa. Analisados os resultados obtidos, pode-se notar que há uma associação da subfunção interativa no apego geral, o que evidencia a presença de tal relação no contexto escolar. Esse resultado sugere que quando os estudantes são guiados por tal valor, que representa as necessidades de afetividade, apoio social e convivência (GOUVEIA, 2013), estes tendem a apresentar um significativo nível de apego ao lugar devido a laços afetivos que são estabelecidos pela convivência diária com indivíduos que fazem parte daquele ambiente e pela influência dos afetos e emoções, que poderão refletir na aprendizagem. Estudos que foram realizados por Amparo et al. (2008) e Wang e Eccles (2012), corroboram com esse achado demonstram que à medida que os estudantes se sentem bem na escola tendem a apresentar um bom relacionamento com amigos, professores e outras pessoas que constituem esse espaço, características essenciais para adquirir novos conhecimentos. A dimensão apego geral também pontuou com a subfunção normativa, a qual descreve os valores de tradição, obediência e religiosidade (GOUVEIA, 2013). Esses, quando presente no
10 âmbito escolar tendem a orienta o cumprimento de comportamentos assertivos dos estudantes, tais como: frequentar a escola, respeitar às normas e a hierarquia presente na instituição e, ter posturas e atitudes condicentes com o local. Estudos anteriores (FONSÊCA, 2008; GOUVEIA, 2009), argumentam que esses valores podem explicar o quanto os estudantes podem ou não respeitar as regras presentes na escola e como estabelecem, regulam e conservam as relações sociais com professores, colegas e demais integrantes da equipe educacional. Quanto à subfunção suprapessoal e sua relação com o apego ao lugar, esta pode ser explicada pelos seus descritores que representam conhecimento, maturidade e beleza, características que esboçam a busca para adquirir novos conhecimentos que são essenciais para o crescimento individual (GOUVEIA, 2013). Como a escola é um ambiente de aprendizagem e de convivência diária dos estudantes é necessário considerar a criação de vínculos com esse lugar, que poderá auxiliar no desenvolvimento de competências e habilidades para uma aprendizagem significativa. Ressalva-se que esses achados foram significativos para colaborar com a literatura sobre apego ao lugar (escola), apontando a necessidade de promoção desse assunto nas instituições de ensino para proporcionar vínculos que repercutirá na melhoria do espaço físico e percepção do significado do contexto escolar por parte do estudante. Conclusões A partir das análises dos dados obtidos foi possível notar resultados significativos que indicaram que os estudantes que priorizam os valores sociais (interativa e normativa) encontram-se mais propícios a estabelecerem vínculos com a escola, sendo esta uma relação que deve ser proporcionado para auxiliar a aprendizagem. Ademais, o objetivo específico de conhecer o nível de apego ao lugar dos estudantes com a escola foi elucidado e deram suporte para compreender o presente construto. Embora os objetivos tenham sido atingidos, algumas limitações foram encontradas na execução dessa pesquisa. Dentre elas a amostra que se deu por conveniência, não permitindo assim, a generalização dos resultados. Outro fator limitante foram as mudanças constantes de escola pelos estudantes, as quais não contribuem para o desenvolvimento de apego ao lugar. Além disso, o fato de se tratar de uma temática nova, ainda não apresenta uma literatura ampla sobre o assunto, o que dificulta o aprofundamento das discussões, por fim o tempo para a realização da pesquisa, indica a necessidade de novos estudos na área.
11 Mesmo com esses impasses, as perspectivas desse estudo são positivas. De modo geral, os resultados evidenciaram a importância do apego ao lugar, o qual é favorecido pela convivência diária dos indivíduos com um ambiente que atenda às suas necessidades, assim, tanto a qualidade da estrutura física como as relações intra e interpessoais são importantes para impulsionar esse sentimento, que quando é positivo refletirá no processo de aprendizagem através da motivação dos indivíduos para adquirir novos conhecimentos. Para Vaz e André (2015) é através das experiências que são proporcionadas pela escola, que os discentes serão impulsionados para a formação de laços afetivos com a comunidade e com os demais integrantes, pois, é a partir da atuação nesse espaço e do estabelecimento de relações interpessoais que se sentirá pertencente a esse lugar, e passará a dividir memórias, percepções e perspectivas com os demais. Portanto, o nível de participação que o estudante terá nesse ambiente poderá proporcionar ou reter o estabelecimento de vínculo com o ambiente. Diante do exposto, espera-se que os resultados apresentados colaborarem para instigar discussões sobre a temática voltada para a área de educação, que abordem a importância da qualidade e manutenção dos recursos presentes na escola. Além disso, incentive a promoção de oficinas para estimular a participação dos discentes no ambiente escolar que devem ser desenvolvidos em âmbitos que deem ênfase as relações com o outro, para que possa emergir debates sobre melhorias do espaço de aprendizagem. A medida que se sentirem participativos nas atividades e decisões referentes as questões escolares, o sentimento de pertencimento tende a aumentar e refletir na aprendizagem. Referências ALMEIDA, L. C. C. S.; SOUZA, G. S. S. A participação do jovem na construção do cotidiano escolar. In: Simpósio Internacional sobre a juventude brasileira, 5, 2012, Recife, PE. Anais. Recife: Ed. Universitária da UFPE, p , AMPARO, D.M.; GALVÃO, A. C. T.; CARDENAS, C., KOLLER, S.H. A escola e as perspectivas educacionais de jovens em situações de riscos. Revista de Psicologia Escolar e Educacional, v. 12, n.1, p , BRASIL. Lei 9394/96: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, BOWLBY, J. The Making and Breaking of Affectional Bonds: I. Aetiology and Psychopathology on the Light of Attachment Theory. British Journal of Psychiatry, v. 130, n. 3, p , CALVACANTE, S.; NÓBREGA, L. M. A. Espaço e lugar. In: CAVALCANTE, S.; ELALI, G. A. (Org.). Temas básicos em Psicologia Ambiental. Rio de Janeiro: Vozes, 2011.
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