Considerações sobre alguns methodos usados na analyse das aguas mineraes
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- Pedro Lucas Gama de Lacerda
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1 333 Considerações sobre alguns methodos usados na analyse das aguas mineraes POR José Casares Gil Prof, da Faculdade de Pharmacia da Universidade Central de Madrid É a obra classica de FRESENIUS sobre analyse que serve geralmente de guia na analyse das aguas mineraes. O volume dedicado á analyse quantitativa encerra uma marcha que, com poucas modificações, serve ainda hoje de base á maioria das investigações d'este genero. A morte de FRESENIUS tem impedido X publicação de novas edições corrigidas da sua importante obra, limitando-se unicamente a reimpressões; d'onde resulta que alguns dos methodos já são antiquados e podem ser substituídos por outros de pratica mais fácil e de resultados mais exactos. Não se havendo publicado em hespanhol muitos d'estes methodos e encontrando-se grande parte d'elles dispersos em revistas e memorias analyticas, considero util descrever aqui aquel- Ies que os meus ensaios teem comprovado, e sobre as quaes formei juizo, incluindo as modificações que a experiencia me indicou poderem-se fazer com vantagem. Lithio A investigação qualitativa do lithio é muito fácil em grande numero de aguas mineraes que conteem esta substancia em proporção relativamente considerável. Basta tomar umas gottas do liquido com o fio de platina, introduzil-o directamente na chamma de uma lampada de BUNSEN e examinar a chamma com o espectroscopio, para que appareça então a risca vermelha característica. As aguas de Caldas de Reis, Lugo, Sousas e Caldelinas, Fonte Nova de Verin, Cabreiroa, Mondariz, Ouitiriz, La Toja, Carballino, Cuntis, etc., offerecem esta particularidade. Em geral o lithio descobre-se facilmente na maior parte das aguas mineraes da Galliza e regiões analogas, nas quaes abunda muito a mica, silicato, que, como é sabido, contém lithio entre os seus elementos. Rev. de Chim. Pura e Ap.-6.0 anno-n.o 11 Novembro. 22
2 "334 Chimica sanitaria Quando a agua mineral que se ensaia ê muito rica em saes de sodio, por exemplo as aguas de La Toja, dá excellente resul tado interpor deante da fenda do espectroscopio uma dissolução fraca de permanganato de potássio, que não deixa passar as radiações amarellas e permitte passo franco ás riscas do lithio A concentração da solução deve ser proporcionada á quantidade de sodio. Em outras aguas mineraes, o lithio não se descobre tão facilmente. Para o encontrar é necessário separar alguns elementos ou concentrar muito os liquidos ou examinar directamente o residuo da evaporação. Um dos meios que emprego, e que me dá excellentes resultados, consiste em concentrar um ou dois litros de agua mineral e tratar o residuo primeiro por acido chlorhydrico fumante, ao qual se junta depois álcool concentrado; filtrar o liquido e evaporal-o em banho-maria. O novo residuo offerece, em geral, a risca do lithio com grande nitidez. Pelo tratamento com acido chlorhydrico fumante separam-se grandes quantidades de chloretos alcalinos, que são insolúveis no dito liquido. A addição de álcool precipita alguns saes, e permitte filtrar por papel o acido chlorhydrico fumante. N'aquellas aguas mineraes em que abundam os saes de cálcio e de magnésio, é ás vezes necessário concentrar bastante o liquido, precipitar a cal pelo oxalato de ammonio, filtrar, calcinar, exhaurir o residuo por agua, acidular com acido chlorhydrico e seguir o tratamento anterior. Também dá excellente resultado o methodo anterior para a determinação quantitativa do lithio. Segue-se primeiro a marcha geral, que tem por fim obter os chloretos alcalinos suficientemente puros, e quando, como succede muitas vezes, a quantidade de chloreto de sodio é excessivamente grande, separa-se a maior parte pela acção do acido chlorhydrico fumante e álcool absoluto. Este methodo de separar os chloretos alcalinos e obter o liquido concentrado, no qual se determina o lithio, considero-o preferível ao processo de FRESENIUS, fundado em exhaurir por álcool de 90 a massa pastosa obtida evaporando grande quantidade de agua. A experiencia demonstra que n'este residuo^o chloreto de sodio está crystallizado, e sem duvida o álcool nao
3 Consid. sobre alguns met. usados na anal. das aguas mineraes 335 jóde penetrar no interior dos crystaes; assim não se consegue 0bter um residuo isento de lithio, ainda depois de numerosos tratamentos. A respeito dos methodos usados na determinação quantitativa, tanto o de RAMMELSBERGER como o de GOOCH, considero-os preferíveis ao usado correntemente, fundado em precipitar o lithio no estado de phosphato. No methodo de RAMMELSBERQER O chloreto de lithio extrahe-se tratando os chloretos seccos a 180 por uma mistura de ether anhydro e álcool absoluto; no de GOOCH utilisa-se a. propriedade que tem o álcool amylico de dissolver mui facilmente o chloreto de lithio e mui pouco os chloretos de potássio e de sodio. O methodo GOOCH é talvez o melhor, mas o emprego do álcool amylico é mui pouco agradavel. CANNIZARRO propôz um processo para determinar o lithio mediante o espectroscopio, que me parece muito pouco exacto. O processo de CARNOT, fundado na formação de fluoreto de lithio, é também, segundo WALTER, pouco preciso. Na realidade, a determinação rigorosa das quantidades de lithio, que existem nas aguas mineraes, offerece, ainda hoje, grandes difficuldades. Cesio e rubidio Estes corpos, interessantes pela sua raridade, e que offerecem um aspecto característico, encontram-se com muita frequencia nas aguas mineraes dos terrenos graníticos. Seguramente as conteem todas as aguas sulfurosas e bicarbonatadas que existem na Galliza. Julga-se ordinariamente que para encontrar estes corpos é preciso evaporar pelo menos 100 litros de agua, e, em muitos casos, não é necessário. Assim, por exemplo, as aguas de Caldas de Reyes (Pontevedra) conteem esses elementos em proporção sufficiente, para que com oito litros se possam vêr claramente as riscas espectraes características. O processo commodo que se pôde usar em aguas semelhantes á mencionada, aguas que apenas conteem saes terrosos, consiste em evaporar oito litros de agua, acidulada com acido chlorhydrico, até a seccura; eliminar a silica com o acido chlorhydrico; evaporar de novo até seccura e continuar como se disse
4 "336 Chimica sanitaria ao fallar do lithio. Depois de praticar uma ou duas. vezes o tra tamento com acido chlorhydrico fumante e álcool absoluto dissol ve-se em pouca agua o residuo e precipita-se o liquido com o chloreto de platina. O precipitado de chloreto de platina, lava-se com agua e seguindo o methodo de BUNSEN, descripto por FRESENIUS no seu tratado de analyse qualitativa, examina-se com o espectroscopio Percebem-se assim principalmente as riscas azues correspondentès aos elementos césio e rubidio, ao mesmo tempo que a vermelha do lithio, e a vermelha e violeta do potássio, que nunca faltam em qualidade de companheiros. Potássio O melhor processo para determinar e investigar o potássio é o emprego do chloreto de platina. Em algumas aguas, por exemplo nas da Toja, o potássio percebe-se facilmente sem mais que introduzir na chamma uma gotta da agua e interpor' deante da fenda de espectroscopio um tubo de ensaio, com uma dissolução de permanganato potássio de concentração apropriada. Descobré-se então a risca vermelha do potássio. A determinação do potássio offerece difficuldades em algumas aguas mineraes excessivamente ricas em saes sodicos, por exemplo, nas aguas de Rubinat. É necessário então elimina-los na sua maior parte, o que se consegue fazendo passar durante largo tempo uma corrente de acido chlorhydrico gazoso, que precipita chloreto de sodio. Livres assim da grande quantidade de saes sodicos, evaporam-se as aguas até seccura; dissolve-se o residuo em agua e acido chlorhydrico e precipita-se directamente com chloreto de platina e álcool. O precipitado lava-se com uma mistura de álcool e ether, dissolve-se em agua e repete-se a precipitação com chloreto de platina e lavagem com álcool e ether. O precipitado finalmente obtido secca-se, humedece-se com agua quente e ajunta-se uma gotta de mercúrio puro, agitando até que o liquido seja incolor. Evapora-se tudo até seccura; esgota-se por agua quente, e do peso de platina que fica se deduz o do potássio.
5 Consid. sobre alguns met. usados na anal. das aguas mineraes 337 Bario e estroncio Também se encontram estes elementos em muitas aguas; o estroncio em especial descobre-se mui facilmente. Basta para isso applicar o methodo de ENGELBART. Trata-se (directamente ou depois de prévia concentração) por oxalato de ammonio bastante quantidade d'agua afim d'obter um precipitado do oxalato de alguns centigrammas, e o precipitado calcina-se perfeitamente. Ajunta-se então uma pouca de agua; filtra-se e evapora-se o liquido até seccura; dissolve-se o residuo em umas gottas de acido chlorhydrico diluído, e a solução assim obtida examina-se com o espectroscopio. A risca azul que se percebe caracterisa de modo induvidavel o estroncio. Este elemento é muito frequente nas aguas mineraes. Tenho-o encontrado em todas quantas tenho analysado cuidadosamente, e inclino-me a crêr que se acha sempre acompanhando o cálcio. A determinação quantitativa do estroncio pratica-se transformando em nitratos os oxalates terrosos; seccando os ditos saes completamente a 180, e empregando uma mistura de álcool absoluto e ether para os separar. A mistura alcoolica-etherea dissolve o nitrato de cálcio e deixa como residuo o nitrato de estroncio. O methodo é bom, mas de applicação delicada. Manganesio Em varias aguas mineraes da província de Qerona abunda este elemento e a sua proporção é superior á do ferro. Taes aguas são bicarbonatadas calcicas, geralmente muito mineralisadas e algumas summamente ricas em anhydrido carbonico, como succede ás chamadas da Fonte da Polvora (Gerona). O manganesio n'estes mananciaes descobre-se sem mais do que acidular o liquido com acido nitrico e ferve-lo durante bastante tempo com bioxydo de chumbo. Deixando-o repousar percebe-se uma coloração roxa completamente característica. Estas aguas contém pequenas quantidades de chloretos. Ao repetir a experiencia com as garrafas de agua da Fonte da Polvora que ha no commercio, obtem-se ás vezes resultado
6 "338 Chimica sanitaria negativo. Isto é devido a que não estiveram bem conservadas e, por qualquer circumstancia, perderam anhydrido carbonicoo manganesio precipita então no estado de carbonato manga' noso básico, formando crostas brancas, que adherem fortemente á garrafa. A agua privada de manganesio não dá reacção; mas as crostas brancas dissolvidas no acido nitrico e fervidas com bioxydo de chumbo produzem uma côr vermelha intensa. As aguas do typo da Fonte da Polvora quando se concentram formam abundante sedimento de carbonatos terrosos, os quaes, se se opera em quantidade algo notável, tem côr parda avermelhada, que pelo seu simples aspecto se distingue claramente do que originam as aguas ferruginosas. O manganesio acompanha quasi sempre o ferro. Em algumas aguas existe, sem embargo, em muita pequena quantidade, e a sua determinação offerece notáveis difficuldades. O methodo que sigo n'estes casos é o colorimetrico, fundado, como é sabido, em comparar a coloração vermelha, obtida pelo acido nitrico e o bioxydo de chumbo, com a de uma dissolução de permanganato de potássio de riqueza conhecida. Arsênio Este elemento é sem duvida alguma mais frequente nas aguas do que antes se julgava. Segundo as minhas investigações, acha-se em muitos dos mananciaes da Galliza, que deixam sedimentos avermelhados, embora não sejam das incluídas no grupo das ferruginosas. Assim se encontra o arsénio nas aguas alcalinas de Sousas e CaIdelinas; nas da Fonte Nueva de Verin; nas de Cabreirôa; nas de La Toja. Como as pyrites ferruginosas abundam em muitas regiões da Galliza, e quasi sempre teem indícios de arsénio, ao mineralizarem-se as aguas dissolvem o dito elemento simultaneamente com o ferro. O mispickel é também mineral abundante na Galliza, e não extranho então que as aguas que passam por terrenos em que existem as pyrites arsenicaes contenham arsénio. Naturalmente a quantidade de arsénio que a agua tem dissolvido é minima. Mas existem, sem embargo, processos fáceis para descobrir a sua presença. O mais commodo é recolher o
7 Consid. sobre alguns met. usados na anal. das aguas mineraes 339 sedimento arroxeado que a agua vae depositando pelos terrenos que percorre, ou o 'que se precipita nos poços que a conteem. Estes sedimentos dissolvem-se em acido chlorhydrico fumante; filtra-se o liquido por lã de vidro ou amianto, ou simplesmente decanta-se, e junta-se á dissolução bastante reagente BETTEN- DORFF, para que a côr avermelhada desappareça completamente e o liquido pareça incolor ou como tinta verde amarellada muito débil. Observa-se então, ao cabo de algum tempo, que a mistura escurece e acaba por turbar, depositando um sedimento avermelhado, que é arsénio. Podem também descobrir-se quantidades muito pequenas de arsénio nas aguas, recorrendo á propriedade que se funda em distillar o trichloreto de arsénio. Este methodo permitte extrahir o arsénio de porções notáveis de sedimento. Para isso, dissolve-se em acido chlorhydrico fumante uma quantidade considerável do sedimento; ajunta-se chloreto ferroso puro, quer dizer, isento de arsénio; satura-se o liquido com acido chlorhydrico fumante e distilla-se em corrente de acido chlorhydrico. No producto distil- Iado encontra-se o trichloreto de arsénio; e, fazendo passar uma corrente de hydrogenio sulfurado, precipita-se o trisulfureto, com o qual se possam fazer as reacções que o caracterisam sem duvida alguma, por exemplo, o ensaio com o cyaneto de potássio e o carbonato de sodio. Com este methodo descobri o arsénio nos sedimentos ferruginosos das aguas de La Toja. Outro processo consiste em dissolver o sedimento em acido sulfurico, e introduzir o soluto n'um tubo de ensaio que contenha um pouco de zinco puro. Junta-se depois uma gotta de sulfato cúprico para favorecer a reacção, e o hydrogenio que se desprende faz-se passar atravez de um papel de filtro humedecido com nitrato de prata. A formação de uma mancha amarella ou anegrada demonstra a existencia do arsénio. O apparelhosinho que uso para estes ensaios é uma modificação simples do de TREADWEL. Quando se trata de procurar indícios de arsénio n'uma grande quantidade de agua, o melhor é juntar um pouco de chloreto férrico puro, e precipitar o ferro com carbonato de cálcio. Se se suspeita que o arsénio se encontra no minimo de oxydação, junta-se primeiro agua de chloro, antes do chloreto férrico. O sedi-
8 "340 Chimica sanitaria mento de hydrato férrico arrasta comsigo o arsénio, e, dissolvendo-o em acido chlorhydrico fumante, pode-se depois separar o arsénio pelo processo de distillação acima indicado. Bromo e iodo Em varias aguas hespanholas estes elementos encontram-se em tal quantidade que se descobrem directamente, por exemplo nas aguas de Tona (Catalunha). Nas de Alceda e Ontaneda (Santander) investiga-se também o iodo pelo processo seguinte: Concentram-se dois litros de agua préviamente alcalinisada com carbonato de sodio até um volume de 100 cc. Liquido e sedimento passam-se para uma campana estreita; deixa-se depositar o sedimento varias horas e decanta-se o liquido claro que sobrenada. Acidulando este liquido com acido sulfurico diluido, juntando depois umas gottas de chloroformio e, finalmente, uma gotta de acido sulfurico com vapores nitrosos, a coloração violacea que tem o chloroformio demonstra com completa certeza a existencia do iodo. A determinação quantitativa do bromo e do iodo nas aguas offerece notáveis difficuldades, especialmente nas que conteem muito pequenas quantidades. Tenho feito numerosos ensaios com os methodos de WESZELESZKY (*), sem ter podido chegar a dar aos seus processos a confiança necessaria, assim como em muitos casos julgo que não se pode prescindir das exhaustões por meio do álcool que FRESENIUS propõe. Em aguas mineraes do typo da Tona, podem applicar-se com êxito os processos de JAN- NASCH, descriptos no seu livro Praktischer Leitfaden der Gewichtanalyse. Acido sulfurico Em algumas aguas existe o acido sulfurico em quantidades inapreciáveis, por exemplo, nas aguas de Cabreirôa (Verin). As aguas directamente não se turbam com o chloreto de bário, com (') WESZELESKY. - Zeitschrift für Anatytische Chemie, 1900, t. 39; p- 81.
9 Consid. sobre alguns met. usados na anal. das aguas mineraes 341 prévia addicção de acido chlorhydrico. Para o investigar e determinar quantitativamente ao mesmo tempo, concentrei dois litros até pequeno volume; acidulei com acido chlorhydrico; separei a silica; e nos líquidos filtrados precipitei o acido sulfurico. Os resultados obtidos indicavam alguns centigrammas de acido por litro, o que não podia ser certo, pois que n'essa proporção os saes de bário descobririam directamente o acido na agua. A causa do erro foi bem fácil de descobrir. O acido sulfurico provinha dos productos da combustão do gaz de illuminação, entre os quaes ha compostos de enxofre, os quaes ao arder formam acido sulfuroso, que depois passa a sulfurico, ou talvez já directamente acido sulfurico. A observação por mim feita não era nova e encontra-se assignalada por vários auctores. Fluor Desde o anno de 1896 tenho examinado muitas aguas mineraes, adquirindo a certeza das determinações que então fiz. O fluor abunda muito nas aguas mineraes dos terrenos graníticos, especialmente nas sulfurosas. Também se encontra o fluor nas aguas de terrenos vulcânicos, como tive occasião de comprovar examinando as dos geysers do Jellowsston Park ( 1 J. O processo que sigo para o buscar qualitativamente é o que descrevi n'outras Memorias ( 2 ). Considero de importancia a confirmação do fluor pelo exame dos crystaes de hydro-fluosilicato de bário. Caracterisa-os a sua fôrma, e muito mais se a ella se une a propriedade de não se dissolverem no acido chlorhydrico. Para a investigação do fluor bastam ordinariamente 2 a 4 litros de agua. ( l ) Zeitschrift für Analytiehe Chemie, t. XLIV, 1905, p C) Rev. Chim. pura e app., t. Ii f 1906, p
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