Simpósio 6 Cadeia Produtiva de Organismos Aquáticos. Thiago Ushizima Aqualine Aquicultura Ltda. 14:30-15:30
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1 Simpósio 6 Cadeia Produtiva de Organismos Aquáticos Palestra 3 - Potencial das espécies nativas para a piscicultura do Brasil. Thiago Ushizima Aqualine Aquicultura Ltda. 14:30-15:30 202
2 POTENCIAL DAS ESPÉCIES NATIVAS PARA A PISCICULTURA NO BRASIL Thiago Tetsuo Ushizima Aqualine Aquicultura Ltda. thiago.ushizima@nutrizon.com.br Segundo a FAO (2016) que é a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, o ano de 2014 foi um marco para a Aquicultura mundial, pois a contribuição do setor de Aquicultura para fornecimento de pescado para consumo humano ultrapassou pela primeira vez o pescado fornecido pela captura/pesca. Gráfico 01. Contribuição relativa de pescado proveniente da Aquicultura e da Pesca para consumo humano. Fonte: FAO 2016 Com a produção pesqueira estagnada desde a década de 80, tanto para pesca marinha quanto a continental e com a crescente demanda mundial por pescado, tem proporcionado à Aquicultura Mundial crescimento impressionante. De 1995 a 2004 a produção aquícola cresceu em média 7,2% ao ano e entre os anos de 2005 a 2014 a atividade cresceu 5,8% ao ano. A produção mundial de organismos aquáticos em 2014 foi de 101,1 milhões de toneladas bruto, com valor estimado farmgate de US$ 165,8 bilhões. Dos 101,1 milhões de toneladas produzidas pela Aquicultura, 44% representada por peixes, 26% por plantas aquáticas/algas, 16% por moluscos, 7% por crustáceos e 7% por outros animais aquáticos incluindo anfíbios. 203
3 O crescimento da oferta mundial de pescado para consumo humano ultrapassou o crescimento populacional nas últimas cinco décadas e aumentou anualmente 3,2% de 1961 a Resultado é aumento do consumo per capita de pescado que em 1960 era de 9,9 kg/ano, 14,4 kg/ano na década de 90 e 19,7 kg/ano em Pescado é uma das fontes mais importantes de proteína animal do mundo. Nutrientes valiosos como ácidos graxos de cadeia longa (ômega 3), DHA, EPA importantes para o desenvolvimento do cérebro e sistema nervoso (fetos e bebês). Fonte de proteína de alta qualidade e fácil digestão, possui todos aminoácidos essenciais, rico em várias vitaminas (D, A e B), minerais (cálcio, iodo, zinco, ferro, selênio). Melhora saúde vascular e há evidências convincentes dos benefícios trazido pelo consumo de pescado para reduzir o risco por doença coronariana e melhorar o neurodesenvolvimento em bebês e crianças quando a mãe consome pescado antes e durante a gravidez. A produção aquícola mundial é liderada pela Ásia há pelo menos 20 anos, representando cerca de 89% da produção mundial de pescado para consumo humano. África e as Américas melhoraram suas respectivas participações na produção total mundial, enquanto que Europa e Oceania tiveram pequena queda. O Brasil é o décimo quarto produtor mundial e o segundo maior produtor de aquicultura no continente americano após o Chile. Gráfico 02. Os 15 maiores produtores mundiais de organismos aquáticos e os principais grupos de espécies no ano de MAIORES PRODUTORES AQUICULTURA CONTINENTAL PEIXES AQUICULTURA MARINHA MOLUSCOS CRUSTÁCEOS OUTROS ANIMAIS AQUÁTICOS TOTAL ANIMAIS AQUÁTICOS PLANTAS AQUÁTICAS PRODUÇÃO TOTAL AQUICULTURA ( Mil toneladas) Fonte: FAO
4 O Brasil é considerado um dos países com maior potencial para aquicultura, devido seu amplo território (8,5 milhões Km 2 ), km de faixa costeira, mais de 5 milhões de hectares de água represada em reservatórios, principais bacias hidrográficas do mundo (água e patrimônio genético), grande parte do país sob clima tropical e equatorial, grande produtor de matérias primas para rações (milho, soja, farinhas animais) e com um mercado interno ávido por pescado. Segundo dados da Agrosat - Estatística de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro, a importação de pescado no ano de 2016 foi de US$ 1,2 bilhões referente a 355 mil toneladas de pescado importado, sendo o Chile principal exportador com quase 50% das importações Brasileiras de pescado. Já a exportação de pescado em 2016 foi de US$ 236 milhões referente a aproximadamente 40 mil toneladas. As estatísticas da Aquicultura Brasileira ainda são muito divergentes, mas os últimos dados da produção Aquícola do ano de 2015 foi da ordem de 483 mil toneladas. Ainda segundo relatório da FAO 2016, estima crescimento de 104% da Aquicultura e Pesca no Brasil até o ano de A diversidade de espécies de peixes no Brasil, tanto de água doce como marinha impressiona. A ictiofauna compreende espécies de peixes de água doce (Check list of the freshwater Fishes of South and Central America, Reis et al., 2003) e espécies marinhas, segundo Menezes et al.,(2003). Todavia, o conhecimento sobre a diversidade desta ictiofauna é ainda incompleto, como atestam as dezenas de espécies de peixes descritas anualmente no Brasil, portanto, se sabe que a riqueza total é muito maior. Com essa diversidade de espécie de peixes, encontramos espécies com diferentes aptidões, seja ela para pesca esportiva, para aquariofilia, para engorda/consumo. Muitas espécies acabam preenchendo requisitos que atendem todas estas aptidões. Algumas das espécies nativas de água doce reconhecidas para pesca esportiva são o tucunaré, dourado, piraíba, pintado e cachara, matrinxã, pirarara, entre outras. Para aquariofilia, peixes como acará disco, acará bandeira, apaiari/oscar, tetra cardinal, arraias, cascudos, etc. Já as principais espécies nativas que compõem as mais importantes cadeias produtivas da piscicultura no Brasil são o tambaqui, pintado e pirarucu. 205
5 TAMBAQUI Colossoma macropomum Tambaqui é a principal espécie nativa produzida no Brasil, sendo a região norte a maior produtora. A produção de peixes redondos em 2011 era estimada em 97 mil toneladas e a produção saltou para 186 mil toneladas em O estado de Rondônia é o maior produtor de tambaqui do Brasil com produção em 2005 ao redor de toneladas e estimada em 2015 em toneladas, certamente um caso de sucesso para piscicultura brasileira. A espécie possui características muito favoráveis para criação, como alta tolerância a baixos níveis de oxigênio, hábito alimentar onívoro, habilidade em filtrar alimento natural (zooplâncton), alta taxa de crescimento e ser extremamente resistente aos manejos. Além disso, a facilidade para produção dos alevinos (formas jovens) e facilidade de escoamento da produção, fizeram do tambaqui, a principal espécie da Aquicultura Brasileira. Foto 01. Exemplar do peixe redondo amazônico, tambaqui. A maturação sexual das fêmeas de tambaqui ocorre ao redor do 3º ao 4º ano de vida e nos machos ao redor do 2º ao 3º ano de vida, na região amazônica. A época de reprodução coincide com a estação das chuvas, geralmente de novembro a março, sendo observada uma maior concentração de desovas de dezembro a fevereiro. Tambaqui é um peixe reofílico, migrador em seu ambiente natural para realizar a reprodução. O processo de reprodução artificial se inicia com a seleção das matrizes em estágio avançado de reprodução. As fêmeas ficam com abdômen volumoso, macio, e papila genital avermelhada (figura 02) e os machos liberam sêmem de cor branca após pressão no abdômem ou até espontaneamente (figura 03). Após seleção, é realizado o processo de indução hormonal. 206
6 Figura 02. Tambaqui fêmea com ventre distendido, barriga abaulada e papila genital intumescida e vascularizada (Foto: José Augusto Senhorini). Figura 03. Foto de pacu liberando sêmem durante aplicação de hormônio hipofisário (Foto: José Augusto Senhorini). Em geral a indução hormonal do tambaqui à desova é realizada com duas doses de extrato de hipófise, sendo primeira aplicação com 0,5mg de extrato de hipófise por kg de peso vivo da fêmea e 5 mg de extrato de hipófise por kg de peso da fêmea. Para os machos geralmente utilizado dose única no momento da segunda dose da fêmea e dose varia de 1,0 a 3,0 mg de extrato de hipófise por kg de peso vivo do macho. O intervalo entre as doses é de normalmente 8 horas. Após processo de injeção hormonal, inicia-se a contagem de horas graus, que para tambaqui é de 260 a 290 horas grau (soma da temperatura da água de hora em hora), para iniciar a desova. Cada grama de ovócito de tambaqui contém entre e ovócitos. Após 207
7 desova e fecundação, ovos são incubados em incubadoras verticais onde permanecem de 3 a 6 dias antes de seguirem para tanques berçários preparados para produção de alimento vivo. Alevinos de 3 a 5 cm estarão prontos para serem comercializados em 40 a 60 dias. A engorda de tambaqui no Brasil é realizada em sua maioria em tanques de terra ou viveiros escavados, sistema com baixa renovação de água, sistema semi intensivo (sem uso de aeradores) e produtividade variando de a kg de tambaqui por hectare de lâmina de água ou 0,5 a 1,2 kg de biomassa por metro quadrado. Na maioria das piscicultura que produzem tambaqui, a produção é realizada em 02 fases, estocando alevinos de 1 a 10 gramas em berçários com densidades aproximada de 10 alevinos por metro quadrado, permanecendo por 2 a 3 meses onde são transferidos para tanques de engorda com 100 a 200 gramas. A engorda, realizada normalmente em viveiros escavados ou barragens, é estocada para que os peixes alcancem biomassa final ao redor de 5,0 a 12 toneladas por hectare. Peso médio de abate varia de acordo com o mercado, que na região norte predomina tambaquis acima de 3,0 kg de peso vivo, obtido com ciclo total de produção de 12 a 14 meses. Assim, densidade de estocagem varia de a peixes por hectare, dependendo da produtividade e nível tecnológico de cada fazenda. Produções em sistemas intensivos de tambaqui são raros e é caracterizado por utilizar sistema de aeração elétrica, uso de geradores de energia, equipamento para monitoramento da qualidade da água e água para reposição e troca. A produção alcançada nesse sistema está entre 20 a 30 toneladas por hectare. O mercado de Manaus é o principal destino do tambaqui produzido na região norte e estudos indicam que somente Manaus absorve mais de toneladas de tambaqui anualmente. Com uma população de 2,3 milhões de habitantes, somente o tambaqui contribui para um consumo de 21,7 kg por habitante por ano. Um dos gargalos no processamento da espécie é a presença de espinhas intramusculares em forma de Y, que dificultam o consumo desta espécie, principalmente com peixes com porte inferior a 1,5 kg. Entretanto a retirada das espinhas em Y é possível utilizando técnica de filetagem específica. Um corte muito apreciado do tambaqui são suas costelas, que apesar do baixo rendimento (20 a 25%) e ser pouco conhecido até no Brasil, ganhou em 2011 na maior feira de pescado do mundo (European Seafood Show em Bruxelas), o prêmio de melhor produto Food Service com 208
8 a costela de tambaqui marinada sabor barbecue, pré cozida e pronta para consumo (Figura 04). Figura 04. Costela de tambaqui marinada produzida pela empresa francesa Halieutis. SURUBIM OU PINTADO Pseudoplatystoma spp. O nome surubim é uma denominação genérica e popular que englobam diversas espécies de bagres brasileiros, mas principalmente as espécies pertencentes ao gênero Pseudoplatystoma, peixes de água doce, recobertos por pele espessa chamados de peixes de couro, hábito noturno, carnívoro preferencialmente piscívoro, migratórias na época de reprodução com desovas totais, presença de acúleos ou ferrões nas nadadeiras peitorais e dorsais e presença de barbilhões. As espécies pertencentes a este gênero, são encontradas em praticamente todas as bacias hidrográficas brasileiras e além do nome surubim, ainda podem conhecidas com os nomes de pintado, cachara, sorubim, surubim pintado, caparari, entre outros. Até recentemente, 3 espécies de Pseudoplatystoma eram bem conhecidas no Brasil, como o pintado Pseudoplatystoma corruscans da Bacia do Prata e São Francisco, a cachara Pseudoplatystoma fasciatum da Bacia do Prata e Bacia Amazônica e o caparari Pseudoplatystoma tigrinum da Bacia Amazônica. Entretanto, em 2007 Buitrago-Suárez e Burr propuseram subdivisões em 8 espécies. O surubim possui grande valor comercial no Brasil, quer seja pela excelente qualidade organoléptica de sua carne ou como espécies para pesca esportiva. Até meados da década 90, praticamente todo surubim disponível nos mercados, peixarias e feiras eram provenientes da 209
9 pesca extrativa, pois ainda não se tinha desenvolvida a tecnologia de produção de alevinos em escala comercial. Figura 05. Filé de pintado defumado A pesca extrativa do surubim ocorre tanto na forma artesanal como industrial e as estatísticas entre os anos de 2007 a 2011, indicam que a produção pesqueira para esta espécie está estagnada. Pode ser considerada uma espécie com vulnerabilidade de média a alta nos ecossistemas que se encontra, principalmente pela crescente alteração do seu habitat, tais como bloqueio do ciclo migratório em função da construção de hidrelétricas, assoreamento e poluição dos rios, destruição de mananciais e matas ciliares. Além disso, a sobrepesca, o desrespeito ao período de defeso e a utilização de métodos e aparelhos de pesca inadequados, impactam negativamente os estoques naturais destas espécies. Dentre todas as espécies de surubins, o pintado Pseudoplatystoma corruscans é o mais conhecido, podendo ser encontrado na Bacia do Prata (Rio Paraná, Rio Paraguai e Uruguai) e bacia do rio São Francisco. Sua principal característica, comparada aos outros surubins, é o desenho de pintas negras arredondadas por todo o corpo e o tamanho e peso que animais adultos atingem, com registro superando os 100 kg de peso vivo. Portanto, é muito comum se encontrar o nome pintado para qualquer peixe ou híbrido pertencente ao gênero Pseudoplatystoma e até outros bagres que são comercializados com o nome pintado. 210
10 Figura 06. Exemplares de pintado Pseudoplatystoma corruscans e cachara Pseudoplatystoma reticulatum O grande gargalo para produção do surubim em escala industrial não estava na reprodução (respondem com sucesso à indução hormonal para obtenção dos gametas) mas sim ao processo de treinamento alimentar dos juvenis, para aceitarem rações extrusadas comerciais. Foi em meados da década de 90 onde empresas conseguiram com êxito o processo de produção de alevinos em grande escala e foi possível devido ao desenvolvimento de algumas tecnologias como: cruzamento do pintado Pseudoplatystoma corruscans com a cachara Pseudoplatystoma reticulatum resultando no híbrido denominado ponto e vírgula (Figura 07), produção de alimento vivo em quantidade e qualidade para as larvas, definições de densidades na larvicultura e alevinagem, transição gradual do alimento vivo para alimento inerte, transição gradual do alimento inerte para alimento seco, programas de classificações, utilização de sistemas de alto fluxo de água (raceways), uso de rações micropeletes, terapias contra enfermidades, galpões com baixa luminosidade, entre outros. Figura 07. Híbrido de pintado com cachara denominado pintachara ou ponto e vírgula. 211
11 Piscicultura tinha dado mais um passo importante e alevinos do híbrido ponto e vírgula estavam disponíveis em grande escala, em tamanhos acima de 13 cm, garantindo seu total treinamento a rações extrusadas comerciais, com preços ao redor de US$ 1,00/unidade. Com tecnologia desenvolvida para produção do alevino, projetos de engorda se espalham pelo Brasil, tanto em tanques escavados como em tanques rede. Considerado uma das espécies de água doce de maior valor comercial e com qualidades organolépticas características como carne de coloração clara, textura firme, baixo teor de gordura, sabor pouco acentuado e ausência de espinhas intramusculares, além do marketing já estabelecido, sua produção aumenta significativamente a cada ano. No ano de 2000, passa a ser comercializado inteiro fresco nas gôndolas de hipermercados da cidade de São Paulo, com selo de garantia de origem. Com tamanhos padronizados, fornecimento e preços constantes, extrema qualidade e frescor, rastreabilidade, produção com foco em sustentabilidade, os surubins da piscicultura ganham espaço rapidamente, concorrendo deslealmente com o tradicional surubim de grande porte proveniente da pesca. Entre os anos de 2000 a 2010, o estado do Mato Grosso do Sul lidera a produção do surubim, tanto na produção de alevinos como na engorda. Estima-se que nesses 10 anos foram produzidos acima de toneladas somente em Mato Grosso do Sul, destinadas principalmente ao mercado interno e uma pequena parte à exportação. Gargalos tecnológicos no sistema de produção como alto custo unitário dos alevinos, crescimento moderado dos peixes (tanque escavado e tanque rede), conversões alimentares altas para rações de peixes carnívoros (alto custo), canibalismo acentuado nas fases de recria (baixa sobrevivência), susceptibilidade às enfermidades parasitárias e bacterianas (enterobactérias) e consequentemente alto custo de produção, fizeram com que um novo híbrido, o Pintado da Amazônia substituísse totalmente o antigo híbrido ponto e vírgula. Os híbridos denominados pintado da Amazônia (Figura 08) são resultantes do cruzamento de espécies do gênero Pseudoplatystoma (pintado, cachara, híbridos) com espécies do gênero (Leiarius). No fim da década de 90 já era possível se encontrar esse híbrido em algumas pisciculturas do estado de Mato Grosso, mas foi a partir de 2010 que o pintado da Amazônia dominou as pisciculturas de Mato Grosso, que se tornou o maior produtor brasileiro desse novo surubim. 212
12 Figura 08. Híbrido do cruzamento de pintado/cachara com espécies do gênero Leiarius. O híbrido pintado da Amazônia é um peixe semelhante aos puros pintado Pseudoplatystoma corruscans e cachara Pseudoplatystoma reticulatum, tanto na marcação e coloração externas como pelas características organolépticas da carne. Zootecnicamente é um peixe superior, com custo menor para aquisição dos alevinos (R$ 0,60 a R$ 1,20 a unidade), canibalismo moderado nas fases iniciais, boa adaptação aos diferentes sistemas produtivos, boa adaptação as rações com baixo nível de proteína, biomassa por área mais alta e com boa conversão alimentar, diminuição significativa dos problemas sanitários com enterobactérias e consequentemente menor custo de produção. A produção do novo híbrido espalha-se rapidamente pelas pisciculturas brasileiras. Os principais estados produtores são Mato Grosso, Rondônia e Mato Grosso do Sul com estimativa de produção em 2015 ao redor de ton, ton e toneladas respectivamente. O consumo de surubim no Brasil tem crescido a cada ano e esse crescimento só foi possível devido a produção pelas pisciculturas. Aumento da disponibilidade de alevinos, diminuição dos custos de produção e aumento do número de plantas processadoras, fez com que esta espécie se tornasse cada vez mais popular. O principal produto ainda comercializado é o inteiro fresco, seguido pelos cortes filés de lombo, filés da barriga e postas. Desde 2005 empresas brasileiras exportam surubim, sendo possível encontrar filés nas prateleiras de países da Europa e nos Estados Unidos. Entretanto, não houve crescimento significativo para este mercado devido ao alto preço para consumidor final, falta de um diferencial para o produto como acontece com a costelinha de tambaqui ou filé de pirarucu, por ser um bagre/catfish (imagem peixe popular/barato), entres outros fatores. No mercado brasileiro e de países Sul-americanos, em especial Argentina, Colômbia, Uruguai, Paraguai, há uma crescente demanda pelo surubim, principalmente por ser uma espécie (Pseudoplatystoma spp) reconhecida e presente nas bacias hidrográficas desses países. O 213
13 aumento da produção de surubim no Brasil aliado ao aumento da eficiência na produção, elaboração de produtos processados, falta de peixes provenientes da pesca (quantidade, padronização, qualidade, custo, constância no fornecimento), mudança no hábito de consumo (alimentos saudáveis), entre outros fatores, proporcionará ao surubim manter-se entre as principais espécies para a piscicultura brasileira. PIRARUCU Arapaima gigas O pirarucu, também conhecido como gigante da Amazônia é considerado o maior peixe de escama de água doce do planeta. Pertencente à família dos Osteoglossídeos, o pirarucu Arapaima gigas é considerado um peixe primitivo, praticamente um fóssil vivo, que surgiu durante o Período Jurássico (165 milhões de anos atrás), possivelmente no supercontinente Pangea. Eles formam o elo entre os peixes ósseos ancestrais e os teleósteos modernos. Na família Osteoglossidae, ocorrem somente dois gêneros: Osteoglossum (com duas espécies de aruanã O. bicirrhosum e O. ferreirai) e Arapaima (com uma única espécie, A. gigas). É considerada uma das espécies mais promissoras para piscicultura brasileira e possui algumas características bem peculiares: peixe de escama, hábito alimentar carnívoro, respiração aérea obrigatória, alcança na natureza entre 2 a 3 metros de comprimento e pode chegar a 200 kg de peso vivo, maturidade sexual ao redor de 3 a 4 anos com peso de 40 a 60 kg, formam casais, constroem ninhos, desovas parceladas e há cuidado parental com a prole. Pirarucu é uma espécie que pertence a CITES (Convention on International Trade in Endangered Species of Wild Fauna and Flora) que é uma Convenção Internacional das espécies da fauna e flora selvagens em perigo de extinção. No Brasil, os procedimentos propostos pela convenção são de responsabilidade do Ibama, que avalia as licenças de importação e exportação. Até o ano de 2011, os pirarucus produzidos pelas pisciculturas não podiam ser exportados, pois não havia regulamentação específica para espécie. Neste ano o Ibama e o extinto MPA (Ministério da Pesca e Aquicultura) publicaram a IN 001 que regulamenta o Cadastramento do Plantel de Matrizes de Pirarucu no estado de Rondônia e no ano de 2012 fazendas de reprodução foram vistoriadas e os plantéis de reprodutores validados (microchips e coleta de 214
14 material genético), viabilizando definitivamente o passaporte internacional para os alevinoscarnes produzidas de matrizes cadastradas. Figura 09. Leitura dos microchips no plantel de matrizes pirarucu durante vistoria realizada pelo Ibama em 2012 nos Laboratórios de Reprodução do estado de Rondônia. Um dos grandes gargalos para produção do pirarucu em escala industrial, ainda é o processo de produção de alevinos. Pirarucus fora da época de reprodução não tem dimorfismo sexual evidente, dificultando seleção de casais para que iniciem a construção dos ninhos e reprodução. Sexagem visual ainda apresenta erro significativo e um dos métodos desenvolvido por uma empresa francesa é a sexagem por análise da vitelogenina, através da coleta de sangue dos animais e teste positivo para fêmeas que produzem esta proteína. A reprodução do pirarucu ocorre de maneira semelhante, tanto na natureza quanto nos tanques de piscicultura, com a corte, construção do ninho, acasalamento e guarda da prole. Comportamentos indicam que o casal está próximo do acasalamento como: mudança de coloração dos animais, brigas entre os casais, animais nadam juntos e ficam próximo ao ninho. Indicativos mais utilizados pelos produtores para saber que houve acasalamento é que um dos animais ficam muito tempo parado em um local do tanque, macho fica de cor bem escura e é possível visualizar a desova junto a cabeça do macho, fêmea fica mais agitada como se estivesse afugentando predadores. Processo de produção de alevinos ainda é artesanal, coletando-se ninhadas com uso de puçá e levando-os para estruturas onde é realizado o treinamento alimentar, até atingirem tamanho 215
15 de 15 a 20 centímetros de comprimento e estarem aptos a aceitarem rações extrusadas comerciais, processo que leva entre 60 a 90 dias. Estado de Rondônia lidera a engorda de pirarucu em sistema de tanques escavados com produção ao redor de a toneladas ano. Sistema mais empregado é a engorda em duas fases, sendo primeira fase estocando alevinos de 15 a 20 cm em berçários protegidos por telas anti pássaros (fácil predação por aves) em densidade de 6 a 8 mil peixes por hectare, onde atingem 800 g a g em aproximadamente 70 dias. São transferidos para tanques de engorda em densidades que variam de 800 a peixes por hectare e atingem 10 a 12 kg em 12 meses. A carne do pirarucu apresenta textura firme, coloração clara levemente rosada, desprovida de espinhas intramusculares, sabor suave. É um produto versátil na culinária, podendo ser preparado assado, grelhado, defumado, ceviche, sashimi, etc. Figura 10. Filés de lombo e filé mignon de pirarucu. Alguns dos caminhos a serem trilhados para expansão da piscicultura de peixes nativos são: - Aumento da escala de produção para redução de custos e regularizar fornecimento; - Conhecimento sobre nutrição dos peixes nativos, proporcionando rações mais eficientes e menor impacto ambiental; - Melhoramento genético e seleção, visando obter melhores taxas de crescimento, conversão alimentar, uniformidade, rendimentos; 216
16 - Desenvolvimento e difusão de tecnologias de reprodução e produção de alevinos, visando aumentar oferta, qualidade e diminuir custos; - Mecanismos mais eficientes de difusão de tecnologias gerados pela pesquisa; - Uso de tecnologias de processamento para retirada de espinhas, agregação de valor, facilidade de preparo e conveniência, curtimento da pele; - Novas formas de preparo como pratos prontos, sous vide, cook & chill, marinados, embutidos - Projeto de comunicação/marketing visando criar hábito de consumo para as espécies nativas; - Apelo às regiões Amazônicas e Pantanal, para criar identidade para nossos produtos; 217
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