Kollemata Jurisprudência Registral e Notarial

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Liliana Vilalobos Viveiros
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CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS. CND - INSS - RECEITA FEDERAL. DIREITO ADQUIRIDO. PESSOA JURÍDICA. EMPRESA. CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: 18.

1 CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS. CND - INSS - RECEITA FEDERAL. DIREITO ADQUIRIDO. PESSOA JURÍDICA. EMPRESA. CSMSP - APELAÇÃO CÍVEL: /3 LOCALIDADE: Pirassununga DATA DE JULGAMENTO: 27/12/1993 DATA DJ: 02/02/1994 RELATOR: José Alberto Weiss de Andrade 1. É obrigatória a apresentação de certidão negativa de débitos previdenciários e de tributos federais por alienante pessoa jurídica, mesmo tendo sido a escritura lavrada anteriormente à lei 8212/91. Alegado o direito adquirido e a irretroatividade da lei. A exigência da apresentação das certidões já era prevista na anterior legislação previdenciária. 2. A apresentação de certidão negativa de débitos previdenciárias e de tributos federais é inexigível quando se tratar de empresa que comercializa imóveis, desde que não integrem seu ativo permanente. ÍNTEGRA Excelentíssimo Senhor Corregedor Geral Cuida-se de recurso interposto por JAIME BICALHO ALONSO contra a r. sentença e folhas 18/19 dos autos, que julgou procedente a dúvida suscitada pelo Oficial do Registro de Imóveis da Comarca de PIRASSUNUNGA, negando registro a escritura de venda e compra, na qual figura como alienante pessoa jurídica, em razão de falta de apresentação de certidões negativas de débitos previdenciários e de tributos federais. Fê-lo a r. sentença porque a Lei No /91 e seu decreto regulamentador dispõe sobre a obrigatoriedade de apresentação das certidões negativas previdenciária e fiscal. Embora a escritura seja anterior à referida lei, inexiste direito adquirido porque a transferência da propriedade imobiliária dáse pelo registro. O recurso afirma, em suma, que a Lei No /91 não pode retroagir para alcançar alienações pretéritas, sendo o registro mera formalidade. Além disso, eventual crédito tributário já estaria prescrito. Contou o recurso com pareceres desfavoráveis do Ministério Público, em ambas as instâncias. Página: 1 de 5

2 É o relatório do necessário. Passo a opinar. Não há alegar, como fez o recorrente, a irretroatividade da Lei No /91, porque ainda na vigência da anterior lei previdenciária já se exigia certidão negativa de débito para alienação de imóvel de pessoa jurídica. O ponto relevante para superar o óbice levantado pelo registrador é saber se foi revogado o disposto no artigo 135, inciso III do Decreto /79 (com a redação que lhe deu o decreto /85) pela atual lei previdenciária. Permitia o referido dispositivo a dispensa da apresentação da certidão negativa de débito às empresas que comercializam imóveis, desde que o imóvel alienado ou onerado não integrasse seu ativo permanente. É certo que o artigo 47 da Lei No /91 exige a certidão negativa de débito da empresa que aliena ou onera, a qualquer título, bem imóvel ou direito a ele relativo. Em outros termos, não renovou, de modo expresso, a exceção da dispensa nos casos de empresas que comercializavam imóveis, sendo omisso o diploma vigente a respeito do tema. A incerteza quanto a vigência ou não do disposto no artigo 135, III do Decreto /79 foi superada, a nível administrativo, pelo parecer MPS/CJ No. 41/92, devidamente aprovado pelo Ministro da Previdência Social Reinhold Stephanes. Concluiu referido parecer pela vigência da exceção que permite a dispensa da apresentação de CND por parte das empresas que comercializam imóveis, desde que o imóvel não integre seu ativo permanente. Pois bem. Se os próprios órgãos arrecadadores e interessados maiores na fiscalização do recolhimento correto de impostos e contribuições concluiram pela manutenção da dispensa de prova de quitação a empresas de determinado ramo, a fiscalização secundária e residual de notários e registradores não pode contrariar tal conduta. Lembre-se que a atividade qualificadora do título tem natureza administrativa sendo inviável que colida com orientação do mesmo matiz expedida pelo INSS e endossada pela própria Secretaria da Receita Federal. Não há necessidade, diante de tal quadro, de se perquerir se a orientação é correta, sob ângulo estritamente técnico. No mais, deixou Vossa Excelência fixado ao aprovar o Parecer proferido pelo Juiz Auxiliar Vito José Guglielmi, no processo CG /93 que a conclusão a que chegaram os órgãos arrecadadores (INSS e Página: 2 de 5

3 Receita Federal), sobre a dispensa de certidões de inexistência de débito, não tinha posicionamento contrário por parte da Corregedoria Geral da Justiça. Diante da posição adotada por Vossa Excelência no processo administrativo acima referido, na condição Corregedor Geral da Justiça, superior hierárquico tanto do Juiz Corregedor Permanente como do registrador, não vejo como possa ser mantida a exigência da apresentação de certidão negativa de débito previdenciário e fiscal, uma vez que o título faz a expressa ressalva de que o imóvel alienado não faz parte do ativo permanente da pessoa jurídica vendedora. A par das razões acima expostas, não pode ser desconsiderado o fato de que a alienação de imóveis em tal caso, consiste na própria atividade social a pessoa jurídica. Se o imóvel não integra o ativo permanente, é ele a mercadoria negociada pela empresa. Assim sendo, subordinar a alienação a determinada certidão negativa significaria vedar a atividade comercial a quem não fizesse prova de quitação fiscal. Tal situação feriria direito de livre exercício de atividade econômica assegurado pelo artigo 170 da Constituição Federal. Não bastasse, tenho que a subordinação do exercício da atividade econômica à prova de quitação fiscal criaria verdadeiro círculo vicioso na medida que a pessoa jurídica que não pudesse vender seu produto, intuitivamente estaria impedida de pagar os impostos e contribuição previdenciária em atraso. Isto posto, o parecer que submeto ao elevado critério de Vossa Excelência é no sentido do provimento do recurso, para o fim de determinar o registro do título apresentado pelo suscitado. " Sub censura". São Paulo, 05 de novembro de (a) FRANCISCO EDUARDO LOUREIRO Juiz de Direito Corregedor A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL No /3, da Comarca de Pirassununga, em que é apelante JAIME BICALHO ALONSO e apelado o OFICIAL DO CARTÓRIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS. Página: 3 de 5

4 A C O R D A M os Desembargadores do Conselho Superior da Magistratura, por votação unânime, em dar provimento ao recurso. Cuida-se de recurso interposto contra sentença em que, em sede de dúvida, denegou registro a escritura de venda e compra, na qual figurava como alienante pessoa jurídica, em razão da falta de apresentação de certidões negativas previdenciárias e de tributos federais. Sustenta o recorrente que a Lei No /91 não pode retroagir para alcançar escritura que lhe é anterior. Além disso, eventual crédito tributário já estaria prescrito. Os pronunciamentos do Dr. Curador de Registro Públicos e Procuradoria Geral da Justiça são pela manutenção da decisão atacada. É o relatório. A questão essencial, na verdade, não é saber se a Lei No /91 deve retroagir para alcançar negócio jurídico que lhe é anterior, mas sim se é compatível com a disposição no inciso III do artigo 135 do Decreto No /79. Em termos diversos, cumpre saber se vigora a dispensa da apresentação da certidão negativa de débito às empresas que comercializam imóveis, desde que imóvel alienado ou onerado não integre seu ativo permanente. O artigo 47 da Lei No /91 não renovou de modo expresso o dispositivo de caráter exceptivo contido no artigo 135, III do Decreto /79. Ocorre, porém, que os próprios órgãos arrecadadores de contribuições e tributos federais cuidaram de emitir decisões normativas dando pela vigência da exceção que permite a dispensa de apresentação do CND por parte das empresas que comercializam imóveis, desde que não integrem seu ativo permanente. Como frisado no parecer do Juiz Auxiliar da Corregedoria Geral da Justiça, o INSS e a Secretaria da Receita Federal, órgãos arrecadadores e interessados maiores na fiscalização e recolhimento de tributos, proferiram decisões administrativas interpretando o alcance da nova lei previdenciária. Logo, em sede de dúvida, também na esfera administrativa, não caberia interpretação diversa endereçada aos registradores, com competência fiscalizadora apenas secundária e residual. Além disso, não se esqueça que se objeto da pessoa jurídica é o comércio de imóveis, subordinar a alienação de bens do ativo circulante à prova negativa de contribuições e impostos federais significaria Página: 4 de 5

5 afrontar o direito de livre exercício de atividade econômica, norma de matiz constitucional. Isto posto, dão provimento ao recurso, para reformar a decisão atacada e permitir o ingresso do título no registro predial. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, com votos vencedores, os Desembargadores ODYR PORTO, Presidente do Tribunal de Justiça e LAIR DA SILVA LOUREIRO, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça. São Paulo, 27 de dezembro de (a) JOSÉ ALBERTO WEISS DE ANDRADE Corregedor Geral da Justiça e Relator. Página: 5 de 5

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