DIAGNÓSTICO DA ARBORIZAÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE GOIANDIRA, GOIÁS
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- Salvador Escobar Ávila
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1 DIAGNÓSTICO DA ARBORIZAÇÃO URBANA DO MUNICÍPIO DE GOIANDIRA, GOIÁS Marina da Silva Melo 1,5, Núbia Alves Mariano Teixeira Pires 2,5, Danilo Elias de Oliveira 3 e Solange Xavier-Santos 4,5 1 Bolsita PIBIC/UEG 2 Voluntário Iniciação Cientifica PIVIC/UEG 3 Mestrando de Ecologia e Evolução UFG 4 Pesquisadora - Orientadora 5 Curso de Ciências Biológicas, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG RESUMO A cidade de Goiandira, inserida na região do Cerrado Brasileiro, não possui plano de arborização urbana, apresenta problemas com a manutenção das suas áreas verdes e a maioria das árvores foram plantadas por voluntários, sem planejamento e acompanhamento técnico. Este trabalho visou diagnosticar a situação da arborização urbana do município através da realização de um censo das árvores, através do qual todos os espécimes encontrados foram avaliados. Goiandira possui 1440 árvores, pertencentes a 36 famílias e 105 espécies. Foi verificada ainda uma baixa eqüitabilidade de Simpson (0,14) entre as espécies, apenas seis delas correspondem a 50,1% do total de árvores. Além disso, o índice de área verde encontrado (1,29 m²/habitante), foi considerado insuficiente, considerando valor recomendado de 15m² por habitante. Muitas árvores interferiam na fiação elétrica, e as ações executadas pela prefeitura e pela população muitas vezes foram errôneas e prejudiciais às árvores. Foram sugeridas ações de manejo para o planejamento da (re)arborização da cidade, o que inclui: poda leve, substituição gradativa de espécimes, combate aos patógenos e novos plantios com espécies nativas adequadas. Palavras chave: silvicultura; censo; planejamento da arborização. Introdução Goiandira, por sua localização, está inserida na grande região do Cerrado. Este Bioma, devido à sua ocupação desordenada, é um dos mais degradados do mundo. Listado entre os 25 hotspots mundiais de biodiversidade (Myers et al., 2000), conserva apenas 20% de sua área original pouco antropizada e apenas 1,2% em áreas de proteção integral (Brasil, 2002).
2 2 A destruição da paisagem, a urbanização descontrolada e a poluição têm influenciado negativamente a qualidade de vida das pessoas (Filho, 1993). Os espaços urbanos podem ser considerados o impacto máximo da atuação humana sobre sua própria organização e sobre a deterioração do ambiente, dada à ausência de critérios sócio-ecológicos na organização e distribuição espacial da população. É de suma importância avaliar os impactos ambientais gerados pelos centros urbanos a fim de serem evitados, quando uma cidade está sendo planejada, ou mitigados, quando as áreas urbanas já estão formadas Monteiro (1976). A vegetação urbana, quando corretamente implantada, desempenha um conjunto importante de funções responsáveis pela melhoria da qualidade do ambiente, podendo minimizar o impacto ambiental causado pelos efeitos antrópicos da expansão das cidades. Isso acarreta maior conforto para a população, além de promover atração e abrigo à fauna e flora regional, e fornece opções de lazer e descanso para a comunidade (Jacinto, 2001). Os benefícios decorrentes da arborização urbana só são possíveis tendo-se um conhecimento adequado das características do ambiente urbano. É importante conhecer a vegetação da região, dentro da cidade e nos arredores, procurando selecionar espécies que são adequadas para arborização urbana (Dantas & Souza, 2004). Também é necessário compatibilizar a arborização com o sistema elétrico, o abastecimento de água, esgotos, sinalização e edificações (Velasco et al., 2006). Para tal planejamento e gestão, a análise das características das ruas e praças (dimensões, localização das redes e outros serviços urbanos, identificação das árvores, data do plantio e época de poda) possibilita uma melhor implantação e manutenção da arborização urbana (Silva-Filho et al., 2002). A maioria das árvores existentes nas paisagens urbanas é plantada por voluntários, carecendo de acompanhamento técnico (Gonçalves et al., 2004). Por falta de conhecimento técnico e por questões culturais, esses voluntários optam, na maioria das vezes, pelo plantio de espécies exóticas em detrimento das possibilidades de se explorar a riqueza da flora local. De acordo com Santos e Teixeira (2001), a maioria das cidades brasileiras apresenta um cenário onde as paisagens florísticas são pouco diversificadas e dominadas por espécies exóticas, o que também ocorre em Goiandira. Diante dos fatores apresentados, o trabalho teve como objetivo geral diagnosticar a situação da arborização na área urbana do município de Goiandira, Goiás, visando contribuir para um subseqüente planejamento racional da arborização urbana. Material e Métodos
3 3 Área de Estudo - Goiandira está no centro-sul do estado de Goiás (18º07 54 S e 48º05 06 W). Dista 280 km de Goiânia, capital do estado, possui uma população de habitantes e uma área de 360,71 Km 2, sendo que área urbanizada é de 0,3682 Km² (IBGE, 2004). Metodologia - O levantamento da arborização do município foi realizado pelo método de inventário de caráter quali-quantitativo, do tipo censo, utilizando uma ficha de avaliação de múltipla escolha recomendada por Silva-Filho et al. (2002). Nesta ficha consta a identificação das espécies e sua freqüência, bem como a avaliação de diversos itens relativos à biologia, interferências e tipo, qualidade e sugestões de manejo. No item Biologia, foram feitas avaliações de fitossanidade, observando-se possíveis pragas nas árvores, como formigas, cupins, lagartas, pulgões, etc. Em outro item avaliado no cadastro, denominado Entorno e interferências, analisouse o tipo de pavimento onde se localizava a árvore, que podia ser de terra, grama ou cimento. Verificou-se a existência de interferências das árvores na fiação elétrica e também o tipo e a qualidade das ações de gestão realizadas pela prefeitura e pelos moradores (Silva-Filho et al., 2002). A eqüitabilidade das árvores inventariadas foi calculada através da Medida de Eqüitabilidade de Simpson (Krebs, 1999), dada pela equação: E 1/D = (1/D)/S. Onde: E 1/D = Medida de Eqüitabilidade de Simpson; D = Índice de Diversidade de Simpson (D = Σp 2 i, sendo p i a proporção de espécies i na comunidade); S = Número total de espécies. O índice de área verde total (IAVT), definido como o somatório das áreas totais das praças dividido pelo número total de habitantes do município, foi calculado de acordo Harder et al. (2006). Ao final do diagnóstico da arborização, foram feitas sugestões de ações de manejo, como plantio, poda leve ou pesada, substituição, bem como elaboração de uma lista de espécies vegetais adequadas ao replantio. Resultados e Discussão Foram encontradas 1440 plantas arbóreas e arbustivas nas vias públicas e praças do município de Goiandira, totalizando 105 espécies distribuídas em 36 famílias. Seis dessas espécies são responsáveis por 50,1% das árvores levantadas: Licania tomentosa (Benth.) Fritsch, Caesalpinia peltophoroides Benth, Murraya paniculata (L.) Jack, Teminalia catappa L., Schinus molle L. e Caryota urens L. A razão da alta freqüência de oiti (L. tomentosa) (20%) provavelmente seja devido à distribuição de mudas dessa espécie nos últimos dois anos pela prefeitura municipal.
4 4 Embora a riqueza de espécies seja alta, a equitabilidade é baixa (a Medida de Eqüitabilidade de Simpson, que varia de zero, = máxima dominância, a um = ausência de dominância, foi de 0,14), de modo que dentre as espécies levantadas, 36 são representadas por um único exemplar. Este padrão demonstra que a maioria dos indivíduos pertence a poucas espécies e a grande maioria das espécies é rara (Krebs, 1999). Em Goiandira existem apenas seis praças que conferem ao município um índice de áreas verdes de 1,29 m 2 /habitante, valor muito aquém do mínimo sugerido Sociedade Brasileira de Arborização Urbana - SBAU (Harder et. al,. 2006), que recomenda uma cobertura de 15 m 2 de área verde por habitante. Apenas 7% das árvores não apresentaram nenhuma praga em potencial, sendo os organismos que podem provocar distúrbios de grau elevado nas árvores, como pulgões, cochonilhas, lagartas e cipó-chumbo (Cuscuta racemosa, Convolvulaceae) afetaram menos de 5% das árvores. Animais como cupins, que são sabidamente pragas de grande importância na arborização urbana (Milano, 1998), apresentaram uma abundância baixa, porém considerável (4%), ocorrendo principalmente em monguba (P. aquatica) e sibipiruna (C. peltophoroides), ambas espécies exóticas ao bioma Cerrado. Os tipos de pavimento mais utilizados nas calçadas de Goiandira foram de cimento (45%) e de terra (40%). Calçadas de grama corresponderam a apenas 15% do total. A grande utilização de calçadas de terra e grama, que no presente estudo somam 55% do total, pode ser devido ao baixo custo destes pavimentos em relação ao pavimento de cimento, refletindo indiretamente a situação financeira dos moradores (Veiga et. al., 1999). Observou-se que 41% das árvores encontradas em Goiandira apresentavam conflitos com a rede elétrica. Essa situação traz inúmeros problemas à gestão municipal e, principalmente, aos moradores, por potencializar a probabilidade de queda de galhos sobre a fiação, danificando a rede elétrica e comprometendo o fornecimento de energia local (Velasco et al., 2006). Esse problema pode ser atribuido à inexistência de um planejamento que adequasse a arborização com a rede elétrica, por exemplo, plantando apenas espécies de pequeno porte sob a rede elétrica. As ações de manejo da arborização executadas pela prefeitura e moradores foram, em 51% dos casos, a poda leve, seguida pelo plantio de novas mudas (30% dos casos) e, por fim, uma quantidade significativa de casos de poda pesada (19% dos casos), visando eliminar a interferências dos galhos na rede elétrica convencional. A partir desses dados pôde-se evidenciar duas falhas: 1) o plantio de árvores de médio e grande porte sob a fiação e, 2) a
5 5 falta de um manejo contínuo da arborização urbana, que evitaria podas que mutilam as plantas (Silva-Filho et al., 2002; Velasco et al., 2006). Na avaliação da qualidade das ações executadas pela prefeitura e pelos moradores, a maioria (54%) foi considerada regular, ou seja, ações ruins que não comprometem a saúde das árvores ou das funções paisagísticas e de sombreamento, evidenciando a falta de acompanhamento técnico da arborização. As ações consideradas como boas, que alcançaram o objetivo estético e utilitário, foram observadas em 36% dos casos, número muito aquém do esperado. Uma quantidade apreciável de plantas apresentou sinais de uma ação de péssima qualidade (10%), indicando principalmente um plantio inadequado ou uma poda severa, que pode comprometer a estética e o tempo de vida útil da árvore (Dantas & Souza, 2004). Recomenda-se para a maioria das árvores do município (41%) uma poda leve que adeqüe seu formato à sua posição espacial (sob rede elétrica, próximo à sinalização vertical, etc.) e que garanta a livre circulação de pessoas e automóveis. Uma grande quantidade de indivíduos (20%) precisa ser substituída, o que demonstra uma falta de planejamento e, principalmente gestão da arborização no município. Um número pequeno de plantas (4%) necessita de uma poda pesada para a adequação de seus galhos ao ambiente urbano circundante. Conclusões O número de árvores na arborização urbana é insuficiente e existe uma grande dominância, em termos de freqüência relativa, de poucas espécies sobre as demais. O município carece de um planejamento e gestão da arborização urbana. Sugere-se, além de tratamentos convencionais das árvores, como poda, plantio e substituição, o emprego de espécies nativas do bioma Cerrado, respeitando-se sua localização e as características de seu entorno. Muitas espécies nativas possuem um excelente potencial paisagístico e são adaptadas às variáveis ambientais locais, o que economizaria recursos financeiros e esforços de manejo. Além disso, a utilização da flora nativa contribui para a valorização do nosso patrimônio florístico por parte da população em geral. Referências Bibliográficas Brasil PROBIO: Projeto de conservação e utilização sustentável da diversidade biológica brasileira: relatório de atividades. Brasília: MMA. Dantas, I. C.; Souza, C. M. C Arborização urbana na cidade de Campina Grande PB: Inventário e suas espécies. Revista de Biologia e Ciências da Terra. v. 4, n.2.
6 6 Filho, E. P. C (Coord.). Plano de desenvolvimento florestal sustentável. Fundação Florestal. Gonçalves, E. O. et al Avaliação qualitativa de mudas destinadas à arborização urbana no Estado de Minas Gerais. Revista Árvore, Viçosa, v. 28, n. 4, p Harder, I. C. F.; Ribeiro, R. C. S.; Tavares, A. R Índices de área verde e cobertura vegetal para as praças do município de Vinhedo, SP. Revista Árvore, Viçosa, v. 30, n. 2, p IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: < Acesso em: 10 de junho de Jacinto, J. M. M Análise silvicultural urbana de seis espécies florestais utilizadas na arborização de Brasília Dissertação (Mestrado) Departamento de Engenharia Florestal. Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília, Brasília. Krebs, C. J Ecological Methodology. 2ª ed. Addison Wesley Longman, 620p. Myers, N.; Mittermeier, R.A.; Mittermeier, C.G. et al Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, v. 403, p Monteiro, C. A. F Teoria e Clima Urbano. São Paulo: USP/IG (Série Teses e Monografias, 25). Santos, N. R. Z.; Teixeira, I. F Arborização de vias públicas: ambiente x vegetação. Instituto Souza Cruz. Rio Grande do Sul. Silva-Filho, D. F. S. et al Banco de dados relacional para cadastro, avaliação e manejo da arborização em vias públicas. Revista Árvore, Viçosa, v. 26, n. s p Veiga, B. G. A.; Coutinho, C. L. & Malavasi, U. C Planejamento, manejo e aspectos sociais em arborização urbana: o caso do Bairro Ecologia, Seropédica, RJ. Floresta e Ambiente. v. 6, n.1, p Velasco, G. D. N.; Lima, A. M. L. P.; Couto, H. T. Z Análise comparativa dos custos de diferentes redes de distribuição de energia elétrica no contexto da arborização urbana. Revista Árvore, Viçosa, v.30, n.2, p
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