USO DE NINHOS ARTIFICIAIS COMO METODOLOGIA PARA VERIFICAR A TAXA DE PREDAÇÃO DE NINHOS EM DOIS AMBIENTES: BORDA E INTERIOR DE MATA
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1 USO DE NINHOS ARTIFICIAIS COMO METODOLOGIA PARA VERIFICAR A TAXA DE PREDAÇÃO DE NINHOS EM DOIS AMBIENTES: BORDA E INTERIOR DE MATA Ivonete Batista Santa Rosa Gomes 1 Mariluce Rezende Messias 2 Resumo: Rondônia é um dos estados da Amazônia legal que mais sofreu processo de fragmentação de habitat. O presente trabalho consiste em verificar se há diferença na taxa de predação de ninhos artificiais entre os ambientes de borda e interior de mata. A área estudada corresponde às duas margens do Rio Madeira próximo ao distrito de Jaci-Paraná/RO. Foram alocados 88 ninhos artificiais na primeira fase e 120 na segunda, em ambas as margens, monitorados a cada 48 horas durante 11 dias. Os resultados mostraram que a taxa de predação de ninhos em ambiente de borda da margem esquerda foi menor que da margem direita, padrão inverso à taxa de predação do interior de mata. A causa de uma maior taxa de predação em ambiente de borda na margem direita deve estar correlacionada à maior fragmentação de habitat e pressão antrópica desta margem em relação à margem esquerda. Palavras-Chaves: Predação de ninho; Efeito de Borda; Amazônia. 1. Introdução A fragmentação de habitat é um dos mais sérios problemas ecológicos da atualidade. Em regiões tropicais, um grande número de espécies está sendo perdida antes mesmo de serem conhecidas pela ciência. A fragmentação pode limitar o potencial de uma espécie para dispersão e colonização. Muitas espécies de aves, mamíferos e insetos de interior da floresta não atravessam nem mesmo faixas estreitas de ambiente aberto por causa do perigo da predação. Como resultado, muitas espécies não recolonizam os fragmentos após a população original ter desaparecido. Assim as espécies tornam-se extintas nos fragmentos por flutuações populacionais e sucessão. 1 Graduanda do curso de Ciências Biológicas, Colaboradora PIBIC/CNPq 2 Prof a. Dr a. do Departamento de Ciências Biológicas UNIR
2 (RODRIGUES e PRIMACK, 2001). O microambiente numa borda de fragmento é diferente daquele do interior da floresta. Alguns dos efeitos de borda mais importantes são o aumento nos níveis de luz, temperatura, umidade e vento (RODRIGUES e PRIMACK, 2001). Um dos fatores considerados como causa do declínio em populações de aves é o aumento da predação de ninhos próximos às bordas (MARINI, 1995). Tendo em vista a acentuada fragmentação de floresta ocorrida em Rondônia devido a seu histórico de ocupação, este estudo foi realizado com o objetivo de verificar a influência do efeito de borda na taxa de predação de ninhos. 2. Material e Métodos A área de estudo corresponde às duas margens do Rio Madeira, localizada próximo à corredeira de Salto do Jirau, distrito de Jaci-Paraná/RO. Como ambiente de borda da floresta foram selecionados um estiramento de terra de 1000 m de uma estrada na margem direita do Rio Madeira com tráfego moderado de (3-5 veículos por dia) e um estiramento de 1000 m do Rio Madeira na margem esquerda. Na margem direita do Rio Madeira os transectos foram alocados perpendicularmente à estrada e na margem esquerda perpendicularmente ao Rio Madeira. O esforço amostral total empregado foi de ninhos monitorados em dois períodos de amostragem, doravante denominados de fases. Na primeira fase foram alocados 88 ninhos artificiais em quatro transectos cada um contendo 11 ninhos, representando um esforço amostral de 528 ninhos monitorados em 6 dias. Na segunda fase foram alocados 120 ninhos artificiais em ambas as margens em 5 transectos em cada margem com 12 ninhos cada, monitorados por 5 dias alternados, perfazendo um esforço amostral de 600 ninhos artificiais. O monitoramento dos ninhos foi feito em intervalos de 48 horas em dias alternados em ambas as margens. O monitoramento consistia em percorrer as trilhas removendo os ovos predados e
3 substituíndo-os por ovos novos. Os ovos removidos também foram repostos. Na primeira fase do experimento foram demarcados quatro transectos de 0,5 km de extensão em ambas as margens; ao longo de cada transecto foram distribuídos 11 ninhos artificiais com espaçamento de 50 m entre si, contendo 3 ovos vermelhos de granja. Os ovos foram alocados no solo a 1,5 m à direita do transecto. Os ninhos ficaram expostos aos predadores por 13 dias, monitorados por 6 dias alternados. Na segunda fase do experimento foi acrescentado um transecto com 12 ninhos nas duas margens; também foi acrescido um ninho no final de cada um dos 4 transectos utilizados na primeira fase em ambas as margens, com o objetivo de aumentar o esforço amostral do ambiente de interior de mata. Desta forma, foram alocados cinco transectos de 0,55 Km de extensão e ao longo de cada transecto foram distribuídos 12 ninhos artificiais, cada um deste contendo 2 ovos vermelhos de galinha de granja. A redução do número de ovos por ninho não influencia a análise dos dados, pois a unidade amostral é o ninho e não o número de ovos contidos no mesmo, sendo os ninhos considerados predados quando um ou mais ovos foram manipulados ou removidos. Parte-se do pressuposto que esta redução do número de ovos não influencia a detecção dos predadores. 3. Resultados A taxa de predação geral, ou seja, considerando os dois tipos de ambientes analisados, foi ligeiramente maior na margem esquerda que a margem direita: 18,4% e 17,8% respectivamente. Comparando ambas as margens, os dados obtidos do esforço amostral total empregado (n= ninhos) mostram que a taxa de predação em ambiente de borda da margem esquerda foi menor que da margem direita (15,0% e 20,4% respectivamente); Ao contrário do ambiente de interior de mata, a taxa de predação da margem esquerda foi superior ao da margem direita (22,2% e 14,8% respectivamente) (fig. 1). Analisando as margens separadamente, observa-se que a taxa de predação em ambiente de borda da margem direita foi maior que no interior da mata, padrão inverso ao encontrado na margem
4 esquerda, ou seja, a taxa de predação no interior de mata foi superior a do ambiente de borda (fig. 1). Margem direita Margem esquerda Número de predados intactos Número de predados intactos Borda (A) Interior Figura 1. artificiais predados e intactos em ambiente de borda e interior de mata da margem direita (a) e esquerda (b) do rio Madeira, sítio à montante da corredeira de Salto de Jirau, Distrito de Jaci-Paraná/RO. 4. Discussão Analisando conjuntamente os dois tipos de ambientes, verifica-se que a margem esquerda apresentou uma maior taxa de predação do que a margem direita. Possivelmente ocorra uma maior riqueza e abundância de espécies predadoras de ninhos na margem esquerda em relação à margem direita em decorrência da maior integridade ambiental desta margem. A relativa proximidade `a presença humana pode ser a causa de uma maior taxa de predação no ambiente de borda da margem direita, por ela estar submetida a um maior nível de fragmentação de habitat do que a margem esquerda. Um fator que dificulta a identificação das espécies predadoras de ninhos, principalmente na margem esquerda, é o fato de que na maioria das vezes a predação ocorreu de forma a não deixar vestígios, tais como presença de cascas no ninho e/ou próximo deste. Também não havia pegadas, visto que o solo, de modo geral, é compactado, dificultando sua marcação. Na margem direita ocorreu um maior número de predações parciais e de remoção de ovos que na 0 Borda (B) Interior
5 margem esquerda, onde foi possível encontrar cascas no ninho e próximo a este, o que indica diferença na composição das guildas de predadores de ninhos de ambas as margens. Referências Bibliográficas BURKEY, T.V Edge effects in seed and egg predation at two neotropical rainforest sites. Biological Conservation; 66, p. MARINI, M.A Edge effects on nest predation in the shawnee national forest, southern illinois. Biological Conservation; 74, p. RODRIGUES, E.; PRIMACK, R Biologia da Conservação. Vozes, R.de Janeiro; 328p.
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