BRASIL. Assistência de enfermagem. Educação. Nutrição. Trabalho. Periódico científico dos profissionais de enfermagem.

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1 Ano 12 nº 1 - janeiro/fevereiro de 2013 ISSN Enfermagem Periódico científico dos profissionais de enfermagem BRASIL 14 anos Assistência de enfermagem Sexualidade de adolescentes com síndrome de Down Transporte inter-hospitalar de pacientes críticos Vivencias de residentes de enfermagem Paciente em tratamento hemodialítico Erros de medicação Educação Conhecimento sobre úlcera por pressão Nutrição Qualidade nutricional infantil Trabalho Violência no ambiente de trabalho

2 Ano 12 nº 2 - março/abril de 2013 ISSN Enfermagem Periódico científico dos profissionais de enfermagem BRASIL 14 anos Assistência de enfermagem Diagnóstico de Enfermagem em UTI Bem-estar espiritual e música na saúde de pacientes Cuidados de enfermagem na sala de imunização Diabetes Adolescentes diabéticos no contexto familiar e social Epidemiologia Perfil epidemiológico das doenças sexualmente transmissíveis Saúde pública Violência contra crianças e adolescentes Trabalho Assédio moral entre profissionais de enfermagem

3 Ano 12 nº 3 - maio/junho de 2013 ISSN Enfermagem Periódico científico dos profissionais de enfermagem BRASIL 14 anos Assistência de enfermagem Assistência a puérperas de neonatos sob fototerapia Assistência de acadêmicos de enfermagem em UTI Neurologia Convivência da família com paciente esquizofrênico Saúde pública Hábito de fumar em funcionários Qualidade de vida de graduandos de enfermagem Trabalho Acidentes com perfurocortantes Auditorias do Protocolo Manchester Condições de trabalho dos cuidadores de idosos em ILPI

4 Ano 12 nº 4 - julho/agosto de 2013 ISSN Enfermagem Periódico científico dos profissionais de enfermagem BRASIL 14 anos Assistência de enfermagem Pais frente aos filhos em UTI neonatal Saúde pública Hábitos alimentares e obesidade em escolas Prevenção DST/AIDS em adolescentes Promoção da saúde através da música Emergência Curso de Suporte Básico à Vida na Marinha do Brasil Trabalho Erros de medicação Enfermagem e envelhecimento

5 Ano 12 nº 5 - setembro/outubro de 2013 ISSN Enfermagem Periódico científico dos profissionais de enfermagem BRASIL 14 anos Emergência Perfil dos atendimentos de um pronto socorro Saúde pública Saúde mental de mulheres no climatério Impacto da ESF no controle da hipertensão arterial Conhecimento sobre HIV/Aids entre universitárias Equipe da ESF em domicílio de pacientes com AVE Assistência de enfermagem Humanização da assistência ao paciente em UTI Enfermagem geriátrica Religiosidade de idosos hospitalizados Ações educativas em grupo de idosos

6 Ano 12 nº 6 - novembro/dezembro de 2013 ISSN Enfermagem Periódico científico dos profissionais de enfermagem BRASIL 14 anos Assistência de Enfermagem Atendimento a pacientes com crise hipertensiva O enfermeiro e a dor do recém- -nascido prematuro Significados e sentimentos dos enfermeiros ao comunicar o óbito Religião Crença e religiosidade no enfrentamento da morte de paciente Saúde pública Câncer de próstata Estresse ocupacional em equipe multiprofissional Qualidade de vida e instrumentos de avaliação Trabalho Supervisão do enfermeiro no cuidado em UTI

7 Enfermagem BRASIL Índice Volume 11 número 1 - Janeiro / Fevereiro de 2013 EDITORIAL Envelhecimento, adesão à terapia medicamentosa e a educação em saúde, Silvio Luís Rodrigues de Almeida, Meives Aparecida Rodrigues de Almeida...3 ARTIGOS ORIGINAIS Percepção dos pais sobre a vivência da sexualidade de adolescentes com síndrome de Down, Cristina Portela da Mota, Ana Lúcia Motta de Carvalho, Bianca Guimarães Pereira...5 Transporte inter-hospitalar de pacientes críticos: opiniões dos profissionais de saúde que realizam o transporte, Aldaíza Ferreira Antunes Fortes, Ana Maria Nassar Cintra Soane, Sheila Aparecida dos Santos...14 Contribuição do enfermeiro na promoção da qualidade nutricional infantil na Unidade Básica de Saúde, Adriana Brito de Normando Estrela, Bruno da Paixão Nascimento, Danielle Cristinne da Silva Almeida, Everton Misael Couto, Luciane Silva da Trindade, Flávia Silva de Souza...21 Erros de medicação: intervenções adotadas pelos enfermeiros de educação continuada, Lilian Yukiko Kimura, Marcio Antônio de Assis...29 RELATOS DE EXPERIÊNCIA Violência no ambiente de trabalho da enfermagem e educação para os direitos humanos, Adelita Campos Araujo, Ana Clara Corrêa Henning, Valéria Lerch Lunardi...37 Residência multiprofissional em saúde da família: vivencias de residentes de enfermagem, Marcelo da Silva Alves, Andyara do Carmo Pinto Coelho Paiva, Flávia Alves Condé Pires Guelber, Priscila Araújo Rocha, Anna Maria de Oliveira Salimena...44 Em busca de conhecimento de enfermagem sobre os pacientes portadores de úlcera por pressão, Simone Maiara Zagonel, Viviane Pereira Leite Gaigher, Susie Imbririba Augusto, Aline Melo, Larissa Lustosa Lustosa, Nariani Souza Galvão...49 REVISÃO Cuidados de enfermagem ao paciente em tratamento hemodialítico: uma abordagem geral do cuidado e de suas complicações, Alciene Gonçalves Dias, Maria Lídia Silva Cabral, Marislei Espíndula Brasileiro, Karynne Borges Cabral...54 NORMAS DE PUBLICAÇÃO...63 CALENDÁRIO DE EVENTOS...64

8 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) EDITOR CIENTÍFICO Presidente do Conselho Científico Prof a. Dr a. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Adriano Menis Ferreira (UFMS Mato Grosso do Sul) Prof a. Dr a. Aida Mendes (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Portugal) Prof a. Dr a. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Prof. Dr Ari Nunes Assunção (UNISC Santa Cruz do Sul) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Prof. Dr. Carlos Roberto Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Dalmo Valério Machado de Lima (UFF Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Eliane Aparecida Sanches Tonolli (UEM Maringá) Prof a. Dr a. Jacileide Guimarães (UFRN Rio Grande do Norte) Prof. Dr. José Verdú Soriano (Universidad de Alicante Espanha) Prof a. Drª Leila Rosa dos Santos (ISBL Londrina) Prof a. Dr a. Márcia Galan Perroca (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) Prof a. Dr a. Márcia Maria Fontão Zago (USP Ribeirão Preto) Prof a. Dr a. Margarethe Maria Santiago Rêgo (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Maria da Graça Piva (ULBRA RS) Prof a. Dr a. Maria Ermelinda Miranda Ribeiro Jaques (Escola Superior de Enfermagem IPVC Portugal) Prof a. Dr a. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Marialda Moreira Christoffel (UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Meives Aparecida Rodrigues de Almeida (UNICAMP Campinas) Prof a. Drª Mércia Heloisa Ferreira da Cunha (UFMG Belo Horizonte) Prof a. Dr a. Nadia Antonia Aparecida Poletti (FAMERP São José do Rio Preto) Prof a. Dr a. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Roberto Carlos Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Prof a. Dr a. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP Ribeirão Preto) Prof a. Drª. Soraia Dornelles Schoeller (UFSC Santa Catarina) Prof a. Dr a. Taka Oguisso (USP São Paulo) Prof a. Drª Teresa Tonini (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dra. Valéria Lerch Lunardi (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Vera Regina Salles Sobral (UFF Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wiliam César Alves Machado (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wilson D. Lunardi Filho (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) GRUPO DE ASSESSORES Prof a. Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Ms. Maria Filomena Vancellote Almeida (UniRio Rio de Janeiro) Prof. Ms. William Malagutti (UGF São Paulo) Enfermagem Brasil é indexada no CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro São Paulo SP Atendimento (11) / assinaturas@atlanticaeditora.com.br Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 atlantica@atlanticaeditora.com.br Administração e vendas Antonio Carlos Mello mello@atlanticaeditora.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de artigos@atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Neurociências, Nutrição Brasil e Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício. ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. 2

9 Editorial Envelhecimento, adesão à terapia medicamentosa e a educação em saúde Silvio Luís Rodrigues de Almeida*, Meives Aparecida Rodrigues de Almeida** Nas últimas décadas a composição etária da população dos países ocidentais tem sofrido alterações constantes, e os idosos compreendem uma parcela cada vez maior. O principal impacto que o envelhecimento populacional traz para o sector de saúde é uma importante alteração nas causas de morbimortalidade. As doenças infecto- -contagiosas cedem lugar às doenças crônico- -degenerativas, que se tornam progressivamente mais prevalentes, obrigando seus portadores a procurarem os serviços de saúde com grande frequência. O idoso apresenta invariavelmente índices maiores de morbidade quando comparados aos demais grupos etários. A polipatologia inevitável parece guiar para a polifarmácia, uma condição mais frequente no idoso do que na população jovem. A maioria dos idosos consome pelo menos um medicamento, e cerca de um terço deles consome 5 ou mais simultaneamente, sendo que a média oscila entre 2 e 5 medicamentos [1]. Além disso, apresentam uma série de características peculiares que induz a uma maior complexidade, no momento da abordagem terapêutica. Esta mais complexa terapia medicamentosa adicionada à baixa informação sobre o seu uso pode levar a maiores problemas na administração de seus medicamentos, tendo em vista que a maioria das orientações durante a consulta é verbal, o que aumenta a possibilidade de erro. Muito embora os idosos possam talvez não fazer mais erros de medicação do que os jovens, as consequências deletérias podem ser mais sérias, menos facilmente detectadas e menos facilmente resolvidas do que em pacientes de menor idade. Desta forma, erros de medicação são um sério problema em potencial, implicando em aspectos clínicos e sociais de alta relevância, tendo em vista a saúde do paciente e o custo social que isso gera. Pacientes que deixam de tomar as suas medicações corretamente podem não responder à terapia. Assim, na próxima consulta, o médico pode avaliar que o paciente não evoluiu, podendo questionar a validade do seu diagnóstico, como também prescrever uma dose maior do mesmo medicamento, ou ainda alterar a terapia medicamentosa a qual pode ser menos eficaz e ter um índice de efeitos adversos maior que a terapia inicial. Da mesma forma, pacientes que deixam de cumprir as instruções podem experimentar sérias deteriorações de suas condições, de maneira a pôr em risco a sua saúde. Além disso, *Farmacêutico, DEA em Saúde Publica, Doutorando em Saúde Publica Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, **Enfermeira, Mestre em Gerontologia, DEA em Gerontologia, Doutoranda em Gerontologia Universidade de Santiago de Compostela, Espanha 3

10 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) pacientes que não aderem à terapia não apenas reduzem os benefícios e aumentam os riscos dos medicamentos mas também aumentam os custos de si mesmos e também do sistema de saúde. A adesão à terapia pode ser avaliada pelo grau de concordância entre o comportamento de um doente em tomar os medicamentos, seguir dietas, alterar estilos de vida e as orientações dadas pelos profissionais de saúde. Quando revisamos a literatura sobre a adesão do paciente à terapia medicamentosa, encontramos estimativas que variam entre 4% e 92%, com uma média de adesão nas patologias crônicas entre 50% e 65%. Muitas são as razões apontadas para a fraca adesão à terapia medicamentosa, e perceber as razões do fracasso na adesão à terapêutica não é tarefa fácil, visto que os comportamentos de cada indivíduo, nomeadamente os comportamentos de saúde, são uma resultante de todos os fatores que influenciam a vida de cada um. Nenhum fator é determinante da adesão, mas, em diferentes graus, todos eles influenciam. Talvez os conhecimentos do paciente facilitem um maior cumprimento do tratamento, favorecendo comportamentos específicos de conservação e promoção de saúde. Em geral, as terapias complexas não se seguem, e possivelmente exista pouco cumprimento dos tratamentos cujos propósitos e finalidades não tenham sido expostos de forma clara e inteligível por parte dos profissionais de saúde. A educação do paciente, tanto sobre a doença, como sobre seu tratamento, é um fator fundamental que se deve ter em conta. Muito embora o reconhecimento de algo por si só não seja um indicador de mudança de conduta, se tem demonstrado que certa quantidade de informação é necessária para iniciar o processo que conduzirá a uma mudança de comportamento. De fato, a ausência de informação é precursora de incerteza porque não permite ao paciente a construção de um quadro de referência para a tomada de atitude. No entanto, esta situação de incerteza temporária e a que mais facilmente se pode corrigir. Para isso, bastará que o profissional de saúde se mostre disponível para informar corretamente e esclarecer eventuais dúvidas aos seus pacientes. Ao abordar este tema, espera-se ressaltar a importância educacional dos profissionais de saúde, em particular os médicos, enfermeiros e farmacêuticos no que diz respeito à avaliação, prescrição, educação e administração dos medicamentos ao paciente idoso, permitindo desta forma que certas estratégias cheguem a ser mais debatidas. A mudança demográfica deveria trazer consigo uma nova maneira de pensar sobre o processo de envelhecimento. Nossa sociedade e o governo ainda não têm a noção adequada de como proporcionar um envelhecimento digno e com qualidade. Referências 1. Rosenfeld, S. Prevalência, fatores associados e mau uso de medicamentos entre os idosos: uma revisão. Cad Saúde Pública 2003;19(3):

11 Artigo original Percepção dos pais sobre a vivência da sexualidade de adolescentes com síndrome de Down Cristina Portela da Mota, M.Sc.*, Ana Lúcia Motta de Carvalho**, Bianca Guimarães Pereira** *Enfermeira, Doutoranda em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz, Professora Adjunta do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrico da Universidade Federal Fluminense (MEP/UFF), **Enfermeira, graduada pela Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense (EEAAC/UFF) Resumo Estudo de abordagem qualitativa que objetivou conhecer a percepção dos pais sobre a vivência da sexualidade dos seus filhos adolescentes portadores da Síndrome de Down e a repercussão desta vivência para o cotidiano do próprio adolescente e da família. Foi realizado, em 2009, por meio de entrevistas semiestruturadas, gravadas, com onze mães e um pai de adolescentes com Síndrome de Down da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do Município de Niterói. Os depoimentos foram transcritos e analisados pelo método de interpretação de sentidos. Os resultados revelaram a importância de conhecermos valores, culturas e estilos de vida para compreendermos o universo da sexualidade dos adolescentes portadores da Síndrome de Down. A família, por sua vez, é importante para romper com o estigma e, assim, o portador desta síndrome pode vivenciar uma sexualidade saudável, pois ela é o lugar onde nos sentimos como parte de algo e aprendemos a nos relacionar, aceitar o outro e amar. Palavras-chave: sexualidade, adolescentes, síndrome de Down. Abstract Parents perception of the experience of sexuality in teenagers with Down syndrome This was a qualitative study that aimed to identify parents perception of the experience of sexuality in their children teenager with Down syndrome and the repercussion of this experience in everyday life of the adolescent and family. It was conducted in 2009 through semi-structured interviews, which were recorded, with eleven mothers and a father of teenagers with Down Syndrome Association of Parents and Friends of Exceptional Children (APAE) of Niterói city. After that the interviews were transcribed and analyzed by interpretation of meanings. The results revealed the importance of knowing values, cultures and lifestyles to understand the universe of sexuality of teenagers with Down syndrome. The Artigo recebido em 3 de maio de 2012; aceito em 30 de janeiro de Endereço de correspondência: Cristina Portela da Mota, Rua Mendes Tavares, 121/506, Rio de Janeiro RJ, tina.portela@ig.com.br 5

12 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) family has an important role of breaking the stigma, so that teenagers with Down syndrome can experience healthy sexuality, because it is where we feel part of something and learn to relate, to love and to accept others. Key-words: sexuality, adolescents, Down syndrome. Resumen La percepción de los padres acerca de la vivencia de la sexualidad de adolescentes con síndrome de Down Estudio de enfoque cualitativo que tuvo como objetivo conocer las percepciones de los padres sobre la experiencia de sexualidad de sus hijos adolescentes con síndrome de Down y la repercusión de esta experiencia cotidiana de los adolescentes y la familia. Fue realizado, en 2009, por medio de entrevista semiestructurada, grabada con once madres y un padre de adolescentes con síndrome de Down de la Asociación de Padres y Amigos de Niños Excepcionales (APAE) del municipio de Niterói. Después, las entrevistas fueron transcritas y analizadas por el método de interpretación de sentidos. Los resultados revelaron la importancia de conocer los valores, culturas y estilos de vida para entender el universo de la sexualidad de los adolescentes con síndrome de Down. La familia juega un papel importante en romper con el estigma y, así, los adolescentes con este síndrome pueden experimentar una sexualidad saludable, pues es donde nos sentimos como parte de algo y aprendemos a relacionarnos, amar y aceptar a los demás. Palabras-clave: sexualidad, adolescentes, Síndrome de Down. Introdução A sexualidade compreende uma categoria que transcende a biologia das estruturas corporais e dos processos fisiológicos, que materializam e objetivam o sexo a partir do determinismo biológico de se ter nascido homem ou mulher. Além disto, inclui as dimensões biológicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais do indivíduo [1]. Em nossa sociedade, a sexualidade foi histórica e culturalmente limitada em suas possibilidades de vivência, devido a tabus, mitos, preconceitos, interdições e relações de poder. Na adolescência esta se traduz em um campo de descobertas, experimentações e vivência da liberdade, como, também, de construção da capacidade para a tomada de decisões, de escolhas, de responsabilidades e de afirmação de identidades, tanto pessoal como política [2]. Ainda, é o elemento significante na formação da identidade do adolescente e que se manifesta por múltiplas identificações, tais como: a imagem corporal, a descoberta do outro como objeto de amor ou desejo e a descoberta de si e das relações com os familiares, grupos e profissionais [3]. Observa-se que o adolescente descobre a sexualidade a partir da referência de colegas que estão nas ruas há mais tempo, assim como de experiências impostas por outros adolescentes ou adultos [4]. Essa fase da vida é frequentemente um período de desafio para o indivíduo e sua família, e esta se intensifica quando se é portador da Síndrome de Down pelo fato que um corpo que não se encontra em plena ordem física e intelectualmente enfrentará as primeiras barreiras para interagir com o social, pois o adolescente terá de aprender a interagir com o mundo e começará a ter desejos de compreender o seu corpo, exprimindo sua sexualidade, além de se encarregar de inúmeras responsabilidades que chegam juntamente com esta fase da vida. E, ainda, terá de enfrentar os preconceitos da sociedade que acredita que uma pessoa fisicamente diminuída ou intelectualmente retardada não poderá responder a todas as solicitações da formação sociocultural [5]. A Síndrome de Down é um distúrbio genético devido à presença adicional de um cromossomo 21 nas células de seu portador e que causa um retardo mental de variados graus. Os adolescentes portadores da Síndrome de Down não são indivíduos assexuados, e muito menos apresentam uma sexualidade incontrolada. Geralmente, surge o interesse pelo sexo oposto, tendo as mesmas necessidades afetivas e mesmo desejo sexual, na qual são capazes de fazer a escolha clara de uma pessoa para amar e manter relações afetivas e sexuais estáveis. Contudo, isso ocorre de forma passiva e um tanto quanto infantilizada, sendo raro o efetivo relacionamento [6]. As mudanças hormonais se processam de forma semelhante às de adolescentes que não tem a síndrome. Há pouca diferença na idade da menarca, que ocorre por volta de anos e segue o padrão regular, mas podem acontecer ciclos anovu- 6

13 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) latórios. No adolescente com Síndrome de Down, a genitália pode ser menor e menos desenvolvida, a ereção e ejaculação podem apresentar dificuldade e os espermatozóides podem ser menos numerosos e possuírem formas anormais [7,8]. No que se refere aos aspectos comportamentais, historicamente, atribui-se a esses indivíduos características como: amabilidade, sociabilidade, obstinação, poder de imitação. A figura dócil e sociável dos portadores da Síndrome de Down, no entanto, não é uma coisa dada. Embora algumas características físicas dos portadores possam ser definidas pela síndrome e as características psicológicas são construídas no meio em que vivem [6]. O desempenho social do portador da Síndrome de Down é influenciado, em grande parte, pelo ambiente imediato ao seu redor. O resultado dessa interação pode restringir ou ampliar as oportunidades do seu desenvolvimento ou suas possibilidades de integração social [9,10]. Todos os valores culturais, estabelecidos pela forma de organização social, passam pelo indivíduo, através da unidade familiar. A formação da personalidade é, sem dúvida alguma, influenciada pela família que detém e faz circular em seu interior o reflexo do social maior e mais abrangente de toda a organização. Nesta medida, a educação dispensada na criação de um filho, vai ter necessariamente que passar pelos valores culturais que envolvem todos os habitantes desta formação sociocultural [11]. A família do adolescente portador da Síndrome de Down tem papel fundamental no seu desenvolvimento, não somente o pai e a mãe, mas todos os membros do núcleo familiar. É através das relações estabelecidas entre os seus membros, que se pode oferecer a esse adolescente um ambiente onde ele possa adquirir habilidades, aptidões, conceitos e significados, em diversos aspectos do desenvolvimento da sua sexualidade. Esse saudável convívio irá proporcionar a ele as primeiras experiências afetivas e sexuais, que serão responsáveis pela formação de sua identidade. Além disto, a família é vista como um sistema social responsável pela transmissão de valores, crenças, ideias e significados que estão presentes nas sociedades, que tem um impacto significativo e uma forte influência no comportamento dos indivíduos, especialmente dos jovens, que aprendem as diferentes formas de existir, de ver o mundo e construir as suas relações sociais [12]. O aparecimento de comportamentos sexuais em adolescentes que têm a síndrome costuma ser assustador para pais e cuidadores, pois as manifestações que fazem parte do desenvolvimento saudável da sexualidade, como masturbação e namoro, podem ser recebidas com cautela e medo [13]. Neste sentido, viver uma sexualidade saudável e responsável na adolescência envolve promover a saúde dos adolescentes por meio da construção da consciência de autocuidado e cuidado com o outro. O cuidar da pessoa com deficiência, faz-se necessário uma equipe multiprofissional que tenha como pressuposto a globalidade do desenvolvimento das potencialidades dessa população [14]. Nessa equipe, a enfermagem, juntamente com outros membros, desenvolve um importante papel na promoção do autocuidado, tendo como função modificar o ambiente para aprendizagem e gerar comportamentos mais independentes, ajudando os portadores de deficiências a desenvolver seus talentos ao máximo e remover, quando possível, o preconceito que existe em relação a eles [12]. É imprescindível que o profissional de enfermagem reflita sobre seu papel e sua responsabilidade diante dos portadores de necessidades especiais, considerando que a educação em saúde é uma das alternativas que a enfermagem dispõe para transformar os sujeitos em indivíduos ativos na construção de sua vida e de sua independência, já que através da educação constroem-se cidadãos [15]. Diante do exposto, tem-se como objeto de estudo a percepção dos pais sobre a vivência da sexualidade dos seus filhos adolescentes portadores da Síndrome de Down. E, como questões de pesquisa: como os pais percebem a vivência da sexualidade dos seus filhos portadores da Síndrome de Down? Quais as repercussões desta vivência para o cotidiano do adolescente e da família? Para responder a estas questões tem-se como objetivo conhecer a percepção dos pais sobre a vivência da sexualidade dos seus filhos adolescentes portadores da Síndrome de Down e a repercussão desta vivência para o cotidiano do próprio adolescente e da família. Material e métodos Natureza do estudo Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa do tipo exploratório-descritiva. Local do estudo Foi desenvolvido na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do Município de Niterói, 7

14 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) que é uma associação em que, além de pais e amigos dos excepcionais, toda a comunidade se une para prevenir e tratar a deficiência e promover o bem-estar e desenvolvimento da pessoa com deficiência. Participantes do estudo O estudo contou com a participação de onze mães e um pai de adolescentes portadores da Síndrome de Down de diferentes idades, raças e classes sociais. Dentre esses, seis deles eram casados, dois solteiros, dois viúvos e dois separados com idades entre 37 e 65 anos; ainda, oito residem no Município de Niterói e quatro no Município de São Gonçalo. Além disto, oito possuem o ensino fundamental incompleto, um possui o ensino fundamental completo, um o ensino médio completo, um com o ensino superior incompleto e um nunca estudou na vida. Das mães entrevistadas, nove desenvolvem atividades no lar e duas trabalham fora de casa, porém sem carteira assinada, e o pai é aposentado. A maioria dos pais não trabalha fora de casa, pois precisam cuidar em tempo integral do filho portador da Síndrome de Down. Em relação à situação obstétrica, duas mães tiveram apenas uma gestação e nove eram multíparas. O número de filhos variou entre um e dez filhos e cinco das entrevistadas apresentaram história de aborto espontâneo. Procedimentos éticos O protocolo do projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP) sob o Nº 105/09. A escolha dos sujeitos ocorreu de maneira aleatória, sem qualquer tipo de distinção entre sexo, idade, raça e classe social, desde que conseguissem expressar-se verbalmente. Primeiramente, fez-se uma aproximação com esses pais para obter sua confiabilidade, respeito e segurança, e, em seguida, convidamos cada um, por meio de carta-convite para participar da pesquisa. A correspondência continha uma descrição sucinta sobre os objetivos e a proposta do estudo, questões referentes à identificação da pesquisadora e da orientadora e sua disponibilidade para participar da pesquisa obedecendo aos preceitos éticos da pesquisa, conforme as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisa Envolvendo Seres Humanos Resolução Nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O segundo contato foi a entrevista propriamente dita, realizada na sala de atendimento social aos pais situada no 1º andar da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do Município de Niterói. Procedimentos para a coleta de dados O instrumento de coletas dos dados utilizado foi a entrevista semiestruturada com perguntas abertas e fechadas, constituído de duas partes; a primeira, contendo dados de caracterização socioeconômica da família, e a segunda, dados relacionados com a percepção dos pais sobre a vivência da sexualidade dos seus filhos adolescentes portadores da Síndrome de Down e a repercussão desta vivência para o cotidiano do próprio adolescente e da família. Nesta investigação, as entrevistas foram gravadas em mp3 e imediatamente transcritas pelos pesquisadores. As transcrições imediatas das entrevistas permitiram organizar as ideias em relação aos questionamentos. Foram escolhidos codinomes de flores para os pais, porque esses nomes representam a força, a coragem, a simplicidade e o otimismo desses pais pela vida de seus filhos, garantido assim, o sigilo e o anonimato dos depoimentos. Resultados e discussão Em termos de procedimento analítico adotado neste estudo, utilizou-se o método de interpretação de sentidos, baseando-se em princípios da hermenêutica-dialética para a interpretação das entrevistas. A hermenêutica é a busca da compreensão de sentido que se dá na comunicação entre seres humanos, tendo a linguagem seu núcleo central e a dialética é a ciência e a arte do diálogo, da pergunta e da controvérsia [16]. A trajetória analítico-interpretativa percorreu os seguintes passos (que, necessariamente, não são excludentes mutuamente e nem sequenciais): a) leitura compreensiva, visando impregnação, visão de conjunto e apreensão das particularidades do conjunto do material gerado por esta pesquisa; b) recorte dos depoimentos acerca da percepção dos pais sobre a vivência da sexualidade dos seus filhos adolescentes portadores da Síndrome de Down; c) identificação das ideias implícitas ao texto; d) problematização das ideias em termos de diferenças e pontos comuns dos depoimentos; e) busca de sentidos mais amplos que articulam modelos subjacentes 8

15 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Os adolescentes estão, cada vez mais, ao abrigo dos efeitos da mídia. A busca de modelos externos, tíàs ideias; f) diálogo entre as ideias problematizadas, informações provenientes de outros estudos acerca do assunto e a revisão de literatura do estudo; e g) elaboração de síntese interpretativa, procurando articular objetivo do estudo e dados empíricos. Ao concluir as entrevistas consentidas pelos pais dos adolescentes portadores da Síndrome de Down, percebeu-se o quanto esse estudo foi intermediado por grandes emoções e desafios. Duas categorias emergiram da pesquisa: Síndrome de Down e o Adolescente: aprendendo a vivenciar a sexualidade como fonte de vida; e, a arte do cuidado voltado para a sexualidade de adolescentes com Síndrome de Down. Síndrome de Down e o adolescente: aprendendo a vivenciar a sexualidade como fonte de vida Desde o nascimento a criança inicia o processo de independência em relação aos pais continuando e acelerando na fase da adolescência. Fascinado e assustado com as mudanças em nível físico e emocional o adolescente tem dificuldade em comunicar suas preocupações aos pais que, por sua vez, têm dificuldade de entender e aceitar o despertar da sexualidade neste momento. Essa questão se intensifica quando se trata de um adolescente que tem a Síndrome de Down. Ao iniciar as entrevistas com os pais dos adolescentes com Síndrome de Down, foi possível perceber uma grande dificuldade destes em definir sexualidade, conforme evidenciado nos relatos, a seguir: É desejo, uma coisa mais carnal. (Margarida) Eu entendo que é uma coisa da natureza, boa e sadia. É de onde vêm os frutos. (...) Minha filha desenvolveu a relação com 16 anos e se casou com 17. (Rosa) É o despertar dos hormônios; as coisas que se vê que é ouvida e que é ensinada (Lírio) É um relacionamento afetivo, uma parceria, companheirismo. (Camélia) A sexualidade é definida como o resultado de uma construção histórica, refletindo os valores e a moral de cada sociedade, num determinado período de tempo, compreendendo as dimensões biológica, psicológica e cultural, imbricadas ou dissociadas. Portanto, a sexualidade é vista como uma construção social e baseia-se na coordenação de uma atividade mental e corporal, que são aprendidas pela cultura [17]. Ao se abordar a questão da sexualidade humana no período da adolescência, ela trouxe consigo aspectos importantes da sexualidade tais como: masturbação, beijos e carícias, conforme observamos nos depoimentos abaixos: Já está sem vergonha. Quando vê uma menininha quer abraçar, quer beijar, fica olhando (...) (Sempre viva) Ela tem os bonecos da Mônica e fica se esfregando em cima dos bichinhos antes da menstruação e depois. (Rosa) (...) Ele fala que quer ir dormir porque quer ir para o quarto, depois pede um short, aí já sei que ele se masturbou (...) (Copo de Leite) A masturbação na adolescência não serve apenas para satisfazer o desejo, ou aliviar a tensão sexual, mas também fornece um meio seguro de experimentação sexual, aumenta a autoconfiança sexual, controla os impulsos sexuais, combate a solidão e descarga as tensões e o estresse geral [18]. Vivemos em uma era de liberdade de expressão e de um estilo livre de vida. Hoje vemos nos filmes, nas novelas, nas músicas, nas danças e nas roupas da moda uma comercialização do sexo. Levando em consideração o papel da mídia na questão da sexualidade na adolescência; temas, conteúdos e comportamentos antes restritos aos adultos são hoje vistos tanto pelas crianças quanto pelos adolescentes: Eu percebo a manifestação sexual da minha filha, quando ela assiste televisão. Quando ela vê um ator que ela gosta e diz: hum... olha lá mamãe, gostoso. (Rosa) Ela olha na televisão as pessoas beijando e quer beijar também. (Flor do Campo) Ela fala para a televisão: - safada, olha lá pai. (Dália) 9

16 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) pica desta fase de separação dos modelos familiares, faz com que aqueles carentes de referências que suportem esta passagem tomem os padrões e comportamentos sexuais que a mídia exibe como regra de conduta. Se considerarmos que a mídia, hoje, é responsável por um imenso volume de trocas simbólicas e materiais em dimensões globais, abre-se para a educação um novo conjunto de problemas, numa dinâmica social que exige não só medidas urgentes por parte das políticas públicas educacionais, mas igualmente uma reflexão mais acurada sobre as relações entre educação e cultura [19]. A sexualidade é uma das forças fundamentais da vida humana que penetra toda a existência individual e social. Por esta razão, a sexualidade, a religião, a fé, a ideologia e a ética se entrelaçam, conforme evidencia o relato de Girassol, uma mãe de 52 anos de idade, desquitada e residente do Município de São Gonçalo: Bom antigamente, falar de sexualidade era mais respeitado. Uma coisa conservadora, que tem haver com a religião. Hoje é uma bagunça. (Girassol) Nos comportamentos sexuais dos indivíduos, as práticas, os relacionamentos e os significados estão enraizados no conjunto das experiências que constituem as pessoas como seres sociais, dentro dos cenários culturais da sexualidade dominante em suas respectivas sociedades. Diversos fatores contribuem para modelar essas experiências da sexualidade de maneira diferenciada de acordo com os grupos sociais, religiosidade, condições de vida, redes de sociabilidade, padrões de relação entre os sexos, usos do corpo e posição na estrutura social, além das experiências vivenciadas ao longo do curso de vida [20]. Portanto, qualquer pessoa independentemente de sua condição físico-mental não só pode, mas deve ser considerada como uma pessoa plena de direitos às possibilidades de desenvolvimentos que a vida oferece, incluindo, as possibilidades sexuais de cada ser. O que precisamos perceber, no que tange à sexualidade humana, é que esta não se refere ao contato físico somente e propriamente dito, mas envolve a amizade, o carinho, a aprovação e as relações pessoais. A arte do cuidado voltado para a sexualidade de adolescentes com Síndrome de Down O cuidar é uma prática inerente ao ser humano e dispensado aos filhos é seguramente o mais significativo. Quando um pai tem a seu cuidado um filho adolescente portador de Síndrome de Down o ato de cuidar exige do cuidador uma atenção redobrada. Ao cumprir seu papel, os pais testemunham momentos de transformação na vida de seus filhos, principalmente no período da adolescência, quando profundas mudanças físicas, psíquico e social acontecem. Esses períodos são ricos e deixam entrever manifestações de desejos que afloram naturalmente. Não é diferente com os deficientes, conforme constatamos nos relatos abaixo: Ela tem um amigo e já pegamos eles se beijando. Quando eles foram lá em casa pegamos um em cima do outro. Tenho que ficar o tempo todo de olho nela. (Rosa) Ele já falou que quer crescer para namorar. (Margarida) Ele tem um fogo danado. Só pensa em namorar. (Camélia) Ele tem uma amiguinha que ele fala que é namorada. E ela fala também que é namorada dele. (Tulipa) Especialistas de diferentes áreas do conhecimento acreditam que, dependendo do grau de compreensão, os adolescentes com Síndrome de Down podem aprender a lidar com a sexualidade e a nutrir relações afetivas e sexuais saudáveis [7]. Desta forma, os profissionais de saúde e da educação que trabalham com adolescentes portadores da Síndrome de Down têm um papel fundamental na orientação sexual desses adolescentes e seus familiares, proporcionando um cuidado mais integral e humanizado. A arte de cuidar é a atividade humana por excelência, pois surge no seio da relação dialógica inter-humana, faz do homem aquilo que ele é. O ciclo do cuidado percorre toda a nossa existência, somos cuidados, cuidamo-nos e zelamos pelo cuidado do outro. Para além de ser uma atividade eminentemente humana transmitida através da cultura e educação, também, é uma profissão [21]. É fundamental para a enfermagem atuar na área da reabilitação, assistir as famílias e trabalhar com educadores e colaboradores da APAE, pois eles exercem um papel importante na prevenção de agravos à saúde e na promoção do autocuidado aos portadores de necessidades especiais. 10

17 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Nas últimas décadas, a melhora dos cuidados de saúde e o avanço social que as pessoas com Síndrome de Down vêm alcançando, têm sido muito positiva e por meio do processo de inclusão social, os adolescentes com Síndrome de Down são capazes de viver integrados na sociedade e, portanto, expostos a riscos, liberdades e responsabilidades. O relacionamento entre pais e filhos com Síndrome de Down é de extrema relevância para a formação da identidade humana. Poucos estudos, no entanto, falam sobre essa interação. É importante considerar o deficiente como parte integrante das relações familiares. Ter consciência dessa relação é, portanto, condição necessária para compreender a vida do adolescente. Durante a realização das entrevistas, no entanto, apenas um pai esteve presente. O relato de José, um senhor de 65 anos, casado e aposentado, evidencia a participação constante que deve haver do pai na vida do filho: Procuro estar sempre presente no cuidado do meu filho, inclusive, porque ele tinha uma certa agressividade. Uma vez ele beliscou uma colega de sala, como se fosse uma autodefesa, mas a professora deu um conserto nele. Ser pai é fácil, na verdade, nós homens assim nos tornamos quando o bebê nasce. No entanto, alimentar o desejo de o ser, preparar-se para o ser e tornar-se pai é difícil. Pois pai não é quem o gera, é quem o cuida, quem o abraça, quem lhe dá amor, quem participa junto da mãe em sua criação, felicidade, saúde e doença. Ser pai é tentar ser mãe e o sê-lo, mesmo que esse significado só seja percebido dentro dele mesmo [22]. A pouca participação do pai na vida dos filhos com Síndrome de Down, de certa forma, começa quando ele recebe o diagnóstico de que seu filho nasceu com a Síndrome de Down: A minha família está acostumada com ela. Da parte do pai ele não quis nem saber. É difícil um casal com criança especial se dar bem. (Girassol) Os homens continuam se representando e sendo representados por papéis fora do centro das interações familiares, o que pode ser justificado pelas pressões do trabalho, pela falta relativa de recompensa por seu engajamento nos cuidados das crianças e pelas sutis negociações entre os parceiros sobre a parte a ser desempenhada pelo homem na família [23]. Contrariando a literatura em geral, que aponta que os pais consideram seus filhos como assexuados e ingênuos, os depoimentos colhidos na pesquisa indicam uma relação afetiva e sexual satisfatória com os filhos: Eu aceito, concordo. Faria um casamento com todo prazer, porque eu senti que ela sente o que eu sentia e o que os meus filhos sentem não tem coisa melhor que amar (Rosa) Não ponho obstáculo não, só não aconselharia a ter filhos porque não sei quanto tempo vou viver. Quem vai cuidar da criança?. (Dália) Iria achar legal ele ter um relacionamento afetivo e sexual, para ele ter um prazer a mais. (Margarida) As necessidades e os comportamentos sexuais dos adolescentes podem ser assustadores para os pais e outros familiares. À medida que as mudanças físicas são muito acentuadas, a sexualidade pode ter uma expressão que pode parecer exagerada. O desenrolar da situação está ligado à sexualidade das pessoas envolvidas. Ou seja, pais que estão à vontade com sua sexualidade conseguem aceitar melhor a sexualidade dos filhos e filhas e transmitem-lhes essa aceitação. Por outro lado, se a sexualidade é negada, ignorada ou rejeitada pelos pais, as possibilidades de desenvolvimento de um autoconceito sexual positivo ficam diminuídas e isto pode se expressar como alienação, atividade sexual prematura ou excessiva [24]. A família exerce um papel essencial na interação social do seu filho e vem a ser uma importante instituição na formação de valores morais, espirituais e éticos. O núcleo familiar é, em última instância, o responsável pela formação de padrões de comportamento. É a partir dos seus familiares que a criança é inserida no mundo, cabendo aos pais oferecer condições para que elas possam se desenvolver e é na adolescência que a família deve preparar o adolescente para a vida adulta, proporcionando-lhe maior independência e autonomia [25]. O comportamento sexual de um indivíduo depende não só da etapa de desenvolvimento em 11

18 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) que se encontra, mas também do contexto familiar e social em que vive. Questionamos aos pais dos adolescentes com Síndrome de Down se e como o relacionamento afetivo e sexual repercutia no cotidiano da sua família. Os entrevistados relataram que a repercussão é positiva no ambiente familiar: São todos a favor. Ela veio depois de onze anos de ligadura. Em casa é como se fosse um troféu. Ela conquista a todos. A família apóia tudo dela. (Rosa) A família ia gostar, tem muito chamego. Tudo o que ele faz é bom. Seria muito bom que ele tivesse uma relação afetiva, eu estaria com ele, pois é meu filho. (Camélia) É bom, todo mundo fica feliz de ver o relacionamento amoroso dele. (Tulipa) A puberdade e a maturação sexual de pessoas com Síndrome de Down se desenvolvem de forma semelhante ao restante da população, embora, a fertilidade em homens com Síndrome de Down seja, em geral, mais reduzida que em mulheres com a mesma síndrome. Tendo em vista essas informações é possível esperar que o início do interesse sexual incluindo o desejo de namorar, de aproximar-se do outro, a preocupação com a aparência, a curiosidade por assuntos relacionados surja em época semelhante a dos demais adolescentes [24]. Parte das dificuldades dos pais e profissionais em lidar com aspectos relacionados à sexualidade de adolescentes com Síndrome de Down advém da quantidade incipiente de conhecimento sobre esses aspectos. Essa lacuna deve ser preenchida, porque é grande a demanda por informações de todos aqueles que lidam ou trabalham com essas pessoas. Conclusão A sexualidade é diferente a cada fase do desenvolvimento humano. Os adolescentes com Síndrome de Down são seres sexuados e, a cada estágio da vida, possuem interesses sexuais específicos e os exprimem por meio de comportamentos da própria sexualidade. A discussão da sexualidade em nossa cultura, tradicionalmente, vem acompanhada de preconceito e discriminação. Quando o assunto passa a ser sexualidade no adolescente portador da Síndrome de Down, o preconceito e a discriminação são intensificados e geram polêmica quanto às diferentes formas de abordá-lo, tanto com os próprios adolescentes, quanto com suas famílias e na escola. A sexualidade é uma função natural, existente em todas as pessoas e pode ser expressa no seu componente afetivo, erótico ou afetivo-erótico. Ela provoca grande angústia e ansiedade nas famílias e as primeiras manifestações são vistas com surpresa e medo, decorrentes de ideias que a colocam como imprevisível e incontrolável. Na verdade, os pais têm que encarar o fato que, mesmo sendo um adolescente com Síndrome de Down, o corpo começa a se modificar e é importante que os pais acompanhem essa transformação. O desejo de namorar, a masturbação e os jogos sexuais relatados pelos pais dos adolescentes com Síndrome de Down são comuns nesta fase da vida e o conhecimento corporal, a expressão da afetividade e a exploração de diferentes sensações e prazeres são fundamentais para desenvolvimento da sexualidade humana. Diante de tais constatações, acreditamos que o adolescente com Síndrome de Down seja capaz de ter um relacionamento afetivo e sexual saudável, à medida que ele é preparado para tal. Sendo fundamental, assim, que as expressões sexuais desse adolescente não sejam reprimidas, ao contrário, devemos ensiná-los quando e aonde eles podem se expressar. Referências 1. Trindade WR, Ferreira MA. Sexualidade feminina: questões do cotidiano das mulheres. Texto Contexto Enferm 2008;17(3): Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Marco teórico e referencial: saúde sexual e saúde reprodutiva de adolescentes e jovens/ Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Brasília: Ministério da Saúde; Romero KT. O conhecimento das adolescentes sobre questões relacionadas ao sexo. Rev Assoc Med Bras 2007;53(1): Medeiros M, Ferriani MGC, Munari DB, Gomes R. A sexualidade para o adolescente em situação de rua em Goiânia. Rev Latinoam Enferm 2001;9(2): Casarin S. Síndrome de Down: caminhos da vida [Tese]. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Almeida MSR. A expressão da sexualidade das pessoas com Síndrome de Down. São Paulo: Instituto Inclusão Brasil; Gonçalves ACM, Moya CI. Sexualidade e o adolescente portador de Síndrome de Down. In: X Encontro Latino 12

19 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Americano de Iniciação Científica e VI Encontro Latino Americano de Pós-Graduação Universidade do Vale do Paraíba. São José dos Campos: Univap; Trumble S. How to treat people with Down Syndrome: some tips for family physicians. Department of Community Medicine, Monash University, Australia; Chevallier E. A importância do trabalho sobre as representações na formação dos agentes sanitários e sociais. Rev Bras Crescimento Desenvol Hum 1993;3(1): Ribas JB. O que são pessoas deficientes? São Paulo: Brasiliense; Van Dyke DC, Mcbrien D, Sherbondy A. Issues of sexuality in Down syndrome. Down Syndrome Research and Practice 1995;3(2). 12. Kreppner K. The child and the family: Interdependence in developmental pathways. Psic Teor Pesq 2000;16(1): Blascovi-Assis SM. Lazer e deficiência mental: o papel da família e da escola em uma proposta de educação pelo e para o lazer. São Paulo: Papirus; Carswell WA. Estatuto da assistência de enfermagem a crianças que apresentam Síndrome de Down. Rev Latinoam Enferm 1993;2(1): Silva AMF. Refletindo sobre a qualidade de vida do portador de deficiência: resgatando os direitos de cidadão. Texto e Contexto Enferm 1999;8(3): Minayo MCS. Hermenêutica-dialética como caminho do pensamento social, próprio. In: MCS Minayo & SF Deslandes (orgs.). Caminhos do pensamento: epistemologia e método. Rio de Janeiro: Fiocruz; Melo ASAF, Santana JSS. Sexualidade: concepções, valores e condutas entre universitários de Biologia da UEFS. Rev Baiana Saúde Pública 2005;29(2): López F, Fuertes A. Para entender a sexualidade. Traduzido por: Gonçalvez MS & Sobral AU. São Paulo: Loyola; Fischer R. Identidade, cultura e mídia: a complexidade de novas questões educacionais na contemporaneidade. In: Silva LH, ed. Século XXI: qual conhecimento? Qual currículo? Petrópolis: Vozes; 1999b. p Bozon M. Sociologia da sexualidade. Rio de Janeiro: FGV; Fragoso V. A arte de cuidar e ser cuidado: cuidar-se para cuidar. IGT na Rede 2008;3(5). 22. Moulin IC. A mudança da minha vida: Ser pai. [citado 2010 Dez 12]. Disponível em URL: diarias.nom.br. 23. Henn CG, Piccinini CA, Garcias GL. A família no contexto da Síndrome de Down: revisando a literatura. Psicol Estud 2008;13(3): Preto NG. Família-função de sistema de apoio emocional: transformação do sistema familiar na adolescência. In: McGoldrick M, Carter B, eds. As mudanças no ciclo de vida familiar: uma estrutura para a terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas; p Moreira LMA, Gusmão FAF. Aspectos genéticos e sociais da sexualidade em pessoas com Síndrome de Down. Rev Bras Psiquiatr 2002;24(2):

20 Artigo original Transporte inter-hospitalar de pacientes críticos: opiniões dos profissionais de saúde que realizam o transporte Aldaíza Ferreira Antunes Fortes, M.Sc.*, Ana Maria Nassar Cintra Soane, M.Sc.**, Sheila Aparecida dos Santos*** *Enfermeira, Docente da disciplina Estágio Supervisionado, do Curso de Graduação em Enfermagem, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), Responsável pelo Setor de Pesquisa e Estudos Acadêmicos da EEWB, Itajubá/MG, **Coordenadora do Departamento de Ensino e Pesquisa da EEWB, Itajubá/MG,***Enfermeira, Acadêmica do curso de Especialização de Enfermagem em Urgência e Emergência e Terapia Intensiva da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), Itajubá/MG Resumo Estudo descritivo-exploratório e transversal, de abordagem qualitativa, desenvolvido com o objetivo de conhecer as opiniões dos profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem) sobre o transporte interhospitalar realizado dos pacientes críticos da cidade de Paraisópolis, Sul de Minas Gerais. A amostra foi constituída por todos os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem e médicos plantonistas do Hospital e Maternidade Frei Caetano, que acompanhavam o transporte de pacientes críticos e aceitaram participar do estudo. A amostragem foi intencional. A coleta de dados foi realizada, após aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa, utilizando um roteiro de entrevista semiestruturada em duas etapas: a primeira referente às características pessoais da população estudada, e a segunda composta por três questões abertas inerentes ao objetivo da pesquisa. Os dados foram analisados e interpretados por meio da análise de conteúdo de Bardin. Constatou-se que o transporte inter-hospitalar é uma prática cotidiana que merece melhor atenção, visto que os funcionários se mostram interessados em prestar assistência ao paciente e reconhecem a complexidade do tema, admitindo, porém, que lhes faltam recursos humanos e materiais, assim como capacitação, para atuar com segurança e conhecimento. Palavras-chave: transporte inter-hospitalar, paciente crítico, equipe de saúde. Abstract Inter-hospital transportation of critical ill patients: health professional views who perform the transportation This study was a descriptive exploratory and transversal with a qualitative approach developed with the main objective to know the opinions of health professionals (doctors, nurses, technicians and nurse assistants), about the transportation inter-hospitals carried out with patients at risk of Paraisopolis City, South of Minas Gerais. All nurses, technicians, nurse assistants and doctors of the Maternity Frei Caetano participated. The sampling was intentional. Data collecting used an semi-structured interview in two stages: First one refers to the personal characteristics of the studied population, and the Artigo recebido em 26 de abril de 2012; aceito em 31 de janeiro de Endereço para correspondência: Ana Maria Nassar Cintra Soane, Rua Antônio Magalhães Lisboa, 40, Medicina, Itajubá MG, anamariasoane@bol.com.br 14

21 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) second consists in three open questions related to the objective of the study. Data was analyzed and interpreted through Bardin content analyses. It was made clear that inter-hospitals transportation is a daily practice that deserves more attention once that the staff showed themselves interested in assisting the patient and they also realized the complexity involving this matter. They admit, however, that there is a shortage of human and material resources and even further skills for them to work with safety and knowledge. Key-words: inter-hospital transportation, patient at risk, health team. Resumen Transporte interhospitalario de pacientes críticos: opiniones de profesionales de salud que realizan el transporte Estudio descriptivo de enfoque cualitativo transversal y exploratorio, desarrollado con el objetivo de conocer las opiniones de profesionales de la salud (médicos, enfermeras, técnicos y auxiliares de enfermería) sobre el transporte interhospitalario realizado de los pacientes críticos de la ciudad de Paraisópolis, Sur de Minas Gerais. La muestra fue constituida por todos los enfermeros, técnicos y auxiliares de enfermería y médicos de guardia del Hospital y Maternidad Frei Caetano, que acompañaban el transporte de pacientes críticos y aceptaron hacer parte del estudio. El muestreo fue intencional. La recopilación de datos se llevó a cabo después de la aprobación del estudio por el Comité de Ética en la investigación mediante un guión de entrevista estructurada formada en dos pasos: la primera relativa a las características personales de la población de estudio y el segundo, compuesto por tres preguntas abiertas inherentes en el objetivo de la encuesta. Los datos fueron analizados e interpretados por análisis de contenido de Bardin. Se observó que el transporte interhospitalario es una práctica cotidiana que merece una mejor atención, ya que los empleados se interesan en prestar asistencia al paciente y reconocen la complejidad de la cuestión, admitiendo, sin embargo, que carece de recursos humanos y materiales, así como capacitación para servir con seguridad y conocimiento. Palabras-clave: transporte interhospitalario, pacientes críticos. Introdução O transporte inter-hospitalar é necessário quando o hospital de origem não tem recursos para dar continuidade ao tratamento. Ao se optar pelo transporte, deve-se considerar o risco/ benefício, a avaliação do quadro clínico e a estabilização do paciente devem ser feitas antes do início do transporte, e este deve ser efetuado por equipe treinada contando com equipamentos e materiais de qualidade. Considerando a complexidade do transporte de pacientes críticos, observou-se que o transporte inter-hospitalar é uma prática frequente e, na maioria das vezes, negligenciado pelos profissionais que o executam, que desconhecem dos riscos e das complicações que podem ocorrer em um transporte mal planejado. As intercorrências passíveis de ocorrer durante o transporte podem se associar às alterações fisiológicas, equipamentos e à equipe de transporte. As intercorrências clínicas são bastante frequentes como: alterações hemodinâmicas, bradicardia e hipóxia, problemas com a pressão arterial e a frequência respiratória, temperatura corporal, além de alterações dos gases sanguíneos [1]. A evolução tecnológica permitiu o avanço dos suportes ventilatórios, entre outros, incrementando o transporte de doentes graves para locais onde o seu tratamento pode ser otimizado, da mesma forma nos últimos anos tem-se verificado um aumento progressivo de unidades com especificidade no tratamento de certas patologias, o que por sua vez teve também como consequência um aumento das transferências de doentes críticos [2]. Este estudo visa conhecer a realidade do transporte inter-hospitalar de uma cidade de pequeno porte, podendo assim propor mudanças no atendimento, favorecendo aos profissionais conhecimentos necessários para efetuar um transporte com eficácia e conscientizando as instituições da necessidade de meios de transporte equipados, para que a equipe exerça seu trabalho com qualidade e segurança. Além disso, contribuir com a profissão da enfermagem com aquisição de conhecimentos, proporcionando o crescimento da profissão. Diante do exposto este estudo tem como objetivo conhecer as opiniões dos médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem do Hospital Frei Caetano, da cidade de Paraisópolis, Sul de Minas Gerais, acerca do transporte inter-hospitalar dos pacientes críticos. 15

22 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Material e métodos O presente estudo se define como descritivo, exploratório e transversal, e foi desenvolvido a partir da perspectiva da abordagem qualitativa no Hospital e Maternidade Frei Caetano, em Paraisópolis, Sul de Minas Gerais. Os sujeitos da pesquisa foram 24, sendo duas (2) enfermeiras, três (3) médicos, dezessete (17) técnicos de enfermagem e duas (2) auxiliares de enfermagem. Os critérios para inclusão dos participantes do estudo foram os seguintes: ser enfermeiro, técnico, auxiliar de enfermagem ou médico plantonista do Hospital e Maternidade Frei Caetano, da cidade de Paraisópolis/MG; ter acompanhado mais de um transporte inter-hospitalar de pacientes críticos; concordar em participar da pesquisa e assinar o termo de consentimento livre e esclarecido. Os critérios de exclusão foram aqueles que não se adequaram nos critérios de inclusão. O instrumento utilizado para coleta de dados foi um roteiro de entrevista semiestruturada que consta de duas etapas: a primeira se refere às características pessoais da população estudada, e a segunda é composta por três questões abertas inerentes ao objetivo da pesquisa. A própria pesquisadora aplicou os instrumentos. As respostas foram gravadas e a seguir transcritas conforme os critérios metodológicos, permitindo a fidedignidade das informações colhidas. Em seguida, a gravação foi excluída. A coleta de informações se iniciou após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da EEWB e liberação dos responsáveis técnicos da instituição inerente ao estudo. Esta foi realizada em julho de Antes da coleta das informações foi verificado, também, se os respondentes atendiam aos critérios de inclusão, já mencionados anteriormente, e realizou-se a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O pré-teste envolveu três profissionais da instituição, os quais fizeram parte da amostra, visto que não houve necessidade de alterar o instrumento. Como método de análise dos dados foi utilizado a análise de conteúdo, que abrange três etapas: a pré-análise, o tratamento dos resultado obtidos e a interpretação [3]. Os aspectos éticos do presente estudo obedeceram à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, concernentes à realização de pesquisas com seres humanos. Cada profissional foi identificado pela codificação P 1, P 2, P 3, proveniente da palavra profissional e do número ordinal sequencial de acordo com o número de participantes. Resultados e discussão Em relação às características sociais 17 são do gênero feminino e 6 do masculino. A faixa etária varia de 20 a 64 anos e o tempo de atuação profissional de dois (2) meses a 35 anos. Quanto à especialização, 18 não possuem especialização e os demais apresentam especialização na área de clínica médica, resgate/socorrista, pneumologia, medicina da família e comunidade e, um (01) está cursando faculdade de enfermagem. Dos participantes 12 trabalham em outra instituição, e todos fazem transporte de pacientes críticos. Quanto às questões abertas inerentes aos objetivos do estudo do tema Como é realizado o transporte inter - hospitalar de pacientes críticos surgiram as seguintes categorias: Categoria 1 Ambulância da instituição com acompanhamento do médico, enfermeira ou técnico de enfermagem e um familiar A ambulância é o meio de transporte indicado para áreas urbanas, em cidades de pequeno, médio e grande porte, ou para transferências intermunicipais, onde as estradas permitem que essas unidades de transporte se desloquem com segurança e no intervalo de tempo desejável ao atendimento de cada caso [4]. Conforme 20,8% dos entrevistados o transporte do paciente crítico é acompanhado pelo médico e o técnico de enfermagem. 8,3% apontam para a presença do familiar no transporte. Vai de ambulância junto com o médico, o técnico de enfermagem e um familiar. (P1) Vai o médico e um técnico de enfermagem. (P3) Dos participantes do estudo, 41,6% consideram o enfermeiro como parte da equipe que realiza o transporte. A atuação do enfermeiro está relacionada à assistência direta ao paciente grave sob risco de morte. O profissional que atua em situação de urgência deve possuir formação e experiência profissional, extrema competência, 16

23 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) habilidade, capacidade física, capacidade de lidar com o estresse, capacidade de tomar decisões rapidamente, de definir prioridades e saber trabalhar em equipe [5]. A atuação do enfermeiro junto ao paciente crítico vem constantemente se ampliando e tornando- -se imprescindível e definitiva. Conforme a resolução COFEN nº 379/2011, que entrou em vigor a partir do dia 01 de janeiro de 2012 a assistência de Enfermagem em qualquer tipo de unidade móvel (terrestre, aérea ou marítima) destinada ao Atendimento Pré-Hospitalar e Inter- -Hospitalar, em situações de risco conhecido ou desconhecido, somente deve ser desenvolvida na presença do Enfermeiro [6]. Então, vai um médico, a enfermeira padrão e um técnico de enfermagem. (P7) Vai o técnico, uma enfermeira padrão, mais o médico, né. (P9) Para 8,3% dos entrevistados o transporte inter- hospitalar de pacientes críticos é realizado sem a presença do profissional médico. Na nossa unidade tem escala de remoção, só que não são todos os dias que tem médico na cobertura, às vezes falta médico. Tem vezes que sai daqui com paciente sem médico... só com a enfermagem. (P18)... daí quando consegue a vaga, não tem médico que queira ir junto, isso que é o complicado. (P 24) 4,1% dos profissionais participantes desta pesquisa relatam que o médico é quem avalia a necessidade de acompanhar o paciente. O médico avalia se ele vai acompanhar ou não vai acompanhar. Se ele não acompanha, ele assina no prontuário que ele avaliou o paciente e liberou para ser acompanhado só com a enfermagem. (P3) O transporte do paciente crítico deve sempre ser acompanhado por uma equipe multiprofissional, capaz de oferecer suporte com qualidade durante o trajeto. Categoria 2 Pelo sistema SUS Fácil 37,5% dos entrevistados referem que os transportes de pacientes críticos são realizados pelo sistema SUS Fácil. O SUS Fácil é um sistema informatizado de regulação assistencial criado, em 2006, com o intuito de agilizar a troca de informações entre as unidades administrativas e executoras dos serviços de saúde de Minas Gerais, garantindo assim, melhorias constantes no acesso e atendimento prestado a população [7]. Podemos notar uma insatisfação dos entrevistados em relação ao sistema do SUS Fácil. E é terrível pra transferir o paciente do SUS, agora tem o SUS Fácil, às vezes tem paciente que fica até uma semana no pronto socorro esperando transferência... (P15) Categoria 3 Com todo o equipamento necessário Durante o transporte devem ser mantidas as mesmas medicações, padrões respiratórios e monitorização que o paciente estava recebendo anteriormente. A monitorização mínima necessária consta de: eletrocardiograma e oximetria de pulso contínuas com documentação periódica, medida intermitente e documentação de pressão arterial e freqüência respiratória. A temperatura deve ser avaliada periodicamente, especialmente em crianças e recém-nascidos, pois tanto hiper como hipotermia podem ser prejudiciais [8]. Podemos perceber na fala de 29,1% dos entrevistados a preocupação com a monitorização. Quando o paciente é grave a gente leva o monitor cardíaco, leva monitorizado, leva aspirador. (P15) 41,6% dos entrevistados citam a preocupação com a via aérea. Os pacientes graves saem daqui com a enfermagem, com o médico, vai motorizado, intubado. (P4) Categoria 4 Pela UTI móvel A prefeitura municipal de Paraisópolis/MG possui um convênio com o Consórcio Intermuni- 17

24 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) cipal de Saúde (CISMAS), cuja sede fica na cidade de Itajubá, onde é oferecido o serviço de remoção, contando com uma UTI móvel, com profissional médico e técnico de enfermagem. Quando há necessidade de transportar pacientes críticos que necessitam de uma UTI móvel, o transporte é realizado por esse serviço. O que podemos perceber na fala de 20, 8% dos entrevistados. Os pacientes graves saem daqui na ambulância do CISMAS, que é a ambulância UTI que vem, e ela vem já com o médico, a equipe de enfermagem tudo certinho pra levar o paciente pro hospital que for regulamentado pelo SUS Fácil. (P5) Categoria 5 Fora das condições adequadas de transporte Para 4,1 % dos entrevistados o transporte inter-hospitalar de pacientes críticos é feito fora das condições de transporte. Na minha opinião, pacientes graves não devem ser transportados, a não ser que estejam estáveis hemodinamicamente. Aqui a unidade de emergência tem condições de estabilizar este paciente... inclusive a história que eu escuto aqui do hospital é justamente o transporte de pacientes críticos fora de condição de transporte, sem condição de ser transportado e chega nos outros hospitais em condições mais críticas ainda. (P6) Nota-se na fala do entrevistado a preocupação com o transporte do paciente instável, visto que o transporte deve ser realizado para melhorar as condições do paciente e não para agravar ainda mais seu estado de saúde, para tanto ao se optar pelo transporte devem ser avaliados os benefícios para o paciente. A análise das respostas à pergunta Fale sobre os recursos humanos e materiais que possuem foi dividida em duas categorias: recursos materiais e recursos humanos utilizados no transporte de pacientes críticos. Em relação aos recursos materiais, 16,6% dos entrevistados dizem que os recursos materiais que possuem para a realização do transporte são os medicamentos; 58,3% relatam que possuem somente equipamentos para monitorização e ventilação; 20,8% falam que possuem recurso material suficiente para o mínimo; 4,1% dizem possuir material de semi UTI; para 16,6% os recursos materiais são insuficientes e 8,3% referem falha no funcionamento do equipamento. Nós temos na ambulância, é... uma caixa de urgência, com medicação necessária, se caso dá uma parada... (P7) Uma caixa de medicações deve acompanhar o transporte do paciente crítico, e as principais são: adrenalina, lidocaína, atropina, bicarbonato de sódio, adenosina, aminofilina, cloreto de cálcio, dexametasona, digoxina, dopamina, furosemida, heparina, manitol, magnésio, naloxone, nitroglicerina, nitroprussiato, fenitoína, cloreto de potássio, procainamida, propranolol e verapamil. Deve-se antecipar a necessidade de medicações prescritas para o paciente, como é o caso da sedação e bloqueadores neuromusculares [9]. Nós temos o oximetro e o monitor cardíaco é esses aparelhos que a gente tem disponível para levar na ambulância. (P7) Existem monitores modulares de transporte, que permitem o acompanhamento contínuo de vários parâmetros vitais: eletrocardiografia, oximetria de pulso, capnografia, pressão arterial não invasiva e módulos de pressão invasiva. Na ausência de um monitor múltiplos parâmetros, específico para o transporte, pelo menos, o oxímetro de pulso deve, obrigatoriamente, acompanhar o transporte de todos os pacientes críticos. Sua bateria deve estar carregada [9]. Quanto aos recursos humanos, 29,1% dos entrevistados consideram que há médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem qualificados. 8,3% colocam a necessidade de deslocar funcionário. Os recursos humanos no caso a enfermagem a gente desloca um funcionário do setor onde a gente possa remanejar. (P3) Na opinião de 16,6% os recursos humanos são suficientes e capacitados, em contrapartida outros 16,6% consideram estes recursos insuficientes e descompromissados. Eu acho que o recurso humano é muito bom... o corpo de enfermagem, os técnicos 18

25 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) de enfermagem, os médicos são funcionários de muito tempo, conhecem o serviço, conhecem a rotina, e são muito disciplinados, eu acho que em relação a recursos humanos não vejo problema. (P6) Faltam recursos humanos, faltam profissionais médicos pra atuar na remoção. (P16) Na pergunta Comente para mim sobre a capacidade dos profissionais que realizam o transporte, 66,6% consideram os profissionais capacitados, treinados e competentes. 12,5% relatam que possuem capacidade de improvisar; 8,3% atribuem a capacidade à educação continuada; 12,5% associam a capacidade à experiência; 4,1% dizem que são capazes se aprenderem a fazer; para 12,5% questiona- -se quem transporta e a forma como os pacientes são transportados e 4,1% dizem que médicos não são treinados para o transporte. Eu acho que são capacitados, os motoristas, os técnicos, enfermeiras, os médicos... eu acho que eles fazem um bom serviço. (P8) O transporte inter-hospitalar ocorre com grande frequência e embora seja um procedimento rotineiro, a presença de equipe treinada e disponibilidade de equipamentos adequados para sua realização se associam a menor morbidade para o paciente [1] Na opinião de 12,5% dos entrevistados a experiência é fator importante para determinar a capacidade dos profissionais. Eles citam que quem trabalha diretamente no Pronto Socorro são mais capacitados para acompanharem o transporte de pacientes críticos. A maioria dos profissionais aqui que vão geralmente pra transferência quando é paciente muito crítico são os profissionais do pronto socorro, pois eles já estão mais acostumados com a urgência, todos são bem capacitados, mas o pessoal que está mais tempo aqui no pronto socorro, geralmente são os que vão para poder dá um suporte melhor para o paciente. (P13) Para outro entrevistado (4,1%), a capacidade dos profissionais está relacionada ao conhecimento adquirido. Ressaltando a importância da educação continuada. Capacidade é o que a gente aprendeu e se sente capaz de fazer. (P18) Apesar de a maioria dizer que os profissionais são capacitados, treinados e competentes, um profissional (4,1%) referiu que os médicos não são treinados para o transporte. Os médicos não são treinados especificamente para fazer transporte (P3) 12,5% dos entrevistados citam que os profissionais que realizam o transporte possuem capacidade de improvisar. Eles não só tem que ser um bom profissional, como tem que ter um jogo de cintura, porque às vezes a capacidade da gente não é tanta, então, a gente tem que improvisar. (P12) Improvisar, segundo o dicionário, significa: fazer, arranjar de repente, sem preparação, organizar as pressas, compor na hora [10]. Em se tratando do transporte inter-hospitalar de pacientes críticos, contar com o improviso é imprudência, negligência e imperícia e, pode colocar em risco a vida do paciente. É de função de todos os profissionais da saúde, independentemente de grau hierárquico evitar que danos irreparáveis de negligência, imprudência e imperícia venham a acontecer na vida de um indivíduo [11]. Conclusão Constata-se que o transporte inter-hospitalar é uma prática cotidiana que merece melhor atenção, visto que os funcionários se mostram interessados em prestar assistência ao paciente e reconhecem a complexidade do tema, admitindo, porém, que lhes faltam recursos humanos e materiais, assim como capacitação, para atuar com segurança e conhecimento. Isto traria benefícios não só para as equipes, que iriam adquirir maior qualidade de atuação, bem como para os pacientes, que é nosso principal objetivo, que receberiam, neste momento, uma assistência de melhor qualidade. Vale lembrar que os trabalhadores da área da saúde devem estar preparados para atuar durante o transporte de pacientes críticos, visto que é 19

26 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) uma situação delicada que envolve conhecimento científico, capacidade de tomar decisões rápidas e capacidade de conviver com o estresse. Essa reflexão se torna ainda mais relevante quando se pensa que, em sua maioria, os profissionais que atuam no transporte estão afastados do ambiente hospitalar, e em determinadas situações precisam atuar em condições diferentes das habituais, nem sempre adequadas, por isso é importante que o transporte seja sempre acompanhado por uma equipe multidisciplinar. Referências 1. Vieira ALP, Guinsburg R, Santos AMN, Peres CA, Lora MI, Miyoushi MH. Transporte intra-hospitalar de pacientes internados em UTI neonatal: fatores de risco para intercorrências. Rev Paul Pediatr 2007;25(3): Rua F. Oxigenação durante o transporte do doente ventilado. Revista Portuguesa de Medicina Intensiva 1999;8(1). 3. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Lacerda MA, Cruvinel MGC, Silva WV. Transporte de pacientes: intra-hospitalar e inter-hospitalar. In: Sociedade Brasileira de Anestesiologia. Curso de educação à distância em anestesiologia. São Paulo: p Ramos VO, Sanna M C. A inserção da enfermagem no atendimento pré-hospitalar. Rev Bras Enf 2005;58(3): Conselho Federal de Enfermagem. Resolução Cofen nº 379/2011. Brasília: Cofen; Portal do desenvolvimento. SUS Fácil Sistema Estadual de Regulação Assistencial. [citado em 2012 Jan 21]. Disponível em: URL: 8. Traiber C, Andreolio C, Luchese S. Transporte inter- -hospitalar de crianças criticamente doentes. Scientia Médica 2006;16(3): Pereira Junior GA, Nunes T L, Basile-Filho A. Transporte do paciente crítico. Medicina Ribeirão Preto 2001;34(2): Houaiss A, Villar MS. Dicionário Houaiss da Lingua Portuguesa. Elaborado no Instituto Antonio Houaiss de Lexicografia e Banco de Dados da Língua Portuguesa S/C Ltda. Rio de Janeiro: Objetiva; Gomes MJ. Erro Médico. In: Bioética. Brasília: Revista do Conselho Federal de Medicina;

27 Artigo original Contribuição do enfermeiro na promoção da qualidade nutricional infantil na Unidade Básica de Saúde Adriana Brito de Normando Estrela*, Bruno da Paixão Nascimento**, Danielle Cristinne da Silva Almeida***, Everton Misael Couto***, Luciane Silva da Trindade***, Flávia Silva de Souza, M. Sc.**** *Graduada em Enfermagem do Centro Universitário Plínio Leite, Niterói/RJ, Enfermeira da Estratégia de Saúde da Família da Secretaria Municipal de Saúde de Rio Bonito/RJ, **Graduado em Enfermagem do Centro Universitário Plínio Leite, Niterói/RJ, Enfermeiro Residente do Hospital Naval Marcílio Dias/RJ, ***Graduados em Enfermagem do Centro Universitário Plínio Leite, Niterói/RJ, ****Docente da Disciplina de Enfermagem em Alta complexidade e TCC, Enfermeira Chefe do Setor de Emergência do HUCFF, membro efetivo do Time de Cateter do HUCFF Resumo Objetivos: Identificar como é o atendimento do enfermeiro na Unidade Básica de Saúde (UBS); identificar o perfil das crianças atendidas na UBS; discutir a contribuição do enfermeiro na promoção de uma nutrição infantil de qualidade na UBS. Métodos: Pesquisa de campo, descritiva, qualitativa, com a coleta de dados em arquivo documental e observação da consulta de enfermagem em uma UBS de São Gonçalo/RJ. Os sujeitos foram três enfermeiras que realizavam a puericultura de 30 crianças. Resultados: Muitos dados não estavam no prontuário devido à falta de acompanhamento ou de falha da equipe em anotar os dados. Perfil das crianças: predomínio de meninos, faixa etária de 1 ano, 37% nascidos de partos normais, 60% a termo, 42% com aleitamento materno complementar, 57% não tinham sido internadas e 67% possuíam esquema vacinal completo. Foi observada baixa qualidade na prestação da Assistência de Enfermagem e um grande número de absenteísmo. As orientações feitas quase não eram seguidas pelas mães. Conclusão: O enfermeiro deve ter uma visão ampliada de seus clientes e ter uma concepção diferenciada sobre a consulta de enfermagem, não baseada apenas nos aspectos técnicos, mas somados a prestação do cuidado integral do indivíduo e a formação de vínculo por meio da escuta terapêutica. Palavras-chave: cuidados de enfermagem, cuidado da criança, atenção primária à saúde, nutrição do lactente. Abstract The nurse contribution to promote infant nutritional quality at the Basic Health Unit Objectives: To identify how the care of nurses in the Basic Health Unit (BHU) is; to identify the children profile attended at the BHU; to discuss the nurse contribution to promote infant nutritional quality at the BHU. Methods: This is a descriptive and qualitative field research, with data collection on file documentation and observation during nursing consultation Artigo recebido em 30 de abril de 2012; aceito em 5 de fevereiro de Endereço para correspondência: Bruno da Paixão Nascimento, Rua U lote 22 quadra 30, Monte Verde, Manilha, Itaboraí RJ, brunopaixo@yahoo.com.br 21

28 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) at a UBS in São Gonçalo/RJ. Three nurses that were consulting 30 children participated in this study. Results: There are some data that are not registered in medical records due to lack of monitoring or team failure to record data. Children profile: predominance of boys, aged 1 year, 37% normal deliveries, 60% at term, 42% breastfeeding with supplement, 57% had not been hospitalized and 67% had complete immunization schedule. We observed poor-quality nursing care and children absenteeism, as well as suggestions given to mothers were rarely followed. Conclusion: The nurse should have an expanded view of his/her clients and have a differentiated conception about nursing consultation, not based only on technical aspects, but also on individual integral care and creating a relationship through the therapeutic listening. Key-words: nursing care, child care, primary health care, infant nutrition. Resumen La contribución del enfermero en la promoción de la nutrición infantil de calidad en la Unidad Básica de Salud Objetivos: Identificar la atención dispensada por los enfermeros en la Unidad Básica de Salud (UBS); identificar el perfil de los niños atendidos en la UBS; discutir la contribución de los enfermeros en la promoción de la nutrición infantil de calidad en UBS. Métodos: Investigación de campo, descriptiva, cualitativa, con la recolección de datos en archivo documental y observación de la consulta de enfermería en una UBS de São Gonçalo/ RJ. Los sujetos fueron tres enfermeras que realizaban consulta de puericultura en 30 niños. Resultados: Muchos datos no estaban en la historia clínica, debido a la falta de acompañamiento por parte de los padres o presentaban fallas en el registro de datos. Perfil de los niños: predominio de varones, grupo de edad 1 año, 37% nacidos de partos normales, 60% a término, el 42% con complemento de la lactancia materna, el 57% no habían sido hospitalizados y el 67% tenían el esquema de vacunación completo. Se observó baja calidad de atención de enfermería y mucho ausentismo de niños y también que las sugerencias no siempre eran realizadas por las madres. Conclusión: El enfermero debe tener una visión más amplia de sus clientes y tener una concepción diferente sobre la consulta de enfermería, basada no solo en aspectos técnicos, sino también en la atención integral de la persona y la formación de vínculos a través de la escucha terapéutica. Palabras-clave: atención de enfermería, cuidado del niño, atención primaria de salud, nutrición del lactante. Introdução A infância é uma fase de contínuo e acelerado desenvolvimento metabólico, psíquico e emocional, porém é um dos períodos mais vulneráveis da vida. Por isso, os distúrbios que ocorrem nesta época trazem grandes consequências para o indivíduo na fase adulta. Então, uma alimentação e uma nutrição de qualidade são fundamentais para o crescimento e desenvolvimento infantil satisfatório. O cuidado nutricional diz respeito às práticas domésticas realizadas por pessoas responsáveis pelo cuidado com a criança e de como elas usam os alimentos e os recursos disponíveis para a saúde, a fim de garantir sua sobrevivência, crescimento e desenvolvimento [1]. No Brasil, atualmente tem ocorrido grandes mudanças no padrão alimentar. Segundo dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF ), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Ministério da Saúde, houve redução nos índices de desnutrição infantil de 29,3% dos meninos de cinco a nove anos em para 7,2% em , e, entre as meninas, o índice caiu de 26,7% para 6,3% em 34 anos, porém o peso das crianças brasileiras ultrapassa padrão internacional [2]. Contudo, apesar da redução nos índices de desnutrição infantil, ainda se observa crianças com baixo peso ideal para sua idade, há também aquelas que estão acima do peso permitido para sua estatura e idade. A medida de altura é um dos fatores que ajudam a detectar a desnutrição infantil. Os déficits de altura revelam atraso no crescimento linear da criança ocorrido em algum momento, que pode ser desde a gestação, com prevalência nos dois primeiros anos de vida. Segundo esse estudo a respeito de crianças menores de cinco anos o déficit de altura foi de 6% no país, sendo mais expressivo em meninas no primeiro ano de vida (9,4%), crianças da região Norte (8,5%) e na faixa mais baixa de rendimentos (8,2%) [2]. Já no que se refere ao excesso de peso e a obesidade são encontrados com grande frequência, a partir de 5 anos de idade, em todos os grupos de 22

29 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) renda e em todas as regiões. Em 2008, o excesso de peso atingia 33,5% das crianças de cinco a nove anos, sendo maior na área urbana do que na rural e em destaque para a região Sudeste [2]. A obesidade infantil é uma enfermidade crônica e estima-se que cerca de 80% das crianças obesas serão também obesas quando adultas. Ademais, poderão desencadear problemas metabólicos como hipertensão arterial, diabetes, dislipidemias e doenças cardiovasculares, como as isquêmicas (infarto, trombose, embolia, aterosclerose, etc.). Ainda na infância a obesidade pode favorecer o aparecimento de problemas ortopédicos, apnéia do sono, alguns tipos de cânceres e distúrbios psicológicos [3]. Diante deste panorama da situação nutricional das crianças brasileiras, podemos perceber que a nutrição infantil é algo bastante complexo. São inúmeros os fatores determinantes da nutrição da criança, dentre eles podemos citar: os fatores ambientais, as condições sócio econômicas, os componentes culturais e educativos do meio onde a criança vive. [4]. Há que se refletir também que o padrão da qualidade da nutrição infantil se modificou com o passar dos anos, pois no início do século crianças de baixa renda eram magras e de baixo peso devido às condições socioeconômicas em que se encontravam e o país não possuir recursos adequados para sua subsistência. Com a globalização, houve certa melhora das condições socioeconômicas para a classe social C, e nasceram outras classes ainda menos abastadas: a D e a E. Assim, as pessoas passaram a aumentar o consumo de alimentos, mas não aqueles de qualidade, e sim o que podem comprar. Desta forma, nos dias atuais, observa-se a preponderância de crianças obesas, desnutridas e com mais complicações orgânicas do que as crianças acompanhadas pelas pesquisas em anos anteriores. Com o intuito de minimizar os danos que uma má nutrição pode causar na criança, ações governamentais criam programas e políticas com normas a serem seguidas pelos profissionais de saúde para atuarem junto à população, como, por exemplo, Programa de Atenção a Saúde da Criança: Nutrição Infantil Aleitamento Materno e Alimentação Complementar. Esta política visa potencializar ações de promoção da alimentação saudável e de apoio ao aleitamento materno, numa linha de cuidado integral à Saúde da Criança [5]. Com isso percebe-se que a atenção à Saúde da Criança tem sido alvo de preocupação de alguns profissionais de saúde, gestores e políticos. Notam- -se ao longo do tempo as modificações que foram feitas e transformações nas diretrizes das políticas de saúde voltadas à população infantil. De acordo com a Agenda de Compromisso para a Saúde Integral da Criança e Redução de Mortalidade Infantil, documento mais recente voltado para a atenção à criança, elaborado pelo Ministério da Saúde em 2004: a promoção da Saúde Integral da Criança e o desenvolvimento das ações de prevenção de agravos e assistência são objetivos que, além da redução da mortalidade infantil apontam para o compromisso de se prover qualidade de vida para a criança, ou seja, que esta possa crescer e desenvolver todo seu potencial. [6]. Segundo o Ministério da Saúde, a Unicef reconheceu que a Estratégia Saúde da Família (ESF) foi responsável pela redução da mortalidade infantil nos últimos anos [5]. A ESF é o cenário onde o enfermeiro atua com grande autonomia, como, por exemplo, na consulta de enfermagem (puericultura) e nas visitas domiciliares. Podemos apontar como uma das atribuições do enfermeiro da Atenção Básica o controle antropométrico da criança com o intuito de observar e detectar precocemente alterações provenientes de doenças, ou seja, através da triagem nutricional esses fatores podem ser mensurados pelo enfermeiro de forma que culmine na elaboração de diagnóstico de enfermagem para o processo de cuidar da criança. As ações desenvolvidas pelo enfermeiro na Unidade Básica de Saúde (UBS), quanto à nutrição infantil de qualidade, são essenciais para a promoção do crescimento e desenvolvimento infantil saudável, considerando que a enfermagem é um grupo profissional com ampla responsabilidade na assistência à criança na UBS. Segundo Silva: A consulta de enfermagem aliada à visita domiciliar permite a prevenção da doença, a promoção da saúde e ações de cura e reabilitação da saúde do indivíduo. No caso da criança e das questões nutricionais, unir estas metodologias proporciona ações educativas e assistenciais baseadas no contexto social e em um cuidado integral que busca a continuidade e qualidade da assistência [7]. 23

30 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Percebemos no campo de estágio que o acompanhamento nutricional infantil precisa ser mais rigoroso, pois a obesidade e cardiopatias em crianças têm aumentado cada vez mais no Brasil, o mesmo se dá com a desnutrição em algumas regiões do país, fato este que acontece devido a uma má nutrição da população infantil. Diante desta vivência, surge o interesse em conhecer o papel do enfermeiro e sua contribuição na qualidade nutricional infantil na UBS. Com base no exposto acima, levantamos o seguinte questionamento: como o enfermeiro pode contribuir para a promoção da qualidade nutricional infantil na Unidade Básica de Saúde (UBS)? Diante disso temos como objeto de estudo a contribuição do enfermeiro na promoção da qualidade nutricional infantil na Unidade Básica de Saúde (UBS). Apontamos como objetivos desta pesquisa: identificar como é o atendimento do enfermeiro na UBS, identificar o perfil das crianças atendidas na Unidade Básica de Saúde e discutir a contribuição do enfermeiro na promoção de uma nutrição infantil de qualidade na Unidade Básica de Saúde (UBS). A justificativa para o estudo em desenvolvimento está baseada na importância de se desenvolver um trabalho que vise contribuir para a vivência diária do enfermeiro na UBS, pois este estudo servirá de apoio que ampliará sua concepção da consulta de enfermagem voltada para a criança na Atenção Básica, ressaltando que esta consulta não se baseia apenas nos parâmetros antropométricos e detecção precoce das doenças, mas também voltado para a promoção da saúde, como, por exemplo, a triagem nutricional, visando detectar precocemente os possíveis riscos à saúde da criança decorrentes de uma nutrição inadequada. Com isso, este estudo torna-se relevante, tendo em vista que por meio dele possa haver uma reflexão entre os enfermeiros quanto a esta temática, para então agirem de forma efetiva na promoção de uma nutrição infantil de qualidade e, assim, proporcionar uma melhor qualidade de vida das crianças, além de contribuir para os estudos na linha de pesquisa de enfermagem no cuidado à saúde da criança. Material e métodos O presente estudo foi realizado por meio de uma pesquisa de campo, descritiva e qualitativa. O cenário da pesquisa foi uma Unidade Básica de Saúde (UBS) da cidade de São Gonçalo no Estado do Rio de Janeiro. A UBS é composta por três equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) que atendem as áreas 001 Galo Branco (equipe 032), 002 Estrela do Norte (equipe 029) e 003 Galo Branco (equipe 034). Três enfermeiras realizam a puericultura de aproximadamente 30 crianças em três dias da semana (segunda, terça e sexta-feira). A coleta de dados aconteceu em três momentos, a saber: pesquisa documental, observação da consulta de enfermagem e transcrição dos dados observados em um diário de campo. A pesquisa documental assemelha-se à pesquisa bibliográfica, porém as fontes de pesquisa são diversificadas e dispersas por se tratar se um método analítico, conforme Silva e Menezes [8] que a define como sendo aquela que não recebe tratamento analítico. A observação é quando se utilizam os sentidos na obtenção de dados de determinados aspectos da realidade. Os sujeitos da pesquisa foram três enfermeiras que atendem crianças em UBS, por meio da consulta de enfermagem. Os critérios de inclusão foram: independente de idade, sexo, tempo de serviço, especialização e as que aceitaram participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Seguindo os preceitos éticos o estudo foi enviado ao Comitê de Ética e Pesquisa conforme Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde para anuência e concordância dos sujeitos e foi aprovado sob no. 017/2011. O período da coleta de dados foi entre 19/05/2011 e 09/08/2011. Após a coleta de dados os mesmos sofreram análise de conteúdo. Os dados foram armazenados para a finalização do estudo e apresentação em Banca Examinadora e, após esta etapa, serão destruídos no período de cinco anos. Resultados e discussão Os dados colhidos foram analisados e classificados por categorias, sendo elas: Perfil das crianças atendidas na UBS, Descrição da Consulta de Enfermagem, Dialogando sobre a educação em saúde: a nutrição infantil em um contexto cultural. Perfil das crianças atendidas na UBS Esta categoria se refere ao levantamento do perfil das crianças atendidas no cenário do estudo, e foram obtidos por meio da pesquisa documental aos prontuários que nos foram gentilmente disponibilizados pelo profissional responsável pela unidade. 24

31 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Apresentamos a seguir, sob a forma de quadros, as informações que somam um total de (30) trinta crianças atendidas na unidade e possuem registros de consultas médicas e de enfermagem. Sexo Quadro 1 - Distribuição segundo gênero. Prematuridade Quadro 4 - Distribuição segundo a prematuridade. 13% 27% 60% Sim4 Não 18 Não tem dados 8 47% 53% Observou-se que 60% das crianças consultadas tiveram um nascimento a termo. Masculino 16 Feminino 14 Foram observados ambos os sexos com a prevalência do sexo masculino com 53% no registro de crianças atendidas na unidade. Idade Quadro 2 - Distribuição segundo faixa etária Número mês 2 meses 3 meses 4 meses 6 meses 7 meses 8 meses 9 meses 10 meses 11 meses 1 ano Idade 2 anos O quadro apresenta a distribuição das crianças, segundo a faixa etária, prevalecendo o intervalo maior dentre as crianças de 1 ano de idade. Tipo de parto Quadro 3 - Distribuição segundo ao tipo de parto. 30% 37% 33% Normal 11 Cesariana 10 Não tem dados 9 O quadro acima apresenta a distribuição por tipo de parto, no qual se observa uma pequena diferença entre o do parto normal com 37%, e uma parcela significativa de 30% de ausência sobre esta informação. Forma de alimentação ao nascer Quadro 5 - Distribuição segundo aleitamento materno. 23% 16% Exclusivo 5 Complementado 13 Não Amamento 6 Não tem dados 7 19% 42% Sobre a forma de alimentação, observou-se que 42% se utilizaram da inclusão de complemento alimentar e o aleitamento materno exclusivo apresentou 16%. Período de introdução de alimentação complementar Quadro 6 - Distribuição segundo a introdução de alimentação complementar Ao nascer 1 mês 2 meses 3 meses 4 meses 5 meses 6 meses 7 meses Não foi introduzido Não tem dados Foi observado que na maioria das vezes a introdução do complemento ocorreu no 1º mês de vida da criança. 25

32 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Necessidade de internação Quadro 7 - Quantitativo segundo a necessidade de internações. 23% 20% 57% Sim 6 Não 17 Não tem dados 7 Observou-se que 57% das crianças consultadas não tinham histórico de internações. Esquema vacinal Quadro 8 - Quantitativo segundo esquema vacinal. 23% Completo 20 10% 67% Atrasado 3 Não tem dados 7 Até a data das consultas agendadas, 67% apresentaram o cartão vacinal completo. De posse das informações obtidas por meio da pesquisa documental, pode-se traçar o perfil das crianças atendidas. A maioria das crianças era meninos (53%), a idade compreendida entre 1 mês a 2 anos com o predomínio de 1 ano, 37% nasceram de parto normal e 60% a termo, 42% tinham complementado o aleitamento materno e somente 16% se utilizaram de aleitamento exclusivo, e ainda 19% das crianças não eram amamentadas e muitas delas antes dos 6 meses. A introdução da alimentação complementar prevaleceu nos 6 primeiros meses de vida, contrariando a proposta pelo Ministério da Saúde [5]. Sobre a necessidade de intervenções hospitalares, 57% das crianças não foram internadas e 67% estavam com o esquema vacinal completo. Porém, podem-se observar alguns déficits de informações contidas nos prontuários, muitas informações não foram registradas devido a algumas crianças não terem sido consultadas na unidade nos primeiros meses de vida ou a não anotação dos dados por parte da equipe responsável pelo trabalho. Descrevendo a consulta de Enfermagem A consulta de enfermagem, no cenário do estudo, ocorre três vezes por semana pela manhã e à tarde com uma média de 08 atendimentos semanais. As três enfermeiras lotadas na UBS realizam consultas, cada uma segundo a sua didática própria e em cumprimento com as orientações propostas pelo Ministério da Saúde. Duas destas enfermeiras possuem especialização na área e uma delas é graduada. A triagem nutricional A puericultura inicia-se com o acolhimento das mães e crianças que aguardam para a consulta previamente agendada pelas Agentes Comunitárias de Saúde. Então, a enfermeira faz vários questionamentos sobre as condições gerais da criança: quanto à alimentação, aleitamento, eliminações, patologias pregressas, esquema vacinal etc. Realiza-se o exame físico completo (céfalo- -podal) com ausculta cardiopulmonar, inspeção e palpação; e são mensurados os parâmetros antropométricos como: peso, altura, perímetro cefálico, perímetro torácico e perímetro abdominal. Tais medidas servem para detectar possíveis alterações no estado nutricional e de saúde da criança. Por fim, é feita a marcação escrita no gráfico de peso/altura do cartão de vacina para o acompanhamento mensal do crescimento e desenvolvimento da criança. Então, conforme evidenciado pelo relato acima, existe uma triagem nutricional feita pelo enfermeiro durante a consulta. Descrição das orientações dadas às mães De acordo com os dados colhidos no exame físico e na anamnese, inúmeras orientações eram dadas às mães, porém algumas se destacaram. Dentre as quais podemos citar: a maior ingesta de frutas, verduras e legumes, a importância do aleitamento exclusivo até os 6 meses, a importância da marcação do gráfico de peso/altura no cartão de vacina para um acompanhamento do crescimento e desenvolvimento mensal e a importância da suplementação de ferro com sulfato ferroso para a prevenção de anemias. No entanto, outras orientações dadas podem ser classificadas nos seguintes critérios: quanto ao aleitamento, prevenção de cólicas e constipação, alimentação, ganho de peso e armazenamento do leito materno. Quanto ao aleitamento: devido à baixa adesão ao aleitamento materno exclusivo, as enfermeiras 26

33 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) tentavam estimular a amamentação orientando as mães a oferecer mais leite à criança, dizendo que quanto maior a oferta de leite à criança maior será a produção de leite, orientando ainda as mães a intercalarem a alimentação complementar com o leite materno, pois algumas mães ofereciam muito leite artificial às crianças e o leite materno era oferecido só à noite. Orientavam também como deve ser a pegada do bebê no peito. Quanto a cólicas e constipação: foi orientado a não fazer uso de leite artificial (em pó) e farinhas (Mucilon e Cremogema), porque o intestino do lactante está imaturo e esses alimentos ressecam as fezes e aumentam a peristalse causando a cólica. A mãe também foi orientada quanto a sua alimentação, consumo de certos alimentos ou condimentos, como refrigerantes, cafés, conservantes interferem no leite ofertado causando cólicas e constipação. Quanto à alimentação: a enfermeira montou um cardápio para a criança junto com a mãe e instruiu como usá-lo. Havia uma criança com sobrepeso, neste caso, foi orientado sobre a importância de seguir a dieta prescrita em intervalos de 3 em 3 horas e para evitar o diabetes foi orientado a não adicionar açúcar e mel em sucos, vitaminas e mamadeiras. Quanto ao ganho de peso: a enfermeira orientou que nos primeiros meses de vida da criança há um ganho de peso acelerado, porém após um ano este ganho não é significativo. Quanto ao armazenamento do leite materno: Preocupadas com o retorno ao trabalho, algumas mães perguntaram como proceder com a amamentação. A enfermeira orientou a ordenha manual do leite e seu armazenamento em geladeira para futuro consumo pelo lactante. Dialogando sobre a educação em saúde: a nutrição infantil no contexto cultural De acordo com os dados coletados e da observação realizada, constatou-se que ocorre a consulta de enfermagem com orientações aos clientes e a triagem nutricional. Porém, foi observada pouca qualidade na prestação da Assistência de Enfermagem. Inúmeros fatores contribuíram negativamente para a prestação da Assistência de Enfermagem eficaz, dentre as quais podemos citar o absenteísmo às consultas. O absenteísmo (ausência às consultas) é uma prática que ocorria com muita frequência na UBS, todos os dias havia uma ou duas crianças que faltavam à consulta, isso quando a falta não era de todas as crianças. Era nítido o desinteresse das mães em manter a regularidade das consultas que, segundo as enfermeiras, isso ocorria devido à possibilidade de remarcações quando elas (mães) quisessem. Esse também era um fator que prejudicava a continuidade da Assistência de Enfermagem. Outro fator que também prejudicava esta continuidade da assistência era a constante mudança de profissionais na Unidade, que resultava na falta de um vínculo sólido com os clientes. Minutos antes da consulta quando a enfermeira foi interrogada sobre dados do histórico das crianças (data de nascimento, tipo de parto, nome da mãe) por ela assistida, a mesma não soube responder. Então, pode-se levantar um questionamento: Como se estabelecer um vínculo com o cliente e proporcionar uma continuidade da assistência de qualidade sem conhecer a história de seus clientes? Faz-se necessário criar um laço de confiança entre profissional e cliente para que possa haver um cuidado continuado. Essa afirmativa foi reforçada através do relato de uma das enfermeiras que diz: Se houver um acompanhamento com as mães desde o pré-natal, a adesão às orientações dadas no puerpério e na puericultura será muito maior, pois se criaria um laço de confiança entre a mãe e o profissional, facilitando assim a continuidade da assistência. (J.M) Foi observada uma baixa adesão às orientações referente à qualidade nutricional das crianças. Normalmente elas comem o que a família come, ou seja, provavelmente uma dieta pobre em verduras e legumes e de baixa qualidade nutricional. Aqui nos deparamos com um tema de extrema complexidade que deve ser abordado pelo enfermeiro em suas consultas: os fatores culturais e ambientais que influenciam na alimentação infantil. Uma das prescrições de enfermagem para melhorar a qualidade nutricional infantil devem ser medidas que promovam a reeducação alimentar de toda a família, de acordo com as condições de cada família, e acompanhamento de um nutricionista, quando for o caso. Outro fator identificado que prejudica a qualidade da assistência prestada na (UBS) foi a desorganização do arquivo documental da unidade. A unidade não tinha um arquivo com os dados das 27

34 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) crianças atendidas na puericultura. Para o acompanhamento das crianças, eram utilizadas folhas de evolução nas quais não havia registro dos dados históricos das crianças e de sua família. Diante disso foi constatado que não existia uma ficha de cadastramento das famílias priorizada pelo Ministério da Saúde, a ficha A. A inexistência desses documentos prejudica a assistência de enfermagem, que em sua grande parte assistencial se baseia nos dados que são coletados e registrados nesta ficha. Entretanto, para se alcançar uma qualidade da assistência de enfermagem, o enfermeiro deve fazer uso de uma ferramenta muito importante: a educação em saúde. Para isso é necessário utilizar uma abordagem centrada na criança e sua família. Segundo Elsen e Patrício [9], essa abordagem se caracteriza pela continuidade da assistência em domicílio, pois a família ocupa uma posição central, ao mesmo tempo em que é o foco da assistência, é estimulada a ser a unidade básica dos cuidados à saúde de seus membros. Então, o enfermeiro deve utilizar métodos que envolvam a família na nutrição infantil, ensinando e proporcionando situações que estimulam a família a participar dos cuidados da criança. Conclusão Uma das principais atribuições do enfermeiro na Atenção Básica é a promoção da saúde, e no âmbito da saúde da criança isso é feito na puericultura. O perfil das crianças nesta UBS prevaleceu meninos entre o primeiro ano de vida, nascidos de parto normal com inclusão de alimentação complementar no primeiro mês de nascido, sem histórico de intervenções hospitalares e com o esquema vacinal completo. O estudo nos permitiu constatar que o enfermeiro pode contribuir para a promoção de uma nutrição infantil de qualidade, através da triagem nutricional na consulta por este realizado e das orientações dadas às mães. Também podemos observar inúmeros fatores que contribuíram negativamente para a prestação do cuidado de enfermagem, como o absenteísmo que prejudicava a regularidade das consultas e consequentemente a continuidade da assistência de enfermagem. Todos esses fatores interagiam entre si, a falta da continuidade da assistência impossibilitava a criação de vínculo com o cliente e, por isso a baixa adesão das orientações prestadas nas consultas. Tudo isso culminava com a precária organização dos arquivos históricos das crianças atendida. Então, a maneira em que a consulta de enfermagem é feita deve ser repensada, juntamente com a abordagem prestada pelo enfermeiro. O enfermeiro deve ter uma visão holística de seus clientes, vendo-os como um todo, e assim ter uma concepção ampliada de seu atendimento, não baseada apenas nos aspectos técnicos, mas, sim, na prestação do cuidado ao indivíduo na sua totalidade. Referências 1. Accioly E, Saunders C, Lacerda EMA. Nutrição em Obstetrícia e Pediatria. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; IBGE. POF Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. [citado 2010 Fev 27]. Disponível em URL: Araújo MFM, Beserra EP, Chaves ES. O papel da amamentação ineficaz na gênese da obesidade infantil: um aspecto para a investigação de enfermagem. Acta Paul Enferm 2006;19(4): Monteiro FPM, Caetano JÁ, Araujo TL. Enfermagem na saúde da criança: estudo bibliográfico acerca da avaliação nutricional. Esc Anna Nery Rev Enferm 2010;14(2): Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Saúde da criança: nutrição infantil: aleitamento materno e alimentação complementar. Brasília: Ministério da Saúde; Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Agenda de compromissos para a saúde integral da criança e redução da mortalidade infantil. Brasília: Ministério da Saúde; Silva MM, Rocha L, Silva SO. Enfermagem em Puericultura: unindo metodologias assistenciais para promover a saúde nutricional da criança. Rev Gaúcha de Enferm 2009;30(1): Silva EL, Menezes EM. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 3ª ed. Florianópolis: UFSC, Elsen I, Patrício ZM. Assistência a criança hospitalizada: tipos de abordagem e suas implicações para a enfermagem. In: Schmitz EM, ed. A Enfermagem em pediatria e puericultura. São Paulo: Atheneu; p

35 Artigo original Erros de medicação: intervenções adotadas pelos enfermeiros de educação continuada Lilian Yukiko Kimura*, Marcio Antônio de Assis** * Acadêmica do curso de enfermagem, Universidade de Mogi das Cruzes, participante do Programa Voluntário de Iniciação Científica (PVIC), **Enfermeiro, Doutorando em engenharia biomédica, docente da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) Resumo Objetivo: Este estudo teve como objetivo identificar as intervenções realizadas pelos enfermeiros de educação continuada para prevenção de erros de medicação. Materiais e métodos: Foi realizada uma pesquisa survey exploratório-descritivo, de caráter quantitativo. A amostra foi constituída por enfermeiros que atuam em educação continuada na região do Alto Tiête/SP, através de amostragem por conveniência. Resultados: Os resultados demonstraram um cenário em que os enfermeiros realizam diversas intervenções para prevenção de erros de medicação, porém há escassez no processo avaliativo dessas intervenções, evidenciando a necessidade de aprofundamento desta temática pelos enfermeiros atuantes em educação continuada. Conclusão: A educação continuada atua na melhoria da qualidade na assistência à saúde através da sistematização do aprendizado, conscientização e mudanças geradas a partir de estratégias educacionais. Na prevenção de erros de medicação há diversos sistemas que visam a segurança do paciente na assistência à saúde. Neste contexto, a educação continuada desses profissionais proporciona condições facilitadoras para que haja diminuição significativa de erros na medicação. Palavras-chave: erros de medicação, enfermagem, educação continuada. Abstract Medication errors: interventions adopted by nurses in continuing education Objective: This study aimed to identify the interventions performed by nurses who attend continuing education program for prevention of medication errors. Methods: We conducted an exploratory descriptive survey research, quantitative character. The sample consisted of nurses working in continuous education in the Alto Tietê/SP, through convenience sampling. Results: The results showed a scenario where nurses have done many interventions to detect and prevent medication errors. However, there are few such measures in the evaluation process, highlighting the need for deeper understanding of this issue by the nurses in continuing education. Conclusion: Continued education acts on health care quality improvement through learning systematization, raising health professionals conscience on the matter and educational strategies changing. In the prevention of medication errors there are several systems aimed at patient safety in health care. In this context, continuing education provides enabling conditions for a significant decrease in medication errors. Key-words: medication errors, nursing, continuing education. Artigo recebido em 20 de junho de 2012; aceito em 6 de fevereiro de Endereço para correspondência: Lilian Yukiko Kimura, Rua Francisco Corrêa, 119, Jardim Camila, Mogi das Cruzes SP, lilian-kimura@hotmail.com 29

36 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Resumen Errores de medicación: Intervenciones adoptadas por el personal de enfermería en educación continua Objetivo: Este estudio tuvo como objetivo identificar las intervenciones realizadas por el personal de enfermería en educación continua para prevenir errores de medicación. Material y métodos: Se ha realizado una investigación tipo survey exploratoria-descriptiva de carácter cuantitativo. La muestra fue compuesta de enfermeros que actúan en educación continua en la región del Alto Tiête SP, a través del muestreo por conveniencia. Resultados: Los resultados muestran un escenario donde los enfermeros realizan diversas intervenciones para prevenir errores de medicación, sin embargo hay escasez en el proceso de evaluación de estas intervenciones, que evidencian la necesidad de estos profesionales, que actúan en educación continua, profundizar en esta temática. Conclusión: La educación continua actúa en la mejora de la calidad de atención de salud a través de la sistematización del aprendizaje, concientización de cambios a partir de estrategias educacionales. En la prevención de errores de medicación hay diversos sistemas que tienen por finalidad la seguridad del paciente en atención de salud. En este contexto, la educación continua del profesional de enfermería proporciona condiciones facilitadoras para reducir los errores de medicación. Palabras-clave: errores de medicación, enfermería, educación continua. Introdução Atualmente a preocupação das instituições e profissionais de saúde vem crescendo em relação à segurança do paciente. Um estudo do National Center for Health Statistics, nos Estados Unidos da América (EUA), demonstrou as razões de morte de pacientes em hospitais americanos e constatou que foram causadas por eventos iatrogênicos, ultrapassando as mortes atribuídas a acidentes automobilísticos (43.458), câncer de mama (43.397) e AIDS (16.516) [1]. A segurança do paciente pode apresentar pontos críticos em quaisquer etapas do processo de hospitalização, principalmente em relação aos procedimentos que são realizados para atender à terapia necessária. A administração de medicamentos é um procedimento multidisciplinar e de extrema responsabilidade do profissional de saúde que o executa, pois representa potenciais agravos e riscos à saúde do indivíduo [2]. Dessa forma, é importante ter em mente que falhas nesse processo podem ocorrer. O erro na administração de medicamentos é definido como qualquer evento adverso evitável que pode resultar em danos ou prejuízos ao paciente e que pode ter sido gerado no processo de prescrição, dispensação e/ou administração dos medicamentos, sendo possível ocorrer em qualquer uma dessas etapas do processo [3-5]. O custo anual para as instituições de saúde nos Estados Unidos por erros de medicação relacionados com morbidade e mortalidade é de aproximadamente US$76,6 bilhões [6]. De acordo com a American Society of Health- -System Pharmacists (ASHP, 1993) é possível classificar e categorizar o erro de medicação conforme o tipo, causas, local da ocorrência, classificação terapêutica do medicamento e o resultado ocasionado no paciente [7]. Os erros mais frequentemente encontrados são de prescrição, omissão, horário, administração de medicamento não autorizado, dosagem incorreta, erro de apresentação, de preparo, técnica de administração inadequada, medicamentos deteriorizados e erro no monitoramento após a sua administração [8]. Uma das explicações observadas para um grande número de erros é a ausência ou ineficácia de mecanismos, medidas e sistemas que diminuam a sua ocorrência ou que interceptem o erro antes de ser administrado ao paciente [9,10]. É importante lembrar que erros sempre vão ocorrer, porém minimizá-los requer, primeiramente, a aceitação de sua existência [9]. A Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations, principal organização internacional que avalia a qualidade das instituições prestadoras de serviço à saúde, propõe a inserção de medidas de qualidade e segurança do paciente, com a padronização de processos, instrumentos de notificação e indicadores de gerenciamento assistencial para minimizar e evitar os erros de medicação [11,12]. 30

37 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) As estratégias e medidas para detecção e prevenção dos erros de medicação interferem diretamente na qualidade assistencial, sendo um importante indicador de qualidade com a mensuração através de avaliação do desempenho da qualidade organizacional [10]. Existem várias estratégias que podem ser adotadas para prevenção de erros de medicação nas instituições hospitalares, como: normas específicas, regras, ações educativas, protocolos de padronização, notificações de erros ocorridos, sistemas de medicações, documentações, entre outras abordagens que visam à melhoria da qualidade da assistência à saúde [6,13]. Em relação à equipe de enfermagem, cabe ressaltar que esses profissionais desempenham papel fundamental na prevenção de erros de medicação e possibilitam interceder em até 86% dos erros de medicação provindos da prescrição, transcrição e dispensação de medicamentos [14]. Sendo assim, torna-se importante manter uma equipe de enfermagem preparada para atender corretamente às necessidades da clientela que procura os serviços de saúde. Isso é possível por meio de orientações e treinamentos que mantém uma equipe de enfermagem capacitada para prestar uma assistência à saúde segura. Em uma instituição hospitalar isso se torna possível por meio de intervenções do serviço de educação continuada (EC). Esse serviço busca um processo permanente que visa capacitar o conhecimento técnico-científico, propiciando novos conhecimentos e gerando atualizações referentes à execução do trabalho inerentes a instituição hospitalar para os seus colaboradores [15,16]. Este serviço é coordenado pelo profissional enfermeiro, que atua na melhoria da qualidade e segurança da assistência à saúde através da sistematização do aprendizado, conscientização, mudanças geradas a partir de estratégias de educação permanente, programas e atividades educacionais [17,18]. É importante ressaltar que o enfermeiro da EC é responsável pela identificação das necessidades dos trabalhadores viabilizando condições que propiciem a prevenção de iatrogenias no cuidado prestado ao cliente [19]. Através de estratégias e de capacitação profissional por meio de educação contínua pode-se trabalhar mais efetivamente no que tange as causas sobre erros de medicação, minimizando assim os danos aos clientes e diminuindo os custos nas instituições de saúde [10]. Sendo assim, é importante para as instituições de saúde, profissionais e pacientes, que haja um trabalho voltado às intervenções preventivas adotadas acerca dos erros de medicação, com a sensibilização dos profissionais de saúde, na tentativa de reduzir os potenciais erros existentes. Objetivo Identificar as intervenções adotadas na minimização e prevenção de erros de medicação pelos enfermeiros atuantes em serviço de educação continuada da região do Alto Tietê/SP. Material e métodos Trata-se de uma pesquisa survey exploratório- -descritivo, de caráter quantitativo. A amostra foi constituída de treze enfermeiros que atuam em educação continuada na região do Alto Tiête/SP, por amostragem de conveniência. Ressalta-se que, na região do Alto Tietê existem dezessete instituições hospitalares públicas e privadas, composta pelos municípios de Arujá, Santa Isabel, Mogi das Cruzes, Guararema, Biritiba Mirim, Suzano, Salesópolis, Poá e Ferraz de Vasconcelos. Para a coleta dos dados foi utilizado um questionário semiestruturado elaborado pelos autores, composto pela caracterização do profissional e questões abertas e fechadas direcionadas as intervenções adotadas para prevenção de erros de medicações pelos enfermeiros do serviço de educação continuada. Realizou-se contato prévio com os particpantes, sendo agendado um dia específico, conforme a disponibilidade de cada um, para a aplicação do questionário. O período de entrevistas foi entre os meses de agosto a outubro de Durante o período de coleta de dados, foi averiguado que em duas instituições hospitalares não havia enfermeiro exclusivo de educação continuada para a realização da coleta de dados; e dois profissionais se recusaram a participar do estudo. Após o esclarecimento de dúvidas referente à pesquisa e os participantes estarem cientes e de acordo em participar, os mesmos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, conforme as normas da Resolução 196/96. O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Mogi das Cruzes sob o número

38 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Os dados obtidos foram analisados quantitativamente, agrupando-os por semelhança de conteúdo e posteriormente apresentados em gráficos e tabelas por meio de frequências absolutas e relativas (%). Resultados e discussão Dados demográficos As características da amostragem obtidas foram descritas na Tabela I. Como podemos observar, houve predominância do sexo feminino (69,23%), com tempo de formação acadêmica em média de 9,73 anos, sendo 61,54% dos entrevistados com pós-graduação lato senso concluído principalmente nos cursos de administração hospitalar e enfermagem em terapia intensiva, e no item pós-graduação stricto senso nenhum dos participantes possui esta formação. Pode-se dizer que a qualificação profissional foi satisfatória, considerando que apenas 38,46% não tinham uma pós-graduação em sua formação educacional, porém, notou-se que nenhum dos enfermeiros atuantes possui especialização relacionada à educação continuada (EC). Esta mesma característica foi observada num estudo com um grupo de enfermeiros de EC de uma instituição pública; percebeu-se que os enfermeiros tinham um conhecimento restrito em relação ao serviço de EC, setor de sua responsabilidade [20]. Quanto ao tempo de atuação na área, verificou- -se que a média é de aproximadamente 3,41 anos, com predominancia de 69,23% em instituição hospitalar pública, tendo em média 7,54 horas diárias nas atividades de EC. Intervenções para prevenção de erros de medicação Após a caracterização da amostra, foram identificadas as intervenções que os enfermeiros atuantes na EC adotam para a minimização e prevenção de erros de medicação, sendo assinalado pelos participantes as ações que são utilizadas na sua prática profissional, descritas no Gráfico 1. Gráfico 1 - Intervenções realizadas para prevenir os erros de medicação. Região do Alto Tietê/SP % 8% 15% Outros (Análise das causas dos eventos) Outros (Implantação de protocolos) Outros (Padronização) Debates Palestras Treinamento teórico-prático Capacitação Observação direta Supervisão Treinamento prático Treinamento teórico 15% 23% 23% 23% 38%54% 54% 92% Podemos observar que os profissionais utilizam em média dois ou mais intervenções para prevenção de erros de medicação, sendo os treinamentos Tabela I - Características da amostra. Região Alto Tietê/SP Características demográficas n % n % Sexo Masculino 4 30,77% Feminino 9 69,23% Instituição Hospitalar Pública 9 69,23% Privada 4 30,77% Pós-graduação Lato Sensu Sim 8 61,54% Não 5 38,46% Administração hospitalar 3 18,75% UTI 3 18,75% Licenciatura 3 18,75% Vigilância epid. 1 6,25% Nefrologia 1 6,25% Clínica Cirúrgica 1 6,25% Clínica médica 1 6,25% Pediatria 1 6,25% Gestão e auditoria 1 6,25% Cardiovascular 1 6,25% Pós-graduação Stricto Sensu Nenhum participante possui. Idade (anos) Média (anos) 37,08 Desvio Padrão (anos) 9,08 Tempo de formação Média (anos) 9,73 Desvio Padrão (anos) 7,117 Tempo de atuação Média (anos) 3,41 Desvio Padrão (anos) 4,16 Carga horária Média (horas) 7,54 Desvio Padrão (horas) 2,88 *n = número total da amostra 32

39 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) teóricos (92%) e práticos (54%) as principais ações educacionais realizadas. Este cenário reforça outros estudos feitos com enfermeiros de EC, que também identificaram estas atividades como as mais realizadas para assegurar o aprendizado contínuo dos profissionais de saúde [16,20]. Em seguida foi solicitado que os enfermeiros descrevessem em quais situações eram utilizadas essas intervenções assinaladas anteriormente, 28,57% responderam que eram através de programas de aperfeiçoamento, atualização e/ou aprimoramento profissional, 28,57% na orientação inicial do colaborador recém-contratado, 19,05% após a ocorrência de erro medicamentoso e 19,05% através de cronograma previamente estabelecido pelo serviço de EC. Ainda neste item foi citado que, para contribuir no aprimoramento e qualificação profissional, uma determinada instituição hospitalar implementou um programa de incentivo institucional que possibilita a solicitação de folgas extras e reembolso financeiro para a realização de cursos e treinamentos externos aos colaboradores, assim propiciando mais uma alternativa para a capacitação da equipe de saúde (4,76%). Mediante os resultados o treinamento foi o mais citado como facilitador para as ações educativas, visto que esta intervenção pode ser definida como um processo educacional que visa desenvolver habilidades, comportamentos, atitudes, conhecimentos e qualificar os recursos humanos para desempenhar suas tarefas específicas com excelência, através de uma estratégia que propicia soluções e promove conteúdos atualizados de acordo com os objetivos propostos pelo educador, na tentativa de prevenir potenciais danos ao paciente [21,22]. Quanto à supervisão, esta ferramenta possibilita ao profissional obter com facilidade a identificação e de falhas causadas pela falta de conhecimento ou inexperiência dos colaboradores, sendo um dos motivos comuns para ocorrência de erros durante o cuidado assistencial [24]. Outro item questionado no estudo foi a frequência com que essas atividades educacionais são realizadas. Verificou-se que a maioria dos profissionais (46,15%) não fazem um cronograma definido para executar suas ações educacionais. Esta realidade dificulta o profissional no planejamento, desenvolvimento e no desempenho de suas atividades educacionais, contribuindo em resultados menos satisfatórios na minimização de ocorrência de erros de medicação para a segurança do paciente através do aprendizado contínuo [2,5,24,25]. Após a identificação das ações realizadas foi questionado sobre a existência de instrumentos específicos para o gerenciamento dos erros nas unidades de internação, 60% dos profissionais responderam que não utilizam nenhum protocolo específico na sua rotina hospitalar. E dentre os profissionais que responderam que usam alguma ferramenta específica (40%), 50% relataram que os protocolos foram criados pela própria instituição hospitalar onde atuam e 50% responderam que o protocolo foi retirado de literatura específica. Os protocolos implementados citados foram: de procedimentos, de drogas de alto alerta, ficha de notificação de erros de medicação e plano de aplicação medicamentosa. Considerando que a existencia de protocolos possibilita prevenir erros específicos, elimina dúvidas e possíveis falhas dos profissionais que executam a terapia medicamentosa, é uma importante ferramenta na prestação do cuidado ao paciente [26]. Sendo assim, podemos observar que na realidade dos participantes é recomendada uma reflexão que permita melhorias no desenvolvimento do processo de qualidade, pois o processo de administração de medicamentos é bastante complexo, sendo relevante para uma prática com qualidade. Quanto à existência de métodos ou instrumentos para detecção de erros de medicação, 60% dos entrevistados responderam que não há nenhum método específico padronizado, e 40% responderam que têm instituído algum método ou instrumento como medida de detecção, sendo citadas: realização de busca ativa em prontuários através das anotações de enfermagem, observação direta durante os procedimentos, utilização do diagrama de causa e efeito e ficha de notificação de erros envolvendo medicações. Os instrumentos de notificação permitem detectar as causas e falhas de ocorrências dos erros, elaborar índices, analisar as consequências e mensurar sua frequência na instituição hospitalar [27,28]. Possibilita averiguar as necessidades dos colaboradores a fim de planejar as ações educacionais através da análise do erro. Referente à notificação dos erros ocorridos, foi questionado se há incentivo para que as notificação sejam feitas, 60% dos enfermeiros de EC responderam que incentivam as notificações nas unidades de internação, sendo 80% através dos enfermeiros líderes e 20% através de implementação de fichas específicas, com caráter não punitivo (100%). 33

40 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Entretanto, quando questionados sobre a opinião da efetividade dessa atividade na sua realidade de trabalho, a maioria (77,78%) respondeu que esta notificação não é feita de acordo com os erros ocorridos, tendo como justificativa deste cenário a insegurança dos profissionais de enfermagem frente a cultura punitiva. Esta cultura de punir o profissional que errou foi fundamentada pelas medidas e providências administrativas que no passado eram realizadas, onde a ênfase na educação para prevenção destes erros e melhoria do sistema não era inserida [2,29]. Esta situação também pode estar relacionada por desconhecimento sobre o que esses erros podem acarretar ao paciente e ao profissional que cometeu tal erro; fato que interfere diretamente para um gerenciamento efetivo e de qualidade [10,26]. Afinal, a punição e a culpa geram dificuldades na identificação, análise e correção dos fatores que resultaram o erro medicamentoso, implicando consequentemente na dificuldade para reduzir as iatrogenias [30]. Sendo assim, estabelecer uma prática não punitiva aos profissionais na enfermagem é fundamental para interceptar e diminuir um maior número de erros na prática com a inserção da educação contínua e padronização dos processos medicamentosos na instituição hospitalar [31]. Quanto à avaliação dos resultados, constatou- -se que a maioria dos participantes não avalia suas intervenções educacionais (80%). A avaliação é uma das etapas do planejamento e tem a finalidade de verificar a eficácia das intervenções realizadas, posicionando a educação continuada frente suas ações executadas. Esta etapa é fundamental devido ao serviço ter um foco no processo contínuo, necessitando serem adequadas às necessidades dos colaboradores e da instituição hospitalar [32]. Esta escassez de mecanismos avaliativos dificulta o replanejamento e a reorganização das ações educativas realizadas [18]. Tal situação impede uma análise sistêmica efetiva para detecção das vulnerabilidades existentes no sistema de medicação para que ocorra uma redução significativa dos erros [34]. Esta realidade também foi percebida em outros estudos relacionados à educação continuada, demonstrando a existência de dificuldades inerentes neste processo e a complexidade no serviço de educação continuada [33,16]. Os profissionais que avaliam suas ações educacionais especificaram a satisfação do cliente e do colaborador (10%) e a avaliação da eficácia do treinamento como os instrumentos avaliativos utilizados na rotina de trabalho (10%). A avaliação através da satisfação do cliente e do colaborador é um método que permite quantificar a satisfação do cliente e do colaborador através da identificação das necessidades e do desempenho do serviço prestado, com o foco na qualidade oferecida [35]. Quanto à avaliação da eficácia do treinamento, este instrumento avalia a reação do participante, a mudança de comportamento e a aprendizagem adquirida no treinamento [36]. Sendo uma diretriz da norma NBR ISO 10015:2001 para avaliar se o treinamento foi eficiente e eficaz, por gestão de competências. Os instrumentos de avaliação visam facilitar a compreensão de determinada situação, quantificar processos e possibilita uma visão da realidade para o gerenciamento e planejamento de ações [37]. Cabe ressaltar que apenas dados coletados são inúteis se não gerar informações no processo de decisão para a melhoria contínua da qualidade da assistência [10,37]. Referente às principais dificuldades enfrentadas na opinião dos participantes para minimização e prevenção de erros de medicação foram descritas no Gráfico 2. Gráfico 2 - Principais dificuldades enfrentadas pelos enfermeiros de EC. Região Alto Tietê/SP % Falta de planejamento 15% Falta de enfermeiro exclusivo 15% Em processo de implantação 23% Medo de punições 54% Baixa adesão dos colaboradores Percebe-se que 54% da amostra relatam a baixa adesão dos colaboradores nas atividades executadas pelo serviço de EC na sua realidade de trabalho, sendo o principal fator que impede a efetividade das ações implementadas. Em seguida, novamente foi citado o medo de punição na ocorrência de erro medicamentoso pelos profissionais (23%), evidenciando uma necessidade de mudança nos paradigmas frente às condutas tomadas pelos profissionais na ocorrência de erros de medicação e importância da contínua melhoria da prática do cuidar. Referente à baixa adesão, alguns estudos observaram que esta característica pode ocorrer devido à sobrecarga de trabalho, treinamentos fora do horário de trabalho, ausência de subsídios para promover ações educativas, fatores estruturais em consequência de ausência de parceria entre en- 34

41 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) fermeiros assistenciais e da educação continuada, falta de planejamento e problemas administrativos comprometem o comparecimento dos trabalhadores nas atividades do serviço de educação continuada [18,19,38,]. Outra situação que pode contribuir para esta situação pode estar relacionada com o tempo planejado para a intervenção, desmotivação dos colaboradores e falta de divulgação da atividade oferecida [39]. Apesar da baixa efetividade das ações realizadas, os enfermeiros de EC acreditam que os treinamentos, a orientação contínua e a orientação inicial realizados nas admissões dos profissionais de enfermagem são as intervenções mais efetivas na prevenção de erros de medicação. Estes dados reafirmam a efetividade da educação contínua aos colaboradores para a prevenção de erros de medicação. Entretanto, ela deve estar vinculada a outras estratégias do sistema da terapia medicamentosa [2]. Conclusão A prática de medidas educativas é um importante instrumento para o desenvolvimento do profissional em todos os sentidos, inclusive em relação à segurança na assistência prestada. Porém, percebe-se que esse fator não consegue ter um desfecho satisfatório se for conduzido de maneira isolada. Este estudo viabilizou ampliar as reflexões sobre a capacitação e o processo de trabalho dentro de uma instituição hospitalar acerca da prevenção de erros de medicação, tendo em vista a educação contínua como uma ferramenta importante para a qualidade do cuidado prestado ao cliente. Percebeu-se que os profissionais atuantes na EC acreditam que o treinamento e outras ações educativas executadas são essenciais para diminuição e prevenção de iatrogenias medicamentosas. Portanto, é necessário que aliado ao serviço de educação continuada existam ações voltadas para as mudanças de atitudes e paradigmas existentes nas instituições hospitalares, fazendo com que o profissional tenha maior segurança em seus atos e seja acolhido adequadamente diante de uma situação iatrogênica. Referências 1. Kohn LT, Corrigan JM, Donaldson MS. To err is human: building a safer health system. Committee on quality of health care in America, Institute of Medicine. Washington: National Academy Press; Miasso AI, Silva AEBC, Cassiani SHB, Grou CR, Oliveira RC, Fakih FT. O processo de preparo e administração de medicamentos: identificação de problemas para propor melhorias e prevenir erros de medicação. Rev Latinoam Enferm 2006;14(3): National Coordinating Council for medications errors reporting and prevention. Ncc MERP taxonomy of medication errors. Rockville: Ncc MERP; Rosa MB, Perini E. Erros de medicação: quem foi? Rev Assoc Med Bras 2003;49(3): Bohomol E, Ramos LH. Erro de medicação: importância da notificação no gerenciamento da segurança do paciente. Rev Bras Enferm 2007;60(1): Anderson JG, Jay SJ, Anderson M, Hunt TJ. Evaluating the capability of information technology to prevent adverse drug events: a computer simulation approach. J Am Med Inform Assoc 2002;9: American Association of Hospital Pharmacists. ASHP. Guidelines on preventing medication errors in hospitals. Am J Hosp Pharm 1993;50: Cousins DM. Defining medication errors: Medication use, a systems approach to reducing errors. Joint Comission1998; Carvalho M, Vieira AA. Medical errors in hospitalized patients. J Pediatric 2002;78(4): Coimbra JAH. Prevenção e detecção de erros de medicação. Ciência, Cuidado e Saúde 2006;5: Nadzan DM. A system approach to medication use. In: Cousins DM, ed. Medication use: a system approach to reducing errors. Oakbrook Terrace (IL): Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations; p Schneider PJ, Gift M. Measuring and monitoring the performance of the medication use system. In: Cousins DD. Medication Use: A Systems approach to reducing errors. Oakbrook Terrace (IL): Joint Commission on Accreditation of Healthcare Organizations p Cassiani SHB. Administração de medicamentos. São Paulo: EPU; Leape LL, Berwick DM. Five years to err is human. What have we learned? JAMA 2005;293(19): Kurcgant P. Administração em enfermagem. São Paulo: EPU; p Koizumi MS, Koizumi MS, Kimura M, Miyadahira AMK, Cruz DALM. Educação continuada da equipe de enfermagem nas UTIs do município de São Paulo. Rev Latinoam Enferm 1998; 6(3): Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Departamento de Gestão da Educação na Saúde. Curso de facilitadores de educação permanente em saúde: unidade de aprendizagem trabalho e relações na produção do cuidado. Brasília: MS; Montanha D. Análise das atividades educativas de trabalhadores de enfermagem em um hospital de ensino: público participante, levantamento de necessidades e resultados esperados [dissertação]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo; Silva MF, Conceição FA, Leite MMJ. Educação continuada: um levantamento de necessidades da equipe de enfermagem. O mundo da saúde 2008;32(1):

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43 Relato de experiência Violência no ambiente de trabalho da enfermagem e educação para os direitos humanos Adelita Campos Araujo, M.Sc.*, Ana Clara Corrêa Henning, M.Sc.**, Valéria Lerch Lunardi, D.Sc.*** *Enfermeira, Doutoranda em Parasitologia, Professora Assistente I dos Cursos de Enfermagem e Medicina da UCPel, Rio Grande do Sul, **Advogada, Professora Assistente da Anhanguera Educacional Pelotas/RS, Orientadora do Trabalho, ***Professora Associada da Faculdade de Enfermagem e Programa de Pós-Graduação Mestrado e Doutorado em Enfermagem da FURG Resumo Trata-se de uma reflexão acerca da violência no ambiente de trabalho da enfermagem, suas consequências para a saúde do trabalhador e a necessidade da inclusão dos direitos humanos, não apenas no seu processo formativo, mas também nas instituições de saúde nas quais relações de violência entre profissionais, pacientes e familiares se perpetuam. As reflexões apóiam-se na produção bibliográfica, enfocando a violência no trabalho da enfermagem no Brasil e no exterior, suas principais manifestações e consequências, finalizando com a valorização da inserção dos direitos humanos no processo formativo dos enfermeiros e nas instituições de saúde. Em decorrência da vivência desses episódios, os profissionais tornam-se mais receosos em relação ao seu fazer, pelos riscos para sua saúde física e mental, com prejuízos ao cuidado prestado por eles. Urge a necessidade das instituições de saúde e escolas de enfermagem mobilizarem-se na construção de estratégias para fortalecer o profissional ou graduando a enfrentarem situações de violência, reivindicando com seus superiores soluções e condições condizentes de trabalho, especialmente através de práticas educativas direcionadas à garantia de direitos humanos. Palavras-chave: violência, local de trabalho, Enfermagem, violação dos direitos humanos. Abstract Violence in nursing work environment and human rights education This is a reflection about the violence in the nursing work environment, its consequences for worker health and the need for inclusion of human rights, not only in the training process, but also in health institutions in which violent relations between professionals, patients and families are perpetuated. The reflections are supported on literature review, focusing on violence in nursing work, in Brazil and abroad, its main manifestations and consequences, ending with the valuation of the insertion of human rights in the training process of nurses and in health institutions. Professionals who experience these episodes become more fearful in relation to their tasks, increasing risks for physical and mental health, and consequently Artigo recebido em 13 de setembro de 2012; aceito em 5 de janeiro de Endereço para correspondência: Adelita Campos Araujo, Rua Rafael Pinto Bandeira, 944 Bairro Areal Pelotas RS, adelitacam@hotmail.com 37

44 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) affecting nursing care. There is the need of health institutions and nursing schools to mobilize themselves and make strategies to strengthen the professional or the graduate student to face situations of violence, requesting their superiors for solutions and better work conditions, especially, through educational practices aimed at ensuring human rights. Key-words: violence, working environment, Nursing, human rights abuse. Resumen Violencia en el lugar de trabajo del personal de enfermería y educación en derechos humanos El presente trabajo trata de una reflexión acerca de la violencia en el ambiente de trabajo de enfermería, sus consecuencias para la salud del trabajador y la necesidad de inclusión de los derechos humanos, no solo en su proceso formativo, pero también en las instituciones de salud donde relaciones de violencia entre profesionales, pacientes y familiares se perpetúan. Las reflexiones están basadas en la producción bibliográfica, enfocando la violencia en el trabajo de enfermería en Brasil y exterior, sus principales manifestaciones y consecuencias, finalizando con la valorización de la inserción de los derechos humanos en el proceso formativo de enfermeras en las instituciones de salud. En consecuencia de vivenciar esos episodios, los profesionales se tornan más temerosos en relación a sus tareas, por los riesgos para su salud física y mental, perjudicando la atención a los pacientes. Urge la necesidad de las instituciones de salud y escuelas de Enfermería se movilizaren en la construcción de estrategias para fortalecer el profesional o graduando a enfrentaren situaciones de violencia, reivindicando con sus superiores soluciones y condiciones conducentes de trabajo, especialmente a través de prácticas educativas direccionadas a garantía de derechos humanos. Palabras-clave: violencia, local de trabajo, Enfermería, violación de los derechos humanos. Introdução Presenciar ou sofrer abusos no desenvolvimento das atividades profissionais, seja ela causada por colegas, pacientes ou seus familiares demonstra que sua dignidade pode estar sendo corrompida e desrespeitada, culminando na desumanização profissional. A humanização dos serviços de assistência à saúde, certamente, tem sido um motivo de grande preocupação por parte das organizações nacionais e internacionais de saúde, o que pode ser constatado mediante apreciação dos movimentos e discussões vigentes neste setor, as quais se intensificaram, principalmente, após o surgimento de uma nova forma de pensar o processo saúde-doença [1]. Nesse sentido, deve-se visualizar não apenas o paciente, mas também o trabalhador como ser humano, plausível de fragilidades, o que pode ocasionar adoecimento, prejudicando o andamento do setor onde atua, causando sobrecarga aos demais e transtornos para a assistência de qualidade. Mostra-se fundamental, portanto, um trabalho voltado para ampliar a aptidão de aprendizagem, a qualificação permanente do cuidado e a construção de práticas, não apenas técnicas, mas críticas, humanísticas e éticas [2]. Salienta-se que muitas são as publicações acerca dos direitos dos pacientes e a necessidade de respeitá-los, mas a literatura é escassa quando se trata de respeito e direitos humanos para com os profissionais da enfermagem, especialmente enfermeiros. Logo, poderia se questionar por que as instituições de saúde, muitas vezes sabedoras desses problemas também administrativos, não buscam alternativas para minimizar agravos entre seus colaboradores? Nos hospitais, onde o trabalho da enfermagem é bastante exigido e sobrecarregado, vários serviços se fazem presentes e poderiam compor estratégias de ajuda. O serviço de educação continuada, por exemplo, poderia em conjunto com o de psicologia, promover palestras, orientar em relação a importância de respeitar os direitos humanos, o outro, independente de hierarquias existentes e das competências de cada um, esquematizando formulários para apontamentos e relatos de abusos. A Educação Continuada deve ser uma ferramenta para promover o desenvolvimento das pessoas e assegurar a qualidade do atendimento aos clientes, devendo, também, ser voltada para a realidade institucional e necessidades do pessoal [2]. Desta maneira, ao se pensar formas de violências vividas no local de trabalho, deve-se atentar para o esquecimento ou omissão dos direitos humanos para com o semelhante, o conhecimento e valorização de suas necessidades, o entendimento do fluxo 38

45 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) da unidade que pode depreciar a todos que ali atuam, e a busca de alternativas que visem o bem estar não somente de clientes, mas dos colaboradores. As atividades desenvolvidas no hospital, por sua vez, estão sujeitas ao humano, à imprevisibilidade das situações, à particularidade das ocorrências e exigências [...] exige maior atenção para observar, escutar, imaginar e antecipar ajustamentos e adaptações [3]. No entanto, para discorrer sobre o tema é imprescindível inicialmente, situá-lo: violência no ambiente laboral é conceituada como acidentes em que profissionais são atacados de diferentes formas (ameaças, abusos, agressões) em circunstâncias associadas ao seu trabalho, abrangendo sua deslocação e retorno a este, desde que abarque intimidação, segurança, saúde e bem-estar [4]. Nesse contexto, sabe-se também que ambientes de trabalho mesmo proporcionando satisfação, realização profissional e humana, podem violentar diariamente seja através do poder disciplinar, ou por episódios peculiares as atividades assistenciais [5]. O local de trabalho propicia uma série de riscos, que podem ser impedidos ou minimizados através de diferenciadas medidas de proteção [6]. Uma possibilidade seria as universidades estarem discutindo na formação, os direitos humanos para com o enfermeiro, o que fará o estudante pensar seu futuro profissional, vislumbrando algumas consequências para sua saúde e como evitar ou ajudar companheiros em situações de violação dos seus direitos, desvencilhando-se, sem causar danos à saúde. O processo educativo na enfermagem visa a constituição de profissionais críticos, reflexivos em seus atos, de modo que possam estabelecer sua realidade interligando teoria e prática [2]. Além disso, as instituições de saúde podem adotar registros e armazenamentos da condição de doença dos seus funcionários, o que ajudaria na elaboração de ações preventivas. A elaboração de ações preventivas é indispensável, pois a instituição deve preservar o bem estar de pacientes que procuram tratamento digno e auxílio [6]. Para corresponder a tal expectativa talvez seja imprescindível investir no pessoal, disponibilizando-se para suas necessidades, inquietações, percebendo fragilidades para atuar na prevenção de doenças e, possivelmente, na desmotivação para o trabalho. Para a efetivação de algumas ideias nesse campo, é imperativo saber que o medo de perda do emprego gera pactos de silêncio e omissão frente a situações de injustiça, em geral dirigidas aos estratos hierárquicos da base [7]; por isso, a relevância de estimular o relato por parte dos funcionários de casos de violências vividas ou percebidas. Assim, pretende-se refletir acerca da violência no espaço laboral da enfermagem e a necessidade de educação para os direitos humanos. A violência no ambiente de trabalho da enfermagem no Brasil Nos últimos anos, tem se intensificado discussões acerca da relação do trabalho, satisfação profissional e suas implicações para a saúde do trabalhador. Essa preocupação se deve ao crescente número de profissionais afastados de suas funções, muitas vezes, devido a situações de violência provocadas por pacientes, familiares, médicos e colegas: O problema da violência no local de trabalho não é uma situação nova e desconhecida, principalmente nas áreas profissionais onde o contato direto com o público e com casos de ansiedade e stress é o normal do dia-a-dia [8]. Há evidências de que o maior número de delinquências acontece com enfermeiros, médicos e trabalhadores de ambulâncias no atendimento pré-hospitalar [9]. Essas circunstâncias podem não apenas comprometer a atividade e a saúde do sujeito, como sua própria produção. Os modos mais frequentes de violência são agressões físicas e verbais, repressão, ameaças, no qual o ambiente torna-se hostil, podendo ocasionar efeitos psíquicos e físicos [10]. Ao investigarem o não cumprimento de plantões ocasionados por doença entre trabalhadores de enfermagem em um hospital universitário, evidenciaram 72,6% de faltas, ausência esta justificada via laudo médico ou atestado, o que significou 494 faltas com dias perdidos de rendimento [11]. Em setembro de 2008, foram concedidos 417,3 mil benefícios, no valor total de R$ 274,2 milhões, tendo sido requeridos 664,5 mil benefícios [12]. As intercorrências que ocasionam o afastamento do indivíduo podem ter relação direta ou indireta com a vivência de casos de violência. Violência é o uso da força de maneira proposital, poder como intimidação, seja contra si ou outro indivíduo ou grupo, que tem possibilidade de lesionar, matar, causar prejuízos psíquicos, privações [13]. Nesse âmbito, algumas formas de violência foram evidenciadas num estudo realizado, ao caracterizarem brutalidades ocupacionais a que estavam 39

46 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) expostos médicos e trabalhadores de enfermagem em um serviço de urgência hospitalar, constatando assédio moral (30%), agressões físicas (16,7%), agressões verbais (93,3%), competição entre colegas (23%), maus tratos (3,3%), discriminação social (3,3%) e roubos (13,3%). Esta pesquisa contempla as diferentes maneiras como a violência vem se apresentando nos espaços no setor saúde. São perceptíveis sinais de um ambiente não acolhedor, que predispõe seus componentes a vivenciarem desagrados ao prestar serviços, o que pode impedi-los de refletir e aperfeiçoar o seu fazer, além de contribuir para seu adoecimento [14]. Em nosso país algumas pesquisas realizadas [...] buscaram a compreensão do processo saúde-doença vivenciado pelos trabalhadores. Estas pesquisas problematizam a relação trabalho-saúde, colocando no centro da análise o caráter social do processo saúde-doença e a necessidade de entendê-lo na sua articulação com o processo de produção [15]. Tais vivências reforçam a ideia de pensar maneiras de socorrer essa parcela significativa da sociedade. Vê-se que não há indícios de que escolas de enfermagem e instituições de saúde estejam abordando essa questão ainda na graduação, ou seja, são profissionais que se mostram despreparados para atuar diante de conflitos, o que acarreta transtornos, enfermidades, fazendo com que cada vez mais as agressões se instalem e o desrespeito impere, não sendo reconhecidos os direitos humanos do indivíduo, independente da sua ocupação. No entanto, é necessário que as autoridades e os próprios trabalhadores da saúde (médicos, enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas, técnicos de enfermagem, entre outros) busquem seus direitos e os façam realmente valer. O respeito é um direito de todos e muito se discute os direitos do paciente, o respeito para com sua condição de vida e saúde, mas o funcionário que cuida desse doente é imêmore. Esse indivíduo tem família, problemas pessoais, de formação e interação, ou seja, tem uma vida fora e dentro do hospital, o que nos faz pensar nas complexidades que vive e as necessidades que permeiam esse viver. Sendo assim, ressalta-se que os direitos humanos são inter-relacionados, indissociáveis, universais e interdependentes [16]. A violência no ambiente de trabalho da enfermagem no exterior: manifestações e consequências O tema em questão gera divergências e provoca reflexão acerca de possíveis momentos constrangedores pelo qual o empregado pode vir a transitar, necessitando de apoio e opções para driblar os sentimentos e reações desagradáveis geradas por tais confrontos: A violência é um problema social e de saúde pública que ameaça o desenvolvimento dos povos, afeta a qualidade de vida e erosiona o tecido social [9]. Contudo, para alcançar os objetivos propostos neste estudo, faz-se imprescindível abordar algumas pesquisas desenvolvidas no exterior que evidenciam essa problemática e debater acerca do mote mencionado. Na Espanha, em levantamento desenvolvido com 464 trabalhadores de enfermagem, foi constatado que 85% vivenciaram pelo menos uma vez ao mês alguma situação de violência, 11% uma vez por semana e 4% várias vezes por semana [17]. Já em pesquisa desenvolvida no Iraque, verificou-se que profissionais da saúde experenciaram pelo menos 3 vezes ou mais circunstâncias de violência no último ano [18]. Investigando dois departamentos de emergência no sudoeste de Queensland na Austrália, foi constatado que 70% das violências ocorreram nos últimos 5 meses de trabalho [19]. Da mesma forma, foi identificado em Stockholm na Suécia e Midlands na Inglaterra, que 61% dos enfermeiros ingleses expuseram-se à violência nos últimos 12 meses se comparado com 59% dos enfermeiros suecos [20]. Pesquisa realizada na Turquia constatou que 79,4% sofreram abuso verbal no último ano [21]; enquanto que em Columbia (Missouri-USA), 90% dos enfermeiros experenciaram abuso verbal uma vez no último ano [22]. Os dados acima apresentam ambientes que podem pôr em risco a saúde de trabalhadores fundamentais na recuperação de enfermos que buscam no tratamento e no cuidado sua cura e/ou bem estar. A atividade laboral pode ser visualizada como fonte de satisfação, mas quando esta rescinde os limites da agressão física e psicológica pode proporcionar danos à saúde [23]. Evidencia-se que: [...] um espaço de disciplinarização e controle da instituição é um espaço de inscrição dos acontecimentos hospitalares, que embora ofereçam algumas satisfações e favoreça a autorrea- 40

47 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) lização profissional e humana dos trabalhadores [...] também os violentam cotidianamente pelo poder disciplinar e pelos acontecimentos específicos das atividades assistenciais [5]. Os artigos estudados identificaram ainda as seguintes manifestações de violência vividas por enfermeiros, em diferentes países: raiva abusiva, desdenha, ser ignorado [20,24]; violência física, ameaça de violência, abuso emocional [25], agredir com palavrões, gritar, tapas, empurrões, atirar objetos [19,22,26]; ameaça verbal, comportamento agressivo, pontapés, batidas, uso de objetos ou armas pelo agressor [22]. Os diferentes tipos de agressões apresentadas revelam a percepção da impossibilidade de controle, talvez por serem tão distintas as ações evidenciadas, mas ao mesmo tempo elas aguçam a discussão sobre maneiras de evitar esse fenômeno nas instituições de saúde. A atrocidade é concreta, destrói e é imprecisa, sendo possível encará-la e controlá-la [5]. Esse controle pode dar-se através das percepções das gerencias e administrações acerca dos problemas existentes na instituição e de imediato pensar iniciativas de melhorar a assistência, aperfeiçoando seu corpo funcional para com o seu fazer e suas relações em equipe. Nesse sentido, altos níveis de fatores adversos relacionados ao trabalho estão significativamente associados à alta frequência de diferentes tipos de violência [27]. Sendo assim, reforçam dizendo que muitos enfermeiros aceitam o abuso como parte do trabalho, ou seja, como algo normal no seu cotidiano profissional [28]. Desilusão, burnout e frustração têm sido alguns sinais de desencanto com a violência presente no dia-a-dia da enfermagem, além de alguns sintomas como: insônia, palpitações cardíacas, cansaço, desordem gastrointestinal, cefaléia, hipertensão e perda de peso [29]. Logo, a equipe de enfermagem precisa receber treinamentos de como lidar com a violência, assim como reconhecer a importância do relato e do suporte pós-incidentes [30]. No que tange a sentimentos e reações expressadas por trabalhadores da enfermagem pósexperiência de violência, incidentes associados a diferentes períodos do dia e motivos desencadeadores de agressividades estão: raiva, tristeza/magoa, choque/surpresa, vergonha e humilhação [20,21], impotência, medo, vergonha, hostilidade [21], frustração, tentar de clarear algum mal entendido com o médico, pedir ajuda para outros [18,20], não ter reação, tentar fingir que não havia acontecido, pedir para a pessoa parar, tentar se defender fisicamente, procurar aconselhamento, afastamento compulsório do trabalho após o incidente de violência [18]. Ainda no que se refere ao período do dia em que os incidentes aconteceram: 49% dos incidentes ocorreram das 13h às 18h; 24,5% ocorreram das 7h às 13h e 10,2% ocorreram das 18h às 24h [18], à tardinha (37%), à noite (20%), de dia (20%) [19]. Os baixos índices de violência durante a manhã evidenciam, nesse período, a maior circulação ou presença de diretores, supervisores, seguranças, familiares, indivíduos que vão fazer exames, visitar pacientes. Em relação aos motivos desencadeadores de atos violentos, foi constatada: distorção de informações, críticas, falta de consideração profissional, não respeito ao grau de formação e o tempo de atuação profissional [17], condições na cidade com sistemas não claros, caos, mudanças governamentais devido à guerra, leitos insuficientes, condição de saúde do paciente ou morte, imagem social negativa dos enfermeiros [18]. Esse panorama sombrio apresentado acerca da violência no trabalho da enfermagem incita a busca por alternativas, prevenindo seu início, muitas vezes insidioso, reforçando o cuidado em horários específicos. Educação para os direitos humanos: uma proposta para a redução da violência no ambiente laboral da enfermagem Os direitos humanos nascem com o homem e consequentemente fazem parte da própria natureza humana. Além disso, sinalizam as condições básicas para uma vida íntegra e dizem respeito a um conjunto de exigências e pronunciados jurídicos superiores aos demais direitos - na falta desses o homem não é hábil a viver, desempenhar e compartilhar plenamente da vida [18]. Desse modo, de acordo com as circunstâncias de violências abordadas anteriormente, vê-se a necessidade de interromper as condições de desumanização percebidas, sendo preciso disponibilizar amparo e atitudes que valorizem o respeito, a importância de cuidar da saúde daqueles que cotidianamente cuidam de doentes. De acordo com o Artigo I da Declaração Universal dos Direitos Humanos, todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade [31]. A 41

48 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) dificuldade está em pôr em prática e exigir o cumprimento do que a declaração expõe, pois o problema persiste, seja por lacunas advindas desde a formação do profissional, seja pela desconsideração da saúde desses profissionais pelas instituições empregadoras. Destaca-se que o reconhecimento e proteção dos direitos humanos resultam de processo histórico longo, que aconteceu de maneira gradual, lenta e que ainda se encontra em fase de estruturação [32]. Logo, para minimizar desumanizações parece ser fundamental visualizar o servidor como um todo, sendo importante: sua remuneração adequada, boas condições de trabalho, mas principalmente seu bem estar no local de atuação. É preciso estar ciente de que as consequências da violência no desempenho de sua função são numerosas, tanto na perspectiva organizacional como individual [33]. Um dado também a considerar é indivíduos, de forma geral, não estão instrumentalizados ou não esperam viver uma situação de ferocidade e quando a vivem, a encaram de forma despreparada, o que gera não apenas absenteísmos, mas indivíduos passivos suscetíveis a novos afrontes. Logo, é preciso auxiliar essas pessoas na escolha de condutas adequadas à ocasião vivida; assim, a demonstração de interesse por parte da empresa é importante, pois demonstra amparo e que comportamentos desrespeitosos não são permitidos dentro da instituição que preza pelo bem-estar e harmonia. Essa conduta por parte das chefias fortalece o debate pelos direitos humanos e condições básicas para se manter o ambiente laboral saudável. O apoio não apenas disponibilizando planos de saúde, mas possuindo na instituição uma equipe (enfermeiro do trabalho, psicólogo, enfermeiro responsável pela educação continuada e assistente social) que possa trabalhar essas questões no quotidiano do serviço. Ao discutir algumas estratégias para a implementação dos direitos humanos, o corpo empresarial estaria reforçando o que na graduação muito se debate, ou seja, respaldar o cuidado de enfermagem por meio do respeito ao ser humano no âmbito político, moral, econômico, ambiental e ético [34]. Ressalta-se que num processo educativo junto a adultos no seu ambiente de trabalho ou para o seu trabalho, deve levar em consideração que o ponto de partida da aprendizagem é a experiência adquirida por esses profissionais em sua vida diária e que cada um já vem com uma bagagem específica [2]. Respeitar opiniões e proporcionar trocas de informação somaria esforços para a redução de insatisfações, estimulando a participação de todos nesse processo de avanço. Conclusão O artigo tratou de uma reflexão acerca da violência no ambiente de trabalho da enfermagem e a importância da educação para os direitos humanos. Ambos são assuntos polêmicos e que exigem cuidado ao serem debatidos. Em contrapartida é evidente a necessidade de discussões acerca da importância da proteção a saúde do trabalhador em saúde. Enfocou-se a presença da violência nos ambientes de trabalho da enfermagem, bem como seus tipos, frequência, sentimento dos trabalhadores, causas e horários de ocorrência da violência. Assim, foi possível ratificar o desencadeamento do processo de desumanização do profissional enfermeiro, vislumbrando-se possibilidades de prevenção da violência no ambiente de trabalho a partir da graduação em enfermagem, ou seja, as escolas de enfermagem estarem visibilizando e atentando para a violência no cotidiano da enfermagem, e cogitando mudanças em seu currículo com o objetivo de preparar o futuro enfermeiro para o enfrentamento de situações constrangedoras. A graduação, por ser responsável em debater com os alunos assuntos como cidadania, respeito ao paciente e seus sentimentos, deveria também incluir direitos humanos para com os enfermeiros em situação de violência, tema esse que, como visto no decorrer do texto, permeia o fazer da enfermagem. A iniciativa auxiliaria o futuro profissional a pensar formas de transitar por essas relações (enfermeiro- -colega, enfermeiro-paciente/familiar) de maneira mais harmoniosa sem danos ao paciente e servidores. Também é imperioso que as instituições de saúde (dirigentes e chefias) encontrem formas de identificar relações de violência, estimulando sua denúncia por parte dos profissionais de enfermagem e, juntamente com uma equipe multiprofissional, elaborar estratégias pedagógicas voltadas à educação para os direitos humanos, objetivando prevenir atrocidades e debater o tema, ressaltando a importância da saúde do funcionário para a empresa. O referido trabalho também oportunizou perceber a escassez de material acerca da violência no ambiente de trabalho da enfermagem no Brasil, bem como quanto aos direitos humanos relacionados aos profissionais da saúde, o que incita ao desenvolvimento de pesquisas e discussões acerca desse tema 42

49 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) em nosso país, visando refletir sobre a saúde do trabalhador em enfermagem e o respeito a seus direitos. Referências 1. Shiratori K, CostaTL, Formozo GA, Silva SA. Educação em Saúde como estratégia para garantir a dignidade da pessoa humana. Rev Bras Enferm 2004;57(5): Silva MF, Conceição FA da, Leite MMJ. Educação continuada: um levantamento de necessidades da equipe de enfermagem. O Mundo da Saúde 2008;32(1): Silva GM, Seiffert OMLB. Educação continuada em enfermagem: uma proposta metodológica. Rev Bras Enferm 2009;62(3): Antunes AR. Violência contra profissionais de saúde no local de trabalho - estudo de casos portugueses. In: V Conferencia Psicologia nos cuidados de saúde Primários- Psicologia, Promoção da Saúde e Prevenção. Miraflores, 19 e 20 de maio Costa ALRC. As múltiplas formas de violência no trabalho da enfermagem: o cotidiano de trabalho no setor de emergência e urgência clinica em um hospital público [Tese]. 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50 Relato de experiência Residência multiprofissional em saúde da família: vivencias de residentes de enfermagem Marcelo da Silva Alves, D.Sc.*, Andyara do Carmo Pinto Coelho Paiva**, Flávia Alves Condé Pires Guelber**, Priscila Araújo Rocha**, Anna Maria de Oliveira Salimena, D.Sc.*** *Enfermeiro, Professor da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, Coordenador do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, **Enfermeira, Pós-graduada do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, Mestranda do PPG-Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, ***Enfermeira, Professora do Departamento Enfermagem Aplicada da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora, Coordenadora do PPG-Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora Resumo Objetivo: Descrever a vivência de residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família no serviço. Material e métodos: Trata-se de um relato de experiência acerca das atividades desenvolvidas em uma Unidade de Atenção Primária à Saúde por enfermeiras egressas do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Juiz de Fora. Resultados: As atividades desenvolvidas no programa como processo de territorialização, curso introdutório com questões pertinentes a saúde da família, acolhimento, reuniões de equipe e consultas de enfermagem permitiram o preenchimento das lacunas provenientes da Graduação e a formação de profissionais atualizados e comprometidos com o cuidado. A residência promove uma formação voltada para o mundo do trabalho, preparando o enfermeiro para reconhecer as necessidades de saúde da população. Conclusão: A experiência da residência possibilitou o crescimento e o enriquecimento profissional, bem como contribuiu para a formação de especialistas com vivência na realidade de uma Unidade de Saúde, com todas suas especificidades e complexidade. Palavras-chave: atenção à saúde, saúde da família, educação em enfermagem, internato não médico. Abstract Multiprofessional residence in family health: experience of resident nurses Objective: To describe the experiences of residents of Multiprofessional Residency Program in Family Health at work. Method: This was an experience report concerning postgraduate nurse activities in one Primary Health Care Unit of Multidisciplinary Residency Program in Family Health at the Federal University of Juiz de Fora. Results: The activities developed within the program as territorialization process, introductory course with issues relevant to family health, acceptance, team meetings and nursing consultations allowed the filling in the gaps coming from graduation and the formation of updated professionals and committed to care. The residence promotes oriented training for the world of Artigo recebido em 17 de outubro de 2012; aceito em 4 de fevereiro de Endereço para correspondência: Anna Maria de Oliveira Salimena, Rua Marechal Cordeiro de Faria, 172, Juiz de Fora MG, annasalimena@terra.com.br 44

51 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) work, preparing nurse to recognize the health needs of the population. Conclusion: The experience of residence allowed professional growth and enrichment, as well as contributed to the training of specialists with experience in the reality of a Health Unit, with all its specificities and complexities. Key-words: health care, family health, Education Nursing, internship nonmedical. Resumen Residencia multiprofesional en salud familiar: experiencias de residente de enfermería Objetivo: Describir las experiencias de los residentes del Programa de Residencia multidisciplinario en el servicio de salud familiar. Métodos: Se trata de relato de experiencia sobre las actividades de la unidad de Atención Primaria de Salud en el Programa de Residencia Multidisciplinaria de Salud Familiar de la Universidad Federal de Juiz de Fora. Resultados: Las actividades en el programa como proceso de territorialización, curso de introducción a las cuestiones pertinentes a la atención de salud de la familia, reuniones de personal y consultas de enfermería permitieron rellenar lagunas provenientes de la graduación y la capacitación de profesionales actualizados y comprometidos con la atención. La residencia promueve la formación orientada al mundo del trabajo, preparando el enfermero para reconocer las necesidades de salud de la población. Conclusión: La experiencia de la residencia permitió el crecimiento profesional y enriquecimiento, así como contribuyó a la formación de especialistas con experiencia en la realidad de una Unidad de Salud, con todas sus especificidades y complejidades. Palabras-clave: atención a la salud, salud de la familia, educación en enfermería, internado no médico. Introdução A Estratégia em Saúde da Família (ESF) foi implantada no Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil em 1990 como forma de reorientação da Atenção Primária e, desde então, enfrenta desafios ao se deparar com poucos profissionais qualificados, considerando a complexidade do processo saúde doença. Nesse contexto, o Ministério da Saúde (MS) tem apoiado a formação de especialistas nesta área com programas de pós-graduação lato-sensu na modalidade de residência em saúde da família, que tem por objetivo o treinamento em serviço, articulando conhecimentos teóricos e a prática, qualificando profissionais a partir da vivência no serviço e a formação crítico-reflexivo [1]. Apesar do desafio em transformar a formação e as práticas na área da saúde, por implicar a mudanças de paradigmas já estabelecidos nos serviços e nas instituições de ensino, acredita-se que com o diálogo e a aproximação da realidade da população será possível construir uma nova forma de trabalho em saúde, baseado na qualidade, resolubilidade e equidade [2]. Em um município da Zona da Mata Mineira, o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família foi implantado em setembro de 2002 em um momento de expansão e consolidação da Estratégia da Saúde da Família, através da integração entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a rede de assistência local e regional. Sua formação metodológica é norteada pela concepção pedagógica fundamentada no diálogo, na participação e na problematização da realidade [3]. Fazem parte, deste programa, residentes de enfermagem, medicina e assistência social, além de seus respectivos preceptores de serviço que tem como função assegurar o conhecimento técnico-científico, acompanhar e supervisionar o desempenho dos residentes, auxiliar no planejamento da execução dos objetivos, diretrizes e metas para atender as especificidades de cada Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS), promover discussões teóricas e práticas e ajudar na resolução de ações programadas e de emergência [1] e de preceptores acadêmicos que oferecem aulas periódicas com textos e temas referentes ao trabalho do enfermeiro e discussões da prática, levando à reflexão crítica [4]. O Programa tem como principal objetivo o trabalho focado na realidade local aplicando conhecimento científico, popular e desenvolver habilidades que possibilitem a realização de atendimentos individuais de forma integral, não apenas focadas no indivíduo, mas em seu meio 45

52 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) familiar, cultural e social de forma multiprofissional e interdisciplinar. Sabe-se que o conhecimento clínico é importante para os profissionais da área da saúde, entretanto para atender a proposta da residência, outros assuntos devem ser colocados em pauta, como o processo de humanização do trabalho, as estratégias de comunicação e a educação em saúde, o que permitirá aos residentes desenvolverem um olhar ampliado em saúde [5]. Acredita-se que é a partir da vivência no serviço, permeada por um suporte pedagógico direcionado para as necessidades da comunidade, que se constrói uma formação técnica e humanística do profissional, considerando que as situações vivenciadas no contexto do serviço exigem ações que ultrapassam o conhecimento puramente científico e clínico [6]. Conscientes da importância dessas reflexões acerca da reorientação do modelo assistencial, a fim de situar o papel do profissional nessa nova forma de atuar na saúde, e da importância do aperfeiçoamento profissional para a inserção deste no PSF, tornou-se objetivo deste artigo descrever a vivência de residentes do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família no serviço. Material e métodos Estudo descritivo de abordagem qualitativa na modalidade de relato de experiência, que emergiu da vivência do cotidiano da prática profissional a partir das experiências [7] de três enfermeiras egressas do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família da Universidade Federal de Juiz de Fora, em uma Unidade de Atenção Primária em Saúde num município do interior de Minas Gerais. Partindo de pesquisa realizada sobre atividades desenvolvidas durante o período da residência, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Juiz de Fora, segundo parecer nº 170/2011, sentimos a necessidade de divulgar as vivências do processo de trabalho e suas implicações, por considerarmos a proposta da residência enriquecedora para o conhecimento e a prática profissional. Então, a partir das nossas vivências como residentes, destacamos algumas atividades experienciadas, apoiando tais relatos e reflexões nos artigos científicos provenientes das revistas indexadas e de informações do Ministério da Saúde. Resultados e discussão As atividades no Programa iniciaram-se com a apresentação do universo da Saúde da Família às residentes, debatendo aspectos fundamentais das políticas de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), integrando o olhar das diversas profissões que compõem a residência, no que foi chamado de Curso Introdutório ministrado por profissionais experientes na área de Saúde Pública. Também tivemos a oportunidade de debater, de forma mais aprofundada, as políticas desenvolvidas pelo Ministério da Saúde (MS) quanto à Saúde da Mulher, do Homem, do Idoso, da Criança e do adolescente e da complexidade da Atenção Primária dentro dos demais níveis de atenção. Este curso foi de grande importância para embasar a nossa prática e nos inserir na realidade do serviço. Estudo já realizado, com preceptores e profissionais do serviço de um programa de residência, ressalta que é fundamental para um bom desempenho no processo laboral ter conhecimento sobre as políticas públicas, processo saúde-doença, atenção primária, interdisciplinaridade, práticas de saúde coletiva, rede de referência e contra- -referência, princípios e estratégias organizacionais da ESF [2:824]. Posteriormente, em um trabalho integrado com o Serviço Social, realizamos o Processo de Territorialização com o auxílio das Agentes Comunitárias de Saúde (ACS). Esse processo exige responsabilidade da Unidade de Saúde com as questões que envolvem a qualidade de vida dos indivíduos, famílias e comunidade, além do reconhecimento das especificidades locorregionais [2]. A partir de então, com os conhecimentos adquiridos na Graduação e reflexões no Curso Introdutório, percebemos as necessidades gerais da comunidade e constatamos que um trabalho específico deveria ser realizado para atender essas demandas, com base nos princípios do SUS. Ressaltamos que a Territorialização realizada por uma equipe multiprofissional contribui para que visões diferentes se somem para formular um diagnóstico amplo e detalhado da área. Tal atividade nos permitiu conhecer a rede institucional e as possíveis alternativas de recursos sociais; desenvolver de forma crítica novas técnicas de trabalho, de acordo com a realidade local, tanto em nível individual desenvolvido dentro da 46

53 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Unidade de Atenção Primária à Saúde (UAPS) ou nas visitas domiciliares, como no nível coletivo. Neste contexto, a interação com outra categoria profissional ocorre a partir do compromisso em pensar o cuidado que vem sendo ofertado nos serviços de saúde e ressignificar essa prática através do compartilhamento de diversos saberes dos sujeitos envolvidos [3]. Umas das atividades das equipes na Estratégia de Saúde da Família (ESF) é o acolhimento. Essa atividade favorece a construção de uma relação de confiança e compromisso dos usuários com as equipes e os serviços, contribuindo para a legitimação do Sistema Público de Saúde [8]. Observamos, em nossa prática, que o acolhimento nesta Unidade é bem desenvolvido considerando que o processo de trabalho é organizado de modo que todos os profissionais participem dessa atividade de forma a construir o vínculo com o usuário. Acreditamos que esse contato seja essencial para que se possa identificar suas necessidades e sermos reconhecidos como os profissionais da equipe. Além disso, a interação com envolvimento de toda equipe, de forma contínua, favorece as mudanças dos indicadores de saúde da população e assim possibilita uma melhor qualidade de vida [2]. Constatamos, ao assumir o serviço, que há lacunas na Graduação, o que gera ansiedade e insegurança ao exercer as atividades de rotina. Acreditamos que as bases teóricas de enfermagem ainda são deficientes na academia, o que contribui para não reconhecermos o verdadeiro papel do enfermeiro na ESF, confundido muitas vezes com atividades de outros profissionais. Essa lacuna é preenchida pela proposta de formação a partir da aprendizagem vivenciada na realidade dos serviços nas Unidades de Saúde da Família [2], utilizando para isso uma reflexão crítica, análise, síntese e aplicação de conceitos voltados para efetiva construção do conhecimento [9]. Realizamos consultas de enfermagem com atendimento à saúde da mulher, da criança e do adulto seguindo protocolos da Unidade e impressos próprios elaborados por residentes egressos, que auxiliam numa abordagem direcionada e acompanhada pelo processo de enfermagem. Ao iniciarmos as consultas, sentimos certa insegurança ao abordarmos o usuário e por não conseguirmos atender a todas as demandas que ele trazia. Ressaltamos que a Atenção Primária é muitas vezes marcada por número insuficiente de profissionais, recaindo sobre o enfermeiro a responsabilidade de suprir a ausência de outros profissionais [9]. Com o passar do tempo, delimitamos melhor quais seriam as nossas funções e o propósito dessa consulta que é de promoção, prevenção e recuperação da saúde, tendo como enfoque a Educação em Saúde. Pensamos no cuidado considerando seus determinantes históricos, sociais e políticos, buscando intervir de forma a proporcionar autonomia dos sujeitos [4]. A prática clínica voltada para a prescrição e o tratamento de doenças tem um papel importante no contexto do cuidado aos indivíduos que adoecem, porém é fundamental que seja atrelada a uma visão ampliada de saúde, de maneira que incorpore uma dimensão humanística e integral no processo saúde-doença [2]. Sendo assim, emerge a importância das ações de Promoção da Saúde, como reorientação do modelo assistencial, com a intencionalidade de utilizá-la não apenas para a prevenção das doenças, mas como instrumento de conscientização e enfrentamento das vulnerabilidades [2]. Acreditamos que a participação em grupos de estudos, aulas teóricas com a preceptoria acadêmica e discussões de casos clínicos possibilitaram nosso crescimento e enriquecimento profissional, através de uma reflexão crítica, pautada em marcos teórico e estudos científicos atualizados, próprios da nossa profissão. A residência promove uma formação voltada para o mundo do trabalho preparando o profissional para reconhecer as necessidades de saúde da população e propondo resoluções aos problemas de saúde, tendo em vista os determinantes e os condicionantes que enfrentam no cotidiano laboral [2]. Como enfermeiras egressas, estamos em processo de construção de um novo modo de agir em saúde coletiva, identificando nossos espaços e revelando os benefícios que a população pode usufruir através desse novo olhar, tendo como prioridade atividades de promoção e prevenção da saúde. Sendo assim, podemos afirmar que a Residência Multiprofissional em Saúde da Família foi uma etapa importante para a formação de uma identidade profissional e nos possibilitou uma prática assistencial crítica e reflexiva. O Programa de Residência permite um preparo técnico-científico especializado, com capaci- 47

54 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) dade de distinguir prioridades, adquirir segurança pessoal e profissional na execução das atividades práticas, qualificar o atendimento na instituição e liderar a equipe, condições que favorecem a realização profissional [4]. A partir dessa vivência, percebemos que a residência vem permitindo ao enfermeiro recém- -formado, a construção de competências aliadas à aquisição de conhecimentos, desenvolvimento de habilidades e construção de atitudes. O preenchimento das lacunas provenientes da Graduação se constitui em uns dos pontos mais importantes, uma vez que permite aos residentes sanar essas dificuldades e desenvolver sua prática pautada no modelo vigente sob a orientação dos preceptores e tutores, os quais são profissionais atualizados e comprometidos com o cuidado, ensino, pesquisa e extensão. Profissionais qualificados são essenciais para elevar o nível de saúde da população. Para isso, é preciso que o enfermeiro detenha um conjunto de conhecimentos científicos e práticos a fim de oferecer uma assistência segura e resolutiva [4]. Conclusão A experiência de vivenciar a Residência Multiprofissional em Saúde da Família contribuiu para nossa formação como especialistas, com vivência na realidade de uma Unidade de Atenção Primária à Saúde com todas suas especificidades e complexidades, não apenas nas funções que requerem habilidades técnicas, mas no desenvolvimento de uma postura ética profissional, aprendendo a criar o vínculo com o indivíduo e suas famílias, para que se possa estabelecer uma relação de confiança e comprometimento. Sendo assim, reafirma-se que a articulação entre Estratégia Saúde da Família e Residência em Saúde da Família resulta em inúmeros benefícios, pois a grande transformação proposta pelo então modelo de atenção está calcada na participação intersetorial para que ocorra um melhor desenvolvimento das atividades e do processo de trabalho. O processo de formação do profissional de enfermagem, na atualidade, é um grande desafio, considerando a necessidade de formar profissionais com competência técnica e política, com conhecimento, raciocínio, percepção e sensibilidade para as questões individuais e coletivas, devendo estar preparados para atuar em contextos que envolvem incertezas e complexidade. Assim, faz-se necessário ter enfermeiros comprometidos com os problemas de saúde da comunidade, não perdendo a perspectiva da integralidade da atenção, da equidade, da eficiência e da eficácia. Referências 1. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de atenção à saúde. Núcleo técnico da política nacional de humanização. Acolhimento nas práticas de produção de saúde. 2ªed. Brasília: Ministério da Saúde; Nascimento DDG, Oliveira MAC. Competências profissionais e o processo de formação na residência multiprofissional em saúde da família. Saúde Soc 2010;19(4): Freitas CHSM. Residência multiprofissional em saúde da família e comunidade: experiência, avanços, desafios. Pesqui Bras Odontopediatria Clín Integr 2012;12(2): Carbogim FC, Santos KB, Alves MS, Silva GA. Residência em Enfermagem: a experiência de Juiz de Fora do ponto de vista dos residentes. Rev APS 2010;13(2): Ferreira SR, Olschowsky A. Residência integrada em saúde: a interação entre as diferentes áreas de conhecimento. Rev Gaúch Enferm 2010;30(1): Nascimento DDG, Quevedo MP. Aprender fazendo: considerações sobre a residência multiprofissional em saúde da família na qualificação de profissionais da saúde. In: Bourget MMM (org.). Estratégia Saúde da Família: a experiência da equipe de reabilitação. São Paulo: Martinari; p Minayo MCS, eds. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes; Ministério da Saúde. Secretaria de gestão do trabalho e educação na saúde. Departamento de gestão da educação na saúde. Residência Multiprofissional em saúde: experiências, avanços e desafios. Brasília: Ministério da Saúde; Caçador BS, Lopes FN, Pacheco LC, Alves MS, Salimena AMO. O enfermeiro na estratégia da saúde da família: percepção do usuário. HU Rev 2012;37(3):

55 Relato de experiência Em busca de conhecimento de enfermagem sobre os pacientes portadores de úlcera por pressão Simone Maiara Zagonel*, Viviane Pereira Leite Gaigher*, Susie Imbririba Augusto*, Aline Melo*, Larissa Lustosa Lustosa*, Nariani Souza Galvão, M.Sc.** *Discente do 4 o período do curso de Bacharelado em Enfermagem da Escola de Enfermagem de Manaus na Universidade Federal do Amazonas (UFAM), **Enfermeira, Professora do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem de Manaus da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Especialista em Urgência e Emergência em Enfermagem e Enfermagem do Trabalho Resumo Objetivo: Descrever a experiência vivida por um grupo de alunas de enfermagem junto aos cuidados com os pacientes portadores de úlcera por pressão. Método: Trata-se de um estudo descritivo e para o desenvolvimento da atividade utilizamos o método participativo e técnicas de ensino. Como referencial teórico destaca-se conceito, fisiologia, classificação, fatores de risco para úlcera por pressão, prevenção e tratamento. O instrumento utilizado para a coleta de dados foi composto por características do paciente relativas a dados sociodemográficos e clínicos, localização anatômica e avaliação clínica da úlcera. Resultado: Durante a realização da coleta de dados observamos uma grande quantidade de casos de pacientes portadores de úlcera por pressão. Conclusão: A experiência foi significativa, apontando que a aprendizagem em pesquisa deve ser acompanhada de um processo dialógico entre os envolvidos, possibilitando sua autonomia e comprometimento. Palavras-chave: úlcera por pressão, pacientes, cuidados de enfermagem. Abstract In search of nursing knowledge about patients with pressure ulcers Objective: To describe the experience of a group of students with nursing care of patients with pressure ulcers. Method: This was a descriptive study and to the activity development program we used the participatory approach and teaching techniques. As a theoretical concept stands out, physiology, classification, risk factors for pressure ulcer, prevention and treatment. The instrument used for data collection consisted on patient s characteristics on demographic and clinical data, anatomical site and clinical evaluation of the ulcer. Result: During the course of data collection we found a lot of cases of patients with pressure ulcers. Conclusion: The experience was significant, indicating that learning in research must be accompanied by a dialogue process among stakeholders, enabling autonomy and commitment. Key-words: pressure ulcer, patients, nursing care. Artigo recebido em 24 de novembro de 2011; aceito em 5 de fevereiro de Endereço para correspondência: Nariani Souza Galvão, Conjunto Ica Maceió, S/N, Rua Curitiba, Bl 37 Ap1B, Bairro Nossa Senhora das Graças, Manaus AM, profnane@hotmail.com 49

56 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Resumen En la búsqueda del conocimiento en enfermería sobre pacientes con úlceras por presión Objetivo: Describir la experiencia de un grupo de estudiantes de enfermería ante los cuidados de enfermería de pacientes con úlceras por presión. Método: Se trata de un estudio descriptivo y para el desarrollo de la actividad utilizamos el enfoque participativo y técnicas de enseñanza. Como referencial teórico se destaca el concepto, la fisiología, la clasificación, factores de riesgo para úlceras por presión, prevención y tratamiento. El instrumento utilizado para la recolección de datos consistió en las características del paciente sobre los datos sociodemográficos y clínicos, localización anatómica y evaluación clínica de la úlcera. Resultados: Durante el transcurso de la recolección de datos se encontró una gran cantidad de casos de pacientes con úlceras por presión. Conclusión: La experiencia fue significativa, lo que indica que el aprendizaje en la investigación debe ir acompañado de un proceso de diálogo entre los involucrados, posibilitando su autonomía y comprometimiento. Palabras-clave: úlcera por presión, pacientes, cuidados de enfermería. Introdução Segundo a National Pressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP), a Úlcera por Pressão (UP) é definida como uma área de risco localizada na pele ou tecidos subjacentes, geralmente sobre uma proeminência óssea, que é causada pela pressão ou pela pressão combinada com fricção e cisalhamento, modificando patologicamente o fluxo sanguíneo da pele e tecidos subjacentes [1]. A lesão isquêmica da úlcera por pressão se desenvolve quando a pressão extrínseca sobre a pele excede a pressão média de enchimento capilar, que é de 32 mmhg, causando a redução do fluxo sanguíneo e da oxigenação tecidual no local. Se prolongada a hipoperfusão, resulta em uma cascata de hipóxia, acidose, hemorragia para o interstício, que se traduz em eritema cutâneo, e acúmulo de produtos tóxicos que levam a morte celular e necrose tissular. A atividade fibrinolítica diminui, havendo depósito de fibrina e obstrução intravascular, o que compromete ainda mais a circulação, mesmo que a pressão externa seja reduzida.o dano tecidual definitivo pode ocorrer após 1 a 2 horas de pressão constante (maior que 32mmHg) sobre uma mesma área [2]. A pressão externa aumentada também gera oclusão da circulação linfática local e formação de edema. Ocorre também liberação de metabólitos do processo anaeróbio, contribuindo para a necrose tecidual e de mediadores do processo inflamatório. A exposição prolongada à umidade de urina, fezes e suor fragiliza a camada córnea, exacerbando os efeitos da fricção e expondo a pele a macerações. Há também, nas fezes e urina, irritantes químicos e tóxicos que podem injuriar as células diretamente [3]. Existem várias escalas preditivas para avaliar o risco de desenvolver úlcera por pressão, porém a mais comumente utlizada é a escala de Braden. Nesta escalasão avaliados seis fatores de risco através de subescalas: 1) Percepção sensorial: capacidade de o cliente reagir ao desconforto da pressão; 2) Umidade: nível de exposição da pele a umidade; 3) Atividade: capacidade de exercer atividade física; 4) Mobilidade: verifica se o cliente apresenta condições de mudar e controlar a posição corporal; 5) Nutrição: avalia a dieta consumida pelo cliente; 6) Fricção e cisalhamento: refere-se ao grau de dependência do cliente para movimentar-se e manter a postura, bem como contratura e agitação, o que favorece o aumento da fricção [4]. Os riscos de se desenvolver úlcera por pressão começa por volta de 15 dias de internação, e a partir de 16 a 30 dias os riscos chegam a 47% e com um mês apresentam um risco elevado de até 67% [5]. A prevalência em pacientes hospitalizados varia entre 3% a 14%. Dos quais 71,4% se encontram entre a faixa etária de 45 a 59 anos de idade e com 60 anos ou mais a frequência chega a 40% [6]. Com relação à raça, a prevalência em indivíduos com a cor parda é de 38,0%; cor branca 35% e cor negra 21,0% [7]. Verificou-se que cerca de 60% dos pacientes tetraplégicos hospitalizados em hospital universitário desenvolveram lesão de pele. As regiões mais frequentes para o desenvolvimento de UP em hospitais são: calcâneos, sacrococcígea e glúteo [8]. A incidência de UP na região sacral pode variar de 30,5% a 33,6%, nos glúteos de 11,8% a 23,9% e nos calcâneos 24,6% a 42,4% [9]. 50

57 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Pacientes em UTI encontrou-se a prevalência de 23,33% de UP, com maioria do sexo feminino 57,14% e 100% declaram-se pardos [10]. A classificação habitualmente adotada para as úlceras por pressão baseia-se na profundidade do acometimento e nos limites entre tecidos lesados. Define seis estágios possíveis para uma lesão. Estágio 0: suspeita de lesão profunda apresentando uma área da pele com coloração arroxeada, pálida ou com bolha hemática. Estágio 1: eritema em pele íntegra, persistente mesmo após alívio da pressão sobre o local. Estágio 2: perda tecidual envolvendo epiderme, derme ou ambas. Formando-se úlcera com leito vermelho ou róseo, às vezes bolha. Pode haver crosta. Estágio 3: comprometimento de tecido subcutâneo, podendo-se estender mais profundamente, até a fáscia muscular. Estágio 4: comprometimento mais profundo, com destruição extensa dos tecidos, ou dano muscular, ósseo ou em estruturas adjacentes. A lesão atravessa a fáscia muscular. Não classificável: apresenta dificuldade de mensuração por estar recoberta por necrose e/ou escara. A identificação de lesões de grau I é dificultada em indivíduos de pele negra. Muitas vezes o exato estadiamento só pode ser feito após debridamento da úlcera [11]. A prevenção é mais adequada, simples e não acarreta risco para o paciente, sendo essencial o conhecimento por parte dos profissionais acerca das UP. Medidas preventivas podem ser adotadas para evitar a lesão, como avaliar o grau de risco de cada indivíduo através de um quadro demonstrativo das áreas mais vulneráveis, escala de Braden, Norten e Waterlow, registro das modificações da pele de acordo com os estágios das úlceras e guia de prevenção. Proteger áreas de protuberâncias ósseas, e realizar mudanças de decúbito, evitando o cisalhamento da pele; hidratar a pele, evitar uso de água quente e orientar o paciente sobre a importância de uma boa alimentação. Mesmo com medidas preventivas alguns pacientes acabam desenvolvendo UP, tornando necessário implementar um tratamento que utilize soluções, pomadas, curativos industrializados, terapias coadjuvantes e, dependendo do estágio da lesão, é recomendado tratamento cirúrgico com ou sem enxerto de pele e reconstrução plástica [12]. Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo no qual fizemos um levantamento dos dados em pacientes portadores de úlcera por pressão internados no Hospital e Pronto Socorro (HPS) 28 de Agosto, no período de setembro a outubro de 2011, na cidade de Manaus. Antes de iniciarmos as atividades de coleta de dados, participarmos de um treinamento teórico e prático com a orientadora do estudo que constou dos seguintes itens: interpretação e leitura do instrumento que seria utilizado; fornecimento de informações relativas ao conteúdo científico de úlcera por pressão e sobre o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que deveria ser fornecido aos pacientes antes da realização da coleta. A atividade foi desenvolvida nos seguintes setores do HPS 28 de Agosto: Clínicas Médica, Cirúrgica, Nefrologia, Vascular, Ortopedia, Urologia, Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e observação da clínica médica. A coleta ocorreu no período da manhã, tarde e noite sob a supervisão da pesquisadora. Foi feito uso de um instrumento composto por características do paciente relativas a dados sociodemográficos e clínicos, localização anatômica e avaliação clinica da úlcera. Resultados e discussão Como alunas de graduação da Escola de Enfermagem de Manaus (EEM) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), tivemos a oportunidade de participar da coleta de dados para a pesquisa em andamento como projeto de dissertação do Curso de Mestrado em Ciências da Saúde da Universidade Federal do Amazonas, cujo tema é Aspectos epidemiológicos e clínicos em pacientes com úlcera por pressão internados em uma instituição hospitalar da cidade de Manaus (AM). A motivação para a realização dessa atividade se fundamenta na necessidade de aprofundamento de aspectos teóricos relacionados à dimensão organizacional do cuidado de enfermagem aos pacientes portadores de úlcera por pressão. Autores relatam que a idade é um fator bastante associado com a fisiopatogênese da úlcera por pressão juntamente com a desnutrição, umidade, a falta de mobilidade e principalmente a pressão. A pressão é o principal fator para o desenvolvimento de úlcera por pressão por isso o cuidado dos enfermeiros e 51

58 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) dos técnicos dentro da organização hospitalar devem estar voltados para os pacientes acamados, pois são estes os mais propensos a tal acometimento [13]. Além disso, uma úlcera por pressão não tratada pode acarretar doenças associadas tais como: morte tecidual, osteomielite, sepse, celulite, dentre outras, que a longo prazo pode contribuir para o óbito do paciente. Durante a coleta de dados observou-se que a maioria dos pacientes eram idosos ou apresentavam algum trauma ortopédico, acamados, com a mobilidade prejudicada e em sua maioria possuíam múltiplas úlceras por pressão ao longo do corpo, prevalecendo as úlceras sacrais e trocantéricas. Notou-se também dentre os acamados, que as regiões mais acometidas eram em áreas de proeminência óssea. As úlceras por pressão aumentavam a permanência dos pacientes no hospital, retardavam muitas vezes o tratamento e necessitavam de mais tempo e atenção da equipe de enfermagem, mostrando a importância da prevenção das UP tanto para a recuperação; bem estar físico e mental dos pacientes; quanto para diminuir a sobrecarga de trabalho da equipe de enfermagem. Por ser desenvolvido rigorosamente um quadro de mudanças de decúbito e outras medidas de prevenção na UTI, esta apresentava poucos casos, apesar da longa permanência de alguns pacientes. A experiência serviu para enriquecer os nossos conhecimentos técnico-científicos acerca das úlceras por pressão e nos mostrar a influencia de um planejamento e adequada implementação de medidas de prevenção e tratamento das mesmas; a importância de se identificar os pacientes com risco de desenvolvimento e a necessidade de prestar um cuidado humanizado a esses pacientes que são praticamente dependentes dos cuidados da enfermagem. Toda a análise de coleta de dados realizada no Hospital Pronto Socorro 28 de Agosto sobre úlceras por pressão foi de grande acréscimo em nosso âmbito do conhecimento, tanto em aspectos teóricos quanto práticos. Além disso, deu-nos a oportunidade de colocar em prática a teoria aprendida em sala de aula e treinamento para a pesquisa acerca dos aspectos epidemiológicos e clínicos dos pacientes com úlcera por pressão hospitalizados, vivenciando e compreendendo de maneira clínica o estagiamento das úlceras por pressão, assim como a frequência em que aparecem e em que condições se desenvolvem. Considerando que as características individuais de cada paciente que apresentaa UP, tais como idade, morbidades prévias apresentadas e escores da Escala de Braden são fatores que agem sinergicamente e independentemente no desenvolvimento da lesão, verifica-se a necessidade de uma maior atenção a esses pacientes para assegurar a qualidade da assistência no que tange à prevenção de ocorrência das úlceras por pressão, visto que além de tudo, o enfermeiro também é um educador e cabe a ele dar essa assistência e dissernimento aos pacientes e familiares. Conclusão O estudo permitiu que as mensurações das UP fossem feitas e analisadas de forma a classificá-las conforme suas escalas. Observou-se que grande parte dos internados (acamados) há mais de uma semana eram mais propensos a adquirirem úlceras por pressão, visto que a mobilidade comprometida favorece o aparecimento destas. Percebe-se, portanto, que para reverter essa situação precisa-se ter um quadro rigoroso de mudança de decúbito e acima de tudo ser respeitado e não negligenciado os cuidados com o cliente, para, assim, vermos diminuir tais estatísticas tão preocupantes. Referências 1. NUAP National Pressure Ulcer Advisory Panel. [citado 2011 Jan 17]. Disponível em URL: Perracini NR. Úlcera por pressão. [citado 2011 Aug 5]. Disponível em URL: 3. Goulart FM, Ferreira JA, Santos KAA, Morais VM, Filho GAF. Prevenção de úlcera por pressão em pacientes acamados: uma revisão da literatura. Revista Eletrônica Objetiva 2008;4. 4. Souza CA, Santos I, Silva LD. Aplicando as recomendações da escala de Braden e prevenindo úlceras por pressão evidencias do cuidar em Enfermagem. Rev Bras Enferm 2006;59(3): Gomes FSL, Bastos MAR, Matozinhos FP, Temponi HR, Meléndez GV. Fatores associados à úlcera por pressão em pacientes internados nos Centros de Terapia Intensiva de Adultos. Rev Esc Enferm 2010;44(4): Silva DP, Barbosa MH, Araújo DF, Oliveira LP, Melo AF. Úlcera por pressão: Avaliação de fatores de risco em pacientes internados em um hospital universitário. Revista Eletronica de Enferm 2011;13(1): Blandes L. Avaliação clínica e epidemiológica das úlceras por pressão em pacientes internados no hospital de São Paulo. Rev Assoc Med Bras 2004;50(2):

59 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) 8. Crozeta K. Avaliação epidemiológica das úlceras por pressão em um hospital de ensino. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, Programa de Pós-graduação em Enfermagem; Diccini S, Camaduro C, Iida LIS. Incidência de úlcera por pressão em pacientes neurocirúrgicos de hospital universitário. Acta Paul Enferm 2009;22(2): Gomes FSL, Bastos MAR, Matosinhos FP, Temponi HR, Velásquez-Meléndez G. Fatores associados à úlcera por pressão em pacientes interndos nos cen- tros de terapia intensiva de adultos. Rev Esc Enferm 2010;44(4): Wada A, Neto NT, Ferreira MC. Úlceras por pressão. Revista de Medicina (São Paulo) 2010;89(3/4): Serpa LF, Santos VLCG, Campanili TCGF, Queiroz M. Validade preditiva da Escala de Braden para o risco de desenvolvimento de úlcera por pressão em pacientes críticos. Rev Bras Enferm 2011;19(1): Dealey C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. 3ª ed. São Paulo: Atheneu;

60 Revisão Cuidados de enfermagem ao paciente em tratamento hemodialítico: uma abordagem geral do cuidado e de suas complicações Alciene Gonçalves Dias*, Maria Lídia Silva Cabral*, Marislei Espíndula Brasileiro, D.Sc.**, Karynne Borges Cabral*** *Enfermeiras Especialistas em Nefrologia, **Docente do CEEN, ***Enfermeira assistencial da Unidade de Pronto Atendimento de Rio Verde-GO, Especialista em Enfermagem em Neonatologia e Pediatria, CEEN/PUC-GO, Mestranda em enfermagem pela UFG, Goiânia/GO Resumo Objetivo: Abordar aspectos do cuidado e/ou assistência de enfermagem prestada ao cliente com insuficiência renal crônica na clínica de hemodiálise, bem como as complicações desse procedimento. Material e métodos: Revisão bibliográfica de caráter descritivo analítico e com uma abordagem qualitativa. Resultados: A literatura mostra que os cuidados ao cliente em hemodiálise vão além da técnica, devendo envolver desde o acolhimento do paciente na unidade, passando pela disposição das máquinas e realização do procedimento, até a manutenção de fístulas, orientações e apoio psicológico. Como complicações do procedimento, a literatura cita entre outras, febre, hipovolemia, hipotensão arterial, cãibras musculares, náuseas e vômitos. Conclusão: A equipe de enfermagem é quem permanece mais próximo do paciente durante todo esse procedimento; cria laços e vínculos afetivos com os clientes que muitas vezes dispensam grande parte do seu tempo à realização deste procedimento a partir do momento que recebem o diagnóstico da doença. É notório que muitas pesquisas ainda precisam ser realizadas no campo da hemodiálise para que o profissional possa ter subsídios para buscar uma assistência cada vez mais eficiente e qualificada para essa clientela. Palavras-chave: hemodiálise, cuidados, Enfermagem. Abstract Nursing care to patients in hemodialysis: a general approach of care and its complications Objective: To focus on aspects of care and/or nursing care provided to patient with chronic renal failure on dialysis clinic, as well as the complications of this procedure. Methods: This iwas a descriptive and analytical literature review with a qualitative approach. Results: The literature shows that nursing care to hemodialysis patients is beyond the technique, should include patient s reception in the unit, the provision of hemodialysis machine and the performance the procedure, as well as maintenance of fistulas, orientation and psychological support. Some of the complications of hemodialysis procedure are: fever, hypovolemia, hypotension, muscle cramps, nausea and vomiting. Conclusion: The nursing staff remains with the patients throughout the procedure, and establish friendly bond with them, who often spend much of Artigo recebido em 21 de junho de 2012; aceito em 6 de fevereiro de Endereço para correspondência: Karynne Borges Cabral, Rua 76, n 978 Qd 04 Lt 03 Bairro São João Rio Verde GO, karynneborges@yahoo.com.br, alciene-rv@hotmail.com, lidiacabralrv@hotmail.com 54

61 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) their time in performing this procedure after receiving the diagnosis. It makes clear that we need more researches on hemodialysis, so that professionals can search for an efficient and qualified care for their patients. Key-words: hemodialysis, care, Nursing. Resumen Cuidados de enfermería del paciente en hemodiálisis: un enfoque general de atención y sus complicaciones Objetivo: Abordar aspectos de la atención y/o cuidados de enfermería prestados al cliente con insuficiencia renal crónica en la clínica de hemodiálisis, así como las complicaciones de este procedimiento. Material y métodos: Se trata de una revisión de la literatura descriptiva y analítica con un enfoque cualitativo. Resultados: La literatura muestra que la atención al paciente va más allá de la técnica de hemodiálisis, debe incluir desde el acogimiento del paciente en la unidad, el suministro de máquinas de hemodiálisis para realizar el procedimiento, el mantenimiento de las fístulas, orientación y apoyo psicológico. Algunas de las complicaciones del procedimiento son: fiebre, hipovolemia, hipotensión, calambres musculares, náuseas y vómitos. Conclusión: El personal de enfermería permanece con el paciente durante el procedimiento y crea apegos y vínculos afectivos con los pacientes, que a menudo dedican mucho de su tiempo para realizar este procedimiento después de recibir el diagnóstico. Es evidente que otras investigaciones necesitan ser realizadas en el área de la hemodiálisis para que el profesional pueda buscar ayuda para brindar atención más eficiente y calificada para estos pacientes. Palabras-clave: hemodiálisis, cuidados, Enfermería. Introdução A doença renal é entendida por uma alteração da função renal que se mantém por período variável [1]. Assim a insuficiência renal pode ser definida como uma síndrome que se caracteriza pela redução da velocidade de filtração glomerular [2]. Em geral surge quando os rins passam a ser incapazes de remover água, eletrólitos e escórias metabólicas do organismo humano através da urina [2]. Seus sinais e sintomas surgem, de maneira inespecífica, logo é necessário um alto grau de suspeita para seu diagnóstico [1]. É classificada em aguda e crônica dependendo da evolução da doença [1], e devido à possibilidade de intercorrências clínica é necessário cuidado intensivo [3], por isso o interesse em pesquisar sobre o tema. Infelizmente a doença renal crônica não contempla uma expectativa de cura e seu tratamento visa à manutenção do estado de cronicidade, e o paciente é submetido a modalidades terapêuticas de substituição renal [4]. A perda irreversível da função renal exige tratamento substitutivo como condição única para manter a vida [3]. Tem como objetivo manter o equilíbrio por meio do controle da retenção de eletrólitos e líquido no organismo e evitar a acidose [2]. Consegue atingir esse objetivo através dos seguintes cuidados: dieta hipossódica, restrição hídrica; administração de medicamentos como diuréticos e hipotensores, diálise e transplante renal [2]. Estão disponíveis como modalidades de tratamento para as doenças renais consideradas terminais: a hemodiálise, a diálise peritoneal e o transplante renal. A escolha do tratamento deve levar em conta além do estado do paciente, sua complexidade, os riscos de cada procedimento e a diversidade de opções e custos [4]. A hemodiálise é o método de diálise mais comumente utilizado no tratamento da insuficiência renal crônica [3]. Dividida em modalidades como, convencional, diária, noturna e domiciliar [4]. Tem por objetivo extrair substâncias que são tóxicas ao organismo do sangue e remover o excesso de água [1]. Durante esse procedimento, o sangue, carregado de toxinas e resíduos nitrogenados, é desviado do paciente para uma máquina, denominada dialisador, no qual é limpo e, em seguida, devolvido ao corpo do paciente. Para que isso ocorra é necessário que se estabeleça um acesso vascular ideal para que o processo de diálise possa ser realizado de maneira adequada [1]. Embora o tratamento por hemodiálise não cure o paciente com doença renal e não compense a perda das atividades endócrinas ou metabólicas dos rins, o procedimento torna-se viável por permitir a sobrevida dos pacientes com insuficiência renal crônica (IRC). É usada tanto para pacientes agudos como também para os crônicos [5]. 55

62 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Os pacientes que vão ser tratados por meio da hemodiálise precisam de um acesso venoso, e devem submeter-se ao procedimento pelo resto da vida (geralmente por três vezes na semana, com duração mínima de 3 a 4 horas por tratamento), ou até que recebam um transplante renal bem sucedido [5]. Entre os tipos de acessos disponíveis e utilizados em hemodiálise estão: a fístula arteriovenosa (FAV), enxertos arteriovenosos e os cateteres venosos centrais que podem ser tunelizados com cuff ou temporários. Para os pacientes hospitalizados e em fase crítica, os cateteres temporários aparecem como primeira escolha, pois estabelecem um acesso imediato e pronto para utilização [6]. Apesar das técnicas dialíticas serem eficientes e complexas, a taxa de mortalidade dos pacientes por insuficiência renal aguda permanece alta nos dias atuais. Acredita-se que a redução da sobrevida desses pacientes pode estar relacionada ao aumento na frequência de sepses e/ou a associação com disfunção de múltiplos órgãos [1]. Dessa forma, entendemos que o paciente em hemodiálise requer um cuidado especializado que não se reduz apenas ao serviço técnico em si, mas, pautado na ética entre cuidador e cliente. Assim os profissionais de enfermagem devem estar capacitados e cientes de sua responsabilidade e importância em relação à manutenção da qualidade de vida do cliente [3]. Diante do exposto, surge a questão principal que norteia este trabalho: Quais os cuidados de enfermagem que devem ser prestados ao cliente durante o processo de hemodiálise. E quais as principais complicações que podem surgir durante esse processo? Assim, o presente estudo busca oferecer aos acadêmicos e profissionais de enfermagem que atuam em clínicas de hemodiálise subsídios para que se busque uma assistência de qualidade a esses clientes através da execução adequada do cuidado e entendimento das complicações inerentes a esse procedimento. Objetivos O objetivo geral foi: Abordar aspectos do cuidado e/ou assistência de enfermagem prestados ao cliente com insuficiência renal crônica na clínica de hemodiálise, bem como as complicações desse procedimento. Os objetivos específicos foram: 1) Discutir quais os cuidados de enfermagem que devem ser prestados ao cliente com insuficiência renal, durante o procedimento de hemodiálise; 2) Identificar quais as principais complicações do procedimento de hemodiálise em pacientes com insuficiência renal e os cuidados de enfermagem que devem ser dispensados durante esses eventos. Material e métodos Amostragem e critérios de inclusão Foram utilizados como objeto de estudo artigos científicos de base de dados virtuais Bireme e revistas de publicação científica. O período de busca iniciou-se no mês de julho de 2011 e findou em agosto do mesmo ano. O período de leitura e agrupamento dos dados encontrados correu de setembro a novembro de Na base de dados Bireme foram encontrados, utilizando como descritores as palavras enfermagem e hemodiálise, um total de 114 artigos, dos quais foram selecionados apenas 10 artigos. Em relação à pesquisa sistemática em periódico científico impresso, foram selecionados 5 artigos da Revista Acta Paulista de Enfermagem. Os artigos de revisão foram do ano de 2000 a Como critérios de exclusão: artigos que fogem ao tema e aqueles com data de publicação anterior ao ano de 2000 e ainda aqueles com publicações referentes à realidade estrangeira. Dessa forma, foram incluídos, nesta pesquisa, um total de 15 artigos. Métodos científicos da pesquisa A pesquisa é uma revisão bibliográfica de caráter descritivo analítico e com uma abordagem qualitativa. A revisão bibliográfica ou pesquisa bibliográfica trata-se de levantamento de toda a bibliografia já publicada em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Utiliza como fontes de pesquisa, dados já coletados por outros pesquisadores [7]. Este trabalho envolve a leitura dos artigos, de modo que requer uma abordagem que privilegie a compreensão do fenômeno estudado. Portanto, a análise documental é utilizada como técnica principal de apreensão de dados. Técnicas para análise dos dados coletados O processo de análise de dados do trabalho seguiu padronização utilizada em análise qualitativa [8,9] sintetizada a seguir: 56

63 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Leitura dos artigos Coleta de dados; Categorias (Reincidência e relevância); Revisão de categorias; Seleção de autores de âncoras; Interpretação do sistema de categorias; Pela leitura dos artigos foram coletados dados por meio de fichas. Esse material foi revisado de modo a serem estabelecidas categorias - logo, o processo de criação delas foi indutivo. Utilizaram-se dois critérios principais de categorização [9]: repetição (reincidência das manifestações) e relevância (possibilidade de confirmação ou refutação das hipóteses iniciais da investigação). Uma vez estabelecidas, as categorias foram revistas e cada uma delas recebeu um nome e um número de código. Em seguida, selecionaram-se outros materiais (livros, artigos, teses, dissertações, entre outros) sobre o tema, chamados de âncora - segmentos de texto específicos relacionados com uma dada categoria e que servem de exemplo para ela [10]. A etapa final consistiu na interpretação do sistema de categorias, em termos das questões da pesquisa e do quadro referencial teórico. Foram selecionados 15 estudos que responderam aos objetivos do presente trabalho. Tendo em vista os objetivos do presente trabalho, foram selecionadas as seguintes categorias: Aspectos gerais do cuidado de enfermagem ao paciente com insuficiência renal em hemodiálise; Cuidando do paciente com complicações relacionadas ao procedimento de hemodiálise. Resultados e discussão Aspectos gerais do cuidado de enfermagem ao paciente com insuficiência renal em hemodiálise Para os autores pesquisados o cuidado de enfermagem pode ser dividido em sete etapas, e com base nestas etapas que abordaremos o cuidado neste trabalho. O primeiro cuidado é caracterizado pelo acolhimento, envolve a comunicação da equipe que recebe o cliente; nessa etapa o paciente necessita escutar. O segundo cuidado é o estabelecimento do vínculo intersubjetivo, em que o corpo transformado gera conflitos internos e o paciente precisa falar [11]. O cuidar como relação terapêutica, segundo os autores pesquisados, significa atender às necessidades do cliente com sensibilidade e presteza, através de ações que promovam o bem-estar do paciente, dessa forma, o cuidado deve envolver tanto a integridade física como a emocional. Para que isso seja possível, a equipe de enfermagem deve desenvolver habilidades de observação e diálogo, a fim de identificar os problemas vivenciados pelo cliente dentro do seu contexto cultural e social [3]. O terceiro cuidado é a técnica em si, envolve a disposição de equipamentos. Nesse momento o cliente necessita enfrentar [11]. De acordo com a literatura, são cuidados de enfermagem durante o procedimento de hemodiálise: explicar ao cliente o procedimento a ser realizado; fazer assepsia do local de conexão da extensão entre máquina e paciente; verificar pressão arterial a cada 15 minutos, durante todo o procedimento; observar a frequência cardíaca e estar atento a reações anormais do cliente tais como: cefaleia, febre, cãibra, hipotensão ou hipertensão, prurido, náuseas, dor lombar, sinais de embolia gasosa, hemorragias e convulsão [2]. Um estudo citou como cuidados de enfermagem relacionados ao procedimento de hemodiálise a verificação do peso do paciente antes e após a sessão. Segundo os autores esse procedimento tem por objetivo detectar o ganho acumulado entre uma sessão e outra. Afirmam que através deste dado a equipe consegue avaliar a ingestão hídrica e alimentar do paciente em casa e verificar sua adesão aos padrões estabelecidos para uma vida com riscos minimizados [12]. A aferição da pressão arterial, outro cuidado citado na literatura, oferece dados para comparação durante toda a hemodiálise, logo após é realizado o procedimento de punção da fístula, observando sua exata localização e por fim se realiza a troca do curativo e o desligamento da máquina [12]. Outro estudo publicado, em 2009, mostrou que ao realizar o curativo da fístula arteriovenosa, 47,2% dos profissionais de enfermagem o fazia de forma correta, por meio de leve compressão com gaze por aproximadamente cinco minutos, seguido de curativo levemente compressivo sem circulares com fita adesiva e gazes após a hemostasia completa. O que é fundamental para se evitar a ocorrência de sangramento intenso após o procedimento de hemodiálise [5]. Com relação à maturação da fístula arteriovenosa (FAV), o mesmo estudo demonstrou que todos os profissionais esperavam quatro semanas ou mais para puncionar a fístula pela primeira vez. Resultado considerado satisfatório pelos pesquisadores, uma vez que o tempo de maturação influencia na sobrevida da FAV [5]. 57

64 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Além desses cuidados de enfermagem são citados: as orientações acerca do cuidado com a fístula, necessidade de permanência e frequência nas sessões estabelecidas no tratamento e ainda quanto à possibilidade de busca de outras clínicas mais próximas de suas casas, a fim de evitar a falta do paciente à sessão [12]. O quarto cuidado é marcado pela capacidade e estímulo para o autocuidado, necessita de adesão do cliente que nesta fase precisa de apoio [11]. Ao considerar as características pessoais de comportamento de cada cliente, torna possível identificar vários problemas importantes que se manifestam por alterações fisiológicas significativas, que podem contribuir para prevenir e/ou impedir complicações futuras expressas na mudança no comportamento dos pacientes assistidos pela equipe de enfermagem [13]. No quinto cuidado, o paciente precisa ser avaliado. Nesse momento se observa os resultados alcançados, pois o cliente precisa saber quais são as suas possibilidades e quando precisará retornar a unidade para uma nova reavaliação [11]. Para que se possa prestar uma assistência de qualidade é necessário que o enfermeiro planeje suas ações, o que implica em estabelecer objetivos para a assistência, analisando suas consequências e dificuldades de aplicação, optar entre alternativas e possibilidades, determinar metas a serem alcançadas, além de desenvolver estratégias adequadas de execução da terapêutica proposta [14]. O processo de enfermagem dividido em cinco fases: coleta de dados, diagnóstico, plano de ação, implementação e evolução é considerado uma maneira organizada de sistematizar a assistência de enfermagem [15]. A coleta de dados é essencial para a elaboração das metas e implementação da prescrição. É importante que se estabeleçam informações gerais acerca do padrão respiratório, circulação, eliminação, sono, repouso, atividade física, hidratação, nutrição e higiene, além de dados de identificação como nome completo, idade, endereço e número do prontuário [15]. Através do peso seco, diurese residual e a quantidade da ingesta hídrica a enfermeira pode controlar o balanço hídrico e avaliar a hidratação do paciente [15]. Ao avaliar a capacidade motora, o enfermeiro identifica limitações de locomoção do cliente, o que possibilita planejar um transporte adequado para esse cliente e ações que propiciem conforto durante a sessão de hemodiálise. O mesmo pode ser implementado para aqueles pacientes com limitações visuais, auditivas e de dicção que também necessitam de atendimento diferenciado [15]. Além das informações já citadas, também é importante que se identifique, durante a entrevista, reações alérgicas, acesso dialítico além de uma avaliação criteriosa da pele em busca de alterações como feridas, vermelhidão e outros. Após a coleta de dados, estabelece-se os diagnósticos de enfermagem com base na taxonomia de NANDA, em seguida a evolução de enfermagem que segundo os autores é uma síntese, uma avaliação global do plano de cuidados. E por fim a prescrição de enfermagem, que deve ser diária, que visa coordenar a ação da equipe atendendo as necessidades básicas e específicas de cada cliente [15]. O sexto cuidado envolve a rotina do tratamento, o paciente se sente sobrecarregado, vê sua vida se transformar junto com seu corpo, à medida que tenta se adaptar a sua nova realidade, nesse momento o cliente necessita de compreensão [11]. O cuidado do paciente renal crônico precisa ser renovado e incluir formas alternativas, para quebra de rotina. Autores sugerem a inclusão da música, pois acreditam que complementam o atendimento convencional além de ser agradável a maioria dos pacientes, como forma de ocupar o tempo durante o tratamento [16]. Ao entrar em um programa de hemodiálise o paciente com insuficiência renal crônica, convive diariamente com o fato de ter uma doença crônica, que o obriga a realizar um tratamento doloroso e longo e ainda provoca alterações de grande impacto, tanto na sua vida como de seus familiares [17]. O sétimo cuidado é caracterizado pelo seu reencontro com a cidadania envolve a possibilidade de mudança e inserção do mesmo ao convívio social, já que ele precisa resgatar sua autonomia [11]. A literatura pesquisada cita, além de cuidados técnicos como intervenção de enfermagem, o apoio social, a educação e as orientações. Deve, ainda, oferecer ao cliente a oportunidade de conhecer mais sobre sua doença, tratamento e possibilidades, de maneira que os auxiliem na adoção de mecanismos de adaptação a situação vivida por esses clientes [18]. Receber um diagnóstico de insuficiência renal e a necessidade de realizar um tratamento hemodialítico é assustador. De uma hora para outra o cliente se vê inserido em uma rotina dolorosa em 58

65 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) que precisa dispensar boa parte do seu tempo às sessões de hemodiálise e não por raras vezes precisa deixar seu emprego, recebendo uma aposentadoria por invalidez temporária. A equipe de enfermagem está mais perto do cliente e muitas vezes é quem organiza o cuidado e tira dúvidas sobre a doença e tratamento, sempre manifestadas pelo cliente e familiares. Dessa forma, conforme os autores citados, o paciente precisa de um cuidado sistematizado que vai além da técnica. Precisa de apoio e ser ouvido, entender sobre sua doença, tratamento e possíveis expectativas, e a equipe de enfermagem precisa estar preparada para atendê-lo em todas as suas necessidades, além de ser uma equipe comprometida em realizar um cuidado de maneira eficaz e baseada em conhecimentos técnicos e científicos. Cuidando do paciente com complicações relacionadas ao procedimento de hemodiálise. A comorbidade dos pacientes em tratamento dialítico é elevada e se relaciona a doenças cardiovasculares, hipertensão arterial sistêmica, suscetibilidade à infecção, anemia, elevada prevalência das hepatites b e c, desnutrição, doenças ósseas entre outros [1]. Os autores pesquisados consideram que houve um grande avanço em relação à segurança e eficácia das máquinas utilizadas no tratamento de hemodiálise, o que o tornou mais seguro. Embora as máquinas possuam alarmes, que indicam qualquer tipo de alteração no sistema como presença de bolhas, alterações de temperatura e fluxo de sangue, não garantem que nenhuma complicação deixe de surgir durante esse procedimento [19]. A febre, quando de baixa intensidade durante o procedimento de hemodiálise, pode ser relacionada a pirogênios presentes na solução dialítica e não a uma infecção verdadeira [19]. Em caso de febre deve-se verificar a temperatura do cliente e da máquina de hemodiálise, colher amostras de cultura do paciente e da máquina. O uso de antitérmicos e antibióticos como profilaxia de infecções graves não devem ser descartados e devem ser utilizados a critério do médico assistente. A remoção do cateter também é recomendada nesses casos, pois o atraso de sua remoção pode ressaltar em complicações sépticas que poderiam ser evitadas [19]. A presença de um cateter para realizar o procedimento de hemodiálise contribui com o aparecimento de bacteremia, que pode resultar em complicações sérias como endocardite, choque séptico, osteomielite, artrite séptica, abcesso epidural e embolia séptica. O risco de hospitalização e morte desses pacientes chega a ser duas a três vezes maior, quando comparados com pacientes que usam fístula arteriovenosa (FAV) ou enxerto [1]. Um estudo realizado no ano de 2009 mostrou que as maiores taxas de infecção em pacientes submetidos a procedimentos hemodialítico se relacionam aos cateteres temporários quando comparados aos tunerizados ou fístulas e enxertos. Apontou, ainda, como fatores de risco para a ocorrência da infecção o baixo nível sérico de creatinina, a higiene inadequada do paciente, a inserção em veias jugulares e femoral e tempo de permanência do cateter, diabetes melitos, número de tentativas de punção intravenosa, falta de comprometimento com o número de sessões de hemodiálise e hipoalbuminemia [6]. Outro estudo demostrou que 55,5% dos profissionais de enfermagem não reconhecem todas as complicações da FAV, tais como: baixo fluxo, trombose, infecções, aneurisma e isquemia na mão. Isso foi considerado preocupante pelos autores, uma vez que consideram fundamental que os profissionais conheçam tais complicações para prestar uma boa assistência aos pacientes [5]. Segundo a literatura pesquisada, pacientes que se encontram com altos níveis de creatinina, ureia, potássio e hipovolêmicos, aliados a falta de acesso vascular necessário para se realizar a hemodiálise, estão propensos à elevada taxa de morbidade e a um maior risco de mortalidade. Isso ocorre por se tratar de uma síndrome que se caracteriza pela redução drástica da filtração glomerular acompanhada por distúrbios ácidos e básicos, hidroeletrolíticos, retenção de toxinas do metabolismo endógeno [1]. Durante a hemodiálise surgem como complicações mais comuns hipotensão, cãibras, náuseas e vômitos, cefaleia, dor torácica, dor lombar, prurido, febre e calafrios. Como complicações menos comuns, mas capazes de provocar à morte do paciente: a síndrome do desequilíbrio, reações de hipersensibilidade, arritmia, hemorragia intracraniana, convulsões, hemólise e embolia gasosa [19]. A hipovolemia e a hipotensão arterial ocorrem quando o ritmo de ultrafiltração ultrapassar a capacidade de preenchimento vascular. Considerada pela literatura como as complicações mais frequentes [19]. Surgem pela disfunção cardíaca e pela retirada 59

66 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) em excesso de volume intravascular, principalmente no início da terapia dialítica enquanto ocorre o preenchimento do circuito da máquina pelo sangue [20]. De maneira geral as causas mais comuns da hipotensão durante o procedimento de hemodiálise se relacionam a flutuações na velocidade de ultrafiltração, velocidade de ultrafiltração alta, peso seco almejado muito baixo, superaquecimento da solução de diálise, anti-hipertensivos, ingesta de alimentos, neuropatia automotora, disfunção diastólica, frequência cardíaca e contratilidade e isquemia tecidual. Os sintomas da hipotensão variam e podem surgir tontura, náuseas, calor e sudorese, sensação de desfalecimento, bocejos frequentes, dor precordial, taquicardia, dificuldades respiratórias, cãibras musculares, palidez cutânea, apatia e confusão mental [19]. Em caso de hipotensão a literatura recomenda que o cliente seja colocado em posição de Trendelemburg. Deve-se administrar bolus de 100 ml de soro fisiológico a 0,9% ou mais, caso seja necessário, e reduzir a velocidade de ultrafiltração para o mais próximo do zero possível. As cãibras musculares, outra complicação citada na literatura, ocorrem quando os líquidos e eletrólitos deixam rapidamente o espaço extracelular. Em geral surgem acompanhadas de hipovolemia e hipotensão podendo persistir mesmo após o estabelecimento da pressão arterial. Como cuidados de enfermagem para as cãibras os autores sugerem a prevenção de episódios de hipotensão, que eliminaria a maior parte dos episódios de cãibras. Indicam também a administração de soluções de glicose ou soro fisiológico hipertônico e gluconato de cálcio para o tratamento agudo das cãibras e a elevação do nível de sódio do banho da diálise, como medida de prevenção antes e após o tratamento [19]. Náuseas e vômitos também podem surgir, durante o tratamento hemodialítico, de causa multifatorial, e normalmente em pacientes com hipotensão, portanto deve-se tratar primeiro a hipotensão. Caso as náuseas e os vômitos persistam, pode-se administrar um antiemético. A cefaleia severa em geral é induzida pelo processo de diálise, como consequência do deslocamento de uma grande quantidade de água e eletrólitos. O uso de analgésicos é indicado para esses casos tanto por via oral, como por via parenteral. A redução da velocidade de fluxo sanguíneo durante o início da diálise também aparece como recomendação na literatura para esses casos. A dor torácica geralmente associada a dor lombar é de causa desconhecida e, portanto, não há um tratamento específico e nem estratégias para a prevenção dessas complicações. A membrana capilar pode ser trocada por uma sintética ou de celulose substituída, porém há controvérsias em relação a esse cuidado. O diagnóstico diferencial da angina, que neste caso existe relação direta com a volemia, leva a uma diminuição do débito cardíaco momentâneo. O prurido conhecido como coceira é considerado como o sintoma de pele mais importante nos pacientes urêmicos e é atribuído ao efeito tóxico da uremia na pele, podendo também estar associado à alergia a heparina e resíduos de oxilato de etileno. Recomenda-se como alternativa de tratamento o uso de emolientes tópicos à base de cânfora, aplicação de ultravioleta, uso de carbonato de cálcio, anti-histaminicos por via oral ou endovenosa e a paratíreoidectomia para os pacientes que apresentam ostedistrofia e hiperparatieoidismo grave [19]. A hipertensão é produzida por ansiedade, excesso de sódio e sobrecarga de líquidos. Caso o excesso de líquidos seja a causa da hipertensão, a ultrafiltração geralmente reduz a pressão sanguínea, levando à normalização da pressão. Após a administração de anti-hipertensivos é importante que a equipe de enfermagem monitore a pressão arterial em intervalos curtos, geralmente a cada 15 minutos. O uso de sedativos também é recomendado, caso a causa se relacione a ansiedade, mas uma boa comunicação e estabilização de uma relação de confiança entre o paciente e a equipe, podem ser suficientes para amenizar a ansisendade [19]. As arritmias cardíacas, frequentes durante a hemodiálise, são geralmente observadas em pacientes com doenças cardíacas, se desenvolvem devido ao significativo volume de sangue extracorpóreo ou às trocas rápidas de líquidos, eletrólitos ou osmolaridade. Além de complicações relacionadas ao estado fisiológico do paciente, também podem surgir complicações mecânicas. As intercorrências durante as sessões de hemodiálise são: ruptura de equipo, geralmente causada por problemas de fabricação, a mal ajustamento da linha na bomba de sangue e a falta de fluxo sanguíneo por mastigamento do seguimento na bomba [20]. Êmbolo de ar no circuito, outra complicação mecânica, ocorre em decorrência da presença de ar na máquina. Esta ocorre com menor frequência, o que é explicado pela literatura devido à presença de detectores de ar nas máquinas, o que tornou essa complicação rara [20]. 60

67 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) De modo geral as intervenções de enfermagem realizadas devem priorizar a avaliação clínica e do nível de consciência do paciente, que se refere ao exame físico, no qual a enfermeira avalia a presença de alterações hemodinâmicas, as condições da pele, o padrão respiratório e a perfusão periférica [20]. O enfermeiro enquanto profissional assistente e mais próximo do paciente deve estar apto para intervir de forma rápida e dinâmica frente às diversas complicações que podem surgir durante o procedimento de hemodiálise. O reconhecimento de maneira eficiente do início de uma complicação dá à equipe a oportunidade de uma assistência segura ao paciente. Assim concordamos que a utilização da sistematização da assistência de enfermagem pode contribuir com esse ideal. Uma boa anamnese e um exame físico detalhado contribui para a identificação de outros problemas concomitantes a insuficiência renal que podem causar complicações. O diabetes é um exemplo, que contribui para dificultar a cicatrização e maturação da fístula arteriovenosa e de distúrbios de coagulação, que são de extrema importância para direcionar o cuidado prestado durante todo o procedimento e até orientações para alta em casos de transplantes. Sabemos enquanto profissionais de saúde que todo procedimento realizado está sujeito ao aparecimento de intercorrências. Estar preparados para agir frente a essas intercorrências é que faz a diferença nos cuidados de enfermagem. Conclusão Percebeu-se que o tema proposto ainda é pouco estudado o que dificultou a realização da pesquisa bibliográfica e consequente discussão do tema proposto. Dos 10 artigos encontrados na base de dados Bireme, 1 se tratava apenas de resumo, 6 abordaram o cuidado generalizado, incluindo a comunicação e o gerenciamento do cuidado, 4 abordaram as complicações durante o procedimento de hemodiálise, sendo que 1 abordava apenas o cuidado em relação a infecção em pacientes submetidos ao processo de hemodiálise. Em relação aos 5 artigos dos periódicos impressos, a maioria abordava temas gerais sobre hemodiálise, como conceitos, modalidades e fístulas arteriovenosas, o que provocou uma discussão baseada em poucas referências bibliográficas. Após análise dos artigos encontrados, foram selecionados autores âncoras em livros e artigos que abordavam sobre o tema proposto, bem como metodologia utilizada para realização do estudo proposto. Assim o presente trabalho conta com 20 referências bibliográficas. Ao término do estudo conclui-se que, ao longo dos anos, o processo de hemodiálise sofreu grandes transformações, as máquinas e equipamentos cada vez mais sofisticados, buscam oferecer segurança ao cliente e apoio a equipe quanto à identificação de complicações tanto inerentes ao paciente como ao próprio equipamento. A equipe de enfermagem, assim como em qualquer outro ambiente, é quem permanece mais próximo do paciente durante todo esse procedimento. Cria laços e vínculos afetivos com os clientes que muitas vezes dispensam grande parte do seu tempo à realização deste procedimento a partir do momento que recebem o diagnóstico da doença. Portanto a equipe deve estar preparada para identificar anseios, medos e dificuldades do cliente em enfrentar esse período que sem dúvida é muito difícil, deve também ser capaz de identificar complicações inerentes ao procedimento que está sendo realizado e agir de forma rápida e eficaz, garantindo o bem estar do cliente e segurança do procedimento. É notório que muitas pesquisas ainda precisam ser realizadas no campo da hemodiálise para que o profissional possa ter subsídios para buscar uma assistência cada vez mais eficiente e qualificada para essa clientela. Referências 1. Oliveira FC, Alves MDS, Bezerra AP. Co-morbidades e mortalidade de pacientes com doença renal: atendimento terceirizado de nefrologia. Acta Paul Enferm 2009;22(1): Figueiredo NMA, Viana DL, Machado WCA. Tratado prático de enfermagem. 2ª ed. São Caetano do Sul: Yendis; Rodrigues TA, Botti NCL. Cuidar e o ser cuidado na hemodiálise. Acta Paul Enferm 2009;22(1): Matos EF, Lopes A. Modalidades de hemodiálise ambulatorial: breve revisão. Acta Paul Enferm 2009;22(especial-nefrologia): Ribeiro RCHM, Miranda ALL, Cesarino CB, Bertolin DC, Ribeiro DF, Kusumota L. Necessidades de aprendizagem de profissionais de enfermagem na assistência aos pacientes com fístula arteriovenosa. Acta Paul Enferm 2009;22(especial-nefrologia): Cais DP, Turrini RN, Strabelli MV. Infecções em pacientes submetidos a procedimento hemodiálitico: revisão sistemática. Rev Bras Ter Intensiva 2009;21(3): Marconi MA, Lakatos EM. Metodologia do trabalho científico. 6ª ed. São Paulo: Atlas;

68 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) 8. Bogdan R, Biklen S. Investigação qualitativa em educação. Porto: Porto; Turato ER. Tratado da metodologia de pesquisa clínico-qualitativa: construção teórico-epistemológica, discussão comparada e aplicação nas áreas de saúde e humanas. Petrópolis: Vozes; Mayring P. Introdução à pesquisa social qualitativa. Weinheim: Beltz; Furtado AM, Penafort VPS, Silva LF, Silveira LC, Freitas MC, Queiroz MVO. Cuidar permanência: enfermagem 24 horas, nossa maneira de cuidar. Rev Bras Enferm 2010;63(6): Resende RC, Porto IS. Cuidado de enfermagem para clientela em hemodiálise: suas dimensões instrumentais e expressivas. Revista Eletrônica de Enfermagem 2009;11(2): Keoppe GBO, Araújo STC. Comunicação como temática de pesquisa na nefrologia: subsídio para o cuidado de enfermagem. Acta Paul Enferm 2009;22(especial- -nefrologia): Willig M H, Lenardt M H, Trentini M. Gerenciamento e cuidado em unidades de hemodiálise. Rev Bras Enferm 2006;59(2): Oliveira SM, Ribeiro RCHM, Ribeiro DF, Lima LCEQ, Pinto MH, Poletti NAA. Elaboração de um instrumento da assistência de enfermagem na unidade de hemodiálise. Acta Paul Enferm 2008;21(esp): Inchoste AF, Mendes P, Fortes VLF, Pomatti DM. O uso da música no cuidado de enfermagem em hemodiálise. Nursing 2007;10(109). 17. Gullo ABM, Lima AFC, Silva MJP. Reflexões sobre comunicações na assistência de enfermagem ao paciente renal crônico. Rev Esc Enferm USP 2000;34(2): Barbosa GS, Valadares GV. Experimentando atitudes e sentimentos: o cotidiano hemodialítico como base para o cuidar em enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm 2009; 13(1): Nascimento CD, Marques IR. Intervenções nas complicações mais frequentes durante a sessão de hemodiálise: revisão da literatura. Rev Bras Enferm 2005;58(6): Silva GLDF, Thome EGR. Complicações do procedimento hemodialítico em pacientes com insuficiência renal aguda: intervenções de enfermagem. Rev Gaúch Enferm 2009;30(1):33-9. Assine já! Enfermagem BRASIL Tel: (11) assinaturas@atlanticaeditora.com.br 62

69 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): ) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp:// na versão atualizada de outubro de Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/ ) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato.tif ou.gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 2. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 3. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 4. Estudo de caso São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 5. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. PREPARAÇÃO DO TEXTO 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos.tif ou.gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavraschave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou . Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e . - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter par ti cipado do trabalho o suficiente para assumir a res pon sabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words, Resumen, Palabrasclave) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodolo gia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: decs.bvs.br. Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: artigos@atlanticaeditora.com.br Consulte o texto completo das Normas em nosso site: 63

70 Janeiro / Fevereiro 2013;12(1) Calendário de eventos a 19 de abril VI Congreso Internacional de Urgencias, Emergencias y Cuidados Intensivos Habana, Cuba urgrav@infomed.sld.cu Abril 18 a 21 de abril Reatech XII Feira Internacional de tecnologias em Reabilitação, Inclusão e Acessibilidade Centro de Exposições Imigrantes, São Paulo, SP Informações: Junho 2 a 5 de junho 17º SENPE - Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem Hotel Praia Mar Natal, RN Informações: (84) abensenpe17@gmail.com 21 a 22 de junho XII Simpósio da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Oftalmologia Ribeirão Preto, SP cenacon@cenacon.com.br Julho Agosto 1 a 3 de agosto 11º SINADEn - Simpósio Nacional de Diagnóstico em Enfermagem Sistematização da assistência de enfermagem e responsabilidade social nos campos de prática profissional PUC Curitiba, PR Informações: Outubro 7 a 10 de outubro 65º Congresso Brasileiro de Enfermagem CBEn Centro de Convenções Sulamérica Rio de Janeiro, RJ Informação: 9 a 11 de outubro I Congreso Internacional Hispano-Luso de Enfermería Lisboa, Portugal Novembro 12 a 15 de novembro IV Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas João Pessoa, PB sobenfee@sobenfee.org.br 24 a 27 de julho 11º Congresso Brasileiro de Enfermagem de Centro Cirúrgico, RA e CME São Paulo, SP eventos@sobecc.org.br 64

71 EDITORIAL Acolhimento como forma de Aproximação Científica via Internet no desenvolvimento de Ambiente Virtual de Aprendizagem: o AVA EspecialiZaida, João Marcelo Rondina...67 ARTIGOS ORIGINAIS Perfil epidemiológico das doenças sexualmente transmissíveis notificadas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação no sul da Bahia, Semírames de Oliveira Bittencourt, Michelle Araújo Moreira...69 Assédio moral entre profissionais de enfermagem do Hospital Regional de Ceilândia/DF, Ítalo Vieira Barros...77 Bem-estar espiritual e música em pacientes com úlceras crônicas: integração ou oposição? Thiago Aparecido Vilas Boas, Vanessa Cristina Souza Cortez, Veronica Ferreira de Aguiar Kawai, Waldere Fabri Pereira Ribeiro, Elaine Aparecida Rocha...84 O conhecimento de uma amostra da população masculina de Manaus sobre a política nacional de atenção integral à saúde do homem: atuação da enfermagem, Andréia Oliveira da Silva, Criste Helen Moraes da Silva, Louane Souza Cruz, Rúbia Deniz Bilibio, Luiz Carlos de Menezes, Luís Antônio Ramos...91 Locus de controle e escolha de métodos contraceptivos entre jovens universitárias de uma escola de enfermagem do sul de Minas Gerais, Rodolfo Souza de Faria, Lara Silvério Silva, Wanessa Cristina de Carvalho Fernandes, Cristiane Giffoni Braga...99 REVISÕES Enfermagem BRASIL Índice Volume 11 número 2 - Março / Abril de 2013 Diagnóstico de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Adulto, Andreza Pinto Aires da Costa, Ana Elza Oliveira de Mendonça O que tem sido divulgado em periódicos científicos online no Brasil sobre violência contra crianças e adolescentes, Daise Laís Machado Ferreira, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler Os cuidados de enfermagem na sala de imunização, Rosimeire Monte de Santana, Jose Eduardo Ribeiro Honório Júnior NORMAS DE PUBLICAÇÃO CALENDÁRIO DE EVENTOS...128

72 Março / Abril 2013;12(2) EDITOR CIENTÍFICO Presidente do Conselho Científico Prof a. Dr a. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Adriano Menis Ferreira (UFMS Mato Grosso do Sul) Prof a. Dr a. Aida Mendes (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Portugal) Prof a. Dr a. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Prof. Dr Ari Nunes Assunção (UNISC Santa Cruz do Sul) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Prof. Dr. Carlos Roberto Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Dalmo Valério Machado de Lima (UFF Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Eliane Aparecida Sanches Tonolli (UEM Maringá) Prof a. Dr a. Jacileide Guimarães (UFRN Rio Grande do Norte) Prof. Dr. José Verdú Soriano (Universidad de Alicante Espanha) Prof a. Drª Leila Rosa dos Santos (ISBL Londrina) Prof a. Dr a. Márcia Galan Perroca (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) Prof a. Dr a. Márcia Maria Fontão Zago (USP Ribeirão Preto) Prof a. Dr a. Margarethe Maria Santiago Rêgo (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Maria da Graça Piva (ULBRA RS) Prof a. Dr a. Maria Ermelinda Miranda Ribeiro Jaques (Escola Superior de Enfermagem IPVC Portugal) Prof a. Dr a. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Marialda Moreira Christoffel (UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Meives Aparecida Rodrigues de Almeida (UNICAMP Campinas) Prof a. Drª Mércia Heloisa Ferreira da Cunha (UFMG Belo Horizonte) Prof a. Dr a. Nadia Antonia Aparecida Poletti (FAMERP São José do Rio Preto) Prof a. Dr a. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Roberto Carlos Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Prof a. Dr a. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP Ribeirão Preto) Prof a. Drª. Soraia Dornelles Schoeller (UFSC Santa Catarina) Prof a. Dr a. Taka Oguisso (USP São Paulo) Prof a. Drª Teresa Tonini (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dra. Valéria Lerch Lunardi (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Vera Regina Salles Sobral (UFF Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wiliam César Alves Machado (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wilson D. Lunardi Filho (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) GRUPO DE ASSESSORES Prof a. Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Ms. Maria Filomena Vancellote Almeida (UniRio Rio de Janeiro) Prof. Ms. William Malagutti (UGF São Paulo) Enfermagem Brasil é indexada no CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro São Paulo SP Atendimento (11) / assinaturas@atlanticaeditora.com.br Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 atlantica@atlanticaeditora.com.br Administração e vendas Antonio Carlos Mello mello@atlanticaeditora.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br Diretor de Marketing e Publicidade Rainner Penteado rainner@atlanticaeditora.com.br Imprensa release@atlanticaeditora.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de artigos@atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Neurociências, Nutrição Brasil e Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício. ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado. 66

73 Editorial Acolhimento como forma de Aproximação Científica via Internet no desenvolvimento de Ambiente Virtual de Aprendizagem: o AVA EspecialiZaida João Marcelo Rondina* A grande maioria dos alunos hoje navega com naturalidade pela Internet, acessa informações, participa de redes sociais, ouve música e assiste a vídeos online. As escolas e os educadores buscam estabelecer uma conexão entre estes novos hábitos e os processos de ensino e aprendizagem. Com objetivo de atender a esta demanda, surgiu uma nova categoria de software, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA). Trata-se de um tipo de sistema que permite o controle de conteúdos, professores e alunos na condução de cursos e disciplinas através da internet, pois oferece tecnologias que ampliam os limites de tempo e espaço para a realização de atividades à distância. Neste contexto, em 2008 desenvolveu-se um AVA para os cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em Enfermagem Obstétrica, Enfermagem do Trabalho e Medicina do Trabalho, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto/SP. O AVA recebeu o nome de EspecialiZaida (www. especializaida.com.br), em homenagem à Profa Dra Zaida Aurora S.G. Soler, idealizadora do projeto, organizadora e coordenadora geral dos Cursos de Especialização em Enfermagem do Trabalho e Enfermagem Obstétrica e coordenadora gerencial da Especialização em Medicina do Trabalho. Estes cursos são autofinanciáveis e ministrados em parceria com o Centro de Estudos do Departamento de Enfermagem em Saúde Coletiva e Orientação Profissional CEDESCOP (Enfermagem do Trabalho e Enfermagem Obstétrica) e com a Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão de Serviços à Comunidade da FAMERP (FAEPE). Na construção desta solução, observaram- -se três dimensões, propostas por Martin Weller, a saber: Institucional/Tecnológica, Usuário/ Estudante e Acadêmica. Cada uma destas dimensões possui foco nas principais características que devem ser atendidas pelo AVA: os alunos, a equipe pedagógica e a tecnologia. Para a dimensão tecnológica buscou-se uma plataforma computacional robusta e confiável, a qual pudesse *Bacharel em Ciências de Computação pela UNESP (IBILCE), Especialista em Administração de Empresas com ênfase em Marketing pela FAAP, Mestre em Engenharia Elétrica pela UNESP (FEIS) e Doutor em Ciências da Saúde (FAMERP), Coordenador do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu Tecnologia de Desenvolvimento de Sistemas (Centro Universitário SENAC), Responsável pelo Núcleo de Informática da FAMERP, Chefe da Disciplina Informática do Curso de Medicina da FAMERP, Professor docente do Departamento Epidemiologia e Saúde Coletiva (DESC). Professor do curso de graduação de Medicina e Enfermagem da FAMERP, Professor da Pós-Graduação Lato Sensu da FAMERP, Membro da Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS), site: 67

74 Março / Abril 2013;12(2) atender a centenas de alunos simultaneamente, com qualidade e segurança. Escolheu-se, para implementar o AVA, o sistema Moodle Versão 2.0, cujos usuários contam com a existência de uma grande comunidade, no Brasil e no mundo, composta por programadores de software e educadores, formadora de uma extensa rede de conhecimento. A dimensão tecnológica, dada a sua importância, deve ser bem planejada, pois a prestação de um serviço desta natureza traz diversos desafios: precisa funcionar dia e noite, sem interrupção; incorporar suporte conteúdos complexos, como vídeos e imagens em alta definição; atender às muitas particularidades dos computadores, tablets e smartphones dos alunos. Na extensa tarefa de configuração do AVA, alguns detalhes foram observados, com o objetivo de atender especificamente o profissional da saúde. Destaca-se a influência determinante, e sempre presente no desenvolvimento deste projeto, do conceito de acolhimento, tão próprio ao enfermeiro enquanto cuidador. Essa preocupação foi permeada a todas as ações empreendidas, a começar pela criação de uma equipe de suporte técnico para atendimento aos alunos e professores. Este grupo é formado por especialistas em computação, que atuam no meio virtual, mas também estão presentes no modo presencial, nos dias de aula, opção que permite ao aluno um contato direto com os técnicos do suporte e não somente através de um botão, link ou avatar. A dimensão pedagógica também foi influenciada pelo conceito de acolhimento: mesmo com a possiblidade de utilização plena do AVA para todas as atividades relacionadas ao curso, mantiveram-se as aulas presenciais e o contato direto com os professores. A metodologia escolhida para dar suporte a esta visão foi a blended learning, na qual utiliza-se o AVA para complementar os encontros presenciais, direciona-se a ferramenta principalmente para apoio aos alunos, de modo a permitir acesso a conteúdo, informações sobre o curso, troca de mensagens com os professores e a coordenação, além do envio de atividades e arquivos. Há que se destacar, nestes cenários apresentados, os novos desafios trazidos pelas redes sociais da internet, como, por exemplo, o Twitter e o Facebook. A ampla aceitação destas tecnologias, pelos alunos, motiva a empreender uma maior integração das mesmas com o AVA, cujo resultado é uma maior aproximação junto ao cotidiano das pessoas envolvidas nestes processos. É uma nova perspectiva, que motiva a busca por novas práticas e soluções, com o objetivo de aproveitar todas as oportunidades possíveis de promoção do ensino-aprendizagem via Internet, na área da saúde. Os resultados dos anos de utilização do AVA EspecialiZaida permitem esta conclusão. 68

75 Artigo original Perfil epidemiológico das doenças sexualmente transmissíveis notificadas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação no sul da Bahia Semírames de Oliveira Bittencourt*, Michelle Araújo Moreira, D.Sc.** *Graduada em Enfermagem pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus/BA, **Enfermeira, Sanitarista, Professora Adjunta de Saúde da Mulher da Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, Departamento de Ciências da Saúde, Orientadora da pesquisa Resumo Introdução: As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) são a segunda maior causa mundial de adoecimento entre mulheres com cerca de 10 milhões de casos/ano. Objetivo: Traçar o perfil epidemiológico das DST notificadas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) na cidade de Itabuna/BA. Material e métodos: Estudo quantitativo, descritivo e exploratório com coleta de dados no SINAN, na série temporal de 2007 a Resultados: Verificou-se que a média de notificações foi de 27,2 casos para AIDS, 131,2 para hepatite e de 13 para sífilis gestacional. A proporção de casos permanece predominante no sexo masculino, apesar do aumento na população feminina, sugerindo o fenômeno da feminização. Em relação à faixa etária, perceberam-se maior número de casos entre 20 e 29 anos (AIDS), 30 a 39 anos (Hepatite), 20 a 29 anos (Sífilis). Quanto à escolaridade, identificou-se que os sujeitos com ensino fundamental estão entre os mais acometidos. No que tange à cor/etnia, nota-se maior número de negros em relação aos brancos. Conclusão: Identificou-se um número expressivo de DST entre jovens, homens e mulheres, negros e com ensino básico. Nota-se que o processo de subnotificação dificulta a análise do perfil epidemiológico, o que interfere no planejamento local de ações de controle e prevenção. Palavras-chave: doenças sexualmente transmissíveis, perfil de saúde, notificação de doenças, saúde da mulher. Abstract Epidemiological profile of sexually transmitted diseases notified by Notifiable Disease Information System in southern Bahia Introduction: Sexually Transmitted Diseases (STD) are the second leading cause of illness among women worldwide with approximately 10 million cases per year. Aim: To describe the epidemiology profile of STD reported by the Notifiable Disease Information System (SINAN) at Itabuna, Bahia. Methods: This was a quantitative, descriptive and exploratory study with data collection in SINAN in time series from 2007 to Results: Was verified that the average number Artigo recebido em 21 de agosto de 2012; aceito em 27 de março de Endereço para correspondência: Michelle Araújo Moreira, Condomínio Jardim Boa Vista, bloco C, apto 302, Boa Vista, Ilhéus BA, michelleepedro@uol.com.br. 69

76 Março / Abril 2013;12(2) of notifications was 27.2 cases for AIDS, for hepatitis and 13 for gestational syphilis. There is a predominance of male cases, although the increase in the female population, suggesting the phenomenon of feminization. In relation to age group, was pointed a higher number of AIDS cases between adults years old, years old (Hepatitis), years old (Syphilis). Regarding education, was observed that patients with primary education are among the most affected. Regarding the color/ethnicity, there are more African-american people infected than white people. Conclusion: Was identified a significant number of STDs among young men and women, African-american and with primary education. The sub-notification process causes difficulties in analyzing the epidemiological profile, which interferes with the local planning actions of controlling and prevention. Key-words: sexually transmitted diseases, health profile, disease notification, women s health. Resumen Perfil epidemiológico de enfermedades de transmisión sexual notificadas por el Sistema de Información sobre Enfermedades de Declaración Obligatoria en la microregión del sur de Bahia Introducción: Las Enfermedades de Transmisión Sexual (ETS) representan un problema de salud pública en Brasil, porque es la segunda mayor causa de enfermedades entre mujeres en todo el mundo con aproximadamente 10 millones de casos/ años. Objetivo: Describir el perfil epidemiológico de las ETS reportados por el Sistema de Información sobre Enfermedades de Declaración Obligatoria (SINAN) en la ciudad de Itabuna, Bahía. Material e métodos: Estudio cuantitativo, descriptivo y exploratorio que utilizó la colecta de datos en el SINAN, en la serie temporal de 2007 a Resultados: Se verificó un promedio de notificaciones de 27,2 casos del SIDA, 131,2 de hepatitis y de 13 de sífilis gestacional. La proporción de casos sigue siendo predominante en los varones respecto a las mujeres, a pesar del aumento en la población femenina, lo que sugiere el fenómeno de la feminización. En relación al grupo de edad, se registró un mayor número de casos de SIDA entre los 20 y los 29 años, de hepatitis entre 30 y 39 años y de sífilis entre 20 y 29 años. En cuanto a la educación, se identificó que los sujetos con educación primaria se encuentran entre los más afectados. Con respecto al color/etnia, había mayor número de negros infectados en relación a los blancos. Conclusión: Se identificaron un número significativo de ETS entre jóvenes, hombres y mujeres, negros y con educación básica. Se observa que el proceso de subnotificación permite dificultades en el análisis del perfil epidemiológico, que interfiere en la planificación de acciones locales de control y prevención. Palabras-clave: enfermedades de transmisión sexual, perfil de salud, notificación de enfermedad, salud de las mujer. Introdução As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) estão entre os problemas de saúde pública mais frequentes em todo o mundo. Estes agravos por provocarem inflamação e/ou ulceração genital da pele e mucosas facilitam a infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), resultando em complicações que podem levar à esterilidade feminina e masculina, infecções congênitas, aborto, nascimento de bebês prematuros, deficiência física ou mental, alguns tipos de câncer e até a morte [1-3]. As DST representam a segunda maior causa mundial de adoecimento entre as mulheres de 15 a 49 anos, sendo que a cada ano surgem 333 milhões de casos novos. No Brasil, a avaliação epidemiológica torna-se ineficiente em virtude da subnotificação de casos confirmados. Percebe-se que o Brasil tem uma baixa implementação na notificação compulsória, além de um atendimento deficitário aos usuários com DST, o que torna o número de casos notificados abaixo da estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), algo em torno de 200 mil casos ao ano. Por esta razão, os dados relacionados à incidência de DST são parcos, salvo em relação à Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) e sífilis [3,4]. Em relação ao HIV, a epidemia apresenta um aumento no número de casos entre os heterossexuais, mulheres, jovens, pessoas com baixa escolaridade e renda, sugerindo o fenômeno da feminização, pauperização e interiorização do agravo. Assim, o Boletim Epidemiológico de 2011 destaca que em 1989, a razão de sexos era de cerca de seis casos de AIDS no sexo masculino para cada caso no sexo feminino. Em 2010, chegou a 1,7 casos em homens 70

77 Março / Abril 2013;12(2) para cada um em mulheres. Dentro desta população, destacam-se mulheres em união consensual ou casadas com muito tempo de relacionamento afetivo e sexual [4-6]. Em virtude do cenário apresentado, sabe-se que as questões de gênero são aspectos preponderantes para entender as relações entre os sujeitos, como estas influenciam nas relações de poder estabelecidas entre homens e mulheres no meio social, bem como na sexualidade e vulnerabilidade feminina às DST. Para tanto, a vulnerabilidade pode ser entendida como: (...) o resultado de uma conexão de fatores que podem ser individuais (biológicos, cognitivos e comportamentais), culturais (submissão a padrões e crenças morais, hierarquias, relações de poder, questões de gênero) e sociais (relacionados às questões econômicas e sociais), dependentes entre si e mutuamente influenciáveis, assumindo pesos e significados diversos que variam no decorrer do tempo e determinam o grau de susceptibilidade de indivíduos e grupos em relação a questões de saúde (...) [7]. Dessa forma, as relações desiguais entre homens e mulheres são observadas nos diferentes meios políticos, culturais e socioeconômicos, tendo expressão no âmbito das famílias e parcerias, sociedade e culturas, estas organizadas em sistemas de crenças, códigos e valores, atuando conjuntamente como fatores para a vulnerabilidade das mulheres às DST [8-10]. Com relação à vulnerabilidade sexual nota-se que esta permanece atrelada às relações entre as parcerias. O aparecimento das DST pode desestruturar os relacionamentos pela instabilidade na relação de confiança entre os pares. Além disso, na maioria das vezes, quando um parceiro negocia o uso do preservativo são levantadas desconfianças no que tange à fidelidade. Essas questões dificultam o desenvolvimento de estratégias de prevenção às DST, especialmente para pessoas que vivem relacionamentos estáveis. A inexistência de diálogo sobre sexualidade entre os casais torna difícil qualquer adoção de medidas preventivas e, muitas vezes, este diálogo só ocorre em momentos de tensão, como é o caso da presença de uma DST. Portanto a suscetibilidade às DST aumentou consideravelmente ao longo dos anos devido ao comportamento sexual desprotegido, creditando apenas o fator confiança nas parcerias [11,9]. No que tange à suscetibilidade relacionada ao fator idade, nota-se que a AIDS é incidente em ambos os sexos, preferencialmente na faixa etária de 25 a 49 anos. Contudo, evidencia-se um aumento gradativo dos casos entre jovens de 13 a 19 anos. Essa faixa etária apresenta um grande número de casos de AIDS, sobretudo nas mulheres. Isso ocorre em decorrência da atividade sexual precoce, multiplicidade de parceiros sexuais, modificações físicas e psíquicas típicas da adolescência, caracterizando-a como um período marcado por intensas transformações no comportamento sexual. Os jovens vivenciam etapas conflituosas no comportamento sexual e passam por diversas influências sociais, culturais, familiares e midiáticas. Essas influências repercutem diretamente nas suas atitudes com o próprio corpo e com os agravos que dele derivam. Nesta fase, percebe-se grande vulnerabilidade física, psicológica e social. A vulnerabilidade pode ser entendida como a junção dos diferentes fatores e está na dependência da capacidade de reinterpretar criticamente os estímulos sociais de perigo e/ou risco [3,5,12,13]. Focando nas questões étnicas e raciais, os dados confirmam que a proporção de casos de AIDS no ano de 2009 foi predominante na raça branca (47,7%) seguida da cor parda (35,8%) e preta (11,0%). Nota- -se que há uma prevalência equiparada entre brancos e negros, visto que a cor parda é enquadrada atualmente dentro da etnia negra pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) [14]. Quanto à escolaridade, em 2009, 25,1% do total de indivíduos notificados para AIDS possuíam entre quatro e sete anos de estudo, 30,0% entre 8 e 11 anos e 8,8% entre um a três anos. Observa-se uma tendência no aumento do número de casos de AIDS em pessoas com nível de escolaridade mais elevado, revelando dificuldades no uso do preservativo mesmo com acesso às informações [14]. Considerando o número ampliado de casos nacionais e a subnotificação das DST associado à importância do SINAN na elaboração de propostas gestoras para minimizar a vulnerabilidade sexual dos sujeitos, justifica-se a necessidade do estudo. Este se propôs a traçar um perfil epidemiológico das DST notificadas em um município do interior da Bahia, fornecendo subsídios para que gestores, profissionais da saúde e comunidade envolvida possam pensar em estratégias de cuidado ampliado. 71

78 Março / Abril 2013;12(2) Além disso, a definição do perfil epidemiológico das DST mais prevalentes na cidade de Itabuna-Bahia contribuirá para que profissionais da saúde e de áreas correlatas possam desenvolver ações adaptadas ao padrão social, econômico, cultural, típico desta localidade, garantindo a elaboração de outros estudos que possam discutir a vulnerabilidade sexual. Diante do apresentado, definiu-se como objetivo geral: traçar o perfil epidemiológico das DST notificadas pelo SINAN na cidade de Itabuna-Bahia segundo variáveis de sexo, faixa etária, escolaridade e cor/etnia. Para isto, tive como objetivos específicos: Levantar as DST notificadas pelo SINAN na cidade de Itabuna-Bahia. Discutir a ocorrência das DST notificadas pelo SINAN na cidade de Itabuna e a sua relação com a vulnerabilidade sexual. Material e métodos Trata-se de um estudo quantitativo, descritivo e exploratório. A abordagem quantitativa compreende o estudo do comportamento de variáveis individuais ou de maneira associativa [15]. Este autor acredita que a perspectiva quantitativa permita o entendimento de um objeto, garantindo um grau de validez externa e interna e, dessa forma, proponha programas de intervenção concretos e adequados às particularidades de todos os setores sociais que se pretende atingir. A perspectiva descritiva tem por finalidade principal conhecer as características de um determinado fenômeno para procurar, posteriormente, explicações das causas e consequências do mesmo [16]. O lócus do estudo foi o município de Itabuna, situada no Estado da Bahia. Este município possui uma população total estimada em habitantes e uma população urbana de pessoas. A gestão em saúde define-se pela gestão plena da atenção básica ampliada, contando com os serviços da atenção primária em 32 unidades, das quais 21 correspondem às Estratégias de Saúde da Família (ESF). Para a coleta foram utilizados os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) referentes às DST notificadas na cidade de Itabuna-Bahia a exemplo da AIDS, Hepatite B e Sífilis Gestacional, na série temporal de 2007 a 2011, levantado na Vigilância Epidemiológica Municipal. Convém destacar que foram respeitados os aspectos éticos, respaldada na Lei nº de 19 de fevereiro de 1998 que trata dos direitos autorais [17]. Salienta-se que não houve necessidade de submissão do projeto a um Comitê de Ética em Pesquisa por tratar-se de estudo descritivo com utilização de dados secundários proveniente do sistema nacional de notificação de agravos. Para ampliar a fundamentação teórica, realizou-se um levantamento bibliográfico sobre a temática nas bases de dados Scientific Eletronic Library On line (Scielo), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) em uma série temporal de 2006 a 2011, utilizando como língua oficial o português e os descritores em saúde: vulnerabilidade sexual, DST, perfil epidemiológico, gênero. Além disso, utilizaram-se livros e manuais sem definição histórica. Os dados quantitativos oriundos do SINAN foram tratados estatisticamente por proporções com a devida apresentação em gráficos a seguir. Resultados e discussão As principais DST registradas no município de Itabuna e classificadas como de notificação compulsória, no período de 2007 a 2011, foram a AIDS, Hepatite B e Sífilis gestacional, tratadas segundo variáveis de sexo, faixa etária, escolaridade e etnia, apresentadas abaixo em ordem sequencial. AIDS Gráfico 1 - Proporção de casos de AIDS por sexo, Itabuna/BA, 2007 a % 70% 70% 59,09% 59,09% 30,00% 30,00% 40,90% 40,90% 20,00% De acordo com o Gráfico 1, houve predomínio de 70% em homens e 30% em mulheres nos anos de 2007 e 2008, sendo que nos anos de 2009 e 2010 manteve-se um equilíbrio entre homens e mulheres atingindo 59,09% e 40,90%, respectivamente. No ano de 2011, há um retorno 72

79 Março / Abril 2013;12(2) no número ampliado de casos em homens (80%) em comparação às mulheres (20%), o que reflete que a proporção mantém-se preferencialmente no sexo masculino. Este aumento decorre das crenças e tabus que permeiam o uso do preservativo e que acabam acarretando em descuido nas condutas de autocuidado, sobretudo, entre os assintomáticos [4]. Além disso, a política de controle populacional no Brasil sempre responsabilizou as mulheres pelo cuidado com os métodos de prevenção da gravidez e das DST, o que as fez utilizar massivamente as pílulas anticoncepcionais em detrimento do uso do preservativo, aumentando a vulnerabilidade à infecção pelo HIV, caracterizando o fenômeno de feminização da AIDS conforme segue o gráfico acima em virtude das relações desiguais entre homens e mulheres [18]. Gráfico 2 - Proporção de casos de AIDS por faixa etária, Itabuna/BA, 2007 a % 3% 4% 15 a a 29 30% 32% 30 a a 49 28% 50 a e mais Quanto à faixa etária (Gráfico 2), verifica-se que o maior número de casos de AIDS concentra- -se entre 20 e 29 anos (32%), seguido por 40 e 49 anos (30%) e 30 e 39 anos (28%). Destaca-se ainda um aumento discreto no número de casos na faixa acima dos 50 anos, estimativa relacionada aos avanços tecnológicos com modificação no padrão sexual e comportamental dos sujeitos, a exemplo da utilização de próteses genitais, medicamentos para disfunção erétil, tratamentos hormonais continuados, o que tem contribuído para o prolongamento da vida sexual. Outro fator de destaque seria a desmistificação do sexo por parte dos indivíduos de meia idade, tornando-os mais livres na condução das relações sexuais. Contudo, existem questões geracionais sobre prevenção das DST que contribuem para o aumento da vulnerabilidade na terceira idade pelo fato dos mesmos carregarem tabus e mitos de gerações predecessoras, muitas vezes, internalizados nas relações afetivas [19]. Verifica-se ainda que a prevalência nacional de AIDS encontra-se na faixa etária de 25 a 49 anos, o que valida os dados encontrados no estudo com maior probabilidade de infecção na população jovem. Estes dados justificam-se em virtude da concepção mais liberal sobre a sexualidade iniciada, no século XX, com a realização de práticas sexuais múltiplas e menos comprometidas. Com isso, os jovens iniciaram as práticas sexuais precocemente, negligenciando o uso de preservativo e de métodos contraceptivos, aumentando a exposição ao HIV/ AIDS e demais DST [5,20]. Ademais, o Boletim Epidemiológico Ministerial aponta que os casos de AIDS no Nordeste encontram-se nas faixas etárias entre 40 e 49 anos e nos indivíduos com 60 anos e mais, dados similares aos achados no município de Itabuna [14]. Gráfico 3 - Proporção de casos de AIDS por escolaridade, Itabuna/BA, 2007 a Quantidade de notificações 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Analfabeto Ensino fundamental Ensino médio Ensino superior 0 40% 10% % 20% 0 0 9,09% 4,54% ,72% 9,09% 0 40% 20% 0 20% Ignorado/branco 50% 70% 86,36% 68,18% 20% Quanto à variável escolaridade (Gráfico 3), observou-se maior proporção dos casos de AIDS em pessoas do ensino fundamental (40%; 10%; 9,09%; 22,72%), seguida do ensino médio (10%; 20%; 4,54%; 9,09%) e aqueles com registro incompleto (50%; 70%; 86,36%, 68,18%) de 2007 a Percebe-se que os casos com registro incompleto mascaram a proporção real desta variável. O ano de 2011 credita maior parte dos casos de AIDS em analfabetos (40%), no ensino fundamental (20%), no ensino superior (20%) e mantém ainda número de casos (20%) como de notificação incorreta ou incompleta, apontando para a necessidade de melhorias no sistema de registro das DST por parte da equipe multidisciplinar. Estudo realizado entre moradores de São Paulo e Recife sobre DST revelou que o baixo nível de conhecimento sobre prevenção e transmissão de DST/AIDS associado à dificuldade de acesso aos serviços de saúde contribuem para o aumento no número de casos por ampliar a vulnerabilidade dos sujeitos a este agravo [21,22]. 73

80 Março / Abril 2013;12(2) Gráfica 4 - Proporção de casos de AIDS por cor/etnia, Itabuna/BA, 2007 a % 35% 38% Parda Preto Branco Ignorado Amarela 18% 7% Com relação à cor e etnia (Gráfico 4), nota- -se maior quantidade de casos entre indivíduos pardos (35%), seguido de brancos (18%) e pretos (7%). Ressalta-se que ocorreu subnotificação na variável cor/etnia com 38% do total devido a não obrigatoriedade no preenchimento do campo. Segundo o IBGE, a cor parda, hoje, enquadra-se na etnia negra e, portanto, verifica-se uma grande proporção de casos de AIDS neste segmento populacional em decorrência da pauperização e menor condição de acesso à saúde. O racismo é apontado como principal barreira social que limita a consolidação da prevenção e promoção à saúde [ 23]. Hepatite B No que se refere à hepatite, foram registrados 470 casos, sendo 279 em homens e 191 em mulheres. Ao longo do tempo, a proporção de casos nos homens mostrou uma tendência mais ou menos regressiva, passando de 73,03% (2007), 58,98% (2008), 59,70% (2009), 53,53% (2010) e 57,40% (2011). Em contraposição, houve um aumento no número de casos em mulheres ao longo dos cinco anos ao passar de 26,90% em 2007 para 42,49% em 2011 conforme Gráfico 5. Gráfico 5 - Proporção de casos de hepatite por faixa etária, Itabuna/BA, 2007 a ,03% 58,98% 59,70% 53,53% 57,40% 41,01% 40,20% 46,46% 42,59% 26,90% Feminino Masculino Nota-se ainda um maior número de casos de hepatite entre os homens quando comparado às mulheres. Tal fato relaciona-se à dificuldade dos homens em procurar os serviços de saúde com vistas à prevenção de doenças e promoção da saúde. Os mesmos costumam procurar pelos serviços em saúde quando manifestam sintomatologia o que amplia a progressão da doença. Gráfico 6 - Proporção de casos de hepatite por faixa etária, Itabuna/BA, 2007 a % 8% 6% 19% 20% 1 a 14 anos 15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos 18% 40 a 49 anos 21% 50 a 59 anos 60 e mais Analisando o número de casos de hepatite por idade (Gráfico 6), notou-se que a faixa etária mais acometida foi de 30 e 39 anos (21%), 20 e 29 anos (20%), 50 e 59 anos (19%) e, 40 e 49 anos (18%). Observa-se um aumento entre os idosos com 60 anos ou mais, apresentando uma proporção de 8% no período de cinco anos. Estudos epidemiológicos mostraram distribuição similar de casos de hepatite por faixa etária, revelando significância estatística dos 30 e 39 anos, validando os dados do município de Itabuna. As taxas de incidência crescem, sobretudo entre mulheres de 50 e 59 anos, passando de 6,1 para 13,1 em uma série temporal de 10 anos. Isso acontece, em sua grande maioria, pela dificuldade em negociar o uso do preservativo nas relações mais duradouras, por questões geracionais e pela falta de informações seguras sobre a prevenção [22,24]. Apesar de os dados apontarem um aumento entre adultos jovens, percebe-se que a proporção cresce entre 60 anos ou mais. Ademais, estudos sobre prevalência das infecções pelo vírus das hepatites B e C em moradores de rua apontam para os achados neste estudo, e demonstram que a hepatite C contribui com 14% dos casos na faixa etária de 50 e 59 anos, seguido por 40 e 49 anos (10%) e 30 e 39 anos (9,6%). Por outro lado, a infecção pelo vírus B acometeu, preferencialmente, a faixa etária de 60 anos ou mais (45,5%) e 50 e 59 anos (41,9%) pelo fato de existir dificuldade para falar sobre a sexualidade e uso do preservativo. Tais concepções socialmente construídas dificultam o acesso aos meios de informação e prevenção. Soma- -se ainda a dificuldade dos profissionais de saúde em abordar sobre o idoso sexuado, aquele que decide pelo próprio cuidado sexual [25,26]. 74

81 Março / Abril 2013;12(2) Contudo, a proporção dos casos de hepatite entre 30 e 39 anos (21%) em Itabuna, mostra-se discrepante dos dados apresentados pelo Ministério da Saúde, em que se verificou que o maior percentual de casos confirmados estava no grupo de 40 e 49 anos (19,5%) e 50 e 59 anos (54,4%), respectivamente. É possível entender que tais dados podem sugerir falhas na notificação desse agravo na faixa etária de 40 anos ou mais ou uma maior progressão de casos na população jovem pela tendência às práticas sexuais desprotegidas, multiplicidade de parceiros, uso abusivo de álcool, experiências com drogas ilícitas e pressão negativa de seus pares [27,28]. Gráfico 7 - Proporção de casos de hepatite por escolaridade, Itabuna/BA, 2007 a 2010 Quantidade de notificações 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Analfabeto 0 0,56% 1,14% 0 1,85% Ensino fundamental 48,07% 37,07% 9,19% 22,22% 20,30% Ensino médio 17,30% 11,23% 6,89% 11,11% 18,51% Ensino superior 0 1,68% 2,29% 8,08% 3,70% Ignorado/branco 32,69% 44,94% 78,16% 55,55% 55,55% O Gráfico 7 demonstra a proporção de pessoas com hepatite segundo o nível de escolaridade. Verifica-se uma maior frequência em pessoas com ensino fundamental (48,07%) e ensino médio (18,51%). Percebe-se menor índice em indivíduos com nível de escolaridade no ensino superior, em torno de 8,08%. A maior proporção de notificações para hepatite segundo a variável escolaridade definiu-se pelo ensino fundamental e médio. Esses dados convergem com os apresentados no Boletim Epidemiológico - Hepatites Virais, momento em que destacam que 57,4% dos casos acometidos possuíam em média de 4 e 11 anos de estudo [27]. Pesquisa realizada com adolescentes escolares de baixa renda sobre a vacinação contra hepatite B revela que o ambiente escolar torna-se o local para a aquisição de informações e conhecimento para prevenção das DST. De acordo com o modelo ecológico comportamental, a família, a mídia, a história de punição, as influências culturais e de amigos e o próprio ambiente escolar influenciam na probabilidade do individuo adotar comportamentos de risco. Neste caso, a prevalência de indivíduos no ensino fundamental com hepatite pode estar atrelada a diversas falhas, incluindo aquelas ligadas ao processo educacional [28]. Gráfico 8 - Proporção de casos de hepatite por cor/ etnia, Itabuna/BA, 2007 a % 11% Branca 0% 11% Preto 0% Parda Amarela Indigena Ignorado 56% No Gráfico 8, observou-se que 56% dos casos de hepatite aconteciam entre indivíduos de cor parda, seguido de 11% para a cor preta e branca, respectivamente. Nota-se uma proporção ampliada de casos na cor/etnia negra, ao somarmos pardos e pretos como determina o IBGE. Ademais, 22% dos casos notificados eram tidos como ignorados no que tange ao quesito cor/etnia em decorrência da não preconização no preenchimento desta variável no campo da notificação. Estudos epidemiológicos nacionais mostraram maior prevalência de hepatite B e C na cor branca, apresentando a seguinte distribuição de 75,7% e 84%, respectivamente. A cor negra correspondeu com 13,1% e 8,5% e a etnia amarela com 9,7%. Tal perfil nacional não se equipara ao estudo local. No município de Itabuna verifica-se predominância de hepatite em negros, fato explicado pela etnia majoritariamente negra no Estado da Bahia, decorrente dos processos históricos de colonização [24,29]. Conclusão A partir dos dados apresentados admite-se que o processo de notificação das principais DST em Itabuna ainda é incipiente. A grande proporção de variáveis ignoradas visualizadas na pesquisa, principalmente no quesito cor/etnia e escolaridade permitem identificar falhas e lacunas na coleta de informações epidemiológicas. Diante do cenário exposto, estima-se que a frequência de DST seja maior do que revelam os dados oficiais, sugerindo elevada subnotificação de casos. Portanto, verifica-se a necessidade de implementar a notificação, alertando os profissionais de saúde sobre a importância destas variáveis para o desenvolvimento de estratégias de prevenção e controle das DST. Além disso, destaca-se a urgência em melhorar a qualidade dos dados coletados, bem como a realização de edu- 75

82 Março / Abril 2013;12(2) 76 cação continuada com os profissionais responsáveis pela organização e análise dos dados. Contudo, apesar das fragilidades encontradas no SINAN percebe-se que o perfil epidemiológico das principais DST no município de Itabuna revela maior proporção de casos em homens quando comparado às mulheres, em indivíduos de cor negra, com faixa etária preponderante de 20 e 29 anos e com escolaridade básica. Destaca-se a posição da mulher no que tange às DST por diversos motivos, dentre os quais: desigualdade de acesso aos direitos sexuais e reprodutivos, às características biológicas, ao preconceito e discriminação sofridos que dificultam a procura imediata aos serviços de saúde, sobretudo, aqueles relacionados à lesbianidade e bissexualidade, o desconhecimento sobre o próprio corpo, dificuldades na negociação no uso do preservativo e a possibilidade de violência sexual, ampliando a vulnerabilidade. Assim, os profissionais de saúde devem atentar para a vulnerabilidade social, cultural econômica, política e sexual em que os sujeitos encontram-se imbuídos para traçar estratégias para a prevenção e controle das DST. Referências 1. Ministério da Saúde. Manual de controle das doenças sexualmente transmissíveis. Brasília: MS; Silva CM, Vargens OMC. A percepção de mulheres quanto à vulnerabilidade feminina para contrair DST/ AIDS. Rev Esc Enferm USP 2009;43(2): Rocha LVS, Dantas VCD, Araújo JT, Rolim CK, Dantas AFR, Miranda HF et al. A vulnerabilidade às DST em região com intensa prostituição e turismo sexual de Natal/RN. Rev Bras Anal Clin 2008;40(1): Sousa LB, Barroso MGT. DST no âmbito da relação estável: análise cultural com base na perspectiva da mulher. Rev Enferm Esc Anna Nery 2009;13(1): Ministério da Saúde. Epidemiologia: DST. Brasília: MS; Murakami JK, Petrilli Filho JF, Telles Filho PCP. Conversando sobre sexualidade, IST e AIDS com adolescentes pobres. Rev Latinoam Enferm 2007;15(especial): Maia C, Guilhem D, Freitas D. Vulnerabilidade ao HIV/AIDS de pessoas heterossexuais casadas ou em união estável. Rev Saúde Pública 2008;42(2): Carneiro WS, Rodrigues JA, Felix MR, Athayde ACR, Lôbo KMS, Vilela VLR, et al. Percepção de vulnerabilidade feminina ao vírus da AIDS na estratégia de saúde da família. J Bras Doenças Sex Transm 2009;21(3): Torres CA, Beserra EP, Barroso MGT. Relações de gênero e vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis: percepções sobre a sexualidade dos adolescentes. Rev Enferm Esc Anna Nery 2007;11(2): Borba KP, Clapis MJ. Mulheres profissionais do sexo e a vulnerabilidade ao HIV/AIDS. J Bras Doenças Sex Transm 2006;18(4): Araujo MAL, Silveira CB. Vivências de mulheres com diagnóstico de Doença Sexualmente Transmissível- -DST. Rev Esc Enferm Anna Nery 2007;11(3): Beserra EP, Pinheiro PNC, Alves MDS, Barroso MG. Adolescência e vulnerabilidade às doenças sexualmente transmissíveis: uma pesquisa documental. J Bras Doenças Sex Transm 2008;20(1): Taquette SR. Interseccionalidade de gênero, classe e raça e vulnerabilidade de adolescentes negras às DST/ AIDS. Saúde e Sociedade 2010;19(2): Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico AIDS. Brasília: MS; Santos TS. Do artesanato intelectual ao contexto virtual: ferramentas metodológicas para a pesquisa social. Sociologias 2009;1(22): Richardson RJ. Pesquisa social: métodos e técnicas. São Paulo (SP): Atlas; Brasil. Lei no 9.610, de 19 de fevereiro de Dispõe sobre os direitos autorais. Brasília: MS; Madureira VSF, Trentini M. Da utilização do preservativo masculino à prevenção de DST/AIDS. Rev Ciênc Saúde Coletiva 2008;13(6): Lazzarotto A. HIV/AIDS e meia idade: avaliação do conhecimento de indivíduos da região do Vale do Sinos (RS), Brasil. Rev Ciênc Saúde Coletiva 2010;15(1): Falcão Júnior JSP, Rabelo STO, Lopes EML, Freitas LV, Pinheiro AKB, Ximenes LB. Perfil e práticas sexuais de universitários da área de saúde. Rev Enferm Esc Anna Nery 2007;11(1): Masson VA, Monteiro MA. Vulnerabilidade às Doenças Sexualmente Transmissíveis/AIDS e uso de drogas psicoativas por caminhoneiros. Rev Bras Enferm 2010;63(1): Garcia S, Souza FM. Vulnerabilidades ao HIV/AIDS no Contexto Brasileiro: iniquidades de gênero, raça e geração. Rev Saude Soc 2010;19(2): Spiassi AL, Faustino DM, Viso STR, Cavalheiro LO, Vichessi DFV, Sant AnnaV, et al. O movimento negro do ABC Paulista: diálogos sobre a prevenção das DST/ AIDS. Saúde e Sociedade 2010;19(2): Cruz CRB, Shirassu MM, Martins WP. Comparação do perfil epidemiológico das hepatites B e C em um serviço público de São Paulo. Arq Gastroentero 2009;46(3): Brito VCO, Parra D, Facchini R, Buchalla CM. Infecção pelo HIV, hepatites B e C e sífilis em moradores de rua, São Paulo. Rev Saúde Pública 2007;41(2): Laroque MF, Affeldt AB, Cardoso DH, Souza GL, Santana MG, Lange CV. Sexualidade do idoso: comportamento para a prevenção de DST/AIDS. Rev. Gaúch Enferm 2011;32(4): Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Hepatites Virais. Brasília: MS; Oliveira MDS, Paggoto V, Matos MA, Kozlowski AG, Silva NR, Junqueira Neto AL, et al. Análise de fatores associados à não aceitação da vacina contra hepatite B em adolescentes escolares de baixa renda. Rev Ciênc Saúde Coletiva 2007;12(5): Lopes F, Buchalla CM, Ayres JRCM. Mulheres negras e não-negras e vulnerabilidade ao HIV/AIDS no estado de São Paulo, Brasil. Rev Saúde Pública 2007;41(2):39-46.

83 Artigo original Assédio moral entre profissionais de enfermagem do Hospital Regional de Ceilândia/DF Ítalo Vieira Barros Enfermeiro, Universidade Católica de Brasília, pós-graduado em Auditoria em Serviços de Saúde Resumo O objetivo deste estudo é investigar a ocorrência e as repercussões do assédio moral entre funcionários da enfermagem de um hospital público do DF. Trata-se de um estudo exploratório e transversal, realizado no Hospital Regional da Ceilândia/DF, através da aplicação de questionário a 123 profissionais de enfermagem. Os resultados mostraram que 55 (44,7%) profissionais de enfermagem já passaram por algum tipo de assédio moral no ambiente de trabalho, todos (100%) do sexo feminino. Quanto à comparação entre a categoria profissional, os auxiliares de enfermagem apresentaram maiores índices de perseguição pela chefia e de problemas para reconhecer seus direitos e deveres, e menores índices de denúncia a membros de sua equipe. Dentre os fatores relacionados ao assédio moral, o de maior ocorrência, embora predominantemente ocasionalmente, foi o constrangimento por membro da equipe. Investimento na educação, incentivo às denúncias, e à delimitação de deveres e direitos são medidas que podem levar à modificação do atual cenário. Palavras-chave: bullying, enfermagem, trabalhadores. Abstract Moral harassment among professional nursing of the Regional Hospital of Ceilândia/DF The objective of this study is to investigate the occurrence and impact of bullying between professional nursing in a public hospital in the Brazilian Federal District. This was an exploratory and transversal study performed at the Regional Hospital of Ceilândia/DF, Brazil, using a questionnaire to 123 nursing professionals. The results pointed out that 55 (44.7%) nurses have experienced some type of bullying in the workplace; all (100%) were female. A comparison between professional categories showed that the nursing assistants had higher rate of persecution by leadership and problems to recognize their rights and duties, and lower rates of reporting bullying by members of their team. Among the factors related to bullying, the most frequent, although predominantly occasionally, was the embarrassment suffered by the team member. Investment in education, encouraging complaints, and the definition of rights and duties are actions that can lead to change the current situation. Key-words: bullying, nursing, workers. Artigo recebido em 20 de março de 2012; aceito em 20 de março de Endereço para correspondência: Ítalo Vieira Barros, Quadra 02 Lote 01 Apto 102, São Sebastião DF, Tel: (61) italobarros.vb@gmail.com 77

84 Março / Abril 2013;12(2) Resumen Acoso moral entre los profesionales de enfermería del Hospital Regional de Ceilândia/DF El objetivo de este estudio es investigar la ocurrencia y el impacto del acoso moral entre personal de enfermería en un hospital público en el DF. Este es un estudio exploratorio y transversal, realizado en el Hospital Regional de Ceilândia-DF, Brasil, a través de un cuestionario que se distribuyó entre 123 profesionales de enfermería. Los resultados mostraron que 55 (44,7%) enfermeras han sufrido algún tipo de acoso en el lugar de trabajo; todas (100%) eran mujeres. En comparación entre la categoría profesional, los auxiliares de enfermería tenían una mayor tasa de acoso por parte de los jefes y de problemas en reconocer sus derechos y deberes; además las tasas de denuncia a los miembros de su equipo eran muy bajas. Entre los factores relacionados con el acoso, el más frecuente, aunque de vez en cuando, ha sido el constreñimiento por miembro del equipo. La inversión en educación, incentivo a la denuncia, y la delimitación de derechos y deberes son medidas que pueden conducir a la modificación de la situación actual. Palabras-clave: acoso, enfermería, trabajadores. Introdução A enfermagem, durante toda sua história, sempre sofreu alguma espécie de exploração. O mundo globalizado e o crescimento do capitalismo favorecem o aparecimento de violências relacionadas ao trabalho e, assim, torna vulnerável a relação entre empregado e empregador. O assédio moral é a exposição dos trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções [1]. Tais situações são mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, e de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinados [1]. Esse ambiente de conflitos desestabiliza a relação da vítima com o ambiente de trabalho e com a organização, podendo levar a desistência do emprego [1]. Os novos modelos de análise da violência no ambiente de trabalho, proposto pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), demonstram que as manifestações físicas e psicológicas são igualmente consideradas, dando destaque aos atos de violência considerados até o momento como menos graves, tais como o amedrontamento, a intimidação ou o assédio psicológico no trabalho. Também a partir desta proposta, rejeita-se a ideia de que a violência no ambiente de trabalho comporte unicamente fatores pessoais e passa-se a considerá-la como resultante de uma combinação de causas relativas às pessoas, ao ambiente de trabalho e às condições organizacionais e contratuais do trabalho, assim como às formas de interação entre os próprios trabalhadores, entre os clientes, e entre trabalhadores e empresários [2]. O assédio moral foi apontado como objeto de pesquisa, em 1996, na Suécia, pelo psicólogo do trabalho Heynz Leymann, que, por meio de um levantamento junto a vários grupos de profissionais chegou a um processo que qualificou de psicoterror, cunhando o termo mobbing (um derivado de mob, que significa horda, bando ou plebe), devido à similaridade dessa conduta com um ataque rústico, grosseiro [3]. Esse fenômeno também pode ser descrito como um conflito cuja ação visa à manipulação da pessoa no sentido não amigável e que essa ação pode ser analisada através de três grupos de comportamentos: 1) um grupo de ações se desenvolve quanto à comunicação com a pessoa atacada, tendendo à interrupção da comunicação; 2) outro grupo de comportamento se assenta sobre tentativas de denegrir a reputação da pessoa atacada; 3) as ações do terceiro grupo tendem a manipular a dignidade profissional da pessoa agredida. Somente se estas forem realizadas propositalmente, frequentemente e por muito tempo podem ser chamadas de mobbing [4]. Um quarto mecanismo também pode ser acrescentado: a manipulação das contrapartidas laboratoriais [5] (Quadro I). 78

85 Março / Abril 2013;12(2) Quadro I - Formas de expressão do mobbing. Grupos de ações Mecanismos Manipulação da comunicação da vítima Negação de informação relativa ao posto de trabalho, como as funções e responsabilidades, os métodos de trabalho: a quantidade, qualidade e prazos do trabalho a ser realizados. Comunicação hostil explícita, com críticas e ameaças públicas. Comunicação hostil implícita, como o não dirigir palavra, ou negar cumprimento. Manipulação da reputação da vítima Realização de comentários injuriosos, com ridiculizações públicas, relativas ao aspecto físico ou às idéias ou convicções políticas ou religiosas. Realização de críticas sobre o profissionalismo da vítima. Assédio sexual da vítima. Manipulação do trabalho da vítima Aumento da sobrecarga de trabalho. Atribuições de trabalhos desnecessários, monótonos ou rotineiros. Atribuições de tarefas de qualificação inferior à da vítima. Atribuições de demandas contraditórias ou excludentes. Atribuições de demandas contrárias aos padrões morais da vítima. Não atribuição de tarefas. Negação dos meios de trabalho. Manipulação das contrapartidas laborais Discriminação nos salários, nos turnos, jornada ou em outros direitos. Discriminação quanto ao respeito, o tratamento ou no protocolo. Fonte: Leymann (1996); Suárez (2002). Apud: Fonte: Guimarães e Rimoli (2006). Com adaptações. Sendo o assédio moral uma agressão e não um conflito, há a intenção do agressor de ferir ou prejudicar a vítima, objetivando, por muitas vezes, seu controle e domínio e, para isso, usurpando a higidez psicológica do assediado. Não se trata, portanto, de uma descarga de agressividade de um indivíduo vítima do estresse ou das condições adversas no trabalho, ou da pressão que sofre no mesmo ambiente, tampouco uma perda de controle, mas sim uma vontade de dominar sua vítima [6]. Geralmente o assédio moral nasce com pouca intensidade, como algo inofensivo e falsamente irrelevante, levando a vítima a tolerar as agressões, e a levá-las na brincadeira. Isso funciona como reforço para aumento na frequência e gravidade das agressões. Tal situação provavelmente acontece justamente porque as vítimas temem fazer denúncias formais, com medo do revide, que poderia vir através de demissão ou de rebaixamento de cargo; além do receio de que a denúncia torne pública a humilhação pela qual passaram, o que levaria a mais constrangimento e vergonha. Assim, o medo (de caráter mais objetivo) e a vergonha (mais subjetiva, mas com consequências devastadoras) se unem, acobertando a covardia das agressões. As formas de assédio moral, frequentemente identificadas no exercício da enfermagem são: humilhações em público e à portas fechadas, com ameaças; depreciação da imagem profissional; boatos e rumores maldosos; cobranças absurdas por parte das chefias; delegação de tarefas que não podem ser realizada [7]. O assédio moral pode ser de três tipos: ascendente, quando por uma pessoa de um nível hierárquico superior é agredida por um ou vários subordinados; horizontal, quando um trabalhador é assediado por um colega do mesmo nível hierárquico; e do tipo descendente, situação mais frequente, quando a pessoa que detém o poder assedia seu subordinado com falsas acusações e insultos, atingindo a esfera psicológica do trabalhador assediado, e com isso mantendo sua posição hierárquica [7]. A violência no local de trabalho, em qualquer de suas manifestações, pode ter efeito devastador e de longa duração nas pessoas afetadas. Ela não se relaciona apenas a fatores pessoais e comportamentais, mas também a fatores estruturais, inclusive da própria organização do trabalho [8]. A violência se manifesta de diferentes formas e acomete diversos grupos de pessoas, razão pela qual se torna difícil sua apreensão e definição [8]. Uma medida a ser tomada para a compreensão do fenômeno violência é negar a aceitação de sentenças abstratas e aceitá-la como um fenômeno ambíguo. Além disso, é preciso um adequado preparo para o seu enfrentamento de suas manifestações, questionando-a sobre as suas formas de ataque e buscando 79

86 Março / Abril 2013;12(2) os métodos necessários para detê-la. No ambiente de trabalho ela se caracteriza de três formas [9]: 1) Violência externa, que é provocada por alguém que não pertence a organização, por exemplo, a violência que se tem nas ruas e que é provocada por alguém desconhecido. Neste caso, os trabalhadores de saúde têm um risco maior de serem afetados, dependendo da localização geográfica da instituição de trabalho, como periferias e locais com elevado consumo de drogas [9]; 2) Violência provocada pelo cliente, que pode ser bem exemplificada pelos trabalhadores de saúde, que lidam com uma clientela muito diversificada, composta muitas vezes por pacientes psiquiátricos, delinquentes, drogados, embriagados, e familiares agressivos, especialmente em caso de óbito do parente [9]; 3) Violência interna, que é aquela que ocorre entre trabalhadores de uma mesma instituição, podendo vir tanto de um funcionário hierarquicamente superior, quando de colegas de posição similar à da vítima. A violência através de assédio moral geralmente se encaixa nessa categoria [9]. A satisfação com o trabalho é um conjunto de sentimentos favoráveis que os indivíduos apresentam em relação ao mesmo, e quanto maiores forem os fatores de satisfação, maior poderá ser o empenho do profissional em prestar uma assistência qualificada, refletindo um serviço de melhor qualidade [10]. O assédio moral consiste em um fenômeno relevante, porém, ainda pouco discutido no contexto histórico da saúde, especialmente na enfermagem. Esse é um assunto merecedor de destaque, já que pode desestruturar a vida de um indivíduo, não somente no que se refere ao seu desempenho no trabalho, mas também à sua autoestima e relações sociais. O tema é polêmico e importante para as diversas formas de trabalho existentes no mundo. De acordo com o juiz do trabalho Mauro Vasni Paroski esse tema é ainda muito novo [11], e por decorrência disto, ainda existem poucos estudos publicados no Brasil. A realização de novas pesquisas referentes ao assédio moral é necessária para que se possa mensurar a real ocorrência e impacto desse fenômeno, especialmente nas instituições de saúde. Os objetivos desta pesquisa são: investigar a ocorrência de assédio moral entre profissionais de saúde da equipe de enfermagem do Hospital Regional da Ceilândia; avaliar a frequência das formas de assédio moral entre a equipe de enfermagem do Hospital Regional da Ceilândia; e comparar a frequência de assédio moral entre gênero e categoria profissional. Material e métodos Este artigo é exploratório, de caráter transversal, com análise de dados quantitativa e qualitativa. Os dados foram tratados em banco do programa SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) e os seus resultados relacionados em tabelas. Foi aplicado um questionário aos profissionais de enfermagem do Hospital Regional da Ceilândia/ DF. O questionário foi dividido em três sessões principais: a primeira abrange a identificação e perfil profissional do entrevistado, com ênfase na categoria em que atua (enfermeiro, auxiliar de enfermagem ou técnico de enfermagem); a segunda, constituída de quatro tópicos, avalia a frequência de tipos de assédio moral; e a terceira, com seis tópicos, avaliar as consequências do assédio moral. Na segunda sessão, os fatores relacionados ao assédio moral analisados foram: 1) perseguição pela chefia; 2) ter passado por alguma ameaça no trabalho; 3) ter sido humilhado pela chefia; e 4) ter passado por constrangimento por algum membro de sua equipe. Na terceira sessão, os itens avaliados foram: 1) ter problemas psicológicos por decorrência de algum assédio; 2) ter procurado ajuda por causa do trabalho; 3) ter tomado remédio controlado ou para manter o controle; 4) ter sentimento de vingança; 5) já ter denunciado alguém de sua equipe; e 6) ter problemas para reconhecer seus direitos e deveres. Em relação à frequência analisada na segunda e terceira sessão, foram consideradas as frequências de nunca, ocasional e frequente. Considerou-se como ocasional quando o intervalo médio entre as agressões foi maior que três meses entre as agressões, e como frequente quando o intervalo médio foi menor que três meses. A frequência de nunca foi omitida das tabelas (anexo 1). No questionário consta ainda um espaço opcional para depoimentos, onde puderam ser relatadas situações vivenciadas de assédio moral. Foi questionada 19,61% da equipe de enfermagem lotada na regional de Ceilândia/DF. Foram incluídos profissionais de enfermagem (auxiliares de enfermagem, técnicos de enfermagem e enfermeiros) que atuam na regional da Ceilândia/DF e que aceitaram participar do estudo proposto. Foram excluídos os profissionais que não aceitaram participar da pesquisa e os que não pertencem à área da 80

87 Março / Abril 2013;12(2) enfermagem. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde SES (Secretaria de Estado de Saúde) e aprovado sob o número 177/10. Resultados Atualmente, a equipe de enfermagem do Hospital Regional da Ceilândia conta com 506 auxiliares de enfermagem e 121 enfermeiros, não existindo no quadro de funcionários o cargo de técnico de enfermagem. A pesquisa envolveu 123 profissionais de enfermagem, o que corresponde a 19,61% do contingente do serviço. Destes, 99 (80,5%) atuam como auxiliares de enfermagem e 24 (19,5%) como enfermeiros. Em relação ao sexo, foram entrevistados 9 homens (7,3%) e 114 mulheres (92,7%). Os resultados apontam que 55 (44,7%) profissionais de enfermagem já passaram por algum tipo de assédio moral no ambiente de trabalho, todos (100%) do sexo feminino. A Tabela I apresenta a relação entre o gênero e a ocorrência de assédio moral. Tabela I - Relação entre gênero e ocorrência de assédio moral dos profissionais de enfermagem (n = 123) do Hospital Regional da Ceilândia, DF, Brasil, Não Sofreram Sofreram Assédio Assédio Total Sexo Feminino 55(48,2%) 59(51,8%) 114(100%) Sexo Masculino 0 (0%) 9 (100%) 09(100%) Total 55 (44,7%) 68 (55,3%) 123(100%) Fonte: Hospital Regional da Ceilândia-DF (2011). Os profissionais de enfermagem encontram-se especialmente expostos à violência no ambiente de trabalho, sobretudo em serviços hospitalares [12]. Entretanto, pouco se discute sobre as diferentes pre- valências entre os enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem. Neste estudo, o assédio moral se mostrou mais frequente entre profissionais auxiliares de enfermagem do que entre os enfermeiros, lembrando que a categoria de técnicos de enfermagem não pode ser analisada pela inexistência desse cargo no serviço estudado. Dos 55 profissionais que sofreram assédio, 87,3% (48) são auxiliares de enfermagem, enquanto apenas 12,7% (7) dos enfermeiros foram vítimas de assédio moral (Tabela II). Tabela II - Relação entre cargo e ocorrência de assédio moral dos profissionais de enfermagem (n = 123) do Hospital Regional da Ceilândia, DF, Brasil, Sofreram Assédio Não Sofreram assédio Enfermeiros 7 (12,7%) 17 (25%) Auxiliares de Enfermagem 48 (87,3%) 51(75%) Total 55 (100%) 68 (100%) Fonte: Hospital Regional da Ceilândia-DF (2011). Nesta pesquisa foi verificado que os auxiliares de enfermagem são vítimas de assédio moral com maior frequência que os enfermeiros. A perseguição pela chefia, ameaça no local do trabalho e humilhação pela chefia ocorrem com maior frequência entre auxiliares de enfermagem. O cargo de enfermeiro obteve maiores valores percentuais apenas em relação ao constrangimento por algum membro da equipe (29,16%), mesmo assim, com uma diferença menor que 4%. A Tabela III apresenta quatro fatores relacionados ao assédio moral e a frequência de cada um por categoria profissional. Ainda em relação à Tabela III, merece destaque que os entrevistados consideram que os assédios ocorrem mais ocasionalmente do que frequentemente. Entre os que ocorrem com frequência ocasional, destacam-se o constrangimento por algum membro de sua equipe, com 22 (22,22%) casos, seguido de ameaça no Tabela III - Distribuição dos tipos de assédios envolvendo profissionais de enfermagem (n =123) do Hospital Regional da Ceilândia, DF, Brasil, Categoria Profissional Tipos de Assédios Relatados Enfermeiros (n = 24) Aux. de Enfermagem (n = 99) Total (n = 123) Ocasional Frequente Ocasional Frequente Ocasional Frequente Perseguido pela chefia (14,14%) 6 (6,06%) 14 (11,38%) 6 (4,87%) Ameaça no local de trabalho 2 (8,33%) 1 (4,16%) 18 (18,18%) 5 (5,05%) 20 (16,26%) 6 (4,87%) Humilhado pela chefia 1 (4,16%) 0 11 (11,11%) 5 (5,05%) 12 (9,75%) 5 (4,06%) Constrangimento por algum membro de sua equipe 7 (29,16%) 0 22 (22,22%) 3 (3,03%) 29 (23,57%) 3 (2,43%) Fonte: Hospital Regional da Ceilândia-DF (2011). 81

88 Março / Abril 2013;12(2) local de trabalho, com 18 (18,18%) casos. Na categoria enfermeiro encontramos 7 (29,16%) entrevistados que já passaram por algum constrangimento por membro de sua equipe, também ocasionalmente. Na Tabela IV estão enumeradas as consequências sofridas pelos entrevistados após sofrerem assédio, nela destacamos que 16 (16,16%) dos auxiliares de enfermagem tiveram problemas para reconhecer seus direitos e deveres, e 6 (25,0%) enfermeiros já tiveram que denunciar alguém de sua equipe. Quanto à questão de sofrimento de assédio moral e desejo de relatar o ocorrido, apenas três entrevistados optaram por expor depoimentos sobre assédio moral, os quais estão citados a seguir: O chefe queria transferir eu e os meus colegas com mais de 20 anos de função, querendo apenas os novatos para lapidá-los. (Entrevistado no. 6) Passei por assédio moral no meu primeiro emprego em um hospital particular do DF, onde a enfermeira-chefe me impugnou por um fato onde ela me julgou estar errada e disse que não queria ouvir minha defesa, que eu tinha apenas que escutar ou teria que me demitir se acontecesse novamente. (Entrevistado nº12) Fui chamado atenção por um determinado fato na frente de outras colegas e até mesmo na presença de pacientes. (Entrevistado n 21) Discussão O assédio moral é entendido como uma conduta abusiva, intencional, frequente e repetida, que tem como objetivo diminuir, humilhar, vexar, constranger, desqualificar e demolir psicamente um indivíduo ou grupo, degradando suas condições de trabalho, atingindo a sua dignidade e comprometendo a sua integridade pessoal e profissional [13]. Assim, ele traz sofrimento repetitivo e/ou sistemático, manifestando sua intenção de prejudicar ou mesmo de destruir. O assédio moral não é uma novidade, podendo- -se inferir que tem a mesma idade da definição de trabalho. Situações constrangedoras e humilhantes são cada vez mais comuns nos ambientes de trabalho. Considerando a atual sociedade brasileira nos moldes da escravocracia, pensa-se que a humilhação no trabalho, ou o assédio moral, sempre existiu nas mais diferentes formas ao longo da história. A humilhação está embasada no próprio sistema macroeconômico, que em seu processo disciplinar, favorece o aparecimento dessa forma de violência, em que o superior hierárquico detém poder sobre seu subordinado [13]. Como se pode entender, o assédio moral tem predominância de condutas negativas, não se tratando de uma síndrome, mas de um aspecto de destruição que envolve o bem estar, o medo e a autoestima do trabalhador, levando a vítima a desenvolver problemas de saúde ou a perder o emprego. É certo que este é o ponto de partida do evento quando ele já se tornou uma causa médica ou jurídica, ou seja, a doença e o 82 Tabela IV - Distribuição das consequências sofridas pelos profissionais de enfermagem (n = 123) do Hospital Regional da Ceilândia, DF, Brasil, Categoria Profissional Consequência do Assédio Sofrido Enfermeiros (n =24) Auxiliares de Enfermagem (n = 99) Total (n = 123) Ocasional Frequente Ocasional Frequente Ocasional Frequente Problemas psicológicos por decorrência de algum (8,08%) 3 (3,03%) 8 (6,50%) 3 (2,43%) assédio Procurou ajuda por causa do assédio no trabalho 2 (8,33%) 0 8 (8,08%) 4 (4,04%) 10 (8,13%) 4 (3,25%) Tomou algum fármaco controlado ou para manter (10,10%) 5 (5,05%) 10 (8,13%) 5 (4,06%) o controle Sentimento de vingança (6,06%) 2 (2,02%) 6 (4,87 %) 2 (1,62%) Denunciar alguém de sua equipe 6 (25,0%) 0 5 (5,05%) 1 (1,01%) 11 (8,94%) 1 (0,81%) Problemas para reconhecer seus direitos e deveres (12,12%) 4 (4,04%) 12 (9,75%) 4 (3,25%) Fonte: Hospital Regional da Ceilândia-DF (2011).

89 Março / Abril 2013;12(2) desemprego são resultantes diretos no nível individual [13]. Muitas vezes essa violência é encarada como normal pelo trabalhador, isso porque as condutas ofensivas tornam-se rotineiras e até mesmo toleráveis. Os resultados obtidos através deste estudo permitem que se infira que o sexo feminino e a categoria de auxiliar de enfermagem são fatores de risco ainda maiores para a ocorrência de assédio moral do que apenas o fato de compartilharem a área da enfermagem, fator este já sabidamente predisponente à agressão moral. O fato encontrado de que as agressões ocorreram principalmente (e neste caso, totalmente) entre mulheres são compatíveis com a maioria dos artigos referentes ao tema. A atuação de forma direta e continua com pacientes e a composição majoritária de mulheres na enfermagem pode contribuir para o maior risco de agressão [12]. A ocorrência de assédio moral foi mais frequente entre auxiliares de enfermagem do que nos demais cargos na área de enfermagem. Outro estudo também fez comparações entre os diferentes cargos na área de saúde, entretanto seus resultados não obtiveram diferença estatística entre essas variáveis com relação à enfermagem [14]. Pode-se supor que esse fato ocorra devido ao menor tempo de formação necessária para tal cargo, menores salários e alta carga horária, entretanto, novos estudos, com uma amostra maior, são necessários para ratificar esse achado e levantar novas hipóteses. Conclusão A frequência encontrada do assédio moral foi de 44,7%. Dentre os fatores relacionados ao assédio moral, o de maior ocorrência, embora ocasionalmente, foi o constrangimento por membro da equipe. Em relação à comparação de gênero, 100% dos agredidos moralmente são do sexo feminino. Quanto ao cargo ocupado na área de enfermagem, os auxiliares de enfermagem se mostraram mais susceptíveis ao assédio moral. Os resultados obtidos corroboram o que já é descrito na literatura atual e pregressa, exceto quanto a maior prevalência de assédio moral entre os auxiliares de enfermagem do que entre os enfermeiros. O assédio moral continua presente nas instituições de saúde e faz vítimas física e psiquicamente. Medidas devem ser tomadas para mudar o atual cenário. Deve-se educar o profissional a não se intimidar com ameaças e denunciar os seus agressores, bem como deixar clara a delimitação entre os deveres de cada compartimento da enfermagem e o direito de exercer com tranquilidade sua profissão. Novos estudos, com amostras maiores e de maior duração, poderão trazer novas elucidações sobre a frequência e consequência do assédio moral, bem como o resultado obtido quando medidas preventivas e repressivas são adotadas. Agradecimentos Agradeço a todos meus colegas de graduação que me apoiaram durante toda trajetória deste estudo, a Professora Doutora Maria Liz, que ajudou na triagem desse trabalho e a minha esposa que quando possível ficava ao meu lado dando apoio durante esse trajeto de formulação deste artigo. Referências 1. Barreto MMS. Violência, saúde, trabalho: uma jornada de humilhações. 1a ed. São Paulo: EDUC; Guimaraes LAM, Rimoli AO. Mobbing (assédio psicológico) no trabalho: uma síndrome psicossocial multidimensional. Rev Psic Teor e Pesq 2006;22(2): Heloani JRN. Assédio moral: um ensaio sobre a expropriação da dignidade no trabalho. RAE Electron 2004;3(1): Leymann H. The content and development of mobbing at work. European Journal of Work and Organisational Psychology 1996;5(2): Suarez OA. La violencia psicológica en el lugar de trabajo en el marco de la Unión Europea. Lan Har Remanak 2002;7: Akl RS, Akl FAB. O assédio moral no ambiente de trabalho: conceito e características. Uberaba: Boletim Jurídico; Dias HHZR. Desconstruindo o mito: o assédio moral ou violência moral [internet]. Porto Alegre: Sindicato dos trabalhadores do judiciário federal do RS; Costa ALRC, Marziale MHP. Relação tempo-violência no trabalho de enfermagem em Emergência e Urgência. Rev Bras Enferm 2006;59(3): Contrera-Moreno L, Contrera-Moreno MI. Violência no trabalho em enfermagem: um novo risco ocupacional. Rev Bras Enferm 2004;57(6): Nunes CM, Tronchin DMR, Melleiro MM, Kurcgant P. Satisfação e insatisfação no trabalho na percepção de enfermeiros de um hospital universitário. Rev Eletr Enf 2010;12(2): Paroski MV. Assédio moral no trabalho [internet]. Teresina, Jus Navigandi; 2006 out 10 [citado 2010 Abr 05]. Disponível em: URL: texto/9021/assedio-moral-no-trabalho. 12. Oliveira AR, D Oliveira AFPL. Violência de gênero contra trabalhadoras de enfermagem em hospital geral de São Paulo. Rev Saúde Pública 2008;42(5): Freitas ME. Quem paga a conta do assédio moral no trabalho? RAE Electron SP 2007; 6(1). 14. Cezar ES, Marziale MHP. Problemas de violência ocupacional em um serviço de urgência hospitalar da Cidade de Londrina, Paraná, Brasil. Cad Saúde Pública 2006;22(1):

90 Artigo original Bem-estar espiritual e música em pacientes com úlceras crônicas: integração ou oposição? Thiago Aparecido Vilas Boas*, Vanessa Cristina Souza Cortez*, Veronica Ferreira de Aguiar Kawai*, Waldere Fabri Pereira Ribeiro, D.Sc.**, Elaine Aparecida Rocha** *Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz Itajubá/MG, **Enfermeira, Docente da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz Resumo Estudo de abordagem exploratória, quantitativa, do tipo descritivo longitudinal e experimental, com objetivos de identificar as características sociais, familiares, econômicas e de saúde dos pacientes com úlceras crônicas cadastrados e que frequentam o CAEnf II Unidade de Lesão de Pele Enf. Isa Rodrigues de Souza e investigar a influência da música no bem-estar espiritual de pacientes com úlceras crônicas. A amostra foi de 24 pacientes, divididos aleatoriamente em 3 grupos de 8 participantes. A variável de intervenção planejada foi ouvir música e a variável dependente foi o bem-estar espiritual. Os resultados referentes à caracterização dos participantes: 54,17% eram mulheres, 20,83% tinham de anos, 62,50% eram católicos, 50% com ensino fundamental incompleto e 79,17% eram portadores de doença crônica. Os resultados referentes à Escala de Bem-Estar Espiritual: o Grupo Controle, (não ouviu música antes da realização do curativo) manteve um alto Bem-Estar Religioso tendo aumento em sua média (de 58,24 para 58,97) e o Bem-Estar Existencial, com a variação da média (de 47,44 para 48,20) depois da realização do curativo manteve um Moderado Bem-Estar Existencial. No escore da Escala de Bem-Estar Espiritual do Grupo Experimental (ouviu música antes da realização do curativo) observou-se que manteve um alto Bem-Estar Religioso apesar da diminuição de sua média (de 58,21 para 57,95) e o Bem-Estar Existencial teve sua média aumentada (de 50,19 para 51,30) mantendo um alto Bem- Estar Existencial. Concluímos que com a elevação da média do Bem-Estar Espiritual, o ouvir música não interferiu no Bem-Estar Religioso e sim no Bem-Estar Existencial. Palavras-chave: espiritualidade, música, pacientes, úlceras. Abstract Music and spiritual well-being in patients with chronic ulcers: integration or opposition? The aim of this Exploratory, quantitative, descriptive longitudinal and experimental study was to identify the social, family, economic and health status of patients with chronic ulcers attending the CAEnf II - Skin Lesion Unit Nurse Isa Rodrigues de Souza and to investigate the influence of music on the spiritual well-being of patients with chronic ulcers. The sample consisted of 24 patients, randomly divided into 3 groups of 8 participants. The variable planned Artigo recebido em 18 de março de 2012; aceito em 20 de março de Endereço para correspondência: Vanessa Cristina Souza Cortez, Rua Professora Geralda Seixas Siqueira, 111, Itajubá MG, vanessacscortez@yahoo.com.br 84

91 Março / Abril 2013;12(2) intervention was to listen music and the dependent variable was the spiritual well-being. The participants were 54.17% women, 20.83% were years old, 62.50% were catholic, 50% with incomplete primary education and 79.17% were suffering chronic disease. Results concerning the scale of spiritual well-being: the control group (did not hear the music before making the bandage) maintained a high religious welfare (from to 58.97) and a moderate existential well-being (47.44 to 48.20). Scale score in the spiritual well-being of the experimental group (heard the song before making the bandage) observed that a high remained religious welfare despite the decrease in mean values (from to 57.95) and Well Existential-being had increased their average (from to 51.30) while maintaining a high Existential Well-Being. Was concluded that the increasing of the spiritual well-being average, the music did not affect the religious well-being, but in the existential well-being. Key-words: spirituality, music, patients, ulcers. Resumen La música y el bienestar espiritual en pacientes con úlceras crónicas: la integración o la oposición? Estudio exploratorio, cuantitativo, descriptivo, longitudinal y experimental, con el fin de identificar los factores sociales, familiares, situación económica y la salud de pacientes con úlceras crónicas registrados y que frecuentan el CAEnf II Unidad de Lesiones en la Piel Enf. Isa Rodrigues de Souza e investigar la influencia de la música en el bienestar espiritual de pacientes con úlceras crónicas. La muestra incluyó 24 pacientes que fueron divididos aleatoriamente en 3 grupos de 8 participantes. La variable de intervención planeada ha sido escuchar música y la variable dependiente ha sido el Bienestar Espiritual. Los resultados referentes a la caracterización de los participantes, 54,17% eran mujeres, 20,83% tenían entre años, 62,50% eran católicos, 50% con educación primaria incompleta y 79,17% sufrían enfermedades crónicas. Los resultados relativos a la escala de Bienestar Espiritual: el grupo de control (no escuchó música antes de hacer la cura) mantuvo un alto Bienestar Religioso con un incremento promedio (del 58,24 para 58,97) y el Bienestar Existencial con variación (del 47,44 para 48,20) después de la realización del vendaje mantuvo un Moderado Bienestar Existencial. En el escore de la escala Bienestar Espiritual del Grupo Experimental (escuchó música antes de hacer la cura) se observó que mantuvo un alto Bienestar Religioso a pesar de la disminución en la media (de 58,21 para 57,95) y Bienestar Existencial tuvo su promedio aumentado (de 50,19 para 51,30), manteniendo un alto Bienestar Existencial. Se concluyó que con el aumento de la media del Bienestar Espiritual, escuchar música no afectó el Bienestar Religioso, sino el Bienestar Existencial Palabras-clave: espiritualidad, música, pacientes, úlceras. Introdução Os distúrbios cutâneos são visíveis e em consequência disso queixas dermatológicas costumam ser o motivo pelo qual um indivíduo procura ajuda no que se refere a cuidados com a saúde [1]. Úlcera é uma solução de continuidade em uma superfície cutânea ou de uma mucosa, com processo inflamatório e ulcerativo. Ocorre perda de pele que se estende além da epiderme, ocorrendo sangramento, porém com possibilidade de cicatrização [2]. As úlceras crônicas tem na sua cicatrização um processo longo. Alguns fatores de retardamento da cicatrização podem ser uma infecção ou uma irritação local ou mesmo às condições preexistentes como imunodeficiência, hipertensão, má circulação, diabetes melitus, estado nutricional precário ou infecção [2]. As úlceras de perna constituem uma das patologias mais frequentes em ambulatórios, consultórios e em hospitais e são de origens diversas, sendo que, na maioria das vezes, está associada a um problema circulatório [3]. O tratamento tem sido cada vez mais específico e diversificado, tornando-se uma especialidade no campo da atenção à saúde, sendo motivo de diversas pesquisas nessa área [4]. Promover a qualidade de vida do paciente, além da cicatrização e do fechamento das lesões, envolve um processo de tomada de decisão quanto aos procedimentos, recursos e tecnologias que serão utilizados com o objetivo de buscar a preservação das potencialidades e bem estar das pessoas que os utilizam [5]. O enfermeiro tem o importante papel no tratamento dessas úlceras, visto que estão em contato direto com esses pacientes. Uma parte importante 85

92 Março / Abril 2013;12(2) desse papel é a comunicação e a cooperação do próprio paciente [4]. Sabemos que nos dia de hoje, o tratamento de feridas envolve técnicas e procedimentos de alta complexidade. O enfermeiro só poderá tomar decisões imediatas se estiver preparado científica e tecnicamente para este fim. Este fato leva este profissional a buscar o seu aperfeiçoamento através de cursos de especialização na área de dermatologia e estomoterapia [6]. O enfermeiro pode examinar a ferida, indicar e realizar o curativo com o agente químico indicado para ela, orientar a prevenção de complicações, efetuar documentação fotográfica e recomendar exames complementares que possam auxiliar no diagnóstico e na evolução da cicatrização [7]. Ademais poderá também criar alternativas que possam ajudar os portadores de lesões de pele a realizarem o tratamento proposto com maior conforto físico, emocional ou mesmo mental. Acreditamos que a música seja uma dessas alternativas. A Terapia Complementar em Saúde (TCS) indica uma variedade de práticas alternativas que visam à cura ou a melhora da sintomatologia do paciente. Seu papel não é apenas a melhora dos problemas físicos ou o equilíbrio mente/corpo, mas também o desenvolvimento da autoconsciência, aumentando a percepção que o indivíduo tem sobre si próprio [8]. A música facilita e promove a comunicação, aprendizado, expressão e mobilização, além de desenvolver outros objetivos que visam atender as necessidades físicas, mentais, sociais e cognitivas, ajudando o indivíduo a melhorar sua qualidade de vida [9]. Observamos que a espiritualidade é uma dimensão humana que se apresenta frequentemente negligenciada na assistência e é de fundamental importância para a saúde. Sua abordagem é complexa e necessitamos compreendê-la melhor, assim como desenvolver habilidade para reconhecer as necessidades espirituais dos pacientes e implantar formas de cuidado efetivas. A espiritualidade tem sido pouco focalizada quando se trata de saúde e doença nas ciências da saúde. A literatura também aponta a necessidade de se educar melhor os enfermeiros para o cuidado espiritual e abordar conceitos sobre aspectos espirituais da assistência, a fim de identificar as necessidades espirituais dos pacientes [10]. Sendo assim, os objetivos deste trabalho são: identificar as características sociais, familiares, econômicas e de saúde dos pacientes com úlceras crônicas cadastra- dos que frequentam CAEnf II Unidade de Lesão de Pele Enf. Isa Rodrigues de Souza e investigar a influência da música no Bem-Estar Espiritual de pacientes com úlceras crônicas. Material e métodos Estudo de abordagem exploratória quantitativa, do tipo descritivo longitudinal e experimental, foi realizada no Centro de Atendimento de Enfermagem II - Unidade de Lesão de Pele Enf. Isa Rodrigues de Souza, uma das extensões da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá, sul de Minas Gerais. Os sujeitos da pesquisa foram 24 pacientes de ambos os sexos com idade superior a 18 anos, portadores de úlceras crônicas de qualquer etiologia, cadastrados na referida instituição. A coleta de dados foi realizada em janeiro e fevereiro de 2011, após a aprovação pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da EEWB. Para a coleta de dados foram utilizados dois instrumentos: um questionário de caracterização Pessoal, Familiar, Social, Econômica e de Saúde e a Escala de Bem-estar Espiritual (EBE), que foram preenchidos pelos pesquisadores, na presença dos participantes. A EBE é um instrumento subdividido em duas subescalas (de 10 itens cada), uma de Bem-estar Religioso (BER) e outra de bem-estar existencial (BEE). Os itens referentes ao BER contêm uma referência a Deus, e os de BEE não contêm tal referência. Metade das questões da escala é escrita na direção positiva e metade na negativa. A escala possui 20 questões que devem ser respondidas através de uma escala Likert de seis opções: Concordo Totalmente (CT), Concordo mais que discordo (Cd), Concordo Parcialmente (CP), Discordo Parcialmente (DP), Discordo mais que concordo (Dc), e Discordo Totalmente (DT). As questões com conotação positiva (3, 4, 7, 8, 10, 11, 14, 15, 17, 19 e 20) têm sua pontuação somada da seguinte maneira, CT = 6, Cd = 5, CP = 4, DP = 3, Dc = 2 e DT = 1. As demais questões são negativas e devem ser somadas de forma invertida (CT = 1, Cd = 2, CP = 3 e assim por diante). Como pontos de corte para o escore geral de Bem-Estar Espiritual são sugeridos os intervalos de 20 a 40, 41 a 99 e 100 a 120, para baixo, moderado e alto Bem-Estar Espiritual, respectivamente. Já nas duas subescalas os intervalos são de 10 a 20, 21 a 49 e 50 a 60 pontos [11]. 86

93 Março / Abril 2013;12(2) A amostra foi dividida, aleatoriamente por ordem de chegada, em 03 grupos de 08 participantes cada, sendo um grupo experimental e dois grupos controle. Cada grupo ficou sob a responsabilidade de um dos pesquisadores, que em um dia da semana, durante 08 semanas seguidas coletou os dados. O quadro I demonstra a sequência das atividades desenvolvidas para a coleta de dados com cada grupo. Quadro I - Procedimentos de coleta de dados para o grupo de controle e grupo experimental. Grupo Pes- Dia da Ordem das atividades qui- sador semana planejadas 1º - Escala de Bem Estar Espiritual I Experimental 3º - Curativo 2º - Música 2ª feira A 4º - Escala de Bem estar espiritual 1º - Escala de bem estar espiritual II Experimental 3º - Curativo 2º - Música 3ª feira B 4º - Escala de Bem estar espiritual III Controle 4ª feira 1º - Escala de bem estar espiritual 2º - Curativo 3º - Escala de bem estar espiritual C Os dados coletados foram transferidos para planilhas eletrônicas e transformados em banco de dados utilizando o programa Microsoft Excel Os resultados após serem analisados, foram apresentados por meio de tabelas e tabulados por meio do seguinte procedimento estatístico: para as variáveis categóricas ou qualitativas foram utilizadas as medidas de proporção e para as variáveis contínuas foram utilizadas as medidas de tendência central, isto é média, desvio-padrão, valor mínimo e máximo. Os princípios éticos para este estudo foram resguardados conforme Resolução 196/96. O anonimato e a privacidade foram assegurados aos participantes do estudo, assim como lhes foi oferecido condições para que se sentissem tranquilos e seguros durante a coleta de dados. Resultados e discussão As 24 pessoas que participaram da pesquisa tinham entre 23 e 78 anos (média de 56,20 anos) com predomínio na faixa etária de anos sendo 13 mulheres (54,17%) e 11 homens (45,83%). Em relação ao estado civil 11 casados (45,83%), 10 eram solteiros (41,67%), 2 viúvos (8,33%), 1 divorciado (4,17%). Relacionado a ter ou não filhos 17 tinham filhos (70,83%) e 7 não (29,17%). A faixa etária mais acometida foi de 60 a 69 anos, indo ao encontro com estudos que mostram o acometimento pelas úlceras crônicas na faixa etária acima de 60 anos [12]. Com relação ao sexo, a população estudada foi composta em sua maioria por mulheres, tendo em vista que mulheres possuem três vezes mais chance de desenvolverem úlceras crônicas do que os homens, uma vez que estas, pelos serviços domésticos, permanecem mais em pé e tem pouco tempo para o repouso [6]. Quanto à escolaridade, 12 tinham o ensino fundamental incompleto (50%), 5 fundamental completo (20,83%), 4 ensino médio completo (16,67%), 2 sem escolaridade (8,33%) e 1 com ensino superior completo (4,17%). Sobre a situação atual de trabalho, 6 recebem auxílio doença (25%), 8 são aposentados dos quais 4 continuam trabalhando (16,67%) e os outros 4 não trabalhavam mais (16,67%), 3 eram autônomos (12,5%), 3 não recebiam remuneração (12,5%), dois estavam empregados (8,33%),1 era pensionista (4,17%) e 1 estava desempregado (4,17%). No que se refere ao rendimento mensal, 6 recebiam 1 salário mínimo (25%), 6 recebiam 2 salários (25%), 5 recebiam 1,5 salários (20,83%), 2 recebiam 3 salários (8,33%), 2 recebiam 4 salários (8,33%), 1 recebia 2,5 salários (4,17%), 1 recebia 7 salários (4,17%), 1 recebia 10 salários (4,17%). Observa-se que o público estudado apresentava baixa escolaridade e nível econômico precário, o que influencia no tratamento de lesões crônicas [13]. A baixa escolaridade é explicada pela restrição da educação para poucos brasileiros pertencentes a uma pequena elite. A escolaridade é considerada como um amparo ao bem-estar psicológico, pois quanto mais se estuda maior a competência da pessoa para obter a satisfação pessoal e o cuidado com sua saúde [14]. Foi identificado também que a grande maioria faz uso de medicamentos durante o tratamento. 87

94 Março / Abril 2013;12(2) 88 A procura da atenção básica de saúde e o uso de medicamentos para o controle das doenças crônicas são a garantia do bem-estar diante das condições de saúde [14]. Dos entrevistados, 19 eram portadores de alguma doença crônica (79,17%) e 5 não (20,83%). Quanto ao tempo de doença crônica, 6 tinham entre 5-10 anos (25%), 4 entre 0-5 anos e anos (16,67%), 3 entre anos e há mais de 20 anos (12,50%), 1 não soube ou não respondeu (4,17%) e 3 a questão não se aplica(12,50%). Sobre tomar medicações, 20 tomavam alguma medicação (83,33%) e 4 não (16,67%). A partir das análises dos resultados identificamos que a maioria dos pesquisados eram portadores de doença crônica entre cinco e dez anos. Estudos comprovam que 70% das mortes no país são oriundas de doenças crônicas, o que constitui um problema de saúde de grande magnitude [15]. Sendo um estudo sobre espiritualidade, perguntou-se a religião dos participantes da pesquisa: 15 eram católicos (62,5%), 8 evangélicos (33,33%), e 1 não possuía religião (4,17%). Foi questionado sobre qual a percepção de sua saúde, e encontramos os seguintes resultados: Estado de saúde atual: 41,67% relataram como regular; 37,50% boa; 8,33% muito boa; ótima, ruim e péssima 4,17% cada; Estado de saúde comparado ao último ano: 37,50% acharam que estavam a mesma coisa, 29,17% achavam que estavam melhor, 29,17% achavam pior e 4,17% achavam que estavam muito melhor; Estado de saúde comparado com outras pessoas: 50% acreditavam que era melhor, 29,17% acreditava ser pior, 12,50% achavam que era muito melhor e 8,33% não sabiam ou não responderam; As médias das subescalas do BEE obtidas com a aplicação da Escala de Bem-Estar Espiritual no grupo controle serão apresentadas na Tabela I. Tabela I - Subescalas do Bem-Estar Espiritual dos pacientes do Grupo Controle Itajubá, MG, (n = 8) Escalas Antes Depois m dp m dp Bem-Estar Religioso 58,24 2,39 58,97 1,94 Bem-Estar Existencial 47,44 5,08 48,2 5,59 Bem-Estar Espiritual Total 105,68 4,39 107,17 4,24 Fonte: Instrumento da Pesquisa. A média obtida no Bem-Estar Religioso do grupo controle antes do procedimento foi de 58,24 sendo que depois do procedimento elevou-se para 58,97. A do Bem-Estar Existencial foi de 47,44 para o antes do procedimento e de 48,20 para depois do mesmo. Levando-se em consideração o Escore anteriormente mencionado do Instrumento de Bem- -Estar Espiritual, o Bem-Estar Religioso encontra-se na faixa de Alto e o Bem-Estar Existencial na faixa de Moderado. As médias das subescalas do Bem-Estar Espiritual obtidas com a aplicação da Escala de Bem-Estar Espiritual no grupo experimental são apresentadas na tabela II. Tabela II - Subescalas do Bem-Estar Espiritual dos pacientes do Grupo Experimental, Itajubá, MG, 2011 (n = 16). Escalas Antes Depois m dp m dp Bem-Estar Religioso 58,21 4,42 57,95 4,43 Bem-Estar Existencial 50,19 6,94 51,30 7,09 Bem-Estar Espiritual Total 108,40 9,85 109,25 9,91 Fonte: Instrumento da Pesquisa Fazendo a mesma análise para o grupo experimental, observamos que antes do procedimento o Bem-Estar Religioso era de 58,21, recuando para 57,95 depois do procedimento. Quanto ao Bem- -Estar Existencial que antes do procedimento era de 50,19 passou a 51,30. Em relação ao Escore o Bem-Estar Religioso é considerado Alto e o Bem- -Estar Existencial também. Referente ao estado de saúde atual foi visto que a maioria dos pesquisados classificaram como regular e que continuam da mesma maneira, comparado ao último ano. Porém quando comparados ao estado de saúde de outras pessoas disseram estar melhor. Dessa forma existe a necessidade de se promover saúde, qualidade de vida e resiliência; para que os fatores de risco diminuam e os fatores de proteção sejam otimizados, só assim estas pessoas irão aprender a lidar melhor com as transformações que ocorrem em sua vida [14]. No que se refere ao escore da Escala de Bem- -Estar Espiritual do grupo controle, que não ouviu música antes do procedimento, observamos que manteve um alto Bem-Estar Religioso, visto que houve um aumento em sua média (de 58,24 para 58,97).

95 Março / Abril 2013;12(2) Podemos afirmar que a religião tem muito a oferecer no que tange às necessidades pessoais do ser humano. Na religião a pessoa busca consolo, mas além de encontrá-lo, reúne-se com uma fonte de experiências que é única capaz de elevar o seu estado de espírito, ânimo e humor. Nesta elevação, a pessoa tem um reencontro com a sua essência e se aparta da realização de valores incompatíveis (Ex. desejos materiais, sexuais e egóicos). Essa pessoa transcende em busca de sua autorrealização. Enfim, a religião propõe o aprimoramento do ser humano com vistas à superação de barreiras e obstáculos tidos como intransponíveis, motivadas pelo desejo de que o divino interfira em sua vida cotidiana, de forma mágica [11]. Em relação ao Bem-Estar Existencial mesmo com a variação da média (de 47,44 para 48,20) depois do procedimento manteve um Moderado Bem-Estar Existencial. Neste sentido os pacientes pesquisados percebem que o Bem-Estar Existencial como uma interação ao propósito da vida independente de uma referência religiosa, uma sensação de encontro de algo significativo na vida. Podemos então dizer que, na perspectiva de uma visão sistêmica de saúde, os fatores relacionados ao modo de vida destas pessoas estarão atuando de forma direta nas reais possibilidades de uma vida saudável [11]. A perspectiva espiritual inclui conteúdos existenciais, que, por sua vez, têm profundas implicações no bem-estar físico e psicológico. À medida que a pessoa se abre para a espiritualidade, há uma integração com as outras dimensões da vida, uma vez que atua como elemento integrador, por isso sua importância em relação à saúde [16]. Neste grupo houve um aumento do Bem-Estar Espiritual Total (de 105,68 para 107,17) sendo classificado como Positivo. Analisando este aumento, entendemos que o Bem-Estar Espiritual representou um fator de proteção, estando relacionada a atitudes positivas de combate à enfermidade, diminuição da ansiedade e das demandas impostas pela doença. Acreditamos que o fortalecimento deste Bem-Estar auxilia significativamente na redução da angústia relacionada a sua doença, bem como na promoção de sua saúde mental. No que se refere ao escore da Escala de Bem- -Estar Espiritual do grupo experimental que ouviu música de sua preferência antes do procedimento, observamos que manteve um Alto Bem-Estar Religioso apesar da diminuição de sua média (de 58,21 para 57,95). As crenças religiosas influenciam o modo como pessoas lidam com situações de estresse, sofrimento e problemas vitais. A religiosidade pode proporcionar à pessoa uma melhor aceitação, firmeza e adaptação a situações difíceis de vida, gerando paz, autoconfiança, perdão, e uma imagem positiva de si mesmo. Acreditam ainda que por outro lado, dependendo do tipo e uso das crenças religiosas, podem gerar culpa, dúvida, ansiedade e depressão por aumento da autocrítica. Enfim, ainda afirmam que religiões podem tanto orientar a pessoa de maneira rígida e inflexível, desestimulando a busca de cuidados médicos, como podem ajudá-la a integrar-se a uma comunidade e motivá-la para o tratamento [17]. O Bem-Estar Existencial teve sua média aumentada (de 50,19 para 51,30) mantendo um Alto Bem-Estar Existencial. Uma missão a cumprir na vida, um sentido a realizar, influencia sobremaneira a saúde geral desta pessoa. Esta missão pode ser entendida como um objetivo de vida adequado, alguém que se ame, um trabalho a desenvolver, em suma, uma atividade externa ao indivíduo que esteja de acordo com a sua aptidão, que ele seja capaz de enfrentar e cumprir, mas que lhe ofereça desafios permanentes. Este dado sugere que a espiritualidade enquanto Bem-Estar Existencial segue tendo um lugar ativo na vida dessas pessoas [18] A alteração das médias acima referidas levou a um aumento Bem-Estar Espiritual Total (de 108,40 para 109,25) sendo este considerado Positivo. Analisando este aumento, entendemos que se a Espiritualidade é vivenciada e desenvolvida através de uma religião, resulta em Bem-Estar Existencial e assim podem associar a uma melhoria da sua saúde. Uma perspectiva espiritual obrigatoriamente inclui conteúdos existenciais que tem implicações no bem- -estar físico e psicológico [19]. Podemos considerar a música como uma arte, e sendo assim a arte pode elevar o homem de um estado de fragmentação a um estado de ser íntegro, total. A arte capacita o homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a transformá-la. Assim, reside nela uma possibilidade latente em favor da saúde [16]. Analisando as características sociais, familiares, econômicas e de saúde dos pacientes com úlceras crônicas cadastrados no CAEnf-II, conclui-se que 54,17% são do gênero feminino, 20,83% na faixa 89

96 Março / Abril 2013;12(2) etária de anos, 62,50% da religião católica, 50% com ensino fundamental incompleto, 25% recebe auxílio doença, 79,17% são portadores de doença crônica. Foi possível concluir com a análise dos resultados obtidos a partir da aplicação da Escala de Bem-Estar Espiritual nos pacientes com úlceras crônicas cadastrados no CAEnf II, que a partir da diminuição da média do Bem-Estar Religioso e o aumento da média do Bem-Estar Existencial, houve uma elevação da média do Bem-Estar Espiritual e que a música não interferiu no Bem-Estar Religioso e sim no Existencial. Torna-se oportuno, neste momento, salientar, que a abordagem da espiritualidade é muito ampla, envolvendo componente vertical (um sentido de bem-estar em relação a Deus), e horizontal (existencial um propósito e satisfação de vida que reflete crenças, valores, estilos de vida, e interações com o outro e com a natureza). Conclusão Podemos com os estudos realizados prepararmo-nos para lidar com a espiritualidade e, não só no âmbito pessoal, mas também em situações que emergem necessidades espirituais, como, por exemplo, a assistência aos pacientes. A realização do presente trabalho possibilitou uma maior compreensão sobre o tema, bem como contribuiu com banco de dados sobre o relacionamento entre o bem-estar espiritual x música x pacientes com úlceras crônicas. Referências 1. Silva RCL, Meireles IB. Fundamentos biológicos para o atendimento ao portador de lesões de pele. In: Silva RCL, Figueiredo NMA, Meireles IB. Feridas: Fundamentos e Atualizações em Enfermagem, 2ª ed. São Paulo: Yendis; Smeltzer SC, Bare BG. Tratado de enfermagem médico- -cirúrgica Brunner & Suddarth. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; Jorge SA, Dantas SRPE. Abordagem multiprofissional do tratamento de feridas. São Paulo: Atheneu; Dealey C. Cuidando de feridas: um guia para as enfermeiras. 3ª ed. São Paulo: Atheneu; Giraldes MJ. Aspectos Psicológicos. In: Silva RCL, Figueiredo NMA, Meireles IB. Feridas: fundamentos e atualizações em enfermagem. 2ª ed. São Paulo: Yendis; Hess CT. Tratamento de feridas e úlceras. 4ª ed. Rio de Janeiro: Reichmann & Afonso; Candido LC. Nova abordagem no tratamento de feridas. São Paulo: Senac; Turrini RNT. Terapias complementares no cuidado de enfermagem. Nursing 2008; Gianotti LA, Pizzoli LML. Musicoterapia na dor: diferenças entre os estilos jazz e new age. Nursing 2004;71(7): Benko MA, Silva MJP. Pensando a espiritualidade no ensino de graduação. Rev Latinoam Enferm 1996;4(1): Volcan SMA, Sousa PLR, Mari JJ, Horta BL. Relação entre bem-estar espiritual e transtornos psiquiátricos menores: estudo transversal. Rev Saúde Pública 2003:37(4): Bergonse FN, Rivitti EA. Avaliação da circulação arterial pela medida do índice tornozelo/braço em doentes de ulcera venosa crônica. An Bras Dermatol 2006;81(2): Mandelbaum SH, Di Santis EP, Mandelbaum MHS. Cicatrização: conceitos atuais e recursos auxiliares Parte I. An Bras Dermatol 2003;78(4): Ferreira CL, Mata ANS, Gomes TG, Góis LCM, Maia EMC. Autoavaliação, doenças crônicas e medicamentos: a saúde sob a perspectiva do idoso. III Congresso Ibero-americano de Psicogerontologia [citado 2012 Mar 15]. Disponível em: br/arquivos_dados/foto_alta/arquivo_1_id-177.pdf. 15. Ministério da Saúde (BR). Plano de ações estratégicas para o enfrentamento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) no Brasil Ministério da Saúde: Brasília; Leão ER. Reflexões sobre música, saúde e espiritualidade. In: Pessini L, Barchifontaine CP, eds. Buscar sentido e plenitude de vida: bioética, saúde e espiritualidade. São Paulo: Paulinas; Moreira-Almeida A. Espiritualidade e saúde: passado e futuro de uma relação controversa e desafiadora. Rev Psiquiatr Clín (São Paulo) 2007;34(1) 18. Frankl VE. Psicoterapia para todos. Petrópolis: Vozes; Marques LF, Sarriera JC, Dell aglio DD. Adaptação e validação da Escala de Bem-estar Espiritual (EBE). Aval Psicol 2009;8(2):

97 Artigo original O conhecimento de uma amostra da população masculina de Manaus sobre a política nacional de atenção integral à saúde do homem: atuação da enfermagem Andréia Oliveira da Silva*, Criste Helen Moraes da Silva*, Louane Souza Cruz*, Rúbia Deniz Bilibio*, Luiz Carlos de Menezes**, Luís Antônio Ramos*** *Graduandas do Curso de Enfermagem do Centro Universitário do Norte Uninorte - Laureate, **Bacharel em Fisioterapia, Especialista em Metodologia do Ensino, Professor Universitário do Centro Universitário do Norte Uninorte-Laureate, ***Bacharel em Enfermagem, Especialista em Gestão em PSF, Especialista em Urgência e Emergência Resumo Introdução: A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) foi criada com a finalidade de interferir na assistência à Saúde do Homem, modificando os seus padrões em termos de morbidade, mortalidade e aspectos socioculturais. A participação efetiva do homem nesse programa pode apresentar respostas percentuais significativas na promoção da sua saúde, com repercussões na sociedade. Objetivo: Esta pesquisa teve como objetivo avaliar o conhecimento e os motivos da não adesão por parte de uma amostra da população masculina da cidade de Manaus a PNAISH, reconhecer a atuação do enfermeiro neste programa e identificar as necessidades individuais e coletivas desta população. Material e métodos: A pesquisa foi do tipo quali-quantitativa baseada numa entrevista com 120 homens, com idade entre 20 e 59 anos, frequentadores de parques municipais em Manaus. Foi utilizado um questionário para as entrevistas, sendo que, posteriormente os dados foram avaliados estatisticamente a fim de se criar uma análise criteriosa das informações colhidas. Resultados: Sobre os principais problemas para o acesso à saúde preventiva, o maior índice foi em relação à demora no atendimento (31,3%), seguido por dificuldades relacionadas ao trabalho (25,2%). Dos entrevistados, 90% disseram ainda não terem recebido nenhum tipo de visita de profissionais de saúde para falar a respeito do programa e 79,2% declararam desconhecer a política. Também há indicativos de que a busca pelo atendimento em saúde ocorre em uma fase curativa, em sua maioria, não sendo priorizado nesta população o conceito de prevenção em relação aos agravos de saúde. Conclusão: Constatou-se a necessidade de haver estruturação no atendimento por parte dos profissionais de saúde, principalmente o enfermeiro, com intuito de atender as demandas de saúde da população masculina e redução dos índices de morbimortalidade relacionados aos seus agravos de saúde. Palavras-chave: saúde do homem, educação em saúde, Enfermagem. Artigo recebido em 11 de outubro de 2012; aceito em 27 de março de Endereço para correspondência: Louane Souza Cruz, Avenida Costa e Silva, 1140/205, Condomínio Jardim Brasil, Bloco 10 B, Manaus AM, louane.cruz@hotmail.com 91

98 Março / Abril 2013;12(2) Abstract The knowledge of a sample of male population in men health comprehensive attention national policy: nursing intervention Introduction: The Men Health Comprehensive Attention National Policy project was created having as its main objective providing assistance to men s health, improving their mobility, decreasing mortality rates as well as helping with sociocultural aspects. Men s effective participation in this project can show significant positive outcomes in the promotion of their heath, which will in turn affect society as a whole. Objectives: This studu aimed to evaluate the knowledge and the reasons for the lack of adherence to the PNAISH, using a sample of the male population from the city of Manaus as well as to recognize the nurse s participation in this project and to identify both the individual and the collective needs of the population. Methods: This was a quali-quantitative study based on an interview of 120 men, 20 to 59 years old, users of municipal squares in Manaus. A questionnaire was used to carry out the interviews and the results were turned into numbers in order to provide a more accurate analysis of the information. Results: Regarding the main problems posing as an obstacle to having access to preventive health services, the highest percentage was in terms of the delay in being seen in health units (31,3%), followed by difficulties related to work (25,2%). Among those who were interviewed, 90% declared that they have not yet received a visit by health professionals to inform them about the project and 79,2% declared having no knowledge about the project. There is also an indication that men, as a majority, seek treatment in health units when they are already ill, as the concept of disease prevention is not a priority among them. Conclusion: It has been verified the need for a better structure in attending this population by health professionals, especially by nurses, as a way to efficiently deal with the needs of the male population in terms of health as well as to reduce the percentage of morbimortality related to poor health conditions. Key-words: men s health, health education, Nursing. Resumen Conocimiento de una muestra de la populación masculina de Manaus sobre la política nacional de atención integral a la salud del hombre: actuación de enfermería Introducción: El proyecto Política Nacional de Atención Integral a la Salud del Hombre creado con la finalidad de interferir en la asistencia a la salud del hombre, modificando sus tendencias en términos de morbilidad, mortalidad y aspectos socioculturales. La participación efectiva del hombre en ese proyecto puede mostrar respuestas significativas en la promoción de su salud, con repercusión en la sociedad. Objetivo: Esta investigación tuvo como objetivo evaluar y cuantificar el conocimiento y los motivos de la no adhesión por parte de una muestra de población masculina de la ciudad de Manaus al PNAISH, reconocer la actuación del enfermero en este programa e identificar las necesidades individuales y colectivas de ese grupo poblacional. Material y métodos: Estudio cuali-cuantitativo, basado en entrevista con 120 hombres, edad entre 20 y 59 años frecuentadores de parques municipales de Manaus. Fue utilizado un cuestionario para las entrevistas y, posteriormente, los datos fueron evaluados estadísticamente con la finalidad de crear un análisis criterioso de las informaciones recolectadas. Resultados: Sobre los principales problemas para el acceso a la salud preventiva, el mayor índice fue las demoras en la atención (31.3%), seguido de la dificultad relacionada al trabajo (25,2%). De los entrevistados, 90% declararon no haber recibido ningún tipo de visita de profesionales de la salud para hablar sobre el programa y 79,2% declararon desconocer la política. También hay indicios de que el hombre, en su mayoría, solo busca atención en salud cuando está verdaderamente enfermo, ya que el concepto de prevención no es una prioridad entre ellos. Conclusión: Se constató la necesidad de implantar una estructuración en la asistencia por parte de los profesionales de la salud, principalmente el enfermero con el objetivo de atender las demandas de salud de la población masculina y la reducción de los índices de morbimortalidad relacionados a los agravantes en la salud. Palabras-clave: salud del hombre, educación en salud, Enfermería. Introdução Durante o século XX, médicos e sanitaristas não se preocupavam diretamente com políticas públicas de saúde para o gênero masculino. Apesar de não terem um programa específico, atuavam em campanhas contra o alcoolismo, entre as chamadas doenças venéreas e tentavam higienizar alguns espaços de sociabilidade masculina, como bares e bordeis. Além disso, houve uma proposta de uma 92

99 Março / Abril 2013;12(2) As condutas dos homens em não procurar assistência preventiva causam impacto à sua saúde, e essas atitudes geram riscos e refletem em uma maior taxa de morbimortalidade em indivíduos masculinos até 40 anos, atribuindo como fator importante causas externas como violências, agressões e acidentes de trânsito/trabalho. Nos homens acima de 40 anos esta condição é representada por doenças do coração e cânceres, principalmente aparelho respiratório e próstata que são as mais evidentes [3]. Segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), estima-se casos de câncer de próstata, que correspondem a um risco de 62 casos novos a cada 100 mil homens. Na região norte sua estimativa é de 30 para 100 mil, sendo o segundo nas causas de morte por câncer, perdendo para os tumores de pele não melanoma. No Amazonas o câncer de próstata tem taxa estimativa de 28,70 casos para cada 100 mil homens enquanto o câncer de mama tem taxa estimativa de 19,39 para cada 100 mil mulheres [7]. É importante considerar as taxas de mortalidade, já que, a cada três mortes de pessoas adultas, duas são homens, os quais vivem sete anos a menos que as mulheres e os índices apontam como os maiores portadores de doenças crônicas, do coração, diabetes, colesterol e níveis pressóricos mais elevados. Ainda o mesmo autor destaca a relevância de que profissionais da saúde estejam cientes desses agravantes à saúde masculina de modo geral e específico, para atuarem juntamente com a proposta do governo que favorecem suas atuações [4]. Os fatores geradores do aumento das taxas de morbimortalidade da população masculina poderiam ser minimizados ou controlados através de práticas cotidianas de promoção à saúde oferecida nas próprias unidades básicas de saúde (UBS) [5,8]. Para tentar reverter este quadro, os profissionais de enfermagem devem colocar em prática o que o PNAISH propõe: buscar estratégias de organização dos serviços públicos de saúde; capacitar e qualificar os profissionais da rede básica para o correto atendimento à saúde do homem, mudando a percepção da população masculina em relação ao cuidado com a sua saúde e a saúde da sua família; implantar e implementar a atenção a vida sexual e reprodutiva, métodos contraceptivos promovendo a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, incentivar a participação no planejamento familiar, estimular o autocuidado visando a realização de exames preventivos regulares e adoção de hábitos saudáveis, ampliar o acesso às inandrologia definida como a ciência dos problemas sexuais masculinos na luta contra doenças sexualmente transmissíveis [1]. O artigo 196 da Constituição Federal prevê que a saúde é direito de todos e dever do Estado, garantindo acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. O Sistema Único de saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal de 1988 pelas Leis nº 8080/90 (Lei Orgânica da Saúde) e nº 8142/90, com finalidade de alterar a situação de desigualdade na assistência à saúde da população, tratando dos princípios e diretrizes (equidade, integralidade, hierarquização, regionalização e participação da comunidade) [2]. Em 1983 foi criado o Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) que tinha por objetivo levar as mulheres a tomar consciência do próprio corpo, bem como enfatizar sua autonomia no que tange sua vida sexual e reprodutiva. O Ministério da Saúde (MS) até o ano de 2009 priorizava os programas de cuidados à saúde da criança, do adolescente, da mulher e do idoso, e os homens não tinham um programa específico à sua saúde. Em 27 de agosto de 2009 o MS lança a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), esta, visa promover a melhoria das condições de saúde da população masculina brasileira e facilitação ao acesso, as ações e aos serviços de assistência integral à saúde de forma preventiva de forma efetiva que visa contribuir para redução dos índices de morbidade e da mortalidade dessa população [3]. Dessa forma, o Brasil foi considerado o primeiro país da América Latina e o segundo do continente americano a implementar uma política nacional de atenção integral à saúde do homem, sendo o Canadá o primeiro [4]. A ideia de que ser homem é ser forte e de que doença é sinal de fragilidade gera uma impressão de que os serviços de saúde são exclusivamente para os supostos mais fracos, crianças, mulheres e idosos, pois mulheres buscam mais serviço para realização de exames de rotina e prevenção (40,3% mulheres e 28,4% homens), enquanto os homens procuram mais serviços de saúde por motivos de doenças (36,3% homens e 33,4% mulheres [5,6]). Assim, promover a saúde implica em mudanças de comportamentos que contribuem para uma realidade singular masculina, procurando sensibilizar os homens quanto aos cuidados à sua saúde [3]. 93

100 Março / Abril 2013;12(2) formações sobre medidas preventivas contra agravos e enfermidades, assim como garantir o acesso à serviços especializados de atenção secundária e terciária. Estas são algumas intervenções que a política preconiza, e o enfermeiro tem papel fundamental na execução do plano proposto [3]. É possível orientar a população masculina quanto às ações e serviços de saúde a partir dos princípios e diretrizes da PNAISH, visando, de forma humanizada, sua integralidade e equidade aos serviços de saúde, respeitando de forma ética os seus direitos e peculiaridades socioculturais [4]. Assim, nesta abordagem, este estudo teve como finalidade quantificar e avaliar o conhecimento e os motivos da não adesão por parte de uma amostra da população masculina sobre a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem na cidade de Manaus, e identificar a atuação do enfermeiro neste programa. Material e métodos Esta pesquisa teve início após aprovação do projeto pelo Comitê de Ética do Centro Universitário do Norte Uninorte. Os dados foram coletados no mês de dezembro de O método utilizado para a pesquisa foi do tipo quali-quantitativa, visando avaliar e quantificar o conhecimento de uma amostra da população masculina quanto a PNAISH, bem como reconhecer o papel social do enfermeiro nas suas atividades quanto à política e planejamento em saúde, obter dados concretos relacionados à baixa adesão aos serviços de atenção primária e identificar as reais necessidades individuais e coletivas para contribuir nas mudanças no atendimento nas UBS. Foram obedecidos os critérios estabelecidos na Resolução 196/96 de 10 de outubro de 1996, que regulamenta a pesquisa em seres humanos com a utilização do termo de Consentimento livre e Esclarecido. A participação dos indivíduos foi voluntária e sua identidade mantida em sigilo. Foram entrevistados 120 indivíduos do sexo masculino frequentadores dos parques da cidade de Manaus. Foram selecionadas as seguintes áreas públicas, Parque dos Bilhares (zona centro-sul), Parque Professor Gilberto Mestrinho (zona centro- -sul) e Praça da Praia da Ponta Negra (zona oeste). Foram incluídos indivíduos do sexo masculino com idade entre 20 e 59 anos sendo 40 indivíduos de cada área pesquisada. O instrumento utilizado foi um questionário que continham 7 perguntas objetivas de dados pessoais, renda familiar de cada indivíduo, se já foram visitados em seus domicílios por equipes de Unidades Básicas de Saúde (UBS) e se foram informados sobre a existência do programa saúde do homem. Os entrevistados foram questionados ainda sobre a frequência em que os mesmos procuram atendimento médico e as dificuldades que encontram para a realização desse atendimento. O programa utilizado para análise foi o software estatístico livre R na versão 2.14 de 31 de outubro de Após a tabulação dos dados, os resultados foram apresentados em tabelas e gráficos com análise do método descritivo para posterior discussão, contextualizado pela literatura eletrônica nas bases de dados Scielo, Bireme, Semsa, IBGE, Inca e Ministério da Saúde e desenvolvimento de textos pertinentes a esta pesquisa. Resultados e discussão Analisando os dados da coleta foi observado que 35,8% tinham idade entre 20 e 29 anos, 33,3% de 30 a 39 anos, 19,2% de 40 a 49 anos e 11,7% de 50 a 59 anos. Questionados sobre o estado civil, a maioria dos entrevistados, 54,2%, declaram-se solteiros, seguido pelos que se declaram casados, 37,5%, divorciados e com união estável representaram 1,7% e 6,7% do total respectivamente. Sobre a renda familiar mensal 10,8% informaram ter renda até um salário mínimo. 45,8% dos entrevistados informaram que recebem de um a três salários mínimos e 43,3% afirmaram ter remuneração acima de três salários mínimos. Houve uma pequena variação de renda sendo que o maior percentual foi de um a três salários mínimos, que condiz com dados da pesquisa do IBGE em relação à média salarial [9]. Ficou demonstrado que todos os núcleos populacionais da cidade de Manaus foram representados, sendo a Zona Centro-Oeste representada com 27,5% da amostra, as Zonas Oeste e Sul com 22,5% dos entrevistados cada um, a Zona Norte contribui com 12,5%, e a Zona Leste 7,5%. Foi identificada uma amostra da cidade de Iranduba, com percentual 7,5%, sendo esses indivíduos moradores de um município próximo a Manaus, ligados pela ponte Rio Negro recém-inaugurada, que estavam presentes nos parques no momento da pesquisa. Essa população não se exclui da pesquisa, pois o critério de avaliação 94

101 Março / Abril 2013;12(2) eram homens com idade entre 20 e 59 anos de idade frequentadores dos parques (Tabela I). Tabela I - Distribuição das zonas populacionais dos entrevistados. Zona Quantidade Percentual Centro Oeste 33 27,5 Iranduba 9 7,5 Leste 9 7,5 Norte 15 12,5 Oeste 27 22,5 Sul 27 22,5 Total ,00 Quando questionados sobre o conhecimento de uma política específica para a saúde dos homens, 79,2 % dos entrevistados declararam desconhecer a PNAISH e apenas 20,8 % afirmam saber da existência desta política (tabela II). Vale destacar que, apesar de não constar diretamente da pesquisa, muitos participantes mostraram-se surpresos com a existência de uma política voltada especificamente à sua saúde e satisfeitos pela possibilidade de sua inclusão nos serviços de atenção primária à saúde. Dos dados coletados para este item, há o indicativo de que a divulgação deste programa parece não alcançar a amostra pesquisada e isto denota a magnitude da responsabilidade dos profissionais de saúde ao executarem suas ações no programa. Tabela II - Distribuição dos entrevistados segundo o conhecimento da Política de Saúde do Homem. Conhecem Quantidade Percentual Sim 25 20,8 Não 95 79,2 Total ,0 Entre os que tiveram acesso às informações sobre a PNAISH por meio das equipes de saúde somam 32,0 %. Outros 4,0 % revelaram terem lido na internet, 8,0% nos jornais e 56,0 % através da televisão (tabela III). Vale salientar que desde a implantação da política de saúde do homem em 2009, o Ministério da Saúde através do seu Plano de Ação Nacional investiu em campanha a nível nacional, como, por exemplo, a divulgação através da internet, meios de comunicação, vídeos passados na televisão e outros para divulgar a PNAISH e a partir de 2010 disponibilizou verbas aos estados em parceria com os municípios para implementar e intensificar as campanhas [3]. Tabela III - Meio pelo qual o respondente tomou conhecimento da política de saúde do homem. Como conheceu Quantidade Percentual Equipe de saúde 8 32,0 Internet 1 4,0 Jornais 2 8,0 Televisão 14 56,0 Total ,0 O Ministério da Saúde através do PNAISH, aliado à atenção primária, tem realizado todo esforço para desenvolver ações e serviços destinados aos homens. Mas o fato é que a maioria dos homens entrevistados em nossa pesquisa afirma desconhecê- -la, há um indicativo de 79,2 % e apenas 20,8 % afirmam saber da existência desta política [10]. Quando se refere à ausência dos indivíduos do sexo masculino nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) não se deve pensar unicamente como insuficiência de responsabilidade dos homens com sua saúde e nem como deficiência na organização dos modelos de atenção primária à saúde, é preciso entender três relações que interagem entre si: os homens confrontados com as diferentes dimensões da vida, os serviços na maneira como se organizam para atender o usuário considerando as necessidades individuais e os vínculos estabelecidos entre os homens e os serviços de saúde [6,11]. Através destas medidas, destaca-se a importância da atuação dos profissionais de saúde, principalmente do enfermeiro, no incremento de tarefas voltadas para os homens, como orientações, palestras, avaliando e colocando em prática necessidades específicas desta população e compreensão de seu contexto sociocultural, para intervir precisamente nos atendimentos nas UBS [3]. Quando questionados sobre a existência ou não de Unidades Básicas de Saúde (UBS) em seus bairros, 85% responderam que tinham conhecimento da existência dessas unidades de atendimento, e 15% afirmaram a não existência de UBS em seus bairros (Tabela IV). Sobre esse dado a Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) responsável pelas UBS na cidade de Manaus informa que todas as zonas de bairros da cidade têm abrangência de UBS [20]. Levando-se em consideração que foi observada representatividade de indivíduos dessas zonas, percebe-se então, que há um indicativo da ausência de informações atingindo parte da população questionada sobre a existência de UBS em suas zonas. 95

102 Março / Abril 2013;12(2) Tabela IV - Medida descritiva do conhecimento das unidades básicas de saúde nos bairros dos entrevistados. UBS Quantidade Percentual Sim ,0 Não 18 15,0 Total ,00 Em relação à visita domiciliar por parte das equipes de saúde, 10% afirmam já terem recebido, contra 90% que dizem ainda não ter recebido visita domiciliar, estes dados comprovam que a atuação das equipes de saúde não estão chegando até o domicílio desta população, havendo indicativos da ausência de informação deste tipo de atendimento a esta população (Tabela V). Tabela V - Já receberam visita domiciliar. Visita domiciliar Quantidade Percentual Sim 12 10,0 Não ,0 Total ,00 Uma pesquisa feita em duas empresas em São Paulo, onde foram realizadas palestras, vídeo aulas, entrega de folders, abordando qualidade de vida e fatores de risco como: diabetes, hipertensão e câncer de próstata. Foi observado que a estratégia de educação e saúde produziu bons resultados sobre o conhecimento dessas doenças, constatando que essa estratégia gerou entre os participantes uma maior conscientização sobre a importância da prevenção e adoção de hábitos saudáveis [12]. Dessa forma, percebe-se que é essencial levar informação para influenciar de forma favorável na decisão por um comportamento saudável por parte da classe masculina. Ações de educação em saúde voltadas para indivíduos do sexo masculino pode ser o passo inicial para resultados satisfatórios em seu autocuidado [13]. A Resolução do COFEN 358/2009 dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes públicos ou privados, em que ocorra o cuidado profissional de Enfermagem, cabendo privativamente ao enfermeiro a liderança, a execução e a avaliação do processo de Enfermagem, de modo a alcançar os resultados de enfermagem esperados. Assim, o diagnóstico de enfermagem deve ser colocado em prática conforme necessidade da pessoa, família ou coletividade humana no processo saúde e doença, bem como a prescrição das intervenções a serem realizadas [14]. Vários estudos comprovam que os homens, em geral, sofrem mais de doenças severas e crônicas quando comparado às mulheres, e também morrem mais cedo devido a essas doenças, mas mesmo com esses altos índices, a procura pelo atendimento primário é menos significativo do que a procura das mulheres [11]. A dificuldade da procura dos homens aos serviços de atenção básica à saúde tem relação com fatores culturais, institucionais e estereótipos enraizados numa cultura errônea que potencializa práticas baseadas em crenças e valores típicos do que é ser homem, impedindo-os de procurar atendimento primário à saúde [15]. Outro ponto que dificultaria o gênero masculino de não aderir aos cuidados com a saúde seria o fato de não somente o ambulatório, mas também os ambientes médicos serem vistos como ambientes femininos. Tudo isso requer uma espécie de passividade, submissão que dá ao médico poder, pois nessa relação o médico manda enquanto o paciente obedece, o que faz com que o paciente crie certa resistência. Resistência a essa passividade, que é atribuída apenas à mulher, o que tornaria o ambiente médico para um padrão feminilizado [16]. Este estudo relatou que 31,3% apontam a demora no atendimento, como fator principal para a não adesão aos serviços preventivos. Estando de acordo com a pesquisa realizada por Scheuer, que destaca como fator importante na ausência masculina às UBS, o tempo perdido em filas de espera e o horário de funcionamento das mesmas, ocasionando ausência nos postos de trabalho e que pode acarretar a eles prejuízo profissional. A importância do trabalho para o homem se torna relevante no sentido de se tornarem responsáveis em dar assistência as suas famílias, sendo considerados como sujeitos principais da estrutura familiar [17]. Tabela VI - Dificuldades em procurar atendimento médico. Dificuldades Quantidade Percentual Demora 36 31,3 Exames 12 10,4 Horários de 15 13,0 atendimento Outros 23 20,0 Trabalho 29 25,2 Total ,00 96

103 Março / Abril 2013;12(2) Argumenta-se que seja pelo tempo perdido na espera da assistência, seja pelos horários inapropriados ao seu trabalho, os homens sentiriam mais dificuldades para serem atendidos [6]. Além disso, 25,2% dos entrevistados atribuem ao seu horário de trabalho como principal empecilho para o acesso à saúde preventiva. A saúde preventiva é o desenvolvimento de medidas preventivas com orientações voltadas para a mudança de hábitos da população, com o objetivo de manter sua saúde, valorizando seu bem estar, como forma de evitar o surgimento e a progressão de doenças [18]. Dessa forma pode se considerar que a dificuldade nesse processo leva os homens a desistir da procura de atendimentos de prevenção de sua saúde, deixando os mesmos desprovidos de tal assistência. Os fatores que contribuem para a ausência do homem nos serviços de saúde seriam a espera em filas por atendimentos e horários de funcionamentos oferecidos pelas instituições de saúde que são considerados desfavoráveis em relação a sua jornada de trabalho, diante disso, percebe-se que parte dos homens considera o trabalho como fonte principal de renda para proporcionar assistência a sua família, deixando em segundo plano os cuidados à sua saúde [19]. Diante de tal fato percebe-se a importância da extensão dos horários de atendimento para o horário noturno e aos sábados, como é proposto pela PNAISH, com intenção de aumentar a taxa de adesão dos homens nas unidades de saúde como forma preventiva de doenças [3]. Já o acesso a exames e os horários de atendimento são apontados como motivos da não procura a atendimentos por 10,4% e 13,0% respectivamente e outros motivos foram alegados por 20% dos entrevistados (Tabela VI). Apenas cinco homens relataram não terem dificuldade alguma em procurar atendimento de forma preventiva. Quando questionados sobre a frequência que procuram atendimento médico, 19,2% relatam buscar atendimento semestral, 18,3 %, anual, e 63,3% somente quando adoece (Tabela VII), ficando evidenciado na pesquisa que os homens não buscam atendimento de forma preventiva das doenças, e sim quando a doença já está instalada. Os homens preferem utilizar serviços que atendam as suas necessidades rapidamente, como farmácias e prontos-socorros, pois conseguiriam expor seus problemas com mais facilidade e resolvê- -los com mais objetividade [5,6]. Tabela VII - Frequência nos atendimentos médicos X acesso a UBS no bairro. Frequência UBS no bairro Semestral Sim 16,7% Não 2,5% Anual Sim 15,8% Não 2,5% Quando adoece Sim 52,5% Não 10,0% Total Sim 85,0% Não 15,0% O atendimento aos homens deve ser estruturado de forma humanizada e que esteja pautado na comunicação entre profissionais de saúde e usuários, para que se estabeleça uma relação de troca entre ambos [19]. Essas medidas são necessárias para que possam ocorrer mudanças na educação formal da população e no ensino específico dos profissionais da área da saúde, uma vez que o atendimento humanizado e diferenciado possa proporcionar uma maior adesão ao que o programa propõe, promoção da saúde e prevenção de doenças pelos indivíduos. Conclusão Verificou-se a necessidade de haver uma estruturação no atendimento por parte dos profissionais de saúde, principalmente o enfermeiro, com intuito de atender as demandas de saúde da população masculina e redução dos índices de morbimortalidade relacionados aos seus agravos de saúde. Desse modo, o enfermeiro como integrante das equipes de saúde, maximiza suas ações nas situações cotidianas da assistência de enfermagem nos programas de saúde que está inserido, abordando os homens com a perspectiva de atuar na promoção da saúde e detecção precoce de agravos à doença, atuando no sentido de orientá-los sobre fatores de risco e medidas de prevenção, além de buscar sinais e sintomas que possam indicar alterações na fase inicial da doença, atuando de forma ativa na redução dos índices de morbimortalidade. Referências 1. Carrara S, Russo JA, Faro L. A política de atenção à saúde do homem no Brasil: os paradoxos da medicalização do corpo masculino. Rev Saúde Coletiva 2009;19(3): Brasil. Constituição (1988). Artigo 196. Dispõe sobre a saúde é direito de todos e dever do Estado. Constituição 97

104 Março / Abril 2013;12(2) da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal Subsecretária de Edições Técnicas, Título VIII, Capítulo II, Seção II, Brasil. Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à Saúde. Departamentos de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Brasília: MS; Medeiros AP, Menezes MFB, Napoleão AA. Fatores de risco e medidas de prevenção do câncer de próstata: subsídios para a enfermagem. Brasília. Rev Bras Enferm 2011;64(2): Couto MT, Pinheiro TF, Valença O, Machin R, Silva GSN, Gomes R et al. O homem na atenção primária à saúde: discutindo (in)visibilidade a partir da perspectiva de gênero. Interface Comun Saúde Educ 2010;14(33) Figueiredo W. Assistência à saúde dos homens: um desafio para os serviços de atenção primaria. Ciênc Saúde Coletiva 2005;10(1): Instituto Nacional De Câncer. Estimativa 2012: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; Cardoso GS, Zuse CL. O conhecimento do homem a respeito do autocuidado: potencializando estratégias de prevenção de doenças e agravos à saúde. URI, Campos Santo Ângelo/RS. Vivências 2009;5(8): Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Demográfico Rio de Janeiro; IBGE; Fontes WD, Barbosa TM, Leite MC, Fonseca RLS, Santos LCF, Nery TCL. Atenção à saúde do homem: interlocução entre ensino e serviço. Acta Paul Enferm 2010;24(3): Hermann C. A cultura do masculino: fator de risco para a saúde do homem. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; Leite DF, Ferreira IMG, Souza MS, Nunes VS, Castro PR. A influência de um programa de educação na saúde do homem. O Mundo da Saúde 2010;34(1): Scheuer C, Bonfada ST. Atenção à saúde do homem: a produção científica de enfermeiros na atenção básica. Contexto & Saúde 2008;7(34). 14. Brasil. Conselho Federal de Enfermagem. Resolução Cofen- 358/2009. [online]. Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem e a implementação do Processo de Enfermagem em ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional de Enfermagem, e dá outras providências. Brasília-DF, 15 de outubro de [citado 2012 Mai 3]. Disponível em URL: Mendonça VS, Andrade AN. A Política Nacional de Saúde do Homem: necessidade ou ilusão? Revista de Psicologia Política 2010;10(20): Costa RG. Saúde e Masculinidade: reflexões de uma perspectiva de gênero. Revista Brasileira de Estudos da População 2003;20(1): Figueiredo WS, Schraiber LB. Concepções de gênero de homens usuários e profissionais de saúde de serviços de atenção primária e os possíveis impactos na saúde da população masculina. Rev Ciên Saúde Coletiva 2008;16: Czeresnia D. O conceito de saúde e a diferença entre prevenção e promoção. In: Promoção da Saúde: conceitos, reflexões, tendências. Rio de Janeiro: Fiocruz; p Brito RS, Santos DLA, Maciel PSO. Olhar masculino acerca do atendimento na estratégia saúde da família. Revista Rene 2010;11(4): Secretaria Municipal de Saúde de Manaus. Prefeitura implanta a política de atenção à saúde do homem. Notícias. Manaus: Secretaria Municipal; Assine já! Enfermagem BRASIL Tel: (11) assinaturas@atlanticaeditora.com.br 98

105 Artigo original Locus de controle e escolha de métodos contraceptivos entre jovens universitárias de uma escola de enfermagem do sul de Minas Gerais Rodolfo Souza de Faria*, Lara Silvério Silva**, Wanessa Cristina de Carvalho Fernandes**, Cristiane Giffoni Braga, D.Sc.*** *Mestrando em Fisiologia pela Universidade Estadual de Campinas UNICAMP, Laboratório de Sistemas Neurais e Comportamento (LABSNEC), Departamento de Biologia Funcional e Molecular, Instituto de Biologia, **Enfermeira pela Escola de Enfermagem Wenceslau Braz EEWB, Itajubá/MG, ***Professora titular no departamento de ensino e pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Estudo em Enfermagem da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz Resumo Objetivo: Avaliar a relação entre Locus de Controle e o tipo de método contraceptivo entre jovens universitárias estudantes da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz da cidade de Itajubá/MG. Métodos: Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, do tipo transversal e descritivo. A amostra foi composta por 103 participantes com idade maior ou igual a 18 anos. Foram utilizados dois instrumentos para realização da coleta de dados: o roteiro de entrevista referente às características sociodemográficas e a Escala de Locus de Controle da Saúde (MHLC). Resultados: Das participantes, 68% faziam uso de anticoncepcional oral e 16% faziam uso de preservativos ou de ambos. A maioria escolheu o método contraceptivo por orientação profissional (30,09%) ou para evitar gravidez (18,44%), 90% utilizaram o método de sua primeira opção, o restante não utilizou devido aos efeitos colaterais ou vontade própria. No comparativo Locus de Controle e Anticoncepcional Oral, verificou-se que o CHLC possui um posto médio maior em relação aos outros. Já o Preservativo e Anticoncepcional Oral/Preservativo, verificou-se que não houve diferença entre o PHLC e CHLC considerando suas médias iguais. Pode-se verificar também que o IHLC possui um posto médio menor. Conclusão: Encontrou-se externalidade-acaso entre as usuárias de anticoncepcionais orais e externalidade-acaso/externalidade-outros poderosos entre as usuárias de preservativos e as usuárias de anticoncepcionais orais/preservativos. Quanto à internalidade foi menor entre as usuárias de qualquer método contraceptivo utilizado. Palavras-chave: anticoncepção, comportamento de escolha, controle interno-externo, jovens. Abstract Locus of control and contraceptive method choice among young adults of a university nursing school in the south of Minas Gerais Objective: To evaluate the relationship between Locus of Control and contraceptive method among young students of the Nursing School Wenceslau Braz at Itajubá/MG. Methods: This was a qualitative, cross-sectional and descriptive study. The sample was composed of 103 female 18 years old. Data collection was performed using: guided interview, referring Artigo recebido em 17 de fevereiro de 2013; aceito em 2 de março de Endereço para correspondência: Rodolfo Souza de Faria, Rua Paulino Faria, 579 Floresta Delfim Moreira MG, rodolfo_sfaria@yahoo.com.br 99

106 Março / Abril 2013;12(2) to the socio-demographic characteristics and the scale of Locus of Health Control. Results: 68% of the participants were using oral contraceptives and only 16% condoms or both. The majority chose the contraceptive method due to professional orientation (30.09%) or to avoid pregnancy (18.44%); 90% selected the method of choice, the remaining participants did not use any due to collateral effects or willingly. When compared Locus of Control and oral contraceptives, we noticed that CHLC is higher compared to others. In relation to condoms and oral contraceptives/condoms, showed no difference between PHLC and CHLC considering equal averages. It was also possible to verify that the IHLC has a lower average. Conclusion:It was found chance-externality among users of oral contraceptives and powerful externality-chance/ externality-others among users of condoms and the users of oral contraceptives/ condoms. As for internality it was lower among users of any contraceptive method. Key-words: contraception, choice behavior, internal-external control, youth. Resumen Locus de control y método anticonceptivo elegido entre jóvenes universitarias de una escuela de enfermería de la Universidad del sur de Minas Gerais Objetivo: Evaluar la relación entre Locus de control y el tipo de método anticonceptivo entre jóvenes estudiantes de la Escola de Enfermagem Wenceslau Braz de la ciudad Itajubá/MG. Métodos: Se trata de un estudio cualitativo, descriptivo y transversal. La muestra estuvo compuesta por 103 participantes de edad mayor o igual a 18 años. Se utilizaron dos instrumentos para la colecta de datos: un guion de entrevista sobre las características sociodemográficas y Escala de Locus de Control de la Salud. Resultados: 68% hacia uso de anticonceptivos orales y 16% usaban preservativos o ambos. La mayoría eligió el método anticonceptivo por orientación profesional (30,09%) o para evitar el embarazo (18.44%), el 90% han utilizado el método de primera opción, el restante no usaron debido a efectos secundarios o por propia voluntad. En el comparativo de Locus de control y anticonceptivos orales, se constató que el CHLC tiene unpromedio superior en relación a los demás. Se constató que no hubo ninguna diferencia entre el PHLC y CHLC en relación al anticonceptivo oral y preservativo/condón considerando la media igual. Se puede comprobar también que el IHLC tiene un promedio más bajo. Conclusión: Se encontró una externalidad auténtica entre los usuarios de anticonceptivos orales y externalidad-auténtica/externalidad del poder de otro entre los usuarios de preservativos y los usuarios de anticonceptivos y preservativos. Cuanto a la internalidad fue más baja entre los usuarios de cualquier método anticonceptivo utilizado. Palabras-clave: anticoncepción, conducta de elección,control interno-externo, jóvenes. Introdução Vários fatores contribuem para a tomada de decisão da mulher. Estudos evidenciam que os homens exercem influência sobre suas parceiras quanto ao uso de métodos contraceptivos [1]. No entanto, não apenas o parceiro influencia sua companheira, uma vez que estudos [1-3] mostram que, quando interrogados sobre quem escolheu o método usado pelo casal, pouco mais da metade dos entrevistados (55,5%) referiu ter sido uma decisão em conjunto, cerca de um quinto referiu ter sido a parceira quem decidiu sobre o método a ser usado e 13% disseram quem coube ao médico tal escolha. Outros autores[4] afirmam que a mulher também atribui o controle da fecundidade ao próprio destino ou a algo pré-determinado por Deus. Entretanto, vários fatores contribuem para a tomada de decisão da escolha do método anticoncepcional. No entanto, a própria personalidade da jovem universitária é um fator determinante para a escolha do método, já que o comportamento das mesmas, em relação às suas necessidades anticoncepcionais, é influenciado pelo contexto interpessoal, cultural e de personalidade. Portanto, devem-se levar em conta, quais são as suas características, opiniões, perspectivas e necessidades, sendo considerados autoritários os serviços e profissionais que tomam decisões pelas usuárias, considerando-as objetos ou não sujeitos dos programas [5-7]. No Brasil, a prevalência de uso dos métodos anticoncepcionais é alta, porém concentrada na esterilização tubária (laqueadura) e na pílula anticoncepcional, utilizadas por 40% e 21% das mulheres, respectivamente. Entre as jovens universitárias, os métodos mais utilizados são o preservativo masculino e a pílula anticoncepcional. Isso tem levado à discussão as possibilidades reais de opção das jovens

107 Março / Abril 2013;12(2) universitárias por diferentes métodos anticoncepcionais [8-10]. No que dizem respeito aos jovens acadêmicos dos cursos de saúde, estes possuem uma responsabilidade social ainda maior quanto à educação continuada sobre o uso e a aceitação dos preservativos na comunidade acadêmica. Pressupõe-se que estes possuam informações suficientes sobre a importância deste assunto e que coloquem em prática tal hábito. Porém, frequentemente, constatam-se relatos e casos de contaminação com o HIV destes por via sexual, provocando a descrença e a dúvida da população quanto à eficácia dos preservativos no combate à propagação do vírus HIV [11]. Uma variável que alguns estudos associam com a opção pelo uso de métodos anticoncepcionais é o locus de controle. Locus de controle se refere a uma característica individual das pessoas sobre a percepção de quem controla os acontecimentos. Pode ser interna, sendo o indivíduo percebido como autor da fonte de acontecimentos em que está envolvido; ou externa, no caso do sujeito atribuir o controle da sua vida a outras pessoas, entidades ou até mesmo sorte, destino [1,5].. Devido a isto se optou por desenvolver um estudo com a população feminina universitária sexualmente ativa, que apresentasse um grande diferencial em relação ao perfil educacional da população brasileira em geral e, quanto à necessidade de maior conhecimento deste grupo etário em relação ao seu processo de decisão, às influências recebidas, bem como o contexto e a perspectiva deste público, para o desenvolvimento de estratégias de intervenções específicas. Frente ao exposto, foi proposta deste estudo utilizar a Escala de Locus de Controle da Saúde, entre as acadêmicas de uma Escola de Enfermagem do Sul de Minas Gerais, a fim de: Avaliar a relação entre o Locus de Controle e o tipo de método contraceptivo escolhido entre jovens universitárias estudantes de uma Escola de Enfermagem do Sul de Minas Gerais; Caracterizar o grupo de jovens universitárias quanto a algumas características sociodemográficas; Identificar o método escolhido, o motivo referido pela jovem para a adoção deste método contraceptivo, se o método escolhido foi sua primeira opção, se já havia feito uso de outro método anteriormente e, em caso positivo, qual o motivo da mudança; Verificar se há associação entre as dimensões do Locus de Controle e o método contraceptivo escolhido. Material e métodos Tratou-se de um estudo de abordagem quantitativa, do tipo transversal e descritivo. A população do estudo foi constituída por acadêmicas com idade igual ou maior que 18 anos, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, da cidade de Itajubá/ MG. A amostragem do tipo intencional probabilístico, com amostra composta por 103 participantes do gênero feminino, sobre as quais foi feito um levantamento prévio. Foram incluídas todas as acadêmicas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, regularmente matriculadas, que faziam uso de método contraceptivo e idade superior a 18 anos. Foram excluídas as que não eram acadêmicas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz,não faziam uso de métodos contraceptivos, as que estavam grávidas e idade inferior a 18 anos. Os dados foram coletados, na Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, em local adequado, privativo e após as seguintes providências: Agendamento do dia e horário com as entrevistadas; informação sobre o estudo a ser realizado e seus objetivos; retirada de dúvidas; esclarecimentos necessários; leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e a devida explicação do seu conteúdo. Após aprovação do comitê de Ética e Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, mediante CAAE n. 721/2011, recebendo parecer favorável para sua publicação conforme Protocolo nº 494/2011, foram realizadas as coletas de dados e a aplicação de um instrumento. Neste estudo foram utilizados um instrumento de coleta de dados que constou de um roteiro de entrevista semiestruturada, referente às características sociodemográficas (gênero, idade, escolaridade, presença de companheiro, número de gravidez, número e tipo de parto, número de abortos e idade de início da atividade sexual e idade de início do uso de métodos anticoncepcionais, método escolhido, se o método escolhido era sua primeira opção e qual o motivo da sua escolha) e o segundo instrumento foi a aplicação da Escala de Locus de Controle da Saúde individual, em cada acadêmica. A escala de Locus de Controle para a Saúde (MHLC) foi construída a partir dos 11 itens da escala HLC, incluindo novos itens, no sentido de medir as três dimensões pretendidas: internalidade (IHLC), externalidade outros poderosos (PHLC) e externalidade acaso (CHLC), seguindo proposta multidimensional [12].

108 Março / Abril 2013;12(2) Os escores da Escala de Locus de Controle da Saúde fornecem respectivamente o grau em que a pessoa acredita em si mesma, em pessoas poderosas e no acaso, como fonte de controle de sua vida [13]. Para a análise dos dados deve-se considerar que altos escores são interpretados como indicativos de alta expectativa de controle pela fonte correspondente, porém, escores baixos refletem a tendência a não acreditar naquela fonte como controladora e não indicam que os sujeitos percebem o controle vindo de outra fonte [14]. Primeiramente, os dados foram tratados e organizados no sistema computacional de planilha de cálculos Microsoft Excel. Os dados foram inseridos eletronicamente no sistema. Foi utilizada a estatística descritiva para a obtenção das frequências absolutas e relativas, assim como as medidas de tendência central representada pela média, mediana, desvio padrão, valor mínimo e máximo, assim como a amplitude. Para verificar a relação variável lócus e método foi aplicado o teste Kruskal-Wallis e teste Student-Newman-Keuls. O teste não-paramétrico de Kruskal-Wallis (também chamado de teste H), é usado para testar hipóteses de que diferentes amostras provenham da mesma população ou de populações idênticas, mas este teste não exige distribuições normais. Por outro lado, o teste de Kruskal-Wallis pode ser usado com dados no nível de mensuração ordinal, como dados que consistem em postos. Já o teste Student-Newman-Keuls visa identificar quais as médias que, tomadas duas a duas, diferem significativamente entre si [15]. Resultados Após 1 mês de coleta de dados, setembro de 2011, foram entrevistadas 103 acadêmicas. Observa- -se na Tabela I as características sociodemográficas do grupo de acadêmicas entrevistadas na Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. A faixa etária predominante éde 21 a 23 anos (42,71%), uma vez que o estudo excluiu as acadêmicas que tivessem idade inferior a 18 anos, e 42,71% estavam cursando o 8 Período, o que facilitou o entendimento da Escala de Locus de Controle da Saúde. A maioria das acadêmicas são solteiras (92,23%), começou suas atividades sexuais entre 15 e 20 anos de idade (85,43%) e nesta mesma faixa etária iniciou o uso de métodos contraceptivos (84,46%). Grande parte das mulheres nunca engravidou (97,08%). O parto cesáreo foi o único realizado (2,91%) e a taxa de abortos foi de 1,94%, sendo que a causa não foi pesquisada. Tabela I - Características sociodemográficas das acadêmicas da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Itajubá/MG, 2011 (n = 103). Características Categoria n % Idade 18 a 20 anos 21 a 23 anos 24 a 26 anos 27 a 29 anos ,89 42,71 13,59 6,79 Escolaridade 2 Período 4 Período 6 Período 8 Período ,44 15,53 23,30 42,71 Situação conjugal Solteira Casada ,23 7,76 Número de gestações Nunca engravidou ,08 2,91 01 vez Número de partos Nenhum normais Número de partos cesáreos Nenhum ,08 2,91 Número de abortos Nenhum ,05 1,94 Idade de inicio da atividade sexual 10 a 14 anos 15 a 20 anos 21 a 29 anos ,85 85,43 9,70 Idade de inicio de uso de Métodos contraceptivos 10 a 14 anos 15 a 20 anos 21 a 29 anos ,91 84,46 12,62 A maioria das acadêmicas utilizava anticoncepcional oral, preservativo ou ambos, os quais mostra a Figura 1. Logo, do total (restante) da amostra, 68% faziam uso de anticoncepcional oral e apenas 16% faziam uso de preservativo e 16% de anticoncepcional oral e preservativo, não apresentando diferença. Pode-se então observar que o preservativo foi utilizado não apenas como método único, mas também em combinação com o anticoncepcional oral. Não foi, tampouco, observada diversidade de métodos contraceptivos utilizados nenhuma referência ao Dispositivo Intra-Uterino (DIU) ou à camisinha feminina, por exemplo confirmando que o anticoncepcional oral é, realmente, o método anticonceptivo típico entre as mulheres mais jovens.

109 Março / Abril 2013;12(2) Figura 1 - Os métodos contraceptivos mais utilizados pelas acadêmicas de uma escola de enfermagem do sul de Minas Gerais. Itajubá/MG, 2011 (n = 103). 16% 16% 68% Figura 2 - O método contraceptivo escolhido foi a primeira opção entre as acadêmicas de uma escola de enfermagem do sul de Minas Gerais? Itajubá/MG, 2011 (n = 103). Sim Não 10% 90% Anticoncepcional Oral Preservativo Masculino Anticoncepcional Oral e Preservativo Masculino Quanto ao motivo de escolha do método contraceptivo, verifica-se na Tabela II a seguir, que as acadêmicas escolhem seus métodos contraceptivos principalmente por orientação profissional (30,09%) ou pelo fato de evitar a gravidez (18,44%). Tabela II - Motivo para escolha do método contraceptivo entre acadêmicas de uma escola de enfermagem do sul de Minas Gerais. Itajubá/MG, 2011 (n = 103). Motivo N % Orientação profissional Evitar gravidez Praticidade Eficácia/Segurança Vontade própria Prevenção de doenças Poucos efeitos colaterais Influência de familiares ,09 18,44 17,50 12,62 8,73 6,80 4,85 0,97 TOTAL ,0 A maioria das acadêmicas (90%), conforme Figura 3, pôde utilizar o método que era de sua primeira opção, isto é, após serem informadas sobre todos os métodos contraceptivos, optaram por um deles e não tiveram nenhuma contraindicação para utilizá-lo. Outras (10%) não puderam utilizar o método que escolheram como primeira opção. No tocante aos principais motivos de interrupção encontrados, conforme a Tabela III depara-se com os efeitos colaterais do método, naquelas que se utilizavam de anticoncepcional oral e pela vontade própria das usuárias, devido a não adaptação. Vale pormenorizar que dentre as acadêmicas entrevistadas, que interromperam o uso do anticoncepcional oral, os motivos foram devido a efeitos colaterais (70%) e vontade própria (30%). Tabela III - Motivo de mudança do método contraceptivo entre acadêmicas de uma escola de enfermagem do sul de Minas Gerais. Itajubá/MG, 2011 (n = 10). Motivo n % Efeitos colaterais 7 70 Vontade própria 3 30 TOTAL No comparativo entre os Locus de Controle no anticoncepcional oral, segundo o teste de Student-Newman-Keuls, verifica-se na Tabela IV, com 99% de confiabilidade que o valor de CHLC possui um posto médio maior em relação aos outros, de forma significativa, assim como o IHLC possui o menor posto médio, de forma significativa, em relação aos outros. Tabela IV - Comparativo entre os valores de IHLC, PHLC e CHLC no anticoncepcional oral. Itajubá/MG, Anticoncepcional oral IHLC (posto médio) = PHLC (posto médio) = CHLC (posto médio) = Comparações Student-Newman-Keuls Dif. Postos p-valor Grupos (IHLC e PHLC) = < Grupos (IHLC e CHLC) = < Grupos (PHLC e CHLC) = < Já no comparativo entre Locus de Controle no Preservativo, verifica-se na Tabela V, com 99% de confiabilidade que o valor de IHLC possui o menor posto médio de forma significativa, em relação aos outros e verifica-se que não houve uma diferença significativa entre o PHLC e CHLC considerando suas médias iguais.

110 Março / Abril 2013;12(2) Tabela V - Comparativo entre os valores de IHLC, PHLC e CHLC no preservativo masculino. Itajubá/MG, Preservativo masculino IHLC (posto médio) = PHLC (posto médio) = CHLC (posto médio) = Comparações Student-Newman-Keuls Dif. Postos p-valor Grupos (IHLC e PHLC) = Grupos (IHLC e CHLC) = < Grupos (PHLC e CHLC) = De acordo com a Tabela VI, analisando locus de controle, os valores do teste de Kruskal-Wallis, pode-se observar valores significantes em nível de 0,05 nos seguintes locus: 1- Internalidade (p = ); 2- Externo/outros poderosos (p = ) e 3- Externo/acaso (p = ). Tais valores significantes revelam a importante associação e peso que tanto o externo como o interno tem durante a tomada de decisão. Tabela VI - Análise de Variância Kruskal-Wallis. Itajubá/ MG, 2011 (n = 103). Locus de Tipo de MAC Escoren controle escolhido Média p-valor Anticoncepcional oral Preservativo Internalidade masculino Anticoncepcional oral e preservativo Anticoncepcional oral Ext. Outros Podero- masculino Preservativo sos Anticoncepcional oral e preservativo Anticoncepcional oral Preservativo 3 Ext masculino Acaso Anticoncepcional oral e preservativo Discussão Uma vez que o estudo excluiu as adolescentes, a faixa etária predominante esteve entre 21 e 23 anos. Uma parcela considerável estava cursando o 8 período, fato que facilitou o entendimento da Escala de Locus de Controle da Saúde. Quanto à situação conjugal, a maioria das mulheres era solteira (92,23%). Foi observado neste estudo que a maioria das acadêmicas fazia uso de anticoncepcional oral (68%). Os métodos contraceptivos hormonais orais são os mais conhecidos, bem como os mais utilizados por jovens, apesar de não proporcionar proteção contra as DST, o que leva a ser recomendado o uso concomitante de preservativo [5,16,23,24]. Este dado aponta que em muitos casos a mulher assume sozinha a responsabilidade pela contracepção, pois não encontra apoio em seu companheiro e, por possuir pouca ou nenhuma informação sobre outros métodos contraceptivos, acaba optando pela pílula [24]. Com o aumento das DST, existe uma preocupação em disseminar o amplo uso do preservativo masculino [5]. No entanto, apenas 16% das acadêmicas usavam preservativo masculino, isoladamente ou junto com outro método contraceptivo [24,25]. Logo, o uso do preservativo masculino deve ser incentivado, pois confere autonomia aos indivíduos, permitindo controlar o início e o fim do uso do método, sem depender da intervenção de terceiros [17]. Outros autores [5,26] apontam ainda que o uso do preservativo promove o conhecimento do próprio corpo e do corpo do outro, podendo contribuir para a melhoria da relação afetiva-sexual do casal. O grupo de acadêmicas estudado apresentou baixa taxa de fecundidade e, aparentemente, tinha preocupação com o controle de natalidade, uma vez que o início do uso de métodos contraceptivos coincidiu com o início da vida sexual. Por outro lado, é interessante notar que uma pequena parcela destas acadêmicas, na faixa dos 10 aos 14 anos, isto é, na adolescência precoce, iniciou suas atividades sexuais sem uso de métodos contraceptivos [5]. Quanto à escolha pelo método contraceptivo, vários fatores contribuem para a tomada de decisão da acadêmica. Porém grande parcela das acadêmicas optou pelo contraceptivo segundo indicação médica ou profissional da saúde, o que demonstra preocupação e interesse pelo assunto. Entretanto, nem sempre o profissional auxilia no processo de decisão, infor-

111 Março / Abril 2013;12(2) mando sobre todos os métodos; frequentemente ele decide pelo cliente. Estudo realizado [18] com 563 estudantes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) sobre comportamento de risco para a AIDS evidenciou que nas consultas são prescritos contraceptivos orais sem nenhuma orientação quanto ao uso de preservativo. Grande parte das acadêmicas mudou de método contraceptivo, na maioria das vezes foi devido a efeitos colaterais ou por não terem se adaptado. O fato de as mulheres utilizarem anticoncepcional oral sem prescrição médica deve contribuir bastante para alta incidência de efeitos colaterais [24]. É possível pensar que nem sempre as mulheres dão relevância a informações sobre possíveis efeitos colaterais de um contraceptivo no momento em que estão iniciando o seu uso. Porém, mais tarde, esses efeitos poderão ser os principais motivos para descontinuação do uso. Esse aspecto representa um verdadeiro desafio para os profissionais da saúde, no sentido de conseguirem mobilizar a atenção das mulheres para essa questão quando elas vão aos serviços solicitando um determinado método contraceptivo [19,29]. Com relação entre o Locus de Controle e o tipo de método contraceptivo escolhido, pode-se observar que as usuárias do anticoncepcional oral são mais externas-acaso que as não usuárias, bem como as usuárias do preservativo e de ambos que são mais externas-acaso/externas-outros poderosos. Sendo o fator internalidade o menor deles em relação aos métodos escolhidos [27,28,30]. Os indivíduos internos têm maior probabilidade de adotar comportamentos do tipo preventivo, enquanto que os que acreditam nas outras pessoas poderosas têm dificuldade em orientar e organizar o seu próprio tratamento, a não ser que este seja cuidadosamente especificado e monitorizado por um profissional da saúde. Acrescenta-se ainda, com base em alguns estudos efetuados, que internos e externos apresentam diferenças relativamente às suas necessidades em termos de comunicação. Os internos, de uma forma geral, necessitam sentir-se mais bem informados sobre a sua saúde, prognóstico e tratamento, solicitando informações mais específicas e detalhadas, em contrapartida, aos externos parece satisfazer uma informação mais geral e menos pormenorizada [20,21]. Outro autor [21] corrobora esta afirmação mencionando que o Locus de controle para a saúde se encontra relacionado com o fato dos indivíduos introduzirem ou não modificações nos seus comportamentos e com o tipo e o estilo de comunicação que esperam obter dos profissionais de saúde. Isto faz pensar na percepção de falta de controle pelo paciente, pois o homem não é um ser totalmente livre; precisa aprender a conviver com a ideia de que é controlado por forças e entidades externas a ele, em boa parte das vezes determinando totalmente seu comportamento. Essas entidades e forças externas ao homem tornam-se, logo, ao lado das capacidades do indivíduo, de seu empenho em provocar os fenômenos, os dois grandes polos de origem de todo e qualquer evento observado na vida diária das pessoas: o interno correspondente às causas oriundas no próprio sujeito envolvido na ação, e o externo relacionado às variáveis causais alocadas nas outras pessoas, nas entidades, nas forças do meio ambiente e no acaso, todas fora do controle do próprio sujeito [22,24]. Os resultados revelam a importante associação e peso que tanto o externo como o interno influencia durante a tomada de decisão. Conclusão Frente ao exposto, conclui-se que de 103 acadêmicas, 68% faziam uso de anticoncepcional oral e apenas 16% faziam uso de preservativo ou de ambos. A grande maioria escolheu o método contraceptivo principalmente por orientação profissional (30,09%) ou para evitar a gravidez (18,44%). A maioria das acadêmicas (90%) pôde utilizar o método que era sua primeira opção, outras (10%) não puderam utilizar devido aos efeitos colaterais ou à vontade própria. Com relação ao locus de controle e o tipo de método contraceptivo escolhido, encontrou- -se maior externalidade-acaso entre as usuárias de anticoncepcionais orais e externalidade-acaso/ externalidade-outros poderosos entre as usuárias de preservativo e de ambos. Quanto à internalidade foi menor entre as usuárias de qualquer método contraceptivo utilizado. A análise de variância de Krukal-Wallis nos três grupos do locus de controle foi semelhante, não havendo diferenças estatisticamente significantes (p = ). Portanto, acredita-se que este estudo servirá de base para futuros estudos, que permitam medir quão significativas são as intervenções de enfermagem para as clientes, usuárias de métodos contraceptivos. A enfermagem, entendendo os tipos de controle e os mé-

112 Março / Abril 2013;12(2) todos contraceptivos, poderá selecionar intervenções que aumentem o senso de controle da usuária e sugerir medidas de prevenção aos riscos de contaminação. É imprescindível que novas técnicas de investigação do comportamento contraceptivo na juventude sejam criadas ou aperfeiçoadas, extrapolando a obtenção de dados para além do uso de anticoncepção na primeira e na última relação sexual. Uma abrangência maior de dados possibilitará a identificação mais clara e precisa das práticas que envolvam os hábitos contraceptivos das usuárias, e o uso de certos métodos, como a anticoncepção de emergência, que, por serem usados ocasionalmente, não têm figurado nos resultados dos inquéritos populacionais de saúde sexual e reprodutiva, desenvolvidos neste país. Agradecimentos Agradecemos a todas acadêmicas de enfermagem que participaram da pesquisa. Referências 1. 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113 Revisão Diagnóstico de Enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva Adulto Andreza Pinto Aires da Costa*, Ana Elza Oliveira de Mendonça, M.Sc.** *Enfermeira, Pós-graduada em Enfermagem em UTI pela Faculdade União Americana, **Enfermeira, Professora do Departamento de Enfermagem da UFRN, Doutoranda em Ciências da Saúde CCS/UFRN, Enfermeira intensivista do HUOL/ UFRN Resumo Atualmente a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), em especial o Diagnóstico de Enfermagem, vem sendo implementado como forma de proporcionar uma melhor assistência aos pacientes e valorização do profissional enfermeiro. Porém esta implementação tem encontrado dificuldades em todo âmbito assistencial. O objetivo do presente estudo foi pesquisar na literatura, trabalhos que versem sobre a aplicação do diagnóstico de enfermagem em UTI. A presente revisão foi realizada nas bases eletrônicas de dados indexadas a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF), utilizando para a localização dos artigos o cruzamento dos seguintes descritores: Diagnóstico de Enfermagem e Unidade de Terapia Intensiva. Ao total foram selecionados cinco artigos, que atenderam aos critérios de inclusão estabelecidos: idioma, intervalo de tempo e formato. Identificou-se que existe pouca produção literária sobre o assunto e dificuldade de aceitação entre os profissionais, ficando um estímulo a publicações sobre o tema e incentivo a capacitação dos profissionais sobre o assunto. Palavras-chave: diagnóstico de enfermagem, sistematização da assistência de enfermagem, unidades de terapia intensiva. Abstract Nursing diagnosis in Adult Intensive Care Unit Currently the Nursing Care Systematization (NCS), in particular the Nursing Diagnosis, is developed, as a way to provide better patient care and enhancement of the professional nurse. But this implementation has encountered difficulties throughout health care. The objective of this literature review was the application of nursing diagnosis in the ICU. This review was performed in electronic databases indexed in the Virtual Health Library (VHL), the Latin American and Caribbean Health Sciences (Lilacs) and Database of Nursing (BDENF), using to locate articles the intersection of the following descriptors: Nursing Diagnosis and Intensive Care Unit. Altogether five articles were selected that met the established inclusion criteria: language, time frame and format. It was identified that there is little literature on the subject and difficulty of acceptance among professionals, and that publications on the subject should be encourage as well as professional training on the subject. Key-words: nursing diagnosis, nursing care system, intensive care units. Artigo recebido em 12 de março de 2012; aceito em 27 de março de Endereço de correspondência: Andreza Pinto Aires da Costa, Rua Arueira, 7698, III etapa, Bairro Pitimbú, Conjunto Cidade Satélite, Natal RN, andreza_ac@hotmail.com, a.elza@uol.com.br 107

114 Março / Abril 2013;12(2) Resumen Diagnóstico de Enfermería en Unidad de Terapia Intensiva Adulto En la actualidad la Sistematización de la Asistencia de Enfermería (SAE), en particular el Diagnóstico de Enfermería, ha sido implementado para proporcionar mejor atención al paciente y perspectivas del profesional de enfermería. Sin embargo, esta implementación ha encontrado dificultades en todo el ámbito asistencial. El objetivo de este estudio fue buscar en la literatura estudios relacionados con la aplicación de diagnósticos de enfermería en la UCI. Esta revisión se realizó en bases de datos electrónicas indexadas en la Biblioteca Virtual en Salud (BVS), América Latina y el Caribe en Ciencias de la Salud (Lilacs) y Base de Datos de Enfermería (BDENF), utilizando los siguientes descriptores: Diagnóstico de Enfermería y Unidad de Cuidados Intensivos para localizar los artículos. En total, se seleccionaron cinco artículos que cumplían los criterios de inclusión establecidos: el lenguaje, el marco temporal y el formato. Se ha concluido que existe poca literatura sobre el tema y dificultad de aceptación entre los profesionales, y que se debe estimular publicaciones sobre el tema, así como fomentar la formación de profesionales en el asunto. Palabras-clave: diagnóstico de enfermería, sistematización de asistencia de enfermería, unidades de cuidados intensivos. Introdução A Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) como forma de proporcionar uma melhor assistência aos pacientes, bem como valorizar o profissional enfermeiro, tem tentado ser implementado em todo o âmbito assistencial de saúde no Brasil. Porém, tem-se encontrado muitas dificuldades para alcançar esse objetivo. A SAE é composta pela documentação das etapas do processo de enfermagem, a fase do histórico, do diagnóstico de enfermagem, do planejamento e a avaliação de enfermagem [1]. Esta divisão tem cunho apenas didático, uma vez que na prática assistencial a SAE é um processo com etapas inter-relacionadas e dinâmico [2]. O Diagnóstico de Enfermagem, uma parte da SAE e segundo a North American Nursing Association (NANDA), consiste no julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família ou da comunidade, a problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais. O diagnóstico de enfermagem proporciona a base para seleção de intervenções de enfermagem, para atingir resultados pelos quais a enfermeira é responsável [3]. A enfermagem tem se aproximado dos sistemas de classificação com o intuito de se afastar do referencial que lhe guiou nas últimas décadas: o das técnicas e do tratamento curativo/interventivo e descontextualizado. Busca-se um referencial centrado no cuidado, específico, embasado em novos saberes, valores, conhecimentos e contextualizados [4]. Aponta-se também que o uso de uma linguagem padronizada é uma das prioridades da profissão, seja no ensino, na pesquisa ou na assistência, uma vez que torna visível e reconhecido o saber e o fazer da enfermagem pelas demais áreas do conhecimento [5]. Nesse contexto, faz-se necessário o desenvolvimento de uma gestão do cuidado com vistas ao alcance de melhores resultados, que oportunize o desenvolvimento de habilidades para implantação do processo de enfermagem. Dessa forma, é preciso estimular e sensibilizar a equipe de enfermagem assistencial acerca da sua aplicabilidade e decorrente obtenção de resultados, tanto para o paciente como para a instituição [6]. Frente a essa realidade e considerando que a gestão do cuidado cada vez mais está voltada para a obtenção de melhores resultados na prática clínica, estratégias têm sido desenvolvidas para a minimização e controle desses fatores intervenientes. Já há evidências de que a quantidade e a qualidade da documentação têm apresentado expressiva melhora nos prontuários [7]. O conhecimento do perfil dos pacientes internados torna-se importante para direcionar as ações de cuidado, a busca pelo conhecimento e a melhoria ou reformulação na implementação do processo de enfermagem. Nesse sentido, a análise dos registros de enfermagem em prontuários pode contribuir para a identificação de necessidades e resultados obtidos em decorrência de processos de educação permanente em saúde [8]. 108

115 Março / Abril 2013;12(2) O conjunto de diagnósticos de enfermagem, que um paciente (ou uma determinada clientela) apresenta, evidencia tanto a complexidade de seu quadro clínico e, consequentemente, o tipo de intervenções requeridas para resolução dos mesmos como, também, o respectivo conjunto de atividades necessárias, expressas nas prescrições de enfermagem [9]. Em um ambiente de terapia intensiva, as necessidades de cuidado de enfermagem são mais complexas, pois os pacientes exigem avaliações críticas e rápidas, planos de cuidados abrangentes e de serviços bem coordenados com outros profissionais da saúde [10]. Acredita-se que o conhecimento acerca da aplicabilidade dos diagnósticos de enfermagem em unidades de terapia intensiva entre os profissionais ainda é precário, cabendo as instituições empregadoras incentivar e colaborar para programas de educação permanente. Desta forma, o objetivo do estudo foi identificar na literatura artigos que versem sobre a aplicação ou implementação do diagnóstico de enfermagem em unidades de terapia intensiva adulto. Material e métodos Trata-se de um estudo de revisão de literatura do tipo narrativa. A revisão narrativa sintetiza e re- sume, em termos narrativos, um corpo e literatura de pesquisa [11]. As bases de dados utilizadas foram a Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF), cruzando os descritores da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Diagnóstico de Enfermagem e UTI. A coleta de dados se deu no mês de outubro de 2011, abrangendo publicações referentes ao período de 2005 a Têm-se como critérios de inclusão: Artigos originais, completos e publicados em revista de enfermagem, no idioma de português e que abordassem a temática do estudo. Os critérios de exclusão foram: teses de mestrado, artigos incompletos, artigos de não acesso gratuito, não condizentes com o tema e fora do intervalo de tempo. Foram identificados 05 artigos, na base Lilacs, porém destes, 02 artigos são comuns a base BDENF. Os quais foram lidos na íntegra, sumarizados, resumidos em quadros para posterior discussão. Os artigos que fizeram parte da amostra foram apresentados em forma de quadro com as seguintes informações: título, autores, periódico, ano de publicação e objetivo. Resultados e discussão Os artigos selecionados para a pesquisa estão descritos no Quadro 1, a seguir: Quadro 1 - Descrição dos artigos científicos trabalhados. Ano de Título Autores Periódico publicação Paganin A, Implantação do Diagnóstico de Enfermagem Menegat P, Klafke T, Rev Gaúch em Unidade de Terapia 2010 Lazzarotto A, Enferm Intensiva: uma análise Fachinelli TS, periódica [6] Chaves IC, Souza EN. Sistematização da Assistência de Enfermagem Truppel TC, Meier MJ, Calixto RC, Peruzzo Rev Bras Enferm 2009 em Unidade de Terapia AS, Crozeta K. Intensiva [12] Objetivos Identificar os principais diagnósticos de enfermagem na UTI e compará- -los entre os pacientes clínicos e cirúrgicos. Reestruturar a SAE em uma UTI; elencar os diagnósticos e as prescrições de enfermagem; validar as etapas da SAE e subsidiar a estruturação de um protocolo para operacionalização da SAE. 109

116 Março / Abril 2013;12(2) Título Autores Periódico Diagnóstico de necessidades da família de clientes adultos na Ribeiro JA, Santos Rev Cogitare unidade de terapia MSS. Enferm intensiva: revisão de literatura [14] Relações entre a coleta Carvalho EC, Martins de dados, diagnósticos e FTM, Dalri MCB, prescrições de enfermagem a pacientes adultos Enfermagem Rev Latinoam Canini SRMS, Laus AM, Bachion MM, de uma unidade de Rossi LA. terapia intensiva [15] Fonte: Dados da pesquisa. Ano de publicação Objetivos Descrever as necessidades apresentadas pelos familiares à luz dos diagnósticos de enfermagem. Analisar os registros de enfermagem tendo como foco o perfil de diagnósticos de enfermagem identificados; analisar a relação das prescrições de enfermagem aos elementos constitutivos dos diagnósticos identificados; analisar o diagnóstico de enfermagem de maior ocorrência, em relação à sua sustentação nos dados de avaliação do paciente e a pertinência de prescrições a ele estabelecidas. Foram avaliados os 5 artigos na íntegra, em que se pode verificar que os diagnósticos de enfermagem (DE) em UTI, de modo geral, são quase os mesmos. Os DE encontrados em comum nos artigos em maiores números estão listados no Quadro 2. Quadro 2 - Diagnóstico de Enfermagem comum nos artigos. Diagnósticos de enfermagem Comum nos artigos Integridade tissular prejudicada 6,13,15 Perfusão tissular cerebral ineficaz 6,12 Ventilação espontânea prejudicada 12,13 Padrão respiratório ineficaz 12,13 Risco para aspiração 12,15 Risco para infecção 13,15 Mobilidade física prejudicada 13,15 Fonte: Dados da pesquisa. O diagnóstico de integridade tissular prejudicada está relacionado à presença de ferida operatória, após cirurgia; tempo prolongado no leito sem a mudança de decúbito, o banho, administração de medicamentos (via subcutânea). A maior dificuldade encontrada no leito de UTI é a do paciente não ser capaz de realizar atividades por si próprias, portanto, requerendo intervenções que proporcionem as atividades da vida diária do indivíduo e promovam o seu conforto [6,13,15]. A perfusão tissular cerebral ineficaz refere-se a uma situação que se caracteriza por mudanças nas reações pupilares, no estado mental, nas respostas motoras e de comportamento. Todas essas manifestações clínicas indicam redução do fluxo sanguíneo, interferindo na oxigenação e nutrição do parênquima cerebral [12]. Como também pode ser identificado em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca e, consequentemente, recuperando em uma unidade de intensivismo, nesses pacientes ocorrem grandes alterações no padrão respiratório e função ventilatória, afetando vários sistemas, inclusive a perfusão cerebral [6]. Os diagnósticos de ventilação espontânea prejudicada e o padrão respiratório ineficaz são definidos como o funcionamento anormal ou incompleto do movimento do ar para dentro e para fora dos pulmões com certo padrão e ritmo respiratório, profundidade de inspiração e força de expiração. Observa-se que estes diagnósticos se relacionam à mecânica da ventilação e não aos processos de troca gasosa e transporte de oxigênio/dióxido de carbono. Os riscos para estes diagnósticos são o posicionamento inadequado do paciente, posicionamento errado de sondas e drenos gastrintestinal, acúmulo de secreções no trato respiratório, ventilação mecânica ineficaz [12,13]. Risco para aspiração ocorre em pacientes com risco de inalação de substâncias exógenas ou gástricas para as vias aéreas inferiores. Como pode ocorrer no posicionamento inadequado da sonda gástrica, pacientes submetidos a cirurgias que não se encontram em jejum [12,15]. 110

117 Março / Abril 2013;12(2) O diagnóstico de enfermagem de risco para infecção está agrupado na Taxonomia II da NANDA no domínio 11, que trata de Segurança/Proteção, significando estar livre de perigo, lesões físicas ou danos no sistema imunológico, prescrição contra perdas e proteção da segurança e seguridade e na classe 1 infecções que são as respostas do hospedeiro após a invasão patogênica. Os fatores de risco para este diagnóstico são procedimentos invasivos, destruição de tecidos, doença crônica, agente farmacêutico, exposição ambiental a patógeno, defesa primária inadequada, defesa secundária inadequada, incontinência e retenção urinária [13,15]. Mobilidade física prejudicada é o risco quando o paciente não pode deambular ou mudar de posição devido a algum motivo, que pode ser encontrado em pacientes submetidos principalmente a cirurgias de grande porte, pacientes sob ventilação mecânica, posicionamento inadequado no leito ou cadeira de rodas, paciente com dor, úlceras de pressão [13,15]. Ribeiro e Santos [14] aborda os diagnósticos de enfermagem para as necessidades das famílias de pacientes internados em UTI. As análises construídas foram: A interdependência da comunicação e relacionamento terapêutico para efetivação do cuidado na UTI; vulnerabilidade do cliente e da família e seus desdobramentos na saúde; cumprimento do papel da família esperado pelas enfermeiras no cuidado ao cliente; e a filosofia institucional e o distanciamento do profissional de saúde da família na UTI. A partir da análise do estudo, foi possível verificar que os Diagnósticos de Enfermagem ainda não são amplamente utilizados, enfrentando dificuldades para sua implantação nos ambientes de assistência hospitalar. Com a comparação dos artigos, pode-se concluir que alguns diagnósticos são comuns no ambiente de Unidade de Terapia Intensiva, já que os riscos aos quais os pacientes estão expostos de um modo geral são quase os mesmos. Conclusão Foi perceptível que há uma deficiência na literatura com relação a trabalhos publicados sobre Diagnósticos de Enfermagem, ficando uma lacuna que se espera ser preenchida com informações e análises positivas do processo de utilização de implementação da Sistematização da Assistência de Enfermagem. Referências 1. Andrade JS, Vieira MJ. Prática assistencial de enfermagem: problemas, perspectivas e necessidade de sistematização. Rev Bras Enferm 2005;58(3): Conselho Federal de Enfermagem (BR). Resolução nº 272/2002, Dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem - SAE - nas Instituições de Saúde Brasileiras. In: Truppel TC, Meier MJ, Calixto RC, Peruzzo SA, Crozeta K, eds. Sistematização da assistência de enfermagem em unidade de terapia intensiva. Rev Bras Enferm 2009;62(2): North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). Diagnósticos de enfermagem: definições e classificações Porto Alegre: Artmed; p Antunes MJM, Chianca TCM. As classificações de enfermagem na saúde coletiva: o projeto CIPESC. Rev Bras Enferm 2002;55(6): Crossetti MGO, Dias V. Utilização da classificação na prática e no ensino de enfermagem: experiência brasileira. Rev Bras Enferm 2002;55(6): Paganin A, Menegat P, Klafke T, Lazzarotto A, Fachinelli TS, Chaves IC, Souza EM. Implantação do diagnóstico de enfermagem em unidade de terapia intensiva: uma análise periódica. Rev Gaúcha Enferm 2010;31(2): Daly JM, Buckwalter K, Maas M. Written and computadorized care plans. J Gerontol Nurs 2002;28(9): Muller-Staub M. Evaluation of the implementation of nursing diagnoses, interventions, and outcomes. Int J Nurs Terminol Classif 2009;20(1): Helberg JL. Patients status at home care discharge. Image J Nurs Sch 1993;25(2): Vargas RS, França FCV. Processo de enfermagem aplicado a um portador de cirrose hepática utilizando as terminologias padronizadas NANDA, NIC E NOC. Rev Bras Enferm 2007;60(3): Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundamentos da pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5a ed. Porto Alegre: Artmed; p. 12. Truppel TC, Meier MJ, Calixto RC, Peruzzo SA, Crozeta K. Sistematização da assistência de enfermagem em unidade de terapia intensiva. Rev Bras Enferm 2009;62(2): Lucena AF, Gutiérrez MGR, Echer IC, Barros ALBL. Intervenções de enfermagem utilizadas na prática clínica de uma unidade de terapia intensiva. Rev Latinoam Enferm 2010;18(5). 14. Ribeiro JA, Santos MSS. Diagnóstico de necessidades da família de clientes adultos na unidade de terapia intensiva: revisão de literatura. Cogitare Enferm 2008;13(3): Carvalho EC, Martins FTM, Dalri MCB, Canini SRMS, Laus AM, Bachion MM, Rossi LA. Relações entre coleta de dados, diagnósticos e prescrições de enfermagem a pacientes adultos de uma unidade de terapia intensiva. Rev Latinoam Enferm 2008; 16(4):

118 Revisão O que tem sido divulgado em periódicos científicos online no Brasil sobre violência contra crianças e adolescentes Daise Laís Machado Ferreira*, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, D.Sc.** *Enfermeira com atuação em pediatria, mestranda em Ciências da Saúde, foco temático Saúde da Criança e do Adolescente, pós-graduanda em Violência contra Crianças, Docente da Graduação da FAMERP, **Obstetriz, Enfermeira, Doutora e Livre Docente em Enfermagem Obstétrica, Docente e Orientadora da Graduação e da Pós-graduação da FAMERP, Diretora Adjunta de Extensão de Serviços à Comunidade da FAMERP, Coordenadora do Programa de Enfermagem - Mestrado Acadêmico da FAMERP Resumo Introdução: A violência contra crianças e adolescentes é um grave problema de saúde pública em todo o mundo. Objetivo: O objetivo deste estudo foi apresentar uma revisão da bibliografia sobre violência infanto-juvenil. Método: Documentos bibliográficos nacionais veiculados online na íntegra em periódicos indexados na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS) da rede Bireme. Resultados: Foram resenhados 83 artigos, veiculados online na íntegra de 1994 a 2012, das áreas de Saúde Coletiva, Psicologia, Medicina e Enfermagem. Conclusão: São necessárias mais pesquisas que subsidiem a prevenção, controle, notificação e respeito a questões éticas, legais e humanísticas no contexto de violência infanto-juvenil no Brasil. Palavras-chave: violência, violência doméstica, criança, adolescente. Abstract What has been published in scientific journals online in Brazil on violence against children and adolescent Introduction: Child and adolescent abuse has been recognized as a major public health problem around the world. Objective: The objective of this study was to present a literature review of studies on child and adolescent abuse. Methods: National bibliographic full-text documents published in journals indexed by the Virtual Health Library (VHL) of Bireme s network. Results: 83 articles emphasizing sexual abuse and published in full from 1994 through 2012 have been reviewed, in the areas of Public Health, Psychology, Medicine and Nursing. Conclusion: Further researches on ethical, legal and humanistic issues are needed to subsidize prevention, control, and reporting of child and adolescent physical abuse in Brazil. Key-words: violence, domestic violence, child, adolescent. Artigo recebido em 12 de dezembro de 2012; aceito em 27 de março de Endereço para correspondência: Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler, Rua Alagoas, 29, Bálsamo SP, zaidaaurora@gmail.com, dlais@famerp.br 112

119 Março / Abril 2013;12(2) Resumen Lo que se ha publicado en revistas científicas online en Brasil sobre la violencia contra los niños y adolescentes Introducción: Se señala la violencia contra los niños y adolescentes como un grave problema de salud pública mundial. Objetivo: El objetivo de este estudio fue presentar una revisión de la literatura sobre los malos tratos físicos contra niños y adolescentes. Métodos: Documentos bibliográficos nacionales difundidos íntegramente en periódicos indexados en la Biblioteca Virtual de Salud (BVS) de la red Bireme. Resultados: Se revisaron 83 artículos difundidos online en su totalidad entre 1994 y 2012, en las áreas de Salud Pública, Psicología, Medicina y Enfermería. Conclusión: Se necesitan más investigaciones sobre los contextos éticos, jurídicos y humanistas, para subsidiar la prevención, el control y la notificación de la violencia contra los niños y adolescentes en Brasil. Palabras-clave: violencia, violencia doméstica, niño, adolescente. Introdução A compreensão de violência é de uso de força ou poder, contra a própria pessoa, alguém ou algum grupo social vulnerável, com intenção de maltratar, provocando danos físicos, psicológicos e ou emocionais [1-3]. É um fenômeno frequente e crescente em todo o mundo e considerado como um grave problema de saúde pública, por sua dinâmica complexa que envolve aspectos físicos, psicológicos, sociais, éticos, legais e humanísticos. Pela sua complexidade e as consequências que acarreta exige que diferentes instituições e políticas públicas promovam intervenções coordenadas [1,3-8]. A violência doméstica inclui maus tratos que vão desde negligência até abuso físico, emocional e sexual. Quando está voltada à criança é ainda mais repudiada, por atingir seres que não podem se defender, por serem intrafamiliares, perpetradas por pessoas que deviam prestar cuidados, não castigos ou maus tratos e por ser uma importante causa de morte ou de morbidade entre crianças, que têm seu desenvolvimento físico, mental e social prejudicados, muitas vezes de forma irreversível [1-3,6-15]. Os profissionais de saúde têm papel importante na suspeita, percepção e notificação da violência doméstica contra crianças e adolescentes. Também devem conhecer dados epidemiológicos, fatores de risco, sinais de alerta, aspectos legais e as políticas públicas de saúde associadas e as consequências dos maus-tratos, para permitir o adequado processo de assistência e auxílio às vítimas [1-5]. Considerando lacunas existentes nas pesquisas, nas políticas públicas e nas ações institucionais de atenção a crianças e adolescentes vitimizados no Brasil, nas últimas décadas, alguns grupos sociais e pesquisadores vêm lutando em defesa dos brasileiros menores. Há que se destacar que a partir de 1990 entrou em vigor o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069, tendo como objetivo assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes. Nele se destaca o papel dos profissionais de saúde e de educação, que têm a responsabilidade e a obrigação de ao suspeitar ou identificar casos de violência, fazer a correta notificação. Também no ECA são explicitadas as penalidades para aqueles que são agressores ou que agem de forma omissiva ou comissiva quanto aos maus tratos na infância e adolescência [2,8,15]. O cumprimento das determinações previstas no ECA exige a formação de Conselho Tutelar, um tipo de associação brasileira de proteção a crianças e jovens, com finalidade de tomar medidas que incluem orientações e apoio às vítimas, a busca de abrigo, a comunicação dos fatos à Vara da Infância e da Juventude [12] e a realização de encaminhamentos para os serviços de proteção social, jurídica ou de saúde mental [2,5-15]. A relevância na realização de estudos bibliográficos, conduzidos de forma sistematizada, é também permitir que se apresente um panorama da temática e da magnitude da problemática pesquisada. Desta forma podem se revelar as ações que devem ser realizadas para prevenção de ocorrências, melhor atendimento aos afetados e para aperfeiçoar dispositivos legais, políticas de saúde e programas de educação, atenção, controle e de reabilitação, nos âmbitos físico e mental. Assim, este estudo tem como objetivo analisar periódicos científicos nacionais indexados em bases de dados de maior impacto acadêmico, di- 113

120 Março / Abril 2013;12(2) vulgados de forma online, com abordagem explícita de violência contra crianças e adolescentes. Métodologia Trata-se de estudo bibliográfico sistematizado, com uso da internet e da integração com a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), por meio da Bireme (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde), nas Bases Eletrônicas Lilacs e SciELO Brasil e pelo endereço eletrônico scholar.google.com.br, utilizando-se como descritores violência doméstica, violência contra crianças e adolescentes e maus tratos. Para a coleta dos dados elaborou-se um instrumento com a finalidade de extrair os elementos necessários para a elaboração da resenha de cada artigo, tomando-se todo cuidado no sentido de respeitar as ideias explicitadas pelos autores em suas pesquisas. Vale ressaltar que a pesquisa bibliográfica visa descrever as diferentes nuances e aspectos de um problema que mereça ser estudado de forma aprofundada, por meio de referencias teóricas publicadas em documentos, com revisão ou atualização da literatura relacionada. Podem ser usadas tanto descrições quantitativas quanto qualitativas, dependendo dos objetivos do estudo e das variáveis que se deseja estudar. As informações bibliográficas científicas são organizadas, classificadas e indexadas em diferentes bancos de dados, com utilização da Internet, em redes de informação interligadas a bibliotecas nacionais e internacionais. A seleção, classificação e análise das publicações tomou por base a coerência e pertinência dos documentos para sua seleção e ser divulgado na íntegra, sendo os resultados apresentados em Tabelas e na forma descritiva. Resultados Foram analisados 83 artigos científicos, publicados em 29 periódicos com divulgação online, texto completo gratuito livre acesso base de dados Scielo, com publicações entre 1994 a A apresentação dos resultados foi feita com base no agrupamento em quatro áreas temáticas/profissionais, segundo o tipo de publicação que era recomendada nos periódicos, como segue: Saúde Coletiva; Psicologia; Medicina e Enfermagem. São descritos os periódicos segundo cada área temática e buscou-se na homepage da CAPES, a qualificação Qualis Capes atual de cada periódico. Observa-se na Tabela I que foram classificados neste estudo 83 artigos, publicados em 29 periódicos, a maioria, 43 (51,8%), abordava temática da área de saúde coletiva, enquanto os restantes eram de revistas de psicologia (14 artigos), de enfermagem (19 artigos) e de medicina (7 artigos). Tabela I - Área temática e número de periódicos e de artigos sobre violência contra crianças e adolescentes. Área Temática Periódicos Artigos Saúde Coletiva 9 43 Psicologia 7 14 Enfermagem 7 19 Medicina 6 7 TOTAL São apresentados a seguir, de forma descritiva, os periódicos e número de artigos, nas quatro áreas temáticas definidas neste estudo: Área Temática: Saúde Coletiva 9 Periódicos e 43 Artigos Ciência & Saúde Coletiva (15 artigos) revista de edição mensal pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva/Abrasco, com divulgação qualitativa ou quantitativa, de temas de saúde pública, Qualis/ Capes B1. Cadernos de Saúde Pública (15 Artigos) publicação mensal da Fundação Osvaldo Cruz Rio de Janeiro, considerada a revista científica brasileira com maior fator de impacto na área da saúde coletiva, com Qualis/ Capes A1. Saúde e Sociedade (5 Artigos) periódico científico trimestral, com parceria editorial entre a Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP) e da Associação Paulista de Saúde Pública (APSP). Qualis /Capes B2. Revista Saúde Pública (3 artigos) revista bimestral, de responsabilidade da Faculdade de Saúde Pública USP São Paulo. A partir de 2012 passou a cobrar dos autores taxa de publicação. Qualis/Capes A2. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil- (2 artigos ) revista trimestral, do Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP), Qualis/Capes B1. Physis Revista de Saúde Coletiva (1 Artigo) publicação trimestral do Instituto de Medicina Social da UERJ. Conta com o apoio do Conselho 114

121 Março / Abril 2013;12(2) Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico ( e do Convênio PROAP/ CAPES (Programa e Apoio à Pós-graduação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). Qualis Capes B1. Interface Comunicação, Saúde, Educação (1 artigo): publicação trimestral editada pela UNESP de Botucatu. Dá ênfase a pesquisas qualitativas, articulando comunicação e educação. Qualis/ Capes é A2 Educação; B1 Saúde Coletiva. Revista Brasileira de Epidemiologia (1 artigo): publicação trimestral, pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva ABRAS- CO. Qualis/Capes B1. A seguir são mostrados os artigos e periódicos na área temática de Psicologia. A classificação Qualis/Capes foi anotada pelo extrato de avaliação de periódicos 2010 da Psicologia Webequalis (SICAPES). Área Temática Psicologia 7 periódicos 14 artigos Psicologia Ciência e Profissão (6 artigos) publicação trimestral dos Conselhos Federal e Regionais de Psicologia. Qualis/Capes A2 Psicologia. Estudos de Psicologia (2 Artigos) revista trimestral do programa de Pós-Graduação em Psicologia do Centro de Ciências da Vida da Pontifícia Universidade Católica de Campinas PUC. Qualis/ Capes A2 Psicologia e B1 na Saúde Coletiva. Aletheia (1 artigo) revista quadrimestral do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil. Qualis/Capes B1 Psicologia e B4 na Saúde Coletiva. Psico-USF (1 artigo) revista quadrimestral do Programa de Pós Graduação Stricto Sensu de Psicologia da Universidade São Francisco. Qualis/ Capes B1 Psicologia e B3 Saúde Coletiva. Psicologia em Estudo Maringá (2 artigos) revista trimestral publicada, pelo Departamento de Psicologia da Universidade Estadual de Maringá, Paraná. ( Qualis Capes A2; Psicologia: Teoria e Pesquisa (1 artigo) revista trimestral do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília UNB, Qualis/ Capes A2 Psicologia e B3 interdisciplinar; Psicologia & Sociedade (1 artigo) revista quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Social ABRAPSO, visa o desenvolvimento da Psicologia Social e interdisciplinar. Qualis/ Capes A2 Psicologia. Outra categorização dos artigos sobre violência contra crianças e adolescentes foi na área temática da Medicina, como se mostra a seguir. Área Temática Medicina 6 periódicos 7 artigos Jornal de Pediatria (2 artigos) publicação científica bimensal da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), com a versão integral e de livre acesso nos formatos impresso e online, disponível em português e inglês no site com.br, Qualis Capes B1. Revista da Associação Médica Brasileira RAMB (1 artigo) periódico científico bimestral, Qualis/ Capes B3. Revista Brasileira Psiquiatria (1 artigo) publicação científica trimestral da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Além dos números regulares publica dois suplementos anuais. Qualis/Capes B1. Revista Paulista de Pediatria (1 artigo) publicação científica trimestral nas áreas de saúde e doença do recém-nascido, lactente, criança e adolescente. Qualis/ Capes B2 interdisciplinar. Revista Brasileira de Educação Médica (1 artigo) publicação trimestral sobre temas considerados relevantes nas áreas de Educação Médica. É, interdisciplinar e o Qualis Capes é B2. Revista de Psiquiatria Clínica (1 artigo) divulgação técnico-científica trimestral do Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Qualis Capes B1 interdisciplinar. Por fim apresenta-se a área temática de Enfermagem, na classificação de artigos sobre violência contra crianças e adolescentes publicados em periódicos nacionais, com divulgação online. A classificação Qualis Capes na área da Enfermagem foi a disponibilizada no Sistema Integrado Capes WEBQUALIS da CAPES. Área Temática Enfermagem 19 artigos em 7 periódicos Revista Latino Americana de Enfermagem (6 artigos) órgão oficial de divulgação bimestral da 115

122 Março / Abril 2013;12(2) Escola de Enfermagem da USP de Ribeirão Preto e do Centro Colaborador da OPS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. Interdisciplinar, Qualis Capes A1- Enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem (5 Artigos) (REBEn), criada em 1932, é o mais antigo periódico da enfermagem brasileira e órgão oficial de publicação bimestral da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEN). Qualis/Capes A2. Acta Paulista de Enfermagem (3 Artigos) revista da Escola Paulista de Enfermagem Diretoria de Enfermagem UNIFESP, periodicidade trimestral nas áreas de Ciências da Saúde. Qualis/ Capes A2. Revista Eletrônica de Enfermagem (2 artigos) Disponível no site é um periódico de acesso aberto, gratuito e trimestral, Qualis/Capes B1 Enfermagem e Interdisciplinar. Texto & Contexto Enferm (1 artigo) Revista trimestral do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina, filiada à Associação Brasileira de Editores Científicos ABEC.Qualis/Capes A2 Enfermagem. Cogitare Enfermagem (1 artigo) publicação trimestral do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal do Paraná UFPR, Qualis/ Capes B4. Ciência, Cuidado e Saúde Maringá (1 Artigo) publicação trimestral do Departamento de Enfermagem e Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Maringá-UEM. Qualis /Capes B1. Na Tabela II estão os dados sobre ano de publicação dos artigos sobre violência contra crianças e adolescentes, segundo área temática dos periódicos. Verifica-se que a maior parte das publicações ocorreu entre 2008 e 2012 (50-60,2%). Tabela II - Publicações sobre violência contra crianças segundo ano e área temática de publicação dos artigos. Área temática de publicação Ano de publicação Saúde Coletiva Psicologia Medicina/ Total Enfermagem Nº Nº Nº Nº % , , , , , , , , , , , , , , ,8 TOTAL Discussão Este estudo constitui-se numa análise de artigos online científicos sobre violência contra crianças e adolescentes, de autores brasileiros. A cada ano, a produção de conhecimento e a comunicação científica na área da saúde crescem em todo o mundo, com aumento dos pesquisadores cadastrados, de número de publicações e de qualidade dos periódicos. No Brasil isso também tem acontecido, com desigualdades entre as diferentes regiões, predominando as redes de pesquisadores no eixo norte-sul do país [16]. Nesta revisão da literatura, os estudiosos sobre o assunto de violência infanto-juvenil são unânimes em destacar a magnitude deste problema e sobre a 116

123 Março / Abril 2013;12(2) necessidade desta realidade ser reconhecida e conhecida em suas diferentes nuances. Com isso é possível obter subsídios para fazer diagnósticos abrangentes acerca desta problemática social e elaborar, propor e implementar estratégias de intervenção e de prevenção de sua ocorrência e dos agravos que dela resultam. No Brasil, a violência contra crianças e adolescentes é um problema relevante e ainda muito pouco pesquisado de forma aprofundada, para ser possível compreender tal fenômeno sobre os vários prismas associados e permitir ações de prevenção e intervenção adequadas [1-15,17-36]. Para análise das publicações nacionais sobre violência contra crianças e adolescentes fez-se a categorização em 4 áreas temáticas (Saúde Coletiva, Psicologia, Medicina e Enfermagem). O objeto de análise foi a qualidade dos periódicos, segundo as bases de dados de indexação, denominando-as pelo Qualis, no Brasil, número de artigos e periódicos, ano de publicação e foco temático, em cada uma das quatro áreas analisadas. O Qualis foi desenvolvido pela CAPES para fundamentação do processo de avaliação da pós- -graduação stricto sensu nacional, de acordo com o fator de impacto das revistas publicados no JCR 2002 (Journal of Citation Reports), para qualificá- -las como internacional nível A, B ou C. No Brasil, os órgãos de pesquisa utilizam o Qualis para julgar projetos, estimulando a publicação em periódicos mais valorizados e relevantes em cada área. Considerou-se as indexações de cada periódico e de ser disponibilizado online, em texto completo, gratuito, na base de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online): biblioteca eletrônica abrangendo selecionada coleção de periódicos científicos latino-americanos em todas as áreas do conhecimento, desenvolvida como parceria entre a FAPESP e a Bireme e apoio do CNPq. Analisando os periódicos incluídos neste estudo, nas quatro áreas profissionais categorizadas, observou-se maior número de publicações com credenciamento para Qualis A1 ou A2-3 (33,3%) dos 9 periódicos da Saúde Coletiva; 6 ( 85,7%) dos 7 periódicos da Psicologia, quando analisado só a área e 2(28,6%) quando visto no SICAPES; nenhum dos 6 periódicos da Medicina e 4 (57,1%) dos 7 periódicos da Enfermagem, analisados na área. Após sistemática análise foram classificados 29 periódicos e 83 artigos. Considerando a área temática teve-se na Saúde Coletiva, 9 (31%) dos periódicos e 43 (51,8%) dos artigos; na Psicologia 7 (24,1%) dos periódicos e 14 (16,9%) dos artigos; na Medicina, 6 (20,7%) dos periódicos e 7 (8,4%) dos artigos; e na Enfermagem 7 (24,1%) dos periódicos e 19 (22,9%) dos artigos. Quanto aos anos de divulgação, dos 83 artigos teve-se apenas 4 (4,8%) na década de 90; 11 (13,2%) entre os anos 2000 e 2005 e 38 (45,8%) de 2006 a Analisando por área temática, foram publicados entre 2006 e 2012: na Saúde Coletiva, dos 43 artigos, 30 (69,8%); na Psicologia, dos 11 (78,6%); na Medicina, 6 (85,7%) dos 7 artigos e na Enfermagem 15 (78,9%) dos 19 artigos. Categorizou-se os focos de investigação nos aspectos abaixo, tendo-se a frequência absoluta e percentual de cada área temática e a fundamentação da literatura, como segue: Epidemiológicos e psicossociais: 44 (53%) dos 83 artigos, publicados nos periódicos das 4 áreas temáticas, correspondendo a 24 (55,8%) da Saúde Coletiva; 5(35,7%) da Psicologia; 4 (57,1%) da Medicina e 11 (57,9%) da Enfermagem, abordando esta temática as referências bibliográficas [1,2,5,6,12-14,18,19,22,24-26,33] Prevenção, conhecimento e notificação: 20 (24%) dos 83 artigos, correspondendo a 11 (25,6%) da Saúde Coletiva; 4 (28,6%) da Psicologia; 1 (14,3%) da Medicina e 4 (21,1%) da Enfermagem. Das referências bibliográficas usadas neste estudo, deram ênfase a este aspecto as [4, 10,11,15,21,28] Programas de intervenção profissional: 14 (16,9%), sendo 7 (16,3%) da Saúde Coletiva; 3 (21,4%) da Psicologia; 1 (14,3%) da Medicina e 3 (15,85) da Enfermagem. Abordaram com mais especificidade a este aspecto as seguintes bibliografias citadas neste estudo [3,8,23,27,29,30,32,34-36] Implicações éticas e legais: 5 (6,2%), correspondendo a 1 (2,3%) da Saúde Coletiva; 2 (14,3%) da Psicologia; 1 (14,3%) da Medicina e 1 (5,3%) da Enfermagem, com as seguintes publicações citadas neste estudo [7,9,17,20,31] Ainda, vale destacar que a temática da violência sexual contra crianças e adolescentes tem merecido a atenção de muitos pesquisadores brasileiros, que ressaltam a iniquidade desta situação, o fator de risco para psicopatias, as questões psicossociais e forenses, a problemática da notificação, a necessidade de reconhecimento e notificação e o desfecho judicial [2,4,6,8,18-20,22,25-29,36]. 117

124 Março / Abril 2013;12(2) Conclusão Os dados obtidos neste estudo bibliográfico mostram que são importantes para aferição do conhecimento produzido em diferentes enfoques e para delimitar as áreas profissionais e as variáveis que merecem maior amplitude de investigação, no que se refere à violência contra crianças e adolescentes no Brasil. Ainda, podem favorecer melhor orientação do profissional de saúde quanto às formas de prevenção, atuação, notificação e controle de violências contra crianças e adolescente. Referências 1. Branco MAO, Tomanik EA. Violência doméstica contra crianças e adolescentes: prevenção e enfrentamento. Psicologia & Sociedade 2012;24(2): Souto RQ, Lucena B, Paiva AA, Cavalcanti AL. Violência sexual em crianças e adolescentes: uma revisão sistemática. Revista de Ciências Médicas e Biológicas 2010;9(2): Rocha PCX, Moraes CL. Violência familiar contra a criança e perspectivas de intervenção do Programa Saúde da Família: a experiência do PMF/Niterói (RJ, Brasil). Ciênc Saúde Coletiva 2011;16(7): Assis SG, Avanci JQ, Pesce RP, Pires TO, Gomes DL. Notificações de violência doméstica, sexual e outras violências contra crianças no Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2012;17(9): Maia AC, Maíra BM. Violência contra crianças e adolescentes no amazonas: análise dos registros. Cad Saúde Pública 2011;27(8): Apostólico MR, Nóbrega CR, Guedes RN, Fonseca RMGS, Egry EY. Características da violência contra a criança em uma capital brasileira. Rev Latinoam Enferm 2012;20(2). 7. Silva LMP, Ferriani MGC, Silva MAI. O Poder Judiciário como última instância de proteção às crianças e aos adolescentes: ações intersetoriais, investimento em recursos humanos e estruturação dos serviços. Rev Latinoam Enferm 2012; 20(3). 8. Silva LMP, Ferriani MGC, Silva MAI. Atuação da Enfermagem frente à violência sexual contra crianças e adolescentes. Rev Bras Enferm 2011;64(5): Garbin CAS, Rovida TAS, Joaquim RC, Adrielle MP, Queiroz APDG. Violência denunciada: ocorrências de maus tratos contra crianças e adolescentes registradas em uma unidade policial. Rev Bras Enferm 2011;64(4): Pfeiffer L, Rosário NA, Cat MNL. Violência contra Crianças e Adolescentes - proposta de classificação dos níveis de gravidade. Revista Brasileira de Educação Médica 2012;36(2): Koifman L, Menezes RM, Bohrer KR. Abordagem do Tema Violência contra Crianças no Curso de Medicina da Universidade Federal Fluminense. Paul Pediatr 2001;29(4): Silva CJP, Ferreira EF, Paula LPP, Naves MD, Vargas AMD, Zarzar PMPA. A violência urbana contra crianças e adolescentes em Belo Horizonte: uma história contada através dos traumas maxilofaciais. Physis Revista de Saúde Coletiva 2001;21(3): Zambon MP, Jacintho ACA, Medeiros MM, Guglielminetti R. Violência doméstica contra crianças e adolescentes: um desafio. Rev Assoc Med Bras 2012;58(4): Algeri S, Souza LM. Violência contra crianças e adolescentes: um desafio no cotidiano da equipe de enfermagem. Rev Latinoam Enferm 2006;14(4). 15. Gonçalves HS, Ferreira AL. A notificação da violência intrafamiliar contra crianças e adolescentes por profissionais de saúde. Cad Saúde Pública 2002;18(1): Coimbra Junior CEA. Desafios da produção e da comunicação científica em saúde no Brasil Cad Saúde Pública 2003;19(1): Laks J, Werner J, Miranda-Sá Junior L. Psiquiatria forense e Direitos Humanos nos polos da vida: crianças, adolescentes e idosos. Rev Bras Psiquiatr 2006;28 (2): Lima JA, Alberto MFP. As vivências maternas diante do abuso sexual intrafamiliar. Estudos de Psicologia 2010;15(2): Santos VA, Costa LF. A violência sexual contra crianças e adolescentes: conhecer a realidade possibilita a ação protetiva. Estudos de Psicologia 2011;28 (4): Granjeiro IACL. O estudo psicossocial forense como subsídio para a decisão judicial na situação de abuso sexual. Psicol: Teor Pesqui 2008;24(2): Andrade EM, Nakamura E, Paula CS, Nascimento R, Bordin IA. A visão dos profissionais de saúde em relação à violência doméstica contra crianças e adolescentes: um estudo qualitativo. Saúde Soc São Paulo 2011;20(1): Baptista RS, França ISX, Costa CMP, Brito RS. Caracterização do abuso sexual em crianças e adolescentes notificado em um programa sentinela. Acta Paul Enferm 2008;21(4): Cunha JM. A atenção de enfermagem à criança vítima de violência familiar [Tese]. Rio de Janeiro: Instituto Fernandes Figueira; Fonseca RMGS, Egry EY, Nóbrega CR, Apostólico MR, Oliveira RNG. Reincidência da violência contra crianças no município de Curitiba: um olhar de gênero. Acta Paul Enferm 2012;25(6): Mascarenhas MDM, Malta DC, Silva MMA, Lima CM, Carvalho MGO, Oliveira VLA. Violência contra a criança: revelando o perfil dos atendimentos em serviços de emergência, Brasil, 2006 e Cad Saúde Pública 2010;26 (2): Guimarães JAT, Villela WV. Características da violência física e sexual contra crianças e adolescentes atendidos no IML de Maceió, Alagoas, Brasil. Cad Saúde Pública 2011;27(8): Costa COM, Carvalho RC, Santana MAO, Silva LMS, Silva MR. Avaliação do Programa Nacional de Ações Integradas e Referenciais (PAIR) para o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, em Feira de Santana, Bahia. Ciênc Saúde Coletiva 2010;15(2): Faleiros JM, Matias ASA, Bazon MR. Violência contra crianças na cidade de Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil: 118

125 Março / Abril 2013;12(2) a prevalência dos maus-tratos calculada com base em informações do setor educacional. Cad Saúde Pública 2009;25(2): Machado HB, Lueneberg CF, Régis EI, Nunes MPP. Abuso sexual: diagnóstico de casos notificados no município de Itajaí/SC, no período de 1999 a 2003, como instrumento para a intervenção com famílias que vivenciam situações de violência. Texto Contexto Enferm 2005;14: Brito AMM, Zanetta DMT, Mendonça Rita CV, Barison SZP, Andrade VAG. Violência doméstica contra crianças e adolescentes: estudo de um programa de intervenção. Ciênc Saúde Coletiva 2005;10(1): Martins CBG, Mello JMHP. Desfecho dos casos de violência contra crianças e adolescentes no poder judiciário. Acta Paul Enferm 2009;22(6): Melo MC, Cristo RC, Kadama I. Avaliação da assistência multiprofissional dos casos de violência intrafamiliar atendidos em uma unidade de pediatria. Comun Ciênc Saúde 2010;12(3): Martins CBG, Jorge MHPM. Violência física contra menores de 15 anos: estudo epidemiológico em cidade do sul do Brasil. Rev Bras Epidemiol 2009;12(3): Cocco M, Silva EB, Jahn AC. Abordagem dos profissionais de saúde em instituições hospitalares a crianças e adolescentes vítimas de violência. Rev Eletr Enf 2010;12(3): Cocco M, Silva EB, Jahn AC, Poll AS. Violência contra crianças e adolescentes: estratégias de cuidado adotadas por profissionais de saúde. Cienc Cuid Saude 2010;9(2): Deslandes S, Mendes CHF, Lima JS, Campos DS. Indicadores das ações municipais para a notificação e o registro de casos de violência intrafamiliar e exploração sexual de crianças e adolescentes. Cad Saúde Pública 2011; 27(8):

126 Revisão Os cuidados de enfermagem na sala de imunização Rosimeire Monte de Santana*, Jose Eduardo Ribeiro Honorio Junior, D.Sc.** *Enfermeira, Faculdade Integrada da Grande Fortaleza (FGF), Ceará, **Biólogo, Professor Doutor Adjunto da Faculdade Integrada da Grande Fortaleza (FGF) Resumo Introdução: A falta de observações nos cuidados de enfermagem na sala de vacinação podem trazer sérias consequências para os usuários do serviço de saúde, daí a necessidade de conhecermos melhor sua atuação no âmbito da imunização. Objetivos: Observar os cuidados de enfermagem envolvendo a vacinação. Material e métodos: Trata-se de um estudo bibliográfico, descritivo, qualitativo, exploratório acerca da temática. Foram consultados periódicos indexados na Lilacs, Medline, Scielo, entre outros, publicados no período de 2002 a julho de Resultados: Foram encontrados 85 artigos, mas somente 24 artigos foram utilizados por estarem de acordo com o tema da pesquisa. Conclusão: Foi constatada a importância dos cuidados com a aplicação, conservação e armazenamento dos imunobiológicos e principalmente um aperfeiçoamento técnico constante. Palavras-chave: vacinação, sala de vacina, papel do profissional de enfermagem. Abstract Nursing care in the vaccination room Introduction: The lack of observations in nursing care in the vaccination room can have serious consequences for users of health service, hence the need of better knowledge on their performance concerning immunization. Objectives: To observe the nursing care involving vaccination. Methods: This was a descriptive, qualitative and exploratory literature review regarding this theme. We consulted journals indexed in Lilacs, Medline and Scielo, among others, which are published from 2002 to Results: We found 85 articles, but only 24 articles were used in this study. Conclusion: We noted the importance of caring for the implementation, maintenance and storage of immunobiologics and mainly training in continuous improvement techniques. Key-words: vaccination, immunization room, nurse s role. Artigo recebido em 4 de julho de 2012; aceito em 25 de março de Endereço para correspondência: Jose Eduardo Ribeiro Honório Júnior, Rua Costa do Sol, 1215, Siqueira, Fortaleza CE, eduribiologo@yahoo.com.br 120

127 Março / Abril 2013;12(2) Resumen Cuidados de enfermería en la sala de vacunación Introducción: La falta de observaciones en los cuidados de enfermería en la sala de vacunación puede traer graves consecuencias para los usuarios de los servicios de salud, de ahí la necesidad de un mejor conocimiento sobre la actuación de estos profesionales en la actividad de inmunización. Objetivos: Observar los cuidados de enfermería que envuelven la vacunación. Material y métodos: Se trata de una investigación bibliográfica, descriptiva, cualitativa, exploratoria sobre el tema. Hemos consultado revistas indizadas en Lilacs, Scielo Medline, entre otros, que fueron publicadas entre 2002 y Resultados: Se encontraron 85 estudios, pero sólo 24 artículos eran acerca del tema investigado. Conclusión: Se señaló la importancia de cuidar para la ejecución, mantenimiento y almacenamiento de inmunobiológicos y principalmente el continuo perfeccionamiento técnico. Palabras-clave: vacunación, sala de vacunación, rol de la enfermera. Introdução As formas mais antigas de vacinação descrevem a aplicação em adultos e crianças de material obtido das lesões da pele em casos de varíola de menor gravidade. Era uma prática perigosa e uma parte dos inoculados faleciam pela doença, mas em menor número que os 20% a 30% dos que faleciam da infecção natural. No entanto, o médico inglês Edward Jenner, aprimorou essa técnica, surgindo a primeira vacina contra a varíola em 1798 [1]. No Rio de Janeiro, no início do século XX, a falta de saneamento básico e as péssimas condições de higiene faziam da cidade um foco de epidemias, principalmente febre amarela, varíola e peste. Estas pragas tropicais deram à capital do país o triste apelido de túmulo de estrangeiros. Com medidas impopulares e polêmicas, Oswaldo Cruz, além de ter sido o responsável pela estruturação da saúde pública no Brasil, foi quem saneou o Rio, apesar da oposição da mídia e da manifestação popular. Cruz transformou o Rio em um gigantesco laboratório de combate às doenças, implantando métodos revolucionários, causando uma grande indignação, levando a um motim popular, que explodiu em 11 de novembro de 1904, conhecido como a Revolta da Vacina [2]. Conforme afirmação de Porto e Ponte [3], as estratégias de vacinação do Brasil têm alcançado altos índices de eficiência, servindo de parâmetro para iniciativas semelhantes em outros países. O Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1971 [4], citado como referência mundial, pois organizou campanhas de vacinação em outros países, como Timor Leste e auxiliou programas de imunizações na Palestina, Cisjordânia e na Faixa de Gaza, estabelecendo cooperação técnica em inúmeros países. Ações planejadas e sistematizadas desenvolvidas em nosso país erradicaram a varíola em 1973 e a poliomielite em 1989, controlaram o sarampo, o tétano neonatal, as formas graves da tuberculose, a difteria, o tétano acidental e a coqueluche. Ainda na década de 1970, visando à incorporação de novos hábitos e práticas de saúde, o Ministério da Saúde fez ajustes de linguagem à população alvo em suas campanhas, aproximando-se das comunidades e de outras realidades regionais. Os dias nacionais de vacinação adotaram como estratégia a produção de material informativo, como cartazes, folhetos e manuais, veiculados em diversos meios e divulgadores de sua linha de ação. Seu objetivo era despertar a consciência da população para a necessidade da vacina, em especial pais e responsáveis por crianças menores de cinco anos, mobilizando a sociedade em torno dessa questão e envolver outras entidades nesta tarefa. Em 1993, para comemorar os vinte anos do Programa Nacional de Imunizações (PNI), o Zé Gotinha virou a marca das campanhas de multivacinação [2]. A partir do ano 2000, já destacando a história da vacina no Estado do Ceará, houve a introdução da vacina contra Haemophilus que contribuiu para a redução dos casos de doenças causadas pela bactéria. Além da meningite, também ocorreu expressiva redução das internações no Ceará e, sobretudo dos óbitos em menores de 5 anos por pneumonia que foram 376 em 1999 e 273 no ano 2000 com redução de 27,4% em todo o Estado [5]. Em dezembro de 2003, o Ministério da Saúde do Brasil [6] instituiu formalmente um comitê para a preparação de um 121

128 Março / Abril 2013;12(2) plano que implementou o fortalecimento da vigilância epidemiológica de influenza, a constituição de um estoque estratégico do antiviral e a preparação do Instituto Butantan para a produção da vacina contra a cepa pandêmica. Em 2009 ocorreu uma pandemia do vírus H1N1 [7], inicialmente conhecido por gripe suína, o que fez o Ministério da Saúde começar uma estratégia de vacinação cuja efetividade foi até 95%. O profissional de enfermagem é personagem externamente atuante nas campanhas de vacinação. Devemos estar atentos para os cuidados de enfermagem para com toda a dinâmica envolvendo a vacinação, desde o armazenamento até as orientações acerca dos efeitos colaterais envolvidos. Esses cuidados devem obedecer aos critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Assim este estudo tem o objetivo de informar aos profissionais de saúde sobre os cuidados de enfermagem envolvidos no processo de vacinação. Material e métodos Trata-se de um estudo bibliográfico, descritivo, qualitativo e exploratório. Foram consultados periódicos indexados na Lilacs, Medline, Scielo (Scientific Eletronic Library On Line), entre outros sites da internet e livros de acordo com a terminologia em saúde: imunização, vacinas, cuidados de enfermagem, rede de frio, técnicas de aplicação de imunobiológicos, para a busca de artigos publicados. A fase de coleta de dados compreendeu o período de 2002 a Foi realizada uma pré-análise com um total de 85 artigos obtidos, sendo excluídos 65 por não estarem dentro dos critérios de inclusão. Resultando em 24 referências no final da pesquisa com o tema: Os Cuidados de Enfermagem na Sala de Imunização. Resultados Cuidados de enfermagem na sala de vacinação Segundo o Manual Imunizações do Hospital Albert Einstein (MIHIAA), é necessário usar as seguintes técnicas de aplicação das vacinas: Treinamento dos profissionais envolvidos; Posicionamento do cliente para permitir o relaxamento do músculo a ser injetado; Escolha do local apropriado de acordo com a idade, composição corporal e indicação do fabricante da vacina; Escolha da agulha adequada para o local escolhido; Aplicação simultânea de injeções múltiplas por profissionais diferentes pode reduzir a dor de antecipação da próxima injeção; Técnica de anestesia tópica: pode ser utilizada em aplicações intramusculares e diminui a dor da picada da injeção, porém não tem efeito sobre a dor causada pelo líquido vacinal [8]. O MIHIAA [8] aponta a necessidade de dois aplicadores treinados para a realização da aplicação simultânea. Trabalhos realizados na cidade de São Paulo mostraram que das 231unidade básicas de saúde com salas de vacinação, os responsáveis são profissionais da enfermagem 98,8%, dos quais 47,9% enfermeiras e 50,9% auxiliares e técnicas de enfermagem [9]. Locais de aplicação É importante observar os locais corretos para a aplicação dos imunobiológicos para evitar reações adversas. Abaixo se observam os locais mais comuns de aplicação. Figura 1- Principais vias de aplicação de vacinas. Fonte: Manual de Imunização, É comum alguns imunobiológicos causarem efeitos adversos à administração; destes podemos citar: a ocorrência de hipersensibilidade (reação anafilática), após o recebimento de qualquer dose, bem como hipersensibilidade aos componentes de qualquer produto. Para as vacinas bacterianas atenuadas ou de vírus vivo atenuados, considera-se contraindicação a presença de qualquer imunodeficiência congênita ou adquirida, neoplasia maligna e a vigência de tratamento 122

129 Março / Abril 2013;12(2) com corticoides em dose imunossupressora, terapias imunodepressoras como quimioterapia antineoplásica e radioterapia e presença de gravidez, exceto quando a gestante estiver sob alto risco de exposição a algumas doenças virais imunopreveníveis [10]. Dentre as vacinas que causam reações, e que podemos destacar é a DPT. Ela é uma associação dos toxoides diftéricos e tetânicos e da Bordetella pertussis inativada, tendo o hidróxido ou fosfato de alumínio como adjuvante e o timerosal como preservativo. Pode provocar muitos eventos adversos, porém de pouca gravidade, sendo a maioria nas primeiras 48 horas que se seguem à aplicação da vacina [11]. Um estudo, realizado na Cidade de Campo Grande MG [11], mostrou que dentre os imunobiológicos que mais apresentaram efeitos adversos pós-vacinação foram: a vacina Dupla Adulto (26,8%), a Tetra (19,5%) e a DPT (14,6%). Enquanto que os efeitos adversos mais presentes foram: dor, rubor, calor (22,4%), enduração (18,4%) e febre menor ou igual a 39,5(10,5%). Cuidados na segurança dos imunobiológicos A Rede de Frio ou Cadeia de Frio é o processo de armazenamento, conservação, manipulação, distribuição e transporte dos imunobiológicos do PNI, e deve ter as condições adequadas de refrigeração, desde o laboratório produtor até o momento em que a vacina é administrada [12]. A maioria dos imunobiológicos deve ser conservada a uma temperatura entre 2 C e 8 C. As vacinas de vírus vivos atenuados são mais sensíveis ao calor, com exceção da vacina de rotavírus, que é mais sensível ao frio, não devendo ser congelada. As vacinas para sarampo, rubéola, caxumba, varicela, febre amarela e a BCG tem sensibilidade à luz [13]. O prazo de validade, de acordo com a especificação do fabricante, é de extrema importância e deve ser rigorosamente respeitado. A organização do refrigerador, principalmente na disposição do imunobiológico, exige um cuidado especial, pois a conservação inadequada pode levar à inativação deste imunobiológico, comprometendo o indivíduo receptor desta vacina [14]. Pesquisa, realizada na cidade de Recife, verificou que apenas em 87,5 % das unidades pesquisadas há condições ideais de conservação, garantindo, assim, a eficácia do imunobiológico e a seguridade das vacinas. Nesse estudo também é apontado que apenas 4,3 % das salas de vacina visitadas estavam adequadas aos requisitos considerados mínimos pelos pesquisadores sobre o controle da Rede de Frio [14]. Melo e colaboradores [15] mostraram que das 39 UBS da Cidade de Recife, 46,1% das geladeiras apresentavam vedação inadequada e havia inexistência de termômetros de cabo extensor para monitoramento das caixas térmicas. Dentre outros cuidados preconizados pela FUNASA [12] na organização interna da geladeira (figura 2), podemos citar: No congelador (evaporador): gelo reciclável; Na primeira prateleira: vacinas que podem ser submetidas à temperatura negativa; Na segunda prateleira: termômetro de máxima e mínima; vacinas que não podem ser submetidas a temperaturas negativas; Na terceira prateleira: estoque de vacinas; soros; diluentes; Na prateleira inferior: garrafas com água e um corante; Na porta: não colocar imunobiológicos e não colocar qualquer outro produto ou objeto. As geladeiras das salas de imunização, não podem ser usadas para guardarem alimentos ou qualquer outro material que não sejam o material citado assim. Figura 2 - Modelo de geladeira usada para armazenamento de imunobiológicos e uso incorreto com armazenamento de alimentos. Fonte: (Ministério da Saúde, 2001a). A Sala de Imunização deve possuir ao menos dois equipamentos básicos utilizados na conservação e armazenamento dos imunobiológicos: um destinado a estocagem (câmara fria ou geladeira doméstica com capacidade igual ou acima 280 litros) e outro para uso diário (refrigeradores tipos refrimed ou caixas térmicas) [12]. Portanto, a ausência de um dos equipamentos básicos poderá gerar falha na qualidade dos imunobiológicos [12]. Segundo Manual de Rede de Frio [12], vemos que no armazenamento das caixas térmicas as vacinas devem estar colocadas juntamente com bobinas de gelo. O gelo, como elemento mais frio do conjunto, funcionará como receptor do calor do ar e das 123

130 Março / Abril 2013;12(2) vacinas. Em consequência as vacinas permanecerão mais tempo frias até que o calor transferido para o gelo o faça derreter. Somente a partir desse momento as vacinas passarão a receber calor, já que serão os elementos mais frios do conjunto. Melo e colaboradores mostraram [15] que em Recife das 39 UBS, 41% dos vacinadores não realizam a ambientação das bobinas de gelo reciclável, 61,5% não monitoram a temperatura da caixa térmica após o preparo, 38,5% não trocam as bobinas no início do turno da tarde. O manual imunização [14] recomenda ainda: instalar a câmara de conservação de vacinas a pelo menos 20 cm da parede e longe de fontes produtoras de calor; tomada única para ligação da câmara de conservação; usar a câmara exclusivamente para os imunobiológicos (Figura 2); manter controle rigoroso da temperatura da câmara, seja através de verificação periódica ou através de sistema de alarme; conservar bobinas de gelo reciclável para manter por mais tempo a temperatura, em caso de falta de energia elétrica; colocar as vacinas com prazo de validade próximo do vencimento nas prateleiras da frente; colocar as vacinas de vírus vivo na primeira prateleira (a mais próxima do congelador) e deixar um espaço livre entre as caixas de vacinas. Necessidade de aperfeiçoamento técnico Em um estudo realizado na cidade de Iguatu, Estado do Ceará, no período de agosto a novembro de 2009, o autor destaca a necessidade dos profissionais da Sala de Vacinação de realizarem cursos de aprimoramento profissional, dando assim, maior capacidade aos profissionais da sala de imunização. Em sua pesquisa foram entrevistados 10 profissionais que trabalham na sala de imunização e o resultado mostrou que apenas dois funcionários fizeram o curso de aperfeiçoamento, o que mostra uma deficiência importante na qualidade do pessoal deste setor [16]. Um trabalho realizado nas Unidades Básicas de Saúde de uma cidade de Minas Gerais com os profissionais de saúde que trabalhavam diretamente na sala de imunização, somente 37,1% tinham capacitação em imunização [17]. Orientações prestadas aos usuários com relação às vacinas Oliveira et al. [17] destacam que uma das principais atividades realizadas pelos profissionais da sala de vacinação é em relação às orientações prestadas aos usuários com relação às vacinas, tais como: quais as vacinas que devem tomar, as possíveis reações adversas, aprazamento, dentre outras informações relacionadas aos imunobiológicos. Esse autor realizou um estudo na cidade de Natal-RN sobre essas condutas de orientação e/ou informações que apresentou os seguintes resultados: apenas 46,5% realizavam orientações sobre as reações adversas, 30,2% não orientavam as mães, 14,0 % não orientavam sobre as vacinas administradas e apenas 9,3% recebiam orientações sobre aprazamento. No estudo de Luna et al. [18], em estudo realizado na cidade de Fortaleza, observaram que 72,7% explicavam o procedimento, enquanto 27,3% não realizavam essas orientações. Quanto à exclusividade da Sala de Imunização Em um estudo realizado no ano de 2007 na cidade de Fortaleza, na Secretaria Executiva Regional IV (SER-IV) com as enfermeiras atuantes na sala de imunização, foram encontrados os seguintes resultados: quanto à disposição de material suficiente: 88,9%, afirmaram que tinham material suficiente, contra 11,1% que afirmaram que não havia material suficiente. Em relação à disponibilidade de material disponível: todos afirmaram que o material presente na sala de imunização era suficiente. Já no item em que apontava a exclusividade da sala para a vacinação: 88,9% afirmaram ser a sala exclusiva para vacinação; entretanto 11.1% afirmaram ser a sala usada para outros procedimentos [18]. Higienização das mãos As mãos constituem a principal via de transmissão de microrganismo durante a assistência prestada aos pacientes. A prática do lavar das mãos é a mais importante profilaxia contra as infecções, que, conjugada a outras estratégias, constitui medidas imprescindíveis para o controle de infecção no ambiente hospitalar [18,19]. A concentração de bactérias na pele normal das mãos é de 10 4 a 10 6 Unidades Formadoras de Colônia (UFC)/cm 2 [20]. Os principais patógenos hospitalares encontrados nas mãos são: Staphylococus aureus, S. epidermidis, Enterococus spp. Pseudomonas aeruginosa, Klebisiella spp., leveduras como Candida e vírus como vírus da hepatite ; vírus respiratórios, vírus de transmissão fecal-oral como rotavirus, dentre outros [21,22]. 124

131 Março / Abril 2013;12(2) Luna et al. [18] ainda expõe no estudo a rotina de higienização das mãos em seu estudo, mostrando que 91,7% dos profissionais lavam as mãos durante os procedimentos, enquanto que 8,3%, não realizavam essa higienização. Soares et al. [23] mostraram que maior é a adesão a esse procedimento, quanto mais fácil for a disponibilidade dos materiais e sua proximidade em relação ao posto de trabalho. Cuidados quanto à limpeza Recomenda-se que a limpeza da geladeira dos imunobiológicos deve ser realizada com frequência. Deve ser feita periodicamente, a cada 15 dias, ou quando a camada de gelo atingir 0,5 centímetros [12]. Em um estudo realizado em município mineiro da Macrorregional Oeste, quanto à limpeza e o degelo do refrigerador de imunobiológicos, 51,4% responderam que realizam a limpeza a cada 15 dias, 8,6% não sabem ou não responderam, e 40,0% dos entrevistados responderam que realizam o procedimento de acordo com uma periodicidade que não está em consonância com orientações do PNI [24]. A sala de vacina, local para administração de vacinas na Unidade de Saúde da Família (USF), deve estar devidamente limpa e organizada, prevenindo infecções e proporcionando ao usuário assistência segura e de qualidade [24]. Conclusão O trabalho do enfermeiro na sala de vacinação não está relacionado a meras atividades, mas a ações que exigem muito conhecimento técnico e habilidade na execução das tarefas competentes aos profissionais da sala de imunização. Referências 1. Schatzmayr HG. Vacinas no limiar do século. Biotecnologia Ciência e Desenvolvimento 1997;1(2): Porto MY. Uma revolta popular contra a vacinação. Cienc Cult 2003;55(1): Porto A, Pontes CF. Vacinas e campanhas: imagens de uma história a ser contada. Revista História, Ciências, Saúde - Manguinhos 2003;10; Feijó RB, Sáfadi MAP. Imunizações: três séculos de uma história de sucessos e constantes desafios. J Pediatr 2006;82(3):S1-S3. 5. Soares BR, Campos JS, Nunes NM. Avanços em imunizações. Revista de Pediatria do Ceará 2002;3(3): Andrade CR, Ibiapina CC, Champs NS, Toledo Junior ACC, Picinin IFM. Gripe aviária: a ameaça do século XXI. J Bras Pneumol 2009;35(5): Carneiro M, Pina FJT, Waib LF, Motta FLP. Influenza H1N1 2009: revisão da primeira pandemia do século XXI. Revista AMRIGS 2010;52(2); Manual de Imunização: Centro de Imunizações Hospital Israelita Albert Einstein/Alfredo Elias Gilio. Rio de Janeiro: Elsevier; Aranda CMSS, Moraes JC. Rede de frio para a conservação de vacinas em unidades públicas do município de São Paulo: conhecimento e prática. Rev Bras Epidemiol 2006;9(2): Ministério da Saúde. Manual de procedimentos para vacinação. Brasília: Fundação Nacional de Saúde; 2001c. 11. Piacentini S, Contrera-Moreno L. Eventos adversos pós-vacinais no município de Campo Grande (MS, Brasil). Ciênc Saúde Coletiva 2011;6(2): Ministério da Saúde. Fundação Nacional de Saúde - Manual de rede de frio. 3a ed. Brasília: Funasa; 2001a. 13. Ministério da Saúde. A situação epidemiológica mundial da influenza e a preparação do Brasil para uma pandemia. Brasília: Ministério da Saúde; Araujo ACM, Silva MRF, Frias PG. Avaliação da Rede de Frio do Programa Municipal de Imunização do Distrito Sanitário IV do Município do Recife. Revista de APS 2009;12(3): Melo GKM, Oliveira JV, Andrade MS. Aspectos relacionados à conservação de vacinas nas unidades básicas de saúde da cidade de Recife-Pernambuco. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2010;19(1): Feitosa L, Feitosa J, Coriolano M. Conhecimentos e práticas do auxiliar de enfermagem em sala de imunização. Cogitare Enferm 2010;12(3): Oliveira VG, Pedrosa KKA, Monteiro AI, Santos ADB. Vacinação: O fazer da enfermagem e o saber das mães e/ou cuidadores. Rev Rene 2010;11: Luna GLM, Lira SVG, Moreira DP, Pereira AS. Aspectos relacionados à administração e conservação de vacinas em centros de saúde no Nordeste do Brasil. Ciênc Saúde Coletiva 2011;16(2): Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgico. 11ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; Krampf G, Kramer A. Epidermiologic background of hand hygiene and evaluation of the most important agents for scrubs and rubs. Clin Microbiol Rev 2004;(4): Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Higienização das mãos em serviços de saúde. Brasília: Anvisa; Cardoso CL, Mimica LMJ. Aspectos microbiológicos da pele in: Brasil, Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Segurança do Paciente Higienização das mãos. Brasília: Anvisa; p Soares CMB, Miranda NM, Carvalho SM, Paixão CAP. Higienização das mãos: Opinião de enfermeiros e técnicos de enfermagem de um hospital universitário de Minas Gerais. Revista Panamericana de Infectologia 2012;14(1): Oliveira VC, Guimarães EAA, Guimarães IA, Januário LH, Ponto IC. Prática da enfermagem na conservação de vacinas. Acta Paul Enferm 2009;22(6):

132 Março / Abril 2013;12(2) Normas de publicação Enfermagem Brasil 126 A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/ ) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar / caracteres, inclusos espaçamentos. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato.tif ou.gif) ou que possam ser editados em Power- Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato.tif ou.gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8.Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.

133 Março / Abril 2013;12(2) 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos.tif ou.gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavraschave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou . Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e . - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplos: Livro: May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986 Capítulo ou parte de livro: Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; p Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde ( Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54: Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: artigos@atlanticaeditora.com.br 127

134 Março / Abril 2013;12(2) Calendário de eventos 2013 Junho 2 a 5 de junho 17º SENPE - Seminário Nacional de Pesquisa em Enfermagem Hotel Praia Mar, Natal, RN Informações: (84) abensenpe17@gmail.com 17 a 21 de junho XV Congresso Internacional de Enfermagem 2013 Sexual e Reprodutiva Havana, Cuba Informações: lionstours.com.br/enfermagem 2013_93. html 21 a 22 de junho XII Simpósio da Sociedade Brasileira de Enfermagem em Oftalmologia Ribeirão Preto, SP Informações: cenacon@cenacon.com.br 24 a 27 de julho 11º Congresso Brasileiro de Enfermagem de Centro Cirúrgico, RA e CME São Paulo, SP Informações: eventos@sobecc.org.br Julho Agosto 1 a 3 de agosto 11º SINADEn - Simpósio Nacional de Diagnóstico em Enfermagem Sistematização da assistência de enfermagem e responsabilidade social nos campos de prática profissional PUC Curitiba, PR Informações: 18 a 21 de agosto IX Congresso da SBDST, V Congresso Brasileiro de AIDS DST: Indispensável repensar o cuidado Salvador, BA Informações: Outubro 7 a 10 de outubro 65º. Congresso Brasileiro de Enfermagem CBEn Centro de Convenções SulAmérica Rio de Janeiro, RJ Informações: 9 a 11 de outubro I Congreso Internacional Hispano-Luso de Enfermería Lisboa, Portugal Informações: 30 de outubro a 1 de novembro VIII COBEON (Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal) Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, SC Informações: Novembro 12 a 15 de novembro IV Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas João Pessoa, PB Informações: sobenfee@sobenfee.org.br 27 a 30 de novembro 2º Congresso Pan Amazônico de Oncológica Manaus, AM Informação: 128

135 EDITOR CIENTÍFICO Presidente do Conselho Científico Prof a. Dr a. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Adriano Menis Ferreira (UFMS Mato Grosso do Sul) Prof a. Dr a. Aida Mendes (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Portugal) Prof a. Dr a. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Prof. Dr Ari Nunes Assunção (UNISC Santa Cruz do Sul) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Prof. Dr. Carlos Roberto Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Dalmo Valério Machado de Lima (UFF Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Eliane Aparecida Sanches Tonolli (UEM Maringá) Prof a. Dr a. Jacileide Guimarães (UFRN Rio Grande do Norte) Prof. Dr. José Verdú Soriano (Universidad de Alicante Espanha) Prof a. Drª Leila Rosa dos Santos (ISBL Londrina) Prof a. Dr a. Márcia Galan Perroca (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) Prof a. Dr a. Márcia Maria Fontão Zago (USP Ribeirão Preto) Prof a. Dr a. Margarethe Maria Santiago Rêgo (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Maria da Graça Piva (ULBRA RS) Prof a. Dr a. Maria Ermelinda Miranda Ribeiro Jaques (Escola Superior de Enfermagem IPVC Portugal) Prof a. Dr a. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Marialda Moreira Christoffel (UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Meives Aparecida Rodrigues de Almeida (UNICAMP Campinas) Prof a. Drª Mércia Heloisa Ferreira da Cunha (UFMG Belo Horizonte) Prof a. Dr a. Nadia Antonia Aparecida Poletti (FAMERP São José do Rio Preto) Prof a. Dr a. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Roberto Carlos Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Prof a. Dr a. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP Ribeirão Preto) Prof a. Drª. Soraia Dornelles Schoeller (UFSC Santa Catarina) Prof a. Dr a. Taka Oguisso (USP São Paulo) Prof a. Drª Teresa Tonini (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dra. Valéria Lerch Lunardi (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Vera Regina Salles Sobral (UFF Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wiliam César Alves Machado (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wilson D. Lunardi Filho (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) GRUPO DE ASSESSORES Prof a. Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Ms. Maria Filomena Vancellote Almeida (UniRio Rio de Janeiro) Prof. Ms. William Malagutti (UGF São Paulo) Enfermagem Brasil é indexada no CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro São Paulo SP Atendimento (11) / assinaturas@atlanticaeditora.com.br Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 atlantica@atlanticaeditora.com.br Administração e vendas Antonio Carlos Mello mello@atlanticaeditora.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br Diretor de Marketing e Publicidade Rainner Penteado rainner@atlanticaeditora.com.br Imprensa release@atlanticaeditora.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de artigos@atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Neurociências, Nutrição Brasil e Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício. ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado.

136 EDITORIAL Uma engrenagem que move o ler e o escrever, Leila Conceição Rosa dos Santos ARTIGOS ORIGINAIS Características dos acidentes com perfurocortantes, significados e sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados, Bárbara Olívia Aparecida Carneiro Felipe, Aldaíza Ferreira Antunes Fortes, Ana Maria Nassar Cintra Soane Significado para o paciente egresso da unidade de terapia intensiva sobre a assistência recebida por acadêmicos de enfermagem, Oyara de Castro, Lígia Vieira Tenório Sales Qualidade de vida de graduandos de enfermagem em uma instituição privada no agreste Pernambucano, Evanísia Assis Goes de Araujo, Rita de Cássia Acioli Barbosa, Angélica de Godoy Torres Lima, Amanda Campos Batista Análise das auditorias do Protocolo Manchester de Classificação de Risco, Lucimeire de Menezes Zirley, Cristina Torres Lima, Maria de Lourdes Ulhôa Condições de trabalho dos cuidadores formais de idosos em uma instituição de longa permanência para idosos: conhecer para intervir, Clicia Vieira Cunha Uso do tabaco entre funcionários de uma instituição de ensino superior, Ariane Regina Santos, Karina Augustinho Bernardes, Elaine Cristina Rocha Santos, Jéssica Steffany Miranda, Silvio Fernando Guideti Marques REVISÕES Enfermagem BRASIL Índice Volume 11 número 3 - Maio / Junho de 2013 Meu filho sob uma luz: a assistência de enfermagem em puérperas de neonatos sob fototerapia, Ana Paula Lopes, Bruna Coutinho da Silva, Célia Cristina Vasconcellos, Gabrielle Souza de Carvalho, Pâmella da Costa Reis, Fernanda Garcia Bezerra Góes, Diego Pereira Rodrigues Convivência da família com o indivíduo com esquizofrenia, Raquel Juliana de Oliveira Soares, Fátima Cristina Alves Araújo, Flávia Mourão da Silva, Giselle de Sá Cavalcanti Werneck, Mariana de Assis Galdino A importância da motivação no trabalho da enfermagem: o papel do enfermeiro, Maina da Silva NORMAS DE PUBLICAÇÃO CALENDÁRIO DE EVENTOS...192

137 Editorial Uma engrenagem que move o ler e o escrever Leila Conceição Rosa dos Santos, D.Sc.* Sempre que surge o convite para um editorial, a primeira reação é de prazer. Uma vez ciente do conteúdo da revista, começam as conexões entre o conhecimento que aquele conteúdo pretende trazer e a minha prática profissional. Naturalmente uma teia de pensamentos começa a ser formada e o pano de fundo está praticamente pronto; contudo, o desafio é o seguinte: Como colocar tudo isso para o leitor? Afinal, quem é o leitor de uma revista científica? Qual foi a porta de entrada dele neste periódico em especial? Teria ele buscado um tema específico em banco de dados? Estaria ele fazendo uma pesquisa prazerosa na aquisição de um novo conhecimento para transformar sua prática ou, num momento de intensa pressão, para elaborar um trabalho de conclusão de curso? Situações como estas são as que encontro onde tenho atuado constatando o potencial avanço de nossos alunos de pós- -graduação no questionamento de suas práticas e na delimitação de seus problemas de estudo. Além disso, necessário se faz acompanhar as dificuldades e o sofrimento que isso traz para alguns estudantes que nos chegam sem preparo e/ou tradição de pesquisa. O que me leva a tantas questões num editorial? Iniciar pelo que atinge o outro numa relação, mesmo que feita aqui de forma escrita e tratá-lo como pessoa, procurando, assim, entendê-lo dentro de seu contexto. Daí, sim, estabelecida uma relação de empatia (ainda que incipiente) as questões importantes que serão expressas neste número, através dos artigos com temáticas que abrangem saúde mental e reabilitação, dentre outros, trarão o sentido que se pretende, ou seja, contribuir na construção de uma Enfermagem que, a partir do humano, está alicerçada em bases sólidas e conscientes da busca pela excelência. Dessa forma, pessoas (leitores) respeitadas na sua individualidade, dentro de seus contextos, exercendo uma profissão que leva em conta o cenário mundial que nos mostra como palavra de ordem mudanças (sociais, econômicas, políticas e culturais), se encontrarão aqui com outras (autores), que estudaram, pesquisaram, escreveram e agora dividem conosco o que aprenderam. Que isso, de alguma forma e em algum nível de profundidade, seja incentivado a ser feito em suas práticas que entrelaçam conhecimento, pensamento e ação. Daí, caminho para o que pretendi tecer, isto é, que parte da engrenagem necessária para o grande processo de construção desse cuidar clínico, tecnológico e educacional em que estamos envolvidos possa ser um incentivo para o aumento do conhecimento e para a divulgação dos seus resultados. Essa é a figura que produz a ação e que nos move pessoal e profissionalmente. Assim, para o leitor que iniciou sua leitura através deste editorial, nossas boas vindas a uma pequena parte de um mundo de conhecimentos a serem (re)descobertos, (re)construídos, (re) editados... *Docente na Pós-Graduação no Centro Universitário Padre Anchieta, Jundiaí/SP 132

138 Artigo original Características dos acidentes com perfurocortantes, significados e sentimentos dos profissionais de enfermagem acidentados Bárbara Olívia Aparecida Carneiro Felipe*, Aldaíza Ferreira Antunes Fortes, M.Sc.**, Ana Maria Nassar Cintra Soane, M.Sc.*** *Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem, da EEWB, Itajubá/MG, **Enfermeira, Docente da disciplina Estágio Supervisionado, do Curso de Graduação em Enfermagem, e das disciplinas Metodologia da Pesquisa Científica I e Metodologia da Pesquisa Científica II, dos Cursos de Especialização em Obstetrícia e Urgência e Emergência, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), Responsável pelo Setor de Pesquisa e Estudos Acadêmicos da EEWB, ***Enfermeira, Coordenadora do Departamento de Ensino e Pesquisa da EEWB, Minas Gerais Resumo Estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritivo, exploratório, retrospectivo e transversal, com os objetivos de identificar as características pessoais dos acidentados e dos acidentes com perfurocortante ocorridos com os profissionais de enfermagem do Hospital Escola (HE) de Itajubá/MG e conhecer os significados e os sentimentos desses profissionais. A coleta de dados foi com 20 profissionais de enfermagem no período de janeiro de 2009 a julho de A análise dos dados utilizou-se do método do Discurso do Sujeito Coletivo. A média de idade foi 31,6 anos, 90% do gênero feminino, 70% trabalhavam no período matutino, o tempo de trabalho na instituição variava de um a cinco anos, 90% eram técnicos de enfermagem, 40% se acidentaram com agulha, no dedo indicador da mão esquerda (25%), em unidade de pronto socorro (30%), no momento que desprezavam o material perfurocortante (30%). A sobrecarga de atividades do setor e a não adesão ao uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) (35%) contribuíram para a ocorrência de acidentes. Os significados para os participantes da pesquisa foram: medo, angústia e preocupação ; momento horrível e difícil ; depressão e inconformidade. Os sentimentos mais citados: diversos sentimentos, descuido pessoal, não senti nada. O treinamento em serviço, o aperfeiçoamento técnico e a atualização profissional são importantes para minimização dos riscos de acidentes de trabalho. Palavras-chave: controle de risco, Enfermagem, ferimentos penetrantes produzidos por agulha. Abstract Characteristics of needlestick injuries, meanings and feelings of nursing professionals who suffer such injuries This study employed a descriptive, exploratory, retrospective and cross-sectional design and was conducted using qualitative method. The aims were to identify personal characteristics of injured professional, needlestick injuries which occurred with nursing staff of the Hospital School in Itajubá/MG, and to know the meanings and feelings of these professionals. Recebido em 28 de junho de 2012; aceito em 2 de abril de Endereço de correspondência: Bárbara Olívia Aparecida Carneiro Felipe, Rua Virginia Antônia dos Santos, 15, Itajubá MG, boacf_21@hotmail.com 133

139 Maio / Junho 2013;12(3) Data collection was with 20 nursing professionals from January 2009 to July The data analysis used the Discourse of the Collective Subject method. The mean age was 31.6 years, 90% were female, 70% worked in the morning, working hours varies from one to five years, 90% were nursing technicians, 40% were needle puncture in their index finger of left hand (25%), in emergency room units (30%) when workers dispose needles (30%). The excessive workload in the unit and the non-use of Personal Protective Equipment (PPE) (35%) contributed to needlestick injuries. The meanings for the participants were: fear, anxiety and worry, horrible and difficult time, depression and non-conformity. The most commonly cited feelings were different kinds of sentiments, personal carelessness, I felt nothing. The in-service training, technical improvement and professional development are important for minimizing the risk of accidents. Key-words: risk management, nursing, needlestick injuries. Resumen Características de accidentes corto-punzantes, significados y sentimientos de los profesionales de enfermería accidentados Este estudio cualitativo, exploratorio y descriptivo, retrospectivo y transversal, tiene como finalidad identificar las características personales de los accidentados y los accidentes corto-punzantes ocurridos con el personal de enfermería del Hospital Escuela de Itajubá-MG, y conocer los significados y sentimientos de estos profesionales. La recolección de datos fue con 20 profesionales de enfermería a partir de enero de 2009 hasta julio de Para el análisis de los datos, se utilizó el método del Discurso del Sujeto Colectivo. La edad media de 31,6 años, 90% eran mujeres, 70% trabajaban por la mañana, la media de duración en el trabajo era de 1 a 5 años, el 90% eran técnicos de enfermería, 40% resultaron heridos con aguja en el dedo índice de la mano izquierda (25%) en unidades de urgencias (30%) en el momento del desecho de material corto-punzante (30%). La sobrecarga de trabajo en la unidad y la no utilización de Equipo de Protección Personal (EPP) (35%) contribuyeron para los accidentes. Los significados de los participantes fueron: miedo, angustia y preocupación, momento horrible y difícil, depresión e inconformidad. Los sentimientos más citados diversos sentimientos, descuido personal, No sentí nada. La formación en el empleo, la mejora técnica y desarrollo profesional son importantes para minimizar el riesgo de accidentes. Palabras-clave: control de riesgos, Enfermería, lesiones por pinchazo de aguja. Introdução O hospital é um local de trabalho complexo no qual, além de prover cuidados básicos de saúde, mantém atendimento de pequena e alta complexidade a um grande número de pessoas. Assim, o ambiente hospitalar envolve a exposição dos profissionais de saúde e demais trabalhadores a uma diversidade de riscos, especialmente os biológicos [1]. Os profissionais de enfermagem desempenham um trabalho de assistência direta e contínua ao paciente, tornando-se susceptíveis à contaminação por material biológico, principalmente em acidentes por inoculação percutânea mediada por agulhas ou instrumentos cortantes, que são os maiores responsáveis pela transmissão ocupacional de infecções sanguíneas [2]. Os acidentes de trabalho com material perfurocortante representam grande risco à saúde da equipe de enfermagem, devido às atividades executadas e às condições de trabalho vigentes. As causas podem ser associadas às condições inadequadas de trabalho, a não observância de normas e protocolos, à falta de equipamento de proteção, ao descarte inadequado do material perfurocortante e às falhas na supervisão e orientação da equipe de enfermagem [3]. No âmbito hospitalar, os acidentes com material perfurocortante ocorrem com maior frequência. Com isto, os profissionais de enfermagem estão expostos à contaminação pelo vírus da hepatite C, síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), sífilis e outras doenças contagiosas contraídas pelo contato acidental com sangue contaminado, além de outras ocorrências danosas à saúde do profissional [4]. No campo hospitalar, os locais onde os profissionais de enfermagem estão em contato direto com os materiais biológicos são: centro cirúrgico, pequenas cirurgias ambulatoriais, pronto socorro, sala de sutura, expurgo e em laboratórios de análises clínicas. Não só os profissionais que lidam diretamente com os pacientes, como médicos, acadêmicos e profissionais da enfermagem, estão sujeitos a contágio por material biológico. O pessoal dos serviços gerais 134

140 Maio / Junho 2013;12(3) e da administração hospitalar também tem que estar cientes quanto à importância de seguir os princípios de precauções padrões, como medidas profiláticas que se aplicam não somente ao sangue, mas a todos os fluidos corpóreos, as secreções, as excreções, contendo ou não sangue visível. A crescente preocupação com a transmissão de doenças infectocontagiosas através de acidentes com materiais perfurocortantes e fluidos corpóreos fez com que os sistemas de vigilância epidemiológica fossem criados na maioria dos hospitais, principalmente após a expedição, pelo Ministério da Saúde em junho de 1983, da portaria n 930, que estabelece que todos os hospitais do Brasil deverão manter uma comissão de controle de infecção hospitalar [5]. Com base nas argumentações expressas, esta pesquisa teve como objetivos identificar as características dos acidentes com perfurocortantes ocorridos com os profissionais de enfermagem no Hospital Escola da Faculdade de Medicina de Itajubá-MG, conhecer os significados dos acidentes com perfurocortantes para estes profissionais e conhecer os sentimentos dos profissionais de enfermagem em questão, diante desta situação. Material e métodos O presente estudo é de abordagem qualitativa, do tipo descritivo, exploratório, retrospectivo e transversal. Esta pesquisa foi realizada na cidade de Itajubá/ MG, a qual é centro de referência em assistência à saúde para dezesseis municípios da chamada micro região do alto do Sapucaí. A cidade conta com dois hospitais credenciados pelo SUS Sistema Único de Saúde, Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e Hospital Escola de Itajubá, da faculdade de medicina de Itajubá, com nível de atendimento de atenção básica até alta complexidade. A amostragem foi do tipo intencional. A amostra foi constituída de 20 profissionais de enfermagem. Os critérios de elegibilidade dos participantes da pesquisa foram: fazer parte da equipe de enfermagem, ter sofrido acidente com material perfurocortante no período de janeiro de 2009 a julho de 2011, concordar em participar da pesquisa e ser funcionário do HE. Foram utilizados dois instrumentos para a coleta de dados, um, composto de duas partes: a primeira referente às características pessoais e profissionais dos participantes do estudo e a segunda referente às características do acidente com perfurocortante. O outro instrumento é um roteiro de entrevista semiestruturada que aborda duas questões abertas inerentes aos dois últimos objetivos do estudo: O que significou para você sofrer um acidente com perfurocortante? E o que você sentiu após ter sofrido este acidente? Os dados foram analisados e interpretados utilizando-se o método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), embasado na Teoria das Representações Sociais (TRS). O DSC é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal obtidos de depoimentos, artigos de jornal e revistas. É uma forma de fazer a coletividade falar diretamente [6]. Nesta pesquisa o DSC utilizou três figuras metodológicas: Expressões-chaves (ECH), que envolvem trechos ou transcrições literais do discurso, que devem ser sublinhadas, iluminadas, coloridas pelo pesquisador, e que revelam a essência do depoimento. As ideias centrais (IC) é um nome ou expressão linguística que revela e descreve, de maneira simples, precisa e fidedigna, o sentido de cada discurso analisado e cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar início ao DSC. A IC não é uma interpretação, mas sim uma descrição do sentido de depoimento ou de um conjunto de depoimentos [6]. Utilizou-se o recurso de gravação com posterior transcrição de falas, garantindo a fidedignidade dos relatos. O anonimato dos profissionais de enfermagem foi respeitado, denominando-os por números ordinais. A coleta de dados iniciou após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá-MG, no período de 2011, com parecer consubstanciado nº 596/2010. Resultados e discussão Os resultados em relação às características pessoais e profissionais dos participantes mostram que a média de idade dos profissionais acidentados é de 31,6 anos, sendo 50% entre 20 e 29, 90% são do sexo feminino e da categoria de técnico de enfermagem, 70% trabalhavam no período matutino e tinham entre 1 a 6 anos de tempo de trabalho na instituição. Quanto às características dos acidentes com perfurocortante, evidenciou-se que o acidente com material perfurocortante que mais ocorreu foi com a agulha 135

141 Maio / Junho 2013;12(3) de lúmen; a unidade do hospital onde ocorreram mais acidentes foi no Pronto Socorro com 30% dos casos; a área do corpo mais acidentada com material perfurocortante pelos profissionais de enfermagem foi dedo indicador da mão esquerda com 25%; os fatores que mais contribuíram para a ocorrência dos acidentes foram a sobrecarga de atividades do setor e a não adesão as EPI (35%); o procedimento realizado no momento do acidente de maior frequência foi estar desprezando material perfurocortante com 30%. Ao analisarmos as respostas dos entrevistados referentes à questão aberta: O que significou, para você, sofrer um acidente com perfurocortante? obtiveram-se as ideias centrais: Medo, angústia e preocupação, Momento horrível e difícil, Depressão e inconformidade, Muita raiva pessoal e dos colegas de trabalho, Culpa, Tudo de ruim passa pela cabeça, Impotência, Falta de humanidade, Sem valor para instituição. Em relação ao significado do acidente para o profissional de enfermagem sobressaiu a ideia central Medo, angústia e preocupação (16 sujeitos) o qual será discutida a seguir, respectivamente, após o DSC: Depois do acidente eu fiquei com medo, com muito medo, por não saber quem era o paciente, medo de pegar uma doença como HIV ou hepatite, angustiada, pois não conhecia o paciente. Até os resultados dos exames fiquei apavorada. A gente fica receosa, fica preocupada mesmo sabendo quem era o paciente. A gente fica triste mesmo fazendo o teste rápido, tem outras doenças, mais senti só tristeza mesmo e medo também, mais nada. Na hora bateu uma angústia [...], mas o que me deixou aliviado foi que o paciente era uma criança de 11 anos, eu fiquei com muito medo porque a criança usava traqueostomia, foi transfundida várias vezes, tinha bastantes problemas de saúde, a mãe usava drogas e isso me preocupou muito doenças que poderia adquirir com esse acidente. [...] Porém, poderia ter sido um paciente soropositivo, mesmo assim a gente fica apreensiva. [...] Tive muito medo de pegar alguma doença. Fiquei com insegurança, medo, não conhecia o paciente, mas, e as doenças transmissíveis? A ocorrência de acidente com os profissionais de enfermagem envolvendo material biológico está evidenciada por passarem: (...) ficar com medo da contaminação no trabalho, ansiedade, depressão e medo da morte em função da expectativa do resultado do teste anti-hiv, fantasias de contaminação, preocupação com a vida sexual passada, presente e futura, receio de reações negativas da família, parceiro e colegas de trabalho (críticas, discriminação), sentimento de culpa pelo acidente, raiva do hospital e do sistema de saúde hostil. [7]. A segunda ideia central de maior frequência foi momento horrível e difícil, que é demonstrado com o DSC: Difícil! Foi a pior experiência da minha vida, mesmo tendo sido acidentada por culpa da colega de trabalho, foi horrível imaginar ter adquirido um HIV ou outra doença. Não gosto nem de lembrar, foi uma sensação terrível. É terrível pensar que por um descuido você pega uma doença como HIV. Nossa! Nem sei explicar o que significou para mim, foi um momento horrível. É difícil dizer, pois na hora a gente nem sabe o que fazer, e depois vem as doenças que poderia ter pegado pelo acidente. O relato acima enfatiza que o acidente com perfurocortantes afeta psicologicamente o trabalhador de enfermagem. Essa concepção é mencionada pelos trabalhadores acidentados, que apresentaram medo da contaminação, ansiedade, expectativa do resultado do teste anti-hiv, preocupação com a vida sexual, dentre outros dados que confirmam o impacto psicológico causado pelo acidente com perfurocortante [8]. Na segunda questão aberta: O que você sentiu após ter sofrido este acidente? emergiram as ideias centrais: Diversos Sentimentos, Descuido pessoal, Falta de assistência, Não senti nada. No tocante aos sentimentos dos profissionais de enfermagem acerca dos acidentes com perfurocortantes emergiu a ideia central Diversos sentimentos de maior frequência relatada pelo DSC: Depois do acidente fiquei apavorada, com medo de pegar uma doença, foi horrível. Senti medo e insegurança, raiva de mim mesma. Fiquei preocupada, não tem como não ficar. Conversei com o paciente para fazer o teste rápido e fiquei apreensiva até o resultado. Chorei muito com medo de ter me contaminado, é uma sensação horrível, o medo, a angústia e a dúvida... [...] Será que aquele paciente 136

142 Maio / Junho 2013;12(3) tem alguma doença? Na hora fiquei com raiva do profissional médico [...] Acho falta de respeito com o profissional de enfermagem. Senti muito medo, por não conhecer o paciente, e triste por imaginar as doenças que poderia adquirir com esse acidente. Fiquei muito nervosa, preocupada e angustiada, porque a paciente estava em quarto de isolamento, e isso me deixou muito apreensiva. Vem muita coisa na cabeça da gente. Fiquei muito triste com o acontecido, foi tudo muito rápido, quando cheguei em casa chorei muito. Depois do acidente senti muito medo, bastante preocupada e na expectativa dos resultados dos exames. [...] Chorei muito em casa, aí que a gente percebe a responsabilidade que tem. Senti muita angústia e medo, pensei que ia entrar em depressão, porque só sabia chorar com a situação, não sabia o que fazer. Nossa! Depois que aconteceu o acidente eu só sabia pensar nas doenças que poderia pegar, aí fiquei nervosa, não gosto de lembrar. Percebem-se, nos depoimentos, o medo e a preocupação que os profissionais apresentam no cuidado e na convivência com pacientes que têm sorologia positiva ao HIV. Também fica claro que temem a possibilidade de vivenciarem e suportarem o sofrimento, o abandono e a discriminação a que esses pacientes são submetidos. Eles temem o julgamento dos amigos, do cônjuge e da sociedade, se forem infectados no acidente de trabalho, pois reconhecem o estigma das pessoas que são portadoras do HIV [9]. A segunda ideia central de maior frequência foi descuido pessoal pode-se evidenciar por meio do DSC: Senti que foi um erro meu pois não estava prestando atenção no procedimento que estava executando. Descuido, pois deveria ter mais cuidado ao manusear material perfurocortante. Senti que foi um descuido, falta de atenção, deveria ter pedido ajuda de algum colega para me ajudar com o material perfurocortante. Percebi que necessito de mais cuidado com o descarte de material perfurocortante. Verifica-se a importância do uso de EPI e da adoção de medidas preventivas e informes educacionais, para a prevenção da ocorrência de perfurações e cortes com o uso de materiais existentes no meio hospitalar [2]. A experiência de passar por um acidente com material biológico provocara sentimentos e reações totalmente diferenciadas e diversificadas entre os profissionais acidentados. Cada indivíduo vivencia o acidente a partir de seus conceitos, valores e conhecimento acerca do assunto. Apesar de muitos entrevistados relatarem diversos sentimentos, outros informaram não sentir nada em relação ao acidente. Isso demonstra que nem todos os profissionais têm consciência do ocorrido, pois, muitas vezes, há falta de conhecimento e orientação sobre os danos que o acidente pode ocasionar. Os objetivos do presente estudo permitiram as seguintes conclusões: 1. Em relação às características dos participantes do estudo: 50% dos entrevistados tinham idade entre anos, 25% entre anos, 20% entre e 5% tinham anos, com a média entre eles de 31,6 anos. 90% eram do sexo feminino e 10% do sexo masculino. 10% trabalhavam no período noturno, 20% no vespertino, 70% no matutino. 70% tinham entre 1 a 5 anos de tempo de trabalho na instituição, 15% de 6 a 10 anos e 15% de 11 a 21 anos de trabalho. 90% eram técnicos em enfermagem, 5% eram auxiliares de enfermagem e 5% enfermeiros. 2. No tocante as características dos acidentes com perfurocortantes: 65% se acidentaram com agulha, 25% com lamina de bisturi e 10% com lanceta de dextro. 30% se acidentaram no Pronto Socorro, 20% na Pediatria, 15% na Clínica Médica, 05% no Centro Cirúrgico, no 4 Andar, Ortopedia, Endoscopia e Central de material. 25% sofreram acidente com perfurocortante no dedo indicador da mão esquerda, 20% na mão esquerda, 15% no dedo polegar da mão direita, 15% na mão direita, 10% no braço esquerdo, 10% dedo indicador da mão direita e 5% no dedo médio da mão esquerda. 35% forma acidentados devido à sobrecarga de trabalho no setor e a não utilização de EPI; 25% relataram descuido e falta de atenção; 20% não 137

143 Maio / Junho 2013;12(3) souberam manusear material perfurocortante; 15% estavam desprezando material perfurocortante, 10% tinham pressa em terminar o procedimento; 5% relataram que a unidade estava com muitos pacientes e com falta de funcionários. 3. No que tange aos significados para os profissionais de enfermagem acidentados emergiram as ideias centrais: tudo de ruim passa pela cabeça, medo, angústia e preocupação, momento horrível, depressão e inconformidade, muita raiva pessoal e dos colegas de trabalho, falta de humanidade, sem valor para a instituição, culpa, impotência. 4. Quanto aos sentimentos vivenciados pelos profissionais de enfermagem acidentados foram evidenciadas as ideias centrais: diversos sentimentos, descuido pessoal, falta de assistência, não senti nada. Conclusão Almeja-se que este estudo sirva de referência para posteriores trabalhos sobre o referido tema, enfatizando e estimulando também estudos reflexivos e discussões, resultando em uma melhoria na qualidade de vida e assistência destes profissionais. Por estas constatações, verifica-se a necessidade da educação permanente destes profissionais quanto à saúde do trabalhador, abrangendo os riscos e prevenções de acidentes ocupacionais, uso de equipamentos de proteção individual e coletiva, importância da notificação imediata e acompanhamento sorológico completo, bem como o suprimento da estrutura das instituições em termos de recursos humanos e materiais. Isso poderá implicar diretamente na diminuição dos índices de acidentes ou doenças ocupacionais. Agradecimentos Texto construído a partir do Trabalho de Conclusão, do Curso de Graduação em Enfermagem, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), Itajubá/MG, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) Referências 1. Alves SSM, Passos JP, Tocantins FR. Acidentes com perfurocortantes em trabalhadores de enfermagem: uma questão de biossegurança. Rev Enferm UERJ 2009;3(17): Lima FA, Pinheiro PN da C, Vieira NFC. Acidentes com material perfurocortante: conhecendo os sentimentos e as emoções dos profissionais de enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm 2007;11(2): Silva TR, Rocha AS, Ayres JA, Carmen MA, Juliani CMCM. Acidentes com material perfurocortantes entre profissionais de enfermagem de um hospital universitário. Rev Gaúch Enferm 2010;4(51): Ribeiro EJG, Shimizu HE. Acidentes de trabalho com trabalhadores de enfermagem. Rev Bras Enferm 2007;60(5): Anvisa Agência Nacional de Vigilância. Anvisa intensifica controle de infecção em serviços de saúde. Rev Saúde Pública 2004;38(3): Lefèvre F, Lefèvre AMC. O Discurso do Sujeito Coletivo: uma nova proposta de processamento de dados em pesquisa qualitativa. São Paulo: EDUCS; Damasceno A. Acidentes ocupacionais com materiais biológicos: a percepção do profissional acidentado. Rev Bras Enferm 2006;59(1): Castro MR, Farias SNP. A produção científica sobre riscos ocupacionais a que estão expostos os trabalhadores de enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm 2008;12(2): Gabatz RIB, Neves ET, Padoin SMM, Ribeiro AS. Caracterização de acidentes com material perfurocortante e a percepção da equipe de enfermagem. Cogitare Enferm 2009;14(4):

144 Artigo original Significado para o paciente egresso da unidade de terapia intensiva sobre a assistência recebida por acadêmicos de enfermagem Oyara de Castro*, Lígia Vieira Tenório Sales, M. Sc.** *Enfermeira, Aluna do Curso de Especialização em Urgência, Emergência e Terapia Intensiva da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá/MG e Docente da referida instituição,**professora Orientadora da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá/MG Resumo Estudo de abordagem qualitativa, do tipo transversal que teve como objetivo conhecer o significado para o paciente egresso da unidade de terapia intensiva (UTI) de um hospital escola sobre assistência recebida por acadêmicos de enfermagem. A amostra constou de 20 pacientes egressos da UTI internados nas clínicas médica e cirúrgica. A amostragem foi do tipo proposital. Os dados coletados foram descritos sob o referencial das Representações Sociais, utilizando o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) como método para a construção dos significados da pesquisa, o que permitiu a aproximação com o fenômeno do estudo. Os resultados revelaram que todos os pacientes reconheceram a dedicação e a qualidade da assistência prestada pelo acadêmico de enfermagem. Evidenciou-se que a atuação dos acadêmicos na UTI oportunizou a troca de conhecimentos e experiências com a equipe de enfermagem desta unidade contribuindo para a qualidade da assistência de enfermagem prestada. Palavras-chave: unidades de terapia intensiva, cuidados de enfermagem, assistência ao paciente. Abstract Meaning of care given by nursing academics to patients egressed from Intensive Care Unity This study used a qualitative approach, transversal type, aiming at knowing the meaning of care given by nursing academics to patient egressed from Intensive Care Unit (ICU) of a Hospital School. Twenty (20) patients who had egressed from the UCI and were admitted in the medical and surgical clinics composed the sample. It is a purposeful sampling. Collected data was described under the Social Representation referential, by using the Collective Subject Discourse (CSD) as the method of construction of meanings, which make possible to approximate to the studied phenomenon. Results showed that all patients recognized the dedication and the quality of care provided by the nursing academic. It has been made evident that academics performance in ITU provided an opportunity for exchange knowledge and experience between the nursing team of this unity and patients, contributing to nursing care quality. Key-words: intensive care unit, nursing care, patient care. Artigo recebido em 15 de novembro de 2012; aceito em 24 de maio de Endereço de correspondência: Oyara de Castro, Rua José Hilário de Souza Pinto, 23, Boa Vista, Itajubá MG, oyara_castro@yahoo.com.br 139

145 Maio / Junho 2013;12(3) Resumen Significado para el paciente egreso de la unidad de cuidados intensivos sobre la atención brindada por académicos de enfermería Estudio de abordaje cualitativo del tipo transversal que tuvo como objetivo conocer el significado para el paciente egreso de la unidad de cuidados intensivos (UCI) de un hospital escuela sobre la asistencia recibida por académicos de enfermería. Participaron del estudio 20 pacientes egresos de la UCI internados en las clínicas médicas y quirúrgicas. El muestreo fue propositivo. Los datos recogidos fueron descritos bajo el referencial de las Representaciones Sociales, utilizando el Discurso del Sujeto Colectivo (DSC) como método para la construcción de significados de la investigación, lo que permitió la aproximación con el fenómeno del estudio. Los resultados revelaron que todos los pacientes reconocieron la dedicación y la calidad de atención brindada por los académicos de enfermería. Se comprobó que la actuación de los académicos en la UTI promovió el intercambio de conocimientos y experiencias con el equipo de enfermería de esta unidad, contribuyendo para la cualidad del cuidado brindada por el personal de enfermería. Palabras-clave: unidad de cuidados intensivos, atención de enfermería, atención al paciente. Introdução A Unidade de Terapia Intensiva (UTI) é um setor criado com o objetivo de prestar assistência de alta complexidade a pacientes críticos e recuperáveis [1]. Essa assistência é de suma importância, pois possibilita avaliar a qualidade não somente dos profissionais, mas também da instituição hospitalar [2]. A equipe de enfermagem ao prestar cuidados aos pacientes em UTI convive diariamente com o sofrimento, com a morte e realiza procedimentos técnicos de alta complexidade para a manutenção da vida [3]. O acadêmico de enfermagem na UTI depara-se muitas vezes com profissionais médicos e enfermeiros, que se posicionam frente a eles com indiferença, impaciência e principalmente com colocações do tipo: tal paciente não quer que o aluno cuide dele, o paciente reclamou dos cuidados recebidos pelo aluno. Comentários desta natureza traduzem o cuidado prestado ao paciente em decepção, visto que no ensino clínico o acadêmico é acompanhado diretamente pelo docente e no estágio supervisionado há a supervisão dos professores. Outros profissionais como técnicos de enfermagem fazem observações indevidas com o paciente sobre a qualidade da assistência prestada pelos acadêmicos que, mesmo em tom de brincadeira, podem induzi-lo ao receio de permitirem que estes sejam os seus cuidadores. As colocações dos profissionais geraram inquietações que foram compartilhadas entre alguns professores da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB) inseridos no contexto do ensino clínico e estágio supervisionado na UTI. Diante deste contexto o presente estudo tem como objetivo: Conhecer o significado para o paciente egresso da unidade de terapia intensiva do Hospital Escola da cidade de Itajubá-MG sobre a assistência recebida por acadêmicos de enfermagem da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz de Itajubá/MG durante o período de internação na referida unidade. Material e métodos Esta pesquisa foi realizada no Hospital Escola (HE) na cidade de Itajubá, Minas Gerais. O HE é campo de estágio para acadêmicos de medicina, enfermagem, fisioterapia, nutrição e residência em diversas especialidades [4]. O presente estudo foi de abordagem qualitativa, do tipo transversal. A abordagem qualitativa surgiu na antropologia, uma vez que os pesquisadores não conseguiam explicar, pelo método quantitativo, o modo de viver das pessoas. Determinados problemas de pesquisa não podem ser respondidos quantitativamente, porque não se busca estabelecer relações entre variáveis ou verificar empiricamente hipóteses. Quando existe a intenção de buscar significados e interpretá-los a partir de um contexto próprio, natural, delineia-se a abordagem qualitativa do estudo [5]. Os estudos transversais são aqueles em que a coleta de dados é feita em um determinado tempo, nos quais os dados relacionados às variáveis independentes e dependentes são coletados simultaneamente [6]. 140

146 Maio / Junho 2013;12(3) Teve como participantes os pacientes egressos da UTI do Hospital Escola de Itajubá. A amostra foi constituída de 20 participantes e a amostragem do tipo proposital. Os critérios de inclusão adotados para este estudo foram: ter sido paciente egresso da UTI do HE de Itajubá-MG; internado na clínica médica ou cirúrgica desta instituição de saúde; ter sido cuidado por acadêmicos de enfermagem da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz de Itajubá/MG independente de ser do 5º, 6º, 7º ou 8º períodos por no mínimo três dias, considerando este período como o mínimo para melhor interação do paciente na unidade; ter estado consciente, auto, alo e crono orientado no período que foi cuidado por acadêmicos de enfermagem na UTI e durante a coleta de dados na clínica médica ou cirúrgica; ser paciente atendido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tendo em vista que a instituição onde foi realizada a pesquisa não autoriza que alunos, independentemente do curso, prestem assistência aos pacientes internados que possuam outros tipos de convênio médico, seja ele particular ou empresarial; ter idade acima de 18 anos; que concordaram em participar do estudo. Para a coleta de dados elaborou-se um questionário referente às características pessoais (gênero, idade, escolaridade, profissão, religião e tempo de internação na UTI) e um roteiro de entrevista semiestruturada constituído por uma questão aberta referente ao objetivo do estudo: Você esteve internado na UTI e soube que foi cuidado por alunos de enfermagem. Fale para mim o que significou para o Sr. (Sra.) receber os cuidados por alunos de enfermagem quando esteve internado na UTI? Na questão do roteiro de entrevista semi-estruturado utilizou-se o termo aluno, pois acredita-se ser de melhor entendimento para o participante da pesquisa, embora em todo o trabalho esteja utilizando o termo acadêmico acreditando ser o mais adequado para se referenciar o aluno da graduação. A coleta dos dados foi realizada pela pesquisadora no período de 2010 a 2011 nas Clínicas Médica e Cirúrgica do HE, na cidade de Itajubá. Os pacientes foram abordados respeitando os critérios de elegibilidade, informados sobre o objetivo da pesquisa, explicado que não seriam identificados, que seus relatos seriam gravados em gravador portátil, que os princípios éticos seriam resguardados e solicitou-se sua participação na mesma. Esta foi confirmada com a assinatura do participante no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Com a assinatura dos participantes deu-se início a coleta de dados em um local na unidade, respeitando a privacidade desse paciente em ambiente tranquilo e horário que melhor atendesse sua vontade e a ordem da unidade. Em seguida todos os relatos gravados foram transcritos na íntegra e posteriormente destruídos. Os dados foram descritos sob o referencial das Representações Sociais utilizando o Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) como método para a construção dos significados, o que permitiu a aproximação com o fenômeno em estudo. As representações sociais consistem na maneira de interpretar a nossa realidade cotidiana uma forma de conhecimento social, ao associar a atividade mental desenvolvida pelos indivíduos e os grupos, para fixar sua posição em relação à situação, acontecimentos, objetos e comunicação que lhes dizem respeito [7]. O DSC é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos, artigos de jornal, matérias de revistas semanais ou especializadas, cartas, entre outras [8]. Para elaboração do DSC são criadas três figuras metodológicas: expressão- -chave, ideias centrais e discurso do sujeito coletivo como segue [8]: As expressões chaves (ECH) são pedaços, trechos ou transcrições literais do discurso, que são sublinhadas, iluminadas ou coloridas pelo pesquisador, e que revelam a essência do depoimento ou, mais precisamente, do conteúdo discursivo dos segmentos em que se dividiu o depoimento, que em geral corresponde à questão de pesquisa; As ideias centrais (IC) são nomes ou expressões linguísticas que revelam e descrevem, da maneira mais sintética, precisa e fidedigna possível, o sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de ECH que irá dar nascimento, posteriormente, ao DSC; O Discurso do Sujeito Coletivo é um discurso-síntese redigido na primeira pessoa do singular e composto pela ECH que tem a mesma IC. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz por meio do Parecer Consubstanciado de nº 553/2010, no dia 26/10/10 e seguiu os preceitos estabelecidos pela resolução n º. 196/96 do Minis- 141

147 Maio / Junho 2013;12(3) tério da Saúde que resguarda os Princípios Éticos para Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. A resolução ressalta que a autonomia do participante seja preservada; haja a autorização da instituição para o desenvolvimento da pesquisa; o termo de Consentimento Livre e Esclarecido que oficializa a decisão do participante; que seja mantido o anonimato de cada depoente, de seus relatos, a guarda dos arquivos e a confidencialidade; a não identificação dos depoentes, sendo enumerados por: participante 1, 2, 3 e, assim, sucessivamente; o direito de se retirar da pesquisa a qualquer momento sem nenhum dano; a informação pública dos resultados; o respeito dos valores culturais, sociais, morais, religiosos, éticos, hábitos e costumes dos participantes; as informações obtidas não foram utilizadas em prejuízo de qualquer natureza para eles. Resultados Em relação às características pessoais dos participantes, observou-se que, quanto ao gênero, 45% dos participantes eram do gênero feminino e 55% do gênero masculino, a idade variou de 21 anos até 86 anos, sendo que 55% dos participantes tinham idade superior a 60 anos. Em relação à escolaridade, 50% tinham ensino fundamental incompleto, 25% ensino fundamental completo, 10% ensino médio completo, 10% possuíam ensino superior e 5% dos participantes eram analfabetos. Do ponto de vista profissional, 25% eram aposentados, 20% donas de casa, 15% agricultores e 40% tinham profissões variadas. Quanto à religião, 85% eram da religião católica e 15% evangélicos. Constatou-se que o tempo de internação na UTI variou de 3 a 28 dias. Em relação ao motivo da internação, 50% eram pacientes em pós-operatório de vários tipos de cirurgias, 15% eram politraumatizados, 15% foram internados na UTI devido a infarto agudo do miocárdio e 20% de causas variadas, como, crise asmática, doença pulmonar obstrutiva crônica, contusão pulmonar, pancreatite e hemorragia digestiva. Em relação à questão aberta: Você esteve internado na UTI e soube que foi cuidado por alunos de enfermagem. Fale para mim o que significou para o Sr. (Sra.) receber os cuidados por alunos da enfermagem quando esteve internado na UTI? Obtiveram-se as seguintes ideias centrais: Quadro 1 - Ideias centrais, respondentes e frequência das ideias centrais. Nº Ideias centrais Respondentes Frequência % 1 Fui bem cuidado e bem tratado e não fez diferença por serem alunos. 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 13, 15, 16, 18, 19, Senti segurança, 1, 7, 13, 14, 5 confiança e fui 17 respeitado. 3 Melhorou muito 9, 11, 12, 17 4 os cuidados. 4 Diminuiu a solidão. 7 1 Discussão Referente a idéia central Fui bem cuidado e bem tratado e não fez diferença por serem alunos percebe-se que a dedicação, a presença constante, a proximidade e a interação da equipe de enfermagem são facilitadores para uma adequada adaptação e aceitação do paciente durante a internação na UTI. O ato de cuidar implica em afeto, sensibilidade, solidariedade, compaixão e doação [9]. Esta sensibilidade requer o envolvimento humanístico do profissional, no qual o cuidado constitui a essência do saber e do fazer da enfermagem [10]. O acadêmico de enfermagem ao prestar assistência ao paciente internado na UTI sente a necessidade de um cuidar mais sensível onde exista o uso da tecnologia em sintonia com todas as necessidades do paciente [11]. No DSC abaixo ficou evidente que os pacientes foram capazes de perceber a presença e a atuação do acadêmico de enfermagem durante o período que estiveram internados na UTI. Fui muito bem cuidada pelos alunos de enfermagem, cuidaram de mim com muito carinho, atenção e paciência. Eles são muito tranquilos enquanto cuidam de nós e fazem tudo direitinho. São acessíveis, tem muita vontade em fazer aquilo que fazem. Cheguei a perguntar se eles realmente gostavam daquilo que eles faziam e disseram que gostavam muito de cuidar dos pacientes. (...) Percebi que eles querem muito aprender e também são muito competentes naquilo que estão fazendo. (...) Para falar a verdade nem 142

148 Maio / Junho 2013;12(3) dava para perceber que eram alunos que estavam aprendendo porque o atendimento era tão bom quanto dos outros funcionários que trabalham na UTI. (...) Vi que eles tinham dom para cuidar, os alunos até parecem que já são formados. (...) Gostei muito dos cuidados que recebi, não tenho nada do que reclamar. Fui muito bem cuidado na UTI tanto que eu não queria sair de lá. Eles merecem nota dez. Eles tratam a gente muito bem, cuidam direitinho, gostei muito de lá, foi perfeito. Os alunos são gente boa, alegres e me trataram muito bem. É importante perceber que os pacientes conseguiram identificar no cuidado prestado pelo acadêmico de enfermagem sentimentos como carinho, paciência e alegria no cuidar. Reconheceram a dedicação e a qualidade dos cuidados recebidos. Deve ser destacado que pelo fato do paciente ter todas as suas necessidades atendidas adequadamente ele não conseguiu diferenciar o cuidar do acadêmico em relação ao do profissional de enfermagem da unidade de terapia intensiva. Em relação a ideia central Senti segurança, confiança e fui respeitado percebe-se que no processo do cuidar existem condições que são fundamentais como a disponibilidade, a receptividade, e a confiança, o que gera crescimento tanto daquele que cuida quanto do ser que é cuidado [12]. Algumas atitudes da equipe de enfermagem como atitudes que demonstram segurança, conhecimento técnico-científico, paciência e respeito facilitam a relação do profissional com o paciente. Se houver empatia e compromisso do profissional para com o paciente será mais fácil a criação de um vínculo de confiança [13]. No DSC abaixo ficou claro que é necessário que seja criado um vínculo de confiança entre o paciente e aquele que presta o cuidado. Me senti seguro, não tive nenhum medo de ser cuidado pelos alunos. Fui bem cuidado e respeitado. Eles não tem nojo da gente que é mais velho e isto é importante. Não tinham nojo para cuidar mesmo quando o paciente estava soltando as coisas como fezes e vômito. Não tinham medo de colocar a mão no paciente, não faziam cara feia. Eu vi que eles respeitam, cuidam com carinho e tem verdadeiro dom naquilo que fazem. Me senti confiante, quando tinha alguma emergência eles chamavam a professora que atendia rapidamente e muito bem e isto dava muita segurança para a gente. Eles respeitam muito os pacientes e isto é primordial. Para que ocorra uma verdadeira interação entre aquele que é cuidado e aquele que cuida é necessário que exista confiança e respeito. As atitudes adequadas e coerentes demonstradas pelos acadêmicos, aliadas à presença constante do professor, permitiram que o paciente desenvolvesse sentimentos de confiança e segurança nas ações realizadas pelos acadêmicos. O estabelecimento da relação ajuda-confiança fez com que se sentissem também totalmente respeitados. Quanto à ideia central Melhorou muito os cuidados, não foram encontradas nas referências acessadas quem discorresse sobre o assunto na íntegra das ideias abordadas. Acreditamos que a abordagem possa ser direcionada para o cuidado humanístico baseado na Teoria do Cuidado Transpessoal quando coloca que a tecnologia é imprescindível nas instituições hospitalares, mas que esta não pode sobrepor às necessidades da pessoa. O importante é atrelar o cuidado de forma a atendê-la como ser bio-psico- -sócio-espiritual [14]. Tal colocação reflete a filosofia da EEWB e dos docentes quando conduzem seus acadêmicos à conscientização da necessidade de um cuidado holístico. Este quando este é pautado em uma filosofia humanística e utiliza de valores como empatia, sensibilidade, solidariedade e compreensão é capaz de minimizar o sofrimento gerando deste modo um cuidado diferenciado [15]. (...) Vi que eles cuidam melhor do que muitos que já são formados e são mais velhos. Senti uma diferença muito grande quando os alunos chegaram porque eles me deram muita atenção, não deixaram me faltar nada. Os alunos são excelentes foi muito melhor ser cuidado por eles. Eles são muito educados, não desprezam a gente e são todos muito bons. Senti firmeza nos alunos, eles são muito especiais até parece que foi Deus que enviou eles para cuidar de mim e isto ajudou muito na minha recuperação. Para mim eles cuidam até melhor e com mais atenção do que os funcionários que trabalham lá, apesar de que todos cuidaram muito bem de mim. A ajuda dos alunos é muito importante e 143

149 Maio / Junho 2013;12(3) melhora muito o cuidado que nós recebemos e eu sou muito agradecido por tudo o que eles fizeram por mim. Ao analisar o discurso percebe-se que o paciente, mesmo estando diante de uma situação crítica como é a internação na unidade de terapia intensiva, conseguiu claramente perceber que o acadêmico tinha algo a mais e foi considerado especial como se fosse um presente divino. Relativo à ideia central Diminuiu a solidão, percebe-se a internação na UTI é uma situação ameaçadora, pois representa para o paciente o afastamento do seu lar, a separação de seus familiares e entes queridos [16]. É necessário o conhecimento dos fatores estressores para o paciente internado na UTI, objetivando um melhor planejamento da assistência, com a finalidade de facilitar a sua recuperação e promoção de um ambiente mais humanizado [17]. Na UTI a gente fica muito sozinho e quando os alunos estão lá a gente conversa com todos, porque eles são muito atenciosos e cuidadosos (...). Além de cuidarem eles conversavam muito comigo e isto ajudou a diminuir a solidão que eu estava sentindo. Teve um dia no horário de visita que ninguém da minha família veio me ver porque eles não moram aqui em Itajubá, os alunos viram que eu fiquei triste e deixaram de sair para lanchar para me fazerem companhia, tanto que eu nem vi a hora passar e quando percebi já tinha passado o horário de visita. O ambiente da UTI representa uma ameaça para o paciente a partir do momento em que ele se encontra doente e se vê subitamente afastado do convívio familiar. Diante desta situação percebeu- -se nitidamente que a presença do acadêmico foi significativa para o paciente a partir do momento em que ele foi capaz de perceber não apenas o sofrimento físico. A solidão é considerada um estressor psicológico que necessita de intervenções que proporcionem uma melhor adaptação do paciente ao ambiente da UTI [18]. A enfermagem é uma profissão que vislumbra o bem estar da pessoa no seu modo de ser e que necessita de atitudes concretas para prestar uma assistência efetiva [19]. Neste estudo em relação aos significados para o paciente egresso da UTI e que recebeu assistência dos acadêmicos de enfermagem neste período foram: Fui bem cuidado e bem tratado e não fez diferença por serem alunos; Senti segurança, confiança e fui respeitado; Melhorou muito os cuidados e Diminuiu a solidão. Os dados obtidos com o estudo revelam que todos os pacientes reconheceram a dedicação e a qualidade da assistência prestada pelo acadêmico de enfermagem. Conclusão O acadêmico de enfermagem na UTI enfrenta dificuldades no desenvolvimento de suas atribuições devido ao posicionamento, muitas vezes, inadequado de profissionais que fazem colocações que podem até mesmo denegrir a imagem do docente e do acadêmico, afastando- -os desta unidade. Apesar destas colocações ficou claro que a assistência prestada pelo acadêmico, sob o olhar do paciente foi benéfica, transmitiu segurança, confiança, amenizou a solidão e criou uma relação de ajuda-confiança a partir do respeito estabelecido. Não houve relato com conotação negativa quanto aos cuidados prestados pelos acadêmicos, o que tranquiliza os docentes e os acadêmicos quanto aos seus papéis em um ambiente que exige, além de competência técnica, a capacidade de ir ao encontro do outro, atendendo-o no mais íntimo de seu ser. A humanização e o acolhimento devem ocorrer tanto para o paciente quanto para os familiares, pois ao ser internado na UTI o paciente não perde a sua essência ou a sua cidadania. Ele continua sendo um Ser que, embora esteja temporariamente afastado do seu contexto familiar, necessita do apoio e da presença da família na sua recuperação. Outro aspecto que merece ser destacado são as atitudes, a postura, a interação e a comunicação do acadêmico ao prestar os cuidados. O processo de comunicação entre o profissional de saúde e o paciente deve ser eficiente para viabilizar um cuidado humanizado que atenda as necessidades da pessoa atendida. A atuação do docente também foi percebida como essencial pelo fato deste profissional ser o facilitador do processo ensino-aprendizagem e o mediador do acadêmico junto aos pacientes internados na UTI. A Escola de Enfermagem Wenceslau Braz preocupada com a formação de alto nível dos seus 144

150 Maio / Junho 2013;12(3) acadêmicos cumpre o seu papel evidenciado pelos relatos dos participantes do estudo no que se refere à qualidade da assistência prestada pelo acadêmico sempre sob a orientação, acompanhamento e supervisão do docente. A atuação do acadêmico nas instituições de saúde, e em especial na UTI, além de contribuir imensamente para a assistência de enfermagem contribui também para o enriquecimento profissional daqueles que nela atuam em vista que oportuniza a troca de conhecimentos e experiências. Referências 1. Couto RC. Ratton Emergências médicas e Terapia Intensiva. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; Santos I, Figueiredo NMA, Padilha MICS, Cupello AJ, Souza SROS, Machado WCA. Enfermagem assistencial no ambiente hospitalar realidade questões soluções. Série Atualizações em Enfermagem. São Paulo: Atheneu; Martins JT, Robazzi MLCC, Marziale MHP, Garanhani ML, Haddad MCL. Significados do Gerenciamento de Unidade de Terapia Intensiva para o enfermeiro. Rev Gaúch Enferm 2009;30(1): Silva CG, Oliveira MH, Matias RC. Paciente alcoolista: sentimentos dos profissionais de enfermagem [TCC]. Itajubá: Escola de Enfermagem Wenceslau Braz; Brevidelli MM, Domenico EBL. Guia prático para docente e alunos da área da saúde [TCC] São Paulo: Iátria; Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem: métodos, avaliação e utilização, 5ª. ed. Porto Alegre: Artmed; Moscovici S. Representações sociais da psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar; Lefrévre F, Lefrévre AMC. O discurso do sujeito coletivo: Um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobramentos). Caxias do Sul: Educs; Pina RZ, Lapchinsk LF, Pupulim JSL. Percepção de pacientes sobre o período de internação em unidade de terapia intensiva. Ciências Cuidados Saúde 2008;7(4): Moura KS, Araújo LM, Araújo LM, Valença CN, Germano RM. A vivência do enfermeiro em terapia intensiva: estudo fenomenológico. Rev RENE 2011;12(2): Santana JCB. Avanços tecnológicos e os limites dentro de uma Unidade de Terapia Intensiva no processo ético do cuidar: significado para os acadêmicos de enfermagem. Centro Universitário São Camilo 2008;2(1): Lima JOR, Munari DB, Esperidião E, Souza JC. Aprendendo o cuidado humanizado: a perspectiva do graduando de enfermagem. Ciência, Cuidado Saúde 2007;6(1): Severo GC, Perlini NMOG. Estar internado em Unidade de Terapia Intensiva: percepção de pacientes. Scientia Medica 2005;15(1): Watson J. Nursing the philosophy and science of caring. Boulder: Associated University Press; Sales LVT, Paixão MG, Castro O. In: Teorias de Enfermagem. 1ª. ed. São Paulo: Iátria; Stumm EMF, Kuhn DT, Hildegrandt LM, Kirchner RM. Estressores vivenciados por pacientes em uma UTI. Cogitar Enferm 2008;13(4): Proença MO, Agnolo CMD. Internação em unidade de terapia intensiva: percepção de pacientes. Rev Gaúch Enferm 2011;32(2): Rosa BA, Rodrigues RCM, Gallani MCBJ, Spana TM, Pereira CGS. Estressores em Unidade de Terapia Intensiva: versão brasileira do The Environmental Stressor Questionnaire. Rev Esc Enferm USP 2010;44(3) Campos LF, Melo MRAC. Assistência em enfermagem na perspectiva da clínica ampliada em unidade de terapia intensiva. Rev Gaúcha Enferm 2011;32(1):

151 Artigo original Qualidade de vida de graduandos de enfermagem em uma instituição privada no agreste Pernambucano Evanísia Assis Goes de Araujo, M.Sc.*, Rita de Cássia Acioli Barbosa, M.Sc.**, Angélica de Godoy Torres Lima***, Amanda Campos Batista**** *Docente em Enfermagem da Faculdade ASCES/IFPE/FAEB, Recife/PE, **Docente em Enfermagem, Faculdade ASCES, Caruaru/PE, ***Preceptora de Enfermagem na Faculdade ASCES, ****Enfermeira, Faculdade ASCES, Pesqueira/PE Resumo Objetivou-se avaliar a qualidade de vida de graduandos em enfermagem correlacionando com variáveis sociodemográficas do grupo. Estudo transversal, descritivo, exploratório, quantitativo que aplicou WHOQOL-bref da OMS em 144 graduandos do primeiro ao último ano. Realizaram-se testes de hipótese para comparar os grupos. Resultados indicaram menores escores naqueles estudantes que não residem em Caruaru e/ou trabalham e estudam. Isto justifica implantação de programas de suporte para prevenir distúrbios neste público. Palavras-chave: qualidade de vida, estudantes de enfermagem, bacharelato em enfermagem. Abstract Quality of life of nursing students in a private institution in the Agreste zone of Pernambuco This study aimed to evaluate the quality of life in nursing undergraduates and correlate with sociodemographic variables of the group. This is a cross-sectional, descriptive, exploratory, quantitative study which applied WHOQOL-bref of WHO in 144 undergraduates from first to last year. Hypothesis tests were conducted to compare groups. Results showed lower scores in those students who do not live in Caruaru and/or work and study. This justifies implementation of support programs to prevent disorders in this public. Key-words: quality of life, nursing students, nursing education, education nursing baccalaureate. Resumen Calidad de vida de estudiantes de enfermería en una institución privada en la zona Agreste de Pernambuco Este estudio tiene como objetivo evaluar la calidad de vida de estudiantes de enfermería relacionando con variables sociodemográficas del grupo. Estudio transversal cuantitativo descriptivo y exploratorio que aplicó el (WHOQOL-bref) Artigo recebido em 11 de dezembro de 2012; aceito em 19 de abril de Endereço para correspondência: Angélica de Godoy Torres Lima, Rua Abdias Vilar, 06, Recife PE, angelicagodoytl@gmail.com, rita.acioli@yahoo.com.br, amandynha_deco@hotmail.com 146

152 Maio / Junho 2013;12(3) de la OMS en 144 universitarios del primer al último año de carrera. Se realizó test de hipótesis para comparar los grupos. Los resultados indicaron puntuaciones más bajas para estudiantes que no viven en Caruaru y/o trabajan y estudian, lo que justifica la implantación de programas de apoyo para la prevención de trastornos en este público. Palabras-clave: calidad de vida, estudiantes de enfermería, bachillerato en enfermería. Introdução A convivência com os colegas da graduação proporciona a observação de mudanças significativas no cotidiano de cada indivíduo, que levam a alterações no relacionamento interpessoal. Percebe-se, inclusive, a emissão de opiniões sobre o cansaço do dia-a-dia, falta de tempo para repousar e realizar as três refeições principais, bem como atividades de lazer e entretenimento. Isto, acrescido de problemas referentes à vida pessoal destes indivíduos, pode levar a situações de sofrimento, em que têm relação direta com a qualidade de vida, havendo a necessidade de criar mecanismos de suporte que auxiliem estes acadêmicos a obterem resultados positivos no enfrentamento das dificuldades que possam surgir no decorrer de sua formação. O grau de satisfação e motivação de uma pessoa é algo que pode afetar a harmonia e a estabilidade psicológica dentro do local de trabalho ou estudo. Então, é necessário que estes parâmetros estejam em equilíbrio para que sua aprendizagem, enquanto acadêmico, seja efetiva [1]. O conceito de Qualidade de Vida (QV) da Organização Mundial de Saúde (OMS) surgiu da necessidade de uma avaliação internacional da saúde, definido pelo Grupo de Qualidade de Vida-OMS como: percepção individual de sua posição na vida no contexto da cultura e sistemas de valores em que eles vivem e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações [2]. Apesar de não haver consenso quanto à definição de QV, a maioria dos autores concorda que em sua avaliação devem ser contemplados os domínios físico, social, psicológico e espiritual, buscando- -se deter a experiência pessoal de cada indivíduo. Nesse contexto, questiona-se: como transformar informações subjetivas, que envolvem conceitos individuais, em dados objetivos e mensuráveis? E, também, como essas informações podem ser quantificadas e comparadas entre populações diferentes? [3,4]. Objetivando responder a essas questões, foram elaborados questionários de QV que possibilitaram aos pesquisadores transformar informações subjetivas em medidas quantitativas para que possam ser usadas em ensaios clínicos e em estudos econômicos. Para que os estudantes de enfermagem, durante os estágios curriculares ou atividades de práticas clínicas, possam promover a saúde eficientemente aos clientes de uma determinada comunidade ou instituição, é necessário que os mesmos tenham condições para promover a sua própria saúde, visto que situações de desequilíbrio na vida pessoal podem desencadear impessoalidade durante a assistência prestada por ele [5]. Portanto, a instituição de ensino tem um papel fundamental na construção do conhecimento comprometido com a transformação da realidade; sendo esta um ambiente de concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar seu papel pedagógico com base em seus estudantes, pois o processo ensino-aprendizagem pode ser significativamente comprometido pela estratégia de ensino, relação professor-aluno, formas de avaliação, e deficiências nas instalações físicas e de materiais das instituições [3,6]. Em sua tese, Cerchiari relata alto escore nos indicadores de estresse psíquico em alunos de Enfermagem comparados com outros cursos superiores como Direito e Ciência da Computação, apresentando taxas acima das observadas em estudos populacionais, porém, próximas as encontradas em outros acadêmicos da área da saúde [6]. Embora muitos estudos chamem a atenção para a humanização da assistência, ideia que os autores compartilham e valorizam, entende-se que esta proposta será mais significativa, se pensar na humanização do ensino a partir dos relacionamentos estabelecidos durante o processo de formação [7]. Desta forma, este estudo teve como objetivos avaliar a qualidade de vida de graduandos em enfermagem de uma Instituição de Ensino Superior privada localizada no Agreste pernambucano e correlacionar com as variáveis sociodemográficas deste grupo. 147

153 Maio / Junho 2013;12(3) Material e métodos Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória de abordagem quantitativa e delineamento transversal. O local de estudo foi a Faculdade da Associação Caruaruense de Ensino Superior (Faculdade ASCES), uma Instituição de Ensino Superior (IES) privada, onde são oferecidos 11 cursos de graduação, além de cursos de pós-graduação Lato Sensu nas áreas de Humanas e Saúde. Entre os cursos da IES, está o bacharelado em enfermagem, que funciona desde 2006 em período integral e utiliza o modelo integrado de ensino. A população total do estudo é composta por 373 graduandos de enfermagem de todos os períodos letivos. No modelo de currículo integrado, os módulos correspondem aos períodos dos cursos de currículos por disciplina. Esta IES é localizada no município de Caruaru, que é o mais populoso do interior do estado de Pernambuco. O município possui campi das duas principais instituições públicas do estado e três faculdades particulares, o que o torna um pólo estudantil, atraindo todos os anos um grande número de estudantes oriundos das cidades vizinhas. Participaram da pesquisa 144 graduandos em enfermagem, matriculados e cursando regularmente a IES, do primeiro ao oitavo módulo, de ambos os sexos. Para o cálculo da amostra foram considerados nível de significância de 5%, intervalo de confiança (IC) de 95%, poder do teste estatístico de 80% para teste de hipótese monocaudal, utilizando como referência da literatura [7] proporção na população de 36% de baixa qualidade de vida através do instrumento World Health Organization Quality of Life Bref (WHOQOL-Bref) e com proporção sugerida na população a ser estudada de 26%. A amostragem foi do tipo causal simples estratificada utilizando sorteio na relação de frequência de sala de aula, contemplando todos os oito módulos proporcionalmente. O instrumento utilizado foi WHOQOL-bref, que avalia os últimos quinze dias do entrevistado. Este é composto por 26 questões, sendo duas questões gerais de qualidade de vida e as demais 24 representam cada uma das 24 facetas que compõe o instrumento original (WHOQOL-100). Estas facetas estão distribuídas em quatro domínios (I- -físico, II-psicológico, III-relações sociais e IV-meio ambiente). O mesmo utiliza uma escala do tipo Likert com único intervalo de 1 a 5 em cada uma de suas perguntas. O WHOQOL-bref considera os valores entre 0 e 40 como região de fracasso ; de 41 a 70 região de indefinição ; e acima de 71 região de sucesso. Escores mais altos indicam melhor avaliação da qualidade de vida. Os critérios para a escolha desse instrumento estão relacionados com as características psicométricas satisfatórias e o tempo reduzido para o seu preenchimento, o que contribuiu para aumentar a adesão dos respondentes. Além disso, pode ser utilizado tanto para populações saudáveis como para populações acometidas por doenças crônicas. Este foi testado e validado no Brasil por Fleck et al. [8]. Além do WHOQOL-bref foi utilizada a Ficha de informações sobre o respondente, a qual possui perguntas sobre informações pessoais como sexo, idade, estado civil, onde o indivíduo mora, se este trabalha ou não, entre outras. A coleta de dados foi realizada em fevereiro de 2011, após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da ASCES, carta nº 210/10 CEP/ASCES. O instrumento foi aplicado em sala de aula e nos locais de estágios. Foram entregues aos participantes os questionários que são autoaplicativos, sendo estes devolvidos aos pesquisadores após seu preenchimento. Para a tabulação dos dados foi utilizado o software Excel 2003 da Microsoft Office e para a análise dos dados foi utilizado o programa R que é de licença livre, o qual está disponível no endereço eletrônico Nesta pesquisa foram respeitados os preceitos éticos e legais na investigação envolvendo seres humanos, conforme preconiza a resolução 196/1996, do Conselho Nacional de Saúde. Resultados A amostra de 144 estudantes representa 38,6% da população total estudada. Desta amostra, 88,2% (127) são do sexo feminino. Na distribuição por faixa etária 49,3% (71) são menores de 21 anos, 43,8% (63) estão na faixa etária de 21 a 30 anos e somente 6,9% (10) têm mais de 30 anos. Apenas 2,8% (4) possuem outro curso de nível superior. Quanto ao estado civil, 84% (121) são solteiros, 14,6% (21) casados e os demais 1,4% (2) enquadram-se como viúvos e divorciados. 68,8% (99) dos sujeitos residem na cidade onde estudam e os demais 31,2% (45) em cidades circunvizinhas e de outros estados; 50,7% (73) residem na casa dos pais, 26,4% (38) moram na casa de outro parente (neste grupo estão 148

154 Maio / Junho 2013;12(3) inclusos os cônjuges), 16,7% (24) habitam repúblicas ou pensionatos e 6,3% (9) vivem sozinhos. 70,1% (101) apenas estudam e 29,9% (43) além de estudar também trabalham. Desses últimos, 32,6% (14) trabalham como técnicos ou auxiliares de enfermagem, os 67,4% (29) restantes trabalham em outras áreas. Foram comparados os escores de Qualidade de Vida (QV) (média aritmética dos domínios) entre os graduandos dos diferentes módulos conforme pode ser visto na Figura 1. Figura 1 - Qualidade de vida conforme o módulo dos acadêmicos de enfermagem QV Módulo1 Módulo2 Módulo3 Módulo4 Módulo5 Módulo6Módulo7 Módulo8 *Nível de significância α = 0,05; Teste ANOVA p-valor < 0,001 Na Tabela I são apresentados os escores médios atribuídos aos domínios da QV, sendo o domínio relações sociais aquele que evidenciou o maior escore médio, e o domínio meio ambiente, o de menor escore médio. Tabela I - Escores médios, mínimos e máximos dos domínios da qualidade de vida dos acadêmicos de enfermagem. Escore médio Domínios (DP) Mínimo Máximo Físico 70 (12) Psicológico 71 (12) Relações sociais 72 (17) Meio Ambiente 59 (13) *DP = desvio padrão Na Tabela II são apresentados os escores de qualidade de vida e dos quatro domínios presentes no instrumento entre os indivíduos que trabalham e estudam com aqueles que apenas estudam. Percebe- -se que os indivíduos que trabalham e estudam apresentam escores inferiores comparado com aqueles que apenas estudam. Discussão O estudo demonstrou um perfil do estudante de enfermagem em que há a predominância de mulheres, jovens, solteiras, que residem no município-sede da IES com suas famílias e não possuem uma atividade remunerada, sendo semelhante ao de outras pesquisas, que foram realizadas em diferentes regiões do país [6,9-10]. É possível que o ingresso de estudantes jovens aconteça devido ao curso ser em tempo integral, o que dificulta ou impossibilita conciliar trabalho e estudo [11]. Observa-se na Figura 1 que há disparidade entre os escores de cada semestre, em que os módulos 1, 3 e 5 obtiveram os melhores escores - situados na região de sucesso, enquanto os outros módulos se mantiveram na região de indefinição, ou seja, com índices menores de qualidade de vida. Quando realizado o teste análise de variância (ANOVA - Analysis of Variance) para a hipótese de igualdade foi constatado que há realmente diferença estatisticamente significativa entre os escores dos módulos (p < 0,001), no entanto, não há subsídios para afirmar que o módulo per si é o responsável por contribuir para uma melhor ou pior qualidade de vida dos estudantes de enfermagem. A inserção do aluno de 2º ano em campo prático pode gerar novos conflitos e mudanças no cotidiano acadêmico, proporcionando novas experiências associadas a novos e distintos sentimentos, o que podem estar influenciando seu julgamento em relação à qualidade de suas vidas, enquanto os estudantes do último ano se destacam com baixos escores de qualidade de vida devido a sentimentos de insegurança quanto ao futuro profissional [4,6]. Em estudo de abordagem qualitativa realizado com estudantes da graduação em enfermagem sobre percepção de QV, observou-se que as principais situações promotoras desta foram as experiências extracurriculares, a relação professor-aluno e o relacionamento entre alunos. Enquanto as não promotoras foram: falta de acolhimento por parte dos professores e enfermeiros de campo, a falta de integração com equipe e alunos de outros cursos e a carga horária excessiva para o aluno trabalhador [12]. Portanto, não deve ser esquecido o valor do docente na vida do acadêmico, tanto para o desempenho profissional quanto para o pessoal. Afinal, o professor acompanha o estudante em grande parte do tempo, desde sua entrada na universidade até sua saída, devendo estar atento para que aspectos negativos da QV vividos ou ocorridos durante a formação não interfiram de modo a prejudicar a formação profissional do acadêmico [10]. 149

155 Maio / Junho 2013;12(3) Tabela II - Escores dos domínios e comparação da QV dos acadêmicos de enfermagem. Variável Domínio Físico Psicológico Social Ambiente QV# p-valor* Trabalha e estuda Sim ,001b Não Trabalha na enfermagem Sim Não ,761a Reside em Caruaru Sim Não Com quem reside 0,024a Pais Outro parente Pensionato/República ,061c Sozinho *Nível de significância α = 0,05; #Média aritmética; ateste t de student; bteste de Mann-Whitney; cteste de Kruskal-Wallis. Nos estudos de Saupe et al.[5] e Eurich et al.[10], os quais avaliaram a qualidade de vida de acadêmicos de enfermagem da região Sul do Brasil, o domínio que apresentava menor escore médio foi o meio ambiente com pontuação de 55 e 60,7, respectivamente. O primeiro considerou que o baixo desempenho do domínio meio ambiente poderia estar relacionado ao clima de insegurança e incertezas que a sociedade brasileira enfrenta contemporaneamente. Contudo, o domínio que demonstrou maior escore médio não foi o mesmo para as duas pesquisas. Enquanto para Saupe et al. [5] o maior escore médio foi o domínio de relações pessoais (70), corroborando o encontrado em nosso estudo (tabela I), em Eurich et al. [10] destacou-se o domínio físico (72,7). Analisando a Tabela II, percebe-se que aqueles que trabalham mantiveram todos os seus escores na região de indefinição ou seja, numa média entre uma boa e uma má qualidade de vida. Enquanto aqueles que apenas estudam apresentaram escores na região de indefinição, exceto nos domínios psicológico e social que se encontraram na região de sucesso. Quando realizada a análise estatística da QV entre estes grupos, verificou-se que aqueles que trabalham e estudam apresentam menor qualidade de vida quando comparado com aqueles que apenas estudam (p = 0,001). Comparando os indivíduos que trabalham ou não na área de enfermagem (Tabela II), obtiveram-se escores melhores para aqueles que trabalham na enfermagem nos domínios físico e social, em que este último situa-se na região de sucesso. Contudo, quando realizado o teste de hipótese estatística, percebeu-se que a área em que o indivíduo trabalha não influencia na QV (p = 0,761). Não há relatos na literatura que realizem a comparação entre grupos de trabalhadores com áreas de trabalho distintas. Em seu estudo, Sousa encontrou contradições importantes dos estudantes- -trabalhadores, já que estes ao mesmo tempo em que afirmavam ser quase impossível conciliar trabalho com estudo, isto era ultrapassado pelo nível de aspiração e pela autoimagem de vencedores, como recompensa pelo esforço pessoal [13]. Há evidências na literatura de que os alunos que estudam e trabalham na área da saúde apresentam maior número de sintomas indicativos de depressão, visto que estes possuem uma vida muito intensa e desgastante, o que os leva ao cansaço físico e emocional intensos. A maioria dos estudantes que trabalham à noite e estudam durante o dia, têm sua disposição física e o sono afetados, além de pouco tempo para estudar e realizar seus trabalhos. Isto gera indisponibilidade para convívio familiar, lazer, necessidades pessoais e dificuldades de conciliar diversos afazeres [9]. As pessoas que residem em Caruaru apresentaram melhores escores nos domínios físico, psicológico e social atingindo a região de sucesso e os escores do domínio meio ambiente e de QV, mesmo na região de indefinição, mantiveram-se maiores do que daqueles que moram em outras localidades. Após o teste estatístico constatou-se que os acadêmicos que moram na cidade onde estudam possuem melhor QV (p = 0,024) (Tabela II). Estes resultados possivelmente estão rela- 150

156 Maio / Junho 2013;12(3) cionados com o desgaste que o estudante que mora em outra cidade tem para ir à faculdade e voltar à cidade de origem. Isto já foi relatado como fator desencadeador de estresse entre estudantes de enfermagem [14]. Ainda na Tabela II, na variável que compara os ambientes de moradia dos estudantes, aqueles que residem em pensionatos/repúblicas apresentaram os menores escores em relação aos outros grupos, exceto nos domínios psicológico, que foi maior que no grupo de pessoas que residem com outro parente, e o do meio ambiente, que foi igual ao grupo supracitado. O grupo de pessoas que residem com os pais apresentaram todos os escores na região de sucesso (exceto no domínio de meio ambiente, que se encontrou na região de indefinição, ocasionando uma queda da QV para a região de indefinição). As pessoas que moram sozinhas apresentaram o maior valor no domínio social em relação aos outros grupos. Todavia, ao comparar os índices de QV entre estes grupos, verificou-se que fazer parte de qualquer um destes é indiferente na QV (p = 0,061). Mesmo não sendo encontrada, neste estudo, uma relação com quem os graduandos residem (pais, outros parentes, sozinho, república e pensionato) com a sua QV, na literatura há evidências de que morar com a família favorece o bem-estar psicológico do estudante universitário, enquanto que morar em república e pensionato são fatores de risco à saúde mental [6]. Conclusão Os graduandos de enfermagem merecem atenção quanto aos aspectos da qualidade de vida, principalmente aqueles que trabalham e estudam e que não moram no município-sede da faculdade. Acredita-se que os resultados desta pesquisa possam servir de subsídio para a implantação de programas de suporte psicológico aos alunos com o propósito de apoiá-los no enfrentamento de situações conflituosas próprias da vida acadêmica, promover uma melhor qualidade de vida e prevenir possíveis disfunções e distúrbios. Além disso, abrir novas discussões sobre a organização do trabalho em que estes indivíduos se inserem e o desenvolvimento de novos métodos de ensino-aprendizagem, visto que o ensino comprometido com a realidade dos alunos não pode deixar de cogitar sobre a complexidade do mercado de trabalho atual que requer dos funcionários uma mão-de-obra cada vez mais qualificada, bem como refletir o papel destas pessoas como agentes de transformações sociais. Portanto, haja vista a escassez de publicações sobre o tema espera-se que este estudo contribua como fonte de informação e motivação para outras pesquisas que analisem não somente a qualidade de vida dos futuros enfermeiros, bem como intervenções relacionadas à sua promoção. Agradecimentos Registramos um agradecimento especial ao professor Valmir Rogério pela assessoria estatística. Referências 1. Batista AAV, Viera, M, Cardoso NCS, Carvalho GRP. Fatores de motivação e insatisfação no trabalho do enfermeiro. Rev Esc Enferm USP 2005;39(1): The Whoqol Group. Development of the World Health Organization WHOQOL-bref. Quality of Life Assesment. Psychol Med 1998;28: Nunes APM. Qualidade de vida do aluno-trabalhador do curso de habilitação profissional técnica de nível médio em enfermagem [Dissertação]. Guarulhos: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações; Kawkame PMG, Miyadahira AMK. Qualidade de vida de estudantes de graduação em enfermagem. Rev Esc Enferm USP 2005;39(2): Saupe R, Nietche EA, Cestari ME, Giorgi MDM, Krahl M. Qualidade de vida dos acadêmicos de enfermagem. Rev Latinoam Enferm 2004;12(4): Cerchiari EAN. Saúde mental e qualidade de vida em estudantes universitários [Tese]. Campinas: Faculdade de Ciências Médicas; Esperidião E, Munari DB. Holismo só na teoria: a trama de sentimentos do acadêmico de enfermagem sobre sua formação. Rev Esc Enferm USP 2004;38(3): Fleck MPA, Chachamovich E, Trentini CM. Projeto WHOQOL-OLD: método e resultados de grupos focais no Brasil. Rev Saúde Pública 2003;37(6): Garro IMB, Camillo SO, Nóbrega MPSS. Depressão em graduandos de Enfermagem. Acta Paul Enferm 2006;19(2): Eurich RB, Kluthcovsky ACGC. Avaliação da qualidade de vida de acadêmicos de graduação em Enfermagem do primeiro e quarto anos: influência das variáveis sociodemográficas. Rev Psiquiatr 2008;30(3): Wetterich NC, Melo MRA Costa. Perfil sociodemográfico do aluno do curso de graduação em enfermagem. Rev Latinoam Enferm 2007;15(3): Oliveira RA, Ciampone MHT. Qualidade de vida de estudantes de enfermagem: a construção de um processo e intervenções. Rev Esc Enferm USP 2008;42(1): Sousa MLA. O estudante-trabalhador de enfermagem: desvelando essa nova realidade [Dissertação]. São Paulo: Universidade de São Paulo; Binotto M, Schaurich D. Stress in undergraduate nursing course: a qualitative approach. Rev Enferm UFPE 2010;4(3):

157 Artigo original Análise das auditorias do Protocolo Manchester de Classificação de Risco Lucimeire de Menezes Zirley*, Cristina Torres Lima, M.Sc.**, Maria de Lourdes Ulhôa, M.Sc.*** *Enfermeira, Especialista em Fisiologia e Fisiopatologia, Preceptora do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Municipal Odilon Behrens, **Nutricionista, Especialista em Auditoria em Serviços de Saúde, Membro da Gerência de Urgência da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, Apoiadora da Residência Multiprofissional em Saúde do Hospital Municipal Odilon Behrens, ***Enfermeira, Especialista em Gestão Hospitalar, Gerente de Ensino e Pesquisa do Hospital Municipal Odilon Behrens Resumo Objetivos: Avaliar a efetividade da realização de auditorias na qualidade do processo de classificação de risco no serviço de urgência de um hospital público de Belo Horizonte/MG. Material e métodos: Análise documental dos prontuários eletrônicos por meio do software Alert, segundo os critérios preconizados pelo Grupo de Triagem Manchester para realização das auditorias do protocolo Manchester de classificação de risco: Fluxogramas corretos? Discriminadores corretos? Prioridades corretas? Resultados: Análise de 1825 auditorias; 3,6% dos fluxogramas foram escolhidos incorretamente; 46% de discriminadores foram escolhidos incorretamente e 40,8% de prioridades foram escolhidas incorretamente. Conclusão: A realização de auditorias evidencia que os critérios de classificação do protocolo Manchester estão abaixo da média estabelecida pelo grupo de triagem. A auditoria demonstra ser um meio eficaz para o acompanhamento do processo de classificação de risco por identificar limitações na aderência de critérios do protocolo Manchester. Palavras-chave: auditoria de enfermagem, auditoria clínica, avaliação em enfermagem. Abstract Analysis of the audits of the Manchester Protocol of Risk Classification Objective: To evaluate the effectiveness of the management audits on quality process of risk classification in an emergency service of a public hospital of Belo Horizonte/MG. Methods: A document analysis of electronic medical records was carried out using the Alert software, according to Manchester Triage Group criteria to carry out audit of Manchester Protocol of Risk Classification: Correct flowcharts? Correct discriminators? Correct priorities? Results: Analysis of 1825 audits; 3.6% of the flowcharts were incorrectly chosen; 46% of discriminators were incorrectly chosen and 40.8% of priorities were incorrectly chosen. Conclusion: The auditor s performance made evident that the classification criteria of the Manchester protocol are below average established for the triage group. The audits demonstrate to be an efficient way to follow-up risk classification process, as it identifies criteria limitations to adhere the Manchester Protocol. Key-words: nursing audit, clinical audit, nursing assessment. Artigo recebido em 10 de fevereiro de 2013; aceito em 6 de maio de Endereço de correspondência: Lucimeire de Menezes Zirley, Rua Valentim Costa Pacheco, 172/101, Contagem MG, memetchuca@hotmail.com, ctlima@terra.com.br, mariaulhoa@pbh.gov.br 152

158 Maio / Junho 2013;12(3) Resumen Análisis de auditorías del Protocolo de la Clasificación de Riesgo de Manchester Objetivo: Evaluar la eficacia de las auditorías con respecto a la calidad del proceso de clasificación de riesgo en los servicios de urgencias de un hospital público en Belo Horizonte-MG. Método: Análisis documental de los registros médicos electrónicos a través del Alert software, de acuerdo a los criterios recomendados por el grupo de Triaje de Manchester para realización de auditorías del Protocolo de Clasificación de Riesgo de Manchester: Diagramas de flujo correctos?, Discriminantes correctos?, Prioridades correctas? Resultados: Análisis de 1825 auditorías muestran que un 3,6% de los diagramas fueron escogidos incorrectamente; 46% de discriminantes fueron escogidos incorrectamente y 40,8% de prioridades fueron escogidas incorrectamente. Conclusión: Las auditorías demuestran que los criterios de clasificación del Protocolo de Manchester están por debajo de la media establecida por el grupo de triaje. La auditoría demuestra ser un medio eficaz para el seguimiento del proceso de clasificación de riesgos por identificar limitaciones en la adhesión del protocolo de criterios de Manchester. Palabras-chave: auditoría de enfermería, auditoría clínica, evaluación en enfermería. Introdução Nos últimos anos, observou-se um crescimento na demanda dos serviços de urgência e emergência hospitalares devido, principalmente, ao aumento do número de acidentes e violência urbana e ao modelo de enfrentamento das condições crônicas na lógica das condições agudas. Com funcionamento nas 24 horas do dia, os tradicionais prontos-socorros acabam por ser porta de entrada do sistema de saúde, acolhendo pacientes portadores de quadros de urgência propriamente dita, pacientes que percebem o quadro como urgência, pacientes desgarrados da atenção primária e especializada e as urgências sociais [1-3]. A urgência qualifica um estado de atendimento prioritário a um paciente em detrimento de outros, devido a um apresentar uma afecção que evolui ou tem o risco de evoluir rapidamente para um estado grave, configurando a necessidade de atendimento imediato ao ponto de não poder permanecer em fila de espera ou esperar por atendimento em consulta eletiva. A principal finalidade de um serviço de triagem é escolher quais pacientes devem ter prioridade no atendimento, ou seja, fazer com que os pacientes mais graves sejam atendidos primeiro. Então, à medida que buscam os serviços de urgência e emergência, os usuários esperam receber um atendimento ideal: rápido, eficiente e eficaz. Nesse sentido, houve a necessidade de reestruturar o processo de trabalho e de redirecionamento da entrada dos usuários, que até então se baseava em uma forma de priorização por triagem, centrada na figura do coordenador médico e na lógica da exclusão [4-6]. A cadeia de valor de um serviço de urgência hospitalar é constituída por três processos principais: admissão do doente; triagem de doente e prestação do cuidado em saúde. Triagem, na língua portuguesa, significa escolha, seleção. Em um serviço de emergência, as inovações focam a finalidade de organizar o fluxo de pacientes no sistema de saúde e de selecionar os meios adequados para o diagnóstico e o tratamento [7]. Atualmente, o sistema de triagem adotado em inúmeros hospitais públicos de urgência transferiu para o enfermeiro a competência de avaliar o paciente em consonância com protocolos; e determinar as necessidades de prioridade de encaminhá-lo à área de tratamento. Então, o profissional enfermeiro do serviço de emergência, embasado nos dados clínicos, em informações objetivas e na vivência profissional, avalia qual paciente necessita de atendimento e qual pode esperar. Dessa forma, prioriza o atendimento a pacientes graves e presta assistência com segurança [5,7,8]. A implantação de um sistema mais avançado em tecnologia surgiu com os objetivos de melhorar a qualidade na classificação de risco; organizar o fluxo; garantir a todos o atendimento e acesso compatível com as suas necessidades; otimizar e sistematizar o atendimento a partir da atribuição de prioridades clínicas. Assim, a informação clínica, produzida e divulgada nos serviços de urgência/emergência, é fator determinante para o seu bom funcionamento, particularmente no que se refere à recepção e acompanhamento que é dispensado aos doentes [9,10]. Instalada em países da Europa, Ásia e América do Norte, a tecnologia de classificação de risco 153

159 Maio / Junho 2013;12(3) permite a introdução da informação clínica do paciente com consulta aos dados em tempo real e possibilita a informatização dos processos internos da instituição, a interação entre as equipes de profissionais da saúde e a acessibilidade aos diferentes intervenientes no processo. Sob a ótica de um protocolo preestabelecido, além da avaliação com classificação de risco, pressupõe a determinação de agilidade no atendimento a partir da análise realizada por profissional enfermeiro, que avalia o grau de necessidade do usuário, proporcionando atenção centrada no nível de complexidade, e não na ordem de chegada [3,11]. O protocolo de classificação de risco Manchester, criado através da formação do Grupo de Triagem Manchester em 1994, tem o objetivo de estabelecer um consenso entre os profissionais dos serviços de saúde sobre o processo de classificação de risco. Possui cinco categorias de gravidade e é atribuída a cada uma delas uma cor que define o tempo de espera do paciente até o primeiro contato com o médico do serviço de urgência. Conforme Figura 1 [1,12]. Figura 1 - Relação entre a cor e o tempo médio para atendimento da classificação de risco. Número Nome Cor Tempo Alvo (min) 1 Emergente Vermelho 0 2 Muito urgente Laranja 10 3 Urgente Amarelo 60 4 Pouco urgente Verde Não urgente Azul 240 Fonte: Grupo Português de Triagem, 2002 [9]. A queixa do paciente irá direcionar o enfermeiro a um fluxograma específico que contém discriminadores que podem ser escolhidos conforme a queixa do paciente e/ou a análise de seus sinais vitais e sintomas. Por meio deste processo é possível estabelecer uma prioridade clínica ao atendimento do paciente. Assim, é possível identificar o padrão das prioridades, bem como a confiabilidade do processo de classificação em diversas unidades de saúde. Dessa forma, o processo de classificação de risco foi desenvolvido de forma que possa ser ensinado e auditado [1,12]. A auditoria na classificação de risco é considerada um sistema de revisão e controle que pode fornecer informações administrativas sobre a eficiência e eficácia dos programas em desenvolvimento. É possível indicar as falhas e os problemas e apontar sugestões e soluções, assumindo, portanto, um caráter eminentemente educacional [4,13]. Há uma correlação positiva entre os registros e a qualidade do cuidado, pois é possível avaliar os cuidados de enfermagem por meio de registros, os quais refletem a qualidade da assistência de enfermagem. Assim, a auditoria em serviços de classificação de risco demonstra ser um meio de acompanhamento e avaliação dos processos de trabalho. O Grupo de Triagem de Manchester estabelece a realização de auditorias como preceito para o acompanhamento dos processos de classificação, por meio do qual há garantia que o método e os conceitos do protocolo estão sendo replicados corretamente [9,13,14]. Este estudo investigativo pretende analisar as auditorias do protocolo Manchester de classificação de risco em um hospital público de Belo Horizonte/ MG. Justifica-se por se tratar do importante papel que as instituições hospitalares, especialmente os prontos-socorros, cumprem na sociedade brasileira, na promoção de atendimento efetivo à saúde dos pacientes. Além disso, estabelece a compreensão de uma nova realidade de trabalho do profissional enfermeiro que busca assertividade e eficácia na realização dos processos de classificação de risco. Considera-se então que este estudo possa contribuir para o esclarecimento dos possíveis erros individuais e situacionais que estão implicados no processo de adaptação dos profissionais enfermeiros no uso desta tecnologia, propiciando subsídios para o monitoramento, acompanhamento e direcionamento de estratégias para aprimorar e otimizar a utilização da nova tecnologia de classificação de risco [15,16]. Objetivo geral Avaliar a efetividade da auditoria na qualidade do processo de classificação de risco no serviço de urgência de um hospital público de Belo Horizonte/ MG. Objetivos específicos Contextualizar a auditoria nos serviços de saúde; Analisar os dados das auditorias conforme os critérios estabelecidos pelo protocolo de Manchester; Descrever as não conformidades identificadas nas auditorias do protocolo Manchester; Propor ações de melhoria da qualidade ao processo de classificação de risco. 154

160 Maio / Junho 2013;12(3) Material e métodos O interesse de investigação deste estudo residiu na análise dos dados secundários arquivados no software Alert de classificação de risco durante o período de Setembro de 2009 (implantação do sistema Alert) a Setembro de Considerada, então, como pesquisa documental, devido ao exame de materiais de natureza diversa, que ainda não receberam um tratamento analítico, ou que podem ser reexaminados, buscando-se novas formas e interpretações complementares e também considerada retrospectiva, em relação ao período da coleta dos dados e a análise de seus resultados, uma vez que visa a avaliação das práticas realizadas no dia a dia, no período em questão, e o conhecimento cotidiano relativo à questão em análise [14,17]. Neste estudo, utilizou-se das informações armazenadas no software, em que foi possível a verificação dos dados cadastrais dos pacientes triados, bem como os parâmetros avaliados e a conduta profissional do enfermeiro. Então, para a coleta dos dados, foi utilizado os prontuários eletrônicos da classificação de risco. Os resultados das auditorias realizadas no período da pesquisa foram analisados individualmente por enfermeiro classificador de risco [18]. Os critérios de auditoria permitiram analisar a queixa apresentada pelo paciente e a compatibilidade da conduta com os critérios do protocolo Manchester. Dessa forma, avaliaram-se as não conformidades identificadas nas auditorias nas seguintes questões: 1) Discriminadores foram escolhidos corretamente? 2) Fluxogramas foram escolhidos corretamente? 3) Prioridades foram escolhidas corretamente [12]? A palavra foi utilizada como ferramenta para a disseminação dos resultados que tratou de descrever a avaliação das características apresentadas nas questões acima, foco do estudo [19,20]. Referencial teórico - Auditorias nos serviços de saúde A auditoria teve origem na área contábil desde os anos 2600 a.c. e foi na Inglaterra, no período da Revolução Industrial, que esta prática teve grande desenvolvimento por ter sido implantada nas grandes empresas como o é, até hoje. Na área da saúde, a auditoria surge pela primeira vez em um estudo do médico George Gray Ward, nos Estados Unidos, em 1918, com a finalidade de analisar, por meio de registros, a qualidade da assistência médica prestada aos pacientes [21]. Em 1956, Lambeck utilizou ferramentas de auditoria com a finalidade de avaliar a qualidade dos processos e os resultados dos serviços de saúde, por meio da observação direta do registro e da história clínica do usuário [22]. No Brasil, a auditoria em saúde foi reconhecida no Decreto nº 809, de 24 de abril de 1993, que aprova a estrutura básica regimental do Inamps, formada pela Procuradoria-Geral e Auditoria como órgãos de assistência direta e imediata ao Presidente e estabelece as competências da auditoria: controlar e fiscalizar a aplicação dos recursos orçamentários e financeiros destinados à assistência à saúde e aos pagamentos de serviços prestados e repassados aos Estados, Distrito Federal e municípios pelo Inamps no passado e pelo SUS, a partir da lei nº 8080 [23,24]. Até os tempos atuais, os manuais de auditorias em saúde existentes, enfatizam que o principal objetivo do processo de auditoria é a qualidade das ações de serviços prestados no campo da saúde. Desde então, esses processos têm sido sistematizados utilizados como instrumentos de suporte estabelecidos para avaliar os serviços de saúde e suas intervenções e também como referência para redefinição de objetivos, estabelecimento de conteúdos e estratégias para consolidar melhorias nos serviços de saúde [25]. A auditoria em saúde tem sido utilizada como parâmetro às mais diversas profissões. Na enfermagem, a auditoria é considerada um processo pelo qual as atividades de enfermagem são examinadas e mensuradas por meio de padrões preestabelecidos. Este demonstra ser um elemento fundamental para mensuração da qualidade da assistência e fornecimento de subsídios que visam reorientar atividades, estimular a reflexão e direcionar o processo de educação permanente. Além disso, o processo de auditoria em enfermagem possui a finalidade de identificar áreas de deficiência do serviço, fornecer dados para melhoria dos programas de enfermagem e qualidade do cuidado e obter dados que possam ser utilizados em atividades de atualização do pessoal de enfermagem [17]. As informações geradas por uma auditoria possibilitam o redirecionamento das políticas e objetivos e, consequentemente, das atividades e ações dos serviços de saúde. Dessa forma, constitui-se em 155

161 Maio / Junho 2013;12(3) uma oportunidade permanente de negociação e, ao envolver aspectos organizacionais e políticos relacionados, reorienta o desenvolvimento do processo de trabalho em saúde [25]. Assim, entende-se que a auditoria no sistema de classificação de risco do protocolo Manchester possa determinar se as atividades satisfazem aos requisitos previamente estabelecidos no protocolo. Isto é possível por utilizar os resultados das auditorias para melhoria da gestão dos serviços de saúde e a garantia que os princípios definidos no protocolo correspondam a real apresentação dos pacientes e aos registros feitos pelos profissionais da classificação [12]. As auditorias podem, a partir do órgão auditor, para qualquer atividade, serem classificadas em externa e interna. A auditoria interna, objeto do presente estudo, é compreendida como uma atividade de controle administrativo, com alto grau de independência, que verifica o interior de uma organização ou de um processo. Há regras sobre o perfil e conduta dos profissionais auditores que não devem ter relação de dependência com as atividades que audita. Essa independência viabiliza o exercício de suas funções de maneira mais livre, objetiva e sem comprometimentos, devendo resultar em julgamentos neutros e imparciais. O controle interno se faz através do exame e da verificação quanto à adequação segundo os parâmetros e critérios técnicos ou não. O auditor, a partir de suas análises, sugere orientações para elaboração, melhorias, revisão nos padrões, rotinas, protocolos e ações avaliativas que contribuam com o gerenciamento de enfermagem [26-29]. Critérios para a auditoria do sistema triagem de Manchester O Grupo de Triagem Manchester dedicou-se a criação de informações para pontuar queixas ou situações que poderiam ser analisados retrospectivamente como marcadores de uma classificação bem feita. A auditoria do protocolo é um dos princípios norteadores elaboradas pelo Grupo de Triagem de Manchester e demonstra ser um mecanismo de acompanhamento do processo de classificação de risco [12]. O sistema de classificação de risco Manchester preconiza os dois processos de auditorias: a externa é feita por auditores externos à instituição para acompanhar a operacionalização dos seus pressupostos e controlar o próprio sistema, e a interna que é executada por auditores internos da instituição. Tem o intuito de analisar se o protocolo está efetivamente implementado e o de realizar uma avaliação individual dos profissionais que atuam na classificação de risco e também uma análise global das auditorias dos serviços de saúde [12]. Os critérios estabelecidos pelo Grupo de Triagem Manchester para a realização das auditorias internas são: aferição igual ou superior a 80% - bom desempenho; aferição superior a 90% - muito bom desempenho; aferição superior a 95% - excelente desempenho [9]. O Grupo de Triagem de Manchester orienta que as auditorias sejam feitas mensalmente, por grupos formados por no mínimo um médico e um enfermeiro que devem auditar cinco episódios por triador/ classificador por semana. A seleção dos registros para auditorias é feita de forma aleatória por um profissional do serviço ou pelo sistema informatizado. Esse processo de auditoria pretende: analisar a queixa apresentada pelo doente; verificar a adequada seleção dos fluxogramas conforme a queixa apresentada; verificar evidências para a seleção do discriminador e da prioridade [9,12]. Resultado e discussão Para caracterização deste estudo apresentamos a Tabela I que mostra o quantitativo de auditorias realizadas no período de setembro de 2009 a setembro de A instituição possui uma média/mês de 28 enfermeiros realizando a classificação de risco. Esta variação pode ocorrer devido a licenças, férias ou desligamentos que podem acontecer esporadicamente. Cada enfermeiro foi auditado por meio do prontuário eletrônico disponibilizado no software Alert. Foram realizadas 5 auditorias/mês para cada enfermeiro totalizando 1825 auditorias. O Grupo de Triagem de Manchester recomenda 5 auditorias semanais por enfermeiro. Este quantitativo não foi realizado, pois, naquele momento, o hospital vivia a fase de formação dos auditores internos e não 156

162 Maio / Junho 2013;12(3) possuía ainda número suficiente de participantes que pudessem realizar as auditorias com a frequência indicada [9]. Tabela I - Quantitativo de auditorias realizadas entre setembro de 2009 a setembro de 2010 e a relação percentual de prioridades consideradas corretas mês. Mês Número Porcentagem Número de de auditoriades corretas de priorida- enfermeiros Set/ % Out/ % Nov/ % Dez/ % Jan/ % Fev/ % Mar/ % Abr/ % Mai/ % Jun/ % Jul/ % Ago/ % Set/ % Total Média Média 64% Fonte: Alert Life Sciences Computing, O percentual médio de prioridades escolhidas corretamente durante o período de setembro de 2009 a setembro de 2010 foi de 64%, resultado considerado abaixo do recomendado pelo Grupo de Triagem Manchester. A seguir, a Tabela II apresenta a análise dos critérios de auditoria, conforme estabelecido pelo Grupo de Triagem Manchester. Pode-se identificar 816 não conformidades no critério escolha do discriminador, isto representa 46% de não conformidades em relação ao total de 1825 auditorias. Tal resultado perfaz uma média de 62 não conformidades/mês neste critério de análise, resultado maior que o preconizado pelo Grupo de Triagem de Manchester [9]. Nota-se que os enfermeiros não apresentam dificuldades na escolha dos fluxogramas, um total de 47 não conformidades identificadas, o que representa 3,6% de erros encontrados no período determinado da pesquisa. O resultado representa uma média de 3 não conformidades/mês para este critério de análise. No período da pesquisa foram identificadas 745 não conformidades relacionadas à escolha incorreta da prioridade do paciente. Este valor representa 40,8% de não conformidades no total das 1825 auditorias. O valor médio de não conformidades/ mês neste critério de análise é de 57. Tabela II - Análise dos critérios de auditoria. Mês Discriminadores escolhi- escolhidos Fluxogramas Prioridades escolhida incorretamentdos incorretamentmente incorreta- Set/ Out/ Nov/ Dez/ Jan/ Fev/ Mar/ Abr/ Mai/ Jun/ Jul/ Ago/ Set/ Total Média/ mês 62,7 3,6 57,3 Percentual 44,7% 2,6% 40,8% Fonte: Alert Life Sciences Computing, A escolha incorreta do discriminador e da prioridade relaciona-se ao uso inadequado de conceitos e a não observância dos itens que pertencem ao protocolo. Fato evidenciado pela ausência do preenchimento de registros, como os parâmetros vitais. A escolha incorreta da prioridade demonstra ser o erro considerado mais grave, pois influi diretamente no tempo de espera para avaliação médica do paciente. A auditoria do protocolo Manchester demonstra ser um mecanismo de acompanhamento das classificações de risco analisando-as segundo critérios e conceitos pré-estabelecidos. Pode-se identificar que os critérios mais sinalizados como não conformes nas auditorias foram a escolha dos discriminadores e a escolha das prioridades. Isto sugere limitações por parte dos enfermeiros em registrar informações solicitadas pelo protocolo ou em reconhecer conceitos. Sendo assim, realizar um acompanhamento do grupo de classificadores com o intuito de rever o método de classificação de risco e os seus conceitos se tornou uma ação estratégica e para isso a instituição preconizou a formação de um grupo responsável 157

163 Maio / Junho 2013;12(3) 158 por auditar mensalmente as classificações de risco realizadas pelo protocolo Manchester. O grupo de auditores do protocolo Manchester foi formado, nesta instituição de saúde, em julho/2010 por dois enfermeiros e dois médicos. Desde então, o grupo reúne-se mensalmente para discussão e elaboração de intervenções dos casos auditados. Observou-se que o grupo de auditores foi formado um ano após a implantação do protocolo de Manchester na instituição, o que contribuiu fundamentalmente para o acúmulo de processos a serem realizados. Por este motivo, o grupo de auditores optou por fazer todas as auditorias atrasadas até atingir o período regular para sistematizar os processos de auditoria. Após término das apurações, o grupo de auditores convocou, como estratégia de intervenção, uma reunião para feedback coletivo com todos os enfermeiros que realizavam a classificação de risco da instituição. Foi possível verificar que mesmo após a ciência dos classificadores sobre as não conformidades, os índices permaneceram altos de acordo com os critérios mínimos de aferições corretas estabelecidas pelo Grupo de Triagem Manchester. Assim, visando minimizar a situação criada, o grupo de auditores optou por bloquear, no software Alert, o registro dos parâmetros vitais. Deste modo, não era possível avançar na avaliação por discriminadores sem antes registrar as informações solicitadas pelo primeiro discriminador. Após esta conduta o índice de conformidade aumentou significativamente e a meta estabelecida para aferições corretas foi alcançada. E desde então, a instituição mantém os seus níveis de aferições corretas entre bom desempenho e muito bom desempenho. Após este período, as auditorias foram realizadas mensalmente pelo grupo de auditores que utilizaram de feedback individual e de reuniões trimestrais como estratégia de intervenção com o grupo de classificadores. A pesquisa apresenta limitações, sendo uma delas o número de auditorias realizadas. Sugere-se que o número de auditorias/mês seja o recomendado pelo grupo de triagem por aumentar a amostragem para análise das auditorias da classificação de risco. A formação do grupo de auditores após a implantação do protocolo na instituição impossibilitou uma intervenção educativa junto à equipe de classificadores no momento adequado e postergou as ações dos auditores e dos profissionais classificadores por desconhecimento das ocorrências. Conclusão Então, realizar auditorias do protocolo Manchester demonstra ser um meio eficaz para o acompanhamento do processo de classificação de risco, por identificar limitações na aderência de critérios do protocolo e por possibilitar análises e intervenções para que sejam alcançadas as metas colocadas pelo sistema Manchester de Classificação de Risco. Referências 1. Souza CC. Grau de concordância da classificação de risco de usuários atendidos em um pronto-socorro utilizando dois diferentes protocolos [dissertação]. Belo Horizonte: Programa Pós Graduação em Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais; Costa NR, Ribeiro JM, Silva PLB. Reforma do Estado e mudança organizacional: um estudo de hospitais públicos. Ciênc Saúde Coletiva 2000;5(2): Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva, Núcleo técnico da Política Nacional de Humanização. Acolhimento com classificação de risco: um paradigma ético no fazer em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Especializada. Regulação Médica das Urgências. Série A Normas e Manuais Técnicos. Brasília: Ministério da Saúde; Pires PS. Tradução para o português e validação de instrumento para triagem de pacientes em serviço de emergência: Canadian Triage and Acuity Scale CTAS [Tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; Deslandes SF. Violência no cotidiano dos serviços de emergência hospitalar: representações, práticas, interações e desafios [tese]. Fundação Oswaldo Cruz Escola Nacional de Saúde Pública. Rio de Janeiro: Departamento De Ciências Sociais, Programa de Pós Graduação da Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro; Gatti MFZ. Triagem de enfermagem em serviço de emergência. Centro de Estudos e Pesquisa. São Paulo: Boletim Científico do Hospital Samaritano; Machado SCEP, Gonçalves AVFG, Polanczyk CA, Ribeiro CA, Moraes CAA, Nied CJ, et al. Como um protocolo de classificação de risco pode qualificar o encaminhamento dos pacientes na emergência. Relato de experiência. Hospital das Clínicas de Porto Alegre 2005; Grupo Português de Triagem. Triagem no serviço de urgência. Manual do formando. Belo Horizonte: BMJ; Santos C, Ferreira C, Tribolet J. Identificação e Avaliação do Risco Associado aos Processos de Negócio de um Serviço de Urgência Hospitalar: um caso de estudo, 6ª ed. Bragança (Portugal): CAPSI; Grupo Alert Brasil. Alert inaugura sede no Brasil. Press à porter gestão de imagem [internet]. São Paulo; [citado 2011 Dec 10]. Disponível em URL:

164 Maio / Junho 2013;12(3) 12. Mackway-Jones K, Marsden J, Windle Jill. Sistema Manchester de Classificação de Risco. 1ª. ed. Versão Brasileira. Welfane Cordeiro Júnior e Adriana de Azevedo Mafra: Grupo Brasileiro de Classificação de Risco: Belo Horizonte; Setz VG, D innocenzo M. Avaliação da qualidade dos registros de enfermagem no prontuário por meio da auditoria. Acta Paul Enferm 2009;22(3): Scarparo AF, Ferraz CA. Auditoria em Enfermagem: identificando sua concepção e métodos. Rev Bras Enferm 2008;61(3): Campos GWS, Amaral MA. A clínica ampliada e compartilhada, a gestão democrática e redes de atenção como referenciais teórico-operacionais para a reforma do hospital. Ciênc Saúde Coletiva 2007;12(4): Ulhoa ML, Garcia FC, Lima CT, Santos DS, Castro PAA. A implantação de nova tecnologia: implicação na eficiência do trabalho na unidade de pronto atendimento de um hospital público de urgência e emergência. RGO 2010;3(1): Flick U. Desenho da pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed; Yin R. Estudo de Caso: Planejamento e métodos. 2ª ed. Porto Alegre: Bookman; Godoy AS. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas ERA 1995;35(2): Vergara SC. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. 11a ed. São Paulo: Atlas; Faraco MM, Albuquerque GL. Auditoria o método de assistência de enfermagem. Rev Bras Enferm 2004;57(4): Caleman G, Moreira ML, Sanchez MC. Auditoria, controle e programação de serviços de saúde. São Paulo: Fundação Petrópolis; Brasil. Presidência da República. Decreto n. 809, de 24 de abril de Aprova a Estrutura Regimental do Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS), para vigência transitória; altera o Anexo II, parte a e b, do Decreto n.109, de 2 de maio de 1991, e dá outras providências. 24. Brasil. Ministério da Saúde. Lei n , de 19 de setembro de Dispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, n. 182, Seção I., p , 20 set Melo MB, Vaitsman J. Auditoria e avaliação no Sistema Único de Saúde. São Paulo em Perspect 2008;22(1): Costa JSD, Roman VR, Luz RM, Manzolli PP, Correa P, Recuero LF. Auditoria médica: avaliação de alguns procedimentos inseridos no programa de atenção integral à saúde da mulher no posto de saúde da Vila Municipal, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad Saúde Pública 1998;14(1): Attie W. Controle interno. In: Auditoria: conceitos e aplicações. 2a ed. São Paulo: Atlas; Silva RG, Fischer FM. Auditorias internas do sistema de gestão da segurança e saúde no trabalho. Cadernos de Pesquisa em Administração 2004;11(4): Pereira PM, Petry P, Porto AR. A importância do Enfermeiro Auditor na qualificação da assistência profissional. Rev Enferm UFPE 2010;2(4): Anuncie! Enfermagem BRASIL Tel: (11) comercial@atlanticaeditora.com.br 159

165 Artigo original Condições de trabalho dos cuidadores formais de idosos em uma instituição de longa permanência para idosos: conhecer para intervir Clicia Vieira Cunha* *Enfermeira, Especialista em Enfermagem Clínico-Cirúrgica pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), Estudo realizado como requisito para conclusão da disciplina eletiva do mestrado da Faculdade de Enfermagem UERJ: Ergonomia e o Trabalho de Enfermagem Resumo Este estudo teve como objetivo analisar as condições de trabalho dos cuidadores de idosos em uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI), descrevendo os principais problemas observados na prática, correlacionando-os com as possíveis repercussões na saúde destes trabalhadores. Utilizou-se um estudo descritivo de abordagem qualitativa numa ILPI. A população analisada foi 53 cuidadores de idosos com algum grau de dependência. Posteriormente os dados observados foram analisados buscando embasamento bibliográfico. Ao final pode-se realizar um pré-diagnóstico da situação em questão: as atividades realizadas demandam cargas físicas, sensoriais, mentais e relacionais que acarretam aos cuidadores fadiga, estresse, dores musculares e consequentemente diminuição da produtividade. Palavras-chave: cuidador, idoso, ergonomia, diagnóstico. Abstract Work conditions of formal caregivers of older adults in a long-stay institution: know to intervene This study aimed at analyzing working conditions of caregivers of older adults in a Long Stay Institution for Elderly (LSIE), to describe the main problems observed during practice and to correlate with workers health problems. We used a qualitative and descriptive study in a LSIE. Fifty three caregivers of patients with some kind of dependence were analyzed. Later data were analyzed based on literature. We concluded that the activities required physical, sensorial, mental and relational demands which cause fatigue, stress, muscles aches and consequently low productivity. Key-words: caregiver, aged, ergonomics, diagnosis. Artigo recebido em 19 de julho de 2012; aceito em 19 de março de Endereço para correspondência: Clicia Vieira Cunha, Av Quatro, 298, Galeão, Ilha do Governador, Rio de Janeiro RJ, cliciarebello@gmail.com 160

166 Maio / Junho 2013;12(3) Resumen Condiciones de trabajo de cuidadores formales de ancianos en una institución de larga estancia: conocer para intervenir Este estudio tuvo como objetivo analizar las condiciones de trabajo de cuidadores de ancianos en una Institución de Larga Estancia (ILE), describir los principales problemas observados en la práctica y correlacionarlos con posibles repercusiones para la salud. Se utilizó un estudio cualitativo descriptivo en una ILE. Cincuenta y tres cuidadores de pacientes afectados con algún grado de dependencia participaron del estudio. Posteriormente los datos fueron analizados con base en la literatura. Se concluyó que las actividades requieren cargas físicas, mentales y relacionales que causan fatiga, estrés, dolores musculares, y consecuentemente una reducción en la productividad. Palabras-clave: cuidador, anciano, ergonomía, diagnóstico. Introdução A relação existente entre o trabalho e a saúde dos indivíduos é constatada desde a Antiguidade, e vem sendo analisada pelo campo da Saúde do Trabalhador. Inúmeros são os trabalhadores expostos a riscos e danos em decorrência de condições impróprias de trabalho. Com o intuito de analisar melhor tal relação e estudar a adaptação do trabalho ao homem, surge a ergonomia oferecendo dados e conhecimentos sobre o homem, suas capacidades e habilidades e também sobre suas limitações físicas e psíquicas. Neste sentido surge o interesse em analisar melhor as condições de trabalho de um grupo específico de trabalhadores que vêm ganhando campo de atuação e reconhecimento devido ao atual quadro demográfico de envelhecimento populacional: os cuidadores de idosos. A ocupação de cuidador integra a Classificação Brasileira de Ocupações CBO sob o código 5162, que o define como alguém que cuida a partir dos objetivos estabelecidos por instituições especializadas ou responsáveis diretos, zelando pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida. Esse profissional necessita manter sua integridade física e emocional para planejar maneiras de convivência e prestar uma assistência de qualidade [1]. Encontramos na sociedade vários tipos de cuidadores, porém para o estudo em questão a abordagem será voltada para aquele cuidador contratado pela família, mediante uma remuneração, que chamamos de cuidador formal. Alguns autores revelam que 78% dos cuidadores possui algum tipo de doença, sendo a maioria de ordem osteomuscular. Outros alertam sobre o risco do caregiver stress, o estresse do cuidador, e a possibilidade de adoecimento do mesmo, com a sobrecarga exposta. O tempo de cuidado e o grau de dependência são fatores determinantes para a ocorrência dessas patologias aos cuidadores [2]. Desta forma, este estudo pretende realizar o levantamento dos problemas observados na prática destes cuidadores, com o objetivo de contribuir posteriormente para o despertar do interesse sobre a temática. Pretende-se posteriormente sensibilizar as instituições quanto à necessidade e importância em conhecer as dificuldades encontradas na execução do trabalho destes profissionais e sobre a necessidade de proporcionar meios para realização das tarefas com menor grau de risco e danos possíveis para a saúde destes trabalhadores. Objetivo geral Analisar as condições de trabalho dos cuidadores de idosos em uma ILPI. Objetivos específicos Descrever os principais problemas observados na prática dos cuidadores de idosos; Correlacionar os problemas observados com possíveis repercussões na saúde destes trabalhadores. Justificativa Este assunto é tema de grande relevância nos dias atuais, já que o mundo se depara com um quadro de envelhecimento populacional. Como consequência nos defrontamos com a necessidade 161

167 Maio / Junho 2013;12(3) iminente de pessoas capacitadas para o cuidar desta clientela. Precisamos parar e refletir sobre as condições de trabalho oferecidas para este profissional para que consiga realizar suas tarefas com o melhor rendimento e qualidade de vida para si próprio e para o idoso a quem se dispõe a cuidar. Nesta perspectiva, o interesse em realizar este estudo surge a partir do momento em que, como responsável por um setor que cuida de idosos dependentes, observa-se na prática dos cuidadores destes situações que podem interferir de alguma maneira no bem-estar destes trabalhadores. Situações estas, muitas vezes, verbalizadas em momentos de interação e orientação entre mim e estes cuidadores. Assim, diante dessa experiência profissional com idosos, e o interesse em contribuir de alguma maneira com estes profissionais, surgiu este estudo com o objetivo de identificar e descrever estas supostas limitações. Da mesma maneira, através deste pré-diagnóstico tentar buscar meios para amenizar tais dificuldades e assim atingir uma assistência de qualidade e a satisfação do trabalhador. Material e métodos Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa realizado numa Instituição de Longa Permanência para Idosos com experiência de 27 anos no trabalho com a clientela gerontológica. A população analisada foi 53 cuidadores, entre a faixa etária de 23 a 70 anos. Desta população, 10 trabalham com idosos de leve dependência, 10 com idosos de moderada dependência e 33 com idosos com total dependência. Foi adotada a técnica de observação assistemática, assim como busca documental no cadastro de cuidadores da Instituição. Posteriormente foram descritos os fatos observados e sua correlação com os possíveis danos à saúde gerados por estes, embasando sua fundamentação em referências bibliográficas. Resultados e discussão A tarefa de cuidar de alguém geralmente se soma às outras atividades do dia-a-dia. O cuidador fica sobrecarregado, pois muitas vezes assume sozinho a responsabilidade pelos cuidados, soma- -se a isso, ainda, o peso emocional da doença que incapacita e traz sofrimento a uma pessoa querida. Diante dessa situação é comum o cuidador passar por cansaço físico, depressão, abandono do trabalho, alterações na vida conjugal e familiar. A tensão e o cansaço sentidos pelo cuidador são prejudiciais não só a ele, mas também à família e à própria pessoa cuidada. Neste contexto, percebe-se a importância da ergonomia que analisa o relacionamento entre o homem e seu trabalho com o objetivo de melhorar o desempenho produtivo e reduzir as consequências nocivas sobre o trabalhador [3]. De acordo com Federighi é muito importante considerar que os fatores e as características que incidem num ambiente de trabalho podem interferir para que a atividade desempenhada provoque maior ou menor intensidade de desgaste ao trabalhador em função das cargas exigidas [4]. Ainda de acordo com o autor acima, as cargas podem ser físicas quando exigem atividade muscular desenvolvida; sensoriais quando exigem atenção e observação envolvendo os órgãos sensoriais; mentais quando exigem concentração e resolução requerendo habilidade de raciocínio e pensamento; e cargas relacionais quando envolve a capacidade de se relacionar com os outros, superiores ou pares [4]. Levando em consideração tais apontamentos, observou-se na clientela e no ambiente analisado alguns fatores importantes que podem interferir no bem-estar destes trabalhadores. Num primeiro momento foi detectada a prevalência de 50 cuidadores do sexo feminino. Observa-se neste cenário trabalhadores que trazem consigo uma gama de atribuições, as quais lhes impõe uma sobrecarga no seu dia-dia. Cuidadores que tentam conciliar sua jornada de trabalho após cumprirem uma rotina de compromissos domésticos. De acordo com Silva, na nossa sociedade é usual afirmar que cuidar de casa, de filhos ou de idosos é função da mulher, porque ela é destinada por natureza, para a vida doméstica, para ser mãe e cuidar da família. Assim são atribuídas às mulheres funções que são vistas pelo senso comum como funções femininas. O cuidar do outro configura como mais uma das tarefas naturais da mulher [5]. A mulher primeiro cuida dos filhos, depois do marido e posteriormente dos velhos e doentes [6]. Ou seja, executa uma tripla jornada de trabalho. Publicação recente do Jornal o Globo demonstra que, segundo levantamento realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) entre o conjunto das mulheres brasileiras inseridas no mercado de trabalho, uma expressiva proporção de 90,7% também realizava afazeres 162

168 Maio / Junho 2013;12(3) domésticos, enquanto que entre os homens tal proporção era significativamente inferior: 49,7%. Essas trabalhadoras, além da sua jornada semanal de 36 horas, em média, no mercado de trabalho, dedicavam cerca de 22 horas semanais aos afazeres domésticos, ao passo em que entre os homens tal dedicação era de 9,5 horas semanais, ou seja, 12,5 horas a menos [7]. Além disso, a incorporação das mulheres ao mercado de trabalho vem ocorrendo de forma expressiva sem que tenha ocorrido uma nova pactuação em relação à responsabilidade pelo trabalho de reprodução social, que continua sendo assumida, exclusiva ou principalmente, pelas mulheres [7]. As mulheres em relação aos homens não apresentam diferenças quanto à capacidade intelectual, porém são significantemente diferentes em suas funções fisiológicas, capacidade vascular, forças musculares e dimensões antropométricas. Diversos estudos comprovam que as atividades físicas pesadas executadas pelas mulheres desorganizam o seu ciclo menstrual [3]. Vemos aí uma outra situação que impõe a mulher a sobrecarga física. Relacionada à idade preponderante entre os cuidadores pode-se considerar que o processo de envelhecimento inicia-se por volta dos 30 a 40 anos, mas acelera-se a partir dos 50 anos apresentando uma degradação progressiva da função cardiovascular, flexibilidade das articulações, dos órgãos dos sentidos e da função cerebral. No exercer das funções de cuidador todos estes sistemas são colocados à prova no desempenho do trabalho, muitas vezes sendo exigidos além das capacidades funcionais do trabalhador [3]. Na população analisada encontramos apenas 1 cuidadora na faixa etária de anos, 7 com idades entre anos, 8 na faixa de anos, 16 entre anos e 17 na faixa etária de anos. Observamos ainda 1 cuidadora de 70 anos. Reforça-se então a questão da sobrecarga física numa população já comprometida pelas co-morbidades impostas pela idade avançada. Outro fator observado é a jornada de trabalho de alguns cuidadores: 24 x 24 horas ou até mesmo 48 x 48 horas. Tal jornada pode ser entendida como exaustiva. Com o passar das horas, observa-se uma redução no desempenho destes trabalhadores. Do ponto de vista ergonômico as jornadas superiores a 8 ou 9 horas diárias de trabalho são improdutivas [3]. Sabe-se, contudo, que o trabalho continuo pode resultar em um estado de fadiga, conceituado como efeito de um trabalho continuado que provoca uma redução reversível da capacidade do organismo e uma degradação qualitativa desse trabalho. Este estado posteriormente pode reverter-se em doença [3]. O cuidador de um idoso dependente ainda se depara com a necessidade de mobilização constante do idoso, quer seja, para locomoção, troca de fraldas, banho, alimentação. Isso demanda força física e postura adequada para evitar o estresse muscular, dores e lesões. No contexto observado, notamos constantes queixas relacionadas principalmente a dores na coluna, membros superiores e inferiores. Iida aponta dois tipos de reações corporais relacionadas ao manuseio de cargas: Primeiro, quando o aumento de peso provoca sobrecarga fisiológica nos músculos da coluna e dos membros inferiores e em segundo, quando o contato entre carga e o corpo pode provocar estresse postural. Os dois podendo, no entanto, provocar desconforto, fadiga e dores [3]. Outra situação observada com grande prevalência é o estresse demonstrado pelos cuidadores frente às constantes cobranças da Instituição e familiares. Como trabalhadores, enfrentam a necessidade em cumprir regras e são constantemente avaliados no desempenho de suas funções. Necessitam de constante atenção em relação ao idoso a ser cuidado. Enfrentam constantes pressões emocionais, que se acentuam frente ao agravamento ou morte do idoso cuidado. Observa-se na fala e expressões de alguns cuidadores o medo, a tristeza, a ansiedade no lidar com alguns idosos, pois muitos se sentem integrantes da própria família criando um vínculo emocional muito grande. Tal envolvimento e as inúmeras cobranças geram neste trabalhador um estresse evidenciado por irritabilidade e constantes queixas por parte dos cuidadores. O estado de estresse prolongado passa a influir no desempenho do trabalho, reduzindo a produtividade e a qualidade, podendo aumentar os riscos de acidentes, absenteísmos e rotatividade dos trabalhadores [8]. Com base nestes achados pretende-se num segundo momento implementar medidas que possibilitem minimizar tais prejuízos causados ao trabalhador. Realizar uma análise mais bem elaborada desta realidade, categorizar as atividades desenvolvidas pelos cuidadores norteando as modificações necessárias para uma ampla adequação das condições de trabalho [9]. 163

169 Maio / Junho 2013;12(3) Conclusão Através desta observação e embasamento bibliográfico, pode-se realizar um pré-diagnóstico da situação em questão: as atividades realizadas demandam cargas físicas, cognitivas, mentais e sociais que acarretam aos cuidadores fadiga, estresse, dores osteomusculares e consequentemente diminuição da produtividade, absenteísmo, alta rotatividade. Novos estudos devem ser realizados no sentido de implementar medidas preventivas, a fim de minimizar esses agravos decorrentes do trabalho. Referências 1. Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde. Guia prático do cuidador. Brasília: Ministério da Saúde; Eishima RS, Neto MLA, Landim PC. Cuidado com o cuidador! Uma análise da tarefa. Revista Brasileira de Ergonomia 2010;5(2). 3. Iida I. Ergonomia: projeto e produção. 2ª ed. São Paulo: Blucher; Federigh WJP. Ergonomia. In: Carvalho GM. Enfermagem do Trabalho. São Paulo: EPU; p Silva IF. As relações de poder no cotidiano de mulheres cuidadoras. In: Karsch UMS. Envelhecimento com dependência: revelando cuidadores. São Paulo: EDUC, p Wanderley, MB. Publicização do papel do cuidador domiciliar. São Paulo: IEE/PUC-SP, Brasília, Secretaria de Assistência Social - MPAS: OIT. Contando jornada doméstica, mulher trabalha mais do que homem. [citado 2012 Jan 12]. Disponível em URL: noticia/2012/07/contando-jornada-domestica-mulher- -trabalha-mais-do-que-homem-diz-oit.html. 8. Ribeiro MCS. Enfermagem e trabalho: fundamentos para a atenção à saúde dos trabalhadores. 2ª ed. São Paulo: Martinari; Dionísio FN, Bortolotti PA, Aleixo AA, Peleti DC, Walsh IAP, Silva JL, et al. Avaliação de características ergonômicas, capacidade para o trabalho e desconforto músculo-esquelético na central de distribuição de materiais de um hospital de clínicas no estado de MG. Revista Brasileira de Ergonomia 2010;6(1): Assine já! Enfermagem BRASIL Tel: (11) assinaturas@atlanticaeditora.com.br 164

170 Artigo original Uso do tabaco entre funcionários de uma instituição de ensino superior Ariane Regina Santos*, Karina Augustinho Bernardes*, Elaine Cristina Rocha Santos*, Jéssica Steffany Miranda**, Silvio Fernando Guideti Marques*** *Acadêmicas do Curso de Enfermagem do Centro Universitário de Lins (UNILINS), Lins/SP, **Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Lins (UNISALESIANO), Lins/SP, ***Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário de Lins (UNILINS), Lins/SP Resumo O tabagismo é uma das maiores preocupações da sociedade moderna, devido aos efeitos deletérios que acarreta na população. O conhecimento da prevalência do tabagismo é necessário para a realização de programas institucionais adequados que visem à diminuição do número de fumantes. Pensando nesta situação, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a prevalência do tabagismo em funcionários da Fundação Paulista de Tecnologia e Educação (FPTE) de Lins/SP. Nesta análise foi aplicado um questionário a 149 funcionários e constatou-se a prevalência de tabagismo de 15,4%. 74,5% dos funcionários não eram fumantes e 10,1% foram classificados como ex-fumantes. A prevalência quanto ao gênero foi de 65,2% entre os homens e de 34,8% entre as mulheres. A maioria fumava há mais de 9 anos (87,0%) e iniciaram o tabagismo entre 16 e 18 anos de idade (43,4%). A faixa etária de maior prevalência foi entre anos (30,5%). Dos entrevistados classificados como não-fumantes (33,3%), a maioria convive com fumantes no ambiente de trabalho (51,4%). Embora a prevalência encontrada tenha sido menor que a de outros estudos realizados no Brasil, sugere-se a elaboração de medidas de conscientização sobre a prática tabágica visando à profilaxia do consumo de cigarros nesta população. Palavras-chave: tabagismo, funcionários, prevalência, características. Abstract Tobacco use among employees of an institution of higher education Smoking is a major concern in modern society due to the deleterious effects in the population. Knowledge of the prevalence of smoking is necessary to achieve adequate institutional programs aimed at reducing the number of smokers. Thinking about this situation, this study aimed to assess the prevalence of smoking among employees of Fundação Paulista de Tecnologia e Educação (FPTE) of Lins/SP. In this analysis, a questionnaire was administered to 149 employees and was found smoking prevalence of 15.4%. 74.5% of employees were non-smokers and 10.1% were former smokers. The prevalence by gender smoking ratio was 65.2% among men and 34.8% among women. Most smoked for over 9 years (87.0%) and began smoking between 16 and 18 years of age (43.4%). The most prevalent age group was between Artigo recebido 30 de janeiro de 2013; aceito em 14 de junho de Endereço para correspondência: Silvio Fernando Guideti Marques, Avenida Nicolau Zarvos, 1925 Jardim Aeroporto Lins SP, marquessfg@uol.com.br 165

171 Maio / Junho 2013;12(3) years (30.5%). Of respondents classified as non-smokers (33.3%) most live with smokers in the workplace (51.4%). Although the prevalence was lower than other studies conducted in Brazil, we suggest the development of measures to raise awareness about the practice aimed at tobacco prevention of smoking in this population. Key-words: smoking, employees, prevalence, characteristics. Resumen El hábito de fumar entre los empleados de una institución de educación superior El tabaquismo es una preocupación importante en la sociedad moderna debido a los efectos nocivos para la salud de la población. El conocimiento de la prevalencia de tabaquismo es necesario para realizar programas institucionales adecuados cuyo objetivo sea reducir el número de fumadores. Ante esta situación, el presente estudio tuvo como objetivo evaluar la prevalencia de tabaquismo entre los empleados de la Fundação Paulista de Tecnologia e Educação (FPTE) Lins/SP. En este análisis, se administró un cuestionario a 149 empleados y se encontró una prevalencia de tabaquismo del 15,4%. El 74,5% de los empleados no eran fumadores y el 10,1% eran ex fumadores. La prevalencia de tabaquismo por sexo fue de 65,2% en hombres y 34,8% entre las mujeres. La mayoría llevaban fumando más de 9 años (87,0%) y comenzaron a fumar entre los 16 y 18 años (43,4%). El grupo de edad más frecuente fue entre años (30,5%). De los encuestados clasificados como no fumadores (33,3%), la mayoría viven con fumadores en el puesto de trabajo (51,4%). Aunque la prevalencia fue menor que en otros estudios realizados en Brasil, se sugiere la elaboración de medidas para aumentar la concienciación acerca de la práctica de fumar dirigida a la prevención del tabaquismo en esta población. Palabras-clave: tabaquismo, empleados, prevalencia, características. Introdução O tabagismo é considerado o mais importante problema de saúde pública e a principal causa evitável de morte nos dias atuais. A cada ano, aproximadamente cinco milhões de pessoas morrem por doenças relacionadas ao tabaco e a previsão é de que, persistindo o atual modelo de consumo, em 2030, serão oito milhões de mortes ao ano, das quais mais de 80% ocorrerão nos países em desenvolvimento [1]. A literatura científica atual, além de estimar o risco atribuível ao fumo ativo e passivo associado a várias doenças, mostra que a cessação do tabagismo oferece benefício mesmo entre os mais idosos [2]. Em nosso país, o tabagismo está diretamente relacionado a 30% dos infartos do miocárdio, 25% dos acidentes vasculares cerebrais, 85% das mortes por câncer de pulmão, sendo o fator isolado causal de 30% da mortalidade total [3]. Acredita-se que, se não forem tomadas medidas adequadas para o controle dessa pandemia, próximo ao ano de 2020 o tabagismo será o responsável por 10 milhões de mortes por ano, com proporções de uma em cada seis pessoas consumidoras de tabaco. Sabe-se que o Brasil é o maior exportador de folhas de tabaco e o quarto produtor de fumo no mundo, sendo que as maiores plantações de fumo do país estão no Rio Grande do Sul. Nos últimos 30 anos, foram consumidos internamente quase três milhões de toneladas de folhas para a fabricação de 3,5 trilhões de cigarros. Com essa produção, foram liberadas, no meio ambiente, 50 mil toneladas de alcatrão, 50 mil toneladas de monóxido de carbono e 50 toneladas de amônia [4]. Este panorama, portanto, representa um sério problema de saúde pública para qualquer país, independentemente do seu grau de desenvolvimento. É extremamente útil a atualização dos estudos referentes ao tabaco, pois o mesmo não atinge com seus malefícios apenas seus usuários, mas também pessoas próximas aos mesmos. É importante ressaltar que o fumante muitas vezes se encontra ao lado de crianças tornando-as fumantes passivos [5]. Portanto, o presente estudo teve como objetivos identificar a prevalência do hábito de fumar e a ocorrência de fatores associados ao tabagismo em funcionários da Fundação Paulista de Tecnologia e Educação (FPTE) de Lins/SP, além de desenvolver estratégicas que visem a profilaxia do consumo de cigarros nesta população. Material e métodos Realizou-se um estudo transversal com os funcionários da FPTE. Para se calcular o tamanho 166

172 Maio / Junho 2013;12(3) Considerando apenas os tabagistas (23), encontramos uma prevalência de 65,2% (15) no sexo masculino, enquanto que no sexo feminino a mesma foi de 34,8% (8) (Figura 1), contrariando a tendência mundial de aproximação da prevalência de fumantes entre os sexos, através de seu declínio entre os homens e do aumento ou estabilização entre mulheres [8]. Todos os fumantes deste estudo declararam que utilizam cigarros comercializados. A prevalência de fumantes do sexo masculino (19,7%) foi inferior às estimativas de outras pesquisas nacionais, assim como a proporção de mulheres (11,0%) (Tabela II). Pesquisas realizada amostra, utilizou-se a população total de 425 funcionários e erro amostral tolerável de 5% para possibilitar intervalo de confiança de 95%. Dessa maneira, foi obtida, inicialmente, como amostra ideal para o desenvolvimento deste estudo, um grupo de 149 indivíduos [6]. Para obtenção das informações acerca do consumo de tabaco, utilizou-se um questionário pré-codificado, individual e confidencial, com perguntas relacionadas ao hábito tabágico, distribuídas em três domínios, direcionadas aos fumantes regulares e fumantes ocasionais, aos ex- -fumantes e aos não fumantes. Este questionário continha variáveis demográficas (idade, sexo e cor), sócio-econômica (renda familiar em salários mínimos vigentes na época da pesquisa), variáveis relacionadas ao tabagismo (se é fumante, tipo de fumo, consumo diário, idade de início, tempo de tabagismo e, caso ex-fumante, tempo de tabagismo e de suspensão do fumo), tipo de tabaco (industrializado, confeccionado pelo próprio fumante, charuto e cachimbo), convivência com fumantes (pais, irmãos, amigos), local de convivência (casa, universidade, trabalho). Também foram investigados o consumo de bebidas alcoólicas, prática de esportes e presença de sintomas como tosse seca, tosse produtiva e sibilância. O ponto de corte para a definição de fumante foi ter fumado um ou mais cigarros por dia há pelo menos um mês, e para ex-fumantes aqueles que na ocasião da pesquisa não eram fumantes, mas que o haviam sido no passado. As perguntas sobre sintomas respiratórios foram referentes aos últimos doze meses, excluindo-se os sintomas ocorridos durante gripes. O questionário foi aplicado diretamente aos funcionários após esclarecimentos e orientações básicas sobre os objetivos da pesquisa em questão, ficando o indivíduo livre para decidir sobre sua participação. Em se fazendo a opção por participar da pesquisa, o mesmo assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos do Centro Universitário de Lins/SP Unilins, sob o protocolo 01/2011. Foi utilizado o teste do qui-quadrado para avaliar a existência de associações entre as variáveis analisadas, sendo considerado o valor de p < 0,05 para significância estatística. Resultados e discussão O questionário auto-respondido apresentou diversas vantagens, que se referem não só à diminuição de custos e do tempo necessário para desenvolver a pesquisa, bem como mostrou-se ideal naquele ambiente de trabalho, já que os funcionários responderam durante o expediente, no momento mais disponível, sem prejuízos das suas funções. Por outro lado, o questionário respondido por eles próprios, sem prejuízo em suas funções na empresa e com a garantia do sigilo das informações, possivelmente incentivou respostas mais sinceras e evitou constrangimentos quanto a informar problemas de saúde e hábitos socialmente indesejáveis. Assim, provavelmente, esses fatores contribuíram também para a grande adesão à pesquisa. O tabagismo é considerado o principal fator de risco passível de prevenção para várias doenças crônicas e é responsável por um grande número de mortes prematuras no mundo [7]. Nesta pesquisa, do total de entrevistados (149), 49,7% eram do sexo masculino (74) e 50,3% do feminino (75), portanto, não foi encontrada diferença estatisticamente significativa (p > 0,05). Foi observado que 15,4% dos funcionários apresentaram-se como fumantes, 10,1 % foram classificados como ex-fumantes e 74,5% não eram fumantes (Tabela I). Tabela I - Prevalência total de tabagismo entre os funcionários da FPTE. Uso do Tabaco n % Fumantes 23 15,4 Ex-fumantes 15 10,1 Não fumantes ,5 Total ,0 167

173 Maio / Junho 2013;12(3) das com trabalhadores de uma empresa bancária revelaram 31,1% de tabagismo entre os homens, enquanto que a incidência entre as mulheres foi de 27,8% [8]. Estudos anteriores, na região de Porto Alegre, encontraram uma prevalência de fumantes ao redor de 41,5% entre os homens e 29,5% entre as mulheres [3]. Em doze capitais brasileiras, as prevalências foram 45,0% entre os homens e 33,0% entre as mulheres [7]. Figura 1 - Estratificação da amostra segundo o sexo entre os tabagistas. 8; 34,8% Homens 15; 65,2% Mulheres Tabela II - Prevalência de taba gismo segundo o sexo na população estudada. Uso do Tabaco Homens Mulheres n % n % Fumantes 15 19,7 8 11,0 Ex-fumantes 9 11,9 6 8,2 Não-fumantes 52 72, ,8 Total , ,0 A caracterização do tabagismo entre os funcionários da FPTE está apresentada na Tabela III. Nota-se que a maioria dos indivíduos fumantes (7) consome entre 16 a 20 cigarros diariamente (30,0%). A maioria (43,4%) iniciou-se na prática quando tinha entre 16 a 18 anos de idade. Também entre os funcionários da empresa estudada o hábito de fumar iniciou-se principalmente na adolescência, conforme já descrito em outros estudos [3,9,10], reforçando a importância de estratégias de controle de propagandas e marketing sobre o cigarro dirigidas a esta faixa etária. E, por fim, observa-se a predominância de 87,0% das pessoas tabagistas com mais de 9 anos na prática. Dos motivos que levaram os tabagistas ao início da prática, observou-se o predomínio dos itens influência dos amigos e vontade própria com 56,5% e 26,2%, respectivamente. Em menores proporções influência dos pais com 8,7% e efeito da propaganda e modismo com 4,3% cada um (Tabela IV). Tabela III - Características do tabagismo entre os funcionários da FPTE quanto ao número de cigarros fumados por dia, idade de início do tabagismo e tempo de fumo. n % Número de cigarros fumados por dia 1 a ,0 4 a 6 2 8,7 7 a 9 1 4,3 10 a ,4 13 a ,3 16 a ,0 > ,3 Idade de início no fumo (anos) < ,7 12 a ,0 16 a ,4 19 a ,2 22 a > ,7 Tempo de fumo (anos) 1 a a 6 1 4,3 7 a 9 2 8,7 > ,0 Tabela IV - Motivos pelos quais os tabagistas iniciaram-se na prática. Motivo n % Influência dos Amigos 13 56,5 Vontade Própria 6 26,2 Influência dos Pais 2 8,7 Efeito da Propaganda 1 4,3 Modismo 1 4,3 Total ,0 Em relação aos fumantes, quando questionados sobre o aconselhamento de profissionais da saúde para a cessação da prática tabágica explicando os malefícios desta, 86,4% declararam que sim. Já 13,6% nunca tiveram recomendações dos profissionais deste seguimento. A elevada prevalência de fumantes interessados em deixar o vício (77,3%) sugere que, neste grupo, ações para a cessação do tabagismo seriam eficazes e, possivelmente, poderiam trazer efeitos amplamente positivos [5,11]. Verificou-se que 54,5% dos tabagistas fumam mesmo estando doente, enquanto a maioria pretende deixar de fumar (77,3%), sendo que, quando questionados sobre sua dependência ao vício, 86,4% subestima a mesma dizendo que é capaz de deixar a prática. Outro ponto que merece destaque é que 68,2% dos tabagistas relatam que o cigarro lhe faz mal, entretanto, continuam fumando (Tabela V). 168

174 Maio / Junho 2013;12(3) Tabela V - Perfil dos indivíduos tabagistas da FPTE. Sim (%) Não (%) Fuma mesmo estando doente 54,5 45,5 Pretende deixar de fumar 77,3 22,7 Acredita que é capaz de deixar o vício 86,4 13,6 Já tentou parar de fumar 22,7 77,3 O cigarro lhe faz mal 68,2 31,8 Com relação aos indivíduos que se declararam ex-fumantes (15), os motivos principais citados para a interrupção deste hábito foram: força de vontade (88,2%), conscientização dos malefícios do tabagismo (5,9%) e problemas de saúde (5,9%). Dos entrevistados classificados como não-fumantes (111), 33,3% da amostra (37) convive com fumantes, sendo esta convivência, em sua maioria, no ambiente de trabalho (51,4%) (Figura 2). Figura 2 - Distribuição dos indivíduos não fumantes de acordo com a convivência com fumantes. 5; 13,5% 13; 35,1% 19; 51,4% Conclusão Domicílio Trabalho Outros Nesta pesquisa observou-se a prevalência total de 15,4% de tabagismo entre os funcionários da FPTE. Embora este índice esteja abaixo quando comparado a outras pesquisas do gênero, sugere-se a elaboração de medidas de conscientização sobre a prática tabágica visando à profilaxia do consumo de cigarros nesta população. Uma das estratégias, frequentemente utilizadas para alcançar este objetivo, tem sido a implantação de programas de promoção da saúde nas empresas. O ambiente de trabalho tem sido apontado como um local favorável para modificar hábitos, já que neste, os funcionários passam a maior parte do dia, proporcionando excelentes oportunidades para ações educativas, o que permite reduzir assim, o número de absenteísmo e gastos com doenças. A maioria das empresas de países desenvolvidos criou legislação específica proibindo ou restringindo o uso de cigarros em locais coletivos. Estas medidas constituem conquistas importantes para os não-fumantes e têm estimulado o abandono ao hábito de fumar, bem como a redução do número de cigarros fumados entre os trabalhadores. Referências 1. Hallal ALC, Gotlieb SLD, Almeida LM, Casado L. Prevalência e fatores associados ao tabagismo em escolares da Região Sul do Brasil. Rev Saúde Pública 2009;43(5): World Health Organization. Summary: surveillance of risk factors for noncommunicable diseases. The WHO STEP wise approach. Geneva: WHO; Moreira LB, Fuchs FD, Moraes RS, Bredemeir M, Cardozo S. Prevalência de tabagismo e fatores associados em área metropolitana da região Sul do Brasil. Rev Saúde Pública 1995;29(1): Achutti A, Menezes AMB. Epidemiologia do tabagismo. In: Guia Nacional de Prevenção e Tratamento do Tabagismo. Rio de Janeiro: Vitrô Comunicação; p Miranda JS, Almeida JB, Marques SFG. Prevalência e fatores associados ao tabagismo em uma unidade universitária. Enfermagem Brasil 2009;8(5): Oliveira EFT, Grácio MCC. Análise a respeito do tamanho de amostras aleatórias simples: uma aplicação na área de Ciência da Informação. Rev Ciência Informação 2005;6(3). 7. World Health Organization. The world health report Reducing risks, promoting healthy life. Geneva: WHO; Ministério da Saúde, Secretaria de Assistência à Saúde. Doenças Cardiovasculares no Brasil. SUS. 1ª ed. Brasília: Coordenação de Doenças Cardiovasculares; p. 9. Griep RH, Chór D, Camacho LAB. Tabagismo entre trabalhadores de empresa bancária. Rev Saúde Pública 1998;32(6): Elders MJ, Perry CL, Eriksen MP, Giovino GA. The Report of the Surgeon General: preventing tobacco use among young people. Am J Public Health 1994;84: Rodrigues ESR, Cheik NC, Mayer AF. Nível de atividade física e tabagismo em universitários. Rev Saúde Pública 2008;2(4):

175 Revisão Meu filho sob uma luz: a assistência de enfermagem em puérperas de neonatos sob fototerapia Ana Paula Lopes*, Bruna Coutinho da Silva*, Célia Cristina Vasconcellos*, Gabrielle Souza de Carvalho*, Pâmella da Costa Reis*, Fernanda Garcia Bezerra Góes**, Diego Pereira Rodrigues*** *Enfermeiras, graduadas no Centro Universitário Plínio Leite (UNIPLI), Niterói/RJ, **Enfermeira do IPPMG/UFRJ, Doutoranda em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, ***Enfermeiro, Mestrando em Ciências do Cuidado da Saúde da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) da Universidade Federal Fluminense (UFF), Rio de Janeiro Resumo Este estudo tem como objetivo descrever a assistência de enfermagem junto às mães de neonato com hiperbilirrubinemia em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A metodologia utilizada foi revisão integrativa de literatura com coleta de dados nas bases eletrônicas Literatura Latino-Americana e do Caribe (Lilacs), Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e Base de Dados de Enfermagem (Bdenf), das quais foram selecionados 9 artigos para análise. Os resultados apontam que as experiências vivenciadas pelas mães de recém-nascidos com hiperbilirrubinemia sob terapêutica de fototerapia são assustadoras, pois o ambiente desconhecido, seu filho sob uma luz intensa e com cuidados especiais de toda a equipe de saúde da UTIN favorece para esse quadro. Isso é agravado pela falta de informação, comunicação e esclarecimento à mãe por parte dos profissionais, especificamente o enfermeiro. Observou-se uma necessidade de uma assistência integral, individual e humanizada, focando não apenas o cuidado, mas também o sofrimento vivenciado pelas mães. É fundamental estabelecer essa comunicação da equipe de saúde com a mãe através de uma análise clara e sucinta, oferecendo um suporte a essa mãe que se encontra com uma gama de sentimentos. Apontamos que essas práticas não vivenciadas devem ser desenvolvidas e devemos repensar os ensinamentos e orientações para que possamos, finalmente, assumir autenticamente os cuidados de enfermagem ao binômio mãe-filho no sentido de proporcionar melhor qualidade da assistência. Palavras-chave: hiperbilirrubinemia, fototerapia e Enfermagem. Abstract My son under lights: nursing care provided to mothers of newborns under phototherapy The aim of this study was to describe the nursing care provided to mothers of newborns affected by hyperbilirubinemia in Neonatal Intensive Care Unit (NICU). The methodology chosen was the integrative literature review, and data was collected from Latin America Literature and Caribbean (Lilacs), Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Database Recebido em 25 de setembro de 2012; aceito em 3 de abril de Endereço para correspondência: Diego Pereira Rodrigues, Rua Desembargador Leopoldo Muylaert 307, Niterói RJ, diego.pereira.rodrigues@gmail.com 170

176 Maio / Junho 2013;12(3) Search Nursing (Bdenf), however only 9 studies were selected. The results point out that mothers whose babies develop hyperbilirubinemia and need to stay under phototherapy experience terrifying moments. The unknown environment and their child under intensive lights with special health care needs from NICU staff corroborate to this feeling. The situation becomes worse since the health professionals, especially nurses, do not give information and clarification about this therapy. Moreover, it was observed that an integral, individual and humanized care is needed, because the focus should not be only on nursing care, but also in the suffering that mothers are going through. It is essential that the communication between health professionals and mothers be done through a clear and brief analysis, since these mothers are going through a difficult moment. Besides, we must rethink our teaching and orientation so as to assume authentically the nursing care to the binomial mother-child in order to provide a better nursing care. Key-words: hyperbilirubinemia, phototherapy, nursing. Resumen Mi hijo bajo una luz: atención de enfermería a madres de recién nacidos bajo fototerapia Este estudio tiene como objetivo describir la atención de enfermería prestada a las madres de recién nacido con hiperbilirrubinemia en Unidad de Cuidados Intensivos Neonatal (UCIN). La metodología utilizada fue la revisión integradora de literatura con coleta de datos en las bases electrónicas Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (Lilacs), Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Base de datos de Enfermería (Bdenf). Nueve estudios fueron seleccionados para el análisis. Los resultados apuntan que las experiencias vividas por las madres de recién nacidos con hiperbilirrubinemia bajo fototerapia son aterradoras. El ambiente desconocido, el hijo bajo una luz intensa y con cuidados especiales de todo el equipo de salud de la UCIN promueve un sentimiento aterrorizador. La falta de información, comunicación y esclarecimientos a la madre por parte de los profesionales, especialmente el enfermero, contribuyen a agravar la situación. Se observó una necesidad de una atención integral, individual y humanizada, centrada no sólo en el cuidado, sino también en el sufrimiento vivenciado por las madres. Es fundamental establecer la comunicación entre el equipo de salud y la madre en forma clara y sucinta, ofreciendo apoyo a esa madre que se encuentra en momentos difíciles. Apuntamos que esas prácticas no vivenciadas deben ser desarrolladas y debemos repensar las enseñanzas y orientaciones para que podamos, finalmente, asumir auténticamente los cuidados de enfermería al binomio madre-hijo en el sentido de proporcionar mejor atención de calidad. Palabras-clave: hiperbilirrubinemia, fototerapia, Enfermería. Introdução A hiperbilirrubinemia é uma condição em que a bilirrubina está com seus níveis elevados na corrente sanguínea do recém-nascido (RN), sendo caracterizada pelo aparecimento de pigmentação amarelada da pele, mucosa, esclerótica, que denominamos icterícia. Sua causa está relacionada ao acúmulo de bilirrubina não conjugada na corrente sanguínea, podendo ser fisiológica ou patológica [1]. Diversos fatores podem desencadear esse desequilíbrio no recém-nascido como a prematuridade, aleitamento materno tardio, anormalidades hepáticas, biliares ou metabólicas, produção excessiva de bilirrubina, incapacidade do fígado de secretar bilirrubina conjugada, diabetes materna, uso materno de diazepam, salicilatos, sulfonamidas ou ocitocina, dentre outros [2]. Dentro desse contexto, a icterícia fisiológica é definida como uma hiperbilirrubinemia não conjugada que se manifesta em recém-natos a termo no 3º dia ou logo após e desaparece antes do 10º dia, sendo provocada pelo aumento da carga de bilirrubina e de uma deficiente conjugação e excreção hepática da bilirrubina. Já a icterícia patológica ocorre nas primeiras 24 horas após o nascimento, a qual é determinada pelo aumento dos níveis de bilirrubina sérica no sangue, que se encontram acima de 15mg/dl (RN a termo) ou 10 mg/dl (RN prematuros) [2,3]. Devemos destacar que a presença de bilirrubina sérica de aproximadamente 20 mg/dl por um longo período na corrente sanguínea do RN pode levar a encefalopatia bilirrubínica ou doença de kernicterus. Nos casos leves de toxicidade da bilirrubina os neonatos que conseguem sobreviver podem apresentar dificuldade de aprendizado, entretanto, nos casos graves pode haver retardo mental, perda de audição e disfunções motoras [4]. Nesse sentido, é necessário agir em prol da saúde do RN, implementando a terapêutica neces- 171

177 Maio / Junho 2013;12(3) sária para a diminuição dos níveis de bilirrubina no sangue e combatendo a hiperbilirrubinemia. Desse modo, pode-se realizar a fototerapia, que envolve a aplicação de luz fluorescente, favorecendo a excreção da bilirrubina através da fotoisomerização, a qual altera a estrutura da bilirrubina para uma forma solúvel, que é mais facilmente excretada. Outro modo de terapia contra a hiperbilirrubinemia é a exsanguineotransfusão, na qual o sangue do RN é retirado em pequenas quantidades (em geral 5 a 10 ml) e substituído com sangue compatível, cuja finalidade é de remover os eritrócitos sensibilizados, diminuir o nível sérico de bilirrubina, corrigir anemia e evitar insuficiência cardíaca, sendo utilizado quando a fototerapia não obteve o resultado esperado para a terapêutica [2]. Percebe-se que para a realização da fototerapia é necessário programar alguns cuidados. Então, é preciso que a enfermagem exerça e avalie os seus cuidados agindo nesta perspectiva e promovendo a saúde do RN, como posicionamento da fonte luminosa, proteção dos olhos e gônadas, mudança de decúbito, avaliação do estado de hidratação cutânea, balanço hídrico, temperatura e eliminações fisiológicas [3]. A eficácia do cuidado de enfermagem para os RN com hiperbilirrubinemia é determinada pela reavaliação contínua dos cuidados com base na observação dos resultados esperados como a coloração da pele, rever os achados laboratoriais, observar sinais de distúrbios neurológicos, verificar a coloração das vendas oculares, observar a pele quanto aos sinais de desidratação e temperatura durante o tratamento da fototerapia. Sabemos que as principais metas de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) são a redução da morbidade e da mortalidade perinatais e a busca de sobrevivência do recém-nascido nas melhores condições possíveis. Em virtude das características destes locais, os profissionais de saúde que ali desenvolvem suas atividades se encontram quase sempre muito envolvidos em procedimentos de alta complexidade. Diante disso, podem ser comprometidas as relações interpessoais, especificamente no caso de mães de neonatos com hiperbilirrubinemia sob fototerapia. Nesta perspectiva, ao adentrarem a primeira vez na UTIN, a mãe pode ser tomada por uma gama de sentimentos diante de um ambiente estranho e assustador. Neste, quase sempre, a comunicação é falha ou nem se quer existe, e as informações acerca do estado de saúde do seu filho, bem como de todo o aparato tecnológico que o cerca, na grande maioria, não acontecem ou deixam a desejar [5]. Na nossa concepção, este comprometimento influi decisivamente no relacionamento profissional- -família. Portanto, o grande desafio enfrentado nos dias de hoje pela equipe de saúde das UTIN é a prática da humanização da assistência, pois a tecnologia cada vez mais se supera. Dessa forma, buscando analisar a perspectiva da humanização da assistência, o presente estudo teve como objetivo descrever a assistência de enfermagem junto às mães de neonato com hiperbilirrubinemia em UTI neonatal a partir da literatura científica. Além de promover o maior contato mãe-filho, é de extrema importância promover contato entre a equipe de enfermagem e a família do neonato, pois é nesse momento que a família pode sanar todas as dúvidas em relação à patologia de seus filhos. E cabe aos enfermeiros ser humanizados e ter a consciência de quanto é importante essa assistência. A mudança desse paradigma da saúde é necessária, então pretendemos com o estudo contribuir junto aos profissionais da área da saúde e futuros enfermeiros levando à reflexão da equipe de enfermagem quanto à importância da promoção do maior contato das mães com os neonatos durante o tratamento não só da hiperbilirrubinemia, mas de outras patologias em UTIN. Material e métodos Trata-se de uma Revisão integrativa realizada nas seguintes bases de dados: Literatura Latino- -Americana e do Caribe (Lilacs), Scientific Eletronic Library Online (Scielo) e Base de Dados de Enfermagem (Bdenf), realizada no período de outubro a novembro de A Revisão Integrativa é um método de revisão mais amplo, pois permite incluir literatura teórica e empírica, bem como estudos com diferentes abordagens metodológicas [6]. E, a abordagem metodológica utilizada para análise dos dados foi qualitativa, que são informações obtidas que não podem ser quantificáveis e os dados são analisados intuitivamente [7]. Os estudos incluídos na revisão são analisados de forma sistemática em relação aos seus objetivos, materiais e métodos, permitindo que o leitor analise o conhecimento pré-existente sobre o tema investigado [6]. 172

178 Maio / Junho 2013;12(3) A Revisão Integrativa se divide em seis etapas que foram utilizadas nesta pesquisa, a primeira é a identificação do tema e elaboração da Questão Norteadora, que foi a seguinte: Qual a assistência de enfermagem junto às mães dos neonatos com hiperbilirrubinemia em UTI neonatal? A segunda etapa foi o estabelecimento de critérios de inclusão, que foram estes: estudos publicados nos últimos 10 anos; textos em Português, artigos científicos que conceituem Hiperbilirrubinemia, Fototerapia, Enfermagem. E critérios de exclusão: trabalhos científicos que não atendessem a questão do estudo. Ainda nesta etapa foi realizada a busca de amostragem na literatura e estabelecimento dos descritores a serem utilizados, que nesta pesquisa foram: Hiperbilirrubinemia and Fototerapia and Enfermagem. Na Tabela I descrevemos o caminho percorrido. A terceira etapa consistiu na seleção dos trabalhos científicos de acordo com seus conceitos embasadores, objetivos e metodologia, a definição das informações a serem extraídas dos artigos científicos selecionados e categorização dos mesmos. Como quarta etapa, realizamos a avaliação dos estudos incluídos na revisão integrativa e análise crítica, correlacionando-os. Na quinta etapa foi realizada a interpretação e discussão dos resultados, destacando os trabalhos que trouxeram de forma mais clara e concisa as diferenças conceituais entre as vertentes que foram pesquisadas. Resultados Segundo a tabela, classificamos os artigos apresentados de acordo com os conceitos trazidos por cada autor, dos quais surgiram dois eixos temáticos para discussão: Sentimentos maternos: meu filho sob uma luz; e a Comunicação entre a enfermagem e as mães: componente essencial da assistência. Discussão Sentimentos maternos: meu filho sob uma luz A realidade de presenciar um filho em fototerapia, o que para a equipe de enfermagem e demais envolvidos indiretamente pode parecer algo simples que ocorre ocasionalmente numa rotina neonatal, para uma mãe pode ser assustador observar seu filho num ambiente desconhecido, sob uma luz com olhos vendados e isso na maioria das vezes é devido à dificuldade de esclarecimento sobre os detalhes do tratamento que consequentemente causam sentimentos de tristeza, inquietação, entre outros. Nesta perspectiva, as experiências relatadas pelas mães que experimentam pela primeira vez seu filho sob fototerapia é surpreendente, pois ao adentrar a primeira vez na UTIN, um ambiente estranho e assustador, a mãe pode ser tomada por vários sentimentos. Essas primeiras experiências vivenciadas pelas mães evidenciam um preocupação com o seus filhos, apesar de não ser primíparas, experiência pelo qual passaram pela primeira vez, tornando-se nova e inesperada [5]. A maioria das vezes, as mães por se sentirem tímidas e/ou temerosas, não sabem a quem se dirigir para dirimir suas dúvidas e anseios e isto faz com que seu imaginário atribua ao tratamento improváveis riscos futuros. Para a mãe que não espera ver um filho internado em uma UTIN e ainda desconhece os riscos e os benefícios do tratamento, presenciar esse fato pela primeira vez é preocupante. Tabela I - Fluxograma do caminho percorrido. Busca por palavras na biblioteca Virtual de Saúde utilizando o descritor "hiperbilirrubinemia". Lilacs: 276 BDenf: 05 Scielo: 53 Acrescentamos os escritores: Fototerapia e Enfermagem na busca. Lilacs: 57 Lilacs: 03 Bdenf: 05 BDenf: 01 Scielo: 2 Scielo: 12 9 artigos foram selecionados Leitura dos Títulos e resumos. Aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Refinamos a busca utilizando o formulário avançado, considerando os últimos 10 anos e idioma português. 173

179 Maio / Junho 2013;12(3) Tabela II - Artigos selecionados e sistematizados. Título Periódico Base de Principais Resultados Dados Tecnologia educativa para a prática do cuidado de enfermagem com Texto & Contexto Enfermagem SciELO Para os profissionais da equipe de saúde, iniciar a fototerapia em um neonato na UIN é um procedimento terapêutico bastante comum, pois faz parte das rotinas às quais já estão afeiçoados. Para a mãe, entretanto, que não conhece o tratamento ou nem sequer sabe o porquê da sua utilização e vivencia pela primeira vez um filho sob fototerapia, qual será este significado? Nesse contexto, é imprescindível que a equipe de saúde esteja disponível para acolher os pais, incentivar a presença de familiares, além de lhes prestar os devidos esclarecimentos sobre o estado de saúde do neonato. mães de neonatos sob fototerapia. Enfermagem e o cuidado humanístico: proposta de intervenção para a mãe do Ciencia y Enfermería XII SciELO Enfatizamos aqui a importância da comunicação entre a equipe de saúde e os familiares do RN com vistas ao esclarecimento de dúvidas e repasse de informações verdadeiras, atualizadas e em linguagem adequada ao nível de compreensão dos pais. Ademais, deve haver o respeito às suas crenças e valores, para que se sintam apoiados, valorizados e não venham a se afastar da UIN e, consequentemente, do seu filho nesse período crucial e significativo. Desse modo entendemos ser preciso estabelecer um canal de comunicação de forma mais efetiva com a mãe e a família do RN em uso de fototerapia neonato sob fototerapia. Percepções maternas sobre o neonato em uso de fototerapia. Esc Anna Nery Rev Enferm SciELO A equipe de enfermagem atenta, preparada e competente está sempre pronta para atender a mãe e o neonato. Percebemos sentimentos de preocupação, de insegurança emocional e de temor, aliados ao sentimento maternal de amor pelo filho e até de tristeza, por todos os momentos que estão passando junto a eles. Entendemos todo o seu sofrimento, principalmente ao ver o quadro apresentado, isto é, o aparelho de fototerapia, o bebê com a venda escura nos olhos, a luz e, principalmente, a distância do aconchego dos braços da mãe. Dessa forma, evidencia-se a necessidade de maiores esclarecimentos e informações sobre o referido tratamento. O neonato sob fototerapia na unidade de internação neonatal conhecimento das mães. Rev. RENE LILACS A comunicação mãe-filho, iniciada na fase intraútero, intensifica-se nos primeiros meses de vida, a partir dos afetos, atuando como um elo entre o bebê e a mãe. As expressões de afeto são as primeiras formas de linguagem. Evidencia-se, portanto, a importância de estabelecer-se uma relação de empatia e confiança com os familiares, para que se obtenha resultado favorável o mais rápido possível. Afinal, compreende-se melhor aquilo que se compartilha, e assistir o neonato na perspectiva do cuidado à família, que tem potencial de transformação, será um grande passo na evolução da enfermagem neonatal, considerando que orientar não é depositar informações, mas discutir com o outro as inúmeras possibilidades do que pode ser feito. 174

180 Maio / Junho 2013;12(3) Gaúcha Enferm Revista Latino Americana de Enfermagem Rev. Rene. Fortaleza Revista Interdisciplinar NOVA- FAPI Revista de Enfermagem Título Periódico Base de Dados Rev Crenças e senti- LILACS mento vivenciados pelas mães do recém-nascido sob fototerapia O recém-nascido LILACS sob fototerapia: A percepção da Mãe Comunicação: LILACS Instrumento básico da enfermagem para cuidar da mãe do neonato sob fototerapia O conhecimento das mães de LILACS recém-nascidos com icterícia neonatal sobre o tratamento fototerápico. Ações educativas LILACS de assistência de enfermagem em ambiente hospitalar: a atenção a pais e familiares de neonatos em fototerapia. Principais Resultados Todo sentimento, quer seja positivo ou negativo, vem sempre acompanhado de crenças positivas ou negativas. Questões como amor, angústia, ansiedade, próprias da existência humana não podem ser tratadas como fatos, números e percentuais. Por isso, é preciso um novo modo de olhar para essas questões, um olhar compreensivo: ver o homem como sujeito e não como objeto. Supomos que o medo seja decorrente da falta de informação acerca das causas que levaram o RN àquele tratamento e, portanto, ao medo de perder o filho; a tristeza fica, certamente, por conta do estado de solidão do bebê, exposto à luz artificial e ao aparato técnico. Acreditamos que o medo do desconhecido, medo da perda do filho aliado ao sentimento de tristeza pelo estado de isolamento do bebê e, até mesmo, sentimento de culpa, levam a mãe ao desalento e ao choro muitas vezes contido. Quando mãe e bebê ficam juntos, após o nascimento, inicia-se uma série de eventos sensoriais, hormonais, fisiológicos, imunológicos e comportamentais, muitos dos quais contribuem positivamente para a ligação do binômio mãe-filho. Essas reações manifestadas pelos pais, ainda mais exacerbadas nas mães, sempre nos inquietaram, por imaginarmos que, sendo a fototerapia um procedimento não invasivo, não justificava tamanho sofrimento. O ato do cuidar humanístico revela-se não apenas emocionalmente, mas concretamente. A enfermeira, embasada na sua competência técnica, sem perder a ternura, deve munir-se de docilidade e buscar transmitir à mãe as informações que necessita saber para se tranquilizar. Para a mãe que vivencia pela primeira vez um filho sob fototerapia essa visão pode parecer assustadora, conforme sua percepção em relação ao tratamento, seus riscos e benefícios. Dessa forma, é fundamental se estabelecer o processo de comunicação da equipe de saúde com a mãe no intuito de esclarecê-la devidamente a respeito da terapêutica à qual seu filho é submetido. Constatou-se o déficit de conhecimento das mães sobre a terapêutica e seus cuidados. A comunicação apresenta-se como um instrumento indispensável na construção do conhecimento materno, destacando-se a importância do papel da enfermagem responsável pela instalação, manutenção e pelo sucesso do tratamento. A educação em saúde é compreendida hoje como uma importante ferramenta para a transformação do fazer dos profissionais dessa área, bem como, para a transformação das realidades vivenciadas. Ela, quando trabalhada de forma a compartilhar a responsabilidade pelo cuidado, pode transformar as ações mais técnicas desenvolvidas em ambientes mais tradicionais, como o hospital, em ações mais humanizadas, onde o vínculo e o respeito pelo saber do outro se realizam de forma cíclica e horizontalizada. 175

181 Maio / Junho 2013;12(3) No âmbito de uma Unidade de Internação Neonatal têm lhe permitido observar que as mães ao adentrarem a unidade para visitar os filhos recém-nascidos e se depararem com o bebê sob uma intensa luminosidade, olhos ocluídos pelo protetor ocular (ritual fototerápico) externam alguns comportamentos tais como a relutância em tocar no seu filho, enquanto outras não pedem informações sobre o tratamento ou sobre seu estado de saúde, e algumas não conseguem reprimir o pranto e se expressam por lágrimas [5]. O simples fato de não serem convenientemente informadas origina sentimentos de desencanto, conformismo e incompreensão do quadro clínico do bebê. As preocupações durante a hospitalização são muitas, os pais ficam confusos, querem entender a patologia do RN, porém temem pelo pior e sofrem tanto na dúvida quanto na certeza. Os sentimentos de preocupação, de insegurança emocional e de temor, aliados ao sentimento maternal de amor pelo filho e até de tristeza, por todos os momentos que estão passando junto a eles. Nesse sentido as mães ficam muito apreensivas, com dúvidas e chorosas por causa do sofrimento do seu filho [8,9]. O pânico ou desolamento das mães ao verem seus filhos com os olhos vedados durante a fototerapia, o medo do desconhecido, manifesto muitas vezes por lágrimas furtivas, ou mesmo, copiosas, de algumas mães, faz parte do cenário. Esse medo decorrente da falta de informação acerca das causas que levaram o RN aquele tratamento e, portanto, ao medo de perder o filho; a tristeza fica, certamente, por conta do estado de solidão, exposto à luz artificial e ao aparato técnico. Acreditam que o medo do desconhecido, medo da perda do filho aliado ao sentimento de tristeza pelo estado de isolamento e, até mesmo, sentimento de culpa, levam a mãe ao desalento e ao choro muitas vezes contido [10]. Ressalta-se que as mães saíam da UTIN sem sequer tocar o bebê e outras não pediam informações sobre o tratamento, ou o estado de saúde do filho, enquanto algumas permitiam que lágrimas furtivas deslizassem por suas faces ou não conseguiam conter o choro. As mães podem apresentar alterações comportamentais em relação à fototerapia, ver o filho em fototerapia pode ser extremamente perturbador para a mãe, particularmente pela oclusão ocular interferindo no processo de ligação da díade mãe- -filho, quebrando o vínculo e gerando ansiedade. As expressões revelaram o temor e a preocupação relacionados à possibilidade de seus filhos estarem cegos ou virem a apresentar algum problema dessa natureza no que se refere à visão [11]. Consonante, realçamos que o déficit de conhecimento poderia ser sanado com uma assistência individual e humanizada, focando não apenas o cuidado, mas também o sofrimento vivenciado pelas mães. Portanto, a carência de informações, de atenção, de acolhimento, da presença autêntica e da comunicação efetiva por parte dos profissionais da equipe de saúde é favorável e consequente isolamento, insegurança e sentimentos por parte da mãe [12]. Os sentimentos manifestos e as inquietações são oriundos do desconhecimento do tratamento, seus riscos e benefícios, e da patologia em si, a qual, por sua vez, dimensiona-se em consequência da falha e/ou ausência na comunicação dos profissionais da equipe de saúde com as mães dos RN sob fototerapia. Contudo há de se destacar a suprema importância de estarmos como profissionais de enfermagem, reconhecendo o quanto as mães que têm seu filho sobre este tratamento têm naturalmente suas dúvidas e sentimentos que devem ser considerados. É perceptível o sofrimento de muitos pais, causado pelo afastamento simbólico e temporário do filho, em especial pela ausência do contato visual, ou seja, olho a olho, pois estes estão com a proteção ocular. Assim sendo, é importante a presença do profissional enfermeiro para acompanhar os pais, informando-lhes e tirando-lhes dúvidas de forma clara, e respeitosa aos seus conhecimentos e vivências já acumuladas [13]. Destacamos que os pais merecem total respeito, pois a maneira que os tratamos influencia diretamente na eficácia do tratamento, uma vez que o RN de certa forma percebe quando o ambiente não lhe é agradável, isto se dá devido ao laço que o une aos seus pais. Lembrando que uma assistência quando feita integralmente não deve ser focalizada somente na patologia ou no tratamento, mas em todos os outros fatores que envolvem a vida do paciente e um dos principais destes é a família que neste âmbito deve receber de nossa parte um cuidado especial. Comunicação entre a enfermagem e as mães: componente essencial da assistência Entendemos que a comunicação com as mães de neonatos sob fototerapia se manifesta como um 176

182 Maio / Junho 2013;12(3) fator imprescindível no tratamento, pelo fato de que quando esta comunicação é eficaz, a mãe se sente segura e valorizada e consequentemente isto reflete na recuperação de seu filho. É fundamental se estabelecer a comunicação da equipe de saúde com a mãe, com a finalidade de esclarecê-la devidamente a respeito da terapêutica a qual seu filho é submetido. A presença autêntica, a escuta atentiva, o estar com a mãe nos encontros individuais e nas unidades de internação foram pontos decisivos na relação interpessoal da tríade enfermeira-mãe-recém-nascido [5]. Diante do contexto vivido, o diálogo da enfermeira com as mães dos neonatos sob fototerapia, como o suporte de tecnologia educativa para estabelecer a comunicação, são instrumentos disponíveis à enfermagem para implementar a humanização do cuidado. Desse modo, implementando o direito dos pais de serem informados sobre o diagnóstico e tratamento dos seus filhos e a equipe de saúde deve promover maior aproximação com essas mães, a fim de amenizar a primeira impressão e também incentivar o vínculo mãe-filho. Devemos ressaltar que a comunicação deve ser praticada em linguagem clara e acessível ao nível cultural e de conhecimento da mãe para que ela possa compreender com facilidade. Com base nos problemas identificados, buscaram por meio do diálogo, orientar a mãe e responder às suas indagações e dúvidas existentes. Perceberam que todas as mães necessitam de um apoio indispensável para a compreensão desse momento em que vivenciam o RN em uso da fototerapia [14]. Julgaram necessário informar os pais convenientemente tanto a respeito do quadro clínico do RN como de todos os procedimentos realizados e equipamentos empregados para a estabilização e manutenção da saúde e da vida do seu filho, pois o uso destes pode comprometer a interação da criança com seus pais. Ademais, deve haver o respeito às suas crenças e valores, para que se sintam apoiados, valorizados e não venham a se afastar da UTIN e, consequentemente, do seu filho nesse período crucial e significativo. Essas práticas concernem aos profissionais de enfermagem vislumbrar uma nova caminhada, lembrando-se da importância das orientações durante o pré-natal sobre o tema em foco [8]. Portanto, surge a necessidade de desenvolver novas formas de assistência, buscando a compreensão de cada mãe, além de repensar os ensinamentos e orientações para que possamos, finalmente, assumir autenticamente os cuidados de enfermagem ao binômio mãe-filho no sentido de proporcionar melhor qualidade da assistência. A orientação destas mães, que estão sendo acompanhadas diariamente pela equipe de saúde, pode influenciar na eficácia do tratamento do mesmo. A desinformação a respeito da modalidade terapêutica pode contribuir para alimentar o medo e a insegurança dessas mães. O ato do cuidar humanístico revela-se não apenas emocionalmente, mas concretamente. A enfermeira, embasada na sua competência técnica, sem perder a ternura, deve munir-se de docilidade e buscar transmitir à mãe as informações que necessita saber para se tranquilizar. Vale destacar que as mães vivem as dificuldades em aprender o porquê do tratamento, os jargões técnicos, muitas vezes utilizados pela equipe de saúde e a necessidade de tocar o bebê, que não é incentivada e até cerceada pela equipe, gerando a incompreensão do tratamento e da patologia, o que torna evidente a falha de comunicação entre a equipe de saúde e as mães [15]. Diante da falta de conhecimento da mãe a respeito da terapêutica e dos cuidados relacionados a ela, compete ao enfermeiro, como profissional que detém conhecimento científico, orientá-la sobre os cuidados que devem ser prestados ao RN, esclarecendo suas dúvidas e mostrando-se disponível para ajudá-la diante das dificuldades. É necessário estabelecer um vínculo afetivo de confiança e cumplicidade entre o profissional e o cliente [16]. O profissional enfermeiro deve utilizar uma linguagem de fácil entendimento, para que os familiares não se sintam constrangidos, favorecendo a compreensão do assunto, estimulando assim o surgimento de possíveis questionamentos e a exteriorização de dúvidas, medos e ansiedades [13]. A interação enfermeiro-cliente é imprescindível. Assim, a comunicação apresenta-se como um instrumento relevante na atividade de enfermagem, além de propiciar o estabelecimento de um relacionamento efetivo. Assim, diante do contexto vivido, propomos uma assistência de enfermagem baseada em uma comunicação efetiva com o intuito de implementar a humanização do cuidado, além de proporcionar a valorização do enfermeiro diante da equipe de saúde e a clientela assistida [16]. Diante da ocorrência de possíveis sequelas ou intercorrências que podem acontecer durante o tratamento é indispensável que o profissional oriente, apoie e essencialmente informe de maneira clara e 177

183 Maio / Junho 2013;12(3) objetiva, para que tudo se desenvolva da melhor maneira possível. A equipe de enfermagem são os profissionais que recebem e preparam o recém- -nascido para o tratamento, bem como, preparam os equipamentos que serão utilizados para a fototerapia, como os focos de luz, as incubadoras, etc. Dentre esses cuidados, destacam-se a proteção ocular dos recém-nascidos, a distância e o posicionamento da fonte luminosa do neonato, os cuidados com higiene e quanto à prevenção de queimaduras etc. [13]. Enfim, entendemos a importância do proceder da equipe de enfermagem com as mães de RN sob fototerapia, ou seja, a comunicação é um fator fundamental para que elas compreendam todo o procedimento o qual seu filho está sendo submetido naquele momento. Conclusão A realidade dos ambientes nas UTIN está muito distante de ser o adequado para as necessidades das mães de neonatos sob fototerapia, por isso utilizamos este estudo focalizando na atuação humanística do enfermeiro neste processo. Relatamos sobre os sentimentos maternos que devem ser de extrema importância, como profissionais de enfermagem, sempre tendo um olhar holístico e lembrando que a família é um dos principais fatores para o sucesso no tratamento tanto para o bebê como para a mãe. Discorremos também sobre a forma como o enfermeiro interage com a mãe, ou seja, a comunicação utilizada. O enfermeiro deve prestar uma assistência integral no sentido de informar a mãe sobre o tratamento a que seu filho está sendo submetido e tirar todas as dúvidas existentes. Portanto, a assistência da enfermagem prestada às mães de neonato sob fototerapia, envolvendo o diálogo, a sensibilidade no cuidar, a presença autêntica, junto ao binômio mãe-filho é fundamental. Contudo, torna-se imprescindível à família uma atuação de forma direta e integral. É preciso direcionar mais pesquisas para a atenção a essas mães. Pedimos que a equipe de enfermagem esteja atenta para este cuidado que é tão fundamental não só neste tratamento, mas em todos. Nós enfermeiros precisamos nos posicionar e nos preparar cada vez mais. Referências 1. Lowdermilk DL, Perry SE, Bobak IM. O cuidado em enfermagem maternal. 5a ed. Porto Alegre: Artmed; Wong DL. Enfermagem Pediátrica: elementos essenciais à intervenção efetiva. 5a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; Schmitz EMR. A Enfermagem em Pediatria e Puericultura. São Paulo: Atheneu; Harrison TR. Medicina interna. 18a ed. Rio de Janeiro: McGrawHill; Campos ACS, Cardoso MVLML. Tecnologia educativa para a prática do cuidado de enfermagem com mães de neonatos sob fototerapia. Texto Contexto Enferm 2008;17(1): Pompeo DA, Rossi LA, Galvão CM. Revisão integrativa: etapa inicial do processo de validação do diagnóstico de enfermagem. Acta Paul Enferm 2009;22(4): Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4a ed. São Paulo: Atlas; Rodrigues FLS, Silveira IP, Campos ACS. Percepções maternas sobre o neonato em uso de fototerapia. Esc Anna Nery Rev Enferm 2007;11(1): Pinheiro GR, Ximenes LB, Dodt RCM, Oriá MOB, Barbosa RCM. O neonato sob fototerapia na unidade de internação neonatal - conhecimento das mães. Rev RENE 2007;8(3): Campos ACS, Leitão GCM. Crenças e sentimentos vivenciados pelas mães de recém-nascidos sob fototerapia. Rev Gaúcha Enferm 2005;26(1): Campos ACS, Cardoso MVLML. O recém-nascido sob fototerapia: A percepção da Mãe. Rev Latinoam Enferm 2004;12(4): Campos ACS. Comunicação com mães de neonatos sob fototerapia: Pressupostos humanísticos. Rev RENE 2007;8(3): Rosa J, Faccin C, Delegrave D, Argenta C, Fransciscatto LHG. Ações educativas de assistência de enfermagem em ambiente hospitalar: a atenção a pais e familiares de neonatos em fototerapia. Rev Enferm 2012;8(8): Campos ACS, Cardoso MVLML. Enfermagem e o cuidado humanístico: proposta de intervenção para a mãe do neonato sob fototerapia. Cienc Enferm 2006;12(1): Campos ACS, Cardoso MVLM. Pagliuca LMF, Rossi LA. Comunicação: Instrumento básico da enfermagem para cuidar da mãe do neonato sob fototerapia. Rev RENE 2008;9(4): Castro PS, Silva SMS, Linhares TRC, Sousa AM. O conhecimento das mães de recém-nascidos com icterícia neonatal sobre o tratamento fototerápico. Revista Interdisciplinar NOVAFAPI 2011;5(1):

184 Revisão Convivência da família com o indivíduo com esquizofrenia Raquel Juliana de Oliveira Soares, M.Sc.*, Fátima Cristina Alves Araújo, M.Sc.*, Flávia Mourão da Silva**, Giselle de Sá Cavalcanti Werneck**, Mariana de Assis Galdino** *Enfermeira, Docente da Universidade Estácio de Sá/RJ, **Acadêmica de Enfermagem, Universidade Estácio de Sá/RJ Resumo Objetivo: Analisar a produção científica brasileira sobre a convivência da família com o portador de esquizofrenia. Método: Trata-se de uma revisão de bibliográfica realizada nas bases de dados Biblioteca Virtual de Saúde (BVS- BIREME) e biblioteca eletrônica Scientific Eletronic Library Online (Scielo). Resultados: Após análise dos dados, foi evidenciada a preocupação dos familiares com relação aos cuidados prestados aos entes esquizofrênicos e com as suas próprias necessidades, pois convivem com o portador de esquizofrenia diariamente. Conclusão: Percebe-se a importância da inserção do enfermeiro no cuidado a família do portador de esquizofrenia, proporcionando melhor qualidade de vida e promoção à saúde no ambiente familiar. Palavras-chave: esquizofrenia, relações familiares, cuidados de enfermagem. Abstract Family living together with a person with schizophrenia Objective: To analyze the Brazilian scientific production on family living together with patient with schizophrenia. Method: This is a literature review which was conducted in Virtual Health Library (VHL-BIREME) and electronic library Scientific Electronic Library Online (SciELO) data bases. Results: After analyzing data, we noticed that families were very concerned about care provided to family member with schizophrenia and also about their own needs as they live together with this patient daily. Conclusion: We observed the importance to include nursing practice to care for families who have a person with schizophrenia, providing better quality of life and promoting health in the family. Key-words: schizophrenia, family relations, nursing care. Resumen La convivencia familiar con el enfermo esquizofrénico Objetivo: Analizar la producción científica brasileña sobre la convivencia familiar con el paciente con esquizofrenia. Método: Se trata de una revisión de la literatura que se realizó en las bases de datos de la Biblioteca Virtual en Salud (BVS-BIREME) y la biblioteca electrónica Scientific Electronic Library Online (SciELO). Resultados: Después de analizar Artigo recebido em 1 de outubro de 2012; aceito em 14 de junho de Endereço para correspondência: Raquel Juliana de Oliveira Soares, Rua Clara de Araújo, 920, Nova Iguaçu RJ, raquel.juliana@yahoo.com.br 179

185 Maio / Junho 2013;12(3) los datos, se evidenció la preocupación de la familia con respecto a la atención prestada al paciente con esquizofrenia y con sus propias necesidades, una vez que conviven con la enfermedad a diario. Conclusión: Se percibe la importancia de la inclusión del enfermero en la atención a la familia con enfermo esquizofrénico, proporcionando mejor calidad de vida y promoción de la salud en la familia. Palabras-clave: esquizofrenia, relaciones familiares, cuidados de enfermería. Introdução A esquizofrenia é um problema de saúde pública que exige investimento do sistema de saúde para a assistência ao esquizofrênico e à sua família. A pessoa com transtorno mental encontra-se em uma condição vulnerável do ponto de vista da susceptibilidade das respostas ao contexto em que está inserida [1:264]. A esquizofrenia é um transtorno mental grave que afeta praticamente todos os processos mentais e que se caracteriza em geral pela presença de ambivalência emocional, alucinações, alterações da forma e do conteúdo do pensamento (sobretudo delírios) e alterações do contato com a realidade [2]. As transformações vividas na assistência psiquiátrica nas últimas duas décadas criaram novas demandas para os serviços de saúde, bem como para os familiares dos portadores de esquizofrenia. Neste contexto as famílias se encontram afetadas e sobrecarregadas emocional e financeiramente, uma vez que tomaram funções que foram realizadas no passado pelas instituições psiquiátricas [3], desta forma, estas famílias tornaram-se também alvo de cuidados dos profissionais da área da saúde e das ciências humanas. Tais famílias encontram-se em situação de risco, pois a esquizofrenia, dadas as suas características e quando não devidamente controlada, sobrecarrega a família, já que ao manifestar suas diferentes alterações transforma seu contexto e cotidiano [4,5]. A família precisa ser compreendida como uma unidade de cuidado, e compete aos profissionais de saúde apoiá-la e fortalecê-la quando esta se encontrar fragilizada. Assim, a abordagem em saúde mental não se restringe apenas à medicação e eventuais internações, mas também a ações e procedimentos que visem a uma reintegração familiar e social [6]. Os profissionais necessitam criar estratégias para garantir um cuidado humanizado que ultrapasse o acolher, com garantias e que possa resgatar a cidadania não só dos esquizofrênicos, mas também de suas famílias. Desta forma, os enfermeiros desempenham um importante papel no cuidado a estas famílias, uma vez que a prática de enfermagem necessita imprimir uma nova lógica à organização do trabalho, configurando um agir pautado na integralidade, o que deve ocorrer a partir da formação profissional, comprometida com a aquisição de habilidade e competências voltadas para esse campo [6]. Além da complexidade que envolve o conhecimento das necessidades específicas que possam apresentar as famílias de portadores de esquizofrenia e a importância das ações de cuidado de enfermagem voltadas a elas, a insuficiência de publicações sobre a temática justifica a realização deste estudo. Diante da importância de instrumentalizar os enfermeiros para uma assistência sistematizada e humanizada voltada para a família do portador de esquizofrenia, traçou- -se como objetivo identificar a produção científica da enfermagem brasileira acerca da convivência das famílias com o indivíduo com esquizofrenia. Material e métodos Estudo de revisão bibliográfica desenvolvido a partir da identificação do tema e formulação da questão norteadora; determinação dos critérios de inclusão e exclusão de artigos (seleção da amostra); definição das informações a serem extraídas dos artigos; avaliação dos resultados incluídos na revisão; interpretação dos resultados. Para guiar a pesquisa, formulou-se a seguinte questão: de que forma se estabelece o convívio da família com um membro portador de esquizofrenia? Os critérios de inclusão foram: artigos publicados em periódicos de enfermagem, na íntegra em português, no período compreendido entre junho de 2002 e junho de 2012, sendo pelo menos um dos autores enfermeiro. Como critérios de exclusão foram: artigos que não apresentavam o profissional 180

186 Maio / Junho 2013;12(3) enfermeiro como autor, artigos que apresentavam somente a publicação do resumo, artigos estrangeiros e artigos publicados em periódicos gerais. Para a coleta de dados, foi elaborado um instrumento que contemplou: identificação do artigo, autores, metodologia, principais achados, periódico e o ano da publicação. O levantamento dos dados aconteceu no período de julho a agosto de Para a seleção dos artigos foi utilizada a as bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS-BIREME). Os descritores utilizados na busca dos dados foram esquizofrenia, relações familiares, família. A referida busca foi realizada pelo acesso on-line, utilizando os critérios de inclusão, sendo constituída de 7 (sete) artigos encontrados na base de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e biblioteca eletrônica Scielo (Scientific Eletronic Librasy Online). Os resumos foram avaliados e as produções que atenderam os critérios previamente estabelecidos foram selecionadas e lidas na íntegra. Após a leitura das pesquisas selecionadas na íntegra, prosseguiu-se com a análise e organização dos resultados, na perspectiva da análise temática [7]. Resultados Foram encontrados 7 artigos científicos. A apresentação dos resultados está dividida em dois segmentos: o primeiro com uma tabela contemplando as informações: autor, ano da publicação, periódico publicado e a metodologia abordada nos estudos, e o segundo com a síntese dos artigos pesquisados, destacando os autores, título e principais achados dos estudos. Os artigos que compõem a amostra deste estudo foram publicados entre os anos de 2005 a Quanto à metodologia, a pesquisa qualitativa teve maior destaque entre os estudos. Com relação aos periódicos ressalta-se que dos 07 artigos, 03 foram publicados na Revista Brasileira de Enfermagem. Na síntese dos artigos pesquisados, encontramos: 1) Teixeira MB. Qualidade de vida de familiares cuidadores do doente esquizofrênico. Principais achados: Os familiares definiram qualidade de vida como: ter saúde, poder trabalhar e sustentar a família; ter saúde; ter bons hospitais e morar em um bairro melhor; ter saúde e continuar tratando deles; ter saúde e casa própria; ter dinheiro para tratar melhor deles. Entre os fatores que interferiram em suas vidas o deixar de ir a igreja; não sair com amigos; deixar de trabalhar e não ter mais tempo para si mesmo foram os que sobressaíram. 2) Durão AMS, Souza MCBM, Miasso AI. Grupo de acompanhamento de portadores de esquizofrenia em uso de clozapina e de seus familiares: percepção dos participantes. Principais achados: Obteve-se que o grupo constituiu espaço oportuno para conversar e ouvir sobre a doença, trocar experiências; proporcionou maior segurança e autoestima para seus integrantes e melhora nos relacionamentos dos pacientes e constituiu ajuda terapêutica para os familiares. Tais resultados apontam a necessidade de um novo olhar para o portador de transtorno mental, no sentido de buscar atitudes terapêuticas mais adequadas que atuem na produção de vida. Tabela I - Distribuição dos artigos segundo autor, ano da publicação, periódico e metodologia abordada nos estudos. Autor Ano de publicação Periódico Metodologia Teixeira MB [8] 2005 Revista Brasileira de Enfermagem/DF Qualitativa, Descritivo, Exploratório, Transversal. Durão AMS et al. [9] 2005 Revista Brasileira de Enfermagem/DF Pesquisa de Avaliação, Descritivo, Exploratório. Durão AMS et al. [10] 2006 Revista Latino-Americana de Enfermagem/SP Qualitativa. Zanetti ACG et al. [11] 2007 Revista Gaúcha de Enfermagem/RS Estudo de caso etnográfico. Sales CA et al. [12] 2010 Revista Eletrônica de Enfermagem/ Qualitativa, Abordagem fenomenológica existencial de Martin Heidegger GO Sales CA et al. [13] 2011 Revista Brasileira de Enfermagem/DF Qualitativa, Abordagem fenomenológica. Oliveira RM et al. [14] 2012 Revista da Escola de Enfermagem da Pesquisa de campo na vertente história USP/SP oral temática 181

187 Maio / Junho 2013;12(3) 3) Durão MAS, Souza MCBM. Cotidiano de portadores de esquizofrenia, após uso de um antipsicótico atípico e acompanhamento em grupo: visão do familiar. Principais achados: Obteve-se melhora do paciente quanto aos sintomas da doença evidenciada pela diminuição do isolamento social, retomada de atividades domésticas/trabalho e estudo e participação em atividades de convívio social. Tais resultados apontam a necessidade de um novo olhar para o portador de transtorno mental e seus familiares, no sentido de buscar atitudes terapêuticas mais adequadas que atuem na produção de vida visando novo sentido para a existência, nas diferentes formas de convivência e de sociabilidade. 4) Zanetti ACG, Galera SAF. O impacto da esquizofrenia para a família. Principais achados: O impacto da esquizofrenia para a família foi revelado pelo sofrimento e pela sobrecarga dos pais, de modo particular da mãe, e pelo isolamento do grupo. 5) Sales CA, Schülhi PAP, Santos EM, Waidman MAP, Narcon SS. Vivências dos familiares ao cuidar de um ente esquizofrênico: um enfoque fenomenológico. Principais achados: Dos discursos emergiram as seguintes temáticas: Vivenciando o preconceito ao Ser esquizofrênico; Compreendendo a facticidade existencial do outro; Aprendendo a conviver com o ente esquizofrênico; Experienciando vicissitudes pelos conflitos familiares. Essas temáticas revelam o cotidiano destes seres, enredado em angústias, incertezas, cansaço e desânimo, sentimentos associados a uma busca incessante por ressignificar sua existência. 6) Sales CA, Schülhi PAP, Santos EM, Tironi NM, D artibale EF, Salci MA. Sentimentos de familiares sobre o futuro de um ser esquizofrênico: perspectivas para o cuidado de enfermagem. Principais achados: A análise suscitou uma temática central, A temporalidade de estar-com um ente esquizofrênico e, desta, três subtemas: Preocupando-se com o abandono, Experienciando a desesperança e a incerteza e Vivenciando a esperança de cura. O estudo despertou-nos, no universo do cuidado, para a importância do tempo, tantas vezes negligenciado por nós, profissionais da saúde, por não apreendermos o sentido dessa temporalidade na vivência dos seres de quem cuidamos. 7) Oliveira RM, Furegato ARF. Um casal de idosos e sua longa convivência com quatro filhos esquizofrênicos. Principais achados: Identificaram-se três categorias que retratam dificuldades vivenciadas no cotidiano, entendimento da esquizofrenia com sentido de limitações, cansaço e sobrecarga com prejuízo da qualidade de vida, incerteza em relação ao futuro e resiliência fortalecida pela fé em Deus. A concepção de cuidado foi associada a procedimentos técnicos, mostrando satisfação com a atenção recebida. Discussão Os estudos mostraram de uma forma geral que há uma preocupação do familiar em oferecer um cuidado adequado ao ente esquizofrênico. A família de indivíduos com esquizofrenia tem que se adaptar e lidar com o parente doente no dia-a- -dia, desenvolvendo estratégias para cada situação [9]. Neste sentido, a falta do conhecimento acerca da doença e suas manifestações é um dos fatores geradores de estresse, sobrecarga e desgaste à família de um portador de esquizofrenia. Desta forma, destaca-se o medo como um gerador de estresse e desgaste, uma vez que os cuidadores sentem-se inseguros em deixar o familiar portador de esquizofrenia sair sozinho, tendo como pano de fundo o medo da reação dos outros, da discriminação, além do medo das reações do próprio esquizofrênico em determinadas situações, como com relação ao suicídio [15]. Outros fatores que geram medo nos familiares são: envelhecer, adoecer ou morrer e não ter quem cuidar do ente esquizofrênico. Este sentimento é expresso nas falas de mães que cuidam dos filhos esquizofrênicos. Geralmente as mães acham que estão ficando muito velhas e quando não puderem mais cuidar dos filhos não sabem quem cuidará dos mesmos [8]. Além do medo, outros sentimentos emergem quando é abordada a relação da família com o esquizofrênico. Familiares em alguns momentos demonstram raiva, falta de paciência, angústia, irritabilidade, ciúmes, falta de tolerância, preconceito, sentimento de culpa, compaixão, demonstrando, assim, que também precisam de cuidados. Outras preocupações apontadas pelas famílias estão relacionadas à mudança na dinâmica familiar e vida social. Quanto à vida familiar, a situação financeira é a mais ressaltada nos estudos realizados. Muitos portadores de esquizofrenia nunca trabalharam e outros por sua vez eram os mantenedores da família. No 182

188 Maio / Junho 2013;12(3) discurso dos cuidadores, as falas apontaram para o custo do tratamento, a diminuição da produtividade dos pacientes e a interferência na atividade profissional dos cuidadores [15:76]. A situação financeira é um fator preocupante, principalmente para famílias de baixa renda, uma vez que sustentar um familiar com algumas limitações pesa no orçamento doméstico. Com relação às despesas provocadas pelo tratamento, em função da irregularidade no fornecimento de medicação e da dificuldade com o transporte, os custos com a esquizofrenia muitas vezes recaem sobre os cuidadores [15:76]. Outra situação apontada como fator desgastante foi a mudança da rotina da família para atender as necessidades do ente esquizofrênico: realizar higiene pessoal, administração do medicamento, cuidar do dinheiro recebido por alguns, dedicar tempo ao esquizofrênico, acompanhar em consultas periódicas, além dos afazeres domésticos, como, fazer comida, cuidar da casa, fazer compras, pagar contas, trabalhar, entre outros [16]. Com relação à vida social, os estudos apontam que o lazer é o primeiro a ser sacrificado, ficando assim qualidade de vida dos familiares comprometida. Em um estudo realizado por Teixeira [8], mostra que a maioria dos respondentes se afastou de amigos e de qualquer atividade social que tinham anteriormente ao diagnóstico do familiar. Neste caso, a família fica sobrecarregada e desgastada devido às consequências da alteração da rotina e dos projetos de vida, da diminuição da vida social, da supervisão de comportamentos problemáticos, dentre outros. O cuidado com o paciente portador de um transtorno mental grave requer adaptações na vida diária, e os cuidadores acabam por desistir ou mudar os seus objetivos, deixando de viver sua realidade e passando a viver uma realidade construída a partir do convívio com o paciente [15]. A sobrecarga da família com relação ao cuidado ao parente esquizofrênico ficou evidente nos estudos apresentados. Desta forma, os familiares precisam ser enxergados como um grupo que necessita de cuidados específicos, segundo suas necessidades. E para esta assistência, é importante uma avaliação das necessidades da família antes do início de qualquer programa de intervenção [17]. Neste sentido, faz-se necessário um grupo multiprofissional de apoio efetivo as famílias, no qual o profissional enfermeiro enquanto participante do grupo adquira subsídios através da fala dos membros da família. Conclusão Frente aos achados, percebe-se que apesar da sobrecarga advinda da convivência com o familiar esquizofrênico há a preocupação com os cuidados a serem prestados e interesse pelos grupos de apoio. Com isso, torna-se importante a inserção do enfermeiro no cuidado a família do portado de esquizofrenia, proporcionando melhor qualidade de vida e promoção à saúde no ambiente familiar, além de criar estratégias para que mais famílias possam aderir aos grupos destinados a elas. Embora seja importante a prestação de um cuidado adequado ao portador de esquizofrenia, a família também deve ser alvo de uma atenção especial, com espaço para que possa manifestar suas ansiedades, medos, dúvidas, entre outras situações vivenciadas. Destaca-se ainda a necessidade de novos estudos que sirvam de auxílio para o cuidado a família do portador de esquizofrenia preenchendo lacunas ainda existentes. Referências 1. Luz PO, Guimarães J. Ética e bioética: contribuição para o debate da pesquisa em enfermagem psiquiátrica. Enfermagem Brasil 2007;6(4): Abc.Med.Br. Esquizofrenia. O que saber sobre ela? [citado 2013 Mai 8]. Disponível em URL: abc.med.br/p/psicologia. 3. Clark RE, Drake RE. Expenditures of time and money by families of people with severe mental illness and substance use disorders. Community Mental Health Journal 1994;30(2): Marcon SS, Radovanovic CAT, Waidman MAD, Oliveira MLF. Vivências e reflexões de um grupo de estudos junto às famílias que enfrentam situações de doença crônica de saúde. Texto Contexto Enferm 2005;14(n. esp.): Silva KVLG, Monteiro ARM. A família em saúde mental: subsídios para o cuidado clínico de enfermagem. Rev Esc Enferm USP 2011;45(5): Bielemann VLM, Kantorski LP, Borges LR, Chiavagai FG, Willrich JQ, Sousa AS, et al. A inserção da família nos centros de atenção psicossocial sob a ótica de seus atores sociais. Texto Contexto Enferm 2009;8(1): Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70; Teixeira MB. Qualidade de vida de familiares cuidadores do doente esquizofrênico. Rev Bras Enferm 2005;58(2): Durão MAS, Souza MCBM, Miasso AI. Grupo de acompanhamento de portadores de esquizofrenia em uso de Clorazapina e de seus familiares: percepção dos participantes. Rev Bras Enferm 2005;58(5):

189 Maio / Junho 2013;12(3) 10. Durão MAS, Souza MCBM. Cotidiano de portadores de esquizofrenia após uso de um antipsicótico atípico e acompanhamento em grupo: visão do familiar. Rev Latinoam Enferm 2006;14(4): Zanetti ACG, Galera SAF. O impacto da esquizofrenia para a família. Rev Gaúch Enferm 2007;28(3): Sales CA, Schuhli PAP, Santos M, Waidman MAP, Narcon SS. Vivências dos familiares ao cuidar de um ente esquizofrênico: um enfoque fenomenológico. Rev Eletretronica Enferm 2010;12(3): Sales CA, Schulhi PAP, Santos EM, Nayara MT, D Artibale EF, Salci MA. Sentimentos de familiares sobre o futuro de um ser esquizofrênico: perspectivas para o cuidado de enfermagem Rev Bras Enferm 2011;64(3): Oliveira RM, Ferreira ARF. Um casal de idosos e sua longa convivência com quatro filhos esquizofrênicos. Rev Esc Enferm USP 2012;46(3): Almeida MM, Schal VT, Martins AM, Modena CM. A sobrecarga de cuidadores de pacientes com esquizofrenia. Rev Psiquiatr Rio Grande do Sul 2010;32(3): Souza Filho MD, Sousa AO, Parente ACBV, Martins MCC. Avaliação da sobrecarga em familiares cuidadores de pacientes esquizofrênicos adultos. Psicologia em Estudo 2010;15(3): Scazufca M. Abordagem familiar em esquizofrenia. Rev Bras Psiquiatr 2000;22(supl I):

190 Revisão A importância da motivação no trabalho da enfermagem: o papel do enfermeiro Maina da Silva* *Enfermeira, Graduanda do Curso de Pós-Graduação em Enfermagem do Trabalho do Centro Universitário UNA Resumo Estudo bibliográfico, descritivo e exploratório que teve por objetivo compreender a importância da motivação no trabalho da enfermagem mediante o papel do enfermeiro. Foi desenvolvido através de revisão da literatura de artigos científicos e livros sobre o tema proposto. Percebeu-se que o enfermeiro, enquanto líder, deve motivar a equipe de enfermagem através do reconhecimento e valorização do trabalho executado, assim como manter um bom relacionamento com toda a equipe, o que influenciará diretamente na qualidade da assistência prestada ao paciente. Palavras-chave: motivação, papel do profissional de enfermagem, liderança. Abstract The importance of nursing job motivation: nurse s role This literature review aimed at understanding the importance of nursing job motivation through nurse role. It was developed through review of articles and books on the theme. It was noticed that the nurse as a leader should motivate nursing staff expressing recognition and appreciation of their work, as well as maintaining a good relationship with all staff, which will greatly influence the quality of care provided to patients. Key-words: motivation, nurse role, leadership. Resumen La importancia de la motivación laboral en enfermería: el rol de la enfermera Estudio bibliográfico, descriptivo y exploratorio que tuvo por objetivo comprender la importancia de la motivación laboral en enfermería mediante el rol de la enfermera. Fue desarrollado a través de una revisión bibliográfica de artículos científicos y libros sobre el tema. Se observó que la enfermera como líder debe motivar al personal de enfermería a través del reconocimiento y la valoración de los trabajos realizados, así como mantener una buena relación con todo el personal, que será de gran influencia en la calidad de la atención prestada a los pacientes. Palabras-clave: motivación, rol de la enfermera, liderazgo. Artigo recebido em 7 de janeiro de 2013; aceito em 20 de maio de Endereço para correspondência: Maina da Silva, Rua Nair Pentagna Guimarães, 300/104, bloco 08, Belo Horizonte MG, mainabh20@yahoo.com.br 185

191 Maio / Junho 2013;12(3) Introdução O trabalho sempre teve um papel importante na vida do homem. É através dele que o ser humano transforma a natureza para produzir sua vida material e satisfazer suas necessidades. Portanto, é pelo trabalho que o homem se realiza enquanto tal [1]. Para Fryer e Payne apud Morin [2], o trabalho pode ser considerado uma atividade útil, além do prazer proporcionado por sua realização. De acordo com Baptista [1], a proporção que o trabalho assume na vida do homem é impossível de ser calculada. Seguindo a mesma linha de raciocínio, Malik [3] afirma que qualquer trabalho envolve pessoas ; Abreu e Simões [4] corroboram a ideia do autor citado anteriormente ao afirmarem que o trabalho é considerado como atividade essencialmente humana. Para Morin [2], o trabalho conserva um lugar importante na sociedade, além de proporcionar ao indivíduo um relacionamento com outras pessoas, vinculação, tarefas e objetivo na vida. Na sociedade capitalista é grande a exigência de um trabalhador empenhado com o trabalho. Acrescido a isso ainda há exigências das demandas da vida pessoal, forçando os indivíduos a uma sobrecarga de atividades. A pressão exercida nas organizações pode levar os trabalhadores a estados de doença, insatisfação e desmotivação [5]. Tal quadro não ocorre de forma diferente na esfera da Enfermagem. No contexto hospitalar, segundo Faria et al. [6], a enfermagem se constitui na maior força de trabalho e suas atividades são constantemente marcadas por uma divisão fragmentada de tarefas e inflexível estrutura hierárquica para o cumprimento das atividades, normas e regulamentos. A enfermagem no contexto de força de trabalho tem um papel importante em qualquer organização de saúde seja ela pública ou privada. Todavia, conforme Barboza e Soler [7], nos serviços de saúde, principalmente em hospitais, as condições de trabalho dos profissionais de enfermagem são precárias em relação a outros serviços; como descreve Morin [2] ao mesmo tempo em que milhares de pessoas sofrem pela falta de uma vaga, outras sofrem pelo fato de terem que trabalhar excessivamente. Em contrapartida, quando as tarefas são realizadas com prazer, geram no indivíduo sentimentos de realização, dando um sentido ao trabalho [2]. Melara et al. [8] descrevem que é importante que as pessoas se sintam motivadas e satisfeitas para desempenharem bem suas funções. Da mesma forma, Maximiano [9] afirma que uma pessoa motivada para o trabalho possui melhor disposição para alcançar metas e realizar tarefas. No cotidiano da enfermagem, a motivação aparece como aspecto fundamental para o alcance de maior eficiência e qualidade na assistência de enfermagem oferecida, somada à satisfação dos trabalhadores [10]. Morin [2] reforça tal perspectiva ao descrever que o trabalho exerce uma influência sobre a motivação dos trabalhadores, assim como sobre sua satisfação e produtividade. Atualmente, no contexto organizacional a motivação é considerada [...] como um dos principais fatores relacionados com a produtividade e a qualidade no trabalho [11]. Diante disso, o enfermeiro deve desenvolver habilidades que contribuam para despertar o entusiasmo, desempenho, compromisso, motivação e capacidade de adaptação de sua equipe [12]. Destaca-se que é importante para o enfermeiro a compreensão dos diferentes fatores motivacionais para o melhor desempenho das atividades de forma individual e coletiva [13]. Galvão et al. [14] citam que muitas vezes a forma de gerenciar do enfermeiro colabora para o não atendimento das reais necessidades do cliente, além de gerar conflitos e insatisfação na equipe de enfermagem. Assim, ao refletir sobre a motivação no trabalho da enfermagem e o papel do enfermeiro, foi constatado a respeito desta temática que poucos são os registros existentes. Diante dessas considerações, emergiu o seguinte questionamento: Como as ações do enfermeiro influenciam na motivação da equipe de enfermagem? Assim, espera-se que este trabalho propicie a expansão da discussão crítica-reflexiva sobre o tema proposto. Material e métodos Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo exploratório, que objetiva compreender a importância da motivação no trabalho da enfermagem mediante o papel do enfermeiro. Segundo Polit e Hungler [15] este tipo de estudo permite a compreensão de determinada realidade e, posteriormente, fornece subsídios para intervenção. Gil [16] afirma que as pesquisas exploratórias possibilitam a consideração dos mais diversos aspectos relativos ao tema estudado, assumindo, na maioria dos casos, a forma de pesquisa bibliográfica ou de estudo de caso. 186

192 Maio / Junho 2013;12(3) O autor afirma ainda que a pesquisa bibliográfica permite ao pesquisador a abrangência de diversos fenômenos de forma mais ampla. Todavia, torna-se necessária uma análise profunda das condições em que os dados das fontes coletadas foram obtidos, com intuito de descobrir possíveis incoerências ou contradições. Portanto, a pesquisa bibliográfica é produzida a partir de material já elaborado, composto principalmente por livros e artigos científicos, sendo o presente estudo desenvolvido a partir de tais fontes bibliográficas [16]. Igualmente, Severino [17] descreve que a pesquisa bibliográfica abrange a leitura, análise e interpretação de livros e periódicos, baseando-se em uma triagem de todo material recolhido, a partir da qual é possível estabelecer um plano de leitura. Para Gil [16], o estudo bibliográfico permite um amplo alcance de informações e dados que podem ser encontrados dispersos em inúmeras publicações, o que contribui para melhor definir o objeto de estudo proposto. Obedeceu-se as etapas do processo de construção de uma pesquisa bibliográfica conforme os pressupostos de Gil [16]: escolha do tema; levantamento bibliográfico preliminar; formulação do problema; elaboração do plano provisório do assunto; busca das fontes; leitura exploratória do material; organização lógica do assunto e redação do texto. Foi realizada uma pesquisa na base de dados Scientific Electronic Library Online (SCIELO), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), dentro do domínio da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) através da conjugação dos seguintes descritores: motivação and equipe de enfermagem, motivação and enfermeiro, motivação and papel do enfermeiro, motivação and liderança. Utilizou-se algumas referências citadas pelos trabalhos selecionados na base de dados devido a escassez de estudos sobre a especificidade do tema abordado; também, no acervo da biblioteca do Centro Universitário UNA em Belo Horizonte, Minas Gerais, sete livros sobre o assunto foram utilizados. Durante a análise preliminar dos títulos disponíveis na BVS foram incluídas obras da língua portuguesa sem um recorte temporal. Foram excluídas obras por não se adequarem ao tema, não apresentarem informações relevantes e pertinentes ao assunto proposto, artigos em língua estrangeira, artigos que não estão disponíveis gratuitamente em bancos de dados eletrônicos e que não se encontram na íntegra. Foi realizada uma leitura exploratória segundo Gil [16] tem como objetivo verificar em que medida o material consultado interessa a pesquisa do material selecionado mediante o exame do título e resumo, para posterior leitura na íntegra das obras. Obteve-se no final do processo um total de treze artigos. Resultados Ao se abordar a motivação no contexto da Enfermagem é importante esclarecer as abordagens empregadas na caracterização do tema. O termo motivação origina-se da palavra motivu (do latim) e significa [...] que move ou o que pode fazer mover [10]. Por definição, motivação [...] é a ação realizada pelas pessoas para o atendimento de necessidades não-satisfeitas [18]. Pereira e Fávero apud Alecrim e Campos [19] conceituam motivação [...] como uma inclinação para a ação que tem origem em um motivo, uma necessidade que, ao atuar sobre o intelecto, faz o indivíduo movimentar-se ou agir. Para Lourenço e Trevizan [20] a motivação representa o estado em que o trabalhador tem disposição ou vontade de trabalhar de forma produtiva. Para Chiavenato [21], Marquis e Huston [18], a motivação desperta nas pessoas o desejo de trabalhar e a vontade de fazer mais, assim como de trabalhar bem e cada vez melhor. De acordo com Maximiano [9] existem motivos ou razões que influenciam o desempenho das pessoas, classificados em internos e externos. As necessidades, aptidões, interesses e habilidades do indivíduo representam os motivos internos. Destarte, ao se empenhar para o alcance de um objetivo, a pessoa está de alguma forma buscando satisfazer uma necessidade. Marquis e Huston [18] corroboram esta ideia ao caracterizarem a motivação como um estímulo interno, que influencia o indivíduo na busca de algo desejado, com o objetivo de atender às suas necessidades. Chiavenato [21] descreve que em relação à motivação, as pessoas são diferentes e, portanto, as necessidades variam de um indivíduo para o outro, resultando em diferentes tipos de comportamentos. Em contrapartida, os estímulos ou incentivos que o ambiente oferece caracterizam os motivos externos [9]. Tanto os motivos internos quanto externos devem ser observados pelo enfermeiro, 187

193 Maio / Junho 2013;12(3) já que este é responsável por liderar e gerenciar toda a equipe de enfermagem. Para Pereira [22], o enfermeiro deve gerenciar o ambiente propiciando fatores de satisfação e minimizando (eliminando, se possível) os fatores de contra-satisfação. Para o autor, os fatores de satisfação são representados pelas necessidades, motivos ou expectativas individuais e/ ou grupais e, a motivação ocorre quando as possibilidades nos ambientes organizacionais acontecem simultaneamente com o alcance destes fatores. Da mesma forma, quando as oportunidades não coincidem às necessidades, são conhecidas como fatores de contra-satisfação. Assim, como cada integrante da equipe atribui um valor e sentido diferente a cada uma dessas oportunidades, se o enfermeiro considerá-las em seu processo decisório, muito provavelmente, contribuirá para despertar a motivação na equipe [23]. Cabe ressaltar que o trabalho da enfermagem muitas vezes é rodeado por atividades rotineiras, mecanicistas, baseadas em regras e normas de conduta. Além disso, a falta de recursos para resolução de problemas assim como a questão salarial também marcam a enfermagem enquanto profissão. A presença dessa realidade no contexto da Enfermagem torna a motivação da equipe uma tarefa desafiadora para o enfermeiro [21,18]. Discussão Pelos princípios da sua própria formação, o enfermeiro tende a desenvolver habilidades de liderança, principalmente em razão das atividades que lhe são atribuídas [24]. Em concordância, Marquis e Huston [18] descrevem que todo enfermeiro é, de certa forma, líder e seu cargo exige habilidades de liderança. Para os autores, a capacidade de reconhecer cada funcionário como um indivíduo singular, motivado de forma diferente, e de agir diante dessas diferenças constitui uma habilidade de liderança [18]. Porém, liderar requer habilidades mais complexas do que simplesmente administrar [18]. Segundo Galvão [25], é através da liderança que o enfermeiro tenta conciliar os objetivos organizacionais com os objetivos do grupo da enfermagem, buscando o aprimoramento da prática profissional e principalmente o alcance de uma assistência de enfermagem adequada. O líder que motiva busca criar um ambiente de trabalho adequado para realização das tarefas cotidianas, satisfazer os interesses organizacionais e, ainda, suprir as necessidades profissionais da equipe [26]. Para Marx e Morita [27] o enfermeiro [...] com interesse contínuo em motivar, estimular e apoiar o desenvolvimento das pessoas, de acordo com suas potencialidades, expectativas e necessidades [...] preocupa-se com seu próprio desenvolvimento profissional. Portanto, o comportamento de um líder representa um dos fatores determinantes de sua posição de liderança. Consequentemente, o modo de liderança desempenha grande influência sobre o ambiente e sobre os resultados da equipe de trabalho. Desta forma, o cargo de líder exige do mesmo a capacidade de orientar, tanto opiniões quanto as ações de toda equipe. Porém, cabe ressaltar que a motivação da equipe não é de responsabilidade exclusiva do enfermeiro, pois cabe também a instituição proporcionar e colaborar para o processo de motivação da equipe [18]. Gindri et al. [28] corroboram tais ideias ao descreverem que motivar a equipe de trabalho e capacitá-la para obtenção de uma assistência de qualidade aos pacientes compete ao enfermeiro. Para isso, a comunicação é uma ferramenta utilizada pelo enfermeiro para o alcance de uma liderança bem sucedida, pois proporciona a este profissional desempenhar suas ações através de inter-relações com a equipe de enfermagem, resultando em melhoria na qualidade da assistência oferecida [29]. Santos e Bernardes [30] também apontam o processo comunicativo como fator indispensável para garantir que o serviço ocorra de forma eficiente e eficaz. Galvão et al. [14] salientam que o enfermeiro deve adotar uma gerencia inovadora e utilizar a comunicação como um recurso para aproximar-se da equipe com a intenção de entender as atividades desempenhadas por cada um. Para Yoshimoto et al. [31] e para Marx e Morita [27], cabe a todo gestor manter a comunicação contínua com seus subordinados, o que de certa forma, o aproxima da sua equipe, tornando-o a par das insatisfações dos profissionais. Para Marx e Morita [27] é fundamental que o enfermeiro construa canais de comunicação acessíveis para intercâmbio de informações, facilitando e mantendo o relacionamento entre a direção e equipe de trabalho [...]. Uma pesquisa realizada por Simões e Fávero [32] demonstrou que a comunicação foi o aspecto mais citado em um líder. É através da comunicação que o líder ouve novas ideias, sendo assim, 188

194 Maio / Junho 2013;12(3) estimulado a influenciar a equipe com suas ações, e não somente comandar ou controlar, tornando o processo bilateral [14]. Para Fernandes et al. [33], a gerência participativa é um ponto fundamental para o desenvolvimento do trabalho, pois nessa modalidade de gerenciamento a equipe procura melhorar a qualidade do trabalho, bem como suas condições. Desta forma, o enfermeiro como líder enfatiza as relações interpessoais e motiva a equipe [18]. Para Bezerra et al. [34], o indivíduo motivado realiza suas funções com qualidade, produz mais e atua de maneira mais responsável, o que consequentemente, garante a prestação de um melhor serviço para o paciente. Reconhecer o trabalho realizado por cada funcionário representa uma atitude motivadora por parte do líder [18]. O enfermeiro que motiva e valoriza sua equipe de enfermagem considera os indivíduos competentes, criativos e capazes de desempenhar suas atividades com qualidade, o que, de certa forma, auxilia no desenvolvimento das potencialidades de seus colaboradores [33]. Da mesma forma, Santos e Bernardes [30] citam que o enfermeiro deve permitir e explorar todo potencial de seus subordinados. Ao permitir a participação da equipe na discussão das decisões que envolvem os próprios profissionais, o enfermeiro enfatiza as responsabilidades e a percepção do sentido do trabalho em cada membro [12]. Marquis e Huston [18] concordam com a afirmação anterior ao declararem que a participação leva os funcionários, de forma ativa, a tomarem decisões que afetam seu trabalho. Para Hackman e Oldham apud Morin [2], um trabalho tem significado para o indivíduo quando ele o considera importante, útil e legítimo. Segundo os autores Marquis e Huston [18], quando o enfermeiro comunica sua visão e a equipe tem a oportunidade de realizar o máximo com seus talentos, ele encoraja o aprendizado, a criatividade, o coleguismo, autorrespeito e profissionalismo, o que acarreta para os funcionários um espírito de motivação no ambiente de trabalho. Para os autores, o líder fortalece a equipe, orienta, dirige, motiva, enfatiza as relações interpessoais, é um comunicador, energizador, pensador crítico, intermediador, influenciador, agente de mudanças, criativo. Desta forma, o líder oferece apoio e encoraja os funcionários desmotivados. Não menos importante, também é necessário que a instituição propicie um clima que incentive a todos os empregados, estimulando desta forma, a motivação em cada um [18]. Portanto, a confiança, o trabalho em equipe, estímulo à participação dos colaboradores, respeito à opinião dos trabalhadores assim como reconhecimento e valorização profissional são algumas premissas que devem ser adotadas pelo enfermeiro, enquanto líder de equipe, para criação de uma atmosfera motivacional. Por fim, o enfermeiro precisa agir de maneira coerente para manutenção de um ambiente estimulante e que desperte a motivação no interior de cada um [35,18]. Conclusão A investigação do tema da motivação no trabalho da Enfermagem e o papel do enfermeiro por mais simples que possa parecer, ainda é um grande desafio para os pesquisadores em saúde. Através da literatura consultada, percebeu- -se que é necessário ao líder conhecer a fundo os aspectos relacionados à motivação. A qualidade da assistência em contextos hospitalares depende da ação e do engajamento dos profissionais envolvidos. Ao exercer a função de liderança, o enfermeiro deverá desempenhar uma gerência capaz de proporcionar maior satisfação para os componentes da equipe de enfermagem, levando em consideração os objetivos organizacionais. Nessa direção, este profissional se torna um ponto de apoio para os demais trabalhadores que, ao estarem motivados, trabalham satisfeitos e melhor. Outro aspecto evidenciado nos estudos demonstrou que a comunicação é essencial para o desenvolvimento de uma liderança positiva exercida pelo enfermeiro em relação à equipe. De acordo com as considerações expostas, o reconhecimento e a valorização do trabalho executado, assim como o bom relacionamento entre gerência de enfermagem e a equipe assistencial foram apontados como fatores motivadores. Os resultados evidenciaram a importância de o enfermeiro líder agir com espírito de mudança, desenvolvendo o seu papel com competência, e flexibilidade. A busca de meios para solucionar os problemas existentes na equipe contribui para melhoria das condições de trabalho para os seus colaboradores. Assim, torna-se necessário ampliar a compreensão do fenômeno que envolve a motivação dos profissionais de enfermagem através da análise de outras variáveis que podem interferir diretamente, como, por exemplo, a sobrecarga de atividades, 189

195 Maio / Junho 2013;12(3) condições insalubres no trabalho, questões salariais, absenteísmo e redução de integrantes da equipe, dentre outras. Novos estudos, portanto, deverão ser realizados a fim de contribuir para maior compreensão do fenômeno, bem como trazer contribuições à profissão rumo a busca da excelência do cuidado de enfermagem à clientela. Referências 1. Baptista RC. Doenças e outros agravos à saúde produzidos pelo trabalho. Cad Interdiscipli Saúde Tecnol Questão Social 2004;1(1): Morin EM. Os sentidos do trabalho. RAE-Revista de Administração de Empresas 2001;41(3): Malik AM. Gestão de recursos humanos. São Paulo: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo; p Abreu RMD, Simões ALA. Ausências por adoecimento na equipe de enfermagem de um hospital de ensino. Cienc Cuid Saúde 2009;8(4): Silva DMPP, Marzialle MHP. Absenteísmo de trabalhadores de enfermagem em um hospital universitário. Rev Latinoam Enferm 2000;8(5): Faria AC, Barboza DB, Domingos NAM. Absenteísmo por transtornos mentais na enfermagem no período de 1995 a Arq Ciênc Saúde 2005;12(1): Barboza DB, Soler ZASG. Afastamento do trabalho na enfermagem: ocorrências com trabalhadores de um hospital de ensino. Rev Latinoam Enferm 2003;11(2): Melara SVG, Beccaria LM, Carta A, Contin LM. Motivação da equipe de enfermagem em uma Unidade de Terapia Intensiva. Arq Ciênc Saúde 2006;13(3): Maximiano ACA. Introdução à administração. 6ª ed. São Paulo: Atlas; p Pereira MCA, Fávero N. A motivação no trabalho na equipe de enfermagem. Rev Latinoam Enferm 2001;9(4): Bezerra FD, Andrade MFC, Andrade JS, Vieira MJ, Pimentel D. Motivação da equipe e estratégias motivacionais adotadas pelo enfermeiro. Rev Bras Enferm 2010;63(1): Pereira AA, Gonçalves B, Fernandes MBV, Pinto MAF, Antônio MS. Motivação da equipe de enfermagem: competências dos enfermeiros. In: Cunha KC. Gerenciamento na enfermagem: novas práticas e competências. São Paulo: Martinari; p Melara SVG, Beccaria LM, Carta A, Contin LM. Motivação da equipe de enfermagem em uma Unidade de Terapia Intensiva. Arq Ciênc Saúde 2006;13(3): Galvão CM, Sawada NO, Castro AP, Corniani F. Liderança e comunicação: estratégias essenciais para o gerenciamento da assistência de enfermagem no contexto hospitalar. Rev Latinoam Enferm 2000;8(5): Polit DF, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. 3ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas; Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 5ª ed. São Paulo: Atlas; p Severino AJ. Metodologia do Trabalho Científico. 22ª ed. São Paulo: Cortez; p Marquis BL, Huston CJ. Administração e liderança em enfermagem: teoria e prática. 4ª ed. Porto Alegre: Artmed; p Alecrim JS, Campos LF. Visão dos técnicos e auxiliares de enfermagem sobre o estilo de liderança do enfermeiro. Cogitare Enferm 2009;14(4): Lourenço MR, Trevizan MA. Líderes da enfermagem brasileira: sua visão sobre a temática da liderança e sua percepção a respeito da relação liderança & enfermagem. Rev Latinoam Enferm 2001;9(3): Chiavenato I. Recursos humanos. 6ª.ed. São Paulo: Atlas; p Pereira AA, Gonçalves B, Fernandes MBV, Pinto MAF, Antônio MS. Motivação da equipe de enfermagem: competências dos enfermeiros. In: Cunha KC. Gerenciamento na enfermagem: novas práticas e competências. São Paulo: Martinari; p Cunha KC. Gerenciamento na enfermagem: novas práticas e competências. São Paulo: Martinari; Sousa LB, Barroso MGT. Reflexão sobre o cuidado como essência da liderança em enfermagem. Esc Anna Nery Rev Enferm 2009;13(1): Galvão CM, Sawada NO, Castro AP, Corniani F. Liderança e comunicação: estratégias essenciais para o gerenciamento da assistência de enfermagem no contexto hospitalar. Rev Latinoam Enferm 2000;8(5): Amestoy SC, Cestari ME, Thofehrn MB, Milbrath VM, Porto AR. Significados atribuídos ao líder na visão de enfermeiras. Cienc Cuid Saúde 2009;8(4): Marx LC, Morita LC. Manual de gerenciamento de enfermagem. 2ª.ed. São Paulo: EPUB; p Gindri L, Medeiros HMF, Zamberlan C, Costenaro RGS. A percepção dos profissionais da equipe de enfermagem sobre o trabalho dos enfermeiros. Cogitare Enferm 2005; 10(1): Galvão CM, Trevizan MA, Sawada NO. A liderança do enfermeiro no século XXI: algumas considerações. Rev Esc Enf USP 1998; 32(4): Santos MC, Bernardes A. Comunicação da equipe de enfermagem e a relação com a gerência nas instituições de saúde. Rev Gaúcha Enferm 2010;31(2): Yoshimoto MS, Campos RD, Lima AR, Condori RCC. Comunicação como competência para o processo educativo das equipes de enfermagem. In: Cunha KC. Gerenciamento na enfermagem: novas práticas e competências. São Paulo: Martinari; Simões ALA, Fávero N. O desafio da liderança para o enfermeiro. Rev Latinoam Enferm 2003;11(5): Fernandes MS, Spagnol CA, Trevizan MA, Hayashida M. A conduta gerencial da enfermeira: um estudo fundamentado nas teorias gerais da administração. Rev Latinoam Enferm 2003;11(2): Bezerra FD, Andrade MFC, Andrade JS, Vieira MJ, Pimentel D. Motivação da equipe e estratégias motivacionais adotadas pelo enfermeiro. Rev Bras Enferm 2010;63(1): Nogueira LCL. Gerenciando pela qualidade total na saúde. Belo Horizonte: Fundação Christiano Ottoni; p

196 Normas de publicação Enfermagem Brasil A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals, N Engl J Med. 1997; 336(4): ) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são resumidas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), htpp:// na versão atualizada de outubro de Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/ ) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/ Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato.tif ou.gif) ou que possam ser editados em Power-Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 2. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 3. Atualização ou divulgação São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 4. Estudo de caso São artigos de dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 5. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. PREPARAÇÃO DO TEXTO 1. Normas gerais 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times Roman (English Times) tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos.tif ou.gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e também das palavras-chave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, CD-ROM ou . Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e . - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter par ti cipado do trabalho o suficiente para assumir a res pon sabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave (Abstract, Key-words, Resumen, Palabras-clave) Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodolo gia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavras-chave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto. Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: artigos@atlanticaeditora.com.br Consulte o texto completo das Normas em nosso site: 191

197 Maio / Junho 2013;12(3) Calendário de eventos 2013 Julho 24 a 27 de julho 11º Congresso Brasileiro de Enfermagem de Centro Cirúrgico, RA e CME São Paulo, SP Informação: eventos@sobecc.org.br Agosto 1 a 3 de agosto 11º SINADEn - Simpósio Nacional de Diagnóstico em Enfermagem Sistematização da assistência de enfermagem e responsabilidade social nos campos de prática profissional PUC, Curitiba, PR Informação: 8 a 9 de agosto XXVIII Congresso de Ginecologia e Obstetrícia de Mato Grosso do Sul Campo Grande. MS Informação: (67) , a 21 de agosto IX Congresso da SBDST, V Congresso Brasileiro de AIDS DST: Indispensável repensar o cuidado Salvador, BA Informação: 7 a 10 de outubro 65º. Congresso Brasileiro de Enfermagem CBEn Centro de Convenções Sulamérica Rio de Janeiro, RJ Informação: 9 a 11 de outubro I Congreso Internacional Hispano-Luso de Enfermería Lisboa, Portugal de outubro a 1 de novembro VIII COBEON - Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC Informações: Novembro 12 a 15 de novembro IV Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas João Pessoa, PB Informação: sobenfee@sobenfee.org.br 27 a 30 de novembro 2o. Congresso Pan Amazônico de Oncológica Manaus, AM Informação: Outubro 2 a 5 de outubro 16º CBCENF Congresso Brasileiro dos Conselhos de Enfermagem Vitória, ES Informação: 192

198 EDITOR CIENTÍFICO Presidente do Conselho Científico Prof a. Dr a. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Adriano Menis Ferreira (UFMS Mato Grosso do Sul) Prof a. Dr a. Aida Mendes (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Portugal) Prof a. Dr a. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Prof. Dr Ari Nunes Assunção (UNISC Santa Cruz do Sul) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Prof. Dr. Carlos Roberto Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Dalmo Valério Machado de Lima (UFF Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Eliane Aparecida Sanches Tonolli (UEM Maringá) Prof a. Dr a. Jacileide Guimarães (UFRN Rio Grande do Norte) Prof. Dr. José Verdú Soriano (Universidad de Alicante Espanha) Prof a. Drª Leila Rosa dos Santos (ISBL Londrina) Prof a. Dr a. Márcia Galan Perroca (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) Prof a. Dr a. Márcia Maria Fontão Zago (USP Ribeirão Preto) Prof a. Dr a. Margarethe Maria Santiago Rêgo (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Maria da Graça Piva (ULBRA RS) Prof a. Dr a. Maria Ermelinda Miranda Ribeiro Jaques (Escola Superior de Enfermagem IPVC Portugal) Prof a. Dr a. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Marialda Moreira Christoffel (UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Meives Aparecida Rodrigues de Almeida (UNICAMP Campinas) Prof a. Drª Mércia Heloisa Ferreira da Cunha (UFMG Belo Horizonte) Prof a. Dr a. Nadia Antonia Aparecida Poletti (FAMERP São José do Rio Preto) Prof a. Dr a. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Roberto Carlos Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Prof a. Dr a. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP Ribeirão Preto) Prof a. Drª. Soraia Dornelles Schoeller (UFSC Santa Catarina) Prof a. Dr a. Taka Oguisso (USP São Paulo) Prof a. Drª Teresa Tonini (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dra. Valéria Lerch Lunardi (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Vera Regina Salles Sobral (UFF Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wiliam César Alves Machado (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wilson D. Lunardi Filho (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) GRUPO DE ASSESSORES Prof a. Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Ms. Maria Filomena Vancellote Almeida (UniRio Rio de Janeiro) Prof. Ms. William Malagutti (UGF São Paulo) Enfermagem Brasil é indexada no CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro São Paulo SP Atendimento (11) / assinaturas@atlanticaeditora.com.br Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 atlantica@atlanticaeditora.com.br Administração e vendas Antonio Carlos Mello mello@atlanticaeditora.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br Diretor de Marketing e Publicidade Rainner Penteado rainner@atlanticaeditora.com.br Imprensa release@atlanticaeditora.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de artigos@atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Neurociências, Nutrição Brasil e Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício. ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado.

199 EDITORIAL Inglês instrumental: a leitura para fins acadêmicos na enfermagem, Adilia Maria Pires Sciarra ARTIGOS ORIGINAIS A imagem e o preparo do enfermeiro acerca do próprio envelhecimento, Ana Caroline da Costa, Aldaíza Ferreira Antunes Fortes, Ana Maria Nassar Cintra Soane Enfrentamento dos pais frente aos filhos prematuros e hospitalizados em UTI neonatal, Fernando Antônio Joaquim, Mariana Freitas Comin Hábitos alimentares e obesidade de adolescentes de escolas públicas e particulares no sul de Minas Gerais, Ana Carolina Fernandes Cantuária, Fabiano Franklin Batista Pereira, Valdinéa Luiz Hertel Prevenção das DST/Aids e sexualidade: perguntas de adolescentes no município de Maricá/RJ, Carla Luzia França Araújo, Carolina Costa Pacheco, Vanessa Damasceno Bastos, Simone Lins, Tamyris Paiva Carvalho Loureiro, Sheila Moreira, Cintia Leal Carneiro Sampaio, Lucivania de Oliveira Souza Avaliação da aplicabilidade do Curso de Suporte Básico de Vida a distância via web na Marinha do Brasil, Raul Luiz de Souza Cavalcanti, Luiz Anastácio Alves, Renato Matos Lopes, Luiza Rodrigues de Oliveira, Maria Aparecida de Luca do Nascimento Transtorno psíquico em trabalhadores terceirizados de limpeza e vigilância, Barbara Correia Neves, Giselle Juliana de Jesus, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler REVISÃO Enfermagem BRASIL Produção científica brasileira de enfermagem sobre erros de medicação, Francisco Gilberto Fernandes Pereira, Rebeca Barros da Silva, Márcia Barroso Camilo de Ataíde, Joselany Áfio Caetano RELATO DE EXPERIÊNCIA Índice Volume 11 número 4 - Julho / Agosto de 2013 A Dança da Higiene : promovendo saúde na escola através da música, Ana Cristina Viana Campos, Gabriela Oliveira Fraga, Larissa Campos Valadares, Cecília Alves Leopoldino, Heloisa Galdino Catanio, Raíssa Gabriela Lopes Teixeira, Mauro Henrique Nogueira Guimarães de Abreu, Efigênia Ferreira e Ferreira NORMAS DE PUBLICAÇÃO CALENDÁRIO DE EVENTOS...256

200 Editorial Inglês instrumental: a leitura para fins acadêmicos na enfermagem Adilia Maria Pires Sciarra* A relevância da língua inglesa como instrumento de acesso ao conhecimento escrito no mundo acadêmico motivou sua inserção junto da Informática, como parte de um tripé que compõe a disciplina de Metodologia Científica. Desta forma o Inglês Instrumental foi introduzido como parte de componente curricular logo no primeiro ano da graduação em Enfermagem, isto é, como oportunidade de um refinamento ou aperfeiçoamento da aprendizagem de língua estrangeira para os alunos recém-aprovados em um conceituado vestibular no estado de São Paulo. O curso de Inglês Instrumental ou ESP (English for Specific Purposes) é um curso que se diferencia dos demais porque é uma abordagem ao ensino de língua inglesa através da qual todas as decisões sobre o conteúdo e o método aplicados são baseadas na razão por que o aluno aprende. Nesta abordagem, o foco da aprendizagem está direcionado a um recorte das quatro habilidades que compõem o processo de comunicação humana: Ouvir, Falar, Ler e Escrever. Assim, com base no pressuposto da formação dos alunos da Enfermagem também na área acadêmica, o curso está elaborado na necessidade do desenvolvimento do recorte da habilidade em Leitura. O Course Design está estruturado da seguinte forma: inicialmente, apoiado no aprendizado das principais estratégias de leitura e habilidades linguísticas da língua inglesa comparadas à língua portuguesa e, no final, o acesso e a prática aos dispositivos tecnológicos facilitados pela rede mundial dos computadores, ou seja, pela Internet. Segundo Grellet, 1981, a leitura deve ser definida como um processo de entender, interpretar algo escrito. Portanto, entender um texto acadêmico escrito em língua estrangeira pressupõe determinadas questões que envolvem a leitura, que quando trabalhadas no Instrumental são preenchidas por elementos determinados. Tenho trabalhado no enfoque de Inglês Instrumental junto ao Curso de Graduação em Enfermagem da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, elaborando material específico, no gênero acadêmico-científico, na disciplina de metodologia de pesquisa. No final da prática teórica, os alunos têm a oportunidade de aperfeiçoar o conhecimento das principais estruturas escritas da língua inglesa mediante os dispositivos tecnológicos via WEB, por meio dos quais puderam também elaborar um levantamento de vocabulário geral e específico voltado para a Enfermagem: Terminologia Genérica e Específica em Enfermagem-Glossário Inglês- -Português. Este glossário transformou-se em publicação divulgada em 2011, fazendo parte das comemorações dos 20 anos da graduação em Enfermagem da FAMERP. A cada ano temos fortalecido parcerias para divulgação da importância do inglês junto à graduação e pós-graduação da Enfermagem da FAMERP, fato que tem contribuído para a conquista da excelência de ensino, pesquisa e extensão da Enfermagem FAMERP, destacada entre as melhores faculdades de enfermagem do país. *Professora com graduação em Letras Anglo-Portuguesa pela Universidade de Maringá, PR, especialista pela PUC/SP no ensino de Língua Instrumental para fins acadêmicos: Inglês, Português. Desenvolve o ensino de Inglês Instrumental na graduação do curso de Enfermagem por oito anos e por 10 anos atua no ensino de língua inglesa para fins acadêmicos na Faculdade de Medicina. Atualmente voltada para o conhecimento e o uso da tecnologia, ou seja, E-Learning aplicado no ensino-aprendizagem de Anatomia Obstétrica direcionado à Enfermagem, desenvolve o estímulo dos alunos no aprendizado da Língua Inglesa como importante instrumento na globalização do conhecimento humano junto da tecnologia 196

201 Artigo original A imagem e o preparo do enfermeiro acerca do próprio envelhecimento Ana Caroline da Costa*, Aldaíza Ferreira Antunes Fortes, M.Sc.**, Ana Maria Nassar Cintra Soane, M.Sc.*** *Acadêmica do Curso de Graduação em Enfermagem da EEWB, Itajubá/MG, **Enfermeira, Docente da disciplina Estágio Supervisionado, do Curso de Graduação em Enfermagem, e das disciplinas Metodologia da Pesquisa Científica I e Metodologia da Pesquisa Científica II, dos Cursos de Especialização em Obstetrícia e Urgência e Emergência, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), Responsável pelo Setor de Pesquisa e Estudos Acadêmicos da EEWB, ***Enfermeira, Coordenadora do Departamento de Ensino e Pesquisa da EEWB - Texto construído a partir do Trabalho de Conclusão, do Curso de Graduação em Enfermagem, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), Itajubá/MG Resumo Estudo de abordagem qualitativa, do tipo exploratório, descritivo e transversal, tendo como objetivos conhecer a imagem e conhecer o preparo dos enfermeiros, da cidade de Itajubá-MG, acerca do próprio envelhecimento. A amostragem foi do tipo intencional. Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá-MG, colheram-se os dados de janeiro a abril de 2011, por meio de entrevista. Foram analisados e interpretados utilizando o Discurso do Sujeito Coletivo. Dos 20 enfermeiros entrevistados, 95% eram do sexo feminino, 75% casados e 40% atuavam em Unidade Básica de Saúde. A média de idade foi de 48,75 anos; número de filhos foi de 2,13; número de empregos, 1,25 e 37,4 a carga horária semanal de trabalho. Os resultados foram divididos em dois temas. No tocante ao tema como o enfermeiro se vê envelhecendo as ideias centrais mais frequentes foram: como um processo natural, aceitando envelhecer, adquirindo experiências de vida e muito triste. Em relação ao tema preparo do enfermeiro para o próprio envelhecimento foram: sim, procurando ter um envelhecimento saudável, não penso e não estou preparada e não, pela falta de tempo. Conclui-se que a maioria dos enfermeiros ainda não reflete sobre seu próprio envelhecimento, não se imagina velho e muito menos se prepara para ter uma velhice saudável. A imagem negativa que sobressai neste estudo deve ser mudada, pois nos dias atuais prioriza-se o envelhecimento ativo. Palavras-chave: envelhecimento, imagem corporal, autocuidado, Enfermagem. Abstract Nurses image and preparation about their own aging This qualitative, exploratory, descriptive and cross-sectional study aimed at knowing the image and the preparation of nurses of Itajubá/MG about their own aging. This was an intentional sampling. After the approval of Research Ethics Committee of Escola de Enfermagem Wensceslau Braz, data were collected, from January 2011 to April 2011, using an interview. Data were analyzed and interpreted using the Collective Subject Speech. Based on twenty nurses interviewed, 95% were female, 75% married, 40% worked at Healthcare Centers. The average age was years old, number of children was 2.13, the number of jobs was 1.25 and 37.4 weekly working hours. The results were divided into two Artigo recebido em 19 de junho de 2013; aceito em 31 de julho de Endereço para correspondência: Ana Caroline da Costa, Rua Severiano Ribeiro Cardoso, 166 São Vicente Itajubá MG, carol-k-z@hotmail.com, aldaizafortes@yahoo.com.br 198

202 Julho / Agosto 2013;12(4) topics. In the topic how does nurse see his/her own aging, the most frequent ideas were: natural process, accepting aging, acquiring life experience and very unhappy. In relation to the topic nurse s personal aging planning the ideas were: yes, looking for a healthy aging, I don t think about and I m not prepared and no, because I don t have time to think about. We concluded that most of nurses do not think about their own aging, do not see them old and do not prepare themselves for a healthy old age. The negative image that was observed in this study should be changed, because nowadays the priority is active aging. Key-words: aging, body image, self-care, Nursing. Resumen La imagen y la preparación de las enfermeras acerca de su propio envejecimiento Estudio cualitativo, exploratorio, descriptivo y transversal, con el objetivo de conocer la imagen y la preparación de los enfermeros, de la ciudad de Itajubá-MG, acerca de su propio envejecimiento. El muestreo fue de tipo intencional. Después de la aprobación del Comité de Ética en Investigación de la Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá-MG, se recogieron los datos de enero a abril de 2011, a través de una entrevista. Los datos fueron analizados e interpretados utilizando el Discurso del Sujeto Colectivo. De los 20 enfermeros entrevistados, el 95% eran mujeres, 75% casados, 40% trabajaban en la Unidad Básica de Salud. La edad media fue de 48,75 años, el número de hijos fue 2,13, el número de puestos de trabajo 1,25 y 37,4 horas semanales de trabajo. Los resultados se dividieron en dos temas. Con respecto al tema como el enfermero se ve envejeciendo las ideas centrales más frecuentes fueron: Como un proceso natural, aceptar el envejecimiento, la adquisición de experiencias de la vida y muy triste. En cuanto al tema preparación del enfermero para el propio envejecimiento, fueron: sí, tratando de tener un envejecimiento saludable, no pienso y no estoy preparado y no, se debe a la falta de tiempo. Se concluye que la mayoría de los enfermeros aún no piensan en su propio envejecimiento, no se imaginan ancianos, y mucho menos se preparan para tener una vejez saludable. La imagen negativa que se destaca en este estudio debe ser cambiada, porque hoy en día se prioriza el envejecimiento activo. Palabras-clave: envejecimiento, imagen corporal, autocuidado, Enfermería. Introdução Envelhecer é um processo natural, característico de qualquer ser humano, portanto, caso não ocorra nenhum imprevisto durante o percurso de nascer-desenvolver-envelhecer-morrer, todos tornar- -se-ão velhos um dia. O envelhecimento preocupa a população em geral. Muitos temem atingir a velhice e, dessa forma, desencadeiam sentimentos e percepções ruins para esse período do ciclo da vida [1]. Com o aumento progressivo da expectativa de vida em nível mundial, nas últimas décadas, a assistência de saúde à pessoa idosa passou a ter prioridade. A longevidade traz consigo inquietações, pois as pessoas desejam viver mais, porém temem a incapacidade e a dependência [2]. Por conta disso, é necessário, conquistas na melhoria da qualidade de vida com ações concretas de promoção de atividades que sejam capazes de introduzir hábitos saudáveis de vida, ao mesmo tempo em que os serviços de saúde estejam preparados para conhecer e conduzir situações ampliadas do processo saúde doença [3]. Atualmente, não interessa apenas prolongar a vida das pessoas, mas sim promover um envelhecimento saudável, ativo e bem sucedido. O envelhecimento ativo é o processo de otimização das oportunidades de saúde, segurança e participação. Para obter um envelhecimento bem sucedido, deve-se envolver aspectos como: promoção da saúde; ajuste físico e prevenção de incapacidades; otimização e compensação das funções cognitivas; a promoção do desenvolvimento afetivo e da personalidade, e ainda, a maximização do envolvimento social do indivíduo [4]. O aumento do número de pessoas idosas traz a necessidade de formação e capacitação específica para todos que atuam na formação dos profissionais dos serviços de saúde e sociais. Produzindo, como resultado, um profissional aprimorado e renovado, capaz de atender a toda essa população que envelhece. A capacitação dos profissionais atuantes é feita através de programas de treinamento específicos para o cuidado ao idoso, produzindo, como resultado, 199

203 Julho / Agosto 2013;12(4) O presente estudo é de abordagem qualitativa, do tipo exploratório, descritivo e transversal. A pesquisa qualitativa é um meio para explorar e entender o significado que os indivíduos ou grupos atribuem a um problema social ou humano. Trata-se de uma atividade da ciência, que visa à construção da realidade, mas que se preocupa com as ciências sociais em um nível de realidade que não pode ser quantificado, trabalhando com o universo de crenças, valores e significados [8]. Já as pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses [9]. A pesquisa descritiva identifica as características de determinada população ou fenômeno. Elas objetivam identificar os fatores que interferem ou condicionam a ocorrência dos fenômenos [10]. Esta pesquisa foi realizada na cidade de Itajubá- -MG, a qual é centro de referência em assistência à saúde para microrregião do Alto Sapucaí. A cidade conta com dois hospitais credenciados para o Sistema Único de Saúde (SUS) e clínicas particulares [11]. Baseados nas informações dos hospitais, Secretaria de Saúde e faculdades de enfermagem da cidade, em 2010, Itajubá tinha 135 profissionais de enfermagem atuantes. A amostragem foi do tipo intencional, constituída por 20 enfermeiros. Na amostragem do tipo intencional, o pesquisador seleciona sujeitos para a pesquisa baseado em critérios que atendem ao objeto, aos objetivos da pesquisa, à relação direta com representatividade ou produtividade efetiva da pesquisa [12]. Os critérios de elegibilidade dos participantes da pesquisa foram: ser enfermeiro de ambos os gêneros e ter 40 anos de idade ou mais; estar exercendo a profissão, independente do tempo; residir em Itajubá e concordar em participar da pesquisa. O instrumento utilizado para coleta de dados foi um roteiro de entrevista semiestruturada, na qual se obtém dados por meio da fala, revelando condições estruturais de sistemas de valores, norum profissionalismo mais atuante e renovado e que aborde os aspectos éticos, técnicos e políticos, consolidando uma ética de qualidade, a busca de competência técnica e o compromisso político com resultados, efetividade e respeito aos cidadãos idosos [5]. Os profissionais de saúde, principalmente o enfermeiro, que estão mais diretamente próximos da população, são aptos e estão se capacitando cada vez mais para oferecer uma assistência eficaz e individualizada, promovendo a saúde da população idosa. Mas, será que estes profissionais estão pensando em seu próprio envelhecimento? A enfermagem entra na lista das profissões desgastantes, devido ao contato com doenças, riscos de natureza física, química, biológica e psíquica. A organização do trabalho que permeia o cotidiano da equipe de enfermagem pode desencadear o estresse, como: as jornadas de trabalho prolongadas e os ritmos acelerados de trabalho; a atitude repressora e autoritária de uma hierarquia rígida e vertical; a fragmentação das tarefas; a ausência de reconhecimento da enfermagem como essencial e a inadequação da legislação em seu exercício profissional [6]. Para cuidar do próximo é necessário ter o autocuidado, estar bem consigo mesmo para sentir-se preparado ao prestar a assistência, portanto todos devem ter em mente e planejar seu próprio envelhecimento, pois com o aumento da longevidade há também um aumento no tempo de trabalho de cada um, causando um desgaste ao profissional, podendo acelerar o seu processo de envelhecimento. O cuidado de si não é específico do enfermeiro, todo e qualquer profissional da área da saúde tem que se preocupar consigo, para então ter condições de cuidar do outro. Porém, é o enfermeiro que mais contato tem com o ser doente ou saudável, que mais convive com o sofrimento do outro. Assim, não pode deixar de cuidar de si, de ter uma relação saudável consigo, pois, só assim, pode se relacionar bem com o outro e cuidar do outro [3]. A forma como o profissional de enfermagem cuida do idoso está diretamente relacionada a sua percepção do envelhecimento [7]. Ao prestar a assistência à pessoa idosa, o enfermeiro projeta suas ações, seus cuidados, de maneira com que ele os receba mais tarde de alguém, quando se tornar uma pessoa idosa. Ele se coloca no lugar da pessoa a ser cuidada, desta forma, presta uma assistência mais humanizada e eficaz, promovendo a melhoria na qualidade de vida do ser que envelhece. Com base nas argumentações expressas, este estudo teve como objetivos: conhecer a imagem dos enfermeiros da cidade de Itajubá-MG acerca do próprio envelhecimento e conhecer o planejamento dos enfermeiros em questão sobre o próprio envelhecimento. Material e métodos 200

204 Julho / Agosto 2013;12(4) mas e símbolos, e, ao mesmo tempo, transmite por porta voz as representações sociais de grupos determinados, em condições históricas socioeconômicas e culturais específicas [13]. Esse roteiro foi constituído por duas partes, sendo, a primeira, referente aos dados pessoais dos participantes da pesquisa (idade, sexo, estado civil, número de filhos, número de empregos, local de trabalho, carga horária semanal de trabalho e tempo de exercício da profissão), e a segunda aborda duas questões abertas inerentes aos objetivos do estudo:... Se alguém lhe perguntar como você se vê envelhecendo, o que você responde?... Você está se preparando para seu envelhecimento? Comente. Os dados foram analisados e interpretados utilizando-se o método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC), embasado na Teoria das Representações Sociais (TRS). O DSC é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza verbal obtidos de depoimentos, artigos de jornal e revistas. É uma forma de fazer a coletividade falar diretamente [14]. Nesta pesquisa, o DSC utilizou três figuras metodológicas: Expressões-chaves (ECH), que envolvem trechos ou transcrições literais do discurso, que devem ser sublinhadas, iluminadas, coloridas pelo pesquisador, e que revelam a essência do depoimento. As Ideias Centrais (IC) é um nome ou expressão linguística que revela e descreve, de maneira simples, precisa e fidedigna, o sentido de cada discurso analisado e cada conjunto homogêneo de ECH, que vai dar início ao DSC. A IC não é uma interpretação, mas sim uma descrição do sentido de depoimento ou de um conjunto de depoimentos [14]. Além do instrumento semiestruturada, também foi utilizado o recurso de gravação com posterior transcrição de falas, garantindo a fidedignidade dos relatos. O anonimato dos enfermeiros ocorreu denominando-os com a letra E de enfermeiro, seguida de numeração ordinal conforme as entrevistas iam acontecendo. A coleta de dados se iniciou após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá-MG, no período de 2011, com parecer consubstanciado nº 587/2010. Resultados e discussão Os resultados mostram que 95% dos entrevistados são do sexo feminino, 75% são casados, 40% atuam em UBS. A média de idade foi de 48,75 anos; o número de filhos foi de 2,13; a média de número de empregos foi de 1,25 e a carga horária semanal de trabalho foi de 37,4 horas. Ao analisarmos as respostas dos entrevistados referentes à questão aberta: como você se vê envelhecendo?, obtivemos as ideias centrais: Como um processo natural, Aceitando envelhecer, Adquirindo experiências de vida, De várias formas, Com muitas indagações, Muito triste, Uma surpresa, Não penso nisto, Preocupada com o Físico e com as doenças, Com realização da vida. Em relação à imagem que os enfermeiros têm sobre o seu próprio envelhecimento, sobressaiu a ideia central de vê-lo como um processo natural (11 sujeitos), representada no DSC: Eu vejo como um processo natural, nascemos, vivemos e envelhecemos [...] por ser natural, eu penso que ele vai acontecendo [...] eu tenho noção que eu estou envelhecendo, mas isso não me incomoda, e eu ainda me considero nova. Eu não me preocupo com espelho. Quero envelhecer naturalmente, mas o mais importante é você se aceitar e ser aceita pelas pessoas. Eu me vejo muito bem... faz parte da nossa vida. É bom, significa que nós estamos vivendo mais. Acho o envelhecimento um processo normal e que todos um dia enfrentarão. É uma situação natural da vida... sei que as dores aumentam, os cabelos estão brancos, mais não me assusto. É tão natural que faz parte da vida... Vejo como um processo natural, estou bem. O envelhecimento deve ser encarado como parte da evolução natural do organismo e não como doença [2]. Estudos evidenciam que, atualmente, o entendimento acerca do que seja velhice vem se modificando devido ao aumento considerável da população idosa, fazendo com que as pessoas encarem-na de forma natural. É preciso saber envelhecer, compreender e enfrentar o envelhecimento, pois este faz parte do ciclo normal da vida humana [15]. Outros enfermeiros se veem adquirindo experiências de vida no decorrer do envelhecimento, o que nos faz refletir que o processo de envelhecimento é progressivo, passa-se por várias etapas até atingi-lo e, no decorrer deste trajeto, aprendemos inúmeras coisas, enfrentamos obstáculos, situações diversas que, após serem superadas, fazem-nos recordar tudo o que já foi vivido, servindo como experiência 201

205 Julho / Agosto 2013;12(4) e aprendizado. Esta ideia central está mostrada no DSC abaixo: Mas temos que aceitar que passamos por várias fases na vida e tudo que passou muitas vezes serve como experiência de vida. É uma experiência grandiosa e reflexiva. Vejo- -me ficando mais madura e experiente em todas as partes da vida, porém com algumas doenças [...] Me vejo mais experiente e com direito de aproveitar mais a vida. As experiências vividas e os saberes acumulados são ganhos que oferecem oportunidades de explorar novas identidades, realizar projetos abandonados em outras etapas, estabelecer relações mais profícuas com o mundo dos mais jovens e dos mais velhos [15]. Com o passar dos anos é que sabemos, realmente, o que significa viver. Com as experiências adquiridas, com a maturidade, com os erros e acertos é que criamos nossa concepção sobre o que é envelhecer. Muitos separam a velhice em aspectos positivos e negativos, mas isso irá depender da maneira com que nos preparamos e encaramos o envelhecimento. Na segunda questão aberta: você está se preparando para o envelhecimento? emergiram as ideias centrais: Não penso e não estou preparada, Não, pela falta de tempo, Não, gostaria de me preparar mais, Não, é um processo natural, Sim, procurando ter um envelhecimento saudável, Sim, com dificuldade, Sim, naturalmente e com limitações, Tento, mais é difícil aceitar, Exercitando o corpo e a mente e Tem momentos que sim e tem momentos que não. Ao analisar este tema, percebeu-se que três ideias centrais sobressaíram, sendo discutidos por sete sujeitos: não penso e não estou preparada e sim, procurando ter um envelhecimento saudável e Não, pela falta de tempo. Constata-se que as ideias são opostas: de um lado os enfermeiros relataram a falta de preparo e outros se referiram à preocupação com seu envelhecimento, almejando ter uma boa qualidade de vida na velhice. Muitos enfermeiros não pensam e não se preparam para o envelhecimento, nem para o fato de que podem se tornar idosos fragilizados, com limitações e com preconceito de sua própria idade. A maneira de ver o mundo, a forma de viver o dia a dia, a boa alimentação, as boas relações interpessoais, as atividades físicas regulares, e o planejamento de seu envelhecer contribuem para uma velhice com mais qualidade [1]. A negação é um mecanismo de defesa em que o indivíduo se recusa a reconhecer a existência de uma situação real ou de um sentimento a ela associado [2]. Por enquanto não penso e não estou preparada! Espero que não seja tarde demais [...] Não estou preparada para envelhecer, poucas pessoas estão porque a primeira questão em que se pensa é na dependência, na solidão, no ficar a margem da sociedade que continua correndo. Deixo de pensar neste fato [...] Não estou preparando de maneira nenhuma. Eu não estou preparada para envelhecer, tenho procurado me valorizar em outras áreas, como o espiritual, porém é muito difícil aceitar o envelhecer físico, pois está ligada a doença, gastos e a morte. Ainda não pensei e não me preparo. O processo de envelhecimento ainda é visto por muitos como uma fase de declínio, em que poucos são os benefícios e aquisições dos quais se pode desfrutar. A percepção de perda, incapacidade e doença se faz presente na mente de pessoas das mais diferenciadas faixas etárias, incluindo a dos próprios idosos. Há uma forte crença de que as perdas estão intimamente ligadas à velhice, e que os ganhos estão relacionados às demais fases do desenvolvimento [15]. Por outro lado os enfermeiros também expressam que se preparam, procurando ter um envelhecimento saudável, o que faz pensar que alguns enfermeiros se empenham em buscar uma velhice agradável, ativa e com saúde. Esta é a forma correta de refletir e preparar para o envelhecimento, pois esta etapa exige mais cuidados e esses devem ser realizados no decorrer da vida, não só quando se atinge uma idade mais avançada. É importante preparar-se fisicamente, mas também, espiritualmente, psicologicamente e socialmente, a fim de diminuir os impactos causados pelo processo de envelhecer. Os benefícios da atividade física para a saúde e longevidade são intuitivamente conhecidos desde o princípio dos tempos, existindo benefícios bem demonstrados sobre vários parâmetros que afetam a saúde e a longevidade [16]. Mudanças no estilo de vida, incluindo atividade física e dieta, podem contribuir para o processo 202

206 Julho / Agosto 2013;12(4) de prevenção de doenças e de problemas funcionais que se manifestam com a idade [6]. Eu tenho batalhado bastante para ter um envelhecimento saudável... Pelo menos dois dias da semana eu vou à musculação mesmo que for meia hora. A gente tem que ter uma boa alimentação, fazer exercício físico e ter amigos, então, eu tenho buscado e pensado muito sobre esses aspectos e dedico a minha vida a Deus. Quero vivê-la bem, com saúde. Procuro viver bem, para ter uma velhice saudável, com qualidade... Através de uma boa alimentação e principalmente gostar de viver, gostar e estar satisfeito com a sua vida. [...] Procuro me alimentar bem e praticar atividade física, não é muito, mas ajuda. Procuro preservar minha saúde mental, evitando grandes preocupações, não levar uma vida sedentária... Mantendo um ritmo de vida ativa. A atividade física é muito importante no processo de envelhecimento. No entanto, faz-se necessária uma avaliação sistematizada do tipo de exercício a ser realizado, pois irá depender do organismo e da vontade de cada indivíduo [16]. A qualidade de vida é influenciada pelo estilo de vida de cada um, e um estilo de vida saudável inclui a atividade física (AF) regular, considerada um componente importante. São incluídos, ainda, bons hábitos alimentares, sono adequado, controle de peso e baixo consumo de álcool e de tabaco [6]. O DSC dos participantes também foi marcado pelo fato de não se prepararem para o envelhecimento devido à falta de tempo, como demonstra o relato abaixo. Não tenho tempo de praticar nada de exercícios, minha vida é muito corrida. Minha sobrecarga é grande [...] Muitas vezes a gente fica só no serviço: cedo, à tarde e à noite. Muitos profissionais de enfermagem possuem mais de um vínculo empregatício, pois a remuneração recebida, na maioria das vezes, é insuficiente para manter seu padrão de vida. Com isso, deixam de exercer atividades de lazer, que geram bem estar, e também atividades físicas para a manutenção de sua saúde, podendo contribuir, desta forma, para que o envelhecimento chegue mais cedo e com ele as doenças crônico-degenerativas. Estudos mostram que os principais estressores presentes no cotidiano de trabalho são as condições precárias de trabalho, a sobre carga de trabalho e a excessiva jornada de trabalho. Quanto ao nexo causal entre o processo de trabalho e o adoecimento, encontraram-se, principalmente, queixas alusivas a problemas de coluna e a problemas cardiovasculares. Portanto, o estresse ocupacional decorrente de um processo de trabalho hospitalar, marcado por condições precárias de traba lho e pelo aumento da jornada de trabalho, tem fortes repercussões no cotidiano profissional e pessoal dos enfermeiros [17]. Sabe-se que a profissão de enfermagem requer muita dedicação. Ela exige tempo, disponibilidade, conhecimento, habilidade, destreza e paciência do profissional, tornando-se, muitas vezes, um trabalho de risco e desgastante para a vida do enfermeiro, podendo acelerar seu próprio envelhecimento, além de ser, na maioria das vezes, pouco reconhecida e remunerada. O enfermeiro é um profissional que vive sob condições de trabalho que podem causar malefícios a sua saúde quando o mesmo deveria ter condições adequadas para se dedicar à prestação de uma assistência efetiva e eficaz, visando à qualidade de vida dos pacientes. Salienta-se que, estando a qualidade de vida do profissional enfermeiro prejudicada, o mesmo pode ter dificuldade em atuar como agente promotor de saúde [18]. A inatividade física e a sobrecarga de estresse aumentam a fragilidade da pessoa que está envelhecendo, podendo torná-la vulnerável a desenvolver, a longo prazo, mais incapacidades quando confrontada com episódios crônicos e agudos. Ressalta-se que a prática de qualquer atividade física é importante para um envelhecimento saudável e independente [6]. Portanto, é fundamental encarar o envelhecimento sem medo. Deve-se pensar que será uma extensão dos hábitos saudáveis, ou não, que se mantiver ao longo da vida. Ninguém fica velho de um dia para o outro. O envelhecimento é um processo que ocorre, diariamente, desde o momento do nascimento. Sendo assim, é preciso preparo e planejamento para encará-lo de forma natural. Para os enfermeiros, a imagem que possuem da sua velhice ora tem aspecto positivo, ora negativo, o que tornou evidente nas ideias centrais e DSC, bem como quando responderam sobre o preparo para o 203

207 Julho / Agosto 2013;12(4) próprio envelhecimento. Alguns enfermeiros responderam que não se preparam, o que se torna preocupante nos dias atuais. Outros buscam a obtenção de qualidade de vida para sua velhice e se esforçam que tenham uma vida saudável através da prática de exercícios e de uma alimentação adequada. Diante do estudo, percebe-se que a maioria dos enfermeiros ainda não reflete sobre seu próprio envelhecimento, não se imagina velho e muito menos se prepara para ter uma velhice saudável. Essa maioria atribui à falta de preocupação consigo mesmo, à falta de tempo decorrente das atividades do dia a dia, evidenciado pelas ideias centrais Não, pela falta de tempo e Não, gostaria de me preparar mais, encontradas nos resultados. A imagem negativa que se sobressaiu neste estudo deve ser mudada, pois com o aumento da longevidade, prioriza-se, nos dias atuais, o envelhecimento ativo, no qual todos, inclusive os enfermeiros, devem estar cientes desta nova concepção e que envelhecer não é adquirir doenças, afastar-se do trabalho e sociedade. Esta mudança deve partir da percepção de cada um, para que se planeje e se prepare a fim de ter uma velhice saudável e com boas recordações. Deve-se conscientizar de que o envelhecimento traz alterações físicas, psicológicas, sociais, econômicas e espirituais, devendo ser encarado como mais uma etapa da vida, assim como foi a infância, a adolescência e a idade adulta. Porém, exige algumas adaptações, visto que há um declínio nas funções do organismo. Mas isso não significa que, ao envelhecer, o indivíduo não seja mais ativo, ao contrário, ele deve adquirir novos hábitos que se enquadrem dentro da sua capacidade atual, favorecendo ainda mais um envelhecimento com qualidade de vida. Estudos afirmam que a presença da doença não estabelece a velhice, pois envelhecer é um processo natural e inevitável. Sendo assim, um idoso com uma ou mais doenças crônicas pode ser considerado saudável se houver o controle terapêutico dessas doenças, sem a presença de sequelas e de incapacidades associadas [19]. Manter o bem-estar e/ou lidar com o adoecimento são experiências constantes na vida daqueles que enfrentam o envelhecimento, razão por que é necessário promover a saúde e estimular comportamentos com o objetivo de manter a autonomia e o envelhecimento dito saudável [19]. Tornou-se evidente também que alguns enfermeiros do estudo se sentem felizes e realizados ao chegar à velhice, pois encontram nela o prazer de desfrutar a vida, que antes era agitada pelo estudo, trabalho e cuidados com a família. Alguns procuram ter um envelhecimento saudável através de boa alimentação, atividades de lazer e bons relacionamentos com familiares e amigos. Ainda bem que alguns enfermeiros entrevistados reconhecem que o preparo correto para o envelhecimento não é segmentado. Ao contrário, envolve o preparo do corpo, da mente, do espírito e do social. No entanto, atualmente, o contexto em que estão inseridos faz com que o preparo para o envelhecer seja fragmentado. A rotina diária dos enfermeiros é tão intensa que eles deixam o autocuidado para segundo plano. Quando planejam ter um envelhecimento saudável, fazem-no em partes, ora se preocupam com o corpo, com a manutenção da boa forma, ora se preocupam em diminuir o estresse do dia a dia, procurando um bom relacionamento com os amigos, com familiares e mantendo vínculos positivos com os mesmos. Conclusão Acredita-se que, com este estudo, não só os enfermeiros, mas os alunos de Enfermagem e a população em geral, despertarão para uma reflexão do seu próprio envelhecimento e buscarão uma maneira de se preparar para atingir uma velhice de forma saudável e ativa. Percebe-se que falta um despertar para este tema de preparo para o envelhecimento, para a conscientização da população de que ele é necessário e que deve ser um processo contínuo e praticado por todos. Agradecimentos Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) pelo apoio. Referências 1. Reis AA. Um novo olhar para a velhice. Revista Portal de Divulgação 2011;1. [citado 2012 Jan 10]. Disponível em URL: org.br. 2. Mancia JR, Portela VCC, Viecili R. A imagem dos acadêmicos de enfermagem acerca do próprio envelhecimento. Rev Bras Enferm 2008;61(2): Silva IJ, Oliveira MFV, Silva SED, Polaro SHI, Radunz V, Santos EKA et al. Cuidado, autocuidado e cuidado 204

208 Julho / Agosto 2013;12(4) de si: uma compreensão paradigmática para o cuidado de enfermagem. Rev Esc Enferm USP 2009;43(3): Guiomar VCRV. Compreender o envelhecimento bem- -sucedido a partir do suporte social, qualidade de vida e bem-estar social dos indivíduos em idade avançada Beja: Instituto Politécnico de Beja; Santos NC, Meneghin P. Concepção dos alunos de graduação de enfermagem sobre o envelhecimento. Rev Esc Enferm USP 2006;40(2): Vidmar MF, Potuski AP, Sachetti A, Silveira MM, Wibelinger LM. Atividade física e qualidade de vida em idosos. Revista Saúde e Pesquisa 2011;4(3): Leite MT. A velhice pessoal no imaginário de estudantes de enfermagem. Estudo, Interdisciplinares e Envelhecimento: Porto Alegre; p Creswell JW. Projeto de Pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 3a ed. Porto Alegre: Artmed; Gil AC. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas; Boaventura EM. Metodologia da Pesquisa: monografia, dissertação e tese. São Paulo: Atlas; p. 11. Prefeitura Municipal De Itajubá Site Oficial [citado 2010 Nov 11]. Disponível em URL: http: www. itajuba.mg.gov.br. 12. Dyniewicz AM. Metodologia da pesquisa em saúde para iniciantes. 2a ed. São Caetano do Sul: Difusão; p. 13. Minayo MCS. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes; Lefèvre F, Lefèvre AMC. O Discurso do Sujeito Coletivo: uma nova proposta de processamento de dados em pesquisa qualitativa. São Paulo: EDUCS; Kuznier TP, Leonardt MH. O idoso hospitalizado e o significado do envelhecimento. Revista de Enfermagem do Centro Oeste Mineiro 2011;1(1): Mazini Filho MLM, Zanella AL, Aidar FJ, Silva AMS, Salgueiro RS. Atividade física e envelhecimento humano: a busca pelo envelhecimento saudável. Revista Brasileira de Ciências do Envelhecimento Humano 2010;7(1): Linch GFC, Guido LA, Umann J. Estresse e profissionais da saúde: Produção do conhecimento no centro de ensino e pesquisas em enfermagem. Cogitare Enferm 2010;15(3): Sampaio DAL. Estresse no profissional de enfermagem: Revisão de literatura. Revista Ciência e Consciência 2011;2. [citado 2012 Abr]. Disponível em URL: revista.ulbrajp.edu.br 19. Medeiros FALM, Rodrigues RPL, Nóbrega MML. Visão de acadêmico de enfermagem em relação ao processo de envelhecimento. Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste 2012;13(4):

209 Artigo original Enfrentamento dos pais frente aos filhos prematuros e hospitalizados em UTI neonatal Fernando Antônio Joaquim*, Mariana Freitas Comin, M.Sc.** *Acadêmico do Curso de Enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, **Professora do Curso de Enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC Resumo Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, do tipo descritiva exploratória, desenvolvido em uma unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal, de um Hospital Materno Infantil localizado na região do Extremo Sul Catarinense, com 12 pais de recém-nascidos (RN) prematuros. O objetivo foi identificar quais os principais sentimentos expressados pelos pais em relação à hospitalização dos filhos prematuros em UTI neonatal. Os dados foram levantados através da aplicação de entrevista semiestruturada. Como resultados, os participantes apresentavam um misto de medo e insegurança diante da internação de seus filhos na UTI neonatal, mas, também, tinham os que sentiam alívio e esperança por estarem nessa unidade equipada e preparada para atender os RN prematuros. O estudo possibilitou concluir que fatores de risco como a idade, o nível socioeconômico baixo, a baixa escolaridade, o uso de substâncias entorpecentes como álcool e drogas ilícitas estão associados à prematuridade. E quanto ao enfrentamento dos pais diante de seus filhos prematuros internados em UTI neonatal, podemos concluir que, em quase sua totalidade, esses se encontram preparados e amparados para essa situação, sendo esse reflexo de uma boa equipe multidisciplinar. Palavras-chave: prematuro, unidade de terapia intensiva neonatal, Enfermagem. Abstract Parents feelings of premature babies who were hospitalized in neonatal ICU This is a qualitative study with descriptive exploratory approach which was developed in a neonatal intensive care unit (ICU) of a Maternal and Infant Hospital in South Extreme region of Santa Catarina, with 12 parents of premature babies. The aim was to identify the main feelings parents expressed in relation to hospitalization of premature babies in ICU. Data were collected using a semi-structured interviewed. The results pointed out that the participants showed a mixture of fear and insecurity relating to their babies hospitalization in the neonatal ICU, but there are also others that felt relief and hope as this care unit is well-equipped and trained care staff to help premature babies. The study concluded that factors such as age, low socioeconomic status, low education, use of narcotic substances (alcohol and illicit drugs) are associated with prematurity. And it also concluded that most of the parents of these babies are prepared and had support to face their children hospitalization in the ICU, which showed that the multidisciplinary team is well trained. Key-words: premature infant, neonatal intensive care unit, Nursing. Artigo recebido em 12 de julho de 2012; aceito em 24 de julho de Endereço para correspondência: Fernando Antônio Joaquim, Rua Paris, 302, Cocal do Sul SC, kolucha@hotmail.com 206

210 Julho / Agosto 2013;12(4) Resumen Reacción de los padres frente a la hospitalización de recién nacido prematuro en UCI neonatal Se trata de un estudio cualitativo, descriptivo, exploratorio, desarrollado en una unidad neonatal de cuidados intensivos de un Hospital Materno Infantil ubicado en el extremo Sur de Santa Catarina, con 12 padres de bebés prematuros. El objetivo fue identificar los principales sentimientos manifestados por los padres con respecto a la hospitalización de sus hijos prematuros en la UCI neonatal. Los datos se obtuvieron mediante aplicación de entrevista semiestructurada. Los resultados apuntaron que los participantes sentían una mezcla de miedo e inseguridad frente a la hospitalización de sus hijos en la UCI neonatal, pero, también, había los que sentían alivio y esperanza por estar en esta unidad equipada y preparada para cuidar de recién nacidos prematuros. El estudio permitió concluir que los factores de riesgo como la edad, el nivel socioeconómico bajo, el bajo nivel educativo, el uso de sustancias estupefacientes tales como el alcohol y las drogas ilícitas, están asociadas con la prematuridad. Se concluyó también que la mayoría de los padres están preparados y fueron amparados para enfrentar la hospitalización de sus hijos en la UCI neonatal, por lo tanto demuestra el reflejo de un equipo multidisciplinario bien entrenado. Palabras-clave: prematuro, unidad de cuidados intensivos neonatal, Enfermería. Introdução O momento do parto, para muitos, é algo sagrado e divino e é influenciado por muitos fatores. Historicamente o acompanhamento do trabalho de parto ocorria no ambiente domiciliar, no qual a mulher era assistida geralmente por uma parteira de confiança da família. O nascimento prematuro é definido como aquele que ocorre até 37 semanas de gestação. Um recém-nascido (RN) é considerado de baixo peso quando atinge um peso igual ou menor que 2.500g. Nascem anualmente no mundo, 20 milhões de crianças prematuras. Destas, um terço morre antes de completar um ano [1]. Acredita-se que no ambiente hospitalar não há apenas os sentimentos de medo, insegurança, desespero e preocupações por parte dos recém- -nascidos (RN), mas também estes sentimentos refletidos nos pais, tendo este pensamento como objeto desta pesquisa. Teve-se como objetivo da pesquisa identificar quais os principais sentimentos expressados pelos pais em relação à hospitalização dos filhos prematuros em UTI Neonatal. Esses problemas já preocupam profissionais da área da saúde, no entanto pensávamos em como ficariam esses pais, que sentimentos apresentariam diante de um filho prematuro e toda essa problematização, por isso iniciamos nossa pesquisa com a seguinte indagação: Quais os sentimentos e percepções dos pais em relação à necessidade de internação em UTI Neonatal de seus filhos prematuros? Material e métodos Foi desenvolvida uma pesquisa de abordagem qualitativa do tipo descritiva e exploratória que buscou conhecer os sentimentos e percepções dos pais de recém-nascidos prematuros hospitalizados em Unidade de Terapia Intensiva neonatal, na tentativa de compreender com maior aprofundamento estas sensações para, então, estabelecer novas alternativas de cuidado aos pais. Os dados foram coletados por meio de entrevista semiestruturada aplicada pelo próprio pesquisador ao término da visita dos pais aos seus filhos na UTIN. As entrevistas foram previamente agendadas, sendo realizadas com doze (12) pais de RN prematuros no período de 17 de abril a 31 de maio de O estudo foi desenvolvido na UTI neonatal de um Hospital Materno infantil localizado na região do Extremo Sul Catarinense. O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da instituição de ensino e seguiu o disposto pela resolução 196/96. A pesquisa foi iniciada somente depois da aprovação do comitê, com parecer de nº

211 Julho / Agosto 2013;12(4) Resultados Etapa I: categorização dos dados Participaram deste estudo doze (12) pais, de nível socioeconômico variado e que estavam com seus filhos RNs internados. A idade dos pais teve uma variação entre 18 e 29 anos, e, a maioria dos pais tinha apenas um filho. Ainda, a metade das mães estava em uma faixa etária acima de 24 anos e a renda em sua maioria era em média de 1 a 3 salários mínimos. Percebeu-se que 05 mulheres tiveram algum tipo de aborto antes desta gestação. Há mulheres que podem apresentar abortos sucessivos, o que pode abalar emocionalmente e interferir no relacionamento com seu cônjuge. Sendo que todos os partos foram cesarianos. Evidenciamos que a idade gestacional variou entre 31 e 36 semanas e percebemos que a qualidade da atenção pré-natal foi insatisfatória. Relacionado aos vícios da mãe, percebemos que seis dessas mães negam qualquer tipo de vícios, no entanto a metade das entrevistadas (6) são preocupantes pelo fato de serem usuárias tanto de drogas lícitas como ilícitas (3 tabagistas), como de drogas lícitas (2 usuárias de maconha e 1 usuária de maconha e cocaína), podendo esse fato estar relacionado ao estado atual de seus bebês. Quanto às comorbidades das mães, apenas duas (2) referiram ter diabetes mellitus. Discorre-se a pesquisa com a categorização das respostas a seguir. Etapa II: categorização das respostas Em se tratando de acontecimento com o RN, percebeu-se que os participantes tinham a intenção e a vontade de levarem seus filhos para casa, isso está evidente em algumas falas a seguir: Imaginava tudo diferente parto normal, pegar ele no colo e levar para casa. (P10) Queria levar nosso filho para casa, para o quartinho dele que montamos com tanto amor. (P12) Quando questionados sobre as informações recebidas, e se essas foram suficientes para sua compreensão, percebemos que as mesmas foram repassadas pelos médicos e enfermeiras, e nenhum dos participantes apresentou sugestões para melhorias, concordando que essas são suficientes. Além disso, conheciam o funcionamento da UTI e o estado de saúde do seu filho. Podendo ser percebidas nos relatos que seguem. Recebi as informações da equipe de enfermagem e dos médicos, está bem bom não tenho que reclamar. (P3) Nas orientações que recebemos, a equipe esclarece tudo, que não podemos ficar o tempo todo na visita, estão nos passando tudo sobre o estado dele. (P3) Sei que meu filho está aqui por ter baixo peso e ser prematuro. (P6) Quando indagados sobre a internação do RN na UTI neonatal, os participantes expressaram sentimentos de culpa, impotência e perda iminente. No momento que sabem que ele precisa ficar internado o sonho é desfeito e tudo que foi planejado desmorona. Ficando claro no comentário a seguir: Eu me senti impotente, um nada. (P4) Nos três dias que fiquei internada não pude estar com o meu bebê, me senti um lixo. (P12) Mesmo passando por um momento tão difícil percebemos que os participantes expressavam sentimentos de satisfação e alívio ao verem seu pequeno bebe respirando ainda com vida. Tal fato fica evidente no que diz os participantes. Eu senti alívio de ver meu filho com vida. (P1) Senti-me impotente, chorei muito, e quando vi meu filho lutando pela vida comecei a ver o mundo diferente. (P11) Na instituição pesquisada, a visita na UTI neonatal acontece três vezes ao dia, sendo no período matutino e noturno 1 hora de visita, já no período vespertino a mesma é prolongada por mais 1 hora, ficando o RN na companhia de seus pais por 2 horas. Porém, nos finais de semana, é destinado

212 Julho / Agosto 2013;12(4) minutos do tempo para os avós dos bebês, talvez esse seja o único ponto que se discorda, pois se acredita que a interação entre toda família seria importante na recuperação do RN. Dos participantes a media de visita ficou em torno de duas a três vezes por dia, exceto P2 que visita seu filho apenas uma vez. Dos 12 RN do estudo oito deles recebiam visitas de suas avós nos finais de semana. Um dos objetivos desta pesquisa foi de identificar as orientações fornecidas aos pais de RN prematuros, essas se apresentaram eficazes conforme observado nas falas a seguir: A equipe é ótima meu filho está em boas mãos. (P4). Nossa! os técnicos de enfermagem e os médicos são muito bons. É uma família para nós. (P5) Analisando a relação conjugal de nossos participantes, percebemos que mesmo sendo quase a totalidade favorável a essa situação, dois desses nos preocuparam pelo fato de terem enfraquecido suas relações durante esse período difícil, pois se culparam e tentaram buscar a culpa no outro por essa situação desconfortável. Tornando esse momento ainda mais difícil. Por isso dividimos essa categoria em duas subcategorias, sendo uma positiva e outra negativa, sendo essas apresentadas a seguir. Discussão Nossa relação está razoavelmente bem, mais meu marido me culpa pela criança estar na UTI. (P3) No início bateu um desespero entre nós dois, quase nos separamos. Conversamos muito de tudo que nós passamos na vida, e agora estamos mais unidos. (P5) As causas mais importantes de mortalidade infantil, no Brasil, são a anóxia perinatal, as infecções e a imaturidade (bebê com menos de g. ao nascer) seguindo das malformações congênitas e doença pulmonar [2]. Entre os 130 milhões de crianças que nascem no mundo anualmente, cerca de 4 milhões morrem ainda no período neonatal. A autora assegura que desses óbitos, 99% acontecem em regiões com baixa renda [3]. Geralmente, a primeira visita da mãe ao seu filho internado na UTI Neonatal é o primeiro contato depois do nascimento, tratando-se de uma ocasião de significado especial para ambos, tornando-se o momento em que ocorre o reconhecimento mútuo através da voz, do toque, do olhar. De modo a evitar maiores dificuldades, nesse primeiro encontro devem ser tomados diversos cuidados para o pronto estabelecimento do vínculo afetivo mãe-filho [4]. A expectativa de ter filhos perfeitos e saudáveis é comum para todos os pais, o que não foi diferente para as mães participantes desta pesquisa na qual o nascimento de um filho prematuro, em condições que implicaram em hospitalização, representou a ruptura na dinâmica do nascimento de ter um bebê saudável e poder levá-lo para casa poucos dias após o nascimento [5]. O acolhimento à família é importante para promover a saúde de todos os seus membros e garantir ao bebê um espaço que vai auxiliá-lo em seu desenvolvimento. O curso do desenvolvimento dos RN de baixo peso está firmemente atado às condições socioeconômicas nas quais eles vivem, o que pode ser observado também neste estudo. As evidências mostraram que o ambiente familiar da criança estava mais frequentemente implicado em um pobre desenvolvimento do que qualquer problema biológico ou complicações médicas em particular. Os estudos sobre ambiente passaram a usar marcadores mais refinados, que estão mais próximos de revelar as verdadeiras experiências da criança (interações mãe-bebê, entrevistas com os pais, eventos e interações domésticas). [...] As pesquisas mudaram de um exame quase descontextualizado para modelos ecológicos complexos incluindo um olhar mais detalhado para a ecologia familiar e especificamente aqueles que podem afetar a qualidade de cuidados que a criança recebe (stress, suporte social, personalidade e competência dos pais) [6]. É importante salientar que nos resultados obtidos observou-se que a equipe de saúde, assim, como é função de uma equipe multidisciplinar, informa tudo que acontece com os pacientes, nesse caso os RN, que estão hospitalizados e aos seus cuidados. Humanizar a assistência neonatal é atender de maneira individualizada as necessidades do recém- -nascido e de sua família, visando a ótima qualidade de cuidado, independente do resultado de sobrevida 209

213 Julho / Agosto 2013;12(4) ou a morte do recém-nascido. O cuidado humanizado deve ser capaz de transmitir aos pais o sentimento de solidariedade e de respeito à sua dor [7]. É de fundamental importância que à equipe de enfermagem da UTIN busque medidas que minimizem o sofrimento e a dor do bebê e sua família. A equipe de profissionais que trabalha na UTIN, em especial a enfermagem, é submetida a vários estímulos estressantes. O ritmo de trabalho é intenso e cansativo [8]. O olhar não é o suficiente para a construção do apego, é preciso tocar, acariciar, conhecer o bebê e suas reações pelo toque, sendo essa uma forma de aproximação importante durante a hospitalização, diminuindo um pouco a ansiedade característica dessa situação. Desde modo, mesmo, mesmo que o recém-nascido ainda não esteja em condições de receber os cuidados prestados por sua mãe devido ao seu quadro clinico, os profissionais devem incentivá-las a tocar e pegar seu filho no colo, para que possam vivenciar a aproximação, tornando as visitas na UTI motivadoras e favoráveis ao vínculo familiar [9]. Pode ser evidenciado na pesquisa que houve um sentimento de medo e alegria ao mesmo tempo. Para os pais, a UTIN é um ambiente de esperança e de medo. Esperança por saber que este é um local preparado para atender melhor o seu filho e aumentar as chances de sobrevida. Medo, por saber dos riscos inerentes aos pacientes que vão para este ambiente, e ainda, sentimentos de frustração, por não estarem, em geral, preparados para esta situação [8]. Em um primeiro momento mãe e bebê estão submetidos a uma série de restrições em função da imaturidade e instabilidade do bebê, o que dificulta o contato. Diante dessa situação, terão que redescobrir um caminho de aproximação e contato, o que promoverá a constituição e desenvolvimento do bebê enquanto recém-nascido. Os pais de RN são pessoas que ficam debilitadas pelo problema que estão passando com seus bebês. Ao realizarem a primeira visita ao recémnascido, o pai que idealizou o bebê perfeito se depara com a condição angustiante de ver seu filho necessitando de cuidados advindos de outras pessoas que não são seus parentes, como mãe e o pai. Isso é causador da dependência que gera esta situação, tornando a equipe que presta o cuidado um elo de ligação entre a família e o recém-nascido. É através dela que os pais saberão como foi o dia do bebê e qual é a sua evolução dia após dia. A assistência de enfermagem deve valorizar a interação profissional-família, estabelecer confiança, adequada comunicação e cooperação para realização de um cuidado efetivo [10]. Pensando assim, a visita ao recém-nascido é extremamente importante, pois o bebê se sentirá amado e desejado, e terá uma melhora e desenvolvimento mais rápido. O casamento é ainda a fonte estabilizadora das sociedades, por ser a base para geração das famílias é na sua acepção fidedigna. É onde as virtudes humanas são iniciadas e aprofundadas. Sabe-se que toda criança ao nascer pertence a um grupo familiar e está ligada diretamente a uma cultura. O estado de saúde depende de uma série de fatores relacionados aos pais, ao recém-nascido e ao ambiente onde ele vai viver, estando ligado ao fator socioeconômico da família. A gestação e o nascimento são considerados um processo social, uma vez que afetam a relação entre o marido e a mulher e o meio em que estão inseridos [9]. Quando a gestação é interrompida pelo nascimento prematuro, os pais do recém-nascido vivem uma situação de crise. Convivem com uma reação de luto pelo filho perfeito que não tiveram e necessitam tempo e apoio para que possam aceitar seu filho real. Seus sentimentos são de revolta, culpa, angústia, tristeza, medo e esperança. A rede familiar recebe o impacto e tenta se adaptar desenvolvendo estratégias dentro e fora de seu ambiente, para lidar com a nova situação. A maioria dos pais de recém-nascidos internados em UTI Neonatal sofre estresse emocional. É necessário entender o que se passa com eles. Os intensivistas devem ter uma atitude não julgadora, entender as preocupações, o comportamento dos pais e os sentimentos encobertos da família [11]. A Enfermagem se insere nessa temática, tendo como objeto de cuidado o ser humano, o qual é imbuído de características que poderão diversificar este cuidado, conforme as necessidades afetadas. O cuidado é considerado a essência da Enfermagem e, como tal, é relevante que seja prestado de forma humanizada ao indivíduo, à família e à comunidade [12]. Conclusão Faz parte da lei da vida, nascer, crescer e produzir bons frutos, isso é o que se escuta durante anos, quando o assunto é ser vivo. Porém, quando relacionado ao ser humano, pode-se complementar 210

214 Julho / Agosto 2013;12(4) dizendo que após gerar filhos, o apropriado seria levar para a casa e cuidar até que esse siga seu caminho. Mas não foi exatamente isso que se observou neste estudo, mães foram precocemente separadas de seus filhos, pais não conseguiram segurá-los no colo, tudo por conta da prematuridade. A hospitalização do filho na UTIN foi representada inicialmente pela quebra do simbolismo tradicional do nascimento seguida de situações difíceis e conflitantes entrelaçadas ao desafio de adequação à rotina estressante da UTIN e os percalços inerentes à trajetória na busca da sobrevivência do filho. Nesta vivência, inserem-se sentimentos como choque, culpa, insegurança, medo, tristeza, alegria e esperança. Cabe aqui registrar a necessidade de dar continuidade a este trabalho, priorizar a atenção às mulheres neste período da vida, principalmente no que diz respeito à assistência ao pré-natal, a fim de identificar precocemente possíveis riscos para o feto e a mãe, proporcionando uma implementação de assistência de enfermagem eficaz. Referências 1. Cascaes AM, Gauche H, Baramarchi FM, Borges CM, Peres KG. Prematuridade e fatores associados no Estado de Santa Catarina, Brasil, no ano de 2005: análise dos dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos. Cad Saúde Pública 2008;24: Segre CAM. Perinatologia: fundamentos e prática. São Paulo: Sarrier; Zanini GA, Moraes AB, Giugliani ERJ, Riboldi J. Determinantes contextuais da mortalidade neonatal no Rio Grande do Sul por dois modelos de análise. Rev Saúde Pública 2011;45(1): Carvalho CL, La Torre MPS, Oliveira AFVR, Quirino MD. Sentimentos maternos na visita ao recém-nascido internado em uma unidade de terapia intensiva. Rev Ciênc Cuid Saúde 2004;3: Souza NL, Araújo ACPF, Costa ICC, Carvalho JBL, Silva MLC. Representações de mães sobre hospitalização do filho prematuro. Rev Bras Enferm 2009; Bradley RH, Casey PH. Family environment and behavioral development of low birthweight children. Developmental Medicine and Child Neurology 1992;(34): Naganuma M, Reichert MCF, Kakehashi TY, Barbosa VL, Ikezawa MK, Fogliano RRF. Procedimentos técnicos de enfermagem em UTI neonatal. São Paulo: Atheneu; 1995; Reichert APS, Lins RNP, Collet N. Humanização do cuidado da UTI Neonatal. Rev Eletrônica Enferm 2007;09(1): Medeiros HMF, Antunes VP. Participação dos pais na assistência ao recém nascido internado na UTI neonatal. São Paulo: Vidya; Wernet M, Angelo M. A enfermagem diante das mães na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Rev Enferm UERJ 2007;15(2): Pereira SMP, Cardoso MHC. A metodologia utilizada em estudos que envolvem ecos da prematuridade na história da família. Rev Bras Crescimento Desenvolv Hum 2005; 15(3): Cardoso MVLML, Souto KC, Oliveira MMC. Compreendendo a experiência de ser pai de recém-nascido prematuro internado na unidade neonatal. Rev RENE 2006;7(3):

215 Artigo original Hábitos alimentares e obesidade de adolescentes de escolas públicas e particulares no sul de Minas Gerais Ana Carolina Fernandes Cantuária*, Fabiano Franklin Batista Pereira*, Valdinéa Luiz Hertel** *Acadêmicos de Enfermagem da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz de Itajubá/MG, **Orientadora, Professora Docente da disciplina de Saúde da Criança e do Adolescente, da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz de Itajubá/MG Resumo O estudo objetivou conhecer os hábitos nutricionais e o nível de obesidade dos adolescentes de uma escola pública estadual e de uma particular de uma cidade do sul de Minas Gerais. Utilizou-se da abordagem quantitativa, descritiva e exploratória. Os sujeitos do estudo foram 204 adolescentes matriculados nas referidas escolas. Foi aplicado um questionário abrangendo questões alimentares, atividade física e dados antropométricos e mensurado peso e estatura para o cálculo do IMC. Observou-se que a maioria dos adolescentes faziam em média 4 refeições diárias (31,90%), 87,69% realizavam alguma atividade física, 50,97% estavam com IMC normal, 15,58% estavam abaixo do peso e 32,43% estavam acima do peso ideal. Concluiu-se que a Enfermagem deve estar atenta para trabalhar com os adolescentes, pois a somatória de atividade física, alimentação saudável e um bom estado nutricional são imprescindíveis para o desenvolvimento físico, mental e social dos adolescentes. Palavras-chave: adolescentes, avaliação nutricional, Enfermagem. Abstract Eating habits and obesity among adolescents in a public school and a private school in a southern city of Minas Gerais The objective of this current study is to understand the nutritional habits and the level of adolescents obesity in a public school and in a private school of a city in the southern of Minas Gerais. A quantitative descriptive and exploratory approach was used. The participants were 204 adolescents of the mentioned schools. A questionnaire including food issues, physical activities, anthropometric data, weight and height for the BMI calculation was applied. We have observed that the majority of the adolescents had an average of four meals daily (31.90%), 87.69% performed no physical activity, 50.97% had normal BMI, 15.58% were underweight and 32.43% were overweight. Was concluded that the nursing Artigo recebido em 5 de julho de 2012; aceito em 24 de julho de Endereço de correspondência: Fabiano Franklin Batista Pereira, Avenida 21 de novembro, 38, Vila Rubens, Itajubá MG, ffabiano10@yahoo.com.br 212

216 Julho / Agosto 2013;12(4) should be aware of adolescents needs, due to the fact that physical activities, healthy foods and nutritional status are essential to the physical, motor and social development of the adolescents. Key-words: adolescents, nutrition assessment, Nursing. Resumen Hábitos alimenticios y la obesidad en adolescentes de una escuela pública y una privada en una ciudad del sur de Minas Gerais El estudio investigó los hábitos alimenticios y el nivel de obesidad entre los adolescentes en una escuela pública y una privada en una ciudad del sur de Minas Gerais. Se utilizó el estudio cuantitativo, descriptivo y exploratorio. Los participantes fueron 204 adolescentes de las mencionadas escuelas. Se utilizó un cuestionario que abarca cuestiones de alimentación, actividad física y los datos antropométricos y el peso y la altura para calcular el IMC. Se observó que la mayoría de los adolescentes comían un promedio de 4 comidas diarias (31,90%), el 87,69% realizaba alguna actividad física, el 50,97% tenía un IMC normal, el 15,58% tenía bajo peso y 32, 43% tenía sobrepeso. Se concluyó que la Enfermería debe estar atenta para trabajar con adolescentes, pues la suma de la actividad física, alimentación saludable y un buen estado nutricional es esencial para el desarrollo físico, mental y social de los adolescentes. Palabras-clave: adolescentes, evaluación nutricional, Enfermería. Introdução A adolescência é uma fase caracterizada por profundas transformações somáticas, psicológicas e sociais. Cronologicamente, corresponde ao período de 10 a 19 anos [1]. Consiste um marco na vida dos indivíduos e o momento crucial do desenvolvimento, na qual o adolescente, além das transformações físicas, está construindo sua imagem corporal definitiva e estruturando sua personalidade [2]. Estudos sobre alimentação de adolescentes brasileiros mostram a ocorrência de uma dieta inadequada, em que há diminuição da ingestão de alimentos naturais e nutritivos, como frutas, verduras e legumes, e há uma supervalorização de alimentos industrializados, como fast-food, refrigerantes, doces e frituras [3]. Uma alimentação saudável é necessária para promover o crescimento, satisfazer as funções fisiológicas normais e prevenir possíveis sintomas de carências. Na adolescência, ela é de extrema importância, visto que, deficiências nutricionais nesta fase influenciarão negativamente e, muitas vezes, de forma irreversível, o desenvolvimento físico, mental e intelectual. A alimentação, além de correta, saborosa e atrativa, deve conter todos os nutrientes necessários à manutenção do organismo, precisando ser variada, rica em alimentos energéticos, reguladores e construtores, indo ao encontro da pirâmide alimentar [4]. Cabe ao profissional de saúde mostrar ao adolescente que ele não precisa deixar de consumir os alimentos de que gosta, e que pequenas mudanças na alimentação poderão conciliar o prazer e a aceitação grupal com uma alimentação saudável, propiciando-lhe a aparência e desempenho tão almejados [1]. Dentre os problemas nutricionais que acometem os adolescentes, destaca-se o sobrepeso e obesidade [4]. Manter-se entretido em frente à televisão e aos jogos eletrônicos por longos períodos de tempo diminuem a prática de atividade física, acarretando um aumento de 2% na prevalência da obesidade em jovens de 12 a 17 anos [5]. Estudos epidemiológicos demonstram que sobrepeso em adolescentes associa- -se à elevação do risco de sobrepeso na vida adulta e do risco de doenças coronarianas e degenerativas, podendo apresentar também outras patologias associadas como obesidade, hipertensão, dislipidemia e diabetes não-insulino dependente [6]. O Índice de Massa Corporal, conhecido como IMC é a relação mais conhecida que leva em conta o peso e a estatura. O cálculo é feito dividindo- -se o peso, expresso em quilogramas, pela altura, expressa em metros e elevada ao quadrado: IMC = peso(kg)/altura(m²)[7]. Este método avalia o estado nutricional e o processo de crescimento, auxiliando no acompanhamento e tratamento nutricional dos adolescentes [8]. 213

217 Julho / Agosto 2013;12(4) O presente estudo poderá fornecer dados científicos confiáveis a profissionais de saúde e acadêmicos de enfermagem, uma vez que poucos são os estudos que avaliam a situação nutricional dos adolescentes constando na literatura brasileira. Além disso, o estudo trará informações para que possamos orientar os adolescentes acerca de uma alimentação saudável, prática de atividades física, levando a mudanças nos hábitos de vida. Somado a isto, este estudo poderá trazer dados confiáveis a enfermeiros e acadêmicos de enfermagem a fim de desenvolver estratégias de enfrentamento aos problemas detectados. O estudo objetivou identificar os hábitos nutricionais, avaliar a obesidade e comparar o nível de obesidade com os hábitos nutricionais dos adolescentes de uma escola do ensino público estadual e de outra do ensino particular de Itajubá. Material e métodos Esta pesquisa foi realizada em uma escola pública estadual (Escola Estadual Professor Antonio Rodrigues D Oliveira EEPARO) e uma escola particular (Curso e Colégio G9) da cidade de Itajubá/MG. Trata-se de um estudo de abordagem quantitativa, descritiva e exploratória. Os sujeitos da pesquisa foram adolescentes da faixa etária entre 10 e 19 anos, matriculados nas referidas escolas, situadas na cidade de Itajubá, Minas Gerais. Para definir o adolescente, quanto ao tempo de vida, foi utilizado o critério estabelecido pela OMS e Ministério da Saúde. A amostra compreendeu 204 adolescentes, sendo 152 da escola pública e 52 da escola particular, com amostragem do tipo probabilística. Após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos adolescentes maiores de 18 anos e por pais/responsáveis pelos adolescentes menores de 18 anos, a coleta de dados foi realizada mediante a aplicação de um questionário abrangendo dados pessoais, alimentares, atividade física e mensuração dos dados antropométricos dos adolescentes (peso e estatura) para cálculo do IMC. O pré-teste foi realizado com 10 adolescentes das referidas escolas, sendo 5 da escola pública e 5 da escola particular e que não fizeram parte da amostra definitiva. Os dados foram inseridos em banco de dados no sistema computacional Microsoft Excel 2007; foi utilizada a estatística descritiva para a obtenção das frequências absolutas e relativas. A estatística descritiva permite que o pesquisador descreva, sintetize e interprete a informação numérica; sem ela, os dados quantitativos seriam uma massa caótica de números. Os resultados foram apresentados por meio de tabelas. Os dados foram colhidos após aprovação do estudo pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá/MG. Esta pesquisa seguiu os preceitos estabelecidos pela Resolução nº 196/96 do Ministério da Saúde que resguarda os Preceitos Éticos para Pesquisa envolvendo Seres Humanos. Resultados Os resultados do presente estudo são apresentados a seguir, sob a forma de tabelas, sintetizadas com as informações mais precisas de cada. Tabela I - Características de identificação das escolas participantes da pesquisa e adolescentes quanto à idade e gênero. Itajubá/MG, 2011 (n = 204). EEPARO G9 n % n % Nº de adolescentes , ,5 Idade 11 anos 45 29, ,07 12 anos 35 23, ,46 Gênero Masculino 62 40, ,61 Feminino 88 57, ,38 Fonte: Instrumento de Pesquisa. Tabela II - Características referentes à alimentação e número de refeições por dia. Itajubá/MG, 2011 (n= 204). EEPARO G9 n % n % Refeições 1,3,6,7 12 7,89 3 5,76 1,3,4, , ,46 Número de refeições 4 refeições/ dia 59 38, refeições/ dia 46 30, ,69 Fonte: Instrumento de Pesquisa. 214

218 Julho / Agosto 2013;12(4) Tabela III - Características referentes aos grupos alimentares existentes na pirâmide alimentar e seus principais representantes. Construtores, Energéticos, Reguladores, Energéticos Especiais e frequência. Itajubá/ MG, 2011 (n = 204). EEPARO G9 n % n % CONSTRUTORES Leite e derivados 1x ao dia 41 26, ,76 2x ao dia 52 34, ,23 Ovos 1x por dia 49 32, ,92 Feijão Todos os dias 41 26, ,92 ENERGÉTICOS Pães 2x ao dia 49 32, ,92 Massas 1x por dia 33 21, ,23 2x por semana 25 16, ,69 Arroz Todos os dias 60 39, ,84 REGULADORES Frutas Todos os dias 37 24, ,76 Verduras/Legumes 1x por dia 52 34, ,3 ENERGÉTICOS ESPECIAIS Doces Todos os dias 42 27, ,07 Sorvetes/refrigerantes 2x por dia 19 12,5 8 15,38 Fonte: Instrumento de pesquisa. Tabela IV - Características referentes à prática de exercício físico pelos adolescentes. Modalidade e frequên cia. Itajubá/MG, 2011 (n = 204). EEPARO G9 n % n % Realiza exercício físico Sim , ,61 Não 14 9, ,38 Modalidade Futebol 21 13, ,38 Frequência Todos os dias 33 21, ,07 Fonte: Instrumento de Pesquisa Tabela V - Características referentes ao uso de televisão, acesso a internet, jogos de computador e videogame pelos adolescentes. Horas por dia. Itajubá/MG, 2011 (n = 204). EEPARO G9 n % n % Internet, TV e jogos Sim ,07 Não ,92 Frequência/Dia De 1 a 2 horas 35 23, ,76 De 2 a 4 horas 44 28, ,15 Fonte: Instrumento de Pesquisa. Tabela VI - Características referentes ao Índice de Massa Corporal. Classificação. Itajubá/MG, 2011 (n = 204). EEPARO G9 n % n % IMC Baixo peso 24 15, ,38 Adequado ou eutrófico 82 53, Sobrepeso 46 30, ,61 Fonte: Instrumento de pesquisa. Discussão Analisando as características pessoais, detectou-se que a maior parte dos adolescentes era procedente da escola pública (74,5%), visto que a adesão e a aceitação dos adolescentes e de seus pais por parte desta escola foi maior. No presente estudo, 57,89% dos adolescentes da escola EEPARO era do gênero feminino; 59,61% dos adolescentes do Colégio e Curso G9 eram do gênero masculino. Em relação à idade, os adolescentes pesquisados se encontram na faixa dos 10 aos 19 anos, uma vez que pertencer a esta faixa etária era um dos critérios de inclusão da pesquisa. A maior parte dos adolescentes realizavam em média quatro refeições por dia, sendo as principais o café da manhã, o almoço, o café da tarde e o jantar. É importante que o adolescente realize ao menos 5 refeições por dia, sendo imprescindível que não se pule refeições [9]. De acordo com as tabelas apresentadas anteriormente, quanto ao grupo dos construtores, evidenciou-se que 34,21% dos adolescentes da escola EEPARO consumiam leite e derivados duas vezes ao dia, 30,76% dos adolescentes do Curso e Colégio G9 consumiam leite e derivados apenas uma vez ao dia. Estes alimentos são boas formas 215

219 Julho / Agosto 2013;12(4) 216 de oferta de proteínas, minerais e vitaminas, além de serem acessíveis a grande parte da população brasileira. No grupo dos energéticos, referente ao consumo de arroz, tanto os adolescentes da escola pública como os adolescentes da escola particular ingerem arroz todos os dias, respectivamente 39,47% e 53,84%. Os carboidratos são a principal fonte de energia rápida para o organismo, tal energia é vital para a prática de atividades físicas, estudos, além do próprio metabolismo do corpo. O consumo de frutas, verduras e legumes é um dado alarmante, uma vez que a maioria dos adolescentes ingeria este tipo de alimento apenas em uma única refeição. Para o adolescente, é importante introduzir legumes e verduras em pelo menos duas refeições do dia, variando os tipos de frutas, verduras e legumes, além de estar atento àquelas que são da época, para proporcionar uma alimentação mais fresca e barata [10]. Quanto à classificação pelo IMC, evidenciou- -se que 15,78% dos adolescentes da escola EEPARO e 15,38% dos adolescentes Curso e Colégio G9 encontravam-se em baixo peso; estavam com IMC normal 53,94% e 48% na escola EEPARO e no Curso e Colégio G9 respectivamente e em situação de sobrepeso 30,26% na EEPARO e 34,61% no Curso e Colégio G9. A probabilidade de que adolescentes acima do peso ou obesos tornem-se adultos obesos é estimada em 70% a 80%. Por outro lado, o baixo peso na adolescência configura um sério dano ao desenvolvimento físico, psíquico e intelectual, visto que nesta fase os sistemas corporais estão se desenvolvendo [11]. Conclusão Com este estudo foi possível identificar os hábitos nutricionais dos adolescentes de uma escola do ensino público estadual e de outra do ensino particular de Itajubá. Observou-se que a maioria dos adolescentes da escola EEPARO realizavam 4 refeições diárias e os adolescentes do Curso G9 5 refeições diárias. Em ambas as escolas, observou-se um grande consumo de alimentos muito calóricos, como balas, doces e sorvetes. A ingestão de alimentos energéticos (arroz, pães, massas) está dentro do preconizado pelo Ministério da Saúde. Quanto à ingestão de frutas e verduras, observou-se um dado preocupante, pois em ambas as escolas a maioria dos adolescentes ingeriam estes alimentos em apenas uma refeição e o preconizado pelo Ministério da Saúde é que estes alimentos estejam presentes em 3 refeições diárias. Foi possível contemplar os outros dois objetivos que eram avaliar e comparar o nível de obesidade com os hábitos nutricionais dos adolescentes de uma escola do ensino público estadual e de outra do ensino particular de Itajubá. Por meio destes objetivos, evidenciou-se que 15,78% dos adolescentes da escola EEPARO e 15,38% dos adolescentes do Curso e Colégio G9 encontravam-se em baixo peso; estavam com IMC adequado ou eutrófico 53,94% e 48% na escola EEPARO e no Curso e Colégio G9 respectivamente, e por fim encontravam-se em sobrepeso 30,26% dos adolescentes da escola EEPARO e 34,61% dos adolescentes do Curso e Colégio G9, o que reforça a ideia de que são necessárias orientações acerca dos hábitos nutricionais e de mudança nos hábitos de vida. Referências 1. Silva GAP, Vasconcelos VL. Prevalência de sobrepeso e obesidade em adolescentes masculinos, no Nordeste do Brasil, Cad Saúde Pública 2003;19(5) Paula CCR, Pereira FAP, Silva FA. Ser mãe e acadêmica de enfermagem: percepções das estudantes que exercem essa dupla função [TCC]. Itajubá: Escola de Enfermagem Wenceslau Braz; Almeida IS, Silva ARV, Damasceno MMCI, Marinho NBP, Almeida LS, Araújo MFMI, Almeida PC. Hábitos alimentares de adolescentes de escolas públicas de Fortaleza, CE, Brasil. Rev Bras Enferm 2009;62(1): Albano RD, Souza SB. Estado nutricional de adolescentes: risco de sobrepeso e sobrepeso em uma escola pública do Município de São Paulo. Cad Saúde Pública 2001;17(4): Henrique FCS, Santos SMC, Santana LAA, Henrique FCS, Mazza RPDM, Santos LAS, Santos LS. Avaliação de políticas públicas de segurança alimentar e combate à fome no período Programa Nacional de Alimentação Escolar. Cad Saúde Pública 2007;23(11): Baruzzi RG, Fagundes U, Lima EES, Rodrigues D, Sigulem DM. Avaliação antropométrica de adolescentes Kamayurá, povo indígena do Alto Xingu, Brasil Central ( ). Cad Saúde Pública 2007;23(6): Sampaio FG. Procedimentos de enfermagem: a importância de uma informação adequada [Projeto de Pesquisa]. Itajubá: Escola de Enfermagem Wenceslau Braz; Araújo MC, Ferreira DM, Pereira RA. Reprodutibilidade de questionário semiquantitativo de freqüência alimentar elaborado para adolescentes da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saúde Pública 2008;24(12): Brasil. Ministério da Saúde. Cadernos de Atenção a Saúde 2011; Marchini JS, Oliveira JED. Ciências Nutricionais. São Paulo: Sarvier; Hockenberry MJ, Wilson D. Wong: fundamentos de enfermagem pediátrica. 8ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier; 2011.

220 Artigo original Prevenção das DST/Aids e sexualidade: perguntas de adolescentes no município de Maricá/RJ Carla Luzia França Araújo, D.Sc.*, Carolina Costa Pacheco**, Vanessa Damasceno Bastos**, Simone Lins**, Sheila Moreira***, Cintia Leal Carneiro Sampaio****, Lucivania de Oliveira Souza****, Tamyris Paiva Carvalho Loureiro**** *Enfermeira, Profª Adjunta do Departamento Materno-Infantil da Escola de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Coordenadora do Laboratório de Estudos em Política, Planejamento e Assistência em DST/Aids (LEPPA DST/Aids UFRJ), **Enfermeira, Mestranda da Escola de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Membro do Núcleo de Pesquisa de Enfermagem em Saúde da Mulher, Pesquisadora do Laboratório de Estudos em Política, Planejamento e Assistência em DST/Aids (LEPPA DST/Aids UFRJ), ***Bióloga, Pesquisadora do Laboratório de Estudos em Política, Planejamento e Assistência em DST/Aids (LEPPA DST/Aids UFRJ), ****Acadêmicas de Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery/Universidade Federal do Rio de Janeiro Resumo Objetivos: Classificar e analisar as perguntas apresentadas pelos estudantes no que se refere à prevenção e formas de transmissão da DST/Aids e sexualidade. Métodos: O estudo é do tipo qualitativo descritivo. Os questionamentos dos adolescentes a respeito de sexualidade, DST/Aids, gravidez, aborto e adolescência totalizaram 164 perguntas no período de outubro a novembro de Resultados: Após a classificação e análise das perguntas, estas foram divididas por temas, entre: sexualidade, com 45,73% das perguntas; desconhecimento sobre o próprio corpo com 24,39%; DST/Aids com 18,29%; planejamento familiar com 10,37% e aborto com 1,22%. Conclusão: As perguntas apresentadas refletem a deficiência de informações corretas e a falta de espaços para a discussão com os adolescentes de questões que envolvem sexualidade e práticas de sexo seguro, dessa forma, maximizando a situação de vulnerabilidade que os adolescentes apresentam. Palavras-chave: adolescente, doenças sexualmente transmissíveis, sexualidade. Abstract Prevention of STD/Aids and sexuality: Questions reported by teenagers in the city of Maricá/RJ Objectives: To classify and analyze the questions reported by students regarding the prevention and modes of transmission of HIV/Aids and sexuality. Methods: This was a qualitative descriptive study. The teenagers questions about sexuality, STD/Aids, pregnancy, abortion and adolescence totalized 164 questions carried out from October to November Results: The questions were classified, analyzed and divided into topics, including sexuality, with 45.73% of the questions, Artigo recebido em 26 de setembro de 2012; aceito em 29 de julho de Endereço para correspondência: Carolina Costa Pacheco, Rua Miguel de Frias, 95/1106, bloco B, Icaraí Niterói RJ, ccostapacheco@gmail.com 217

221 Julho / Agosto 2013;12(4) lack of knowledge about their own body with 24.39%, STD/Aids with 18.29%, family planning with 10.37% and 1.22% abortion. Conclusion: The questions pointed out the lack of information and lack of space for dialogue with the adolescents concerning issues involving sexuality and safe sex practices, increasing teenagers vulnerability. Key-words: adolescent, sexually transmitted diseases, sexuality. Resumen Prevención de ETS/Sida y sexualidad: Las cuestiones planteadas por adolescentes en la ciudad de Maricá/RJ Objetivos: Clasificar y analizar las preguntas de los estudiantes sobre la prevención y los modos de transmisión de ETS/ Sida y la sexualidad. Método: El estudio es cualitativo descriptivo. Las preguntas de los adolescentes acerca de la sexualidad, ETS/Sida, del embarazo, del aborto y de la adolescencia totalizaron 164 preguntas en el período octubre-noviembre de Resultados: Después de la clasificación y el análisis de las preguntas, estas fueron divididas por temas, entre ellos: la sexualidad, con el 45,73% de las preguntas; el desconocimiento del propio cuerpo, con 24,39%; DST/Sida, con 18,29%; la planificación familiar, con 10,37%; y el aborto, con 1,22%. Conclusión: Las preguntas reflejan la falta de información y la falta de espacios de diálogo con los adolescentes sobre temas relacionados con la sexualidad y las prácticas sexuales seguras, aumentando la vulnerabilidad de los adolescentes. Palabras-clave: adolescente, enfermedades de transmisión sexual, sexualidad. Introdução A adolescência é uma das etapas do desenvolvimento humano caracterizada por alterações físicas, psíquicas e sociais, e estas duas últimas recebem interpretações e significados diferentes dependendo da época e da cultura na qual está inserida. Segundo a Organização Mundial de Saúde, adolescente é o indivíduo que se encontra entre os dez e vinte anos de idade. No Brasil, a lei número 8.069, de 13 de julho de 1990 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências, define no Art. 2º como criança a pessoa até doze anos de idade incompletos e adolescente aquele entre doze e dezoito anos de idade. A relação entre adolescentes e Aids não é nova, e demonstra que o seu enfrentamento ainda é um grande desafio em nossa sociedade. O primeiro caso de Aids em jovens brasileiros data de 1982 e o seu número, desde então, vem crescendo consideravelmente, levando a índices epidemiológicos alarmantes [1]. Pesquisa realizada em 2004 sobre comportamento, atitudes e práticas sexuais na população brasileira verificou que 91% dos jovens, entre 15 e 24 anos, citaram a relação sexual como forma de transmissão do HIV e 95% indicaram o preservativo como forma de proteção da infecção pelo vírus. O início da atividade sexual aconteceu em média 15,3 anos; e 74 % dos jovens entrevistados já haviam iniciado a atividade sexual. Apenas 40% destes declararam o uso da camisinha em todas as relações sexuais [2]. O estudo em questão aborda a temática sobre prevenção de DST/AIDS e faz parte do desenvolvimento de um projeto de extensão com adolescentes de uma escola municipal no município de Maricá. Tal projeto é intitulado como Papo Sério: Ações de prevenção das DST/Aids entre adolescentes (LEPPA DST/Aids registrado no CNPQ como Grupo de Pesquisa). Como uma das atividades do projeto de extensão, disponibilizamos uma caixa de perguntas e um mural interativo que serve de comunicação com os adolescentes. Como objeto deste estudo utilizou-se as perguntas depositadas nas caixas. Este estudo tem como objetivo classificar e analisar as perguntas apresentadas pelos estudantes no que se refere à prevenção e formas de transmissão das DST/Aids e sexualidade. Material e métodos Este estudo é do tipo qualitativo descritivo, desenvolvido pelo projeto de extensão Papo Sério: Ações de prevenção das DST/Aids entre adolescentes da Escola de Enfermagem Anna Nery / Universidade Federal do Rio de Janeiro. O cenário 218

222 Julho / Agosto 2013;12(4) escolhido para o desenvolvimento do trabalho de campo foi uma escola municipal no Município de Maricá, no Estado do Rio de Janeiro, onde há classes de alfabetização e ensino fundamental (1 ao 9 ano). As atividades do projeto iniciaram-se em setembro de 2010, numa parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Maricá. Foram necessárias reuniões entre os integrantes do Projeto, os responsáveis pela direção da Escola e as Secretarias Municipais de Educação e de Saúde do Município de Maricá com o objetivo de discutir a melhor forma de atuação do projeto frente às demandas dos sujeitos envolvidos, ou seja, os adolescentes. Por isso, optou-se em utilizar a caixa de perguntas e o mural interativo como proposta inicial. A caixa de perguntas foi colocada na escola no mês de outubro e permaneceu até o dia 26 de novembro. Ficava localizada no corredor próximo a fila para o refeitório da escola. Após ampla divulgação, dentro das salas de aula e demais locais da escola, os alunos puderam depositar na caixa diversas perguntas referentes à temática sexualidade, prevenção de DST/Aids entre outras que julgassem necessárias em qualquer horário. Assim, foi possível descobrir as demandas dos adolescentes e esclarecer possíveis dúvidas que tivessem. Foram depositadas 164 perguntas. Este trabalho emprega como método de estudo as perguntas feitas pelos alunos, não havendo participação direta dos adolescentes e/ou acadêmicos do projeto como sujeitos para a pesquisa, por isso não foi necessário aprovação pelo Comitê de Ética. Após terem sido retiradas da caixa, as perguntas foram transcritas para o computador (documento em Word) e numeradas. Não houve repetição, porém o número total de vezes em que apareceu foi quantificado. Inicialmente, elas foram divididas por temas, conforme a leitura das mesmas pelos autores deste estudo. Feito isto, tabelas e quadros foram confeccionados e analisados a partir dos referenciais bibliográficos disponíveis que tratam da temática: adolescência, sexualidade e prevenção de DST/Aids, como artigos online, livros e manuais do Ministério da Saúde publicados. Resultados e discussão A Tabela I apresenta a quantificação das perguntas depositadas na caixa, distribuídas por áreas temáticas. Tabela I - Distribuição das perguntas por áreas temáticas. Áreas temáticas Fi Fi% Sexualidade 75 45,73 Desconhecimento sobre o próprio corpo 40 24,39 DST/Aids 30 18,29 Planejamento familiar 17 10,37 Aborto 02 1,22 Total A Tabela I mostra um recorte temático das perguntas realizadas pelos estudantes e a sexualidade foi o tema mais questionado pelos alunos. Tal fato pode estar relacionado a um período da vida marcado por transformações; mudanças físicas e hormonais; conflitos sociais, físicos e psicológicos. Nesta fase, ocorrem mudanças significativas no corpo, no organismo e na forma de agir e pensar dos adolescentes. Além disso, acontecem diversas variações em relação ao humor e comportamento. Existe a necessidade de socialização, para fazer parte de um grupo com interesses comuns e consequentemente poder trocar informações uns com os outros. O segundo tema mais questionado foi o desconhecimento sobre o próprio corpo. Apesar de todo desenvolvimento dos meios de comunicação e da tecnologia, informações relacionadas ao crescimento não tem chegado de forma adequada aos adolescentes. De acordo com pesquisa realizada no Chile e na Bolívia (Sucre), adolescentes das escolas públicas, tem um baixo conhecimento sobre puberdade. A desinformação deles sobre a fisiologia do corpo pode levar a interpretações equivocadas, contribuindo para a vivência de conflitos que poderiam ser evitados através de informações simples e adequadas a respeito do processo de desenvolvimento puberal, maturação sexual, assim como diferentes aspectos da sexualidade [5]. DST/Aids foi o terceiro tema mais perguntado. A descoberta do prazer sexual, na maioria das vezes, acontece nessa época e por questões biológicas, psíquicas e sociais, os adolescentes encontram-se mais vulneráveis às DST. Por isso, é necessária uma estratégia para o controle da transmissão dessas doenças, através de ações de prevenção. O aborto foi o tema menos questionado, porém muito preocupante, uma vez que o índice de adolescentes que engravidam é crescente. A cada 17 minutos, uma jovem se torna mãe no Brasil, mas também a cada hora, seis adolescentes entram 219

223 Julho / Agosto 2013;12(4) em processo de aborto. E complicações no parto ou aborto é a quinta causa de mortes entre adolescentes [6]. Com isso, podemos verificar a importância do diálogo, das ações educativas entre pais, professores e especialistas e aos adolescentes em geral. O trabalho educativo deve observar os princípios dos direitos sociais dos adolescentes, no que se refere a um conhecimento que conduza à ação e que implique o desenvolvimento de habilidades, para fins de proteção [7]. Tabela II - Representação das doenças obtidas na área temática DST/Aids. Doença sexualmente transmissível Fi Fi% Aids 13 81,25 Gonorréia 02 12,5 HPV 01 6,25 Total Dentro da temática abordada de DST/Aids a principal doença questionada pelos adolescentes foi a Aids (81,25%). Em pesquisa realizada com adolescentes e jovens em relação ao método contraceptivo, apenas 61% da amostra relatou utilizarem algum método de proteção, na maioria dos casos a camisinha masculina [8]. Mesmo sendo a minoria, 39% não utilizaram nenhum método de proteção, o que é um número preocupante. Este assunto, conforme demonstrado na tabela II, ainda é de grande questionamento entre os adolescentes. Isso se afirma na literatura, pois estudo concluiu que o principal veículo de informação sobre a AIDS foi a televisão e o rádio (65%) e apenas 10% pelas instituições de saúde. Devido à falta de informação correta, alguns adolescentes ainda mistificam a ideia errada do modo de contágio [9]. E um fato considerável nessa pesquisa é que quando eles conheciam alguém com a doença, a preocupação com a mesma aumentava. Como segunda DST mais questionada, a infecção por HPV é a de maior prevalência no âmbito da saúde pública [10]. Com base na literatura, o nível de conhecimento sobre DST/HPV de uma maneira geral ainda é precário entre os adolescentes e, infelizmente, não vemos campanhas preventivas e informativas sobre essa infecção. A ênfase para as doenças sexualmente transmissíveis ainda está voltada para o diagnóstico e tratamento. O governo encontra dificuldades para a promoção de saúde voltada para a informação sobre prevenção, identificação de sintomas e educação em saúde [11]. Sendo que uma das especificidades de atenção à saúde integral do adolescente é a promoção da saúde e ações educativas [12]. Nessa perspectiva de promoção de saúde e disseminação de informação é que o enfermeiro tem a atribuição de ministrar, através de conteúdos informativos, palestras sobre diversos temas, incluindo as DST/Aids. O Quadro I apresenta a distribuição das perguntas depositadas na caixa, a respeito das DST/ Aids, divididas por áreas temáticas. Quadro I - Distribuição das perguntas sobre DST/Aids por área temática. O que é HPV? Sinais e O que é doença sexual? Sintomas O que é Aids? O que causa a Aids? Como se prevenir da Aids? É usando Prevenção camisinha? Como usa camisinha? Como pega doença? Mulher que pega mulher pode pegar doença (e o contrário também)? Através do sexo oral podem ser transmitidas DST? Fazendo sexo anal pego alguma doença. Quando faz sexo sem camisinha, sempre pega doenças? Transar uma vez sem camisinha pode transmitir Aids ou transar várias vezes vai transmitir Aids? Se o homem for gozar na mulher tem o Modo de risco de pegar Aids? transmissão O que pode transmitir a gonorréia? Um beijo pode transmitir Aids? Quando você tem risco de trazer doenças? Quando a pessoa transa pela primeira vez, e for com uma pessoa que tem Aids, corre o risco de se contaminar? Tem como pegar doenças com camisinha? Quando o namorado coloca a língua na vagina da menina, traz algum tipo de doença? Se uma mulher faz sexo oral no homem, pega Aids? Pagar boquete transmite doença? Por quê? Como se transmite o vírus do HIV? 220

224 Julho / Agosto 2013;12(4) Diagnóstico Tratamento Como que uma pessoa sabe que pegou uma doença sexual? HPV tem cura? Se alguém pegar Aids tem cura? E se a pessoa se contaminar com Aids, tem cura ou tratamento? O quadro acima faz referência a curiosidades dos adolescentes a respeito do tema DST/Aids. Pesquisas demonstram que a falta de conhecimento sobre o próprio corpo e das consequências das relações sexuais fazem com que estes adolescentes se tornem um grupo vulnerável a contrair esses tipos de doenças [13]. Não saber reconhecer as formas de transmissão está intimamente relacionado com a conduta de prevenção. Existe uma alta prevalência de DST/ Aids entre o público jovem e percebemos que grande parte dos adolescentes não está consciente quanto aos riscos a que estão expostos durante as relações sexuais. Falta de conhecimento sobre os sintomas, tabus e vergonha de procurar os serviços especializados retardam o tratamento, o que traz consequências a longo prazo, dificultando ainda mais a eficiência e eficácia dos cuidados que devem ser prestados a esse tipo de clientela, em decorrência do nível de compreensão superficial sobre este assunto [13,14]. Há uma necessidade urgente de desmitificar os tabus e inverdades relativas à transmissão das DST/ Aids ao público adolescente. Crenças como: confiar no (a) parceiro (a), acreditar que o (a) parceiro (a) não estava contaminado (a) e que não correm o risco de engravidar, faz com que muitas vezes estes não usem preservativos, ficando assim mais expostos a contraírem algum tipo de doença [15,16]. Como é possível observar, as perguntas são pertinentes a uma parcela da população que de certa forma tem algum tipo de conhecimento sobre sexualidade; que pode ser oriundo das informações passadas pelos meios de comunicações, do meio social onde vivem ou até mesmo por experiência própria. Nota-se que algumas pesquisas apontam a importância da escola na educação sexual dos alunos. O setor de saúde e também a participação da família são necessários para auxiliar estes adolescentes, pois estes ambientes propiciam espaços de discussão, onde a troca de experiências e as reflexões acerca deste tema possam realmente levar a conscientização e consequente mudanças de comportamento [16,17]. De maneira geral, observa-se a necessidade de reforçar programas de atenção direcionados a esse público-alvo, onde o governo, as organizações ligadas à saúde e à sociedade como um todo possam buscar formas para fornecer mais orientações sobre DST/Aids a estes adolescentes. Uma tentativa de equilibrar a quantidade de informações sobre sexualidade que o jovem recebe auxiliando-o a acabar com a lacuna no conhecimento de todos a respeito dessa temática. Conclusão Conclui-se que ainda existem muitos questionamentos elementares, permeados de preconceitos e tabus que envolvem as DST/Aids. As perguntas apresentadas refletem a deficiência de informações corretas e a falta de espaços públicos e privados para a discussão com os adolescentes a respeito de questões que envolvem sua sexualidade e práticas relacionadas ao sexo seguro. Este é um fato que mostra a situação de vulnerabilidade em que se encontram os adolescentes, em virtude de vivenciarem esta etapa complexa no ciclo de vida humano. Mais ações de prevenção devem ser desenvolvidas, com a participação de setores governamentais, não-governamentais, das escolas, dos serviços de saúde, das comunidades e da sociedade em geral, visando transformar o conhecimento sobre DST e AIDS em comportamento sexual seguro e responsável. Este estudo evidencia a importância de atividades, como a do Projeto Papo Sério, para esclarecer os adolescentes a respeito da prevenção das DST/ Aids e sobre sua sexualidade. Referências 1. Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST/ AIDS. Boletim Epidemiológico Aids e DST. Ano IV nº. 1, 01ª - 26ª semanas epidemiológicas janeiro a junho de Brasília: Ministério da Saúde; Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST/ AIDS. PCAP Pesquisa de Conhecimento Atitudes e Práticas na População Brasileira Brasília: Ministério da Saúde; Taquete ST. Sexualidade na adolescência. [citado 2011 Jan 10]. Disponível em URL: 4. Camargo AM, Guimarães IR, Fruet MS, Silva RC. Sexualidade do adolescente. Pro-posições 1994;5(3) Gomes WA, Costa COM, Sobrinho CLN, Santos CA, Bacelar EB. Nível de informação sobre adolescência, puberdade e sexualidade. J Pediatric (Rio J.) 2002;78(4):

225 Julho / Agosto 2013;12(4) 6. Aborto: As mulheres decidem, a sociedade respeita, o Estado garante. Campanha 28 de Setembro pela Descriminalização do Aborto na América Latina e Caribe [citado 2011 Jan 10]. Disponível em URL: 7. Vieira N, Paiva M, Sherlock M. Sexualidade, DST/ Aids e Adolescência: não quero falar, tenho vergonha. DST- J Bras Doenças Sex Transm 2001;13(4): Borges ALV, Schor N. Início da vida sexual na adolescência e relações de gênero: um estudo transversal em São Paulo, Brasil, Cad Saúde Pública 2005;21(2): Merchán-Hamann E. Grau de informação, atitudes e representações sobre o risco e a prevenção de AIDS em adolescentes pobres do Rio de Janeiro, Brasil. Cad Saúde Pública 1995;11(3): Caetano JCS, Silveira CLP. Abordagem na Escola: caminhos e questionamentos no terceiro ano do ensino médio. GT: Gênero, sexualidade e Educação; Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis. Brasília: Ministério da Saúde; Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Saúde Integral de Adolescentes e Jovens: orientações para a organização de serviços de saúde. Brasília: Ministério da Saúde; Mello GR, Castro G, Reggiani C, Carvalho NS. Erotismo e prevenção de DST/Aids entre os adolescentes. Como atuam os meios de comunicação? DST J Bras Doenças Sex Transm 2005;17(2): Rodrigues JA, Santos SMJ, Carneiro WS. Doenças sexualmente transmissíveis: conhecimento de alunos do ensino médio. DST - J Bras Doenças Sex Transm 2009;1(2): Souza LR, Filgueiras AS, Silva ABT. Perfil sexual e frequência de infecções genitais em adolescentes atendidos em uma clínica universitária. DST - J Bras Doenças Sex Transm 2009;21(2): Carleto AP, Faria CS, Martins CBG, Souza SPS, Matos KF. Conhecimentos e práticas dos adolescentes da capital de Mato Grosso quanto às DST/Aids. DST - J Bras Doenças Sex Transm 2010;22(4): Garbin CAS, Lima DP, Dossi AP, Arcieri RM, Rovida TAS. Percepção de adolescentes em relação a doenças sexualmente transmissíveis e métodos contraceptivos. DST - J Bras Doenças Sex Transm 2010;22(2):

226 Artigo original Avaliação da aplicabilidade do Curso de Suporte Básico de Vida a distância via web na Marinha do Brasil Raul Luiz de Souza Cavalcanti*, Luiz Anastácio Alves*, Renato Matos Lopes* Luiza Rodrigues de Oliveira**, Maria Aparecida de Luca do Nascimento*** *Laboratório de Comunicação Celular, Instituto Oswaldo Cruz Fiocruz, **Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro ISERJ, ***UNIRIO Resumo Esta pesquisa trata de investigar o impacto do curso de Suporte Básico de Vida a Distância para Praças na Marinha do Brasil, partindo-se da ideia de que este curso refere-se ao primeiro atendimento em qualquer tipo de acidente, considerando a importância de manter os enfermeiros militares de nível médio da Marinha do Brasil atualizados quanto a estes protocolos e, sobretudo, a dificuldade de fazê-lo, dadas as dimensões continentais do Brasil. Os objetivos da pesquisa foram analisar os resultados da aplicabilidade do curso a partir de documentos gerados pelas avaliações do curso e de documentos referentes ao Ensino à Distância e à Marinha do Brasil e analisar os resultados sobre a importância do curso com base nos documentos gerados a partir das avaliações decorrentes do curso, e nos que se referem especificamente ao Ensino à Distância e à Marinha do Brasil. Trata-se de estudo de caso, com abordagem quantitativa, realizado por meio da utilização de instrumentos de coleta de dados diversificados: análise de documentos, alguns que foram utilizados para constituir informações sobre os sujeitos e o cenário da pesquisa; e outros para coleta de dados questionários pedagógicos aplicados na fase à distância. Os resultados contemplaram informações sobre conteúdo programático abordado e as dificuldades no manejo ao ambiente virtual de aprendizagem (AVA), durante o curso. Concluímos que cursos desta modalidade tem sido um avanço para a qualificação de profissionais para atuar adequadamente nos protocolos de atendimento estabelecidos. Palavras-chave: ensino à distância, internet na educação, educação. Abstract Evaluation of the applicability of Basic Life Support Course by web-based distance learning in Brazilian Navy This research aimed to investigate the impact of distance learning Basic Life Support Course for militaries of Brazilian Navy, which refers to the first aid for any kind of accident, considering the importance of keeping mid-level Brazilian Navy military nurses updated about these protocols, and especially, the difficulty in doing so, due to the continental dimensions of Brazil. The objectives were to analyze the results of the applicability of the course using documents obtained Artigo recebido em 10 de julho de 2013; aceito em 2 de agosto de Endereço de correspondência: Raul Luiz de Souza Cavalcanti, Laboratório de Comunicação Celular e Pósgraduação de Ensino de Biociências e Saúde Fundação Oswaldo Cruz, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Av. Brasil, 4365, Rio de Janeiro RJ, prof.raul.cavalcanti@gmail.com 223

227 Julho / Agosto 2013;12(4) by course evaluations and documents relating to distance learning and to Brazilian Navy, and to analyze the results on the importance of the course based on documents obtained after evaluations of the course, and those that refers specifically to distance learning and Brazilian Navy. This was a case study with a quantitative approach, performed using different instruments of data collection: analysis of documents, some that were used to build up information about the subjects and the research scenario; and others to collect data pedagogical questionnaires applied for distance learning stage. The results contemplated information about syllabus and discussed the difficulties in managing the virtual learning environment (VLE), during the course. Was concluded that this course modality has been a progress in professional qualification to act properly in established care protocols. Key-words: distance learning, internet in education, education. Resumen Evaluación de la aplicación del Curso de Soporte Vital Básico a distancia vía web en la Marina de Brasil Esta investigación tiene como objetivo investigar el impacto del Curso de Soporte Vital Básico a distancia de la Marina de Brasil. Este curso se refiere a los primeros cuidados en cualquier tipo de accidente, teniendo en cuenta la importancia de mantener los enfermeros militares de enseñanza media de la Marina de Brasil actualizados sobre estos protocolos y, sobre todo, la dificultad de hacerlo, dadas las dimensiones continentales de Brasil. Los objetivos de la investigación fueron analizar los resultados de la aplicación del curso a partir de los documentos generados por las evaluaciones y los documentos referentes a la educación a distancia y la Marina de Brasil y analizar los resultados sobre la importancia del curso en base a los documentos generados a partir de las evaluaciones del curso, y los que se refieren específicamente a la enseñanza a distancia y la Marina de Brasil. Se trata de un estudio de caso, con abordaje cuantitativo, realizado a través de la utilización de instrumentos de recolección de datos variados: análisis de documentos, algunos que se utilizaron para construir información sobre los temas y el escenario de investigación; y otros para recolección de datos - cuestionarios pedagógicos aplicados en la fase de enseñanza a distancia. Los resultados contemplan información sobre plan de estudios y se discuten las dificultades en la gestión del manejo en el ambiente virtual de aprendizaje (AVA), durante el curso. Se concluye que cursos de esta modalidad han sido un gran avance para la calificación de profesionales para actuar correctamente en los protocolos de atención establecidos. Palabras clave: educación a distancia, internet en la educación, educación. Introdução O Ensino à Distância (EAD) surgiu como uma grande possibilidade, no qual as populações podem ter acesso a uma formação educacional, mesmo distante dos centros urbanos onde está concentrado o maior quantitativo de escolas dos mais diversos níveis. Os processos educativos, na modalidade de EAD, podem ocorrer de diversas formas: por correspondência, em que as relações professor e aluno são aproximadas com o envio de materiais pelo correio ou fax, pelas transmissões por TV ou rádio, por vídeo conferência, com a utilização de vídeo cassetes, CDs e DVDs. O importante é que esse conhecimento seja compartilhado, que haja interação entre as pessoas. De acordo com Nunes, para que haja sucesso pedagógico é necessário que tenhamos cuidado, pois hoje em dia um curso a distância não é mais um curso por correspondência unidirecional, em que se enviam livros e textos pelo correio e se espera que o aluno já saiba estudar e aprender [1]. É preciso cercar-se de uma multiplicidade de recursos para alcançar êxito. Atualmente a modalidade de EAD que tem mostrado grande interesse é a que ocorre pela rede mundial de computadores a Internet. Dessa maneira a partir das ferramentas disponibilizadas pela Plataforma no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA), o aluno poderá interagir em tempo real com outros alunos e professores, estreitando ainda mais essas relações na construção do conhecimento. Entretanto, os cursos poderão ser apresentados de diversos modos, podendo ser totalmente à distância, quando não há encontro direto do professor com o aluno, ou semipresencial, com estrutura híbrida, quando são obrigatórios encontros presenciais para 224

228 Julho / Agosto 2013;12(4) testes de conhecimento ou facilitação no desenvolvimento de competências de cunho prático. O Ensino à Distância é voltado especialmente, (mas não exclusivamente) para adultos que, em geral, já estão no mundo corporativo e dispõe de tempo suficiente para estudar a fim de completar sua formação básica ou mesmo fazer um novo curso. Esse tipo de aluno, tendo em mãos um material didático de alta qualidade, pode estudar do princípio ao fim toda matéria de cada programa, realizando sucessivas autoavaliações, até sentir-se em condições de se apresentar para exames de proficiência [1]. Nosso interesse em desenvolver uma pesquisa sobre esta temática se deu quando no ano de 2005 foi criada a Divisão de Ensino à Distância da Escola de Saúde do Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD) Marinha do Brasil, onde foi criado o primeiro curso intitulado Curso Expedito de Anatomia Humana Básica curso de curta duração, em linguajar naval, equivalentes a cursos pós-médios, um projeto piloto para a implantação de cursos à distância em saúde naquela instituição Militar. No mesmo ano foi criado o Curso Expedito de Ressuscitação Cardiopulmonar Cerebral para Praças Enfermeiros (C-Exp-RCPC-Pr), e, em 2006, o curso Expedito de Suporte Básico de Vida para Praças Enfermeiros (C-Exp-SBV-Pr), que além da fase à distância, contemplava 03 dias de fase presencial. Esses cursos surgiram devido às necessidades de atuação em situações de emergência, relacionadas às missões ora desempenhadas, que não foram contempladas em sua formação, mas que poderiam ser necessárias principalmente aos que forem designados para embarques em navios e missões militares. Apesar de a Escola de Saúde formar profissionais de Ensino Médio e Superior, tratamos nesta pesquisa apenas o contingente de enfermagem de nível médio, Sargentos Aperfeiçoados (técnicos de enfermagem) que, por indicação ou vontade própria concluíram o Curso Expedito de Suporte Básico de Vida a Distância. Um dos fatores relevantes de cursos em saúde à distância é a necessidade em manter atualizados os profissionais das diversas Organizações Militares (OM) que necessitam de constante aprimoramento de sua formação para a segurança de seu exercício profissional, principalmente aqueles que embarcam constantemente em navios por ocasião de exercícios e missões militares. Os objetivos da pesquisa foram analisar os resultados da aplicabilidade do curso a partir de documentos gerados pelas avaliações do curso e de documentos referentes ao Ensino à Distância e à Marinha do Brasil e analisar os resultados sobre a importância do curso com base nos documentos gerados a partir das avaliações decorrentes do curso, e nos que se referem especificamente ao Ensino à Distância e à Marinha do Brasil. A Marinha do Brasil e a Escola de Saúde do Hospital Naval Marcílio Dias Para que a Marinha possa cumprir a sua missão constitucional, considerando os seus vários objetivos, destaca-se a valorização do elemento humano, enfatizando o desenvolvimento e aperfeiçoamento das suas qualidades morais, profissionais, intelectuais e culturais bem como das suas condições psicofísicas e o aprimoramento das atividades assistenciais que repercutem favoravelmente no campo psicossocial da tropa. A área de saúde militar trata de problemas associados às atividades de combate e àquelas voltadas para o estudo das consequências de operações prolongadas em meio ambiente submarino e aéreo, bem como em regiões de climas adversos, como a Antártica e a Amazônia, além das resultantes do uso de armas nucleares táticas e operações conjuntas com outras Forças ou Nações, tanto em treinamento quanto em situações reais. Além dos hospitais, ambulatório e centros odontológicos, o Corpo de Saúde da Marinha está presente em diversos navios, quarteis e estabelecimentos de ensino. Também está a bordo dos navios de Assistência Hospitalar prestando assistência médica às populações carentes das grandes bacias hidrográficas do país. Nas operações de busca e salvamento, embarcam em navios e aeronaves, prestando socorro às vítimas de sinistros de toda sorte, apoiando as tropas de Fuzileiros Navais nos desembarques [2]. O Corpo de Saúde traz para cada soldado, a confiança na existência de uma estrutura que zela por sua sobrevivência, e, quando embarcados nos navios da Esquadra, garantem a manutenção da capacidade de combate desses homens no mar. Para que a Marinha do Brasil seja capaz de cuidar da saúde do militar e sua família em todos os níveis de complexidade em tempos de paz ou de guerra é imprescindível a conjugação harmoniosa do binômio: educação versus saúde. Desta maneira, a Marinha do Brasil por intermédio da Escola de Saúde do Hospital Naval 225

229 Julho / Agosto 2013;12(4) Marcílio Dias, justifica sua existência com a função de formar profissionais de saúde, militares e civis, com qualificação e especialidades adequadas para o atendimento às populações. A Escola de Saúde é uma escola de enfermagem militar na qual todo o processo educativo é desenvolvido pelo Sistema de Ensino Naval (SEN) sob supervisão da Diretoria de Ensino da Marinha (DEnsM), numa organização bem estruturada e consciente da responsabilidade de garantir a qualidade da formação pessoal da Marinha do Brasil [3]. Não é uma Organização Militar (OM) independente, pois está integrada ao HNMD, possui estrutura própria onde estão distribuídas as áreas administrativas e de ensino, com salas de aula, salas para o desenvolvimento de técnicas para assistência à saúde, laboratório de informática e pátio externo onde são realizadas as formaturas e exercícios práticos com simulações de situações de trauma para atendimento pré-hospitalar. Atualmente de forma presencial, a Escola de Saúde forma em suas dependências militares que ingressaram na Marinha do Brasil (MB) por concurso público de nível fundamental e são encaminhados para a Escola de Aprendiz-Marinheiro, onde cursam o Ensino Fundamental, segundo segmento. Após três anos de concluída a Escola de Aprendiz-Marinheiro eles são convidados a escolher, em ordem de preferência, a profissão que querem seguir na Força. São em média vinte especializações, como operador de radar, de máquinas, barbeiro, sinaleiro e enfermeiro. A partir daí eles cursarão o C-Esp-Ef (Curso de Auxiliar de Enfermagem) que o promoverá a Cabo por sua conclusão e aproximadamente 04 anos depois o C-Ap-Ef (Curso Técnico de Enfermagem), já na condição de Sargento promovido. Embora pertencente ao Sistema de Ensino Naval (SEN) a Escola de Saúde busca equiparar sua formação de acordo com a legislação educacional civil no qual por intermédio do parecer 290/85 da Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro a Escola recebeu, além de seu credenciamento, a autorização de funcionamento pela Portaria 6113/ DAT/85. Em 2004, seus cursos de enfermagem foram cadastrados junto ao Ministério da Educação através do Cadastro Nacional de Cursos Técnicos CNCT. Cursos de curta duração, com características específicas de clientela e atendimento, ocorrem rotineiramente contribuindo para a capacitação de militares [3]. A Enfermagem Militar A Enfermagem Militar possui particularidades que diferem do meio civil. Devemos estar aptos a situações que envolvam cenários diversos, em terra, mar ou ar. As situações limítrofes no qual podemos deparar, nos obriga a desempenhar ações que exigem bom preparo físico e emocional, além de conhecimentos específicos da vida militar e profissional, para atuar nos diversos espaços de nosso País. O cenário é o local onde ocorre a cena, ou seja, o lugar onde ocorre algum acontecimento. No nosso estudo, o cenário é o espaço de batalha onde atuam os combatentes [4]. Nos exercícios e simulações de estado de guerra, os militares são treinados para atuar nas diversas áreas para as quais foram capacitados. Os instrutores militares fazem parte desse processo, facilitando o desenvolvimento de competências técnicas importantes para que o Enfermeiro possa desempenhar com segurança e conhecimento as suas atividades. Ao ser identificada uma situação de risco pelo enfermeiro militar ele deverá imediatamente procurar neutralizá-la ou removê-la, não permitindo jamais que a próxima vítima seja ele mesmo. Sua vida ali naquele cenário é de um valor incomensurável. Todos, inclusive ele, dependem dele [4]. As ocorrências que se apresentarão no decorrer das missões deverão ser sistematizadas por padronizações estabelecidas em cadeias de evacuação, e normativas de conduta profissional institucional que considerem parâmetros de segurança. Por vezes o Enfermeiro é quem decidirá qual a melhor conduta a ser tomada. Ao enfermeiro militar exige-se bom preparo físico, habilidades com armamento e segurança orgânica. Dependendo de sua atuação, conhecimentos para interpretação de condições topográficas além de todo material necessário para atuação profissional em condições inóspitas. História da Emergência e o Suporte Básico de Vida (SBV) A superlotação dos Serviços de Emergências representa um relevante problema nos sistemas de saúde pública em nosso País. A maior exposição da população a eventos agudos decorrentes de lesões associadas a causas externas, principalmente traumatismos decorrentes de acidentes automobilísticos, agressões e ferimen- 226

230 Julho / Agosto 2013;12(4) tos por armamentos, proporcionam essa demanda crescente para os serviços de emergências. Em meio militar os riscos decorrentes aos exercícios de situação de guerra, em virtude de treinamentos, viagens de adestramento em navios e Missões de Paz no qual nosso País encontra-se aliado, por vezes surgem necessidades de atendimentos emergenciais para as quais os profissionais de saúde militares necessitam ter conhecimento dos protocolos necessários sobre o Suporte Básico de Vida, como atendimento pré-hospitalar, que envolve desde a segurança da cena, ou seja, o local da ocorrência, até a maneira correta da imobilização e transporte da vítima até uma unidade de Suporte Avançado. Conforme o Emergency Care, desde 1795, havia preocupação com o transporte de vítimas em situação de guerra, sendo assim, foi idealizado pelo Barão Larrey a primeira ambulância que serviria de suporte a campanha de Napoleão Bonaparte na Prússia, iniciando-se assim o atendimento pré- -hospitalar. Durante a Segunda Guerra Mundial, com os conflitos militares entre Coréia e Vietnã foi identificado que técnicos não médicos, quando iniciavam o tratamento de vítimas de trauma antes de chegar ao hospital, aumentavam a sobrevivência desses abatidos. Apesar dos fatos, foi em meados de 1960 que J.D. Deke Farrington e colaboradores desenvolveram um programa que atingisse a população em geral, denominado de EMT-B para civis, a partir do primeiro Programa para Técnicos em Emergências Médicas do Corpo de Bombeiros de Chicago, no qual mais de um milhão de pessoas foram treinadas, sendo que um quarto migrou para níveis de Suporte Avançado de Vida [5]. O profissional habilitado para atuar como técnico em emergência médica deve ser habilitado a manobrar com situações que necessitam na urgência do procedimento, na certeza do conhecimento e principalmente na destreza em como organizar uma série de competências que foram desenvolvidas em sua formação, visto que esse profissional necessita de base sólida necessária para avaliar e administrar a maioria das Emergências encontradas pelo profissional Pré-Hospitalar [6]. Para adquirir esses conhecimentos é necessário estudo, prática e repetição, já que ele assume a responsabilidade pela vida do paciente e não poderá consultar manuais e caberá a ele a decisão crítica imediata baseada em conhecimentos e avaliação. Educação à distancia na Marinha do Brasil A Marinha do Brasil tem uma tradição na história da Educação à Distância. A Escola de Guerra Naval (EGN) criou um curso por correspondência em 22/11/1939 com o objetivo de preparar Oficiais para a matrícula no Curso de Comando, somente após a criação do Instituto Rádio Monitor de São Paulo, em outubro de Todavia, em virtude de aprovação do novo Regulamento da EGN, em 1940, o curso por correspondência passou à categoria de Curso Preliminar, sendo criado o Curso de Alto Comando que abordava os mais elevados assuntos militares. A partir de 1947 foram realizadas modificações na estrutura de ensino da EGN sendo criado o Curso Superior por Correspondência. Em 1971, foi criado o Curso Básico, atual Curso de Estado- -Maior para Oficiais Intermediários (C-EMOI) que, na sua estrutura atual, é composto de duas fases: por correspondência e presencial. No ano de 2003, a Escola Superior de Guerra (EGN), iniciou a sua primeira experiência de curso via Intranet, com o oferecimento de uma disciplina do Curso Superior (C-SUP). No ano de 2005, todas as disciplinas do C-SUP passaram a ser oferecidas via Internet [7]. A fim de viabilizar a implantação do EaD na Marinha, a DEnsM utilizou, inicialmente, o Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) E-Proinfo do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Em 2003, após a realização de novos estudos, a DEnsM optou pelo AVA TelEduc da Universidade de Campinas (UNICAMP), São Paulo. Nesse ano, criou o curso Expedito de Capacitação de Autores e Tutores de EaD (C-EXP-CATEAD) com o objetivo de orientar Oficiais, Praças e Civis assemelhados, que atuarão no EaD para o exercício de autoria e tutoria de EaD, bem como no desenvolvimento de material didático a ser utilizado em cursos à distância via web[8]. Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e Educação Os processos educativos mediados pelo computador têm estimulado o surgimento de tecnologias para a aprendizagem e a criação de ambientes virtuais por meio de plataformas de interação com suas diversas ferramentas, assim facilitando a comunicação entre alunos e professor e entre os próprios alunos, numa rede de relacionamentos onde o conhecimento é construído e compartilhado. 227

231 Julho / Agosto 2013;12(4) Nesse sentido, a difusão de novos meios de comunicação disponíveis leva à formação de comunidades desterritorializadas [9], em que as novas possibilidades em interconexão permitem a criação de comunidades virtuais formadas por afinidades e interesses comuns dos usuários da rede, independente de sua localização geográfica. Para este autor, somos uma aldeia globalizada, uma rede de consumidores de produtos e informações, rede esta formada por pessoas de todo o planeta que se conectam apesar das limitações linguísticas. Nos processos educativos, a velocidade das informações, as conexões com o mundo e as interações culturais que contribuem com a evolução do saber vêm possibilitar ao indivíduo compartilhar conhecimento, ensejando o surgimento de novos valores sociais. Ante o exposto, é possível afirmar que a tecnologia pode transformar o ensino em aprendizagem eficiente no momento em que recursos estejam disponíveis, computadores estejam conectados e professores interessados em despertar os alunos para novas possibilidades visando a construção do conhecimento de maneira interativa. Com os avanços das TIC, os professores necessitam estar atentos ao surgimento de novos conceitos e conhecimentos em suas respectivas áreas de atuação, a fim de se capacitarem para o desenvolvimento das novas competências que deverão ser exploradas em suas interações [10]. É importante uma postura crítica e criativa de professores e alunos perante o uso de tecnologias nos processos educacionais, pois a simples utilização das tecnologias educacionais não garante que os principais objetivos da aprendizagem sejam atingidos. Isto porque, dependendo da postura adotada, pode reforçar práticas educativas tradicionais ou progressistas [7]. A memória tem sua ampliação por meio do uso de banco de dados, hiperdocumentos e arquivos digitais: a imaginação é claramente auxiliada com o uso de simulações e de várias possibilidades de uso dos recursos para criação e recriação de textos e imagens; a percepção é ampliada pelas diversas possibilidades de interação que ocorrem por meio de jogos virtuais e simulações; a capacidade de raciocínio é alterada diante da inteligência artificial e dos auxílios utilizados na solução de problemas que, por sua vez, só se tornam possíveis com o auxílio das memórias adicionais dessas tecnologias. Surgem, assim, novos estilos de raciocínio e de pensamento que alteram significativamente as relações com o conhecimento; o hipertexto, com a sua proposta de interatividade, permite percorrer vários caminhos e, quando articulado a muitos outros nós da rede, proporciona uma nova possibilidade em leitura e escrita. Trata-se de uma nova forma de relação com o conhecimento [10]. Todavia, a tecnologia não garante um ensino de qualidade. A forma de apresentação, a pertinência e a qualidade dos conteúdos, bem como os incentivos que propiciarão a formação de uma nova cultura de aprendizagem, são aspectos importantes nesse processo. O conteúdo apresentado de forma atraente e por meio de um projeto didático bem estruturado e adequado poderá propiciar um excelente programa de ensino, enquanto aqueles projetos que privilegiam apenas o uso da tecnologia poderão transformar-se em grandes fracassos [11]. Somente o uso da Tecnologia Educacional não é suficiente para solucionar os atuais problemas da educação tradicional. Entretanto, esses recursos não podem ser deixados de lado. Eles devem, sim, ser usados como ferramentas que contribuam para a construção do conhecimento, e não como mais um recurso didático. Desta forma, as tecnologias educacionais devem auxiliar no processo de ressignificação dos conteúdos escolares, da adoção de estratégias de ensino que confiram mais importância ao raciocínio do que à memorização, por meio de contextualização dos conteúdos [12]. A educação como um todo, recebe os impactos das tecnologias sobre seus métodos de ensino e formas de aprendizagem. No entanto, o uso de uma tecnologia inovadora não pode ser considerada uma estratégia. A intenção do seu uso como ferramenta de apoio ao ensino precisa estar relacionada à definição de estratégias pedagógicas para que possam efetivamente apoiar o processo de construção de novas competências, gerando novas práticas de ensino e de aprendizagem [13]. O Curso de Suporte Básico de Vida à distância A criação, na Escola de Saúde do HNMD, de cursos à distância para Praças, surge da necessidade de mantê-los atualizados, já que atuam nas diversas Unidades de Assistência Médico-Hospitalar da Marinha do Brasil, como referido. Tem como objetivo suplementar a qualidade técnico-profissional desses militares, habilitando-os para o exercício das funções que exijam conhecimentos em Suporte Básico de 228

232 Julho / Agosto 2013;12(4) Vida. O curso tem início com a abordagem de conceitos básicos sobre Anatomia e Fisiologia Humanas, cuidados relacionados com a Biossegurança, Manobra de Ressuscitação Cardiopulmonar, Suporte Básico de Vida e o Protocolo START, que se refere ao atendimento com múltiplas vítimas. Os conceitos são apresentados por intermédio de módulos que servirão de apoio aos temas relacionados com o conhecimento e abordagem correta nas manobras de Suporte Básico de Vida em seu módulo específico. Trata-se de um curso com carga horária total de 60h, duração de cinco semanas, dividido em cinco módulos, divididos por capítulos, que por sua vez são subdivididos em unidades de ensino que contém, ainda, exercícios teóricos, trabalhos individuais e em grupo, além de fóruns de discussão e salas de bate-papo que venham a contribuir para o desenvolvimento do aluno na fase à distância. O curso é gerenciado e ministrado pela Divisão de Ensino à Distância da Escola de Saúde do HNMD e tem, obrigatoriamente, uma fase presencial de três dias em tempo integral na referida Escola. São utilizados três instrutores para a fase à distância, e um para a fase presencial, considerando- -se grupos de seis alunos na atividade prática. Os instrutores de ambas as fases são Oficiais e Praças Enfermeiros, com curso de formação em Suporte Básico e/ou Avançado de Vida com chancela em instituição credenciada internacionalmente para o exercício profissional. Estes recursos devem ser disponibilizados na OM do aluno, ou por agendamento, se forem utilizadas as diversas salas de aula virtuais disponibilizadas nas OMs do SEN. Na fase presencial, os instrutores utilizam projetores multimídia, manequins instrucionais, manequins vivos maquiados como vítimas em cenários que imitam situações de conflito e dificuldades de resgate. Este estudo tem como objetivo investigar o impacto do curso de Suporte Básico de Vida à Distância para Praças na Marinha do Brasil, considerando que este curso prepara o aluno para prestar o primeiro atendimento em qualquer tipo de acidente. Desse modo, observa-se que a pergunta constantemente feita é como manter os enfermeiros da Marinha do Brasil atualizados quanto a estes protocolos, considerando as dimensões continentais do Brasil. Sendo assim, o Curso de Suporte Básico de Vida à Distância para Praças, oferecido pela Divisão de Ensino a Distância da Escola de Saúde do Hospital Naval Marcílio Dias, parece ser uma alternativa para esse questionamento. Portanto, esta pesquisa analisou como esse curso vem influenciando a prática dos enfermeiros, com a finalidade de produzir uma segunda versão do curso, a partir dos resultados obtidos nesta pesquisa. Material e métodos Trata-se de estudo de caso, com abordagem quantitativa, realizado por meio da utilização de instrumentos de coleta de dados diversificados: análise de documentos, alguns que foram utilizados para constituir informações sobre os sujeitos e o cenário da pesquisa; e outros para coleta de dados - questionários pedagógicos aplicados na fase à distância. O estudo de caso é uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente. Pode ser caracterizado como um estudo de uma entidade bem definida, como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma pessoa ou uma unidade social. Visa conhecer o seu como e os seus porquês, evidenciando a sua unidade e identidade própria. É uma investigação que se assume como particularística, debruçando-se sobre uma situação específica, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico [14]. Instrumentos de coleta de dados Foi utilizado questionário pedagógico do Departamento de Ensino a Distância (DEAD) da Marinha do Brasil. Este instrumento diversificado visa entender as interpretações dos atores envolvidos acerca dos fatos que se apresentar [15]. Tendo em vista o objetivo dessa pesquisa, a construção do curso de Suporte Básico de Vida à Distância e seus efeitos na Marinha do Brasil, foi necessário que a pesquisa de campo se desenvolvesse na Escola de Saúde do HNMD, por ser a única nesta área na Marinha do Brasil. Porém, desde a seleção do tema, a objetividade no trabalho foi buscada para não comprometer a validade do estudo. Sujeitos do estudo Os sujeitos da pesquisa foram cinco Sargentos Enfermeiros, Técnicos em Enfermagem, do sexo masculino, com média de dez anos de serviço ativo na Marinha do Brasil, egressos do Curso de 229

233 Julho / Agosto 2013;12(4) Suporte Básico de Vida à Distância da Escola de Saúde do HNMD, escolhidos aleatoriamente pelo pesquisador. Todos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme previsto na Resolução 196 do Conselho Nacional de Saúde, sendo informados acerca dos objetivos da pesquisa, de que em qualquer momento poderiam desistir de participar do estudo sem nenhum prejuízo de qualquer tipo. O cenário da pesquisa foi o laboratório de informática vinculado à Divisão de Ensino à Distância da Escola de Saúde do Hospital Naval Marcílio Dias. Aspectos éticos da pesquisa Este trabalho obteve parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Naval Marcílio Dias, sob Parecer 024/2008 referente ao protocolo de pesquisa nº 005/2008, segundo as normas éticas vigentes no País para pesquisa envolvendo seres humanos (Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde). Análise documental Foram analisados questionários pedagógicos da fase a distância de duas turmas realizadas em 2006, três em 2007 e quatro turmas em Esses dados foram coletados por meio de documentos ostensivos da Marinha do Brasil, entenda-se Escola de Saúde do HNMD, cujo Comitê de Ética em Pesquisa autorizou a análise e divulgação dos dados compilados. Atender às necessidades representa que apesar da modalidade inovadora de ensino, houve uma correspondência com o esperado em virtude do objetivo do curso atender a um público que necessita de conhecimentos sobre o assunto. O curso atende a um público alvo específico que são Praças EF (profissionais de enfermagem de nível médio) que por vezes precisam decidir na ausência do Oficial médico ou enfermeiro. Figura II - Conceitos transmitidos e a linguagem utilizada. 100% 50% 0% Fácil compreensão B - média compreensão C - difícil compreensão Por se tratar de um público alvo que detém conhecimento sobre as terminologias e situações apresentadas, os conteúdos tem a intenção de transmitir formas de abordagem a partir sistematizações facilitadoras que venham facilitar o desenvolvimento de novas competências para atuação no que se propõe o curso. Figura III - Carga horária para desenvolvimento das atividades foi suficiente? Resultados Dados analisados dos cursos no período de 2006 a 2008 Não 46,16% Sim 53,84% Fase a distância - Parte A: conteúdo programático Figura I - Relação aos conceitos e ideias transmitidos. 100% 80% 60% 40% 20% 0% A - atenderam às suas necessidades B - pouco acrescentaram às suas necessidades C - nada acrescentaram às suas necessidades Os programas presenciais existentes com a proposta de curso que apresentamos utilizam tempo inferior em seus programas de ensino. Nosso objetivo é oferecer uma imersão de conhecimentos no qual são desenvolvidas habilidades de acordo com os assuntos apresentados. 230

234 Julho / Agosto 2013;12(4) Parte B: Acesso ao curso Figura IV - Relação ao horário, qual o período de maior facilidade para acessar o curso? 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Manhã Tarde Noite As Organizações Militares (OM) possuem um fluxo de atividade maior no período da manhã, o que dificulta ao militar deixar de cumprir com suas fainas para poder acessar o curso. O fato da maior prevalência de acesso ocorrer nos períodos da tarde e noite é justificada em virtude das OM de saúde funcionarem em dois turnos e com a facilidade de acesso pela Internet o aluno poderá acompanhar as atividades em seu domicílio. Figura V - Na sua organização ocorreu algum tipo de problema no momento de acesso ao curso? Não 7,7% Sim 92,3% Apesar de o curso ter caráter voluntário, alguns militares serem destacados para Embarques não previstos e devido ao cumprimento de escalas de serviço em virtude da rotina das OM de mar ser diferente das OM de terra, áreas navegação com dificuldades de acesso a Internet é um dos problemas identificados. Figura VI - Os orientadores do curso corresponderam às suas expectativas, por ocasião dos contatos realizados por ? 100% 50% 0% Sim Não Os instrutores mostram-se presentes durante toda a fase a distância acompanhando os alunos por meio do ambiente virtual de aprendizagem (AVA) de maneira que as mediações, interfaces e discussões não deixem de ser correspondidas. Figura VII - Na sua opinião, quais os aspectos relevantes que poderiam ser adotados para a melhoria do curso? 90,00% 80,00% 70,00% 60,00% 50,00% 40,00% 30,00% 20,00% 10,00% 0,00% Maior tempo Outros presencial Discussão Com as dificuldades encontradas em virtude da ideia de estudar um tema novo, frente às tradições encontradas em sala de aula presencial no exercício da atividade na Escola de Saúde como instrutor militar, permitiu a constatação de que a atividade de ensino virtual é válida a partir do instante em que o aluno está disposto a desvendar novos conhecimentos para o aprimoramento da sua atividade profissional e, principalmente, pelo compromisso em salvar vidas. O impacto causado pela implantação do curso de Suporte Básico de Vida à Distância foi percebido pela grande procura identificada quando da divulgação, em meios de comunicação interna da Marinha do Brasil, e pela abertura de novas turmas. O Curso Suporte Básico de Vida a Distância, via web, é o único entre as Forças Armadas e Auxiliares nesta modalidade, atendendo não só aos militares da localidade, como também àqueles embarcados em hospitais distritais. Dentro dos navios os riscos de ocorrência de sinistros são possíveis. Sendo assim, como proceder se o militar não tiver preparo técnico suficiente para interceder frente às situações limítrofes, considerando que será necessário utilizar meios para suporte à vida, com manejos adequados para locomoção onde haja recursos avançados de procedimentos? A partir dessas evidências, a proposta da criação do curso mencionado, na modalidade de EAD, e sua real aplicabilidade, propiciaram aos militares que atuam na assistência à saúde, a oportunidade de adquirir conhecimentos indispensáveis para sanar as dificuldades na execução de procedimentos relativos 231

235 Julho / Agosto 2013;12(4) aos primeiros atendimentos às vítimas de sinistros nos âmbitos de trabalho da Marinha do Brasil, com padrões internacionais de qualidade. O Curso de Suporte Básico de Vida à Distância, desde sua implantação em 2006 até os dias atuais, devido à grande procura por militares e Comandos das OM, tem sido utilizado com a preocupação de manter profissionais preparados para atuação em situações de emergência em saúde. Conclusão Considera-se comprovada a relevância do estudo, e ainda, que o seu objetivo foi alcançado, inclusive, com reflexos positivos junto à Diretoria de Ensino da Marinha (DEnsM) e à Diretoria de Saúde da Marinha (DSM), ao reconhecer a importância para o aprendizado dos militares, que buscam se qualificar para uma atuação com resultados mais eficazes, estimulando a criação de outros cursos na mesma modalidade. Referências 1. Nunes IB. A História da EAD no Mundo. In: Litto FM, Formiga MMM. Educação a Distância: o estado da arte. São Paulo: Pearson Education do Brasil; 2009.p Marinha do Brasil. Hospital Naval Marcílio Dias 70 anos. Rio de Janeiro: MCE; Câmara VG. A construção da identidade professoral militar: um estudo de caso sobre docentes-enfermeiros da escola de saúde da Marinha do Brasil. [Dissertação]. Rio de Janeiro: PUC; p. 4. Alcantara LM. A Enfermagem militar operativa: gerenciando o cuidado em situações de guerra. [Tese]. Rio de Janeiro: UFRJ-Escola de Enfermagem Anna Nery; p A história da emergência médica. [citado 2006 Setembro 14]. Disponível em: URL: 6. A história da Emergência Médica. [citado 2006 Setembro 14]. Disponível em URL: http: com.br/emergencias/historia_emerg02.asp. 7. DEnsM Manual para elaboração de cursos a distância, da Diretoria de Ensino da Marinha, Ostensivo Marinha do Brasil; p. 8. Lévy P. As tecnologias da inteligência. O futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34; Santos EO, Okada ALP. A construção de ambientes virtuais de aprendizagem: por autorias plurais e gratuitas no ciberespaço. In: 26ª Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação. Poços de Caldas: ANPEd; Lévy P. Cibercultura. Traduzido por Carlos Irineu da Costa. 2a ed. São Paulo: Editora 34; Vallin C, Freire FMP, Fazenda ICA, D Abreu JVV, Valente JÁ, Oliveira LP et al. Educação à Distância Via Internet. São Paulo: Avercamp; Belloni ML. Educação à Distância. Campinas: Editores Associados; Maggio M. O tutor na Educação à Distância. In: Litwin E. Educação à Distância: temas para o debate de uma nova agenda educativa. Porto Alegre: Artmed; 2001;p Valle ERM. A pesquisa participante como metodologia da pesquisa em enfermagem. Revista Enfoque 1988;16(1): Lüdke M. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU;

236 Artigo original Transtorno psíquico em trabalhadores terceirizados de limpeza e vigilância Barbara Correia Neves*, Giselle Juliana de Jesus*, Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler** *Enfermeira graduada pela Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto FAMERP, **Enfermeira, Livre Docente em Enfermagem, Docente da Graduação e da Pós-Graduação da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), Orientadora em nível de Mestrado e Doutorado da FAMERP, Diretora Adjunta de Extensão de Serviços à Comunidade da FAMERP, Coordenadora do Mestrado Acadêmico Programa de Enfermagem da FAMERP, Orientadora desta pesquisa Resumo Introdução: Os sintomas depressivos são considerados pela Organização Mundial de Saúde como aqueles destacados entre as quatro doenças mais incapacitantes, alterando a qualidade de vida das pessoas afetadas. Objetivo: Identificar transtornos psíquicos entre funcionários com vínculo de trabalho terceirizado, atuantes no complexo de uma Faculdade de Medicina e de um hospital de ensino anexo, atuantes nos setores de limpeza e de vigilância. Método: Os funcionários foram entrevistados segundo instrumento validado SQR-20, e questionário de identificação sócio econômica. Resultados: Verificou-se que 70% dos profissionais entrevistados possuem algum tipo de transtorno psíquico, havendo uma associação maior com o sexo feminino. Conclusão: A presença de sofrimento mental nos trabalhadores terceirizados tem relação com a precariedade de suas condições de vida e de trabalho. Palavras-chave: morbidade, estresse psicológico, saúde mental, depressão, serviços terceirizados, saúde ocupacional. Abstract Psychiatric disorders among outsourced cleaning and surveillance workers Introduction: Psychic disorders are considered one the world s four most incapacitating diseases by the World Health Organization. The quality of life of those affected by such disorders is greatly compromised. Objective: To identify the prevalence of psychiatric disorders among outsourced cleaning and surveillance workers operating in the complex of a Faculty of Medicine and an attached teaching hospital. Material and methods: Workers were interviewed using a validated instrument, the SQR-20. Socio-economic aspects were assessed through a questionnaire. Results: Data collected revealed that 70% of the workers interviewed had some kind of psychiatric disorder. There was a positive association between female gender and psychiatric disorders. Conclusion: Mental distress among outsourced workers is related to poor life and working conditions. Key-words: morbidity, psychological stress, mental health, depression, outsourced services, occupational health. Recebido em 10 de abril de 2013; aceito em 13 de agosto de Endereço para correspondência: Barbara Correia Neves, Rua Hermantino Coelho 299/43 A, Mansões Santo Antônio, Campinas SP, nevesbarbara@hotmail.com 233

237 Julho / Agosto 2013;12(4) Resumen Trastornos mentales en trabajadores subcontratados de limpieza y vigilancia Introducción: Los síntomas depresivos son considerados por la Organización Mundial de la Salud como los que se destacan entre las cuatro enfermedades más incapacitantes, ya que perjudica la calidad de vida de los afectados. Objetivo: Identificar trastornos mentales existentes entre los miembros del personal subcontratado activo en los campos de la limpieza y la seguridad en el complejo de una Facultad de Medicina y un hospital escuela adjunto. Método: Los empleados fueron entrevistados de acuerdo con el instrumento validado SQR-20, y el cuestionario de identificación socioeconómico. Resultados: Se constató que el 70% de los profesionales encuestados tienen algún tipo de trastorno mental, con una mayor asociación con el sexo femenino. Conclusión: La presencia de trastornos mentales en los trabajadores subcontratados está relacionada con las malas condiciones de vida y trabajo de esos trabajadores. Palabras-clave: morbilidad, estrés psicológico, salud mental, depresión, servicios subcontratados, salud ocupacional. Introdução Saúde e doença são estados que dependem da integridade física e mental do indivíduo, bem como das características do meio social onde vive [1]. Assim, qualquer mudança brusca no modelo de vida de uma pessoa pode provocar agravos físicos e algum transtorno mental, devendo ser rapidamente diagnosticadas para implementar tratamento adequado [2-4]. Nessa perspectiva, o bem estar psíquico de trabalhadores tem a ver com a organização do trabalho, o que envolve sua capacidade de adaptação a cronogramas, escalas, horários, remuneração, enfim, à satisfação quanto ao processo de trabalho [3-7]. A saúde mental relacionada ao trabalho constitui-se em um campo de estudo interdisciplinar e diz respeito à capacidade da pessoa de desenvolver sentimentos sociais e de ser produtiva. O trabalho tanto pode elevar a autoestima do indivíduo quanto provocar sentimentos de inferioridade e transtornos psíquicos [8,9]. O trabalho pode representar para o ser humano situação equilibrante, se expressar o desejo do indivíduo ou fatigante, se precisar reprimir suas aspirações e resultar em fator importante na constituição de sofrimento psíquico [10]. Nas sociedades capitalistas, a evolução da concepção sobre a saúde do trabalhador modificou-se ao longo do tempo, passando do conceito de exercício do trabalho como meio de sobrevivência do corpo para preocupação também com a saúde mental do trabalhador. Se na gestão da saúde não se incorporar novas formas de gestão do trabalho, o sofrimento laboral será evidenciado em manifestações físicas e mentais, como estresse, tristeza, fadiga crônica, irritabilidade ou alienação, entre outras [11-14]. Nas últimas décadas o adoecimento mental tem sido especialmente estudado, destacando-se pesquisas com abordagem de sofrimento psíquico. No Brasil, por muito tempo os trabalhadores exerceram suas profissões sem benefícios legais ou direitos, entre outros, férias remuneradas, licença saúde, pagamento por hora-extra, configurando exploração do empregador e resultando em agravos à saúde física e mental dos trabalhadores [8-16]. Com o Decreto Lei no. 5452, de 01 de maio de 1943, houve a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e atualmente a saúde do trabalhador é particularmente regulada pela Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal 8080/90), com dispositivos legais sobre promoção e proteção da saúde dos trabalhadores [17]. Os mecanismos precisos que associam terceirização e saúde do trabalhador ainda são pouco conhecidos, mas são evidentes as relações entre terceirização e saúde/adoecimento. O serviço terceirizado, em regra, caracteriza-se por piores condições laborais; fragilização social devido às dificuldades de encontrar trabalho; salários baixos; elevada carga de trabalho; menos direitos e benefícios trabalhistas, repercutindo em agravos físicos e de ordem emocional e psicológica. Um fator agravante é o fato de que os problemas dos trabalhadores terceirizados não são identificados na empresa que os emprega e sim na que prestam serviço, prolongando a possibilidade de intervenção e a gravidade dos agravos à saúde [18-20]. Os distúrbios emocionais que afetam a saúde mental em decorrência de condições inadequadas de trabalho, geralmente resultam no aparecimento de transtornos mentais comuns (TMC), expressão que caracteriza sintomas como insônia, fadiga, 234

238 Julho / Agosto 2013;12(4) irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e queixas somáticas. Tais sintomas servem para detectar preditores de sofrimento mental, que se não são tratados logo podem levar a transtornos mentais severos [3,12-18]. Ante tais considerações, esta pesquisa, realizada entre trabalhadores terceirizados de serviços de limpeza e vigilância de um hospital e de uma instituição de ensino superior pública, teve como objetivos: verificar as características sociais e demográficas e identificar a ocorrência de sofrimento psíquico entre os trabalhadores de limpeza e vigilância pesquisados. Material e métodos Esta pesquisa de natureza quantitativa, descritiva e exploratória, foi realizada com 50 trabalhadores terceirizados, que atuavam nos serviços de vigilância ou limpeza, em uma instituição superior de ensino e em um hospital de ensino de grande porte. Antecedendo a coleta de dados, em respeito aos preceitos éticos de pesquisa em seres humanos, o projeto desta pesquisa foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), Parecer nº 159/2011 e Protocolo nº 3617/2011 e obteve-se o consentimento das instituições e dos trabalhadores estudados, após conhecimento sobre os objetivos e finalidade do estudo. Para a coleta dos dados sociais e demográficos foi usado um instrumento (Anexo1), adaptado de formulário de um projeto-mãe e em investigações vinculadas ao Grupo de Pesquisa Núcleo de Estudos sobre Morbidade Referida e Gestão do Trabalho em Saúde NEMOREGES. Também foi usado o SQR-20, que é um instrumento autoaplicável, validado para o português brasileiro, comumente usado para rastreamento da presença e gravidade de transtorno psiquiátrico. (Anexo 2) Os dados obtidos foram agrupados segundo sua especificidade, e estão apresentados em forma de Tabelas e foram analisados com valores percentuais e testes estatísticos de associação das variáveis preditoras de sofrimento mental (qui quadrado e determinação do risco relativo, adotando nível de significância de 0,05). A idade dos participantes do estudo foi comparada com a variável que avaliou a ocorrência de sofrimento mental por meio da aplicação do teste t para amostras independentes. Resultados Os resultados do estudo baseiam-se na análise de 50 trabalhadores terceirizados que atuavam simultaneamente nas áreas de limpeza e vigilância de duas instituições de saúde parceiras: uma de ensino de graduação em enfermagem e medicina autarquia estadual - e outra um hospital de ensino de grande porte, de regime fundacional, com vistas a caracterizar o perfil social dos trabalhadores e sinais e sintomas preditores de sofrimento mental. Vale esclarecer que dos 50 trabalhadores incluídos neste estudo, 30 (60%) tinham vínculo com a área de limpeza. A Tabela I mostra os percentuais referentes às variáveis de caracterização social e econômica dos participantes do estudo, destacando-se : 42 (84%) do sexo feminino; 33 (66%) casados; 23 (46% com um a dois filhos; 17 ( 47,2%) com 11 a 12 anos de estudo; 21 (58,3%) católicos; 38 (76%) com renda mensal entre 1 a 3 salários mínimos, sendo que 72% tinham 2 a mais pessoas contribuindo para a renda familiar, além do participante do estudo; 38 (76%) usavam o ônibus como meio de deslocamento principal para o trabalho e 22 (44%) tinham residência alugada ou cedida. Quanto à avaliação do sofrimento mental, como se observa na Tabela II, do total de 50 trabalhadores terceirizados, 35 (70,0%) apresentaram resultado positivo para distúrbio mental menor, fato verificado por meio do questionário de autorrelato - SQR-20, com avaliação realizada por escala de escore validada. Ainda, na Tabela II fica evidente que dos 50 participantes do estudo, 35 (70%) revelaram sinais e sintomas de distúrbios psíquicos, correspondendo a 32 (76,2%) das 42 mulheres incluídas na pesquisa e a 3 (37,5%) dos 8 trabalhadores do sexo masculino. A idade dos colaboradores também foi avaliada por estatística descritiva na Tabela III, relacionando idade com ocorrência de sofrimento mental. Foi possível observar a inexistência de diferenças significativas entre o enfoque de sofrimento mental quando a idade desses colaboradores foi comparada a 5% de significância. 235

239 Julho / Agosto 2013;12(4) Tabela I - Distribuição dos trabalhadores terceirizados de limpeza e vigilância segundo características sociodemográficas. São José do Rio Preto, 2010/2011. N= 50 Características N % Valor P Sexo 0,036 Feminino Masculino 8 16 Estado Civil 0,221 Casado Solteiro ou Separado Filhos 0,197 1 a ou mais Nenhum 9 18 Escolaridade (anos de estudo) 0,131 1 a ,2 6 a ,6 11 a ,2 Religião 0,110 Católica 21 58,3 Evangélica 12 33,3 Espírita 3 8,4 Renda Familiar (salário mínimo) 0,321 1 a Mais de Contribuinte de Renda Familiar 0,060 0 a ou mais Principal meio de Transporte 0,321 Coletivo (ônibus) Carro ou moto Tipo de Residência 0,309 Alugada ou cedida Própria quitada Própria financiada *Teste de Fisher; Significância ao nível dep 0,05. Discussão O foco desta pesquisa foi verificar a ocorrência de distúrbios psíquicos, entre trabalhadores terceirizados de limpeza e vigilância, relacionando com seus dados sociais e suas condições de vida e de trabalho. A idade dos participantes do estudo variou da mínima de 23 anos para a máxima de 60 anos, com média de 40,50 anos, desvio padrão de 9,51 anos e mediana de 39,50 anos. Não foi observada presença de valores discrepantes (outliers) que influenciassem o valor da média da idade, sendo que esses dados seguiram distribuição normal. Os resultados revelaram existência de uma associação significativa referente ao sexo dos colaboradores (P = 0,036), visto que o valor P foi inferior ao nível de significância adotado. Desde a década de 1920, nos Estados Unidos da América, por obra de entidades sindicais, são documentadas atividades relacionadas à saúde mental ocupacional. No Brasil, esta questão tem sido mais amplamente pesquisada a partir da regulamentação da Consolidação da Legislação Trabalhista (CLT) - acolhendo-se demandas de entidades sindicais junto aos serviços públicos, principalmente. Coloca-se em destaque o sofrimento psíquico de trabalhadores, resultado da pressão por produção, por constrangimentos cotidianos, ameaça de desemprego, condições inadequadas de organização do trabalho e baixa remuneração, fatos observados em quase todas as empresas, públicas ou privadas [18-22]. Os dados obtidos neste estudo demonstraram maior parte de casos positivos para o sofrimento mental em trabalhadores do sexo feminino, sendo possível determinar o risco relativo (RR) para o 236 Tabela II - Distribuição dos trabalhadores terceirizados de limpeza e vigilância quanto ao sofrimento mental em relação ao sexo. São José do Rio Preto, 2010/2011. Sofrimento Mental Sexo Total Valor p Feminino Masculino N % N % N % Não 10 23,8 5 62, Sim 32 76,2 3 37, ,036* Total ,0 *Teste exato de Fisher; Significância ao nível de p 0,05. Tabela III - Estatística descritiva relacionando idade e ocorrência de sofrimento mental entre trabalhadores terceirizados de limpeza e vigilância. São José do Rio Preto, 2010/2011. Sofrimento mental N Média (DP) Mediana Valor P Negativo 15 39,20 (11,09) 40,00 0,571 Positivo 35 41,06 (8,87) 39,00 Total 50 *Teste exato de Fisher; Significância ao nível de p 0,05

240 Julho / Agosto 2013;12(4) frimento psíquico ao trabalhador, gerando um ônus em sua vida e de sua família. O quadro clínico dos sintomas mentais e comportamentais relacionados ao trabalho é manifestado por rebaixamento do nível de consciência, que refletido na dificuldade de concentração, na percepção de si mesmo e do meio, na psicomotricidade e no humor, mostrado em sentimento intenso de tristeza e de desvalorização social [8-12]. Quanto à avaliação do sofrimento mental, verificou-se nesta pesquisa que 70% dos participantes tiveram resultado positivo para distúrbio mental menor, caracterizado por irritabilidade, frustração, ansiedade, cansaço, fadiga, depressão e estresse. O estresse não é uma doença, mas uma tentativa de adaptação e não está relacionado apenas ao trabalho mas também ao cotidiano de vida experimentado pelo sujeito. No entanto, o trabalho tem relevância no cotidiano de vida do adulto, transformando-o em um dos principais fatores desencadeante do estresse. Também a síndrome de burnout, traduzida como esgotamento profissional, representa uma reação à tensão emocional crônica, com três principais componentes: a exaustão emocional, a despersonalização e a diminuição do envolvimento pessoal no trabalho. Os agravos à saúde constatados envolvem relação profissional regida e mediada por pressão, normas, horários, turnos, transferências, verificando-se que o trabalho tem função constitutiva no adoecimento e não apenas como fator desencadeante [6-9,12-16,20-28]. Muitas vezes a terceirização do trabalho transforma a vida pessoal e profissional dos trabalhadores, em especial daqueles que executam atividades de menor reconhecimento social ou que são realizadas em condições perigosas ou insalubres. Normalmente, as mudanças nas relações sociais do trabalho terceirizado são reveladas na precarização das condições laborais, no que tange à remuneração, benefícios sociais, capacitação para o exercício profissional e educação continuada, entre outros aspectos. Tal contexto laboral acaba por afetar também a qualidade de vida e de saúde dos trabalhadores terceirizados, que sofrem diferentes processos de adoecimento físico e de sofrimento mental. Pela Portaria No. 1339/99 do Ministério da Saúde do Brasil, as doenças relacionadas ao trabalho incluem os quadros psicopatológicos. No estabelecimento do nexo causal entre saúde mental e trabalho, a exigência legal a impõe para o reconhecimento como doença relacionada com o trabalho e o acesso aos besofrimento mental, considerando que o risco de desenvolvimento do sofrimento mental é maior nas mulheres do que nos homens. O risco relativo (RR) resultou em 2,031 com intervalo de confiança de IC (95%) (0,817;5,049), ou seja, o risco de desenvolvimento de sofrimento mental em mulheres é 2,031 vezes maior do que nos homens. Para as demais variáveis de caracterização amostral é possível pressupor que não há relação de risco relativo devido ao fato de não ter resultado em associação significativa. Verificou-se que a média de idade dos grupos positivo e negativo são semelhantes e que os intervalos de confiança se sobrepõem, reiterando o fato de não haver diferenças significativas entre os grupos positivo e negativo para sofrimento mental em relação à idade. Pode-se pressupor que a idade não é um fator para o desenvolvimento de sofrimento mental. Nessa pesquisa os funcionários terceirizados apresentaram pontuação positiva para algum distúrbio mental menor, predominância do sexo feminino. O predomínio de sofrimento em profissionais do sexo feminino corresponde ao perfil esperado e é muito semelhante a achados de outros estudos. Apesar de a mulher ter conseguido maior espaço na sociedade, em grande parte dos lares brasileiros as mulheres ainda vivenciam a chamada dupla jornada de trabalho: isto é, trabalham fora de casa e são as responsáveis pelo bom andamento do lar [23]. Agregado a isso, as condições de trabalho nas instituições do estudo são precárias (não existe um vestiário, uma área de alimentação e descanso adequados para os funcionários) o que os marginaliza dentro da própria instituição trabalhadora, implicando no aparecimento de riscos de acidentes no ambiente de trabalho e no aumento do sofrimento psíquico pela vivência de sentimentos como ansiedade, medo e insatisfação [21-25]. Muitos relatos verbais durante a coleta de dados desta pesquisa revelaram sentimentos de insatisfação profissional e falta de perspectiva de melhorias em decorrência da inexistência de um espaço para se trocarem e se alimentarem. O sofrimento psíquico nestes trabalhadores é visível ao andar pela instituição e cruzar com eles nos corredores, pois estes se apresentam cabisbaixos, esquivos. Os mesmos se inferiorizam por estarem ali limpando ou vigiando, e não compreendem a importância que seu serviço tem para a que a instituição caminhe bem. As condições inadequadas de desenvolvimento do trabalho terceirizado podem provocar intenso so- 237

241 Julho / Agosto 2013;12(4) 238 nefícios previdenciários decorrentes [18]. As doenças psicossomáticas associadas ao trabalho são destacadas em sinais clínicos e em sintomas subjetivos de medo, insatisfação, angústia, tristeza, irritabilidade e são entendidas como estágio avançado de sofrimento psíquico, que provocam diminuição da produtividade e aumento das faltas e afastamentos licenças para tratamento de saúde. Nas várias manifestações de sofrimento laboral são destacados: quadros de insônia, ansiedade crônica, fadiga, estresse, depressão, sensação de estar esgotado, dores nas articulações e dores de cabeça. Tais manifestações são relacionadas ao processo de trabalho, revelando condições físicas de trabalho inadequadas, relacionamento difícil com a chefia e com subordinados, fofocas, insatisfação com o trabalho, falta de reconhecimento, pressão no trabalho, excesso de responsabilidades, sensação de ser vigiado e orientações contraditórias para a execução da tarefa 11,18-21]. Ainda, geralmente os trabalhadores terceirizados desenvolvem suas atividades em instituições que não contribuem para providenciar condições ambientais adequadas para sua alimentação, higiene e segurança. Observa-se também a ausência de amparo trabalhista e social, expressa pela negação de direitos básicos como plano de saúde, entre outros. Além disso, a falta de apoio institucional quanto ao fornecimento de ferramentas essenciais para o desenvolvimento do trabalho e de equipamentos de segurança individuais (EPIs) caracteriza a desproteção dos trabalhadores terceirizados desta instituição quanto à ocorrência de acidentes no trabalho e exposição a riscos para doenças físicas e mentais [23-28]. Conclusão O sofrimento psíquico constatado nos trabalhadores terceirizados de limpeza e vigilância participantes desta pesquisa revela a precariedade de suas condições de vida e de trabalho e apontam para a necessidade de intervenções na psicodinâmica de seu trabalho, na melhor organização de seu ambiente de atuação profissional e de maior garantia de seus diretos trabalhistas. É essencial aprofundar investigações e debates sobre a relação entre trabalho e adoecimento físico e mental, com vistas a obter subsídios legais e humanísticos para intervenções que provoquem mudanças nas situações de trabalho terceirizado. Tais investigações devem ser feitas não apenas como interesse acadêmico, mas como crítica à gestão das organizações contemporâneas e em favor da saúde mental do trabalhador, que permitam a proposição de mudanças efetivas neste campo de investigação. Agradecimentos Apoio Financeiro: CNPQ Bolsa de Iniciação Científica (PIBIC 2011/2012) Referências 1. Faria JH, Vasconcelos A. Saúde mental no trabalho: contradições e limites. Psico social 2008; 20(3): Araujo TM, Graça CC, Araujo E. Estresse ocupacional e saúde: contribuições do modelo demanda-controle. Ciênc Saúde Coletiva 2003;8(4): Ludermir AB, Filho DAM. Condições de vida e estrutura ocupacional associadas a transtornos mentais comuns. Rev Saúde Pública 2002;36(2): Alves R B. Vigilância em saúde do trabalhador e promoção da saúde: aproximações possíveis e desafios. Cad Saúde Pública 2003;19(1): Silva LS, Pinheiro TMM, Sakurai E. Reestruturação produtiva, impactos na saúde e sofrimento mental: o caso de um banco estatal em Minas Gerais. Cad Saúde Pública 2007;23(12): Ribeiro J, Pessalacia JDR, Mattos AA, Aramaki F, Postteli R. Saúde mental de trabalhadores de setores administrativos de uma empresa de construção civil e estruturas metálicas. Rev Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog 2009;5(1): Silva EC, Costa Junior ML. Transtornos mentais e comportamentais no sistema de informações hospitalares do SUS: perspectivas para a enfermagem. Rev Esc Enferm USP 2006;40(2): Miranda FAN, Carvalho GRP, Fernandes RL, Silva MB, Sabino MGG. Saúde Mental, trabalho e aposentadoria: focalizando a alienação mental. Rev Bras Enferm 2009;62(5): Medeiro L, Albuquerque SM, Fernandes JS, Andrade SMB. Saúde mental e enfermagem na estratégia saúde da família: como estão atuando os enfermeiros? Rev Esc Enferm USP 2010;44(2): Borsoi ICF. Da relação entre trabalho e saúde à relação entre trabalho e saúde mental. Psicol Soc 2007;19(Ed. Especial 1): Kantorski LP, Pinho L, Saeki TS, Mello CB. Relacionamento terapêutico e ensino de enfermagem psiquiátrica e saúde mental: tendências no Estado de São Paulo. Rev Esc Enferm USP 2005;39(3): Vasconcelos ADE, Faria JH. Saúde Mental no Trabalho: contradições e limites. Psicol Soc 2008;20(3): Glina DMR, Rocha LE, Batista ML, Mendonça MGV. Saúde mental e trabalho: uma reflexão sobre o nexo com o trabalho e o diagnóstico, com base na prática. Cad Saúde Pública 2001;17(3): Silveira DT, Marin HF. Conjunto de dados mínimos de Enfermagem: construindo um modelo em saúde ocupacional. Acta Paul Enferm 2006;19(2):

242 Julho / Agosto 2013;12(4) 15. Rocha LE, Debert Ribeiro M. Trabalho, saúde e gênero: estudo comparativo sobre analistas de sistemas. Rev Saúde Publica 2001;35(6): Oliveira LCB, Chaves-Maia EM. Saúde psíquica dos profissionais de saúde em hospitais públicos. Rev Salud Pública 2008;10(3): Rocha VM, Fernandes FH. Qualidade de vida de professores do ensino fundamental: uma perspectiva para a promoção da saúde do trabalhador. J Bras Psiquiatr 2008;57(1): Rebouças D, Legay LF, Abelha L. Satisfação com o trabalho e impacto causado nos profissionais de serviço de saúde mental. Rev Saúde Pública 2007;41(2): Lei Orgânica da Saúde (Lei Federal 8080/90). [citado 2013 Abr 20]. URL: http//:portal.saude.gov.br/portal/ arquivos/pdf/lei8080.pdf 20. Santos MCO, Lima FPA, Murta EP, Motta GMV. Desregulamentação do trabalho e desregulação da atividade: o caso da terceirização da limpeza urbana e o trabalho dos garis. Produção 2009;19(1): Jacques MGC. O nexo causal em saúde/doença mental no trabalho: uma demanda para a Psicologia. Psicol Soc 2007;19(Edição Especial 1): Santos KOB, Araujo TM, Oliveira NF. Estrutura fatorial e consistência interna do Self-reporting Questionnaire (SRQ-20) em população urbana. Cad Saúde Pública 2009;25(1): Ramminger T. A saúde mental do trabalhador em saúde mental: um estudo com trabalhadores de um hospital psiquiátrico. Boletim da Saúde 2002;16(1): Jacques MGC. Abordagens teórico-metodológicas em saúde/doença mental e trabalho. Psicol Soc 2003;15(1): Guido LA, Linch GFC, Pitthan LO, Umann J. Estresse, coping e estado de saúde entre enfermeiros hospitalares. Rev Esc Enferm USP 2011;45(6): Resende MC, Azevedo EGS, Lourenço LR, Faria LS, Alves NF, Farina NP et al. Saúde mental e ansiedade em agentes comunitários que atuam em saúde da família em Uberlândia (MG, Brasil). Ciênc Saúde Coletiva 2011;16(4): Sato L, Bernardo MH. Saúde mental e trabalho: os problemas que persistem. Ciênc Saúde Coletiva 2005;10(4): Paparelli R, Sato L, Oliveira F. A saúde mental relacionada ao trabalho e os desafios aos profissionais da saúde. Rev Bras Saúde Ocup 2011;36(123): Anexo 1 Instrumento de coleta dos dados sociais e demográficos. I Identificação 1. Sexo: [ ] Feminino [ ] Masculino 2. Idade anos 3. Estado Civil: [ ] Casado [ ] Solteiro [ ] Separado [ ] União Consensual [ ] Viúvo 4. Escolaridade anos de estudo. 5. Religião [ ] Católica [ ] Evangélico [ ] Espírita [ ] Ateu [ ] Outra II Condições socioeconômicas 6. Formação: Profissão: 7. Atividade remunerada anterior: 8. Filhos: Idade(anos) Estuda (anos) Trabalha (o que faz) 1º. 2º. 3º. 4º. 9. Recebe algum auxílio governamental? [ ] bolsa família [ ] bolsa escola [ ] bolsa gás [ ] bolsa leite [ ] Outra 10. Renda Familiar: [ ] 1SM [ ] 2SM [ ] 3SM [ ] 4SM [ ] 5SM [ ] 6 ou mais Destacar renda familiar total: 11. Pessoas contribuem para a renda familiar: [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3 [ ] 4 [ ] 5 Explique: 12. Você tem outro rendimento? Explique: 13. Residência: [ ] Própria Quitada [ ] Própria financiada [ ] Alugada [ ] Cedida-Emprestada [ ] Outra Especifique: 14. N de residentes: [ ] 1 [ ] 2 [ ] 3 [ ] 4 [ ] 5 [ ] 6 [ ] 7 [ ] 8 [ ] 9 [ ] 10 ou mais 15. Meios de transporte para trabalhar: [ ] ônibus [ ] moto [ ] bicicleta [ ] carro [ ] carona [ ] caminhada. 239

243 Julho / Agosto 2013;12(4) Anexo 2 SRQ-20: Questionário de Autorrelato Teste que avalia o sofrimento mental. Por favor, leia estas instruções antes de preencher as questões abaixo. Instruções: Estas questões são relacionadas a certas dores e problemas que podem ter lhe incomodado nos últimos 30 dias. Se você acha que a questão se aplica a você e teve o problema descrito nos últimos 30 dias responda SIM. Por outro lado, se a questão não se aplica a você e não teve o problema nos últimos 30 dias, responda NÃO. 1) Você tem dores de cabeça frequente? [ ] SIM [ ] NÃO 2)Tem falta de apetite? [ ] SIM [ ] NÃO 3) Dorme mal? [ ] SIM [ ] NÃO 4) Assusta-se com facilidade? [ ] SIM [ ] NÃO 5) Tem tremores nas mãos? [ ] SIM [ ] NÃO 6) Sente-se nervoso (a), tenso (a) ou preocupado (a)? [ ] SIM [ ] NÃO 7) Tem má digestão? [ ] SIM [ ] NÃO 8) Tem dificuldades de pensar com clareza? [ ] SIM [ ] NÃO 9) Tem se sentido triste ultimamente? [ ] SIM [ ] NÃO 10) Tem chorado mais do que costume? [ ] SIM [ ] NÃO 11) Encontra dificuldades para realizar com satisfação suas atividades diárias? [ ] SIM [ ] NÃO 12) Tem dificuldades para tomar decisões? [ ] SIM [ ] NÃO 13) Tem dificuldades no serviço (seu trabalho é penoso,lhe causa sofrimento?) [ ] SIM [ ] NÃO 14) É incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida? [ ] SIM [ ] NÃO 15) Tem perdido o interesse pelas coisas? [ ] SIM [ ] NÃO 16) Você se sente uma pessoa inútil, sem préstimo? [ ] SIM [ ] NÃO 17) Tem tido ideia de acabar com a vida? [ ] SIM [ ] NÃO 18) Sente-se cansado (a) o tempo todo? [ ] SIM [ ] NÃO 19) Você se cansa com facilidade? [ ] SIM [ ] NÃO 20) Têm sensações desagradáveis no estomago? [ ] SIM [ ] NÃO 240

244 Relato de experiência A Dança da Higiene : promovendo saúde na escola através da música Ana Cristina Viana Campos*, Gabriela Oliveira Fraga**, Larissa Campos Valadares**, Cecília Alves Leopoldino**, Heloisa Galdino Catanio**, Raíssa Gabriela Lopes Teixeira**, Mauro Henrique Nogueira Guimarães de Abreu***, Efigênia Ferreira e Ferreira**** * Doutoranda em Saúde Coletiva pela Faculdade de Odontologia Universidade Federal de Minas Gerais, **Graduandas em Odontologia Faculdade de Odontologia Universidade Federal de Minas Gerais, ***Professor Adjunto do Departamento de Odontologia Social e Preventiva, Faculdade de Odontologia Universidade Federal de Minas Gerais, ****Professora Titular do Departamento de Odontologia Social e Preventiva, Faculdade de Odontologia Universidade Federal de Minas Gerais Resumo A presente pesquisa teve como objetivo apresentar uma letra de música construída pelos alunos de uma escola pública de Belo Horizonte e pelas alunas voluntárias do Projeto Escolas Saudáveis da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais. O Projeto Escolas Saudáveis integrante do Programa de Extensão da Faculdade de Odontologia da UFMG se propõe a contribuir na formação de crianças e adolescentes de escolas públicas. A Escola possui cerca de alunos matriculados, desde o 1º ciclo que corresponde à Educação Infantil ao 9º ano com adolescentes de até 14 anos (3º ciclo). A proposta final do projeto de extensão foi o aprendizado da música para apresentação no último dia de aula, durante a gincana de encerramento do primeiro semestre de Palavras-chave: educação em saúde, promoção da saúde, saúde bucal. Abstract Hygiene Dance : promoting health education by music This study aimed to show a song lyrics composed by students at a public school in Belo Horizonte and by female students volunteers of Healthy Schools Project of Dentistry Faculty of Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). This project which forms part of the Extension Program of the Dentistry Faculty of UFMG aims at contributing to the formation of children and adolescents in public schools. The school has about 1000 students enrolled, from the 1st cycle that corresponds to the kindergarten to 9th grade with students up to 14 years (3rd cycle). The final proposal of the extension project has been learning the song lyrics to perform at the last day of school during the demonstration to close the first half of Key-words: health education, health promotion, oral health. Artigo recebido em 16 de maio de 2012; aceito em 23 de julho de Endereço para correspondência: Ana Cristina Viana Campos, Rua dos Jês, 151/302, Belo Horizonte MG, campos.acv@gmail.com 241

245 Julho / Agosto 2013;12(4) Resumen La Danza de la Higiene : la promoción de la educación en salud a través de la música Este estudio tuvo como objetivo presentar una letra de canción compuesta por los estudiantes en una escuela pública en Belo Horizonte y estudiantes voluntarias del Proyecto Escuelas Saludables de la Facultad de Odontología de la Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). El Proyecto Escuelas Saludables que hace parte del Programa de Extensión de la Facultad de Odontología de la UFMG tiene como objetivo contribuir a la formación de niños y adolescentes de las escuelas públicas. La escuela tiene alrededor de estudiantes matriculados, desde el 1 º ciclo que corresponde a Educación Infantil hasta el 9 º grado con niños de hasta 14 años (3 º ciclo). La propuesta final para el proyecto de extensión fue el aprendizaje de la canción para la presentación del último día de clases, durante el concurso de cierre del primer semestre de Palabras-clave: educación en salud, promoción de la salud, salud oral. Introdução A promoção da saúde, como estratégia eficaz para melhorar a saúde e a qualidade de vida, é o resultado de mudanças na teoria e na prática da saúde pública; sendo que os fatores sociais, ambientais e os estilos de vida são determinantes das condições de saúde [1]. As atividades educativas buscam modificar estilos de vida [2,3], aumentar e utilizar o conhecimento sobre a doença, seu tratamento, bem como suas intercorrências [4,5]. O setor educacional é um aliado importante para a concretização de ações de promoção da saúde pautada no respeito ao indivíduo e tendo como foco a construção de uma nova cultura da saúde [6]. A iniciativa das Escolas Promotoras de Saúde é uma estratégia liderada pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS) [7] que surgiu no final da década de 1980 e visa estimular estilos de vida saudáveis em toda a comunidade escolar, fundamentando-se na concepção de promoção da saúde. Esta estratégia propõe mudanças conceituais e metodológicas nas ações para a saúde com escolares, visando melhores atitudes e hábitos, que favoreçam o crescimento, desenvolvimento, bem-estar [8]. A educação em saúde deve responder às necessidades dos alunos, em cada etapa de seu desenvolvimento. O ambiente escolar intra e extramuros deve propiciar aos alunos a oportunidade de crescer e aprender a ter responsabilidade social, capacidade de dialogar e de se relacionar harmonicamente. A oferta de serviços de saúde é um dos mecanismos disponíveis para assegurar boa saúde aos alunos. Por outro lado, não cabe à escola manter serviços e profissionais de saúde, mas estabelecer uma relação de parceria com ações conjuntas a favor da promoção de saúde [1]. Nesse contexto, o objetivo do presente trabalho foi apresentar uma letra de música construída pelos alunos de uma escola pública de Belo Horizonte e pelas alunas voluntárias do Projeto Escolas Saudáveis da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal de Minas Gerais (FO-UFMG). Material e métodos Desenvolvimento das atividades O Projeto Escolas Saudáveis integrante do Programa de Extensão da Faculdade de Odontologia da UFMG se propõe a contribuir na formação de crianças e adolescentes de escolas públicas. As ações perpassam pela reflexão sobre valores, condição social dos estudantes; para que a partir daí, possam adquirir habilidades que permitam a construção da cidadania, do desenvolvimento humano e da vida saudável. A Escola em questão localiza-se na Regional Pampulha em Belo Horizonte, e possui cerca de alunos matriculados, desde o 1º ciclo que corresponde à Educação Infantil ao 9º ano com adolescentes de até 14 anos (3º ciclo). No primeiro semestre do ano de 2009 o tema a ser abordado foi a higiene em seus diversos aspectos. No primeiro contato com a coordenação da escola, as alunas voluntárias do projeto receberam o calendário escolar, bem como os horários de cada ciclo, 242

246 Julho / Agosto 2013;12(4) para organizar as atividades lúdicas. Em relação ao horário no qual as atividades seriam desenvolvidas, as únicas recomendações da coordenação da escola foram preservar os horários de Educação Física, ao passo que as aulas de Artes poderiam ser usadas para desenvolver um trabalho em conjunto com os professores. Sendo assim, optou-se por visitar a escola às sextas-feiras pela manhã. Após conhecerem todas as dependências da escola, os recursos disponíveis, os professores e funcionários, as voluntárias permaneceram no intervalo para observar os tipos de brincadeiras, jogos e lazer das diferentes faixas etárias. Os alunos têm espaço na escola suficiente para lazer e esporte nos horários de intervalo e de Educação Física, uma vez que se pode perceber a presença de jogos, bola, brinquedos para os menores, dentre outros. A escola oferece merenda a todos os alunos, independentemente da idade, durante o intervalo que é separado por ciclo. Os primeiros a merendarem são os alunos da educação infantil e os últimos são aqueles do terceiro ciclo. Em comum acordo com a escola, decidiu-se que as atividades ocorreriam, preferencialmente, nos intervalos e a participação seria livre para todos os estudantes. Uma das atitudes que mais chamaram a atenção das voluntárias foi o fato de que muitos alunos, independentemente da idade, dançavam e cantavam no intervalo. Alguns tinham muita habilidade para dança e ensinavam aos outros, o que nos pareceu ser uma atividade prazerosa e interessante de trabalhar ludicamente o tema proposto. As voluntárias se reuniram para pensar em alguma maneira de aproveitar o gosto das crianças e adolescentes pela música e usá-lo a favor do projeto. Dentre as diversas ideias que surgiram, a mais interessante foi propor aos alunos montar uma música sobre a higiene utilizando uma letra já conhecida que tivesse uma coreografia fácil; sendo que a Dança do quadrado foi a escolhida por atender todos os requisitos. Após convite, foram distribuídos pequenos pedaços de papel aos alunos interessados, para que cada um pudesse criar uma frase ou um verso a partir da letra original, pensando em abordar as diversas práticas de higiene. Durante todo o desenvolvimento das atividades um dos voluntários do projeto ficou observando, sem interferir, o desenrolar dos trabalhos. Com isso, foi possível constatar que os alunos que mais participaram dessa atividade foram aqueles da 4ª e 5ª séries e os menos interessados foram os estudantes da 7ª série. Juntando-se todos os papéis com as sugestões de cada criança e adolescente, chegou-se em um formato final da letra, que manteve o ritmo da música original, mas com enfoque para a higiene (Figura 1). Após essa fase, passou-se para a preparação da dança em si com seus passos e coreografia, cujas responsáveis e mentoras foram três alunas da 6ª série. Figura 1 - Letra da música Dança da Higiene, criada pelos alunos de escola pública em Belo Horizonte, Brasil A Dança da Higiene E aí galera! Tô chegando com a Dança da Higiene! Pegue a escova, pente e sabonete...e quem num ficar limpinho vai pagar prenda. Quem ainda não sabe é hora de aprender. Vamos lá! Cada um no seu banheiro (4X) Eu disse: ero-ero, cada um no seu chuveiro (2X) Lavando o cabelo no seu quadrado (2X) Ensaboando no seu quadrado (2X) Lavando a orelha com giratória (2X) Eu disse: ado-ado, todo mundo é educado (2X) Saci cortando a unha (2X) Chulé fora do quadrado (2X) Desodorante dentro do quadrado (2X) Cada um com sua escova (4X) Escovando os dentes no seu quadrado (2X) A cárie fora do quadrado (2X) Dentes brancos dentro do quadrado (2X) Eu disse: ado-ado, a higiene do seu lado (4X). Resultados e discussão A procura pelos ensaios durante todo o desenvolvimento das atividades foi satisfatória, de modo que foi necessário realizar o sorteio de alunos inscritos, previamente, em uma lista. Os ensaios foram realizados durante o intervalo, de modo a não prejudicar o andamento das aulas. Um grupo de doze alunos, com apenas um menino, passaram três semanas ensaiando em uma sala reservada na escola durante o intervalo, sempre acompanhada pelas voluntárias. De modo geral, o grau de envolvimento dos alunos na atividade educativa proposta foi acima das expectativas, uma vez que alguns autores destacam que os adolescentes aos 14 anos não participam de atividades com crianças mais novas. Ainda assim, é importante lembrar que o desenvolvimento humano pressupõe mudanças em estruturas e funções, à medida que interage com um ambiente igualmente complexo [9,10]. 243

247 Julho / Agosto 2013;12(4) Além de sua função pedagógica, a escola tem uma força social e política voltada para a transformação da sociedade, relacionada ao exercício da cidadania e ao acesso às oportunidades de desenvolvimento e de aprendizagem, razões que justificam ações voltadas para a comunidade escolar para dar concretude às propostas de promoção da saúde [6]. A promoção da saúde pode contribuir para que crianças e jovens possam, cada vez mais, realizar escolhas saudáveis em suas vidas. Para isso é preciso criar vínculos e envolver os professores de forma participativa, respeitando os diferentes saberes e necessidades [7]. No presente trabalho, o apoio e a participação dos profissionais da escola foram essenciais para a execução das atividades. O trabalho conjunto proporcionou mudanças, por parte dos escolares e também dos professores, que passaram a ver o projeto de outra maneira. Em relação aos alunos da graduação de Odontologia, foram relatados maiores desenvoltura e integração com as crianças e adolescentes, bem como maior vontade de continuar o trabalho educativo por ser uma atividade bastante diferente da formação dentro da faculdade. Tradicionalmente, médicos e dentistas não são devidamente preparados para realizar abordagens com crianças, de modo a levar em conta suas angústias e medos diante dos procedimentos pelos quais irá passar [12]. Para contrapor essa realidade, a educação popular em saúde é uma estratégia que visa o despertar do pensar, do sentir e agir em suas múltiplas dimensões, na qual o profissional é o intermediador desse processo [13,14]. O objetivo não é informar para se ter saúde, mas trabalhar sobre os saberes já existentes através do diálogo aberto, na tentativa de integrar saberes com a população em busca da adoção de hábitos saudáveis adequados à realidade de cada pessoa. Nesse contexto, a promoção de saúde no ambiente escolar deve ser estimada socialmente, respeitando os diferentes saberes e necessidades, como um processo dinâmico e criativo através de jogos, brinquedos, brincadeiras e musicalidade [15]. Essas atividades produzem uma interação social e em entretenimento fazendo com que seja mais fácil veicular conhecimento e reforçar o aprendizado por prender mais a atenção dos sujeitos [16,17]. Por outro lado, esse tipo de atividade, na Odontologia, ainda é pouco explorado como forma de promover saúde e bons hábitos. Mesmo assim, diante das mudanças encontradas no presente estudo, torna-se pertinente divulgar e incentivar mais trabalhos com essa temática. Alguns estudos nas áreas de Enfermagem, Fisioterapia têm usado diversos jogos e brincadeiras, tanto pela necessidade de manter a criança motivada, quanto pela busca de aprendizagem motora. Entretanto, em outras áreas do conhecimento não existem muitos estudos sobre o potencial do lúdico no desenvolvimento global da criança [18-20]. Dentre as atividades que mais apresentam resultados positivos, destaca-se o brincar visto como um instrumento que permite escolha e respeita mais a vontade e necessidades da criança e não impõe o que é considerado pelo profissional o melhor para as crianças. Além disso, a brincadeira equilibra as tensões provenientes de seu mundo cultural, construindo sua individualidade e pode facilitar a aprendizagem, a aquisição de autonomia e formação de vínculos [10]. O lúdico é uma abordagem privilegiada para a promoção da aprendizagem ativa e direta, através do enfrentamento de desafios, teste de limites, solução de problemas e formulação de hipóteses [16]. A atividade lúdica facilita imensamente o contato entre a criança e o profissional, e os desenhos e histórias permitem que a criança se manifeste melhor do que apenas usando a fala [12]. A proposta final do projeto em questão foi o aprendizado da música para apresentação no último dia de aula, durante a gincana de encerramento do primeiro semestre de A música constitui uma atividade ainda mais promissora para o desenvolvimento infantil. É através da música que a criança se constrói como ser ao interagir com o outro e o mundo, organizando o seu interior a partir das vivências no seu meio exterior. O desenvolvimento da capacidade auditiva, o exercício da atenção e concentração deve partir do ambiente familiar da criança, passando depois para ambientes diferentes, como a escola. O trabalho com musicalização infantil na escola é um poderoso instrumento que desenvolve, além da sensibilidade à música, fatores como: concentração, memória, coordenação motora, socialização, acuidade auditiva e disciplina [21]. Os resultados do presente estudo mostraram que é possível trabalhar ações de promoção e educação em saúde, utilizando a música como ferramenta de aproximação e integração entre profissionais e crianças. A expectativa agora é de que as reflexões sobre o papel da escola na sociedade, presentes nas discussões sobre Escolas Promotoras de Saúde, 244

248 Julho / Agosto 2013;12(4) possam servir de base para a construção de novos tipos de relações entre os diversos setores sociais, de modo que os interesses predominantes sejam os de uma realidade mais saudável. O profissional deve se apropriar dessa concepção teórica que valoriza o saber do outro e entende o conhecimento como um processo de construção coletiva, visando um novo entendimento das ações de saúde como ações educativas. Por meio da formação de laços de compromisso e corresponsabilidade aconteceria a melhor tomada de decisões [20,22]. Sendo assim, as ações de educação em saúde envolvem a colaboração de professores, profissionais e da comunidade e deve possibilitar a identificação das necessidades e problemas de saúde, definição de estratégias e linhas de ação pertinentes [15]. Conclusão A presente proposta de trabalho mostrou ser bastante útil para abordar as questões de saúde de um jeito mais interessante e div ertida às crianças e aos adolescentes da escola. O principal objetivo ao divulgar essa experiência é fazer com que a música chegue ao conhecimento dos profissionais de saúde, professores, enfim a todos que trabalham escolas promotoras de saúde; de tal maneira que essa ideia possa servir de ponto de partida para novas propostas. Devido à relevância do tema para uma nova abordagem da promoção de saúde e número reduzido de trabalhos direcionados a este tipo de experiência, torna-se desejável a realização de novas investigações sobre o tema. Referências 1. Silveira GT, Pereira IMTB. Escolas promotoras de saúde ou escolas promotoras de aprendizagem/educação? In: Lefevre F, Lefevre AMC. Promoção de Saúde: a negação da negação. Rio de Janeiro: Vieira & Lent; p Biagini AP, Carvalho EM, Lopes CR, Baraúna MA. Perfil alimentar de universitários de fisioterapia e educação física. Nutrição Brasil 2007;7(5): Monteiro MGM, Bittencourt VF, Liberali R, Ornellas FH, Navarro F. Redução e manutenção da pressão arterial através de exercícios resistidos com pesos. Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício 2009;8(4): Coneglian AV, Brito TB, Olbrich SRLR, Nitche MJT, Pimenta WP. Avaliação do aprendizado na prática (Um estudo sobre os conhecimentos adquiridos pelos pacientes diabéticos em reuniões multiprofissionais). Enfermagem Brasil 2006;5(3): Monteiro LC, Moura VLF, Martins VT. Educação para a saúde e redução de danos: enfermagem atuando com adolescentes. Enfermagem Brasil 2006;5(2): Brasil, Ministério da Saúde. Projeto Promoção da Saúde, Secretaria de Políticas de Saúde. A promoção da saúde no contexto escolar. Rev Saúde Pública 2002;36(2): OPAS. Escuelas promotoras de la salud: entornos saludables y mejor salud para las generaciones futuras. Washington: OPAS; p. 8. Gomes JP. As Escolas Promotoras de Saúde: uma via para promover a saúde e a educação para a saúde da comunidade escolar. Educação 2009;32(1): Piaget J, Inhelder B. A psicologia da criança. Rio de Janeiro: Difel; p. 10. Freitas MLLU, Assis, OZM. Os aspectos cognitivo e afetivo da criança avaliados por meio das manifestações da função simbólica. Ciências & Cognição 2007;11: Freddo SL, Aerts DRGC, Abegg C, Davoglio R, Vieira PG, Monteiro L. Hábitos de higiene bucal e utilização de serviços odontológicos em escolares de uma cidade da Região Sul do Brasil. Cad Saúde Pública 2008;24(9): Oliveira FCM. Um método para a apreensão dos conteúdos emocionais da criança em odontopediatria. Pulsional Revista de Psicanálise 2009;14(150): Lucchese R, Barros S. Grupo operativo como estratégia pedagógica em um curso de graduação em enfermagem: um continente para as vivências dos alunos quartanistas. Rev Esc Enferm USP 2002;36(1): Alvim NAT, Ferreira MA. Perspectiva problematizadora da Educação Popular em Saúde e a Enfermagem. Texto Contexto Enferm 2007;16(2): Cardoso V, Reis AP dos, Iervolino SA. Escolas Promotoras de Saúde. Rev Bras Cresc Desenv Hum 2008;18(2): Toscani NV, Santos AJDS, Silva LLM, Tonial CT, Chazan M, Wiebbelling et al. Development and analysis of an educational game for children aiming prevention of parasitological diseases. Interface - Comunic Saúde Educ 2007;11(22): Nunes SAN, Fernandes MG, Vieira ML. Interações sociais precoces: uma análise das mudanças nas funções parentais. Rev Bras Cresc Desenv Hum 2007;17(3): Ravelli APX, Motta MGC. O lúdico e o desenvolvimento infantil: um enfoque na música e no cuidado de enfermagem. Rev Bras Enferm 2005;58(5): Fujisawa DS, Manzini EJ. Formação acadêmica do fisioterapeuta: a utilização das atividades nos atendimentos de crianças lúdicas. Rev Bras Ed Esp 2006;12(1): Santos KF, Bógus CM. A percepção de educadores sobre a escola promotora de saúde: um estudo de caso. Rev Bras Cresc Desenv Hum 2007;17(3): Barreto SJ. Psicomotricidade: educação e reeducação. 2. ed. Blumenau: Acadêmica; Iervolino AS, Pelicioni MCF. Capacitação de professores para a promoção e educação em saúde na escola: relato de uma experiência. Rev Bras Cresc Desenv Hum 2005;15(2):

249 Revisão Produção científica brasileira de enfermagem sobre erros de medicação Francisco Gilberto Fernandes Pereira*, Rebeca Barros da Silva**, Márcia Barroso Camilo de Ataíde, D.Sc.***, Joselany Áfio Caetano, D.Sc.**** *Enfermeiro, especialista em farmacologia, Docente do centro de saúde do Centro Universitário Estácio do Ceará, **Enfermeira da gerência de risco hospitalar do Hospital Geral de Fortaleza, Especialista em Enfermagem do Trabalho, ***Enfermeira da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, Docente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade de Fortaleza, ****Docente do curso de enfermagem da Universidade Federal do Ceará Resumo O objetivo foi analisar o conhecimento científico produzido por enfermeiros em relação aos erros de medicação. Realizou-se uma revisão integrativa nas bases de dados Pubmed, Scielo, BDEnf e Lilacs. A amostra contou com 31 artigos publicados entre 2000 e Os resultados evidenciaram que o periódico Acta Paulista de Enfermagem apresentou a maior quantidade de publicações, 48% dos autores são enfermeiros doutores que trabalham apenas na docência. Os erros mais comumente referenciados foram os de hora e dose, destacando-se como principais fatores relacionais o profissional (problemas de comunicação, falta de treinamento, elevada carga horária de trabalho) ou o sistema (ausência de dose unitária, dificuldade de interpretação da prescrição), e recomendações foram sugeridas a curto, médio e longo prazo, com a internalização de uma cultura de segurança do paciente. Conclui-se que há uma crescente publicação de enfermagem na área de erros de medicação, e sugerem-se estudos de avaliação de impacto. Palavras-chave: erros de medicação, segurança do paciente, Enfermagem. Abstract Scientific production in Brazilian nursing about medication errors The aim of this study was to analyze the scientific knowledge produced by nurses on medication errors. An integrative review was developed in Pubmed, Scielo, BDEnf and Lilacs databases. The sample included 31 papers, published between 2000 and The results evidenced that the largest number of publications came from the journal Acta Paulista de Enfermagem, and that 48% of the authors are nursing Ph.D. s who are only active in teaching. The most common medication errors were time and dose errors, and the professional (communication problems, lack of training, high hour load) or system (absence of unit dose, prescription interpretation difficulty) were highlighted as the main related factors. Recommendations were suggested in the short, medium and long term, involving the internalization of a patient safety culture. In conclusion, the number of nursing publications on medication errors is increasing, and impact assessment studies are suggested. Key-words: medication errors, patient safety, Nursing. Artigo recebido em 4 de dezembro de 2012; aceito em 22 de julho de Endereço para correspondência: Francisco Gilberto Fernandes Pereira, Rua Barão de Aratanha, 989/01, Fortaleza CE, gilberto.fp@hotmail.com, rebecasuez@hotmail.com 246

250 Julho / Agosto 2013;12(4) Resumen Producción científica brasileña sobre errores de medicación La finalidad fue analizar el conocimiento científico producido por enfermeros sobre errores de medicación. Fue efectuada una revisión integradora en Pubmed, Scielo, BDEnf y Lilacs. La muestra abarcó un total de 31 artículos, publicados entre 2000 y Los resultados evidenciaron que Acta Paulista de Enfermagem divulgó la mayor cantidad de publicaciones. El 48% de los autores son enfermeros doctores activos sólo en la docencia. Los errores más comúnmente referidos fueron los de hora y dosis, destacándose como principales factores relacionados el profesional (problemas de comunicación, falta de capacitación, elevada carga horaria de trabajo) o el sistema (ausencia de dosis unitaria, dificultad de interpretación de la prescripción), y recomendaciones fueron sugeridas a corto, medio y largo plazo, con la internalización de una cultura de seguridad del paciente. Se concluye que existe una creciente publicación de enfermería en el área de errores de medicación, y se sugieren estudios de evaluación de impacto. Palabras-clave: errores de medicación, seguridad del paciente, enfermaría. Introdução Erro de medicação é definido, consoante à taxonomia de segurança do paciente, como aquele evento que se trata de um erro evitável, provocado devido ao uso inadequado de medicamentos, e que pode acontecer em qualquer etapa do sistema de medicação, seja relacionado ao produto, ao profissional ou ao procedimento [1]. Com relação ao sistema de medicação, estudo realizado no Brasil já alertava que 39% dos erros ocorrem durante a prescrição, 12% na transcrição, 11% na dispensação e 38% durante a administração. Enfatizou-se ainda, que Enfermeiros e farmacêuticos interceptam 86% dos erros de medicação nas etapas de prescrição, transcrição e dispensação, enquanto apenas 2% são interceptados pelos pacientes [2]. Porém, um erro em qualquer etapa no processo de medicação pode acarretar danos irreparáveis ao paciente, inclusive óbito, como descrevem vários estudos na literatura mundial [3,4]. Assim, na primeira década do século XXI, foi criada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma Aliança Mundial para a Segurança do Paciente [5] com o objetivo de socializar os principais problemas que afetam a segurança na assistência ao paciente que necessita dos serviços de saúde, e possíveis soluções para esses entraves. Dentre as principais metas idealizadas pela Aliança, está a segurança na utilização das medicações, tópico que mereceu destaque mais acentuado após a divulgação de um relatório de erros no sistema de saúde nos Estados Unidos em 2000, que categorizou o erro de medicação como responsável direto pela morte de 7391 pacientes. No Brasil, embora alguns estudos tenham destacado a presença desses erros, não é possível ainda inferir o seu real dimensionamento [3,6]. A administração de medicamento é uma das maiores responsabilidades da equipe de enfermagem. Tal condição determina que essa prática seja exercida de modo adequado e seguro. Embora haja amparo legal e formação curricular para a realização desta atividade, verifica-se que, muitas vezes, há despreparo do profissional para fazê-la, sua execução pode ocorrer de maneira automática e desatenciosa, desconsiderando-se o impacto que um erro nesse processo pode desencadear [7]. A operacionalização do manuseio, preparo e administração de medicamentos expõe os profissionais de enfermagem a várias situações de passividade de erros, sendo considerados os auxiliares e técnicos de enfermagem como os mais vulneráveis [8,9]. Considerando essa contextualização acerca da segurança do paciente na administração de medicamentos, e compreendendo que a equipe de enfermagem realiza este tipo de procedimento de forma repetitiva, o estudo tem como objetivo analisar o conhecimento científico produzido por enfermeiros sobre os erros de medicação. A realização de uma revisão integrativa com essa abordagem será importante para apresentar a síntese das produções, suas lacunas, oferecer um suporte na melhoria da tomada de decisões, bem como criação de novas estratégias na redução do erro relacionado à medicação pelo profissional de enfer- 247

251 Julho / Agosto 2013;12(4) magem. Quanto mais amplo for o conhecimento e a divulgação dos fatores causadores de erros de medicação, maiores as possibilidades de prevenção deste evento. Material e métodos Para o alcance do objetivo do estudo, optou-se pelo método da revisão integrativa, por oportunizar uma sumarização das pesquisas já concluídas e obter inferências a partir de uma temática de interesse. Para a efetivação deste estudo foi necessário operacionalizar a revisão seguindo cronologicamente as seguintes etapas: seleção da questão temática, estabelecimento dos critérios para a seleção dos artigos, representação das características da pesquisa original, análise dos dados, interpretação dos resultados e apresentação da revisão [10]. Considerando a problemática da pesquisa e para guiar a presente revisão, formulou-se a seguinte questão norteadora: qual o conhecimento científico produzido pela enfermagem no Brasil sobre erro de medicação? O levantamento bibliográfico foi realizado pela internet, nas bases de dados Scielo, PubMed, BDEnf e Lilacs durante os meses de janeiro a março de 2011, utilizando os descritores: erros de medicação (medication errors) and enfermagem (nursing), de acordo com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS). Os critérios utilizados para seleção da amostra foram: artigos publicados eletronicamente na íntegra, nos idiomas inglês, português ou espanhol, que abordassem a temática de administração de medicamentos na área de enfermagem, com autoria de pelo menos um enfermeiro, pesquisa realizada no Brasil, no período de 2000 a 2010, justificando- -se por ter sido a década de divulgação do relatório de erros dos EUA e criação da Aliança Mundial para Segurança do Paciente. Foram excluídos do estudo: editoriais, cartas ao leitor e estudo que não abordassem a temática relevante ao alcance do objetivo da revisão. Na busca inicial foram encontrados 133 artigos, sendo 19 na base BDENF, 56 na Lilacs, 18 na Pubmed e 40 na Scielo. Após leitura dos resumos disponíveis e orientando-se pela questão norteadora, foram excluídos 67, restando ao final 66 artigos, dos quais 11 da BDEnf, 22 da Lilacs, 11 da Pubmed e 22 da Scielo, que após análise de duplicidade nas diferentes bases pesquisadas restaram 31 artigos. Para a classificação do material foi realizada leitura analítica dos artigos na íntegra e preenchido um instrumento que permitiu obter informações sobre autores (formação técnica, acadêmica e campo de atuação) e sobre os artigos (identificação do artigo, local de origem e ano da publicação, nome do periódico, objetivo do estudo, metodologia utilizada e recomendações para a prática de enfermagem). Os resultados estão apresentados de forma descritiva. A análise se processou de forma descritiva com apoio na literatura concernente às tendências e prioridades da pesquisa em enfermagem na especificidade da administração de medicamentos e segurança do paciente, bem como de reflexões e críticas dos autores, enfocando os resultados e recomendações para a prática assistencial. Resultados e discussão Dos 31 artigos selecionados com a temática de erros de medicação na área de enfermagem, constatou-se que o periódico Acta Paulista de Enfermagem foi o que contabilizou maior volume de publicação com oito artigos. Os demais periódicos que divulgaram estudos relacionados ao tema em estudo foram: Revista Latino Americana de Enfermagem (7), Revista Brasileira de Enfermagem (7), Revista da Escola de Enfermagem da USP (2), Revista de Enfermagem da UFPE (2), Arquivos Ciência e Saúde UNIPAR (1), Revista Brasileira de Terapia Intensiva (2), Medicina (1) e Revista de Enfermagem da UERJ (1). Este aspecto implica dizer que ainda há um monopólio das regiões sul e sudeste na formação crítica e na disseminação do conhecimento científico, e que os periódicos de outras regiões, principalmente o nordeste, necessitam ampliar a visão sobre o tema erros de medicação e criar espaços de divulgação, já que esta é uma temática tão recorrente no cotidiano profissional e tão atual e necessária. Acerca dos autores é possível inferir que há uma predominância do número de enfermeiros com doutorado (12), sendo que destes, a maioria (11) atua como docente em Universidades. Identificaram-se dez enfermeiros com mestrado, prevalecendo também como área de atuação a docência. Por outro lado, os enfermeiros com titulação de especialista atuam somente na assistência. Com relação ao ano, nota-se que 2010 foi o período em que há registros do maior número de publicações, totalizando sete. Esse número maior de 248

252 Julho / Agosto 2013;12(4) artigos em 2010 corrobora as ideias pregoadas pela Aliança Mundial para Segurança do Paciente, que tinha como metas permeabilizar o conhecimento científico e fomentar pesquisas na área de medicamentos e segurança do paciente [5]. Não foram encontrados artigos nos anos de 2001 e É interessante que os enfermeiros envolvidos na pesquisa em geral, estejam envolvidos com atividades assistenciais, pois, a prática cotidiana gera questionamentos e permite experimentar ideias que são inexistentes nos centros universitários [11]. Dentro desse universo de autores, dez dos artigos analisados foram escritos por enfermeiros em associação com farmacêuticos. Esse dado aponta para uma nova realidade que se vislumbra no cenário da saúde que é a consolidação do trabalho em equipe interdisciplinar, e que também é preconizada para a diminuição de erros com medicamentos [12], pois proporciona a visão ampla de todo o sistema de medicação, suas possíveis falhas, e visões amplas de correção das mesmas. Entretanto, seria interessante que outros profissionais se integrassem a esse time, como médicos, odontólogos, enfim, todos aqueles que estão envolvidos na segurança do paciente. As ideias dos diversos profissionais de saúde e suas observações concernentes aos erros de medicação, certamente resultaria em novas inferências, novos referenciais teóricos e surgimento de estratégias interdisciplinares para assegurar acertos de medicação. Baseado na caracterização metodológica [13] dos estudos, observou-se que houve uma profunda empatia por pesquisas exploratório-descritivas, seguidas de revisão bibliográfica. A escolha por métodos experimentais ou quase-experimentais apareceu timidamente nesta revisão, apesar de ser um tipo de investigação totalmente coerente com a temática de erros de medicação. Acredita-se, no entanto, que a pouca utilização desse método deveu-se a limitações financeiras ou a inexperiência da enfermagem brasileira em realizar estudos dessa categoria metodológica. Tabela I - Apresentação da síntese de artigos incluídos na revisão integrativa. Autores Título do artigo Ano Local do estudo Periódico Base de dados Erros na medicação: análise das situações relatadas pelos profissionais de Carvalho VT et al. [14] enfermagem São Paulo Medicina Lilacs Análise dos comportamentos dos Carvalho VT et al. profissionais de enfermagem frente Acta Paul Lilacs 2002 São Paulo [15] aos erros na administração de medicamentos. Enferm BDEnf Ocorrências iatrogênicas com medicação em Unidade de Terapia Intensiva: Rev Esc En- Lilacs Padilha KG et al São Paulo Pubmed [16] condutas adotadas e sentimentos ferm USP Scielo expressos pelos enfermeiros. Erros na medicação e consequências Carvalho VT et al. Rev Latinoam para profissionais de enfermagem e 2002 São Paulo [17] Enferm clientes: um estudo exploratório. Pubmed Helena B et al. [18] Erros de medicação causas e fatores 2003 Acta Paul desencadeantes sob a ótica da equipe São Paulo Enferm de enfermagem. Lilacs Camargo MNV et Ocorrências iatrogênicas com medicação em unidades de terapia intensiva. Enferm Acta Paul Lilacs 2003 São Paulo al. [19] A prescrição médica eletrônica em Lilacs Cassiani SHB et al. Rev Esc Enferm USP um hospital universitário: falhas de 2003 São Paulo Pubmed [20] redação e opiniões de usuários. Scielo Eventos adversos com medicação em Lilacs Santos AE et al. [21] serviços de emergência: condutas Rev Bras Pubmed 2005 São Paulo profissionais e sentimentos vivenciados Enferm Scielo por enfermeiros. BDEnf 249

253 Julho / Agosto 2013;12(4) Autores Título do artigo Ano Local do estudo Periódico Melo LR et al. [22] Oliveira RC [23] Cassiani SHB et al. [24] Toffoletto MC et al. [25] Bohomol E et al. [26] Miasso AI et al. [6] Yamanaka TI et al. [7] Santos JO et al. [27] Bohomol E et al. [28] Silva BK et al. [8] Silva DO et al. [29] Silva AEBC [30] Freitas DF et al. [31] Beccaria LM et al. [32] Gimenes FRE et al. [33] Erros de medicação em pediatria: análise da documentação de enfermagem 2005 São Paulo no prontuário do paciente. Estratégias para prevenção de erros de medicação no setor de emergência. O sistema de medicação nos hospitais e sua avaliação por um grupo de profissionais Recife 2005 São Paulo Conseqüências de erros de medicação em unidades de terapia intensiva e 2006 São Paulo semi-intensiva. Perceptions about medication errors: analysis of answers by the nursing team. O processo de preparo e administração de medicamentos: identificação de problemas para propor melhorias e prevenir erros de medicação. Redesenho de atividades da enfermagem para redução de erros de medicação em pediatria. Sentimentos de profissionais de enfermagem após a ocorrência de erros de medicação. Erro de medicação: importância da notificação no gerenciamento da segurança do paciente. Erros de medicação: condutas e propostas de prevenção na perspectiva da equipe de enfermagem. Medication preparation and administration: analysis of inquiries and information by the nursing team. Problemas na comunicação: uma possível causa de erros de medicação. Avaliação dos fatores de risco relacionados às falhas durante a administração de medicamentos. Eventos adversos na assistência de enfermagem em unidade de terapia intensiva. Influência da redação da prescrição médica na administração de medicamentos em horários diferentes do prescrito São Paulo 2006 Recife, São Paulo, Goiânia e Ribeirão Preto 2007 São Paulo 2007 Goiânia 2007 São Paulo 2007 São Paulo 2007 São Paulo 2007 Goiás 2008 Paraná 2009 São Paulo 2009 Rev Bras Enferm Rev Bras Enferm Rev Esc Enferm USP Rev Esc Enferm USP Rev Latinoam Enferm Rev Latinoam Enferm Rev Bras Enferm Acta Paul Enferm Rev Bras Enferm Rev Eletrônica Enferm Rev Latinoam Enferm Acta Paul Enferm Base de dados Lilacs Pubmed Scielo Lilacs Pubmed Scielo BDEnf BDEnf Scielo Lilacs Pubmed Scielo BDEnf Lilacs BDEnf Lilacs Pubmed Scielo Lilacs Pubmed Scielo Lilacs Scielo BDEnf Lilacs Pubmed Scielo BDEnf Lilacs BDEnf Lilacs Scielo Lilacs Scielo Arq Ciência e Saúde UNIPAR Lilacs Rev Bras Ter Intensiva São Paulo, Fortaleza, Rio Acta Paul Branco, Goiânia Enferm e Campinas Scielo Scielo 250

254 Julho / Agosto 2013;12(4) Autores Título do artigo Ano Local do estudo Periódico Erros de medicação e qualidade de Pelliciotti JSS et al. vida relacionada à saúde de profissionais de enfermagem em unidades de [34] 2010 São Paulo terapia intensiva. Investigação da técnica de administração de medicamentos por sondas 2010 Renovato RD et al. Dourado, Mato [35] Grosso do Sul enterais em hospital geral. Condutas adotadas por técnicos de Santos JO et al. enfermagem após ocorrência de erros [36] de medicação Goiânia Percepção da equipe de enfermagem Franco JN et al. São José dos sobre fatores causais de erros na administração de medicamentos [37] Campos Revelação da ocorrência de erro de Belela ASC et al. medicação em unidade de cuidados [38] intensivos pediátricos São Paulo Pereira CMB et al. Conduta do futuro enfermeiro mediante o erro de medicação. [39] 2010 Recife São Paulo, Patient safety in drug therapy and the Gimenes FRE et al. Fortaleza, Rio influence of the prescription in dose 2010 [40] Branco, Goiânia errors. e Campinas Rev Latinoam Enferm Rev Enferm UERJ Acta Paul Enferm Rev Bras Enferm Rev Bras Ter Intensiva Rev Enf UFPE on line Rev Latinoam Enferm Base de dados Lilacs Lilacs Lilacs Scielo Pubmed Scielo Scielo BDEnf Scielo Caracterização dos erros encontrados e recomendações para a prática de enfermagem Outro aspecto a ser considerado é que as pesquisas apontaram os erros mais frequentes, e também relacionaram fatores potenciais para erros de medicação tais como: elevada carga horária de trabalho dos profissionais de enfermagem, formação insuficiente em farmacologia, problemas de comunicação da equipe multiprofissional, dificuldade de interpretação da prescrição médica devido à ilegibilidade e uso de abreviaturas e medicamentos com nomes similares [14]. Segundo descrito em estudo [15], alguns fatores relatados por profissionais de enfermagem que podem desencadear em erros de medicação compreendem um grupo de causas associadas ao profissional (falta de atenção, falta de treinamento, falta de conhecimento, falta de comunicação, negligência e excesso de trabalho), e um segundo grupo associado ao sistema (ausência da dose unitária, problemas de prescrição médica e falhas gerais no sistema de medicação). Pesquisa multicêntrica [40] identificou 74 erros de medicação ocorridos em hospitais brasileiros após a observação direta de 821 doses de medicamentos e os categorizou em: erro de dose 24,3%, erro de horário 22,9%, medicamentos não autorizados 13,5% e erro de técnica 12,2%. Pesquisa anterior de 2004 realizado no Estado de São Paulo evidenciou que 29% dos erros estavam relacionados à prescrição, 20,6% ao horário e 13,6% ao preparo dos medicamentos [2]. Este contexto demonstra que os erros seguem as características do sistema de medicação próprio de cada instituição, e que pesquisas são necessárias nos diferentes cenários hospitalares de forma que medidas reparadoras sejam mais eficazmente propostas. Os estudos analisados nesta revisão não demonstraram o impacto direto dos erros de medicação encontrados em relação ao agravamento do paciente, como, por exemplo, incapacidade física ou óbito. Sobre as recomendações para a prática da enfermagem, aponta-se que soluções específicas para a correção de erros de medicação podem ser: padronização de medicamentos, dupla checagem, dose unitária, remoção de alguns medicamentos de áreas de fácil acesso, solucionar definitivamente o problema de embalagens e nomes semelhantes dos medicamentos e inclusão do farmacêutico clínico [12]. A implementação de prescrições informatizadas, uso de código de barras e de bombas de infusão inteligentes são estratégias capazes de reduzir os 251

255 Julho / Agosto 2013;12(4) erros de medicação relacionados à prática da enfermagem, pois envolvem suporte para as ações de planejamento e se estendem até a implementação da terapia medicamentosa no paciente. Pesquisa realizada há mais de uma década já sugeria recomendações de acordo com categorias temáticas de erros, distribuídas da seguinte forma: falha no cumprimento de políticas e procedimentos - há a necessidade do cumprimento e revisão dos cinco certos no preparo e administração do medicamento, utilização da pulseira no antebraço, a adequação dos recursos humanos e carga de trabalho; falha no sistema de distribuição e preparo dos medicamentos pela farmácia propõem-se novas formas de distribuição do medicamento, como a implantação do sistema de dose única; falha na comunicação entre a equipe multiprofissional, recomendou-se a automatização do sistema para promover uma comunicação rápida, segura e atualizada sobre alterações da prescrição médica e mudanças na terapia medicamentosa do paciente. Em relação à categoria falha no conhecimento, há evidências da necessidade de educação contínua e reciclagem profissional pelo enfermeiro e sua equipe, no que concerne à atualização de conhecimentos acerca da administração de medicamentos [16]. Foram recomendadas ações para melhorar o sistema de medicação e reduzir as oportunidades de erros na medicação dividindo-as quanto à cronologia dos resultados esperados em: curto prazo treinamentos periódicos sobre todas as fases do sistema e para todos os profissionais, criação de uma comissão multidisciplinar envolvida com os aspectos da segurança de pacientes na prevenção e redução dos eventos adversos aos medicamentos, manual que contenha as interações medicamentosas e as estabilidades dos medicamentos disponíveis para todos os profissionais em todas as salas de preparo, padronizar a maneira de prescrever os nomes dos medicamentos assim como a forma da dose sem uso de decimais; médio prazo - todos os médicos ingressos na residência devem passar por treinamento a respeito dos cuidados com a prescrição de medicamentos; longo prazo - implantação da prescrição por sistema computadorizado, implantação da dose unitária, utilização do código de barras na administração de medicamentos [23]. Também foi referida como sugestão para mudanças na prática de enfermagem a internalização da cultura de segurança do paciente, bem como a compreensão do erro de medicação como um processo multifatorial e sistêmico, deslocando desta forma o enfoque da culpa dos indivíduos a uma análise mais global do problema. Propõe-se ainda, criação e implementação de protocolos e formulários para notificação e monitoração de erros na administração de medicamentos, programas amplos dirigidos a toda a equipe de profissionais, ao local de trabalho e à instituição como um todo, pois a reação e a atitude que se têm frente a ocorrência de um erro depende de como o mesmo é entendido [6,8,39]. Em conformidade com a tendência internacionalmente aceita, acredita-se que o incentivo para a notificação dos erros, a monitorização das ocorrências e fatores a elas relacionados, bem como ações menos punitivas e mais educativas venham favorecer a diminuição dos erros que tantos malefícios causam aos pacientes e a todos os envolvidos na sua assistência, como ficou demonstrado nesta investigação. Conclusão Por meio desta revisão integrativa foi possível conhecer o estado da arte sobre erros de medicação com enfoque na enfermagem, ressaltando que a maioria dos artigos analisados deteve-se na determinação da incidência de erros, formas de notificação dos mesmos e as recomendações para a prática de enfermagem, ficando esta lacuna ainda a ser preenchida. Nenhum estudo evidenciou a vivência da experiência de um programa de redução dos erros de medicação em enfermagem. Sugere-se, portanto, realização de estudos que demonstrem o impacto direto dos erros de medicação encontrados em relação ao agravamento do paciente, custos financeiros gerados a partir desses erros, e avaliação de programas que sejam eficazes e efetivos na redução do problema identificado. Referências 1. NCCMERP, National Coordinating Council for Medication Error Reporting and Prevention. NCCMERP Taxonomy of Medication Errors. [citado 2011 Fev 2]. Disponível em URL: taxo pdf 2. Silva AEBC, Cassiani SHB. Erros de medicação em um hospital universitário: tipos, causas, sugestões e providências. Rev Bras Enferm 2004;57(6): Bates DW. Using information technology to reduce rates of medication errors in hospitals. BMJ 2000;320(7237): Kohn LT, Corrignan JM, Donaldson MS. To err is human. Building a safer health system. Washington (DC): National Academy Press;

256 Julho / Agosto 2013;12(4) 5. World Health Organization. World Alliance for patient safety. [on-line] 2004 [citado 2011 Fev 2]. Disponível e 6. Cassiani SHB. A segurança do paciente e o paradoxo no uso de medicamentos. Rev Bras Enferm 2005;58(1): Yamanaka TI, Pereira DG, Pedreira MLG, Peterlini MAS. Redesenho de atividades da enfermagem para redução dos erros de medicação em pediatria. Rev Bras Enferm 2007;60(2): Silva AEB, Cassiani SHB, Miasso AI, Opitz SP. Problemas na comunicação: uma causa possível de erros de medicação. Acta Paul Enferm 2007;20(3): Miasso AI, Silva AEBC, Cassiani SHB, Grou CR, Oliveira RC, Fakih FT. O processo de preparo e administração de medicamentos: identificação de problemas para propor melhorias e prevenir erros de medicação. Rev Latinoam Enferm 2006;14(3): Souza MT, Silva MD, Carvalho R. Revisão integrativa: o que é e como fazer? Einstein 2010;8(1): Therrien SMN, Almeida MI, Silva MGC. Ensino de enfermagem no Ceará de : a memória que projeta o futuro. Rev Bras Enferm 2008;16(1): Wachter RM. Compreendendo a segurança do paciente. Porto Alegre: Artmed; Polit DF, Beck CT, Hungler BP. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: métodos, avaliação e utilização. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; Carvalho VT, Cassiani SHB. Erros na medicação: análise das situações relatadas pelos profissionais de enfermagem. Medicina 2000;33: Carvalho VT, Cassiani SHB. Análise dos comportamentos dos profissionais de enfermagem frente aos erros na administração de medicamentos. Acta Paul Enferm 2002;15(2): Camargo MNV, Padilha KG. Ocorrências iatrogênicas com medicação em unidades de terapia intensiva. Acta Paul Enferm 2003;16(4): Carvalho VT, Cassiani SHB. Erros na medicação e consequências para profissionais de enfermagem e clientes: um estudo exploratório. Rev Latinoam Enferm 2002;10(4): Bohomol E, Ramos LH. Erros de medicação: causas e fatores desencadeantes sob a ótica da equipe de enfermagem. Acta Paul Enferm 2003;16(2): Padilha KG, Kitahara PH, Gonçalves CCS, Sanches ALC. Ocorrências iatrogênicas com medicação em unidade de terapia intensiva: condutas adotadas e sentimentos expressos pelos enfermeiros. Rev Esc Enferm USP 2002;36(1): Cassiani SHB, Freire CC, Gimenes FRE. A prescrição médica eletrônica em um hospital universitário: falhas de redação e opiniões de usuários. Rev Esc Enferm USP 2003;37(4): Santos AE, Padilha KG. Eventos adversos com medicação em Serviços de Emergência: condutas profissionais e sentimentos vivenciados por enfermeiros. Rev Bras Enferm 2005;58(4): Melo LR, Pedreira MLG. Erros de medicação em pediatria: análise da documentação de enfermagem no prontuário do paciente. Rev Bras Enferm 2005;58(2): Oliveira RC, Camargo AEB, Cassiani SHB. Estratégias para prevenção de erros de medicação no setor de emergência. Rev Bras Enferm 2005;58(4): Cassiani SHB, Teixeira TCA, Opitz SP, Linhares JC. O sistema de medicação nos hospitais e sua avaliação por um grupo de profissionais. Rev Esc Enferm USP 2005;39(3): Toffoletto MC, Padilha KG. Consequências de erros de medicação em unidades de terapia intensiva e semi- -intensiva. Rev Esc Enferm USP 2006;40(2): Bohomol E, Ramos LH. Perceptions about medication errors: analysis of answers by the nursing team. Rev Latinoam Enferm 2006;14(6): Santos JO, Silva AEBC, Munari DB, Miasso AI. Sentimentos de profissionais de enfermagem após a ocorrência de erros de medicação. Acta Paul Enferm 2007;20(4): Bohomol E, Ramos LH. Erro de medicação: importância da notificação no gerenciamento da segurança do paciente. Rev Bras Enferm 2007;60(1): Silva DO, Grou CR, Miasso AI, Cassiani SHB. Medication preparation and administration: analysis of inquiries and information by the nursing team. Rev Latinoam Enferm 2007;15(5): Silva AEBC, Cassiani SHB, Miasso AI, Optiz SP. Problemas na comunicação: uma possível causa de erros de medicação. Acta Paul Enferm 2007;20(3): Freitas DF, Yasuo OJ. Avaliação dos fatores de risco relacionados às falhas durante a administração de medicamentos. Arq Ciênc Saúde UNIPAR 2008;12(3): Beccaria LM, Pereira RAM, Contrin LM, Lobo A,Trajano DHL. Eventos adversos na assistência de enfermagem em uma unidade de terapia intensiva. Rev Bras Ter Intensiva 2009;21(3): Gimenes FRE, Teixeira TCA, Silva AEBC, Optiz SP, Mota MLS, Cassiani SHB. Influência da redação da prescrição médica na administração de medicamentos em horários diferentes do prescrito. Acta Paul Enferm 2009;22(4): Pelliciotti JSS, Kimura M. Erros de medicação e qualidade de vida relacionada à saúde de profissionais de enfermagem em unidades de terapia intensiva. Rev Latinoam Enferm 2010; 18(6): Renovato RD, Carvalho PD, Rocha RSA. Investigação da técnica de administração de medicamentos por sondas enterais em um Hospital Geral. Rev Enferm UERJ 2010; 18(2): Santos JO, Silva AEBC, Munari DB, Miasso AI. Condutas adotadas por técnicos de enfermagem após ocorrência de erros de medicação. Acta Paul Enferm 2010;23(3): Franco JN, Ribeiro G, D Innocenzo M, Barros, Amaral BP. Percepção da equipe de enfermagem sobre fatores causais de erros na administração de medicamentos. Rev Bras Enferm 2010;63(6): Belela ASC, Peterlini MAS, Pedreira MLG. Revelação da ocorrência de erro de medicação em unidade de cuidados intensivos pediátricos. Rev Bras Ter Intensiva 2010;22(3): Pereira CMB, Pereira OB, Carboni RM. Conduta do futuro enfermeiro mediante o erro de medicação. Rev Enferm UFPE 2010;4(1): Gimenes FREG, Mota MLS, Teixeira TCA, Silva AEBC, Opitz SP, Cassiani SHB. Patient safety in drug therapy and the influence of the prescription in dose errors. Rev Latinoam Enferm 2010;18(6):

257 Julho / Agosto 2013;12(4) Normas de publicação Enfermagem Brasil 254 A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/ ) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar / caracteres, inclusos espaçamentos. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato.tif ou.gif) ou que possam ser editados em Power- Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato.tif ou.gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8.Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.

258 Julho / Agosto 2013;12(4) 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos.tif ou.gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavraschave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou . Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e . - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplos: Livro: May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986 Capítulo ou parte de livro: Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; p Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde ( Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54: Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: artigos@atlanticaeditora.com.br 255

259 Julho / Agosto 2013;12(4) Calendário de eventos a 27 de setembro II Seminário Internacional e IX Semana de Enfermagem Santa Maria, RS Informação: Setembro Outubro 7 a 10 de outubro 65º Congresso Brasileiro de Enfermagem CBEn Centro de Convenções Sulamérica Rio de Janeiro, RJ Informação: 9 a 11 de outubro I Congreso Internacional Hispano-Luso de Enfermería Lisboa, Portugal Informação: 17 a 19 de outubro X Congreso Latinoamericano de Queimaduras Rio de Janeiro, RJ Informação: contato@jbqueimaduras.com.br 30 de outubro a 2 de novembro VII Congresso de Geriatria e Gerontologia do Rio de Janeiro Rio de Janeiro, RJ Informação: 30 de outubro a 1 de novembro VIII COBEON - Congresso Brasileiro de Enfermagem Obstétrica e Neonatal Centro de Cultura e Eventos da Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis, SC Informação: Novembro 12 a 15 de novembro IV Congresso Brasileiro de Tratamento de Feridas João Pessoa, PB sobenfee@sobenfee.org.br 27 a 30 de novembro 2º Congresso Pan Amazônico de Oncológica Manaus, AM Informação: 256

260 Enfermagem BRASIL Índice Volume 11 número 5 - Setembro / Outubro de 2013 EDITORIAL Enfermagem em cirurgia plástica: uma especialização a se desenvolver no Brasil, Luciana Secches de Freitas ARTIGOS ORIGINAIS Saúde mental de mulheres no climatério: crenças, percepções e enfrentamentos, Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha, Raimunda Magalhães da Silva, Eveliny Silva Martins, Carmem Cintra de Oliveira Tavares Identificação do conhecimento sobre proteção e prevenção do HIV/AIDS entre universitárias do norte do Paraná, Janete Lane Amadei, Jose Ronaldo Alves dos Santos, Francisco Albuquerque Klank, Paula Carolina Stresser Amadei, Manoela Pereira Toledo, Lucilene Conceição de Moura Atuação da equipe de Estratégia Saúde da Família no domicílio de pacientes com acidente vascular encefálico, Neiva Junkes Hoepers, Ioná Vieira Bez Birollo, Luciane Bisognin Ceretta, Maria Tereza Soratto, Alexandre Machado Perfil dos atendimentos de um pronto socorro hospitalar do Extremo Sul Catarinense, Maria Teresa Brasil Zanini, Karina Dal Pont Zilli, Cristiane Damiani Tomazzi, Luciana Rosa, Karina Gulbis Zimmermann, Luciane Bisognin Ceretta Religiosidade de pessoas idosas hospitalizadas, José Vitor da Silva, Andréia Aparecida dos Santos, Patrícia Mara Gomes, Renata Fabiana Dias, Daniel Rodrigues Machado REVISÕES O impacto da implantação da Estratégia de Saúde da Família no controle da hipertensão arterial, Edelcio Ratão, Luciano Garcia Lourenção O papel do enfermeiro na humanização da assistência ao paciente na Unidade de Terapia Intensiva, Ana Paula Laender Muñoz Rodrigues, Vanessa Galdino de Paula, Daniele Galdino de Paula, Eugenio Fuentes Perez Junior RELATO DE EXPERIÊNCIA Ações educativas desenvolvidas em um grupo de idosos, Tatiane Marinz de Souza, Amanda Portugal de A. Moreira, Eleinne Felix Amin, Lívia Bertasso Araújo, André Luiz de Souza Braga, Deise Ferreira Souza CALENDÁRIO DE EVENTOS NORMAS DE PUBLICAÇÃO...312

261 EDITOR CIENTÍFICO Presidente do Conselho Científico Prof a. Dr a. Zaida Aurora Sperli Geraldes Soler (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) CONSELHO CIENTÍFICO Prof. Dr. Adriano Menis Ferreira (UFMS Mato Grosso do Sul) Prof a. Dr a. Aida Mendes (Escola Superior de Enfermagem de Coimbra Portugal) Prof a. Dr a. Almerinda Moreira (Escola de Enfermagem Alfredo Pinto UniRio Rio de Janeiro) Prof. Dr Ari Nunes Assunção (UNISC Santa Cruz do Sul) Prof. Dr. Carlos Bezerra de Lima (UFPB Paraíba) Prof. Dr. Carlos Roberto Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Dalmo Valério Machado de Lima (UFF Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Eliane Aparecida Sanches Tonolli (UEM Maringá) Prof a. Dr a. Jacileide Guimarães (UFRN Rio Grande do Norte) Prof. Dr. José Verdú Soriano (Universidad de Alicante Espanha) Prof a. Drª Leila Rosa dos Santos (ISBL Londrina) Prof a. Dr a. Márcia Galan Perroca (FAMERP São José do Rio Preto São Paulo) Prof a. Dr a. Márcia Maria Fontão Zago (USP Ribeirão Preto) Prof a. Dr a. Margarethe Maria Santiago Rêgo (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Maria da Graça Piva (ULBRA RS) Prof a. Dr a. Maria Ermelinda Miranda Ribeiro Jaques (Escola Superior de Enfermagem IPVC Portugal) Prof a. Dr a. Maria Helena da Silva Nery (UFRGS Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Marialda Moreira Christoffel (UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Meives Aparecida Rodrigues de Almeida (UNICAMP Campinas) Prof a. Drª Mércia Heloisa Ferreira da Cunha (UFMG Belo Horizonte) Prof a. Dr a. Nadia Antonia Aparecida Poletti (FAMERP São José do Rio Preto) Prof a. Dr a. Nebia Maria Almeida de Figueiredo (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita Batista Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Dr a. Rita de Cássia Tapié Martins (USP São Paulo) Prof. Dr. Roberto Carlos Lyra da Silva (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Sérgio Ribeiro dos Santos (UFPB Paraíba) Prof a. Dr a. Silvia Helena de Bortoli Cassiani (USP Ribeirão Preto) Prof a. Drª. Soraia Dornelles Schoeller (UFSC Santa Catarina) Prof a. Dr a. Taka Oguisso (USP São Paulo) Prof a. Drª Teresa Tonini (UniRio Rio de Janeiro) Prof a. Dra. Valéria Lerch Lunardi (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Dr a. Vera Regina Salles Sobral (UFF Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wiliam César Alves Machado (UNIRIO Rio de Janeiro) Prof. Dr. Wilson D. Lunardi Filho (FURG Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Andréia Saccol Lourenço (Escola Técnica de Enfermagem São Francisco Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Dóris Maria Volquind (Clínica de Florais de RAFF Rio Grande do Sul) Prof a. Ms. Gisele Cristina Tertuliano (Rio Grande do Sul) GRUPO DE ASSESSORES Prof a. Ms. Sonia Maria Ponciano dos Santos (Escola Anna Nery UFRJ Rio de Janeiro) Prof a. Ms. Maria Filomena Vancellote Almeida (UniRio Rio de Janeiro) Prof. Ms. William Malagutti (UGF São Paulo) Enfermagem Brasil é indexada no CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature) Atlântica Editora e Shalon Representações Praça Ramos de Azevedo, 206/1910 Centro São Paulo SP Atendimento (11) / assinaturas@atlanticaeditora.com.br Assinatura 1 ano (6 edições ao ano): R$ 260,00 atlantica@atlanticaeditora.com.br Administração e vendas Antonio Carlos Mello mello@atlanticaeditora.com.br Editor executivo Dr. Jean-Louis Peytavin jeanlouis@atlanticaeditora.com.br Editor assistente Guillermina Arias guillermina@atlanticaeditora.com.br Direção de arte Cristiana Ribas cristiana@atlanticaeditora.com.br Diretor de Marketing e Publicidade Rainner Penteado rainner@atlanticaeditora.com.br Imprensa release@atlanticaeditora.com.br Todo o material a ser publicado deve ser enviado para o seguinte endereço de artigos@atlanticaeditora.com.br Atlântica Editora edita as revistas Fisioterapia Brasil, Neurociências, Nutrição Brasil e Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício. ATMC - Atlântica Editora Ltda - Nenhuma parte dessa publicação pode ser reproduzida, arquivada ou distribuída por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia ou outro, sem a permissão escrita do proprietário do copyright, Atlântica Editora. O editor não assume qualquer responsabilidade por eventual prejuízo a pessoas ou propriedades ligado à confiabilidade dos produtos, métodos, instruções ou idéias expostos no material publicado.

262 Editorial Enfermagem em cirurgia plástica: uma especialização a se desenvolver no Brasil Luciana Secches de Freitas, D.Sc. Minha formação em Odontologia e em Enfermagem, com mestrado e doutorado em enfermagem e atuação como enfermeira junto ao Departamento Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço, permitiram-me desenvolver competências (conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e emoções) na assistência a pacientes submetidos a cirurgias estéticas e reparadoras de cabeça e pescoço. Nos últimos anos venho atuando como dentista e enfermeira, desenvolvendo ações administrativas e assistenciais na atenção a pacientes atendidos em clínica de cirurgia plástica. As atividades que desempenho envolvem toda a rotina da clínica, como recepção e orientação aos pacientes e familiares, instrumentação no intraoperatório, supervisionando o atendimento de enfermagem prestado durante a internação hospitalar, realizando pesquisas de satisfação, estatísticas de atendimentos, dimensionando e priorizando as necessidades, orientando os pacientes no pré e pós-operatório e também realizando os curativos, remoção de drenos, enfim, diferentes procedimentos relacionados à atuação do enfermeiro no contexto da cirurgia plástica. A Cirurgia Plástica é uma especialidade ampla, destinada a reparar, reconstruir e substituir deformidades envolvendo a pele, o sistema musculoesquelético, estruturas craniomaxilofaciais, extremidades, mama, tronco e genitália externa. É divulgada nos diferentes meios de comunicação e no âmbito científico a excelência que o Brasil vem alcançando na cirurgia plástica. No entanto, apesar do grande desenvolvimento da cirurgia plástica na medicina brasileira, esta área é pouco explorada na formação do enfermeiro, seja em nível de graduação como de pós-graduação lato sensu. Atuando como enfermeira no contexto da cirurgia plástica, tenho verificado que esta é uma área de atuação incipiente do enfermeiro. Nestes 10 anos, observei que surgiram e foram desenvolvidas e aprimoradas muitas técnicas cirúrgicas, assim como procedimentos estéticos e cosméticos, deixando visível um campo de atuação para o enfermeiro. Deve ser destacado que é o profissional da área de saúde não médico com condições de atuar técnica e cientificamente em todas as fases relacionadas à cirurgia plástica, prestando atendimento a pacientes nos períodos pré, intra e pós-operatório. Então, é urgente que seja qualificado em cursos de pós-graduação lato sensu, particularmente em nível de especialização, na área de cirurgia plástica. Atualmente sou a primeira enfermeira do Brasil a fazer parte da Sociedade Americana de Enfermagem em Cirurgia Plástica (American Society of Plastic Surgery Nurse- ASPSN), sociedade que oferece aos seus membros o livre acesso a informação e a troca de informações nesta área, permitindo atualizar e aprimorar meus conhecimentos para exercer minhas funções como enfermeira na área de cirurgia plástica. Tive, também, a oportunidade de verificar o papel desenvolvido pelas enfermeiras americanas, deixando evidente que os enfermeiros brasileiros têm muito a aprender no contexto da cirurgia plástica. Ficou evidente que, apesar de o Brasil ocupar a 2º posição no ranking de cirurgias plásticas, os enfermeiros norte-americanos fazem diversos procedimentos como: aplicação de toxina botulínica, aplicação de ácidos, manipulando aparelhos de lasers. Também trabalham com o desenvolvimento da qualidade, pesquisa, educação e possuem uma entidade de classe atuante, desenvolvendo grandes congressos e simpósios para discussão e prestígio da especialidade de Cirurgia Plástica. No Brasil, as competências e valorização dos enfermeiros já são evidentes em várias áreas e especialidades, como no caso da Obstetrícia, Cardiologia, Pediatria e muitas outras. Porém, no que diz respeito à cirurgia plástica a trajetória está apenas começando. Por isso, desejo contribuir na Jornada pela Especialização em Enfermagem em Cirurgia Plástica no Brasil. *Graduada em Odontologia pela UNIP, Doutora em Enfermagem pela FAMERP, especialidade na área de otorrinolaringologia, trabalha em clínica de cirurgia plástica - responsável pelos aspectos administrativos e assistenciais/ educativos, no contexto da Enfermagem, membro do Grupo de pesquisa «Núcleo de Estudos sobre Morbidade Referida e Gestão do Trabalho em Saúde» - NEMOREGES 259

263 Artigo original Saúde mental de mulheres no climatério: crenças, percepções e enfrentamentos Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha*, Raimunda Magalhães da Silva**, Eveliny Silva Martins***, Carmem Cintra de Oliveira Tavares**** *Fisioterapeuta, Mestrado em Saúde Coletiva na Universidade de Fortaleza, Professora das Faculdades INTA, **Enfermeira, Mestrado em Saúde Coletiva da Universidade de Fortaleza, bolsista PQ, ***Acadêmica de Enfermagem da Universidade de Fortaleza (UNIFOR), bolsista da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FUNCAP), ****Acadêmica de Enfermagem da Universidade de Fortaleza (UNIFOR) Resumo O climatério é uma realidade nos lares, que independe de classe social, crenças e preceitos religiosos. Objetivou-se analisar a saúde mental de mulheres no climatério através de suas crenças, percepções e enfrentamentos. Trata-se de um estudo transversal de natureza qualitativa desenvolvida com 33 mulheres climatéricas, em dezembro de 2007 e fevereiro de 2012, no Núcleo de Atenção Médica Integrada (NAMI) e no Centro de Saúde Mattos Dourado. Utilizou-se entrevista semiestruturada e observação livre. Com base no modelo de crença em saúde os dados foram agrupados nas categorias: susceptibilidade à doença mental; percepção da mulher quanto à severidade das queixas; benefícios e barreiras encontrados para superar as queixas. Evidenciou-se que a susceptibilidade relacionou-se com as dificuldades mentais, medo, depressão, ansiedade e angústia. Estes problemas também foram identificados como barreiras, pelas mulheres. O risco de morte foi o principal fator percebido como severidade. O apoio da família, dos amigos, dos serviços e da proteção de Deus foram os benefícios relatados. Observamos que as mulheres são susceptíveis à doença, mantêm um nível de severidade com pouca expectativa de melhora, mas buscam recursos que minimizam a gravidade da doença. Palavras-chave: saúde da mulher, climatério, políticas públicas. Abstract Mental health of women during climacteric: beliefs, perceptions and confrontations Menopause is a reality at homes which is independent of social class, religious beliefs and precepts. The objective was to examine the mental health of postmenopausal women through their beliefs, perceptions and confrontations. This was a qualitative cross-sectional study conducted with 33 peri-menopausal women, in December 2007 and February 2012, at the Center for Integrated Medical Attention (NAMI) and the Health Centre Mattos Dourado. We used semi-structured interviews and free observation. Based on the health belief model, data were grouped into categories: susceptibility to mental illness, perception of women regarding the severity of complaints, benefits and barriers found to overcome the complaints. It was evident that susceptibility was related to the mental difficulties, fear, depression, anxiety and distress. These problems were also identified as barriers for women. The risk of death was the main factor perceived as severity. Artigo recebido em 1 de agosto de 2012; aceito em 30 de setembro de Endereço para correspondência: Francisca Maria Aleudinelia Monte Cunha, Avenida Padre Antonio Tomás, 2035, Fortaleza CE, aleudinelia@yahoo.com.br, rmsilva@unifor.br 260

264 Setembro / Outubro 2013;12(5) Support from family, friends, services and protection of God were the benefits reported. We found that women are susceptible to disease, maintain a level of severity with little expectation of improvement, but seek resources that minimize the severity of the disease. Key-words: women s health, climacteric, public policies. Resumen Salud mental de mujeres en el climaterio: creencias, percepciones y enfrentamientos El climaterio es una realidad en los hogares, que no depende de clase social, creencias y preceptos religiosos. El objetivo de este estudio fue analizar la salud mental de mujeres en el climaterio a través de sus creencias, percepciones y enfrentamientos. Se trata de un estudio transversal de naturaleza cualitativa desarrollado con 33 mujeres climatéricas, en diciembre de 2007 y febrero de 2012, en el Núcleo de Atención Médica Integrada (NAMI) en el Centro de Salud Mattos Dourado. Se utilizó entrevista semiestructurada y observación libre. Con base en el modelo de creencia en salud los datos fueron agrupados por categorías: susceptibilidad a enfermedad mental; percepción de la mujer en cuanto a la severidad de quejas; beneficios y barreras encontrados para superar las quejas. Se evidenció que la susceptibilidad se relacionó con dificultades mentales, miedo, depresión, ansiedad y angustia. Estos problemas también fueron identificados como barreras por las mujeres. El riesgo de muerte fue el principal factor percibido como severidad. El apoyo de la familia, amigos, servicios y protección de Dios fueron los beneficios relatados. Observamos que las mujeres son susceptibles a la enfermedad, mantienen un nivel de severidad con poca expectativa de mejora, pero buscan recursos que minimizan la gravedad de la enfermedad. Palabras-clave: salud de la mujer, climaterio, políticas públicas. Introdução O cuidado realizado com a mulher também se dá na perspectiva de uma vida emocional saudável. É necessário apontar, entretanto, a existência de crenças que sugerem o envelhecimento feminino como uma janela de vulnerabilidade durante, a qual, as mulheres estão com alto risco para incidência de distúrbios mentais [1]. Existe uma associação controversa, não comprovada cientificamente, mostrando que a mulher climatérica é mais facilmente irritável, ansiosa e deprimida. Decorre daí a tendência dos cuidados com a saúde destas serem mediados por ansiolíticos, sedativos, antipsicóticos e antidepressivos, o que não costuma ocorrer quando está tratando de homens da mesma idade ou de mulheres em outras faixas etárias [2]. É fato que mulheres, iniciando a fase do climatério, passam por um desequilíbrio hormonal, sofrendo fenômenos associados às modificações biológicas. Muito marcante e significativo, todavia, é o declínio progressivo de traços culturalmente valorizados pela sociedade, dentre os quais, servem de exemplos a formosura, o vigor e a fertilidade. As mulheres, durante esta fase, apresentam maiores problemas nas relações afetivas como o casamento, sexualidade, família e emprego. Estudos descrevem que mudanças nesses domínios da vida podem esgotar os recursos de adaptação da pessoa, contribuindo para o surgimento de várias doenças, incluindo os distúrbios mentais [2]. Pesquisa relata associação entre a diminuição dos estrógenos e o grau de organização/disponibilidade do comportamento adaptável do ser humano que, por sua vez, torna a mulher mais vulnerável ao estresse psicológico advindo dos eventos da vida diária. Em outras palavras, uma menor adaptabilidade do sistema nervoso, durante a transição menopausal, pode contribuir para diminuição da vigilância ao estresse lesivo [3], manifestado com baixa autoestima, insatisfação, isolamento social, queixas psíquicas e somáticas. Em uma pesquisa verificou-se que a terapia de hormônio realizada de forma particularizada após monitorização criteriosa, suaviza os sintomas, melhora a qualidade de vida, os efeitos adversos são controláveis e os riscos são mínimos [4]. Deve-se dizer que, ainda na década de 1980, a noção de grupos de risco foi substituída pela expressão comportamento de risco, embora ela ainda se baseie na exposição como questão de decisão individual, como um risco assumido pelo indivíduo [5-8]. A partir de então a noção de risco individual 261

265 Setembro / Outubro 2013;12(5) e comportamento de risco começaram a ser substituídas, principalmente no meio acadêmico, pelo conceito de vulnerabilidade social, que diz respeito a um conjunto de fatores estruturais que condicionam o avanço da sociedade [9]. Do ponto de vista público, as capacidades mentais surgem como um conceito de saúde mais adequado para instrumentalizar a pessoa em termos de habilidade e independência para realizar determinadas atividades. Embora exista uma política nacional que determine a incorporação da atenção básica à saúde da mulher no climatério [10] e sua implantação em 100% das capitais, observa-se que as ações desenvolvidas pelo Programa Saúde da Família ainda são muito incipientes. Pode-se dizer que o atendimento dispensado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil ainda é insatisfatório no que tange às ações terapêuticas, bem como orientações para o autocuidado e a promoção da saúde da mulher. Com a verificação do comportamento cognitivo no climatério se pode colaborar para o campo do conhecimento sobre as queixas neuropsíquicas dessa população de mulheres e prover aos profissionais que atuam na área de saúde da mulher, parâmetros para a aplicação de testes psicométricos [11]. O tema passa a constituir interesse de saúde pública/coletiva, na medida em que se calcula, para 2020, mais de 1 bilhão de mulheres acima de 60 anos de idade [2]. Também é alvo de preocupação internacional e evoca interesse nacional crescente, devido à frequência de transformações físicas, sociais e mentais, acometidas nesta fase da vida. Objetivou-se analisar a saúde mental de mulheres no climatério através de suas crenças, percepções e enfrentamentos. Material e métodos O estudo está fundamentado no Modelo de Crenças em Saúde (Health Belief Model - HBM). Esse modelo tem como premissa o mundo perceptual da pessoa que determina o seu comportamento, não o ambiente físico [12]. O Modelo de Crenças em Saúde, em relação ao comportamento preventivo, é demonstrado pela dimensão susceptibilidade percebido refere-se à percepção subjetiva do risco de a pessoa contrair determinada condição ou doença. Trata-se de um estudo transversal de natureza qualitativa realizado em novembro de 2007 e feverei- ro de 2012, com 33 mulheres cadastradas no serviço de atenção secundária e moradoras da comunidade do Dendê, no bairro Edson Queiroz, em Fortaleza/ CE. O serviço de saúde é credenciado pelo SUS com condições satisfatórias quanto à área física, equipamentos e laboratórios, e tem o objetivo de prestar assistência à comunidade e desenvolver o ensino e pesquisa, envolvendo funcionários, docentes, alunos de graduação e pós-graduação. O critério de inclusão das participantes constituiu a idade entre 45 e 55 anos, período que inclui mulheres no início do declínio da atividade folicular ovariana até a homeostase hormonal [10,13]. A inclusão também se deu pelo fato de participação em grupos de apoio que desenvolviam atividades físicas, sociais e laborais com o acompanhamento de profissionais. As participantes foram selecionadas pelo cadastro da Instituição, independente de raça, cor e religião e estavam com condições físicas e emocionais para responder à entrevista. Foram excluídas da pesquisa as mulheres que apresentaram algum déficit neurológico, de comunicação e de cognição. A coleta de dados se deu, inicialmente, com visitas e diálogos não estruturados no serviço e somente após conhecer as mulheres, iniciamos a entrevista semiestruturada em profundidade, interativa, reflexiva, procurando respeitar a linguagem e as experiências de vida de cada uma. As entrevistas foram realizadas em local reservado, onde as participantes tinham a liberdade de falar e expressar seus sentimentos, emoções, sinais e sintomas em relação à saúde mental. O tempo de cada entrevista foi em consonância com a necessidade de cada participante, deixando-a a vontade para exprimir suas experiências com a saúde, envolvendo os aspectos mentais no período em que vivencia o climatério e a menopausa. As conversas foram gravadas, conforme consentimento das entrevistadas. Os dados receberam tratamento sistemático de leitura, agrupamento e codificação e foram organizados em temáticas por afinidade de conteúdo e de significados contidos nos instrumentos de coleta de dados. Para proceder à análise temática, foram empregados os procedimentos da pré-análise ou organização do material; a exploração desse material para a sua classificação e codificação ou categorização; e a interpretação dos resultados, etapa em que se destaca o papel do pesquisador como atuante [14-16]. A pesquisa proporcionou uma compreensão completa e complexa da saúde mental da mulher 262

266 Setembro / Outubro 2013;12(5) no climatério, observando as dificuldades sentidas, percebidas e sofridas no seu cotidiano [15,17], através da compreensão dos dados, utilizando-se o Modelo de Crenças em Saúde. Antes de iniciar a coleta dos dados, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNI- FOR e seguiu as normas da Resolução nº 196/96 sobre pesquisa envolvendo seres humanos, do Conselho Nacional de Saúde [18]. De acordo com essa resolução, a pesquisa atendeu às exigências éticas e científicas fundamentais como: consentimento livre e esclarecido dos indivíduos-alvo, garantia do sigilo que assegure a privacidade e o anonimato dos sujeitos quanto à coleta de dados, respeito total à dignidade do ser humano, sem mutilações ou violação do corpo, entre outros. Conforme as normas de ética científica em investigações, as pessoas receberam nomes fictícios simbolizados por letras do alfabeto. Resultados e discussão Caracterização das mulheres Participaram deste estudo 33 mulheres com faixa etária de 45 a 55 anos, na fase do climatério. Quanto à escolaridade, duas relataram ter concluído o ensino médio, predominando as não alfabetizadas e com renda familiar de até dois salários mínimos. Em relação à ocupação, 12 referiram ser dona de casa, 12 empregadas domésticas e as outras se dividiram nas ocupações de lavadeira, serviços gerais e professora. A maioria das participantes era casada, apresentando duas solteiras e duas divorciadas. Sobre a religião, 17 declararam serem católicas, 13 evangélicas e três não definiram. Grande parte dessas mulheres afirmou ter de um a três anos de cadastro no serviço de saúde, porém houve uma quantidade significativa com mais de cinco anos e uma minoria com 30 anos. Esse fato nos leva a pensar e questionar sobre como estas mulheres são acompanhadas neste serviço e qual o sistema de resolubilidade deste. No que diz respeito à busca destas mulheres pela unidade de saúde e a frequência em que usam este sistema, podemos identificar que a procura maior é pelo profissional que faz clínica geral e em seguida pelo fisioterapeuta. Estes profissionais foram enquadrados como prescritores de medicação para alívio das queixas e por melhorar o bem-estar. As queixas mentais apresentadas encontram-se em concordância com as produções científicas da área quando sugerem uma relação entre os eventos estressores da vida diária e manifestações de tristeza, angústia, medo, choro fácil, nervosismo, depressão e raiva. No relato abaixo pode-se perceber: Tenho tristeza, angústia, medo e raiva de mim... Eu era uma pessoa feliz; agora eu me sinto um lixo! Sou triste, angustiada, choro, tenho medo e isso me faz pensar que vou enlouquecer......tem dia que choro muito, tenho muita tristeza, angústia, medo e às vezes acho que vou ficar louca. A minha saúde mental é péssima... E isso me angustia, choro, fico triste, saio sem rumo de casa... Medo de ficar louca, perda de memória, impaciência, cabeça cansada e confusa A tristeza vem e isso altera todo meu comportamento, toda minha vida. Uma pesquisa com 70 mulheres evidenciou que elas possuíam uma visão negativa da menopausa, tendo maior prevalência de depressão, fazendo-se assim um dado estatisticamente significante [19]. Outro estudo constatou a influência da história familiar em relação ao aumento do risco de desenvolvimento da depressão [20], o mesmo foi detectado nesta pesquisa.... Pelo namoro de minha filha. Tenho medo que possa acontecer com ela o que aconteceu comigo. O climatério está intimamente ligado ao processo de envelhecimento feminino, à imagem do corpo e à sexualidade. A redução do desejo sexual, o desgosto devido a esta sensação e a preocupação com relação ao companheiro ficaram evidentes nas falas, mas também a falta de vontade de procurar ajuda e o desconhecimento de tratamento para isso [21]...Fiquei preocupada quando ouvi dizer que a menopausa causa dificuldade de lubrificar 263

267 Setembro / Outubro 2013;12(5)..eu tenho que dá conta do meu marido... Grande parte das mulheres relatou que ocorreram mudanças em sua sexualidade durante o climatério, especialmente relacionada ao ato sexual, com diminuição desta atividade após a menopausa [22]. Estas modificações remetem à experiência negativa como ocorrência de melancolia, tristeza e ansiedade [23], vista por algumas mulheres como algo sem solução [21]. Há relatos de mudanças ao iniciar a menopausa, principalmente com relação à perda de encanto e interesse por seus parceiros. A separação conjugal, nessa fase, intensifica as crises depressivas que possam advir, surgindo o sentimento de rejeição e desvalorização pelo parceiro [24].... Raiva de mim por não poder ter mais meu marido....se eu pudesse, meu marido passava era longe de mim. Por conta das alterações hormonais com mudanças no comportamento sexual das mulheres, é importante que os parceiros estejam informados e saibam o que significa ter de resolver eventuais problemas [25]. A sexualidade faz parte das prioridades da política pública de atendimento à mulher, no entanto, a abordagem centra-se no diagnóstico e tratamento de problemas de saúde, não abrangendo a mulher de forma holística. Pode-se notar que no atendimento em ambiente privado, não privilegia uma discussão coletiva entre as mulheres, isso possibilitaria o compartilhamento de experiências, a percepção de que as dificuldades não são originalmente suas, mas integram um conjunto próprio da condição feminina e da vivência de ser mulher e proporcionaria a socialização das soluções dos problemas [26]. Estressores diversos podem contribuir para os quadros depressivos climatéricos, não se restringindo ao declínio hormonal. Estudos comunitários comprovam que sintomas depressivos em mulheres climatéricas, estão associados à atitude em relação à menopausa, a saúde geral da mulher, problemas de relacionamento e histórico de episódio depressivo anterior [23]....isso me faz pensar que vou enlouquecer......às vezes acho que vou ficar louca......medo de ficar louca... Sinto aborrecimento......choro. A susceptibilidade refere-se à percepção subjetiva do indivíduo sobre os riscos existentes ou sua vulnerabilidade em apresentar determinado problema de saúde. Nos casos de agravos, inclui a aceitação do diagnóstico e a avaliação pessoal de sua re-susceptibilidade e da susceptibilidade para doenças em geral. Conclusão As crenças sobre a saúde mental e as formas de enfrentamento, assim como a percepção do risco, da gravidade, dos benefícios e das barreiras, durante a fase do climatério, mostraram ser culturalmente construídas e influenciáveis no comportamento delas quanto às mudanças e à própria saúde. A percepção da suscetibilidade e da severidade da mulher no climatério possui forte componente cognitivo, sendo dependente do conhecimento. Assim, o conhecimento das mulheres acerca do climatério influencia sua percepção quanto a estarem mais suscetíveis à sua ocorrência ou quanto às consequências. Nesta perspectiva, um tratamento mais efetivo pode ser obtido quando são consideradas suas crenças, suscetibilidade, severidade, benefícios e barreiras, direcionando a saúde mental da mulher na tomada de consciência. Devem ser reforçados os aspectos positivos e benefícios em adotar ações para o enfrentamento, enquanto os negativos como as barreiras percebidas no processo da saúde/doença devem ser minimizados. Diante dessas asserções, compreende-se que só será possível uma saúde para mulheres, eficiente, se proporcionar a efetiva participação delas nos processos de mudança, ou seja, deve-se recorrer aos eixos estruturantes da promoção de saúde utilizando os princípios da Educação, para que as mulheres possam conduzir as mudanças necessárias e identificar seu potencial nas formas de enfrentamento do climatério. 264

268 Setembro / Outubro 2013;12(5) Referências 1. Dennerstein L, Soares CN. The unique challenges of managing depression in mid-life women. World Psychiatry 2008;7(3): Halbe HW, Fonseca AM, Bagnoli VR, Borato MG, Ramos LO, Lopes CMC. Epidemiologia do climatério. Revista Sinopse de Ginecologia e Obstetrícia 2002;2: Becker D, Lomranz J, Pines A, Shmotkin D, Nitza E, bennamitay G, Mester R. Psychological distress around menopause. Psychosomatics 2001;42: Cezarino PYA, Fonseca AM, Bagnoli VR, Baracat EC. Tratamento hormonal no climatério. Rev Bras Med 2011;68(10): Guimarães DC. A construção de um problema. In: Guimarães DCA. Aids no feminino. Rio de Janeiro: UFRJ;2001; Parker R, Camargo Junior KR. Pobreza e HIV/Aids: aspectos antropológicos e sociológicos. Cad Saúde Pública 2000;1(16): Pimenta C, Souto K, ed. Políticas e diretrizes de prevenção das DST/Aids entre mulheres. Brasília: Ministério da Saúde; Seixas AMR. Sexualidade feminina: história, cultura, família, personalidade e psicodrama. São Paulo: SE- NAC; Sousa MCP, Espirito Santo ACG, Motta SKA. Gênero, vulnerabilidade das mulheres ao HIV/Aids e ações de prevenção em bairro da periferia de Teresina, Piauí, Brasil. Saúde Soc 2008;2(17): Brasil, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual de Atenção à Mulher no Climatério/ Menopausa Brasília: Ministério da Saúde; 2008a 192p. (série A Normas e Manuais Técnicos) (Serie Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos Caderno, n.9). 11. Fernandes RCL, Silva KS, Bonan C, Zahar SEV, Marinheiro LPF. Avaliação da cognição de mulheres no climatério com o Mini-Exame do Estado Mental e o Teste de Memória da Lista de Palavras. Cad Saúde Pública 2009;25(9): Rosenstock IM. What research in motivation suggests for public health. Am J Public Health 1966;3(44): Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher: plano de Ação Brasília: MS; 2008b. 14. Bardin L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70; p. 15. Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 9a ed. São Paulo: Hucitec; Rodrigues MSP, Leopardi MT. O método de análise de conteúdo: uma versão para enfermeiros. Fortaleza: Fundação Cearense de Pesquisa e Cultura; p. 17. Polit DF, Hungler CT. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem. 5a ed. Porto Alegre: Artes Médicas; Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução Nº. 196/96. Decreto Nº de janeiro e Estabelece critérios sobre pesquisa envolvendo seres humanos. Bioética 1996;4(2): Silva MNM, Brito LMO, Chein MBC, Brito LGO, Navarro PAAS. Depressão em mulheres climatéricas: análise de mulheres atendidas ambulatorialmente em um hospital universitário no Maranhão. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul 2008;2(30): Veras AB, Rassi A, Valença AM, Nardi AE. Prevalência de transtornos depressivos e ansiosos em uma amostra ambulatorial brasileira de mulheres na menopausa. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul 2006;2(28): Salazar MA, Paravic KT, Barriga OA. Percepción de las mujeres y sus parejas sobre la calidad de vida en el climaterio. Rev Chil Obstet Ginecol 2011;76(2): Pegoraro RF, Caldana RHL. Mulheres, loucura e cuidado: a condição da mulher na provisão e demanda por cuidados em saúde mental. Saúde Soc 2008;2(17): Palacios S, Ostchega Y, Harris TB, Hirsch R, Parsons VL, Kington R. Climatério y menopausa. Madrid: Mirpal; Valadares AL, Pinto Neto AM, Conde DM, Osis MJ, Sousa MH, Costa-Paiva L. Depoimentos de mulheres sobre a menopausa e o tratamento de seus sintomas. Rev Assoc Med Bras 2008;4(54): Trindade WR, Ferreira MA. Sexualidade feminina: questões do cotidiano das mulheres. Texto Contexto Enferm 2008;3(17): Fernandes RCL, Rozenthal M. Avaliação da sintomatologia depressiva de mulheres no climatério com a escala de rastreamento populacional para depressão CES-D. Rev Psiquiatr Rio Gd Sul 2008;3(30):

269 Artigo original Identificação do conhecimento sobre proteção e prevenção do HIV/AIDS entre universitárias do norte do Paraná Janete Lane Amadei, M.Sc.*, Jose Ronaldo Alves dos Santos, M.Sc.**, Francisco Albuquerque Klank***, Paula Carolina Stresser Amadei****, Manoela Pereira Toledo****, Lucilene Conceição de Moura**** *Docente do curso de Farmácia do Unicesumar, Centro Universitário de Maringá, **Docente do Curso de Enfermagem, Universidade Federal de Sergipe (UFS) campus Lagarto, ***Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente, Universidade Federal de Sergipe, ****Centro Universitário de Maringá Resumo Estudo descritivo-exploratório com abordagem qualitativa, cujo objetivo geral foi identificar o nível de conhecimento sobre proteção e prevenção de HIV/AIDS entre universitárias de um Centro Superior de Ensino do Norte do Paraná, frequentadoras dos cursos Enfermagem e Estética. Através de instrumento com questões fechadas foram entrevistadas 174 universitárias: 60 frequentadoras do curso de Enfermagem e 114 do curso de Tecnologia em Estética e Cosmética. Como resultado, obteve-se que (49,43%) das universitárias estavam incluídas na faixa de maior propagação de HIV/ AIDS de 20 a 30 anos, solteiras (68,97%), renda familiar de 01 a 04 salários mínimos vigentes em novembro/2009 (47,13%), residiam com a família (77,59%) e não realizaram exames de HIV (84,48%). Sobre os itens abordados, houve discordância sobre a prevenção e concordância sobre os modos de transmissão do vírus HIV. Conclui-se que as abordagens sobre o vírus e a patologia realizadas pela saúde pública têm atingido o objetivo de levar o conhecimento, mas existem pontos que devem ser abordados e sanados. Com os resultados obtidos sugerimos reforçar ações já existentes e incentivar a elaboração de programas que conscientizem a população jovem sobre as formas de proteção e prevenção contra o vírus do HIV. Palavras-chave: síndrome de imunodeficiência adquirida, prevenção de doenças, conhecimento. Abstract Identification of knowledge on HIV/AIDS protection and prevention among female university students of north of Paraná This is a descriptive and exploratory study with qualitative approach, which aimed at identifying the level of knowledge on HIV/AIDS protection and prevention among female university students of a Higher Education Center in northern Paraná, enrolled in nursing courses and aesthetics. Using an instrument with closed questions, 174 university students were interviewed: 60 enrolled in the Nursing Course and 114 in the Technology in Aesthetic & Cosmetic Course, Recebido em 19 de fevereiro de 2013; aceito em 26 de setembro de 2013 Endereço de correspondência: José Ronaldo Alves dos Santos, Universidade Federal de Sergipe, Núcleo de Enfermagem Campus Prof. Antônio Garcia Filho, Rua Padre Álvares Pitangueira, 248, Lagarto SE, ronaracaju@yahoo.com.br 266

270 Setembro / Outubro 2013;12(5) respectively. As a result, it was found that (49.43%) university students were included in the age group at high risk to spread HIV/AIDS - 20 to 30 years, unmarried (68.97%), family income, 01 to 04 minimum wages on November 2009 (47.13%), living with family (77.59%) and did not get a HIV test (84.48%). With regards to the items addressed, there was disagreement on the prevention methods and agreement on the modes of transmission of HIV. It is concluded that the approaches carried out by public health on the virus and the disease have achieved the goal of bringing knowledge, but there are points that should be discussed and solved. With the results obtained, we suggest to strengthen existing actions and encourage development of programs that educate young people about methods of protection and prevention against HIV virus. Key-words: acquired immunodeficiency syndrome, disease prevention, knowledge. Resumen Identificación del conocimiento sobre protección y prevención del VIH/SIDA entre estudiantes universitarios del norte de Paraná Estudio descriptivo-exploratorio, con abordaje cualitativo, cuyo objetivo fue identificar el conocimiento sobre protección y prevención contra el VIH/SIDA entre estudiantes universitarios del sexo femenino de un Centro de Enseñanza Superior del norte de Paraná de los cursos de Enfermería y Estética. A través de instrumento con preguntas cerradas fueron entrevistadas 174 estudiantes universitarias: 60 del curso de Enfermería y 114 del Curso de Tecnología Estética y Cosmética. Los resultados mostraron que (49,43%) de las estudiantes universitarias estaban incluidas en el grupo de edad de mayor propagación del VIH/SIDA de 20 a 30 años, solteras (68,97%), renta familiar de 01 a 04 salarios mínimos vigentes en noviembre del 2009 (47,13%), residían con la familia (77,59%) y no realizaran exámenes de VIH (84,48%). Sobre los ítems abordados, hubo discordancia sobre la prevención y concordancia sobre los modos de transmisión del virus VIH. Se concluye que los abordajes realizados por la salud pública respecto al virus y la patología han conseguido el objetivo de llevar el conocimiento, aunque existen puntos que necesitan ser discutidos y solucionados. Con los resultados obtenidos, sugerimos reforzar las acciones ya existentes e incentivar la elaboración de programas que concienticen la población joven de formas de protección y prevención contra el virus VIH. Palabras-clave: síndrome de inmunodeficiencia adquirida, prevención de enfermedades, conocimiento. Introdução Para as mudanças tecnológicas projetadas, tem sido relevante o debate travado mundialmente sobre a saúde reprodutiva e sexual feminina e os direitos pertinentes [1]. De acordo o Ministério da Saúde, no período de 1980 até junho de 2006, o Brasil acumulava casos de AIDS, sendo o país mais habitado e o que possui maior índice de pessoas com HIV na América Latina, correspondendo a aproximadamente 1,8 milhões de pessoas infectadas [2]. O problema persiste porque os jovens permanecem como um dos grupos mais vulneráveis da epidemia [3]. Desde o começo da epidemia o grupo etário mais atingido, em ambos os sexos, tem sido o de 20 a 39 anos que, sistematicamente, representa mais de 60% dos casos de AIDS [4]. Entre as categorias de transmissão, a forma que continua a crescer é a heterossexual, sendo esta a que mais tem contribuído para a feminização da epidemia [5]. O Ministério da Saúde demonstra que o aumento na incidência entre os mais jovens é devido à prática de dispensar o preservativo ou porque não tem acesso a ele ou não é capaz de convencer o parceiro/parceira da necessidade do seu uso, entre outras causas. O termo grupo de risco passou então a ser substituído, principalmente no meio acadêmico, pelo conceito de vulnerabilidade social ao HIV/AIDS, que diz respeito a um conjunto de fatores estruturais que condicionam o avanço da epidemia, como a promiscuidade, o não uso de preservativos, o compartilhamento de drogas injetáveis, entre outros [6]. A epidemia de HIV cresce de forma silenciosa, pois o diagnóstico da infecção é tardio ou a maioria dos indivíduos não realiza o teste anti-hiv. Realizar exames para diagnóstico precoce de HIV é uma das estratégias adotadas na prevenção e controle desta patologia. Os dados obtidos caracterizam informações epidemiológicas que contribuem para a vigilância do HIV, permitindo o melhor planejamento de ações de prevenção e assistência em saúde. 267

271 Setembro / Outubro 2013;12(5) Objetivo Este trabalho foi desenvolvido com objetivo de identificar o nível de conhecimento sobre proteção e prevenção de HIV/AIDS entre universitárias do sexo feminino. O universo é de frequentadoras dos cursos de Enfermagem e de Estética de um Centro Superior de Ensino do Norte do Paraná. Material e métodos Estudo descritivo-exploratório com abordagem qualitativa, realizado com universitárias de um Centro Superior de Ensino do Norte do Paraná. O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do CESUMAR conforme certificado número 381/2009, sendo contemplados todos os aspectos éticos da Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. A amostra foi composta por 174 universitárias do sexo feminino, matriculadas no período letivo de 2009 no Curso de Enfermagem e Tecnologia em Estética e Cosmética, por serem ambos da área de saúde, mas com ênfase diferente na abordagem do processo saúde-doença. Utilizou-se para seleção os seguintes critérios de inclusão: ser do sexo feminino, estar matricula- do regularmente nos cursos citados, concordar em participar da pesquisa e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). A coleta de dados foi realizada no período de outubro a dezembro de 2009, na qual foi aplicado como instrumento um questionário constituído por questões fechadas pertinentes ao objeto de estudo. O tratamento dos dados foi realizado através da organização e distribuição de frequência, agrupada de acordo com o curso das universitárias entrevistadas e apresentados em forma de tabela de distribuição de frequência. Resultados e discussão Foram entrevistadas 174 universitárias, sendo 60 frequentadoras do curso de Enfermagem e 114 do curso de Tecnologia em Estética e Cosmética. Observa-se na Tabela I que a maioria das universitárias entrevistadas estava incluída na faixa de maior propagação de HIV/AIDS de 20 a 30 anos (49,43%), solteiras (68,97%), renda familiar de 01 a 04 salários mínimos vigentes em novembro/2009 (47,13%), residiam com a família (77,59%) e não realizaram exames de HIV (84,48%). Nas questões que abordavam ações sobre proteção contra o vírus HIV (Tabela II), as universitárias 268 Tabela I - Perfil socioeconômico das universitárias entrevistadas de Enfermagem e Tecnologia em Estética e Cosmética, Enfermagem Estética e Cosmética Total n % n % n % Total de entrevistadas , , ,00 Idade (anos) Menos , , ,93 De 20 a , , ,43 De 30 a ,00 3 2, ,62 Acima ,00 1 0,88 7 4,02 Estado civil Solteiro 39 65, , ,97 Casado 14 23, , ,69 Companheiro 4 6,67 9 7, ,47 Separado/divorciado 3 5, ,72 Não respondeu ,75 2 1,15 Renda familiar 1 a , , ,13 5 a , , ,93 9 a , , ,62 Outro 1 1,67 2 1,75 3 1,72 Não respondeu 2 3,33 2 1,75 4 2,30 Mora com Família 39 65, , ,59 Sozinha 9 15,00 9 7, ,34 Amigos 6 10,00 4 3, ,75 Parentes 4 6,67 3 2,63 7 4,02 Não respondeu 2 3,33 2 1,75 4 2,30 Fez exame para Sim 14 23, , ,52 HIV? Não 46 76, , ,48

272 Setembro / Outubro 2013;12(5) concordaram que o uso de preservativo (95%) e não compartilhar seringa e agulhas (93%) são maneiras de prevenir, caracterizando que estas ações são de conhecimento da maioria das entrevistadas. Nos outros itens abordados, houve discordância entre os dois grupos entrevistados (Enfermagem/ Estética): a escolha de parceiros que aparentam boa saúde (6,67% / 90,35%); tomar anticoncepcionais protege contra o vírus (70,00% / 5,26%). O uso de anticoncepcional oral pode impedir a gestação, mas não a contaminação do parceiro sexual. Este conhecimento decorre do recebimento de informações adequadas sobre a inutilidade do uso desta modalidade contraceptiva pela interferência na atividade dos antirretrovirais [7]. No item tratamento da mãe portadora de HIV, a Enfermagem enfatiza que sim (93,33%), mas percebe-se dúvida entre as universitárias da Estética, com índices equivalentes nas respostas SIM (51,75%) e NÃO (45,61%), caracterizando o desconhecimento deste meio de transmissão do HIV. Este conhecimento é relevante na prevenção da transmissão vertical para mulheres em fase de vida reprodutiva. Galvão et al. [7] referem que a transmissão perinatal é uma consequência dramática do envolvimento da mulher na epidemia. Segundo o Ministério da Saúde, a consequência de mulheres contraírem o HIV precocemente, em fases da vida de grande fertilidade, é o aumento no número de gestantes que podem contaminar seus filhos [5]. A Tabela III apresenta os índices de conhecimento das universitárias sobre a transmissão do vírus HIV e demonstra concordância entre os grupos e respostas. As respostas obtidas foram consideradas adequadas por estarem de acordo com as orientações sobre os métodos de prevenção do vírus HIV difundidas pelo Ministério da Saúde do Brasil através de campanhas educativas [5]. Conclusão Com base nos nossos resultados, foi constatado que as universitárias apresentaram domínio satisfatório nas questões inerentes à prevenção da HIV/AIDS, mas universitárias do curso de Estética caracterizavam dúvidas e relevante desconhecimento de ações para a não transmissão do vírus. Considerando que os profissionais de Estética são profissionais de saúde e estão expostos a acidentes, tornando-se expostos ao risco, é necessário que tenham noção sobre a dimensão da AIDS, com ênfase no número de indivíduos infectados e ainda assintomáticos; nas formas mais frequentes de contágio durante a atividade profissional; e ênfase quanto à necessidade de obediência irrestrita às normas de proteção individual durante as atividades profissionais de rotina. Tabela II - Distribuição das universitárias de Enfermagem e Estética segundo o índice de conhecimentos sobre proteção contra o vírus HIV Você acha que... Enfermagem Estética Total n % n % n % Total de entrevistados , , ,00 Sim 4 6, , ,49 Só transar com pessoas que aparentam ter Não 55 91,67 4 3, ,91 boa saúde é uma maneira de se proteger do Não respondeu vírus da AIDS? 1 1,67 0 0,00 1 0,57 Concordo 57 95, , ,40 Transar usando camisinha é uma forma de se Não concordo proteger do vírus da AIDS? 3 5,00 5 4,39 8 4,60 Sim 42 70,00 6 5, ,59 Se a mulher tomar remédio para não engravidar, é uma forma de se proteger contra o Não 17 28, , ,69 Não respondeu vírus da AIDS? 1 1,67 0 0,00 1 0,57 Sim 56 93, , ,09 Se tratar a mulher grávida que tem o vírus Não 4 6, , ,18 da AIDS pode evitar que ela transmita o vírus Não respondeu para o bebê? 0 0,00 3 2,63 3 1,72 Não usar seringas e agulhas já utilizadas é Sim 56 93, , ,68 uma forma de se proteger do vírus da AIDS? Não 4 6,67 7 6, ,32 269

273 Setembro / Outubro 2013;12(5) Tabela III - Distribuição das universitárias de Enfermagem e Estética segundo o índice de conhecimento sobre a transmissão do vírus HIV. Você acha que uma pessoa pode pegar AIDS se... Enfermagem Estética Total n % n % n % Total de entrevistados , , ,00 Transar sem camisinha? Sim 56 93, , ,10 Não 4 6,67 8 7, ,90 Sim 2 3, , ,05 Se usar os mesmos talheres, pratos e Não 57 95, , ,38 copos de alguém que tem AIDS? Não respondeu 1 1,67 0 0,00 1 0,57 Se usar o mesmo banheiro que alguém Sim 2 3, , ,05 que tem AIDS usa? Não 58 96, , ,95 Sim 5 8, , ,09 Se beijar na boca uma pessoa que tem o Não 54 90, , ,33 vírus da AIDS? Não respondeu 1 1,67 0 0,00 1 0,57 Durante a gravidez ou o parto, a mãe Sim 59 98, , ,38 pode passar o vírus da AIDS para a criança? Não 1 1, , ,62 For picada de insetos? Sim 4 6, , ,79 Não 56 93, , ,21 Se receber sangue contaminado pelo Sim , , ,85 vírus do HIV? Não 0 0,00 2 1,75 2 1,15 Sugere-se reforçar ações já existentes e incentivar a elaboração de programas que conscientizem as universitárias da área da saúde. Independente do curso, composto principalmente por jovens de 20 a 30 anos, as formas de proteção e prevenção contra o vírus do HIV nos itens detectados que sugerem dúvida ou questionamento. Enfatizamos que o conhecer/saber deve ser adotado como postura de cuidado com a vida voltada para o senso de responsabilidade individual e coletivo. Agradecimentos Deixamos nossos expressos agradecimentos ao Centro Superior de Ensino de Maringá pela permissão da execução e incentivo para o desenvolvimento desta pesquisa com a concessão de bolsa de Projeto de Iniciação Científica (PICC CESUMAR). Referências 1. Mandu ENT. Trayectoria asistencial en el ámbito de la salud reproductiva y sexual: Brasil, siglo XX. Rev Latinoam Enferm 2002;10(3): Oliveira HN. Usuários de serviços de saúde mental e vulnerabilidade para DST/HIV: estudo piloto [Dissertação]. Belo Horizonte: Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais; Ministério da Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Ministério apresenta metas para AIDS até Brasília: MS; Brito AM, Castilho EA, Szwarcwald CLandmann. AIDS e infecção pelo HIV no Brasil: uma epidemia multifacetada. Rev Soc Bras Med Trop 2001;34(2): Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico Aids. Bol Epidemiol Aids 2001;15: Sousa MCP, Santo ACGE, Motta SKA. Gênero, vulnerabilidade das mulheres ao HIV/Aids e ações de prevenção em bairro da periferia de Teresina, Piauí, Brasil. Saúde Soc 2008;17(2): Galvão MTG, Cerqueira ATAR, Marcondes-Machado J. Medidas contraceptivas e de proteção da transmissão do HIV por mulheres com HIV/Aids. Rev Saúde Pública 2004;38(2):

274 Artigo original Atuação da equipe de Estratégia Saúde da Família no domicílio de pacientes com acidente vascular encefálico Neiva Junkes Hoepers, M.Sc.*, Ioná Vieira Bez Birollo, M.Sc.*, Luciane Bisognin Ceretta, M.Sc.*, Maria Tereza Soratto, M.Sc.*, Alexandre Machado** *Enfermeiras, Discentes do Curso de Enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, **Enfermeiro, Curso de Enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC Resumo Este estudo de campo teve o objetivo de identificar como se organiza o cuidado domiciliar da pessoa acamada com sequela após acidente vascular encefálico (AVE). Esse tipo de cuidado está cada vez mais assumindo o papel essencial, que inclui assistir com maior comodidade e menores custos pessoas com limitações que as impedem de procurar a assistência ambulatorial. A pesquisa foi de cunho quanti-qualitativo, descritivo e de campo, realizada com 15 pessoas acamadas e com limitações em decorrência de AVE e 15 cuidadores ou familiares, na área de abrangência da Estratégia de Saúde da Família. A coleta dos dados deu-se por entrevistas semiestruturadas, entre março e agosto de 2012, previamente agendadas no próprio domicílio dos pacientes. Os resultados mostraram que o familiar ou o cuidador necessitam estar preparados para cuidar. Verificou-se também a importância da atuação da equipe de saúde, a fim de reduzir complicações clínicas, aumentar a participação da família no cuidado a esse sujeito, com participação na reabilitação, na reintegração social e, consequentemente, proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida. A equipe precisa de reorganização dos serviços e planejamento para visitas domiciliares e orientações específicas para o cuidado das pessoas acamadas com AVE em domicilio. Palavras-chave: cuidadores, equipe de assistência ao paciente, assistência domiciliar, limitação da mobilidade, atividades cotidianas. Abstract Performance of Family Health Strategy team at home of patients with stroke This field study aimed to identify how to organize home care to bedridden person with the sequel stroke. The role of caregiver has been increasingly recognized as an important one, which includes providing care with more comfort and lower costs to people with disabilities who find it difficult to go to outpatient care. This descriptive and field study with quantitative and qualitative approach was carried out with 15 bedridden persons with disability due to a stroke, along with 15 caregivers or family in the Family Health Strategy area. Data collection was performed from March to August 2012 using semi-structured interviews previously scheduled in patients home. The results showed that the family or Artigo recebido em 12 de julho de 2012; aceito em 27 de setembro de Endereço para correspondência: Neiva Junkes Hoepers, Rua Don Joaquim Domingos de Oliveira, 50/504, Criciuma SC, neivajun@engeplus.com.br 271

275 Setembro / Outubro 2013;12(5) caregiver needs to be prepared to provide care. Also, we verify the importance of health care team, in order to reduce clinical complications and increase family participation in caring this individual, with participation in rehabilitation, in social reintegration and, thus, providing a better quality of life. The team is in need of services reorganization and of planning home visiting programs and specific guidelines for caring bedridden people with stroke at their home. Key-words: caregivers, patient care team, home nursing, mobility limitation, activities of daily living. Resumen Actuación del equipo de Estrategia Salud de la Familia en el domicilio del paciente con accidente cerebrovascular Este estudio de campo tuvo como objetivo identificar cómo se organiza la atención domiciliaria a persona encamada con secuela después de accidente cerebrovascular (ACV). Este tipo de atención está asumiendo cada vez más un papel muy importante, una vez que incluye mayor comodidad y menores costos para las personas con limitaciones que les impiden buscar atención ambulatoria. Esta investigación cuantitativa y cualitativa, descriptiva y de campo fue realizada con 15 personas encamadas e incapacitadas debido a ACV y 15 cuidadores o familiares, en el área de la Estrategia de la Salud de la Familia. La recolección de datos se realizó, entre marzo y agosto de 2012, a través de entrevistas semiestructuradas previamente programadas en el domicilio de los pacientes. Los resultados mostraron que la familia o el cuidador deben estar preparados para cuidar. Además, se verificó también la importancia de la actuación del equipo de salud, con el fin de reducir las complicaciones clínicas y aumentar la participación de la familia en el cuidado de este individuo, con participación en la rehabilitación, en la reintegración social y, consecuentemente, proporcionándole una mejor calidad de vida. El equipo necesita una reorganización de los servicios y la planificación de las visitas a domicilio y directrices específicas para la atención a personas encamadas con AVE en domicilio. Palabras-clave: cuidadores, grupo de atención al paciente, atención domiciliaria de salud, limitación de la movilidad, actividades cotidianas. Introdução O acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico (AVE), conhecido popularmente como derrame cerebral, é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, com déficit neurológico em área cerebral secundária à lesão vascular, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves limitações crônicas das atividades, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo [1,2]. Embora existam vários tipos de AVE, é possível defini-lo em duas categorias: hemorrágico e isquêmico. A diminuição total ou parcial de fluxo sanguíneo em determinada área do cérebro pode ser definida como quadro isquêmico. Enquanto que o AVE hemorrágico apresenta um sangramento anormal para dentro das áreas extravasculares do cérebro, em consequência de traumas ou aneurismas, levando ao aumento de pressões intracraneanas, resultando em lesões dos tecidos cerebrais e restringindo o fluxo sanguíneo periférico [1,3,4]. Pessoas com sequelas por AVE seguem normalmente uma rotina de intervenção e tratamento de acordo com o tipo e a causa, que vai do tratamento cirúrgico até o clínico, passando posteriormente para o tratamento fisioterápico. Este consiste, na medida do possível, em reestabelecer funções e/ou minimizar sequelas deixadas. No entanto, o quadro que o paciente apresenta - na maioria das vezes, uma hemiparesia ou hemiplegia - dependendo não somente da área cerebral afetada, como também da extensão deste acometimento, tende, com o tempo, a se estabilizar [5]. Desta forma, muitas pessoas que sofrem desse mal acabam tendo sequelas importantes, consequentemente ficando acamados; termo este que pode ser elucidado aos sujeitos que tem sofrido lesão celular cerebral, manifestadas por perdas motoras e da comunicação, distúrbios de percepção, perda sensorial, comprometimento cognitivo e efeitos psicológicos, levando a lesões permanentes que podem ser chamadas de sequela [3]. Ainda, podem comprometer a mobilidade física e resultar em grau de dependência para este indivíduo, principalmente para falar, deambular, ver ou sentir, e incapacitados para exercerem as atividades da vida diária [6]. 272

276 Setembro / Outubro 2013;12(5) As doenças cerebrovasculares, com destaque para o AVE, são a segunda causa de morte no mundo e a primeira causa de incapacidade funcional entre adultos. Cinco milhões de pessoas morrem a cada ano por causa de acidentes cardiovasculares [7]. A incidência do AVE é maior após os 65 anos de idade e, considerando o rápido e intenso envelhecimento da população brasileira, estima-se que esse evento seja cada vez mais um relevante problema de saúde pública. Os déficits funcional e cognitivo, além da mudança de personalidade, comportamento e dificuldade para comunicação, são alterações devido ao AVE [8]. Além disso, vem se constituindo como causa principal de internações, mortalidade e incapacidades [9]. O comprometimento da pessoa com sequela por AVE pode apresentar paresia facial; perda de força no braço ou perna de um lado do corpo; alteração súbita da sensibilidade com sensação de formigamento na face, braço ou perna de um lado do corpo; perda súbita de visão num olho ou nos dois olhos; alteração aguda da fala, incluindo dificuldade para articular, expressar ou para compreender a linguagem; dor de cabeça súbita e intensa sem causa aparente; instabilidade, vertigem súbita intensa e desequilíbrio associado a náuseas ou vômitos. Tais manifestações podem ser melhoradas ou reabilitadas com atividades que precisam ser reaprendidas pelo indivíduo dentro da família. Para poder enfrentar a realidade e os novos problemas do cotidiano, o cuidado domiciliar está cada vez mais assumindo importante papel no cuidado, que inclui assistir com maior comodidade e menores custos as pessoas com limitações que os impedem de procurar a assistência ambulatorial [10-12]. Alguns serviços de saúde se adaptam às necessidades do portador de múltiplas comorbidades e de alta dependência, características frequentemente encontradas em pessoas com sequelas por isquemias diversas, entre elas o Acidente Vascular Encefálico (AVE). Tais serviços podem ser chamados de Assistência Domiciliar (AD) [13]. Também é definido pela Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVI- SA), nº 11/2006, como um conjunto de atividades de caráter ambulatorial, programadas e continuadas, desenvolvidas em domicílio [14]. Nesse sentido, o Ministério da Saúde (MS), em sua portaria nº 2.029/2011, institui o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), que vem contribuir para a reorganização do processo de trabalho das equipes que prestam cuidados domiciliares na atenção básica [15]. O SAD fica responsável pelo gerenciamento e operacionalização das Equipes Multiprofissionais de Atenção Domiciliar (EMAD) e Equipes Multiprofissionais de Apoio (EMAP), pois se caracteriza por um conjunto de ações de promoção à saúde, prevenção e tratamento de doenças e reabilitação prestadas em domicílio, com garantia de continuidade de cuidados e integrada às redes de atenção à saúde. Além disso, distingue o cuidador como a pessoa, com ou sem vínculo familiar, capacitada para auxiliar o paciente em suas necessidades e atividades da vida cotidiana [15]. Já a Visita Domiciliar (VD) é uma metodologia de trabalho de caráter educacional, assistencial e exploratório, realizada por profissionais que vão ao domicílio do paciente, usuário ou beneficiário de um serviço [16]. O MS, por meio de Portarias aprovadas no Pacto pela Saúde [17], já definia as responsabilidades e ações estratégias mínimas que todos os municípios brasileiros devem desenvolver no âmbito da Atenção Básica. Dessa forma, a VD e o acompanhamento domiciliar já faziam parte de seu quadro. Para que a VD ocorra, a portaria nº 2.527/2011 diz que deve ser desenvolvida por: equipe multiprofissional e integrada à rede de atenção à saúde; identificar e treinar os familiares e/ou cuidador dos usuários, envolvendo-os na realização de cuidados, respeitando os seus limites e potencialidades; abordar o cuidador como sujeito do processo e executor das ações; acolher demanda de dúvidas e queixas dos usuários e familiares e/ ou cuidador como parte do processo de Atenção Domiciliar; elaborar reuniões para cuidadores e familiares; utilizar linguagem acessível a cada instância de relacionamento; promover treinamento pré e pós-desospitalização para os familiares ou cuidador dos usuários; participar da educação permanente promovida pelos gestores; e assegurar, em caso de óbito [...] emissão do atestado de óbito [18]. A partir dessas reflexões, tem-se como objetivo principal deste estudo: Como se organiza o cuidado domiciliar à pessoa acamada com sequela de AVE em Unidades de Estratégias de Saúde da Família em um município do sul de Santa Catarina? Material e métodos O presente estudo possui abordagem metodológica quanti-qualitativa do tipo descritiva e de campo. A pesquisa foi desenvolvida nos domicílios 273

277 Setembro / Outubro 2013;12(5) dos pacientes acamados e incapacitados por AVE, onde existe cobertura da Estratégia Saúde da Família (ESF). A escolha para o cenário do estudo foram as Unidades Básicas de Saúde (UBS), que possuem os registros de pacientes acamados e incapacitados por AVE, e por meio das quais foi realizado um levantamento do número desses pacientes. Participaram do estudo a pessoa acamada e com sequela de AVE e sua família ou cuidador, compondo uma amostra de 15 pacientes acamados e 15 familiares ou cuidadores, totalizando uma população de 30 pessoas, de um município do Sul de Santa Catarina, nos meses de maio e junho de Os critérios de inclusão dos pacientes e seus cuidadores: pacientes acamados e com sequelas por AVE, maiores de 18 anos; cuidadores e ou familiares próximos ou que se fazem mais presentes no cuidado destes pacientes; aceitação para participar da pesquisa a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, previamente agendadas no próprio domicílio dos pacientes. Foram realizadas duas visitas, sendo a primeira para reconhecimento do cenário e a segunda para aplicação da entrevista. O estudo foi aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da UNESC-SC, CEP nº 18095/ CAAE: , e seguiu as exigências formais contidas na resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde. Para preservar a privacidade e ética dos envolvidos na pesquisa, usaremos a letra P seguida de um número para identificar as pessoas que cuidam dos pacientes acamados e com AVE (familiares ou cuidadores). Resultados e discussão Em relação ao perfil dos pacientes acamados com sequela por AVE no domicílio, a faixa etária variou entre 46 a 95 anos, com predominância entre 76 a 85 anos. Quanto ao gênero, houve predominância do sexo feminino. Em relação ao estado civil, a maioria dos pacientes é casada (8), depois os viúvos (4), e os demais se incluem em outras categorias. No quesito religião, encontramos 13 pacientes da religião católica e dois da religião evangélica. Em relação à profissão ou situação atual, cinco (5) eram aposentados, quatro (4) pensionistas e seis (6) pertenciam a outras categorias. O perfil dos familiares ou cuidadores dos pacientes acamados e com AVE no domicílio, em sua maioria eram familiares (14), destes, oito (8) esposos(as), cinco (5) filhas, uma (1) irmã e somente um (1) cuidador que a família pagava para o cuidado. Isso mostra que cada vez mais a família tem a responsabilidade do cuidado e também a responsabilidade pelas pessoas dependentes, idosos ou com outra sequela que precisa de cuidado. Atualmente, o cuidado está cada vez mais sendo assumido pelo cuidador, que é a pessoa com ou sem vínculo familiar, capacitada para auxiliar o paciente em suas necessidades e atividades da vida cotidiana e que contribui com as ações de assistência domiciliar, como a promoção à saúde, prevenção, tratamento de doenças e a reabilitação. No entanto, esses cuidadores precisam de ajuda da equipe de saúde, que tem como uma de suas ações a visita domiciliar (VD) e que vão ao domicílio do paciente e desenvolvem uma metodologia de trabalho de caráter educacional, assistencial e exploratório [14-16]. Em relação ao aspecto sobre o conhecimento e cuidado do paciente de AVE pelo cuidador, quanto ao tipo de AVE, constatou-se que o cuidador tinha conhecimento sobre o tipo de AVE que o seu paciente acamado tinha sofrido. Dos 15 sujeitos, 12 deles tiveram AVE isquêmico e três hemorrágicos. Dessa forma, percebe-se que quem cuida conhece os tipos de AVE, mas, por outro lado, desconhece a prevenção, tratamento e reabilitação de pessoas com AVE. No aspecto conhecimento do tratamento utilizado pós AVE, verificou-se que os cuidadores estavam cientes do tipo de tratamento que deveria ser seguido pelos pacientes. Quando perguntados quanto à prevenção dos riscos de AVE, não souberam responder, como também não souberam informar os medicamentos que faziam uso antes do AVE. Nadruz Junior [19], em seu estudo, aponta que medidas não medicamentosas podem reduzir a pressão arterial e contribuir para a prevenção do desenvolvimento de hipertensão arterial. Dentre elas, destacam-se a redução no consumo de sal, a realização de atividade física regular, o controle do peso corporal e adoção de um estilo de vida menos estressante. Em um estudo de análise sobre o conhecimento dos fatores de risco para o AVE, 41,07% dos entrevistados desconheciam os fatores de riscos, os demais sabiam pelo menos um e poucos conheciam mais de um [20]. Sobre os medicamentos que faziam uso após o AVE, também sabem o que usam, pois são eles, 274

278 Setembro / Outubro 2013;12(5) os cuidadores, que acabam fazendo a dispensação e administração destes fármacos. Verificou-se que 14 pacientes faziam uso de fármacos e somente um (01) deles não usava nada no momento da pesquisa, mas já usou em outro momento. A maioria deles (8) faz uso contínuo de anti-hipertensivo (Captopril ou Enalapril), os demais, de alguma forma fazem uso de outros medicamentos para melhorar a função cardiocirculatória. A terapia anti-hipertensiva tem se mostrado mais eficaz na prevenção primária do AVE que na prevenção secundária, sugerindo que outros mecanismos, além da hipertensão, podem estar envolvidos na ocorrência do AVE. Porém, estudo mostra que a terapia medicamentosa anti-hipertensiva desempenha maior proteção contra os infartos lacunares [21]. Em relação ao cuidado dispensado pelo cuidador ou familiar à pessoa com AVE e acamada, apareceram as atividades realizadas no domicílio cotidianamente pelos cuidadores, aquelas que são as chamadas de Atividades de Vida Diária (AVDs): a alimentação, a integridade cutânea, a higiene, as eliminações, a administração medicamentosa, a locomoção e a movimentação da pessoa com AVE. E a maior preocupação dos cuidadores foi a mobilização da pessoa acamada (locomoção e mudança de decúbito). Essas preocupações devem ser consideradas importantes, pois o fato de a pessoa estar acamada significa ter doença que impossibilita de locomover-se, fazendo com que esta permaneça imobilizada, necessitando de cuidados de terceiros. Independente de haver divisão de tarefas com outras pessoas da família, foi relatada a dificuldade de lidar com o acamado e o cansaço físico ocasionado pelo cuidado contínuo no cotidiano. Estudo acerca das causas que a sobrecarga do cuidado com as pessoas acamadas e com AVE provoca nas famílias mostrou que quem cuida lida com: o grau de dependência física do portador da doença, o isolamento social do cuidador, as mudanças e insatisfações conjugais, as dificuldades financeiras geradas pelo abandono do emprego após a doença e os déficits na saúde física e no autocuidado do cuidador [8]. Mais do que nunca, faz-se necessária a presença do profissional enfermeiro no acompanhamento domiciliar, pois é uma de suas funções fazer as intervenções e prescrições do cuidado. Como exemplo, o cuidado específico para cada caso e o auxílio aos familiares ou ao cuidador para proceder em ocasiões especiais, como as mudanças de decúbito, ou seja, as melhores condutas e as mais indicadas para cada situação, complexas ou não, que o paciente apresentar. Vale ressaltar que há casos em que este sujeito precisa do acompanhamento, além da equipe de enfermagem e do médico, do fisioterapeuta, do psicólogo, do assistente social e do nutricionista, que nem sempre se fazem presentes na equipe de saúde. Esses profissionais em conjunto podem ajudar o paciente a ter uma reabilitação mais rápida e eficiente, dando condições para que seu estado de saúde se restabeleça mais rápido. Sobre as orientações que o cuidador recebeu do profissional da saúde, verificou-se que a maioria (67%) não recebeu orientações, tanto na hospitalização como na UBS. Como podemos ver P1, P2, P4, P5, P6, P7, P11, P12, P13, P15: não tivemos nenhuma orientação. E somente P8 e P10 receberam orientação na UBS, pela enfermeira e sua equipe. Isso demonstra a falta de orientação na alta hospitalar, como também a importância de se ter a referência e contra referência, tanto da Atenção Hospitalar como a da Atenção Básica. É de fundamental importância o preparo do paciente e de seus familiares na reorganização da vida em seus lares, de modo que possam assumir os cuidados no domicílio, prevenindo e contornando situações que possam vir a ocorrer [21]. Castro [22] relata que o conhecimento das atividades de cuidado desenvolvidas no domicílio e das dificuldades enfrentadas pelos cuidadores familiares de pacientes incapacitados por AVE poderia contribuir para as atividades educacionais da enfermagem e da equipe interdisciplinar, para que desenvolvam ações de preparo para pós-alta hospitalar, tais como acompanhamento domiciliário e de atenção ao cuidador, a partir de dados que respondam às necessidades dos cuidadores e dos pacientes acometidos por AVE. Como essas orientações não são transmitidas, os cuidadores acabam cuidando de seus familiares usando os conhecimentos populares: a crença, experiências anteriores, troca de informações com outras pessoas, amigos, vizinhos, grupos ligados à igreja, grupos de voluntários, enfim, a rede de suporte social. Neste estudo, evidenciou-se que a dificuldade de comunicação é um grande problema para quem cuida, pois os déficits cognitivos resultantes do derrame podem comprometer a capacidade da pessoa de se concentrar, diminuir o nível de atenção, ocasionar a perda da memória de curtos ou longos períodos [23]. 275

279 Setembro / Outubro 2013;12(5) A alta prevalência de cuidado domiciliar e a provável sobrecarga causada aos familiares, responsáveis pela maioria dos cuidados, são importantes indicadores para o planejamento de ações que o enfermeiro poderá destinar ao cuidador ou aos familiares. Programas de apoio podem ser dirigidos ao cuidador principal ou mesmo a vários membros da família e podem ser operacionalizados a partir de atendimentos individuais ou em grupo, com trocas de experiências e repasse de orientação prática quanto aos procedimentos de cuidado. Atenção específica deve ser destinada a indivíduos com as mesmas características daqueles que apresentaram as maiores ocorrências de cuidado domiciliar: idade avançada, baixa escolaridade e incapacidade funcional para atividades instrumentais da vida diária [24]. Observa-se que a maioria das pessoas que cuidam de pessoa acamada e com sequelas de AVE não tem preparo e conhecimento, tanto o básico como o de maior complexidade. Vindo ao encontro do estudo de Castro [22] que relata que as pessoas que cuidam não têm conhecimentos específicos para atender a pessoa acamada, mas aprendem com o cotidiano e diante das dificuldades do atendimento destes pacientes, ou seja, acabam aprendendo gradativamente com as necessidades. Nesse contexto, nota-se que o conhecimento, informações ou orientações, se foram fornecidas aos cuidadores, não foram suficientes para possibilitar- -lhes uma ação segura. Muitas vezes, as orientações incompletas, que se limitam aos alertas, podem incutir em insegurança, com o que o cuidador poderá deixar de fazer algo que estaria ao seu alcance. Assim, o despreparo do cuidador pode trazer prejuízos ao paciente, resultando em frequentes hospitalizações ou, ainda, piorar as sequelas ou originar outras, consequentemente, ocasionar situações de risco para ambos. Uma das formas de ajuda às famílias em seu processo de cuidar é aquela advinda dos profissionais, que incluem orientações básicas à saúde, e sobre cuidados específicos em casos de doenças crônicas degenerativas, suas complicações e sintomas [25]. Sobre as necessidades dos pacientes e seus cuidadores em relação à atuação de enfermagem da ESF, os cuidadores e pacientes destacaram a necessidade de acompanhamento da equipe de saúde para orientações de atividades específicas dos profissionais, como: verificação da pressão arterial; orientações sobre a situação atual; agendamento para consultas médicas com especialista, como também a consulta pelo médico da unidade, citada por treze (13) deles. Podemos verificar em algumas das falas a seguir: Gostaria que viessem fazer verificação dos sinais vitais, agendamento de consultas. (P1) Necessitamos de consulta médica domiciliar, visita da equipe de enfermagem, agendamento de consulta com especialista. (P2) Necessitamos de um acompanhamento com fisioterapeuta, visita domiciliar do médico e verificação da pressão. (P3) Necessitam de consultas médicas domiciliares, orientações sobre a doença do paciente, verificação da pressão, agendamentos de consultas especializadas. (P4) Verificação da pressão arterial, visita médica e de enfermagem domiciliar. (P6) Consultas médicas domiciliares, ter acompanhamento da equipe de enfermagem para verificação da pressão e as orientações necessárias. (P8) Visita domiciliar do médico e da equipe de enfermagem da UBS. (P10) Consultas médicas e acompanhamento domiciliar, verificação da pressão. (P13) Necessita de visita médica domiciliar, acompanhamento da equipe de enfermagem para realizar os curativos e verificação dos sinais vitais. (P15) A principal forma de intervenção profissional para ajudar as famílias no processo de cuidar se verifica por meio da colaboração com orientações básicas de saúde, dos cuidados específicos em casos de doenças crônicas degenerativas e de suas complicações e sintomas. Assim, o paciente e sua família podem vir a alcançar a independência e administrar melhor os cuidados necessários à situação vivida. Podemos ver que a maior necessidade levantada pelo cuidador e seus familiares ou pacientes desta pesquisa é a Assistência Domiciliar (AD), especificamente a Visita Domiciliar (VD). Para o profissional 276

280 Setembro / Outubro 2013;12(5) atuar na AD, é necessário o entendimento acerca do significado que a presença do familiar doente no domicílio tem para a família. As pesquisas sobre o assunto exploram conceitos importantes nesse cenário, como cuidador familiar, domicílio, visita domiciliar, rede de apoio social da família e as definições acerca da expressão assistência domiciliária. Ainda, a proximidade com o sujeito doente tem sido buscada em vários setores da assistência à saúde. Em virtude das características singulares que detém, a assistência domiciliária (AD) destaca-se como modalidade de cuidado que pressupõe competências profissionais ampliadas direcionadas ao sujeito, família e comunidade [26]. A Assistência Domiciliar (AD) é composta por serviços de saúde versátil que se adaptam muito bem às necessidades do portador de múltiplas comorbidades e de alta dependência, características frequentemente encontradas em pessoas com sequelas por isquemias diversas, entre elas o Acidente Vascular Encefálico (AVE), como também entre idosos [13]. Os cuidados prestados pela equipe de enfermagem da UBS, segundo o cuidador e paciente, foram os seguintes: Visita de agentes comunitárias (P1, P3, P11, P14) Agendamento de consultas em consultas médicas especializadas (P1, P3, P8, P9, P10, P12) E os demais relataram que não receberam nenhum atendimento ou visita a domicílio, como podemos verificar nas falas seguintes: As enfermeiras não fazem nada para a gente e quando pedimos não fazem ou demoram para fazer (P4). Não fazem nada, não realizam nada pela gente (P5). Só agendam consultas, e visita do médico quando pedimos, e só vem na nossa casa quando nós vamos lá pedir, e ainda demoram (P12). Então, percebe-se que há falhas em relação à assistência domiciliar e visitas domiciliares. Será que a equipe da ESF não consegue ampliar a abordagem do sujeito para além da dimensão clínica tradicional? A atenção domiciliar à saúde constitui a modalidade geral da atenção à saúde prestada no domicílio, sendo uma categoria genérica que engloba e representa o atendimento, a visita e a internação domiciliares, cada qual com seus objetivos e características. Tendo como objetivo promover, manter ou restaurar a saúde, maximizar o nível de independência, minimizando os efeitos das incapacidades ou doenças, incluindo aquelas sem perspectiva de cura [27]. Podemos entender que a AD está diretamente relacionada à atuação da equipe de saúde no domicílio. O trabalho do enfermeiro no contexto domiciliar consiste em planejar o cuidado, cuidar, ajudar a cuidar, orientar, supervisionar e encaminhar. É preciso conhecer as necessidades de cuidado do paciente, vivenciar as situações e a realidade onde a pessoa está inserida e o grau de dependência para possibilitar a tomada de decisão de como agir. O desempenho dessa equipe pode estar relacionado ao tempo de permanência e à quantidade de visitas do profissional no domicílio, de acordo com as necessidades da pessoa que precisa e seus familiares. No item conhecimento dos serviços prestados pela equipe de ESF para atendimento ao paciente e sua família no cuidado domiciliar, os cuidadores e pacientes da pesquisa relataram que não conheciam os serviços que poderiam ser prestados pela ESF. A maioria respondeu que não sabe quais, relatado por treze (13), e se tiver, não sabe, relatado por dois (2) deles (P2 e P3). Embora as UBS desenvolvam trabalho de equipe, também devem trabalhar a interdisciplinaridade dentro da Estratégia de Saúde da Família, já que sua essência é a abordagem da saúde da família, em especial na assistência domiciliar à saúde. Sendo assim, as práticas da AD pelos profissionais da ESF devem ser repensadas e merecem uma reflexão acerca de sua prática profissional dentro da ESF. Principalmente o enfermeiro, o qual é visto como o gerenciador de toda a equipe. Mais uma vez, destacamos a importância da Atenção Domiciliar que, segundo o MS e sua portaria nº 2029 de 2011, em seu capítulo I, Art. 5, deve seguir as seguintes diretrizes: ser estruturado na perspectiva das redes de atenção à saúde, tendo a atenção básica como ordenadora do cuidado e da ação territorial; articular com os outros níveis da atenção à 277

281 Setembro / Outubro 2013;12(5) 278 saúde, com serviços de retaguarda e incorporado ao sistema de regulação; ser estruturado de acordo com os princípios de ampliação do acesso, acolhimento, equidade, humanização e integralidade da assistência; estar inserido nas linhas de cuidado por meio de práticas clínicas cuidadoras baseadas nas necessidades do usuário, reduzindo a fragmentação da assistência; adotar modelo de atenção centrado no trabalho de equipes multiprofissionais e interdisciplinares; e estimular a participação ativa dos profissionais de saúde envolvidos, do usuário, da família e do cuidador [15]. Não podendo deixar de lembrar que a portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, é que aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), com vistas à revisão da regulamentação de implantação e operacionalização vigentes [28]. Assim sendo, a família tem papel central na condução do cuidado domiciliar. Na prática, é a família que assume a responsabilidade direta pelo cuidado. É ela que primeiro identifica a existência de um problema, que tenta traduzir e elaborar uma explicação para a situação e toma decisões em relação à melhor forma de conduzi-lo [29]. Não sendo só de sua responsabilidade, pois a equipe de saúde deveria assumir o seu papel, como já descrito anteriormente pelas portarias ministeriais. Conclusão Esta pesquisa possibilitou identificar a assistência que a equipe de saúde da ESF, no município de Criciúma, presta às pessoas incapacitadas por AVE que permanecem acamadas. Além disso, observou- -se o trabalho de enfermagem: orientações quanto aos cuidados básicos, realização da visita domiciliar e de grupos operativos. Verificou-se que os cuidadores desconhecem os serviços prestados pela ESF e que a maior dificuldade que encontram é relacionada às atividades da vida diária. Portanto, a assistência domiciliária representa uma metodologia de trabalho a ser redescoberta e melhor explorada pelos profissionais. Acredita- -se que mais estudos devem ser realizados sobre o assunto, visando à ampliação do conhecimento sobre o AVE e os eventos por ele desencadeados. Os resultados desta pesquisa ficarão à disposição dos profissionais que colaboraram, uma vez que podem contribuir para novas reflexões a respeito de suas práticas cotidianas nos cuidados aos pacientes com incapacidades decorrentes do AVE, de forma a permitir uma melhor qualidade da assistência prestada a estes indivíduos. Referências 1. Winnick JL. Educação Física e Esportes Adaptados. 1a ed. São Paulo: Manole; Radanovic M. Características do atendimento de pacientes com acidente vascular cerebral em hospital secundário. Arq Neuropsiquiatr 2000;58(1): Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth, Tratado de Enfermagem médico-cirúrgica. 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; Mazzola D, Polese JC, Schuster RC, Oliveira SG. Perfil dos pacientes acometidos por AVE, assistidos na clínica de fisioterapia neurológica na Univ. de Passo Fundo. Rev Bras Promoç Saude 2007;20(1): Costa AM, Duarte E. Atividade física e a relação com a qualidade de vida de pessoas com sequelas de acidente vascular cerebral isquêmico (AVCI). Rev Bras Ciênc Mov 2002;10(1): Andrade LM, Costa MFM, Caetano JA, Soares E, Beserra EP. A problemática do cuidador familiar do portador de acidente vascular cerebral. Rev Esc Enferm USP 2009;43(1): (OMS) Organização Mundial de Saúde [Internet]. Centro de Mídia; As dez principais causas de morte. [citado 2012 Mai 28]. Disponível em URL: 8. Bocchi SCM, Angelo M. Interação cuidador familiar- -pessoa com AVC: autonomia compartilhada. Ciênc Saúde Coletiva 2005;10(3): Brocchi SCM. Vivenciando a sobrecarga ao vir-a-ser um cuidador familiar de pessoa com acidente vascular cerebral (AVC): uma análise do conhecimento. Rev Latinoam Enferm 2004;12(1): Brasil. Biblioteca Virtual em Saúde [Internet]. [citado 2013 Mai 1]. Disponível em URL: saude.gov.br 11. Talarico TR, Venegas MJ, Ortiz KZ. Perfil populacional de pacientes com distúrbios da comunicação humana decorrentes de lesão cerebral, assistidos em hospital terciário. Rev CEFAC 2011;13(2): Lessmann JC, De Conto F, Ramos G, Borenstein MS, Meirelles BHS. Atuação da enfermagem no autocuidado e reabilitação de pacientes que sofreram Acidente Vascular Encefálico. Rev Bras Enferm 2011;64(1): Coutinho GC. Instituto Marcos Daniel [online] [citado 2013 Jun 1]. Disponível em: URL: http: www. institutomarcosdaniel.org. 14. Anvisa. RDC/ANVISA Nº11, 26 Jan Dispõe sobre o Regulamento Técnico de Funcionamento de

282 Setembro / Outubro 2013;12(5) Serviços que prestam Atenção Domiciliar. Brasília: Anvisa; Ministério da Saúde. Port. nº 2.029, de 24 agosto Institui a Atenção Domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). Brasília: MS; Teixeira CP. Visita domiciliar: um instrumento de intervenção. Sociedade em Debate 2009;15(1): Ministério da Saúde. Portaria nº 91 de 10 de janeiro de Pacto pela saúde. Brasília: MS; Ministério da Saúde. Port. nº 2.527, 27 out Redefine a Atenção Domiciliar no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), Brasília: MS: Nadruz Junior W. (AVC) Diagnóstico e tratamento dos fatores de risco. Revista Cidadania e Meio Ambiente; Silva IHB, Junqueira CM, Cortes PC, Cardoso RF, Marques CCS, Teixeira FCBD, et al. Conhecimento sobre o acidente vascular cerebral em Vassouras-RJ: análise entre população da zona urbana e zona rural. Neurobiologia 2012;75: Ministério da Saúde. A população deve ficar atenta aos riscos do AVC. Brasília: MS; Castro JAB, Epstein MG, Sabino GB, Oliveira GL, Nogueira CB, Staszko KF, Walter Anibal Filho W. Estudo dos principais fatores de risco para acidente vascular encefálico. Rev Bras Clin Med 2009;7: Perlini NMOG, Faro ACM. Cuidar de pessoa incapacitada por acidente vascular cerebral no domicílio: o fazer do cuidador familiar. Rev Escola Enferm USP 2005;39(2): Del Duca GF, Thumé E, Hallal PC. Prevalência e fatores associados ao cuidado domiciliar a idosos. Rev Saúde Pública 2011;45(1): Lacerda MR. Cuidado domiciliar: em busca da autonomia do indivíduo e da família na perspectiva da área pública. Ciênc Saúde Coletiva 2010;15(5): Machado ALG, Silva MJ, Freitas CHA. Assistência domiciliária em saúde: um olhar crítico sobre a produção científica de enfermagem. Rev Bras Enferm 2011;64(2): Giacomozzi CM, Lacerda MR. A prática da assistência domiciliar dos profissionais da estratégia de saúde da família. Texto Contexto Enferm 2006;15(4): Ministério da Saúde. Port. nº 2.488, 21 out Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS). Brasília: MS; Mendes VLF, Molini-Avejonas DR, Ribeiro A, Souza LAPI. A construção coletiva de um guia para cuidadores de pacientes acamados: relato de experiência. J Soc Bras Fonoaudiol 2011;23(3):

283 Artigo original Perfil dos atendimentos de um pronto socorro hospitalar do Extremo Sul Catarinense Maria Teresa Brasil Zanini*, Karina Dal Pont Zilli**, Cristiane Damiani Tomazzi, M.Sc.***, Luciana Rosa, M.Sc.***, Karina Gulbis Zimmermann, M.Sc.***, Luciane Bisognin Ceretta, D.Sc.*** *Professora Especialista do Curso de Enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, **Acadêmica do Curso de Enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC, ***Professora do Curso de Enfermagem da Universidade do Extremo Sul Catarinense UNESC Resumo Trata-se de um estudo sobre o perfil dos atendimentos de um Pronto Socorro Hospitalar, localizado na região do extremo sul de Santa Catarina (SC) com o objetivo de identificar os atendimentos de acordo às variáveis selecionadas: gênero, faixa etária, os motivos da procura pelo atendimento no pronto socorro, o horário e dias da semana de maior procura destes atendimentos, local de residência, bem como, reconhecer dentre os agravos aqueles que poderiam ter sido atendidos na rede de atenção básica à saúde. Utilizando-se uma pesquisa quantitativa, de cunho documental e descritivo, os dados foram coletados do prontuário eletrônico, com períodos pré-determinados e critérios estabelecidos. A amostra incluiu um total de atendimentos nos meses selecionados previamente. Os dados coletados foram inseridos em planilha eletrônica para posterior análise estatística, pelo software estatístico SPSS. Através desta pesquisa, os resultados apontam para fatores e motivos relevantes dos atendimentos no pronto socorro. Conclui-se que a resolubilidade das unidades básicas e secundárias de saúde é condição fundamental para evitar a maioria dos encaminhamentos desnecessários aos centros de complexidade terciária e, particularmente, aos hospitais permitindo que seus leitos sejam ocupados por usuários que realmente deles necessitem. Palavras-chave: sistema único de saúde, atenção à saúde, atenção primária à saúde, atenção terciária à saúde. Abstract Profile of the victims of a hospital emergency room of Southern Santa Catarina This is a study on the profile of the victims of a Hospital Emergency Room, located in the extreme south of Santa Catarina (SC) in order to identify the calls according to selected variables: gender, age, reasons for demand for care in the emergency room, time and days of week of high demand for these visits, place of residence, and, recognizing among patients those who could have been attended in primary health care. Using a quantitative study of documentary and descriptive method, data were collected from electronic medical records, with pre-determined and established criteria. The sample included a total of visits in the months previously selected. The collected data were entered into a spreadsheet for further statistical analysis by SPSS software. Through this research, the results point to important factors Recebido em 14 de julho de 2012; aceito em 24 de setembro de Endereço para correspondência: Luciana Rosa, Rua José do Patrocínio 170/502, Centro, Criciúma SC, bridalu@yahoo.com.br 280

284 Setembro / Outubro 2013;12(5) and reasons of the visits to the emergency room. It follows that the solvability of the basic units and secondary health is a fundamental condition to avoid unnecessary referrals to the most complex tertiary centers, and particularly to hospitals allowing their beds are occupied by users who really need them. Key-words: unified health system, public health, primary health care, tertiary health care. Resumen Perfil de las víctimas de una sala de emergencias de un hospital del sur de Santa Catarina Se trata de un estudio sobre el perfil de las víctimas atendidas en emergencias de un hospital, ubicado en el extremo sur de Santa Catarina (SC) con el fin de identificar la atención de urgencias de acuerdo a las variables seleccionadas: sexo, edad, motivos de demanda de atención en la sala de emergencias, la hora y día de la semana de mayor demanda de esta atención, lugar de residencia, y, reconocer entre los problemas de salud los que podrían haber sido atendidos en la atención primaria de salud. Se utilizó un estudio cuantitativo, documental y descriptivo, cuyos datos se obtuvieron de los registros médicos electrónicos, con criterios pre-determinados y establecidos. La muestra incluyó un total de visitas en los meses previamente seleccionados. Los datos obtenidos se introdujeron en el software informático de cálculo SPSS para el análisis estadístico. A través de esta investigación, los resultados apuntan factores importantes y motivos relevantes para demandar asistencia en la sala de emergencias. Se concluye que la solvencia de las unidades básicas de salud y secundarias es una condición fundamental para evitar la mayoría de las derivaciones innecesarias a los centros de atención terciaria complejos, y, en particular, a los hospitales que permitan que sus camas estén ocupadas por los usuarios que realmente las necesitan. Palabras-clave: sistema único de salud, atención a la salud, atención primaria de salud, atención terciaria de salud Introdução A grande demanda de pacientes no nível terciário de saúde dá uma ideia de que a rede de atenção à saúde não está atuando como deveria, ou que a população encontra maior resolutividade para seus problemas de saúde no hospital ou ainda que desconheçam os serviços ofertados pela rede de atenção à saúde [1-2]. A triagem é utilizada para selecionar os pacientes em grupos com base na gravidade de seus problemas de saúde e imediatismo com o qual esses problemas devem ser tratados [3]. Nas situações de demanda inadequada, ou seja, quando o paciente procura atendimento hospitalar por causas sensíveis a atenção básica, logo após o atendimento da urgência, preconiza-se que seja feito o redirecionamento para a devida inserção no SUS, prosseguindo com o tratamento na rede de atenção primária [1]. Uma das principais diretrizes atuais do Ministério da Saúde é executar a gestão pública com base na indução, monitoramento e avaliação de processos e resultados mensuráveis, garantindo acesso e qualidade da atenção em saúde a toda a população. Diversificam-se os esforços para ajustar as estratégias previstas na Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) na direção de reconhecer a qualidade dos serviços de Atenção Básica (AB) ofertados à sociedade [4]. A oferta adequada de atenção primária à saúde é fator relevante para evitar atendimento hospitalar por condições sensíveis à atenção ambulatorial. Há necessidade de organizar a rede de cuidados de modo a melhorar a articulação entre diferentes esferas de atenção [5]. A ideia básica da organização do sistema de saúde é fazer com que o usuário entre pela atenção primária e aquilo que não se consegue resolver nesse nível seja encaminhado para o secundário, que por sua vez irá referir para o setor terciário situações as quais não esteja capacitada a atender [4]. O PMAQ (Programa de Melhoria de Acesso e Qualidade da Atenção Básica) foi instituído pela Portaria de nº GM/MS do dia 19 de julho de 2011 e foi produto de um importante processo de negociação e pactuação das três esferas de gestão do SUS criado como um instrumento norteador na 281

285 Setembro / Outubro 2013;12(5) rede de atenção. O principal objetivo do Programa é induzir a ampliação do acesso e a melhoria da qualidade da atenção básica, com garantia de um padrão de qualidade comparável nacional, regional e localmente de maneira a permitir maior transparência e efetividade das ações governamentais direcionadas à Atenção Básica em Saúde [6]. Diante deste contexto, o estudo identificou o perfil dos atendimentos de um pronto socorro hospitalar de um município do Extremo Sul Catarinense, buscando elencar os atendimentos sensíveis à atenção básica, contribuindo com a organização do sistema, bem como com o processo de produção de saúde. Material e métodos A abordagem metodológica adotada para este estudo foi quantitativa, descritiva documental, uma vez que foi embasado na análise dos dados contidos no prontuário eletrônico dos pacientes atendidos nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro de 2011 no pronto socorro de um hospital de Santa Catarina, extraindo os dados necessários para pesquisa e enviados para planilha do Excel para posterior análise. A amostra incluiu um total de atendimentos nos meses selecionados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa, conforme a Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) sob o protocolo /2012, e obteve autorização do gerente do campo de estudo. Os dados encontrados nos prontuários eletrônicos foram transformados em relatórios estatísticos. De acordo com estas informações foi elaborada uma planilha eletrônica, no formato Microsoft Excel, com todos os atendimentos realizados nos meses mencionados anteriormente. As variáveis de interesse, neste estudo, foram: faixa etária, gênero, município, bairro, motivo, horário e dias da semana de atendimento. Os dados armazenados em planilha eletrônica foram transportados para o software estatístico SPSS (Statistical Package for the Social Science, SPSS Inc., Chicago) versão 17.0 para Windows, procedendo à análise estatística dos dados descritivos, apresentados na forma de frequência e percentual. Resultados A Tabela I apresenta a distribuição dos atendimentos por gênero nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro de 2011, onde se pode observar que o gênero feminino prevaleceu durante os meses de maio e agosto com 50,55%. Na variável faixa etária identificou-se que o maior número de atendimentos foi na idade de 25 a 30 anos, representando 9,88% do total de atendimentos, seguido pela faixa etária de 0 a 5 anos que apresentou 9,62% e a idade de 30 a 35 anos com 9,17% dos atendimentos. Tabela I - Distribuição dos atendimentos de acordo com a faixa etária e gênero, nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro de 2011 no pronto socorro. Variáveis N % Faixa etária 0 a ,62 5 a ,33 10 a ,80 15 a ,49 20 a ,49 25 a ,88 30 a ,17 35 a ,15 40 a ,58 45 a ,54 50 a ,99 55 a ,62 60 a ,48 65 a ,66 70 e ,20 Total ,00 Gênero Feminino ,55 Masculino ,45 Total ,00 Os resultados na Tabela II mostram que 70,14% dos atendimentos dos pacientes possuem procedência do município de Araranguá sede da Instituição hospitalar, evidenciando fatores relativos à regionalização dos serviços. No segundo momento está o município de Arroio do Silva, distante 7,8 km do hospital com 13,20% e o município Maracajá com 5,31%, que se situa a 15,8 km do hospital. No que se refere aos bairros observa-se que o bairro Coloninha apresentou 11,34 % dos atendimentos, seguido pelo bairro centro com 9,16% e o bairro Mato alto com 6,06%. Justifica-se este resultado considerando a proximidade destes bairros com a Instituição hospitalar como também o acesso aos serviços de complexidade diferenciada da atenção básica. Convém destacar que o bairro Jardim das 282

286 Setembro / Outubro 2013;12(5) Avenidas faz divisa com o bairro Coloninha, portanto bem mais próximo do hospital de estudo do que o bairro centro, isso posto seria de se esperar que houvesse maior número de atendimento deste bairro do que do bairro centro. No entanto, observou-se que o bairro centro apresentou a segunda maior frequência de procura ao atendimento. Tabela II - Distribuição dos atendimentos de acordo com os municípios e bairros nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro de 2011 no pronto socorro. Variáveis N % Municípios Araranguá ,14 Balneário Arroio do Silva ,20 Maracaja 652 5,31 Sombrio 363 2,96 Criciúma 84 0,68 Balneário Gaivota 95 0,77 Ermo 69 0,56 Turvo 92 0,75 Meleiro 96 0,78 Jacinto Machado 75 0,61 Santa Rosa Do Sul 87 0,71 Outros 433 3,52 Total ,00 Bairros Coloninha ,34 Centro ,16 Urussanguinha 682 5,55 Mato Alto 745 6,06 Lagoão 598 4,87 Jardim Avenidas 664 5,41 Policia Rodoviária ,28 Cidade Alta 418 3,40 Jardim Cibele 330 2,69 Vila São José 300 2,44 Divinéia 307 2,50 Outros ,30 Total ,00 A Tabela III demonstra o período do dia com maior número de atendimentos, sendo que no período matutino o horário das 06 às 11 horas apresenta 28,53%. No período noturno das 18 às 24 horas o percentual de atendimentos foi de 30,23%, já no período da 0 às 5 horas foi de 9,8%. Quando analisados os atendimentos por períodos de 12 horas, verificou-se que no horário das 12 às 24 horas ocorreram 61,63 % dos atendimentos, contrapondo com 38,37% no período da 0 às 12 horas. Em relação ao dia da semana que mais houve atendimento quando considerado a totalidade de atendimentos foi à segunda-feira com 16,7% comparando com o menor número que foi no sábado com 12,4% de atendimentos. Tabela III - Distribuição dos atendimentos de acordo com o horário e dias da semana nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro de 2011 no pronto socorro. Variáveis N % Horário 00h00 às 5h ,84 06h00 às 11h ,53 12h00 às 17h ,40 18h00 às 24h ,23 Total ,00 Dias da Semana Segunda-Feira ,53 Terça-Feira ,00 Quarta-Feira ,00 Quinta-Feira ,24 Sexta-Feira ,99 Sábado ,46 Domingo ,78 Total ,00 Os motivos de atendimento apresentados na Tabela IV denotam a dor aguda e crônica como uma das causas que mais direcionam os usuários ao pronto socorro com um percentual de 18,41%, seguida das afecções esqueléticas em 14,43%, afecções do trato respiratório com 12,72%, trato gastrointestinal com 8,78%, seguido do trauma com 8,69% e motivos não especificados no prontuário eletrônico com um percentual de 10,67%. A Tabela V demonstra que dentre os atendimentos realizados no pronto socorro, os motivos sensíveis à rede de Atenção Básica, destacam-se a dor lombar com 474 atendimentos, seguida da hipertensão arterial com 300, diarreia com 255 e cefaleia com 222 atendimentos. Discussão Historicamente a população feminina procura mais por atendimentos do que o gênero masculino, porém, evidenciou-se que houve uma frequência de dois meses distintos por procura ao atendimento de ambos os gêneros. Nos meses de fevereiro e novembro prevaleceu o atendimento no gênero masculino com 40,45% proporcionalmente ao 283

287 Setembro / Outubro 2013;12(5) Tabela IV - Distribuição dos motivos de atendimento nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro de 2011 no pronto socorro. Motivo do Atendimento Fevereiro Maio Agosto Novembro N % Acidentes Animais Peçonhentos ,41 Afecções Aparelho Reprodutor ,73 Afecções do Sistema Respiratório ,72 Afecções do Sistema Urinário ,39 Afecções do TGI ,78 Afecções Sistema Circulatório ,30 Afecções Sistema Esquelético ,43 Afecções Sistema Nervoso ,53 Álcool e Outras Drogas ,59 Discrasias Sanguíneas ,10 Dor Aguda e Crônica ,41 Febre ,56 Infecções e Inflamações ,43 Não Especificado ,67 Neoplasias ,12 Transtornos Mentais ,13 Trauma e Ferimentos ,69 Total ,00 Tabela V - Distribuição dos motivos de atendimento sensíveis a Atenção Básica nos meses de fevereiro, maio, agosto e novembro de 2011 no pronto socorro. Atendimentos para a Atenção Básica N Amidalite 18 Anemias 8 Candidíase 5 Cefaleia 222 Dermatite 119 Desnutrição 4 Diarreia 255 Dor Lombar 474 Dor Muscular 83 Enxaqueca 32 Herpes Zoster 5 Hipertensão 300 Infecção do Ouvido 53 Infecções Urinárias 92 Parotidite 2 Rubéola 1 Úlcera Varicosa 17 Varicela 9 Total 1699 total dos atendimentos. Isto leva a supor que talvez seja relacionado ao maior número da população flutuante devido aos meses com temperaturas mais elevadas, acarretando, assim, maior fluxo de veículos automotivos nas rodovias federais e estaduais por ser o município de referência uma cidade que possui praias com belezas naturais. Estudos evidenciam variação nos meses do ano, e supõe que tal situação pode decorrer de variações sazonais e regionais que interferem no padrão de adoecimento. Isso pode consequentemente acarretar no aumento da procura pelo serviço [4]. Identificar a idade dos pacientes atendidos permite caracterizar o atendimento ou a fragilidade da rede de atenção, quando se verificam situações de atendimento de problemas de saúde que poderiam ter sido resolvidos na atenção básica, conforme os princípios do SUS. Além disso, a faixa etária menor de 05 anos e adultos jovens estão contemplados na maioria dos programas de saúde da atenção básica, não se justificando então a procura de atendimento hospitalar por problemas não urgentes e emergentes [7]. A frequência apresentada pela procura no atendimento por outros municípios também pode ser explicada devido à complexidade do hospital, uma vez que a magnitude dos recursos materiais e humanos disponíveis neste serviço pode servir de referência para casos que necessitem de atenção especializada, para pacientes de áreas que extrapolem os limites do município [4]. O acesso é um atributo dos serviços de saúde bastante valorizado pelos usuários, populações estas que vivem em condições socioeconômicas precárias e que buscam os serviços de forma assistencial, interessado mais por um padrão mínimo de sobrevivência do que pela própria qualidade dos serviços [8]. 284

288 Setembro / Outubro 2013;12(5) Quando analisados os atendimentos por períodos de 12 horas, verificou-se que no horário das 12 às 24 horas ocorreram 61,63 % dos atendimentos, contrapondo com 38,37% no período da 0 às 12 horas. Dados encontrados na literatura associam o período das 12 às 24 horas, onde ocorreram 67,1% dos atendimentos. Cabe destacar que há relatos de serviços de urgência e emergência nos quais 65% dos casos atendidos não constituem emergência verdadeira [5-9]. No que diz respeito aos motivos de atendimento a dor ficou em maior evidência conforme os resultados apresentados, e está presente em mais de 70% dos pacientes que buscam os consultórios brasileiros por motivos diversos, sendo a razão de consultas médicas em um terço dos casos. A atenção básica é de extrema importância neste motivo de busca ao pronto atendimento, pois, vários programas nesta área da saúde estão à disposição aos usuários do SUS. Neste sentido, seria importante colocar no prontuário eletrônico o tipo de dor referida pelo paciente assim como também a localização [10]. Em relação aos distúrbios esqueléticos que obteve resultados importantes na pesquisa, deve-se considerar a qualidade de vida que as pessoas na atualidade possuem, pois, a maior parte não realiza exercícios físicos semanais, a alimentação devido ao estresse diário não está de maneira equilibrada, bem como o sono e repouso não é de boa qualidade. Estudos abordam que as afecções referentes aos distúrbios musculoesqueléticos também são causadas em sua grande maioria por acidentes de trânsito. Esses determinam uma série de prejuízos individuais e para a sociedade. O trauma de acidentes de motocicleta tem poder destrutivo com crescente incidência na vida moderna [11-12]. As afecções do sistema respiratório aparecem no estudo com destaque importante também. O aumento da incidência de doenças do aparelho respiratório é decorrente da intensificação da poluição atmosférica, sendo estes efeitos tanto agudos como crônicos [13]. Observa-se que a frequência de atendimentos sensíveis à atenção básica não é tão expressiva, porém, devem-se considerar os motivos não especificados no sistema do prontuário eletrônico, neste caso aparece com 10,67% dos registros, assim como os motivos de atendimentos que mais foram expressivos da frequência total, citando a dor aguda e crônica, afecções esqueléticas e afecções respiratórias que não foram encontradas relações mais específicas destes motivos. Logo, alguns destes atendimentos poderiam estar direcionados também para a atenção primária à saúde [6]. Encontrou-se na pesquisa a hipertensão como um motivo bastante evidente de procura ao pronto atendimento. Destaca-se a oferta na rede de atenção básica do Programa Hiperdia, com todas as ferramentas disponíveis para os profissionais e usuários estarem inseridos no processo de produção de saúde. Questiona-se em qual nível da atenção primária estão ocorrendo nós críticos para que estes usuários procurem o pronto socorro com crises hipertensivas [6-14]. A dor lombar inserida dentre os motivos sensíveis a Atenção Básica aparece com ênfase. Destaca-se aqui o Programa Academia da Saúde criado pela Portaria Ministerial n o 719 de abril de 2011, que tem como objetivo principal contribuir para a promoção da saúde da população a partir da implantação de polos com infraestrutura, equipamentos e quadro de pessoal qualificado para a orientação de práticas corporais e atividade física e modos de vida saudáveis [11]. Acredita-se que seja necessário um melhor planejamento e comprometimento por parte dos gestores para atender as necessidades da população com qualidade, pois, o SUS é o mesmo para todos e em alguns municípios é mais bem estruturado do que em outros. Há também que se considerar a questão cultural dos usuários, porque, às vezes, mesmo tendo à disposição uma rede de atenção estruturada acabam buscando o serviço do pronto socorro por melhor acessibilidade aos serviços de média e alta complexidade [6, 14,15]. Conclusão Com o aumento da demanda nos serviços de urgência e emergência hospitalar, a maior parte das Instituições de saúde necessita reorganizar seus serviços para continuar mantendo um serviço de qualidade e que atenda as necessidades dos usuários. Conclui-se que um número de atendimentos no pronto socorro ocorre dentro do horário em que a atenção básica disponibiliza os serviços de saúde. Os motivos que levaram os usuários ao pronto socorro também chamam a atenção da pesquisa, pois, uma parte importante seria para resolubilidade da atenção básica. Neste ínterim cabe ressaltar que a falha na alimentação dos dados no sistema do prontuário eletrônico também influenciou nos resultados 285

289 Setembro / Outubro 2013;12(5) encontrados, pois, alguns motivos foram, desta forma, englobados em atendimentos de urgência e emergência. Por isso, encontraram-se resultados sensíveis para a atenção básica com menor frequência do que o esperado nos pressupostos. Porém, estes nós críticos no sistema de retroalimentação do software são fatores preponderantes que influenciaram nos resultados do estudo. Outro elemento influenciador nos resultados refere-se à maneira que o usuário coloca a queixa principal na porta de entrada do pronto socorro. Muitas vezes os usuários por causas diversas e cognitivas acabam exacerbando o motivo principal para atendimento, com o intuito de receber o acolhimento devido no serviço de referência hospitalar. Onde podemos rever estas questões? Em qual momento da atenção primária o usuário perde-se em um caminho que muitas vezes não ocorre o retorno, tornando a busca ao pronto socorro hospitalar uma ferramenta principal de produção de saúde? Torna-se importante consolidar o desafio de melhor estruturar a rede de atenção através da Estratégia Saúde da Família, implantada nas Unidades Básicas de Saúde da rede municipal, para facilitar o acesso e garantir a resolutividade dos agravos sensíveis a atenção básica a fim de por em pratica as diretrizes do PMAQ e, consequentemente, garantir assistência e desafogar os serviços de emergência. A resolubilidade das unidades básicas e secundárias de saúde é condição fundamental para evitar a maioria dos encaminhamentos desnecessários aos centros de complexidade terciária e, particularmente, aos hospitais permitindo que seus leitos sejam ocupados por usuários que realmente deles necessitem. Referências 1. Santos NCM. Urgência e Emergência para enfermagem: do atendimento pré-hospitalar APH à sala de emergência. 5ª ed. São Paulo: Iátria; Figueiredo NMA. Enfermagem: Cuidando em Emergência. São Paulo: Yendis; Smeltzer SC, Bare BG. Brunner & Suddarth: Tratado de Enfermagem Médico Cirúrgico. 9ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; p Ministério da Saúde. Portaria de 21 de outubro de Aprova a Política Nacional de Atenção Básica. Brasília: MS; Coelho MF, Chaves LDP, Anselmi ML, Hayashida M, Santos CB. Análise dos aspectos organizacionais de um serviço de urgências clínicas: estudo em um hospital geral do município de Ribeirão Preto, SP, Brasil. Rev Latinoam Enferm 2010;18(4): Ministério da Saúde. Portaria de 19 de julho de Institui no Sistema Único de Sáude, o Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB). Brasília: MS; Travassos C, Martins M. Uma revisão sobre os conceitos de acesso e utilização de serviços de saúde. Cad Saúde Pública 2004;20(Supl.2): Esperidião M, Leny AB. Avaliação de satisfação de usuários. Ciênc Saúde Coletiva 2005;10: Souza JB. Poderia a atividade física induzir analgesia em pacientes com dor crônica?. Revista Brasileira de Medicina do Esporte 2009;15(2): Rocha APC. Dor: aspectos atuais da sensibilização periférica e central. Revista Brasileira de Anestesiologia 2007;57(1): Magnago TSBS, Lisboa MTL, Souza IEO, Moreira MC. Distúrbios músculo-esqueléticos em trabalhadores de enfermagem: associação com condições de trabalho. Rev Bras Enferm 2007;60(6): Dubeux LS, Freese E, Reis YAC. Avaliação dos serviços de urgência e emergência da rede hospitalar de referência no Nordeste Brasileiro. Cad Saúde Pública 2010;26(8): Hess SC. Distribuição Espacial da Mortalidade por Doenças do Aparelho Respiratório no Brasil. Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal 2009; 6(3): Ministério da Saúde. Portaria 399 de 27 de fevereiro de Institui as diretrizes Operacionais Pactos pela Vida, em Defesa do SUS e de Gestão. Brasília: MS; Campozana GG. Satisfação dos usuários com a assistência de saúde no estado de Pernambuco. Ciênc Saúde Coletiva 2011;16(3):

290 Artigo original Religiosidade de pessoas idosas hospitalizadas José Vitor da Silva, D.Sc.*, Andréia Aparecida dos Santos**, Patrícia Mara Gomes**, Renata Fabiana Dias**, Daniel Rodrigues Machado*** *Enfermeiro, Pós-doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Pós-doutorando pela Universidade São Francisco, Professor Titular da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB), Itajubá/MG, **Acadêmicas de Enfermagem do 8º período da EEWB, Bolsistas de Iniciação Científica pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG),***Enfermeiro, Mestrando em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo Resumo Estudo de abordagem quantitativa, descritivo e transversal que objetivou avaliar a religiosidade de pessoas idosas que estavam hospitalizadas. A amostra foi de 33 pessoas idosas e a amostragem foi não probabilística por cotas (gênero e faixa etária). Para a coleta de dados, utilizou-se a Versão em Português da Escala de Religiosidade da Duke (P-DUREL). Encontrou-se que 36,4% dos participantes frequentavam igreja, templo ou encontro religioso uma vez por semana; 42,4% dedicavam seu tempo a atividades religiosas individuais mais do que uma vez ao dia e alcançaram M = 3,9 (DP = 1,78) na dimensão Religiosidade Intrínseca da P-DUREL. A estatística inferencial evidenciou que o Alfa de Cronbach atingiu o valor de 0,857 para a P-DUREL. A Religiosidade Organizacional, Não Organizacional e Intrínseca das pessoas idosas que estavam hospitalizadas foi considerada satisfatória. Palavras-chave: idoso, religião, hospitalização, enfermagem geriátrica. Abstract Religiosity of elderly in hospital This research used the quantitative, descriptive and cross-sectional approach which aimed to assess the religiosity of elderly people who were hospitalized. The sample consisted of 33 elderly and it was non-probabilistic by allotment (gender and age group). In order to collect the data, we used the Portuguese version of the Duke Religiosity Index (P-DUREL). It was found that 36.4% of the participants attend church, temple or religious meeting once a week, 42.4% devoted their time to individual religious activities more than once a day and achieved M = 3.9 (DP = 1.78) in the dimension Intrinsic Religiosity of P-DUREL. The inferential statistics showed that the Cronbach s alpha reached the value of for the P-DUREL. The Organizational Religiosity, Non Organizational and Intrinsic of the older people who were hospitalized was satisfactory. Key-words: aged, religion, hospitalization, geriatric nursing. Artigo recebido em 1 de outubro de 2012; aceito em 12 de setembro de Endereço de correspondências: José Vitor da Silva, Rua João Faria Sobrinho, 61/301, Varginha, Itajubá MG, enfjvitorsilva@oi.com.br 287

291 Setembro / Outubro 2013;12(5) Resumen Religiosidad de adultos mayores hospitalizados Investigación de abordaje cuantitativo, descriptivo y transversal que tuvo como objetivo evaluar la religiosidad de los adultos mayores hospitalizados. La muestra se constituyó de 33 adultos mayores y el muestreo fue no probabilístico por cuotas (sexo y grupos de edad). Para recopilar los datos, se utilizó la versión en portugués de la Escala de Religiosidad de Duke (P-DUREL). Se encontró que el 36,4% de los participantes han asistido a la iglesia, templo o reunión religiosa una vez a la semana; el 42,4% han dedicado su tiempo a las actividades religiosas individuales y en la dimensión religiosidad intrínseca se obtuvo M = 3,9 (DS = 1,78). La estadística inferencial mostró que el Alfa de Cronbach alcanzó valor de 0,857 para P-DUREL. La religiosidad organizacional, no organizacional e intrínseca de los adultos mayores hospitalizados fueron consideradas satisfactorias. Palabras-clave: anciano, religión, hospitalización, enfermería geriátrica. Introdução O Brasil é um país de cabelos brancos. A quantidade de pessoas idosas passou de três milhões, em 1960, para sete milhões, em 1975, e 17 milhões em 2006 um aumento de 600% em menos de 50 anos [1]. Estimativas apontam que, no ano de 2025, o Brasil será a sexta nação do mundo com o maior contingente de pessoas idosas em termos absolutos [2], sendo que a cada ano 650 mil gerontes são incorporados à população brasileira [3]. À medida que a população idosa aumenta, cresce também a ocupação dos leitos hospitalares por indivíduos de mais idade. Sabe-se que as pessoas idosas tendem a utilizar mais serviços de saúde, apresentando taxas de internação hospitalar mais elevadas do que as observadas em outros grupos etários, assim como uma permanência hospitalar mais prolongada devido à gravidade da doença [4]. A experiência de portar doença grave gera sofrimento e a imediata busca por atribuir significados na tentativa de que essa situação faça algum sentido, pois essa experiência pode ser, muitas vezes, confusa e desgastante, tanto para a vida da pessoa idosa quanto para a de sua família [5]. A religiosidade permite ao indivíduo compreender os significados dos eventos como parte de um projeto ou propósito mais amplo, mediante a crença de que nada ocorre por acaso e de que acontecimentos da vida são determinados por uma força superior [6]. Possibilita, também, a crença de que tais eventos podem levar ao crescimento pessoal, como sabedoria, equilíbrio e maturidade [7]. Estudos recentes demonstram que pessoas com maior religiosidade possuem maior bem-estar geral, menor prevalência de depressão, menor abuso de drogas ilícitas e lícitas, menor incidência de suicídio, melhor qualidade de vida, maior sobrevida, melhor enfrentamento da doença e menor tempo de hospitalização, dentre outras associações [8]. A religiosidade pode ser entendida como uma tendência natural de cada pessoa para o transcendental; significa voltar-se a uma prática de mistério estimulada por tradições, modelos, interesses, ignorância e outros [9], sendo mais latente entre as pessoas idosas do que em qualquer outra faixa etária [10]. Valorizar esta dimensão da realidade não é uma questão de ter fé ou não em Deus, mas considerar processos da realidade subjetiva e social que têm uma existência claramente objetiva. Sem entender o olhar e a elaboração religiosa não se pode compreender a perspectiva com que muitas pessoas idosas hospitalizadas se relacionam com a realidade. Apenas recentemente, no entanto, a religiosidade deixou de ser desvalorizada e inexplorada no meio acadêmico. O componente religioso vem sendo admitido como parte integrante e influente na vida e bem-estar dos indivíduos, pois uma visão limitada e mecanicista dos pacientes, dada pelo tradicional modelo biomédico, não era mais satisfatória [11]. Mesmo assim, ainda há uma enorme carência de evidências científicas sobre a religiosidade de pessoas idosas hospitalizadas. Em geral, a variável religiosidade é avaliada em relação à afiliação (católica, budista e outras), à prática religiosa (praticante/ não praticante) ou à frequência dos cultos (diária, semanal e outras). Estas estratégias são sabidamente limitadas para estudar uma variável de tal complexidade [12] e esse fato limita a assistência adequada de enfermagem, tendo em vista que informações sobre 288

292 Setembro / Outubro 2013;12(5) as questões espirituais e religiosas devem ser consideradas no plano de cuidado à pessoa idosa [13,14]. Assim, a presente pesquisa objetivou avaliar a religiosidade de pessoas idosas hospitalizadas. Material e métodos Este estudo teve como cenário o Hospital Escola da cidade de Itajubá/MG, que é geral e disponibiliza 140 leitos divididos entre Sistema Único de Saúde (SUS) e serviços conveniados. A investigação teve abordagem quantitativa, do tipo descritivo e transversal. A amostra foi composta por 33 pessoas idosas hospitalizadas. Não foi realizado cálculo para o tamanho amostral, uma vez que se trata de um estudo de caráter observacional cuja finalidade primária era de natureza exploratória e não confirmatória [15]. A amostragem foi do tipo não probabilística por cotas (gênero e faixa etária). Na amostragem por cota, os pesquisadores identificam estratos da população e determinam quantos participantes são necessários a cada estrato. Usando informações sobre as características da população, podem assegurar que os vários segmentos se encontram adequadamente representados na amostra [16]. Os critérios de inclusão consistiram em: possuir idade igual ou superior a 60 anos; apresentar capacidade cognitiva preservada; encontrar-se em situação de hospitalização na clínica médica ou cirúrgica há pelo menos 24 horas, independentemente do motivo da internação. Justificou-se esse último critério no sentido de encontrar as pessoas idosas mais inteiradas da realidade e do contexto hospitalar [17]. A entrevista foi estruturada direta e agendada previamente. Todos os dados foram coletados pelas pesquisadoras do estudo, no período de julho a setembro de 2011, sendo que o tempo médio para cada entrevista foi de aproximadamente 32 minutos. Para a coleta de dados, utilizou-se o Questionário de Avaliação Mental [18], o Questionário de Caracterização Biossocial [19] e a versão em português da Escala de Religiosidade da Duke (P-DUREL). Duke Religions Index (DUREL) é uma escala breve e fácil, que se tem mostrado muito útil em pesquisas sobre religiosidade e saúde em diversos países. Ela possui cinco itens que captam três dimensões de religiosidade que mais se relacionam com desfechos em saúde: Organizacional (RO); Não-Organizacional (RNO) e Intrínseca (RI). Há um item para RO, um para RNO e três para RI e, na análise dos dados, as pontuações nas três dimensões (RO, RNO e RI) devem ser interpretadas isoladamente. A pontuação da dimensão RI pode variar entre 3 e 15 e baixo escore indica maior RI. Essa escala foi adaptada [20] e validada à cultura brasileira [21]. Recentemente, o primeiro e o segundo autor da presente pesquisa participaram de um estudo que avaliou as propriedades psicométricas da P-DUREL, encontrando características satisfatórias do ponto de vista de confiabilidade quanto à consistência interna e estabilidade (teste e reteste), assim como de validade de critério concorrente e validade de construto convergente e discriminante [22]. Os dados foram processados e analisados usando o programa Statistical Package for Social Science (SPSS), versão Utilizou-se a estatística descritiva, incluindo frequência absoluta, relativa, média e desvio padrão. Da estatística inferencial, foi utilizado o teste Alfa de Cronbach, visando a avaliar a consistência interna da P-DUREL. O desenvolvimento do estudo ocorreu em conformidade ao preconizado pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde [23]. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (Protocolo n o 404/09) e os entrevistados formalizaram sua anuência de participação do estudo mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Resultados Verificou-se que a média de idade foi de 73,03 anos (DP = 7,88); 51,5% eram do gênero masculino; 96,2% professavam alguma crença religiosa; 75,8% eram católicos; 51,5% não haviam completado o ensino fundamental; 69,7% eram casados; 84,8% afirmaram que estavam aposentados; 91% tinham filhos; a renda média mensal familiar foi de R$ 1107,81 (DP = 553,83), sendo que, em média, 2,63 pessoas (DP = 1,26) viviam com esse rendimento. A maioria das pessoas idosas portava doença crônica (69,7%); 33,3% declararam conviver com hipertensão arterial sistêmica; 75,8% faziam uso contínuo de medicamentos em casa e 36,4% qualificaram seu estado de saúde atual como bom. As Tabelas I, II e III apresentam os resultados obtidos pela P-DUREL. 289

293 Setembro / Outubro 2013;12(5) Tabela I - Religiosidade Organizacional das pessoas idosas hospitalizadas. Itajubá/MG, 2011 (n = 33). Mais do que P- DUREL Uma vez por Duas a três Poucas vezes Uma vez por uma vez por Dimensão RO semana vezes por mês por ano ano ou menos semana Nunca N % n % n % n % n % n % Com que frequência você vai a uma igreja, templo ou outro encontro 6 18, ,4 6 18,2 5 15,1 3 9,1 1 3,0 religioso? Fonte: Instrumento de Pesquisa Tabela II - Religiosidade Não Organizacional das pessoas idosas hospitalizadas. Itajubá/MG, 2011 (n = 33). Mais do que Duas ou mais P- DUREL Uma vez por Poucas vezes uma vez ao Todos os dias vezes por Dimensão RNO semana por mês dia semana Nunca N % n % n % n % n % n % Com que frequência você dedica o seu tempo a atividades religiosas individuais, como preces, rezas etc.? 14 42, ,3 2 6, ,0 5 15,2 Fonte: Instrumento de Pesquisa Tabela III - Religiosidade Intrínseca das pessoas idosas hospitalizadas. Itajubá, MG, 2011 (n = 33). P-DUREL Média Mediana Desvio Padrão Dimensão RI 3,59 3,55 1,78 Fonte: Instrumento de Pesquisa Ao avaliar a consistência interna, identificou-se que o Alfa de Cronbach alcançou o valor de 0,857 para a P-DUREL e 0,914 para o domínio RI da P-DUREL. Discussão Grande proporção de pessoas idosas praticava alguma religião, coincidindo com resultados de outras pesquisas realizadas em território brasileiro [24-26]. A religião católica sobressaiu-se entre as demais. Esse fato talvez seja justificado por fatores históricos, já que os Jesuítas introduziram o catolicismo no Brasil durante a época da colonização. No período colonial, a principal preocupação do governo de Portugal era difundir a fé cristã nas colônias conquistadas. Os Jesuítas fundaram as primeiras escolas no Brasil e os alunos aprendiam a ler e a escrever por meio dos livros religiosos. Assim, simultaneamente com a alfabetização, ocorria a doutrinação dos alunos de acordo com os princípios da religião católica [27]. O nível de RO entre as pessoas idosas do estudo foi considerado satisfatório. A RO refere-se à participação e frequência em igrejas, templos ou encontros religiosos, ou seja, está relacionada a um componente social [28]. São numerosos os eventos vivenciados pelas pessoas no decorrer do ciclo de vida e alguns se tornam muito expressivos com o avançar da idade, tais como: aposentadoria, saída dos descendentes de casa, redução da autonomia, desvios de saúde, iminência da morte do cônjuge, de parentes, de amigos e até de si mesmas. Tais fatos podem levar a pessoa idosa a se reavaliar e, muitas vezes, a sentir necessidade de engajar-se em novos papéis sociais e familiares, revendo sua perspectiva pessoal quanto à própria existência e seu término [29]. O Estudo SABE (Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento) detectou que muitas pessoas idosas declararam que seus amigos estão entre os membros da igreja que frequentam [9], evidenciando que as congregações religiosas são importantes fontes de suporte social. RNO diz respeito a atividades de cunho religioso que podem ser realizadas fora de uma instituição religiosa, traduzindo-se em orações, leituras e programas de televisão e/ou rádio, não sendo dependentes de interações com terceiros [28]. Os resultados da RNO obtidos neste estudo estão em consonância com a literatura científica, pois um estudo recente que avaliou a influência da religião e 290

294 Setembro / Outubro 2013;12(5) espiritualidade no enfrentamento da hospitalização em pacientes idosos detectou que 60% dos participantes realizavam atividades religiosas individuais mais do que uma vez ao dia [30]. Pelos resultados deste estudo, percebeu-se que o nível de RNO foi superior ao de RO, mesmo sendo esta considerada satisfatória. Este dado sugere que as limitações físicas, o medo de quedas e a desvalorização da religiosidade pela equipe de enfermagem podem estar limitando o acesso da pessoa idosa ao centro religioso da instituição hospitalar. Os profissionais de saúde costumam não valorizar ou não se sentirem confortáveis em abordar as questões que envolvem a dimensão religiosa dos doentes, o que torna necessário o desenvolvimento de treinamento específico para incorporar a religiosidade na prática clínica [9]. A RI avalia o quanto a religião pode motivar ou influenciar nos comportamentos, decisões e, de forma geral, na vida do indivíduo. Trata-se de uma dimensão subjetiva, do quanto e como o indivíduo percebe a importância da religião em sua vida [28,31]. No presente estudo, a avaliação da RI alcançou média expressivamente baixa (M = 3,59; DP = 1,78), o que significa que as pessoas idosas hospitalizadas percebiam a religião como algo de extrema importância no contexto de suas vidas. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos detectou que 75% dos gerontes consideravam a religião muito importante, enquanto entre os jovens esse valor foi menor (44%). Isto, segundo os autores, pode estar relacionado com a aproximação do final da vida e a busca de respostas e apoio emocional para as situações adversas que, muitas vezes, são encontradas na religião ou crenças [32]. As pessoas idosas utilizam a religião e a espiritualidade como recursos diante de situações desfavoráveis. É comum os clientes de enfermaria geriátrica pronunciarem frases como se Deus quiser eu vou melhorar, estou me sentindo melhor, graças a Deus, é preciso ter fé em Deus para melhorar. Tais frases apontam para a relação da religião ou espiritualidade com otimismo, esperança de melhora, na busca de força num ser superior que possa auxiliar. Essa fé ajuda a enfrentar procedimentos invasivos, a alimentar-se mesmo quando não há apetite algum, como se a crença fosse que Deus já vai fazer sua parte, então, cabe ao paciente cooperar e fazer a dele [30]. Esse tipo de pensamento auxilia o trabalho da equipe de enfermagem, pois esta depende do querer e da necessidade do paciente em ser atendido. Conclusão A RO, a RNO e a RI alcançaram níveis satisfatórios entre a população estudada e, portanto, os enfermeiros precisam saber lidar com essa dimensão efervescente do ser idoso hospitalizado, considerando os sentimentos e comportamentos dela decorrentes. Num cenário em que a humanização hospitalar vem ganhando forças, atentar-se para as práticas religiosas das pessoas idosas significa praticar um cuidado de enfermagem integral e humanizado, olhar para o paciente não como um corpo que adoece e, sim, considerar todo o seu percurso histórico, hábitos, costumes, cultura e consequentemente evitar a sensação de se tratar apenas de mais um leito ocupado por alguém despersonalizado. Os dados obtidos neste estudo podem ser a base para o desenvolvimento de um plano de intervenção de enfermagem, relacionado com a dimensão religiosa das pessoas idosas hospitalizadas. Finalmente, recomenda-se que sejam realizados outros estudos sobre o tema investigado, entretanto com amostras maiores e amostragem probabilística, com o propósito não só de se conhecerem, mas também de se confirmarem os resultados desta pesquisa. Referências 1. Veras R. Fórum. Envelhecimento populacional e as informações de saúde do PNAD: demandas e desafios contemporâneos. Introdução. Cad Saúde Pública 2007;23(10): Keller I, Makipaa A, Kalenscher T, Kalache A. Global Survey on Geriatrics in the Medical Curriculum. Geneva: World Health Organization; Veras R. Vida plena sem violência na maturidade: a busca contemporânea. Ciênc Saúde Coletiva 2010;15(6): Amaral ACS, Coeli CM, Costa MCE, Cardoso VS, Toledo ALA, Fernandes CR. Perfil da morbidade e de mortalidade de pacientes idosos hospitalizados. Cad Saúde Pública 2004;20(6): McLeod DL, Wright LM. Living the as-yet unanswered: spiritual care practices in family systems nursing. J Fam Nurs 2008;14(1): Bousso RS, Serafim TS, Misko HD. História de vida de familiares de crianças com doenças graves: relação entre religião, doença e morte. Rev Latinoam Enferm 2010;18(2): Dull VT, Skokan LA. A cognitive model of religion s influence on health. J Soc Issues 1995;51: Lucchetti G, Almeida L, Granero A. Spirituality for dialysis patients: should the nephrologist address? J Bras Nefrol 2010;32:

295 Setembro / Outubro 2013;12(5) 10. Duarte YAO, Lebrão ML, Tuono VL, Laurenti R. Religiosidade e envelhecimento: uma análise do perfil de idosos do município de São Paulo. Saúde Coletiva 2008;5(24): Goldstein LL. Desenvolvimento do adulto e religiosidade: uma questão de fé. In: Néri AL, ed. Qualidade de vida e idade madura. Campinas: Papirus; p Sousa PLR, Tillmann IA, Horta CL, Oliveira FM. A religiosidade e suas interfaces com a medicina, a psicologia e a educação. Psiq Prat Med 2001;34(4): Fleck MPA, Borges ZN, Bolognesi G, Rocha NS. Desenvolvimento do WHOQOL, módulo espiritualidade, religiosidade e crenças pessoais. Rev Saúde Pública 2003;37(4): Bastos DS, Borestein MS. Identificando os déficits de autocuidado de clientes hipertensos de um Centro Municipal de Saúde. Texto e Contexto 2004;13(1): Carr T. Facing Existential Realities: Exploring Barriers and Challenges to Spiritual Nursing Care. Qual Health Res 2010;20: Van Belle G, Fisher LD, Heagerty PJ, Lumley T. Biostatistics: a methodology for the health sciences. 2nd ed. New Jersey: Hoboken; Polit DF, Beck CT. Fundamentos de Pesquisa em Enfermagm. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed; Monteiro L. Conceitos básicos de antropologia e sociologia. Petrópolis: Vozes; Kahn RL, Goldfarb AL, Pollack M, Peck A. Brief objective measures for the determination of mental status in the aged. Am J Psychiatry 1960;117; Silva JV. Ser idoso e ter qualidade de vida: as representações de idosos residentes em cidades do sul de Minas Gerais [Tese]. São Paulo: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; Moreira-Almeida A, Peres MF, Aloe F, Neto FL, Koenig HG. Versão em Português da Escala de Religiosidade da Duke DUREL. Rev Psiquiatr Clin 2008; 35(1); Lucchetti G, Granero Lucchetti AL, Peres MF, Leão FC, Moreira-Almeida A, Koenig HG. Validation of the Duke Religion Index: DUREL (Portuguese version). J Relig Health 2012;51(2): Silva JV, Velasco IT, Machado DR, Moreira-Almeida A, Koenig HG, Santos FS. Avaliação das propriedades psicométricas da Versão em Português da Escala de Religiosidade da Duke (P-DUREL) [Trabalho de Pesquisa]. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; Brasil. Conselho Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução Nº 196 de 10 de outubro de 1996: diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres humanos. Brasília: MS; Paskulin LMG, Vianna LAC. Perfil sociodemográfico e condições de saúde auto-referidas de idosos de Porto Alegre. Rev Saúde Pública 2007;41(5): Loriano PJ, Dalgalarrondo P. Saúde mental, qualidade de vida e religião em idosos de um Programa de Saúde da Família. J Bras Psiquiatr 2007;56(3): Machado DR, Dias EN, Silva JV, Vitorino LM, Vitorino FM. Avaliação da qualidade de vida de homens idosos residentes em cidades sul-mineiras. Rev Téc-cient Enferm 2010; 8: Ranquetat CJA. A igreja católica e o ensino religioso nas escolas públicas: hegemonia e pluralismo no campo religioso brasileiro [online] 2008; [citado 2012 set 30]. Disponível em URL: Koenig HG, McCullough ME, Larson DB. Handbook of religion and health. New York: Oxford University; Py L, Pacheco J, Sá JLM, Goldman SN. Tempo de envelhecer: percurso e dimensões psicossociais. Rio de Janeiro: Nau; Duarte FM, Wanderley KS. Religião e espiritualidade de idosos internados em uma enfermaria geriátrica. Psic Teor Pesq 2011;27(1): Koenig HG, George LK, Titus P. Religion, spirituality, and health in medically ill hospitalized older patients. J Am Geriatr Soc 2004;52(4): Cohen AB, Koenig HG. Religion, religiosity and spirituality in the biopsychosocial model of health and ageing. Ageing International 2003;38(3):

296 Revisão O impacto da implantação da Estratégia Saúde da Família no controle da hipertensão arterial Edelcio Ratão*, Luciano Garcia Lourenção, D.Sc.** *Enfermeiro da Estratégia Saúde da Família de Birigui/SP, Pós-graduando em Saúde da Família pela Universidade Aberta do Brasil Universidade Federal de São Paulo UAB/UNIFESP, **Enfermeiro, Professor Adjunto Doutor do Departamento de Epidemiologia e Saúde Coletiva da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto DESC/FAMERP Resumo O presente estudo é resultado de uma revisão na literatura nacional com o objetivo de avaliar o impacto da implantação da Estratégia Saúde da Família no controle da hipertensão arterial sistêmica em municípios brasileiros. Foi realizado levantamento nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e pelo endereço eletrônico scholar.google.com.br, de produções bibliográficas referentes ao período de 2005 a 2013, selecionando-se 10 artigos publicados em português. Os resultados demonstraram que a Estratégia Saúde da Família amplia o acesso aos serviços de saúde, promovendo equidade da assistência, contrapondo os problemas na coordenação das ações, adesão e qualificação profissional, educação em saúde para promoção de um estilo de vida saudável, elevado risco para doenças cardiovasculares e alta prevalência, mesmo em municípios com 100% de cobertura. Conclui-se que o impacto da implantação da ESF é positivo, mas são necessárias melhorias na qualidade da assistência para o controle da hipertensão arterial. Palavras-chave: hipertensão, saúde pública, Programa Saúde da Família. Abstract The impact of the implementation of the Family Health Strategy to control hypertension This study is a national literature review in order to assess the impact of the implementation of the Family Health Strategy in controlling hypertension in Brazilian municipalities. A survey was conducted in the databases of the Virtual Health Library (VHL) and the address scholar.google.com.br of literature production for the period 2005 to 2013, selecting 10 articles published in Portuguese. The results showed that the Family Health Strategy improves access to health services, promoting equity of care, contrasting problems in coordinating actions, membership and qualifications, health education for promoting a healthy lifestyle, high risk cardiovascular disease and high prevalence, even in municipalities Artigo recebido em 18 de setembro de 2013; aceito em 23 de setembro de Endereço para correspondência: Luciano Garcia Lourenção, Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, Avenida Brigadeiro Faria Lima, 5416 Vila São Pedro São José do Rio Preto SP, luciano. famerp@gmail.com 293

297 Setembro / Outubro 2013;12(5) with 100% coverage. We conclude that the impact of FHS implementation is positive, but improvements in the quality of care for hypertension control are need. Key-words: hypertension, public health, Family Health Program. Resumen El impacto de la implantación de la Estrategia Salud de la Familia en el control de la hipertensión Este estudio es resultado de una revisión de la literatura nacional con el fin de evaluar el impacto de la aplicación de la Estrategia Salud de la Familia en el control de la hipertensión en los municipios brasileños. Se realizó una encuesta en las bases de datos de la Biblioteca Virtual en Salud (BVS) y la dirección de correo electrónico scholar.google.com.br de la producción literatura para el período de 2005 a 2013, y se hizo una selección de 10 artículos publicados en portugués. Los resultados mostraron que la Estrategia de Salud de la Familia amplía el acceso a los servicios de salud, promoción de la equidad de la atención, contrastando los problemas en las acciones de coordinación, los miembros y las calificaciones, la educación sanitaria para promover un estilo de vida saludable, de alto riesgo las enfermedades cardiovasculares y de alta prevalencia, incluso en municipios con una cobertura del 100%. Llegamos a la conclusión de que el impacto de la aplicación del ESF es positivo, pero son necesarias mejoras en la calidad de la atención para el control de la hipertensión. Palabras-clave: hipertensión, salud pública, Salud de la Familia. Introdução A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é definida pela elevação da pressão arterial a 140 mmhg e/ou 90mmHg, produzida por várias causas, sendo a mais comum das doenças cardiovasculares, provocando alterações metabólicas, funcionais e estruturais no organismo, o que eleva o risco de complicações como acidente vascular cerebral, infarto agudo do miocárdio e insuficiência renal crônica [1,2]. Em 2009, 7,5 milhões de pessoas no mundo morreram de complicações relacionadas à hipertensão arterial. Com o envelhecimento da população, o número de pessoas hipertensas estimado em 600 milhões para o ano 1980, passou a 1,2 bilhões em 2008 [1]. As doenças cardiovasculares (DCV) geram elevados custos para a saúde. Em 2009, pessoas foram internadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) com custo de R$ ,33, e ainda indivíduos iniciaram o programa de diálise com óbitos registrados [1]. Segundo o Ministério da Saúde (MS), modificações de estilo de vida, quando atingem um maior número de pessoas, são as medidas mais eficazes no controle da hipertensão. Assim, os modelos de atenção à saúde precisam abordar o individual e o coletivo, principalmente através da atenção primária à saúde, com atuação da Estratégia Saúde da Família [2]. Os brasileiros tem um bom conhecimento sobre a hipertensão arterial, quando comparado a outros países. Estudos realizados nos últimos quinze anos revelam que, em relação ao tratamento e controle, o Brasil tem maior eficiência, fator este atribuído à crescente expansão da Estratégia Saúde da Família no país, principalmente no interior e em populações com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Estas ações demonstram os esforços do governo e profissionais de saúde em busca de políticas públicas fortalecidas na promoção e prevenção, para redução e controle da hipertensão arterial [1]. Desde 1960, a hipertensão arterial é um grande desafio para o Brasil e o mundo. A prevalência na população brasileira está em torno de 15 a 20% da população adulta, subindo para 65% entre os idosos, sendo responsável por 40% das aposentadorias precoces, além de estar entre as principais causas de absenteísmo no trabalho [3]. Diante dos relevantes problemas de saúde no Brasil, em 1994, o Ministério da Saúde implantou a Estratégia Saúde da Família (ESF) com o objetivo da reestruturação da atenção primária à saúde, voltada para promoção, prevenção e corresponsabilidade com os usuários. Uma mudança no modelo curativista, com a criação de vínculo, compreendendo as reais condições de vida no contesto que vivem diante dos inúmeros fatores ambientais e sociais que interferem na saúde [4]. A Estratégia Saúde da Família promove maior acesso aos serviços de saúde, cria o vínculo com o 294

298 Setembro / Outubro 2013;12(5) usuário, e através da educação em saúde estimula hábitos saudáveis, fatores essenciais para o controle da hipertensão arterial [1,2,5]. Ante o exposto, este estudo tem o objetivo de avaliar o impacto no controle da hipertensão arterial com a implantação da Estratégia Saúde da Família. Material e métodos O presente estudo é um trabalho de pesquisa bibliográfica a partir do levantamento nas bases de dados da Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e pelo endereço eletrônico scholar.google.com.br, de produções bibliográficas referentes ao período de 2005 a Para realizar a busca foram utilizados os descritores: Programa Saúde da Família, Saúde Pública e Hipertensão. Foram incluídos estudos avaliativos, observacionais, revisões bibliográficas, entrevistas clínicas, estudos comparativos, diretrizes, indicadores e cadernos de atenção básica. Foram encontrados 122 artigos na base de dados da biblioteca virtual em saúde, filtrados como textos completos, em português com data superior a No endereço eletrônico scholar.google.com. br (Google Acadêmico) foram encontrados 107 artigos, classificados como em português e com tema pertinente à busca. Após leitura e análise dos artigos encontrados nas duas bases de dados foram selecionados para pesquisa 10 artigos relevantes. Para o estudo, as bases de dados indexadas utilizadas foram Lilacs (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), Scielo (Scientific Eletronic Library Online). A busca e a seleção das referências bibliográficas foram realizadas no período de maio a junho de Como referência específica e atual sobre hipertensão, foram utilizadas as VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão de 2010, o Caderno 15 de Hipertensão e Diabetes do Ministério da Saúde e os Indicadores da Saúde da Família no Brasil entre 1998 e 2006, pós-implantação do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) do Ministério da Saúde. Resultados Para este estudo foram selecionados 10 artigos que abordavam a hipertensão arterial na atenção primária a saúde, sintetizados na Tabela I, segundo título, autores, resumo dos resultados e conclusão. Os autores dos artigos selecionados demonstram que a hipertensão arterial ainda constitui um dos maiores problemas de saúde pública no Brasil e no mundo, e o fator mais importante para o controle é a promoção da saúde, através da atenção primária à saúde (APS). A implantação da Estratégia Saúde da Família tem impacto no controle da hipertensão arterial e outras doenças crônicas, porém ainda temos muitos problemas relacionados a ações efetivas das equipes, entre os quais se destaca a falta de planejamento e a educação em saúde [3-13]. Discussão A Estratégia Saúde da Família, criada em 1994 pelo Ministério da Saúde, tem como principal objetivo e maior desafio organizar a atenção básica à saúde no Brasil, garantindo os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS). Em relação ao controle da hipertensão arterial sistêmica, a implantação da Estratégia Saúde da Família está intimamente ligada aos indicadores de saúde que avaliam as taxas de internação por Acidente Vascular Cerebral (AVC) e taxa de internação por Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC). O monitoramento desses indicadores é possível, graças à criação do Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB), implantado em 1998, possibilitando, além da análise de indicadores de saúde da população, o cálculo da cobertura da Estratégia Saúde da Família nos municípios brasileiros [4,5]. Os registros mostram que, em 1998, a cobertura da ESF era de 6,55%, alcançando 46,19% em 2006, um aumento de 700%, ou de sete vezes no período [5]. Pode-se avaliar que, com o aumento da cobertura da ESF, ocorreu um declínio nas taxas de internação por AVC e ICC no Brasil, principalmente nos estratos populacionais com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o que demonstra a importância da implantação e aumento das equipes de ESF para o controle e prevenção das complicações relacionadas à hipertensão arterial sistêmica [5]. Um estudo realizado no município de Francisco Morato demonstra que a implantação da ESF ampliou o acesso aos serviços de saúde com equidade na resolução de problemas da população, mas a qualidade da assistência ficou comprometida, como podemos observar em outros estudos [6]. No município de Recife uma pesquisa sobre a implantação da ESF foi insatisfatória, pois identificou área física, insumos e qualificação profissional insuficiente para o atendimento ao hipertenso. Assim identificou-se que, apesar do impacto positivo da ESF, é necessário melhorar o planejamento das ações, além de trabalhar a educação permanente [3]. 295

299 Setembro / Outubro 2013;12(5) 296 Tabela I - Distribuição das publicações segundo resultados e recomendações/conclusões. Título do Artigo Autores Resultados Recomendações / Conclusões Avaliação da assistência O estudo revelou que antes da implantação do PSF 26,6% dos usuários não ao paciente com diabetes Paiva DCP, O estudo demonstrou que o PSF e/ou hipertensão pelo Programa Saúde da Família Escuder MML em busca de atender as necessi- Bersusa AAS, aumentou o acesso, a equidade tinha nenhum acesso aos serviços de saúde e os que tinham 53,2% se deslocavam a outro município. do Município de Francisco [6]. dades dos usuários. Morato, São Paulo, Brasil A pesquisa revelou que no inicio do tratamento A implantação do PSF teve 28,9% dos hipertensão tinham impacto positivo no controle Controle da hipertensão Araújo JC, Guimarães AC. [4]. arterial em uma unidade níveis pressóricos controlados enquanto pressórico dos usuários, porém de saúde da família que, após implantação 57% estavam os fatores de riscos para DCV controlados. permanecem elevados. Educação em saúde no O PSF constitui a mudança das ações Avaliação da assistência ao enfrentamento da hipertensão arterial: uma Toledo MM, Rodrigues SC, de saúde voltada a promoção da saúde paciente com diabetes e/ou hipertensão pelo Programa Saúde da com visão ampliada do processo saúde nova ótica para um velho problema Chiesa AM [11]. doença, com humanização e busca da qualidade da assistência. Família do Município de Francisco Morato, São Paulo, Brasil Avaliação da implantação O estudo identificou fragilidade no da atenção à hipertensão arterial pelas equipes de Costa JMBS, Silva MRF, atendimento ao hipertenso, com falta de coordenação central e local ao programa Controle da hipertensão arterial em uma unidade de saúde da Saúde da Família do município do Recife (PE, Brasil) de hipertensão e baixo desem- Carvalho EF [3]. penho das equipes. família A pesquisa revelou 90% de satisfação com A qualidade da assistência foi Avaliação da assistência a o serviço. A falta de adesão ao tratamento prejudicada pelo descontrole pessoas com hipertensão Helena ETS, medicamentoso foi de 53,1%. A não adesão, sedentarismo e classes sociais C/D/E tratamento, apesar da satisfação pressórico e falta de adesão ao arterial em Unidades de Nemes MIB, Estratégia de Saúde da Eluf-Neto J [8]. foram os fatores mais importantes para a dos usuários e acesso a consultas e medicamentos. Família falta de controle da pressão arterial. O PSF demonstrou ser mais Desempenho do PSF no O PSF de 1999 a 2004 cresceu mais na adequado diante das ações Sul e no Sudeste do Brasil: região Nordeste do que no Sul do país, Facchini LA, de saúde em relação às UBSs avaliação institucional e porém em relação às condições precárias de trabalho foram maiores nas et al [7]. tradicionais, visto que menos epidemiológica da Atenção população da área de abrangência usou o serviço. Básica à Saúde equipes de PSF comparadas as UBS. O estudo permitiu uma avaliação Avaliação das ações em hipertensão arterial sistêmica dos municípios tiveram impacto insufi- Os resultados demonstram que 83,3% Rabetti AC, da efetividade do PSF no controle Freitas SFT [10]. da hipertensão e o gasto público na atenção básica ciente contra a hipertensão arterial. em internações evitáveis. Efetividade das ações de Os resultados apontam para o baixo O estudo demonstra a necessidade de educação em saúde controle da hipertensão Araújo FNF desempenho em atividades educacionais e ações de promoção da saúde para reduzir agravos relaciona- arterial sob a ótica dos [12]. profissionais da atenção essenciais para atenção primária. dos à doença. primária à saúde Rosário TM, Scala LCN, França hipertensão, idade, analfabetismo ou blema de saúde pública mesmo O estudo identificou associação entre A hipertensão continua um pro- Prevalência, controle e tratamento da hipertensão arterial sistêmica em GVA, Pereira baixa escolaridade, IMC e circunferência abdominal elevada, sedentarismo e porte e o controle pressórico em municípios de pequeno MRG, Jardim Nobres/MT PCBV [9]. etilismo. insatisfatório. O estudo identificou o predomínio da Prevalência e fatores sociodemográficos em hiperten- Cesarino CB, de ações educacionais na cida- O estudo indica a necessidade hipertensão na média de idade 53,8 anos economicamente ativa, o que sos de et al [13]. de para o controle da hipertensão arterial. constitui um grave problema de saúde São José do Rio Preto/SP pública.

300 Setembro / Outubro 2013;12(5) Estudo realizado por Araújo e Guimarães [4], em Salvador, na Bahia, com uma amostra de 135 pacientes hipertensos, mostrou que o impacto da implantação da ESF melhorou o controle pressórico dos pacientes. Contudo, o fator de risco de doenças cardiovasculares associadas permaneceu alto. Segundo os autores, a implantação do Núcleo de apoio à Saúde da Família (NASF) é necessário para que, através da nutricionista e o fisioterapeuta ocorra o controle do risco metabólico e da obesidade, pois, paralelamente ao controle da pressão arterial, os riscos das doenças cardiovasculares também devem ser reduzidos. Facchini et al. [7] compararam o desempenho da implantação da ESF no Sul e Sudeste do Brasil em relação às unidades básicas de saúde tradicionais e constataram que a ESF, através de ações programadas e articulação com a comunidade, melhorou o acesso aos serviços de saúde e promoveu a equidade da assistência. Os resultados mostraram que a implantação da ESF é fundamental para a organização do serviço a partir do conceito ampliado de saúde, assegurando um novo olhar que contemple o indivíduo como parte de uma família, para o qual a saúde não é apenas a ausência de doença. Em um estudo realizado em Blumenau/SC constatou-se que a assistência prestada pelas equipes da ESF ampliou o acesso às consultas e medicamentos para pacientes hipertensos. No entanto, a baixa adesão, principalmente das camadas sociais menos favorecidas, tem demonstrado o grande desafio a ser superado, ou seja, promover a saúde com mais equidade [8]. O controle da pressão arterial também demonstrou ser um problema de saúde pública para municípios pequenos. Um estudo realizado em Nobres/MT e em municípios catarinenses de pequeno porte, nos quais a ESF tem cobertura de 100% da população, os hipertensos tinham conhecimento sobre a doença, mas a prevalência de hipertensão arterial permanecia elevada. Apesar da total cobertura da ESF, ações de melhoria de acesso aos serviços de saúde, organização e educação são fundamentais para controle eficaz da hipertensão [9.10]. Outros estudos com pacientes hipertensos em Unidades de Saúde da Família demonstraram as necessidades de ações que promovam a educação em saúde. A ESF, através das atividades educativas, promove o estilo de vida saudável, ação de grande impacto no controle da hipertensão e de agravos relacionados à doença [11-13]. Conclusão A implantação da Estratégia Saúde da Família tem impacto positivo no controle e tratamento da hipertensão arterial sistêmica no Brasil, com aumento do acesso aos serviços de saúde, busca da equidade nas ações, fortalecimento do vínculo e promoção da educação em saúde na ótica ampliada. Entretanto, a falta de adesão dos pacientes ao tratamento, a falta de insumos da qualificação dos profissionais comprometem a qualidade da assistência, sendo necessário, ainda, melhorarias no planejamento das ações, garantia de insumos por parte dos gestores, além de ações permanentes de capacitação profissional e de educação em saúde. Referências 1. Sociedade Brasileira de Cardiologia. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Hipertensão; Ministério da Saúde. Secretária de Atenção à saúde, Departamento de Atenção básica. Caderno de atenção básica 15: Hipertensão Arterial Sistêmica. Brasília: Ministério da Saúde; Costa JMBS, Silva MRF, Carvalho EF. Avaliação da implantação da atenção à hipertensão arterial pelas equipes de saúde da família do município de Recife (PE, Brasil). Ciênc Saúde Coletiva 2011;16(2): Araújo JC, Guimarães AC. Controle da hipertensão arterial em uma unidade de saúde da família. Rev Saúde Pública 2007;41(3): Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Saúde da Família no Brasil: uma análise de indicadores selecionados, /2006. Brasília: Ministério da Saúde; Paiva DCP, Bersusa AAS, Escuder MML. Avaliação da assistência ao paciente com diabetes e/ou hipertensão pelo programa saúde da família do município de Francisco Morato, São Paulo, Brasil. Cad Saúde Pública 2006;22(2): Facchini LA, Piccini RX, Tomasi E, Thumé E, Silveira DS, Siqueira FV et al. Desempenho do PSF no Sul e no Nordeste do Brasil: avaliação institucional e epidemiológica da atenção básica à saúde. Ciênc Saúde Coletiva 2006;11(3): Helena ETS, Nemes MIB, Eluf-Neto J. Avaliação da assistência a pessoas com hipertensão arterial em unidades de estratégia de saúde da família. Saúde Soc 2010;19(3): Rosário TM, Scala LCN, França GVA, Pereira MRG, Jardim PCBV. Prevalência, controle e tratamento da hipertensão arterial sistêmica em Nobres MT. Arq Bras Cardiol 2009;(93)6: Rabetti AC, Freitas SFT. Avaliação das ações em hipertensão arterial sistêmica na atenção básica. Rev Saúde Pública 2011;(45)2: Toledo MM, Rodrigues SC, Chiesa AM. Educação em saúde no enfrentamento da hipertensão arterial: uma nova ótica para um velho problema. Texto Contexto Enferm 2007;16(2): Araújo FNF. Efetividade das ações de controle da hipertensão arterial sob a ótica dos profissionais da atenção primária à saúde [Mestrado]. Campina Grande: Universidade Estadual da Paraíba; Cesarino CB, Cipullo JP, Martin JFV, Ciorlia LA, Godoy MRP, Cordeiro JA, et al. Prevalência e fatores sociodemográficos em hipertensos de São José do Rio Preto SP. Arq Bras Cardiol 2008;91(1):

301 Revisão O papel do enfermeiro na humanização da assistência ao paciente na Unidade de Terapia Intensiva Ana Paula Laender Muñoz Rodrigues*, Vanessa Galdino de Paula, M.Sc.**, Daniele Galdino de Paula, M.Sc.***, Eugenio Fuentes Perez Junior**** *Enfermeira do Hospital Materdei, Pós-graduada em Enfermagem Intensiva de Alta Complexidade, **Enfermeira do Hospital Estadual Azevedo Lima, Docente do Centro Universitário Plínio Leite (UNIPLI), ***Docente do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Augusto Motta e Professora Substituta do Departamento de Enfermagem Médico-Cirúrgico da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, ****Enfermeiro do Hospital Estadual Azevedo Lima, Professor Pós-Graduação em Enfermagem Intensiva de alta Complexidade UGF, Mestrando em Enfermagem UERJ Resumo Estudo de revisão integrativa da literatura que objetivou descrever o papel do enfermeiro na humanização da assistência ao paciente na UTI e analisar a importância dessa assistência humanizada para o paciente. A busca foi realizada nos bancos de dados Lilacs, Medline e Scielo. O recorte temporal utilizado foi de 2000 a 2011 e os dados analisados por análise de conteúdo. A produção do conhecimento acerca do tema é bastante incipiente, reduzindo-se a 12 publicações. O enfermeiro tem papel fundamental na humanização da assistência ao paciente na UTI, e não se tem como pensar a melhoria da qualidade da assistência uma práxis segura sem a observância dos pressupostos da humanização. E a humanização constitui-se em importante estratégia para transformação da práxis em direção à melhoria constante da qualidade, bem como melhoria das condições de trabalho. Palavras-chave: Enfermagem, paciente, unidade de terapia intensiva, humanização. Abstract The role of the nurse in the humanization of patient care in the Intensive Care Unit This integrative literature review study aimed at describing the role of the nurse in the humanization of patient care in the ICU and at analyzing the importance of the humanized care to the patient. We used the Lilacs, Medline and Scielo databases to collect data. The period searched in the databases was from 2000 to 2011, and data was analyzed by content analysis. We found that the production of knowledge regarding the study theme is very incipient with only 12 publications. The nurse has a key role in humanizing patient care in the ICU, but we can only think about improving Artigo recebido em 19 de janeiro de 2013; aceito em 30 de setembro de Endereço para correspondência: Eugenio Fuentes Perez Junior, Avenida Professora Romanda Gonçalves, 2298, Niterói RJ, eugenioperezjunior@gmail.com 298

302 Setembro / Outubro 2013;12(5) quality of care with safety practice, if we observe humanization principles. In addition, humanization is an important strategy to transform the praxis in continuous quality improvement, as well as improvement of working conditions. Key-words: nursing, patient, intensive care unit, humanization. Resumen El papel del enfermero en la humanización de la atención al paciente en la Unidad de Cuidados Intensivos Estudio de revisión integradora de la literatura que tuvo como objetivo describir el papel del enfermero en la humanización de la atención al paciente en la UCI y analizar la importancia de ese cuidado humanizado para el paciente. Para la investigación fueron realizadas búsquedas en las bases de datos Lilacs, Medline y Scielo. El periodo investigado fue de 2000 a 2011 y los datos analizados por análisis de contenido. Los resultados mostraron que la producción de conocimiento sobre el tema es muy incipiente, pues solo se encontraron 12 publicaciones. El enfermero tiene un papel fundamental en la humanización de la atención al paciente en la UCI, y no se puede pensar en una mejora en la calidad de la atención una práctica segura sin observar los presupuestos de la humanización. Además la humanización se constituye en importante estrategia para la transformación de la praxis con el objetivo de la mejora continua de la calidad y de las condiciones de trabajo. Palabras-clave: Enfermería, paciente, unidad de cuidados intensivos, humanización. Introdução Este estudo trata-se de uma revisão integrativa da literatura quanto à produção do conhecimento pela enfermagem relacionado ao papel do enfermeiro na humanização da assistência ao paciente na UTI. A evolução do conhecimento, da ciência e das tecnologias a partir da revolução industrial ocorrida no século XVIII, na Inglaterra, França e mais tardiamente na Alemanha, promoveram o desenvolvimento de máquinas e equipamentos que modificaram o mundo social, do trabalho e da saúde. Na área da saúde tal evolução tecnológica proporcionou melhor enfrentamento às doenças promovendo maiores recursos na manutenção da vida em casos de extrema gravidade e com consequente aumento da sobrevida da população, que culminaram na criação de locais em que é possível aumentar as chances de se recomporem as condições estáveis dos pacientes, as Unidades de Terapia Intensivas (UTI) [1]. As unidades de terapia intensiva evoluíram a partir da criação das salas de recuperação pós- -anestésicas na década de 20 [2]. Na década de 30, em Teubingen, na Alemanha, surgiram as primeiras unidades com a assistência intensiva pós-operatória [3]. Na década de 40, surgiram salas de recuperação cirúrgica em Rochester, Minnesota e Nova York e em Nova Orleans no Ochsner Clinic [4]. Nos anos 50 durante a epidemia de poliomielite houve sobrecarga dos hospitais e forçou a criação de centros regionais para o atendimento dos pacientes [5]. Estes centros de pólio levaram o impacto da tecnologia e as modernas técnicas de ventilação mecânica prolongada. No final da década de 50 em Los Angeles, foi desenvolvida a primeira unidade de choque e foi introduzida a monitorização cardiovascular invasiva dos pacientes em estado crítico e com traumatismo [6]. No Brasil, a implantação das Unidades de Terapia Intensiva teve início na década de 70, atualmente é uma unidade presente dentro do contexto hospitalar. O surgimento da prática em (UTI) marcou um dos maiores progressos obtidos pelos hospitais de nosso século, visto que, antes dela, o cuidado ao doente grave realizava-se nas próprias enfermarias, faltando, assim, área física adequada, recursos materiais e humanos para melhor qualidade desse cuidado. As unidades de terapia intensiva são consideradas como locais destinados à prestação de assistência especializada à pacientes em estado crítico, para os quais há necessidade de monitorização e controle rigoroso dos parâmetros vitais e assistência médica e de enfermagem intensiva [7]. Na UTI atuam diversos profissionais, das mais variadas áreas, dentre estes, destaca-se os profissionais de enfermagem, que são os responsáveis pelo cuidado aos pacientes graves e em risco de morte, tais como: a realização de diversos procedimentos, a constante monitorização dos pacientes, o uso de 299

303 Setembro / Outubro 2013;12(5) aparelhagens diversas, a atuação em situações de emergência, dentre outros. A dinâmica desse contexto de trabalho propicia situações cujo ritmo de trabalho é bastante intenso, em que tudo deve estar pronto e no lugar muito rápido, o que leva a uma valorização da tecnologia, impedindo que o profissional torne-se mais sensível, crítico e humanizado frente à situação do paciente [8]. A assistência prestada à pacientes em UTI é bastante polêmica. Se de um lado ela requer intervenções rápidas, de outro, não se tem dúvida de que são espaços naturalmente mobilizadores de emoções e sentimentos que frequentemente se expressam de forma muito intensa. Ser enfermeiro na UTI envolve a realização de um trabalho permeado por ambiguidades, aspectos gratificantes e limitantes que estão presentes no seu mundo e na vida [9]. Porém verifica-se que o cuidado prestado pela equipe de enfermagem em UTI ainda é orientado pelo modelo biomédico, em que a atenção é voltada para a doença e para os procedimentos técnicos, e não voltado aos sentimentos e receios do paciente e seus familiares [10]. A Unidade de Terapia Intensiva é um ambiente hospitalar destinado a pacientes graves, porém que apresentem um quadro clínico recuperável, embora, apesar de o avanço tecnológico ter possibilitado o aprimoramento do tratamento em centros de terapia intensiva, com a utilização de aparelhagens e técnicas cada vez mais sofisticadas, o índice de mortalidade ainda continua elevado. Desta maneira, criou-se um mito, por parte de alguns pacientes e seus familiares, de que este é um local destinado a pacientes que não apresentam condições de sobrevivência. O ambiente é visto muitas vezes como frio e agressivo, e os pacientes como mais graves do que possam estar na realidade [7]. A necessidade de se prestar uma assistência segura, eficaz e livre de riscos para o paciente e seus familiares vem se contrapondo a esse contexto de trabalho conduzindo os profissionais a reflexões sobre suas ações no sentido de buscar um cuidado mais digno que considerem o cliente em todas as suas dimensões: sociais, culturais, fisiológicas, psicológicas e espirituais. A humanização no campo das políticas públicas de saúde surge como uma proposta de transformação dos modelos de atenção e de gestão da saúde buscando com a participação de todos os atores envolvidos uma prática voltada ao melhor atendimento da clientela com base nas diretrizes do Sistema Único de Saúde e em consonância com os direitos humanos [11]. A política de humanização é representada pelo Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH), instituído pelo Ministério da Saúde em O PNHAH propõe um conjunto de ações integradas que visam mudar substancialmente o padrão de assistência ao usuário nos hospitais públicos do Brasil, melhorando a qualidade e a eficácia dos serviços prestados por estas instituições. Seu objetivo é aprimorar as relações entre o profissional de saúde e o usuário, dos profissionais entre si e do hospital com a comunidade [11]. Além disso, o PNHAH enfatiza que a humanização abrange circunstâncias sociais, éticas, educacionais e psíquicas que estão presentes no relacionamento humano. Logo, isso quer dizer resgatar o respeito à vida humana, privilegiando a objetividade, generalidade, causalidade e a especialização do saber, ao mesmo tempo em que se valorizam os sentimentos, sem separar os aspectos emocionais e físicos. Com base nesse pressuposto e apoiados nas teorias de enfermagem que valorizam o ser humano como um todo, percebe-se a impossibilidade de se dissociar as práticas de humanização da assistência de enfermagem de qualidade. O paciente internado na UTI necessita de cuidados de excelência, dirigidos não apenas para os problemas fisiopatológicos, mas também para as questões psicossociais, ambientais e familiares que se tornam intimamente interligadas à doença física. A essência da enfermagem em cuidados intensivos não está nos ambientes ou nos equipamentos especiais, mas no processo de tomada de decisões, baseado na sólida compreensão das condições fisiológicas e psicológicas do paciente [12]. Humanizar é uma medida que visa, sobretudo, tornar efetiva a assistência ao indivíduo criticamente doente, considerando-o como um ser biopsicossocioespiritual. Além de envolver o cuidado ao paciente, a humanização estende-se a todos aqueles que estão envolvidos no processo saúde-doença neste contexto, que são, além do paciente, a família, a equipe multiprofissional e o ambiente [13]. A humanização deve fazer parte da filosofia de enfermagem. O ambiente físico, os recursos materiais e tecnológicos são importantes, porém não mais significativos do que a essência humana. Esta, sim, irá conduzir o pensamento e as ações da equipe de enfermagem, principalmente do enfermeiro, tornando-o capaz de criticar e construir uma realidade mais humana, menos agressiva e hostil para as pessoas que diariamente vivenciam a UTI [13]. 300

304 Setembro / Outubro 2013;12(5) Considerando-se relevante o papel do enfermeiro no cuidado ao paciente crítico em Unidades de terapia intensiva e a urgente necessidade de reflexão quanto as ações desempenhadas por esse profissionais em busca de um assistência mais digna e humana, verifica-se a importância de se desvelar o conhecimento produzido pela enfermagem acerca do papel do enfermeiro na humanização da assistência ao paciente na UTI. Assim este estudo objetiva descrever o papel do enfermeiro na humanização da assistência ao paciente na UTI e analisar a importância dessa assistência humanizada para o paciente, contribuindo para uma reflexão no que diz respeito à atuação do enfermeiro na UTI. Material e métodos Este estudo descritivo exploratório, de abordagem qualitativa, foi realizado com base nos pressupostos da revisão integrativa da literatura [14]. Buscou-se através dos estudos já realizados uma maior compreensão sobre o fenômeno, a partir das diversas visões dos autores sobre o tema. A busca dos dados para a realização desta pesquisa foi realizada nos bancos de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs), na base de dados da literatura internacional da área médica e biomédica (Medline) e na Scientific Electronic Library Online (Scielo), com os seguintes descritores: Humanização e Unidade de Terapia Intensiva, isoladamente e associados, para uma melhor seleção da amostra. O recorte temporal utilizado foi de 2000 a 2011, com este período buscou-se as produções de enfermagem de maior atualidade sobre o tema. Os critérios de inclusão dos artigos definidos, inicialmente, para a presente revisão integrativa foram: artigos publicados em língua portuguesa, inglês e espanhol com os resumos disponíveis nas bases de dados Lilacs, Scielo, Medline. Não foram selecionados artigos não cadastrados nesses bancos de dados e que não possuíssem resumo disponível para consulta. Após a seleção dos artigos, esses foram submetidos à leitura e destacados suas ideias principais e achados referente ao objeto da pesquisa. Em seguida, foram agrupados em categorias pelo critério de similaridade para posterior discussão dos dados. A análise utilizada foi a análise de conteúdo [15]. Resultados e discussão Foram levantados 62 artigos indexados nos bancos de dados selecionados relacionados ao papel do enfermeiro na humanização da assistência ao paciente em UTI. Após aplicados os critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 12 artigos a partir dos quais se realizou a análise dos dados. Para contribuir com a construção dos resultados e análise dos mesmos, a amostra selecionada depois de submetida à leitura criteriosa foi agrupada através de um instrumento de coleta de dados composto por: título, autor, ano, campo, método, tipo de estudo, sujeitos e principais achados. O ano de maior publicação ocorreu em 2008 onde foram publicados 05 (41,66%) artigos. Em seguida temos 02 (16,66%) artigos publicados em 2009, 02 (16,66%) artigos publicados em 2007, 01 (08,33%) artigo publicado em 2005, 01 (08,33%) artigo publicado em 2006, 01 (08,33%) publicado em Na identificação das fontes para localização dos artigos, observa-se que os 12 (100%) artigos foram provenientes do Lilacs. Com relação ao campo do estudo, 100% dos artigos foram realizados em UTI, o que ressalta a relevância da amostra selecionada para tratar o objeto de pesquisa em questão. Ao analisar o método dos estudos, observa-se que 100% dos artigos foram do tipo qualitativo, e quanto ao tipo de estudo apenas 02 (16,66%) artigos foram do tipo revisão bibliográfica, e os outros 10 (83,33%) artigos do tipo estudo de campo. O que nos permite inferir que os dados coletados a partir dos estudos de campo apresentam maior importância cientifica, pois são construídos a partir da construção dos profissionais que vivenciam a prática. Em relação aos sujeitos dos estudos, 01 (08,33%) artigo contemplou apenas familiares, 02 (16,66%) artigos contemplaram enfermeiros e pacientes, 02 (16,66%) artigos contemplaram apenas pacientes, 05 (41,66%) artigos contemplaram apenas enfermeiros e 02 (16,66%) artigos contemplaram pacientes, familiares e enfermeiros. Desta forma, obteve-se um maior percentual de impressões acerca do tema, proveniente dos profissionais de saúde, porém sem omitir as percepções dos familiares também presentes nos trabalhos. Após a análise frequencial dos dados, os trabalhos foram categorizados por similaridade de conteúdo, com base nos seus principais achados e 301

305 Setembro / Outubro 2013;12(5) reflexões a respeito do objeto investigado, dando origem a duas categorias de análise qualitativa a seguir: O papel do enfermeiro na UTI Constatou-se que a enfermagem, maior provedora dos cuidados assistenciais especializados na UTI, tem um papel imprescindível para que a assistência seja realizada de forma holística com identificação das necessidades e expectativas em relação ao cuidado. A humanização é algo característico e inerente à enfermagem. Assim, é importante que o cuidar do enfermeiro veja a pessoa humana em sua complexidade e não apenas o cuidar tecnológico, levando em consideração os aspectos biológicos, psicológicos, sociais e espirituais vivenciados pelo paciente, ou seja, seus valores, crenças e experiências [16]. O enfermeiro pode atender as necessidades dos clientes, ajudando-os a compreender, a aceitar e a enfrentar a doença, o tratamento e as consequências que essa nova situação impõe a vida em família [16]. A empatia é ressaltada como fator importante na assistência, pois, ao se colocar no lugar do outro, o enfermeiro pode se identificar com os sentimentos da pessoa doente e reconhecer que além da dimensão biológica, outras dimensões são afetadas [17-19]. O cuidado do enfermeiro envolve verdadeiramente uma ação interativa, entre a pessoa que cuida e a que é cuidada. Assim o ato de cuidar e de assistir, implica afeto, sensibilidade, solidariedade, compaixão, doação, entre outras características pertinentes ao humanizar em saúde [20]. O enfermeiro deve realizar um adequado manuseio da sedação e analgesia na UTI, visto que dor e ansiedade são estressores importantes neste meio. É fundamental assegurar analgesia suficiente aos pacientes e um dos aspectos mais importantes, nestes casos, é a determinação individual da dor. A intensidade, à qual a dor parece insuportável, varia não somente de paciente para paciente, mas também de acordo com o grau de ansiedade e com a sua cultura [21]. Com relação à estrutura física do CTI, o enfermeiro pode criar um ambiente mais agradável por meio de iluminação natural, escolha de cores tranquilizantes, diminuição de barulhos e leitos que respeitem a privacidade, incluindo espaço para objetos pessoais [16]. A estrutura física do CTI é descrita como importante na humanização, através de iluminação natural, divisória entre os leitos, climatização, privacidade aos pacientes e familiares e posto de enfermagem centralizado. Além disso, destaca a importância da garantia de visita diária dos familiares, flexibilidade no horário de visitas, treinamentos, educação continuada, número suficiente de profissionais; reuniões da equipe com profissional da psicologia, maior envolvimento com familiares do paciente; número suficiente de funcionários para trabalhar, harmonia entre a equipe de enfermagem [18]. Constata-se que o enfermeiro tem papel imprescindível na promoção da humanização da assistência ao paciente na UTI, pois é profissional que mais se relaciona com o paciente tanto objetivamente através do cuidado como subjetivamente através de espaços relacionais, onde estão mais presentes as questões sociopsicoculturais e espirituais, que são pouco valorizadas no modelo biomédico vigente. A importância da humanização em UTI Ao se analisar a importância da humanização na assistência ao paciente na UTI, verifica-se nas produções em consonância com a própria definição de humanização que sua importância está intimamente ligada à mudança no modelo de prestação do cuidado, na transformação das ações profissionais e na promoção de assistência de qualidade ao paciente. As ações de humanização são descritas como importantes à medida que há mudança de atitude dos profissionais tanto no cuidado direto ao paciente, nos aspectos interacionais e humanos do cuidado, como na atenção, na cortesia, na delicadeza, na prontidão, nas solicitações e na comunicação efetiva. Quanto à manutenção de uma estrutura física e ambiental, que promova o conforto e diminua os riscos, elas acabam por promover qualidade na assistência prestada, assim como, o bem estar, objetivo maior do cuidado de enfermagem [17]. Estudos [22,23] apontam a importância da humanização na produção de transformações no processo de trabalho, uma vez que a reflexão dos profissionais e a transformação das práticas em direção às questões humanísticas conduzem ao desenvolvimento de novas tecnologias leves como acolhimento que contribuem para minimizar o estresse vivido pela família e o paciente na UTI. A humanização na UTI transforma o cuidado em um sentido multidimensional, não apenas assistir no sentido confinado ao ato de olhar, de ver, mas tornando-o uma atividade provida de sen- 302

306 Setembro / Outubro 2013;12(5) timentos, responsabilidade, sensibilidade, ou seja, o cuidado pressupõe uma relação à pessoa e não a individualidade [24]. Na UTI, a humanização é importante, já que se deve considerar o paciente como um todo, pois seu estado emocional pode estar tão comprometido quanto seu físico. A equipe de saúde deve estar preparada para uma assistência humanizada, estimulando o autocuidado, na medida em que o tipo de atendimento recebido dos profissionais de saúde também influencia os sentimentos das pessoas internadas [25]. Verifica-se que o processo de humanização da assistência em UTI é uma importante estratégia que contribui para a melhoria das condições de trabalho e da qualidade da assistência prestada ao paciente, pois promove transformações que propiciam uma assistência segura e eficaz ao paciente e o desenvolvimento e valorização do profissional de enfermagem. Conclusão As Unidades de Terapia Intensiva foram concebidas graças à evolução tecnológica e são um grande marco no tratamento ao paciente portador de doenças graves. Sua contribuição para melhoria da qualidade de vida e do tratamento dos pacientes é inegável. No entanto, devido a sua estrutura voltada ao modelo de atenção biomédico, cujo enfoque de maior valorização é o biológico, acabam por imprimir um ambiente onde as questões subjetivas dos pacientes e familiares são pouco valorizados, como sentimentos, emoções, comunicação entre outros em detrimento do mecanicismo biomédico. O enfermeiro, como membro da equipe que atua na UTI e responsável pela prestação do cuidado ao paciente e sua família, acaba por sofrer na sua prática diária também a influência deste modelo tendo suas ações voltadas para a valorização da objetivação dos sinais clínicos, pouco valorizando a subjetividade e individualidade humana do paciente e da família. A humanização desponta como uma estratégia política de transformação do modelo assistencial prestado e da gestão dos serviços, voltados à valorização do paciente como um todo holístico e a promoção de uma assistência de qualidade. Sendo o enfermeiro o profissional que maior relação estabelece com o paciente e o seu familiar, torna-se indissociável a práxis do cuidado sem a observância dos pressupostos da humanização. O estudo nos permitiu concluir, apesar de suas limitações como: não considerar os artigos não indexados ou não coletar os artigos que estavam em vias de publicações ou teses e dissertações ainda não publicadas, que a produção do conhecimento acerca do tema é bastante incipiente reduzindo-se a 12 publicações. Observou-se com a análise dos trabalhos que o enfermeiro tem papel fundamental na promoção da humanização da assistência ao paciente na UTI e que não há como dissociar a melhoria da qualidade da assistência uma práxis segura e livre de iatrogenias sem a observância dos pressupostos da humanização da assistência em todos os aspectos. Quanto à importância da humanização da assistência para o enfermeiro, pode-se concluir que esta é uma importante estratégia para transformação da práxis em direção à melhoria constante da qualidade, assim como a melhoria das condições de trabalho. Assim promovendo uma assistência digna, humana tanto para o paciente quanto para o profissional. Ressalta-se que novas pesquisas sobre o tema devem ser realizadas principalmente os estudos de campo que muito poderão contribuir para desvelar as questões acerca da humanização da assistência na UTI vivenciadas pelos pacientes, profissionais e familiares, contribuindo para uma visão múltipla sobre o fenômeno. Referências 1. Costa SC, Figueiredo MRB, Schaurich D. Humanização em Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI): compreensões da equipe de enfermagem. Interface - Comunic Saude Educ 2009;13(1): Weil MH, Planta MV, Rackow EC. Terapia intensiva: introdução e retrospectiva histórica. In: Schoemaker WC. et al. Tratado de Terapia Intensiva 1992; p Griffin GJ, Griffin HJK. Jensens History and Friends of Professional. Nursing 1965;11: Hilberman M. The evolution of the intensive care unit. Crit Care Med 1975;3: Emerson JH. AACN Organization and management of critical facilities. Nursing 1979; Weil MH, Shubin H, Carlson RW. The new practice of critical care medicine. Critical Care Medicine, Current Principles and Practice 1976; Souza M, Possari JF, Mugaiar KHB. Humanização da abordagem nas unidades de terapia intensiva. Rev Paul Enferm 1985;5(2): Pinho LB, Santos SMA. Dialética do cuidado humanizado na UTI: contradições entre o discurso e a prática profissional do enfermeiro. Rev Esc Enferm USP 2008;42(1):

307 Setembro / Outubro 2013;12(5) 9. Correa AK. Sendo enfermeira no Centro de Terapia Intensiva. Rev Bras Enferm 1995;48(3): Nascimento ERP, Trentini M. O cuidado de enfermagem na unidade de terapia intensiva (UTI): teoria humanística de Paterson e Zderad. Rev Latinoam Enferm 2004;12(2): Ministério da Saúde. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Brasília: Ministério da Saúde; Hudak CM, Gallo BM. Efeitos da unidade de terapia intensiva sobre o enfermeiro. In: Hudak CM, Gallo BM. Cuidados intensivos de Enfermagem: uma abordagem holística. 6ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; p Vila VSC, Rossi LA. O significado cultural do cuidado humanizado em unidade de terapia intensiva: muito falado e pouco vivido. Rev Latinoam Enferm 2002;10(2): Ursi ES. Prevenção de lesões de pele no perioperatório: revisão integrativa da literatura [Dissertação] f. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; f. 15. Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa: Editora 70; Furuya RK, Birolim MM, Biazin DT, Rossi LA. A integralidade e suas interfaces no cuidado ao idoso em unidade de terapia intensiva. Rev Enferm UERJ 2011;19(1): Silva RCL, Porto IS, Figueiredo NMA. Reflexões acerca da assistência de enfermagem e o discurso de humanização em terapia intensiva. Esc Anna Nery Rev Enferm 2008;12(1): Costa SC, Figueiredo MRB, Schaurich D. Humanização em Unidade de Terapia Intensiva Adulto (UTI): compreensões da equipe de enfermagem. Interface Comunic Saude Educ 2009;13(1) Oliveira R, Maruyama SAT. Princípio da integralidade numa UTI pública: espaço e relações entre profissionais de saúde e usuários. Rev Eletr Enferm 2009;11(2): Pina RZ, Lapchinsk LF, Pupulim JSL. Percepção de pacientes sobre o período de internação em unidade de terapia intensiva. Ciênc Cuid Saúde 2008;7(4): Bitencourt AGV, Neves FBCS, Dantas MP, Albuquerque LC, Melo RMV, et al. Análise de estressores para o paciente em Unidade de Terapia Intensiva. Rev Bras Ter Intensiva 2007;19(1): Beccaria LM, Ribeiro R, Souza GL, Scarpetti N, Contrin LM, Rodrigues AMS. Visita em Unidades de Terapia Intensiva: concepção dos familiares quanto a humanização do atendimento. Arq Cienc Saude 2008;15(2): Pinho LB, Santos SMA. Dialética do cuidado humanizado na UTI: contradições entre o discurso e a prática profissional do enfermeiro. Rev Esc Enferm USP 2008;42(1): Salicio DMB, Galva MAM. O significado de humanização da assistência para enfermeiros que atuam em UTI. Rev Eletr Enferm 2006;8(3): Cesarino CB., Rodrigues MAS, Mendença RCHR, Correa LCL, Amorim RC. Percepções dos pacientes em relação à Unidade Terapia Intensiva. Arq Cienc Saúde 2005;12(3):

308 Relato de experiência Ações educativas desenvolvidas em um grupo de idosos Tatiane Marinz de Souza*, Amanda Portugal de A. Moreira*, Eleinne Felix Amin*, Lívia Bertasso Araújo*, André Luiz de Souza Braga, M.Sc.**, Deise Ferreira Souza, M.Sc.** *Acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem (Bacharelado e Licenciatura) da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, **Professor da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro, Membro e pesquisador do NECIGEN Núcleo de Estudos em Cidadania e Gerência em Enfermagem Resumo Objetivo: Relatar uma experiência vivenciada pelas acadêmicas de enfermagem da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, Universidade Federal Fluminense, na Policlínica Regional do Largo da Batalha, Niterói/RJ, no grupo de idosos, por meio da educação em saúde. Material e métodos: Trata-se de um estudo qualitativo do tipo relato de experiência realizado com grupo de idosos durante dois dias do mês de outubro de Resultados: Através das atividades lúdicas percebemos a receptividade dos idosos e a aderência a essas ações. Conseguimos atingir bons níveis de saúde mental e física através de uma maior integração e participação, despertando alegria, satisfação e aumento do desejo de viver. O trabalho em equipe, de forma lúdica, desperta o desejo de desfrutar a vida, incorporando novas atitudes e valores de convivência. Adquirir informações de formato diferenciado melhora as tensões emocionais, proporcionando autocontrole e confiança. Conclusão: As práticas de ações educativas propiciam uma melhoria sensível da qualidade de vida com implicações sociais, psíquicas e fisiológicas. Palavras-chave: educação em saúde, enfermagem, gerontologia, ludoterapia. Abstract Educational actions developed in a group of elderly Objective: To report an experience of nursing students at the School of Nursing Aurora de Afonso Costa, Universidade Federal Fluminense, in the Regional Medical Clinic in Largo da Batalha, Niterói/RJ, in a group of elderly, through health education. Methods: This is a qualitative study with experience report approach conducted with elderly group during two days of October Results: Through the activities we perceive the receptivity of the elderly, and adherence to these actions. We achieved good levels of mental and physical health through higher integration and participation, awakening joy, satisfaction and increased desire to live. The teamwork, in a ludic behavior, awakens the desire to enjoy life, incorporating new attitudes and values of life. Acquiring new information in a different way improves the emotional Artigo recebido em 23 de julho de 2012; aceito em 27 de setembro de Endereço de correspondência: André Luiz de Souza Braga, Rua Dr. Celestino, 74/4º andar, Niterói RJ, andre.braga@globo.com 305

309 Setembro / Outubro 2013;12(5) tensions and provides self-confidence. Conclusion: Educational practices provide a substantial improvement in quality of life in social, psychological and physiological aspects. Key-words: health education, nursing, gerontology, play therapy. Resumen Acciones educativas desarrolladas en un grupo de ancianos Objetivo: Comunicar una experiencia para los estudiantes de enfermería en la Escuela de Enfermería Aurora de Afonso Costa, Universidade Federal Fluminense, en la Policlínica Regional de Clínica Médica en Largo da Batalha, Niterói/RJ, en el grupo de ancianos, a través de educación para la salud. Material e métodos: Se realizó un estudio cualitativo del tipo relato de experiencia llevada a cabo por el grupo de ancianos durante dos días del mes de octubre de Resultados: A través de las actividades percibimos la receptividad de los ancianos, y la adhesión a estas acciones. Hemos logrado buenos niveles de salud física y mental a través de una mayor integración y participación, despertando alegría, satisfacción y el deseo de vivir. El trabajo en equipo de una manera más lúdica despierta el deseo de disfrutar de la vida, la incorporación de nuevas actitudes y valores de convivencia. La adquisición de información de una manera diferente mejora las tensiones emocionales y proporciona autocontrol y confianza. Conclusión: La práctica de actividades educativas proporciona una mejora sustancial en la calidad de vida en los aspectos social, psicológico y fisiológico. Palabras-clave: educación para la salud, Enfermería, gerontología, terapia de juego. Introdução O isolamento social dos idosos ocorre devido a certas exigências do meio, e a modificação das circunstâncias do dia a dia, que os levam a perderem a iniciativa, a motivação, a se sentirem bloqueados e inseguros [1]. Resultando em idosos depressivos, descontentes e sozinhos, levando a uma adaptação e aceitação difícil pelo indivíduo. Como um meio de proporcionar mais vigor físico, socialização, dentre outros tipos de ações, as práticas em grupo aparecem como grandes aliadas para proporcionar saúde, bem-estar e integração social, assim como o fortalecimento da autoestima e do autoconceito, retomada de condições de independência, proporcionando-lhes autonomia. O presente trabalho relata as experiências vivenciadas na Policlínica Regional do Largo da Batalha, Niterói/RJ, Brasil, através de atividades educativas com grupos de idosos, as quais se desenvolveram durante o ensino teórico-prático da disciplina Enfermagem no Gerenciamento da Assistência em Saúde I, do 6º período, acompanhadas pelo professor responsável, da Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa (EEAAC) da Universidade Federal Fluminense (UFF). A policlínica atende uma grande demanda de idosos, os quais participam das atividades desenvolvidas e buscam o local, pois acreditam no serviço e atendimento oferecido. O grupo foi criado a partir da observação da população local assistida, com o objetivo de reintegrá-los na sociedade para que eles possam levar uma vida produtiva, estimulá-los a serem idosos ativos, informá-los sobre prevenção e tratamento de doenças crônicas decorrentes da idade, aumentar a adesão ao tratamento de doenças como diabetes e hipertensão, desmistificar mitos e tabus e fazer dos encontros um momento de alegria e diversão. Este estudo torna-se relevante a partir do momento que entendemos que a educação em saúde pode transformar o cotidiano dos indivíduos trazendo hábitos saudáveis e dessa forma tornar cada indivíduo um multiplicador desse aprendizado adquirido, possibilitando escolhas mais saudáveis [2]. Os profissionais de enfermagem que exercem suas atividades em atenção básica de saúde têm por responsabilidade repassar orientações e informações sobre a saúde da população. Segundo o Estatuto do Idoso é assegurada a atenção integral à saúde do idoso, por intermédio do Sistema Único de Saúde (SUS), garantindo- -lhe o acesso universal e igualitário, em conjunto articulado e contínuo das ações e serviços, para a prevenção, promoção, proteção e recuperação da saúde. Esses devem participar das comemorações de caráter cívico ou cultural, para transmissão de conhecimentos e vivências às demais gerações, no sentido da preservação da memória e da identidade cultural [3]. 306

310 Setembro / Outubro 2013;12(5) A Política Nacional de Saúde do Idoso segundo a Lei N.º de 1996 tem como diretrizes essenciais a promoção do envelhecimento saudável; a manutenção e a melhoria da capacidade funcional deles; a prevenção de doenças e assistência às necessidades e a recuperação de saúde dos que adoecem e a reabilitação da capacidade funcional restringida, garantindo-lhes permanência no meio em que vivem, exercendo de forma independente suas funções na sociedade, valorizando a autonomia ou autodeterminação e a preservação da independência física e mental do idoso [4]. A responsabilidade de favorecer a autonomia dos idosos é de toda sociedade e principalmente dos profissionais de saúde. Assim, os principais motivos das medidas preventivas na terceira idade é melhorar a saúde e a qualidade de vida, de modo que eles tenham suas atividades menos afetadas por doenças crônicas. É importante que as pessoas não percam o interesse pelas alegrias da vida mesmo na velhice extrema, é essencial que prossigam desenvolvendo tarefas físicas e intelectuais e que a sociedade continue a se beneficiar com sua eficiência. Para isso, a vivência, o jogo, o lúdico, viabilizado através de dinâmicas de grupos possibilitam o surgimento das condições propícias para a constituição do grupo e do ensino-aprendizagem [5]. A abordagem lúdica facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização comunicação, expressão e construção do conhecimento [6]. Desta maneira, a utilização do lúdico em atividades dinâmicas coletivas ou individuais, pode gerar a estimulação pessoal, promover a qualidade de vida dos idosos, bem como manter um relacionamento mais amigável com eles. As atividades lúdicas para os idosos possuem boa aceitação por estes, despertando seu interesse, pois gera prazer, equilíbrio emocional, desenvolvimento social e levam o indivíduo à autonomia sobre seus atos e pensamentos. Além disso, abre as portas para situações estimulantes dentro de suas atividades, buscando diminuir as resistências ao tato, ao contato, ao movimento e ao prazer pela vida, podendo ser um dos aspectos favoráveis à melhor qualidade de vida. Estes benefícios contemplam os aspectos sociais, emocionais e motivacionais, e correlaciona-se com o envelhecimento bem sucedido [7]. Diante do que foi exposto, o propósito deste estudo foi relatar uma experiência vivenciada pelas acadêmicas de enfermagem da EEAAC/UFF na Policlínica Regional do Largo da Batalha no grupo de idosos, por meio da educação em saúde, visando à promoção da mesma através de atividades lúdicas, para assim transmitir conhecimento para essa promoção de uma forma leve e dinâmica, obtendo uma melhor aprendizagem e promovendo não somente a saúde mental como a física. Material e métodos Trata-se de um estudo qualitativo, que consiste em uma pesquisa que se ocupa nas Ciências Sociais, com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado, uma vez que trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes [8], no qual fizemos um relato de experiência de uma atividade educativa, desenvolvida por um grupo de acadêmicas de enfermagem, nutrição e uma profissional da odontologia com o grupo de idosos já existentes na Policlínica Comunitária do Largo da Batalha, Niterói/RJ, Brasil. A Policlínica opera de forma ambulatorial e emergencial. Dentro do setor ambulatorial são realizados grupos com a finalidade de promoção da saúde e prevenção de doenças. Um desses grupos existentes é o dos idosos participantes do HiperDia [9], um sistema informatizado que permite cadastrar e acompanhar os portadores de hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus, doenças comuns em idosos, captados e vinculados às unidades de saúde. A ideia de realizar essas atividades emergiu de um convite realizado pela enfermeira da unidade para que nós, alunas do ensino teórico prático da disciplina Gerenciamento da Assistência em Saúde I, participássemos da festa da primavera, que ocorre todo ano para os idosos do grupo. Surgiu então à ideia de fazermos educação em saúde de uma forma lúdica e dinâmica, na qual os idosos participariam ativamente e realizaríamos educações em saúde de uma forma diferenciada. Resultados e discussão As atividades lúdicas, dentre elas, canto e dança, foram realizadas dentro das dependências da policlínica, onde, normalmente, ocorrem as reuniões do grupo. Neste contexto, 19 de 20 idosos participantes da pesquisa, quando indagados sobre a importância de participar em atividades educati- 307

311 Setembro / Outubro 2013;12(5) vas, que estavam inseridas no lúdico e lazer, estes idosos afirmaram aprender várias coisas, sentiam-se importantes, valorizados, incentivados e animados e que podiam fazer novas amizades. Com isso, além de se divertirem, de se distraírem e de se sentirem bem, esses idosos acreditam ser este um jeito novo e válido de aprender a viver [10]. Já conhecendo o programa de extensão da UFF, Saudarte que visa promover a saúde e prevenir doenças, criando paródias, cantando, dançando e fazendo animações a partir de temas variados, proporcionando assim, um show interativo e lúdico onde os participantes e o público se divertem e aprendem [11], escolhemos três músicas de autoria deles sobre hipertensão, diabetes e osteoporose para cantarmos, e nos caracterizamos com acessórios e fantasias para divertir e utilizar a educação lúdica. Esta atividade de educação lúdica em saúde ocorreu em dois dias do mês de outubro de 2011 e teve a participação de profissionais de outras áreas, como nutrição e odontologia. Juntamente conosco, o grupo de acadêmicas de nutrição realizaram também atividades como: jogo da memória e uma pirâmide da alimentação, visando ensinar qual eram as prioridades na alimentação. Também foi realizada uma palestra com uma profissional de odontologia, falando sobre a higiene oral. Através das atividades propostas pelas acadêmicas de nutrição, a profissional de odontologia e por fim, nós acadêmicas de enfermagem, percebemos a receptividade dos idosos, e a aderência a essas ações. Percebemos que através do trabalho com paródias referentes a doenças comuns do idoso, desenvolvido por nós, acadêmicas de enfermagem, o jogo trabalhando a alimentação, desenvolvido pelas acadêmicas de nutrição, e a palestra dada pela profissional de odontologia, atingimos vários objetivos para a promoção da saúde e a prevenção de doenças, tais como, melhor compreensão de seu processo saúde/doença e corresponsabilidade [12]. Além disso, trabalhamos para atingir bons níveis de saúde mental e física através de uma maior integração e participação, despertando alegria, satisfação e aumento do desejo de viver. O trabalho em equipe de uma forma mais lúdica desperta o desejo de desfrutar a vida, incorporando novas atitudes e valores de convivência, já que percebemos que muitos idosos participam daquele grupo pelo simples fato de ser uma forma de distração e uma atividade para eles. Adquirir novas informações de uma forma diferente melhora as tensões emocionais proporcionando autocontrole e confiança. Conclusão Os efeitos da diminuição natural do desempenho do idoso podem ser atenuados se forem desenvolvidos com os mesmos programas de atividades educativas que além de educar sobre a própria saúde visem à melhoria das capacidades motoras, sociais, emocionais e intelectuais que apóiam a realização de sua vida cotidiana. Em nossos encontros com os idosos na Policlínica Regional do Largo da Batalha foi favorecida aos mesmos a oportunidade de obterem informações sobre cuidados com a saúde, bem como foram geradas condições de lazer. Além disso, também foi resgatada a importância da ocupação com finalidade de estimular o idoso para a vida e as atividades, resgatando a vontade de viver, com isso tornando a velhice mais ativa e saudável, e mantendo um bom nível de sua autonomia. Percebemos a aceitação por parte dos idosos nas realizações das atividades, o que é fundamental para estes aprender a lidar com as transformações de seu corpo e tirar proveito de sua condição, resgatando assim a sua cidadania. Dessa forma concluímos que as práticas de ações educativas propiciam uma melhoria sensível da qualidade de vida com implicações sociais, psíquicas e fisiológicas. Por fim, podemos concluir que a metodologia adotada pela disciplina de Enfermagem no Gerenciamento da Saúde I nos permitiu promover estratégias que geraram um ensino de qualidade, voltado para a gerência de unidade básica de saúde, com estratégias inovadoras, nos demonstrando o papel do gestor e enfatizando sua importância quando se faz presente e participativo junto aos clientes, gerenciando o cuidado e atuando com foco no processo de gestão e não na burocratização das ações. Referências 1. Simões R. Corporeidade e terceira idade: a marginalização do corpo idoso. Piracicaba: Unimep; Valla VV, Stotz EN. Educação, Saúde e Cidadania. 2ª ed. Rio de Janeiro: Vozes; Ministério da Saúde. Estatuto do Idoso. Legislação de Saúde (Art. 15. e Art º). 1ª ed. Brasília: MS; Ministério da Saúde. Lei N.º Portaria n.º 1.395/ GM, em 10 de dezembro de Política nacional de saúde do idoso. Brasília: MS;

312 Setembro / Outubro 2013;12(5) 5. Moura LF, Camargos AT. Atividades educativas como meio de socialização de idosos institucionalizados. Anais do 8º encontro de extensão da UFMG, Oliveira E, Rodrigues MS, Souza RS, Guimarães AR. O lúdico na educação de jovens e adultos. [citado 2011 Nov 24]. Disponível em URL: 7. Mendes MCDG, Siqueira FC. Práticas corporais, perspectivadas no lazer, com idosos: sentidos de (nova) vida, Anais do XVI Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte e III Congresso Internacional de Ciências do Esporte Salvador - Bahia, Minayo MCS. Pesquisa Social. 29ª ed. Petrópolis: Vozes; p Valle WAC, Silva CS, Braga ALS, Rosas AMMTF. Hiperdia, sistema de informação em saúde, produção de conhecimento para melhoria da prática de Enfermagem na Atenção Básica. Revista Enfermagem Brasil 2011;10(2): Gáspari JC, Schwartz GM. O idoso e a ressignificação emocional do lazer. Psic: Teor Pesq 2005;21(1): Projeto de extensão Saudarte. Universidade Federal Fluminense. [citado 2011 Nov 20]. Disponível em URL: Leonardi LC, Rodrigues AL. Caixa lúdica para idosos: processo de construção como procedimento clínico e sua contribuição na qualidade do vínculo. Psicologia USP 2012;23(2):

313 Setembro / Outubro 2013;12(5) Normas de publicação Enfermagem Brasil 310 A revista Enfermagem Brasil é uma publicação com periodicidade bimestral e está aberta para a publicação e divulgação de artigos científicos das áreas relacionadas à Enfermagem. Os artigos publicados em Enfermagem Brasil poderão também ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) assim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros que surjam no futuro, sendo que pela publicação na revista os autores já aceitem estas condições. A revista Enfermagem Brasil assume o estilo Vancouver (Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedical journals) preconizado pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas, com as especificações que são detalhadas a seguir. Ver o texto completo em inglês desses Requisitos Uniformes no site do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), na versão atualizada de outubro de 2007 (o texto completo dos requisitos está disponivel, em inglês, no site de Atlântica Editora em pdf). Os autores que desejarem colaborar em alguma das seções da revista podem enviar sua contribuição (em arquivo eletrônico/ ) para nossa redação, sendo que fica entendido que isto não implica na aceitação do mesmo, o que será notificado ao autor. O Comitê Editorial poderá devolver, sugerir trocas ou retorno de acordo com a circunstância, realizar modificações nos textos recebidos; neste último caso não se alterará o conteúdo científico, limitando-se unicamente ao estilo literário. 1. Editorial Trabalhos escritos por sugestão do Comitê Científico, ou por um de seus membros. Extensão: Não devem ultrapassar três páginas formato A4 em corpo 12 com a fonte Times New Roman com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc; a bibliografia não deve conter mais que dez referências. 2. Artigos originais São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando dados originais de descobertas com relaçaõ a aspectos experimentais ou observacionais, e inclui análise descritiva e/ou inferências de dados próprios. Sua estrutura é a convencional que traz os seguintes itens: Introdução, Métodos, Resultados, Discussão e Conclusão. Texto: Recomendamos que não seja superior a 12 páginas, formato A4, fonte English Times (Times Roman) tamanho 12, om todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. O total de caracteres não deve ultrapassar / caracteres, inclusos espaçamentos. Tabelas: Considerar no máximo seis tabelas, no formato Excel/Word. Figuras: Considerar no máximo 8 figuras, digitalizadas (formato.tif ou.gif) ou que possam ser editados em Power- Point, Excel, etc. Bibliografia: É aconselhável no máximo 50 referências bibliográficas. Os critérios que valorizarão a aceitação dos trabalhos serão o de rigor metodológico científico, novidade, interesse profissional, concisão da exposição, assim como a qualidade literária do texto. 3. Revisão São trabalhos que versem sobre alguma das áreas relacionadas à Enfermagem, que têm por objeto resumir, analisar, avaliar ou sintetizar trabalhos de investigação já publicados em revistas científicas. Quanto aos limites do trabalho, aconselha-se o mesmo dos artigos originais. 4. Atualização São trabalhos que relatam informações geralmente atuais sobre tema de interesse dos profissionais de Enfermagem (novas técnicas, legislação, por exemplo) e que têm características distintas de um artigo de revisão. 5. Relato de caso São artigos dados descritivos de um ou mais casos explorando um método ou problema através de exemplo. Apresenta as características do indivíduo estudado, com indicação de sexo, idade e pode ser realizado em humano ou animal. 6. Comunicação breve Esta seção permitirá a publicação de artigos curtos, com maior rapidez. Isto facilita que os autores apresentem observações, resultados iniciais de estudos em curso, e inclusive realizar comentários a trabalhos já editados na revista, com condições de argumentação mais extensa que na seção de cartas do leitor. Texto: Recomendamos que não seja superior a três páginas, formato A4, fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, etc. Tabelas e figuras: No máximo quatro tabelas em Excel e figuras digitalizadas (formato.tif ou.gif) ou que possam ser editados em Power Point, Excel, etc Bibliografia: São aconselháveis no máximo 15 referências bibliográficas. 7. Resumos Nesta seção serão publicados resumos de trabalhos e artigos inéditos ou já publicados em outras revistas, ao cargo do Comitê Científico, inclusive traduções de trabalhos de outros idiomas. 8.Correspondência Esta seção publicará correspondência recebida, sem que necessariamente haja relação com artigos publicados, porém relacionados à linha editorial da revista. Caso estejam relacionados a artigos anteriormente publicados, será enviada ao autor do artigo ou trabalho antes de se publicar a carta. Texto: Com no máximo duas páginas A4, com as especificações anteriores, bibliografia incluída, sem tabelas ou figuras. PREPARAÇÃO DO ORIGINAL 1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador de texto (Word), em página de formato A4, formatado da seguinte maneira: fonte Times New Roman, tamanho 12, com todas as formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc.

314 Setembro / Outubro 2013;12(5) 1.2 Numere as tabelas em romano, com as legendas para cada tabela junto à mesma. 1.3 Numere as figuras em arábico, e envie de acordo com as especificações anteriores. As imagens devem estar em tons de cinza, jamais coloridas, e com qualidade ótima (qualidade gráfica 300 dpi). Fotos e desenhos devem estar digitalizados e nos formatos.tif ou.gif. 1.4 As seções dos artigos originais são estas: resumo, introdução, material e métodos, resultados, discussão, conclusão e bibliografia. O autor deve ser o responsável pela tradução do resumo para o inglês e o espanhol e também das palavraschave (key-words). O envio deve ser efetuado em arquivo, por meio de disquete, zip-drive, CD-ROM ou . Para os artigos enviados por correio em mídia magnética (disquetes, etc) anexar uma cópia impressa e identificar com etiqueta no disquete ou CD-ROM o nome do artigo, data e autor, incluir informação dos arquivos, tais como o processador de texto utilizado e outros programas e sistemas. 2. Página de apresentação A primeira página do artigo apresentará as seguintes informações: - Título em português, inglês e espanhol. - Nome completo dos autores, com a qualificação curricular e títulos acadêmicos. - Local de trabalho dos autores. - Autor que se responsabiliza pela correspondência, com o respectivo endereço, telefone e . - Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para paginação. - As fontes de contribuição ao artigo, tais como equipe, aparelhos, etc. 3. Autoria Todas as pessoas consignadas como autores devem ter participado do trabalho o suficiente para assumir a responsabilidade pública do seu conteúdo. O crédito como autor se baseará unicamente nas contribuições essenciais que são: a) a concepção e desenvolvimento, a análise e interpretação dos dados; b) a redação do artigo ou a revisão crítica de uma parte importante de seu conteúdo intelectual; c) a aprovação definitiva da versão que será publicada. Deverão ser cumpridas simultaneamente as condições a), b) e c). A participação exclusivamente na obtenção de recursos ou na coleta de dados não justifica a participação como autor. A supervisão geral do grupo de pesquisa também não é suficiente. 4. Resumo e palavras-chave Na segunda página deverá conter um resumo (com no máximo 150 palavras para resumos não estruturados e 200 palavras para os estruturados), seguido da versão em inglês e espanhol. O conteúdo do resumo deve conter as seguintes informações: - Objetivos do estudo. - Procedimentos básicos empregados (amostragem, metodologia, análise). - Descobertas principais do estudo (dados concretos e estatísticos). - Conclusão do estudo, destacando os aspectos de maior novidade. Em seguida os autores deverão indicar quatro palavraschave para facilitar a indexação do artigo. Para tanto deverão utilizar os termos utilizados na lista dos DeCS (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da Saúde, que se encontra no endereço internet seguinte: Na medida do possível, é melhor usar os descritores existentes. 5. Agradecimentos Os agradecimentos de pessoas, colaboradores, auxílio financeiro e material, incluindo auxílio governamental e/ou de laboratórios farmacêuticos devem ser inseridos no final do artigo, antes as referências, em uma secção especial. 6. Referências As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver definido nos Requisitos Uniformes. As referências bibliográficas devem ser numeradas por numerais arábicos entre parênteses e relacionadas em ordem na qual aparecem no texto, seguindo as seguintes normas: Livros - Número de ordem, sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, ponto, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente do capítulo), ponto, título do livro, ponto, local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto. Exemplos: Livro: May M. The facial nerve. New-York: Thieme; 1986 Capítulo ou parte de livro: Phillips SJ. Hypertension and Stroke. In: Laragh JH, editor. Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management. 2nd ed. New-York: Raven Press; p Artigos Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pontos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no site da Biblioteca Virtual de Saúde ( Devem ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6, colocar a abreviação latina et al. Exemplo: Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and localization of urokinase-type plasminogen activator receptor in human gliomas. Cancer Res 1994;54: Os artigos, cartas e resumos devem ser enviados para: artigos@atlanticaeditora.com.br 311

315 Setembro / Outubro 2013;12(5) Calendário de eventos 2014 Março 27 a 29 de março Congresso Internacional de Enfermagem de Reabilitação Coimbra, Portugal Informações: 27 a 30 de abril 4º Seminário Nacional de Diretrizes de Enfermagem Campo Grande, RS Informações: Maio Abril 4 e 5 de abril Brasilenf: Ser Enfermeiro: os desafios da profissão Salvador, BA Informações: 10 a 12 de abril I Congresso Internacional Sobre Segurança do Paciente - ISMP Brasil V Fórum Internacional Sobre Segurança do Paciente e Erros de Medicação Ouro Preto, MG Informações: (31) de maio 24th Conferencie of the European Wound Management Association X Simposio Nacional sobre Ulceras por Presión y Heridas Crónicas Madrid, Espanha Informações: 27 a 30 de outubro 66º Congresso Brasileiro de Enfermagem Belém, PA Informações: Outubro 312

316 EDITORIAL A Enfermagem no processo embrionário da Fisioterapia, Silvio Jorge Chaim Melhado ARTIGOS ORIGINAIS Informações relacionadas ao câncer de próstata de homens que frequentam a feira livre, José Dionísio de Paula Júnior, José Cerqueira Barros Júnior, Fabiana Aparecida Pacheco, Ronilda Lopes de Almeida Souza Informar o óbito aos familiares: significados e sentimentos dos enfermeiros, Kamila Alessandra Maia, Ana Maria Nassar Cintra Soane, Aldaíza Ferreira Antunes Fortes Estresse ocupacional em equipe multiprofissional atuante na área neonatal e pediátrica de um hospital materno infantil, Monique Colli, Fernanda Paula Cerântola Siqueira, Antonio Carlos Siqueira Junior Elaboração de um guia de atendimento a pacientes com crise hipertensiva para enfermeiros, Marcel Batista Botossi, Carolina Vivian Gianvecchio, Regimar Carla Machado Crença e religiosidade: auxílio à equipe de enfermagem no enfrentamento da morte do paciente cirúrgico, Gisele da Cruz Ferreira, Anna Maria de Oliveira Salimena, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo REVISÕES Enfermagem BRASIL Índice Volume 11 número 6 - Novembro / Dezembro de 2013 A supervisão como ferramenta gerencial para a produção do cuidado em UTI: uma reflexão do agir do enfermeiro, André Henrique do Vale de Almeida, Magno Conceição das Merces, Maria Lúcia Silva Servo Qualidade de vida e instrumentos de avaliação em saúde materna, Rosalinda Asenjo López Berti, Lislaine Aparecida Fracolli, Danielle Freitas Alvim de Castro A assistência do enfermeiro intensivista frente à dor e o estresse no recém-nascido prematuro durante procedimentos dolorosos, Letícia Rocha Marques Zanela, Gisele Aparecida Fófano CALENDÁRIO DE EVENTOS NORMAS DE PUBLICAÇÃO...375

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