Popper, Kuhn e as Ciências Sociais

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1 e-issn Popper, Kuhn e as Ciências Sociais Gilberto Leocádio de Lima Filho, UESB* gilberto.leocadio@bol.com.br Recebido em: 15/11/2014 Aceito em: 30/11/2014 Publicado: 30/12/2014 Resumo. Este ensaio tem por objetivo refletir sobre as questões epistemológicas propostas por dois grandes teóricos: Karl Popper e Thomas Kuhn e como esta discussão se insere nos problemas sobre cientificidade das ciências sociais. Os teóricos supracitados estavam preocupados em estabelecer uma demarcação entre uma ciência de uma pseudociência. Ao estabelecerem critérios de cientificidade praticamente colocaram as ciências sociais numa condição de marginalidade. A análise do ensaio busca responder porque alguns cientistas sociais são tão entusiastas com a epistemologia de Kuhn e tão reticente quanto a de Popper, já que o primeiro é mais radical na marginalização das ciências sociais do que o segundo. Palavras-chaves: Ciência. Karl Popper. Thomas Kuhn. POPPER, KUHN AND THE SOCIAL SCIENCES Abstract. This paper reflects on the epistemological issues proposed for two major theorists: Karl Popper and Thomas Kuhn and how this discussion is included on scientific problems in the social sciences. The abovementioned theorists were concerned to establish a demarcation between science pseudoscience. To establish scientific criteria practically put the social sciences in a condition of marginality. The analysis of the paper seeks to answer why some social scientists are so enthusiastic with the epistemology of Kuhn and Popper as reticent, since the former is more radical marginalization of the social sciences than the second. Keywords: Science. Karl Popper. Thomas Kuhn. *Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Psicólogo. Professor Adjunto da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) DCHL-UESB

2 10 Gilberto Leocádio de Lima Filho Introdução Os debates sobre epistemologia que envolveu os Empiristas Lógicos, sobretudo aqueles ligados ao Circulo de Viena, além de Karl Popper e Thomas Kuhn tiveram um papel de relevo para a ciência natural, mas, em especial para as ciências sociais. Como consequência, importantes desdobramentos na concepção e no desenvolvimento das ciências sociais foram acontecendo. À medida que o debate se aprofundava as dificuldades e a vulnerabilidade das ciências naturais era revelada. Esse confronto culminou com o estabelecimento de uma nova filosofia das ciências ao mesmo tempo em que desbancava o empirismo lógico desestruturando o seu prestígio. Esse que era visto, até então, como um modelo incontestável de ciência teve uma adesão acrítica de teóricos das ciências sociais mais ortodoxas que as colocou na lógica das ciências naturais. Ao ruir as premissas epistemológicas dos empiristas lógicos as ciências sociais ortodoxas sentiram um profundo abalo em seus alicerces. No entanto, outro desdobramento importante foi a proliferação de abordagens sociológicas que até então passavam ás margens do pensamento teórico dominante. O debate epistemológico se inicia com o intuito de defender a legitimidade do empreendimento ciência. O positivismo lógico se apropriou desse direito de legitimar o conhecimento científico restringindo qualquer conhecimento ao crivo do seu entendimento de ciência. Esse posicionamento tinha um alvo especial: a metafísica, que para eles era destituída de significado. Aliás, desbancar a metafísica era um desejo não só dos empiristas lógicos ligados ao Círculo de Viena, mas também dos teóricos que comungavam do espírito positivista que propunha a superação da filosofia. Desta forma os empiristas lógicos investiram boa parte da sua base de argumentação nos procedimentos metodológicos utilizando-se do verificacionismo e a lógica da confirmação. A idéia era formatar um modelo de regras fixas universal, um método científico que representasse um padrão para todas as formas de conhecimento, e, só então possuísse validade. O resultado imediato do debate é a constatação de que todas as metodologias possuem limitações e por isso a validade universal da regra metodológica é problemática. Os teóricos Karl Popper e Thomas Kuhn tiveram papel decisivo sobre o aprofundamento destas questões. O que aproximava e o que separava Karl Popper e o Cículo de Viena Sem dúvida, havia um desejo de um critério de demarcação científica, um discernimento do que é e do que não é ciência tanto dos membros do Círculo de Viena, quanto de Karl Popper e Thomas Kuhn. O que separava esses últimos do primeiro é a rejeição do indutivismo como método de validação científica. Com relação a Karl Popper, um dos motivos que o estimulou e levou-o a se aprofundar sobre a concepção epistemológica foi o status científico e a popularidade que as teorias marxistas e psicanalistas alcançaram: Após o colapso do Império Austríaco, a Áustria havia passado por uma revolução: a atmosfera estava carregada de slogans e

3 Popper, Kuhn e as Ciências Sociais 11 idéias revolucionárias; circulavam teorias novas e frequentemente extravagantes. Dentre as que me interessavam, a teoria da relatividade de Einstein era sem dúvida a mais importante; outras três eram a teoria da história de Marx, a psicanálise de Freud e a psicologia individual de Alfred Adler [... ] Durante o verão de 1919, comecei a me sentir cada vez mais insatisfeito com essas três teorias [... ] passei a ter dúvidas sobre seu status científico. Meu problema assumiu, primeiramente, uma forma simples: O que estará de errado com o marxismo, a psicanálise e a psicologia individual? Por que serão tão diferentes da teoria de Newton e especialmente da teoria da relatividade? (POPPER, 1972, p. 64). Para Popper essas teorias explicavam tudo, mas sem nenhuma possibilidade de refutação ou algum tipo de evidência empírica com resultados que pudessem servir de contraprova para serem submetidas a replica dos críticos. Ainda segundo Popper, ao contrário, os seguidores de Freud e Marx eram intolerantes com os críticos. Fazendo isso eles protegiam a si mesmo de evidências contrafactual. Popper formula o princípio da refutabilidade como o seu critério de demarcação de uma ciência e uma pseudociência. A característica específica da ciência, assim, era a de que em vez de procurar a mera confirmação ou verificação de uma teoria, o cientista tentaria refutá-la (GIDDENS, 1997). Ao elaborar esse princípio, no entanto, Popper atingiu de cheio um núcleo, que, como ele, também tentou demarcar a ciência da não ciência. Estes se denominaram Empiristas Lógicos. Apesar do contato intelectual íntimo e mesmo uma influência no Círculo de Viena, Karl Popper foi um crítico radical do procedimento metodológico indutivista, esteio da argumentação dos Empiristas Lógicos. Além disso, Popper rejeitou a certeza sensorial do indutivismo e propôs a substituição da verificação pela refutação. Segundo Popper, de acordo com o indutivista ingênuo, a ciência começa com a observação. A observação fornece uma base segura sobre a qual o conhecimento científico pode ser construído, e o conhecimento científico é obtido a partir de proposições de observação por indução. Se o princípio da indução foi bem sucedido da ocasião x1, na ocasião x2[... ] etc. logo o princípio da indução é sempre bem sucedido (CHALMERS, 1997). Mas, quantas observações constituem um grande número? Uma barra de metal deve ser aquecida dez vezes, cem vezes ou quantas vezes mais antes que possamos concluir que ela sempre se expande quando aquecida? Qualquer que seja a resposta restará sempre dúvidas sobre tal quantidade (ib.: 36). Tal garantia já tinha sido refutada por Hume no séc. XVIII: Não podemos estar cem por cento seguros de que, só porque observamos o pôr-do-sol a cada dia em muitas ocasiões, o sol vai se pôr todos os dias. O princípio da indução baseado na repetição não tem qualquer força como argumento. Outra questão que deve ser observada nesse princípio é o grande número de observações sob uma ampla variedade de circunstâncias. O que deve ser considerado como uma variação significativa nas circunstâncias? Há determinados experimentos que a quantidade de variação é tão grande que inviabiliza o experimento por sua natureza infinita. Tais variações seriam tanto significativas quanto

4 12 Gilberto Leocádio de Lima Filho supérfluas, ou seja, variações que pouco afeta a observação ou o experimento. Nesse caso as variações supérfluas poderiam ser eliminadas. Só que as variações que são significativas distinguem-se das supérfluas apelando-se ao nosso conhecimento teórico da situação e dos tipos de mecanismos físicos em vigor. Mas, admitir isto é admitir que a teoria jogue um papel vital antes da observação. (ib.: 40). O apelo à substituição da verificação pela refutabilidade deriva, em grande parte, da forma simples e incisiva pela qual ela liquida de um só golpe os dilemas tradicionais da indução (GIDDENS, 1997, p. 205). Boa parte das discussões de Popper vai transcender a questões como a validade de leis universais, demarcação da ciência e pseudociência para a estrutura e o progresso da ciência. Tal progresso seria feito por conjecturas e refutações. Testabilidade, hipóteses contrárias críticas e revoluções permanentes. Para Popper todas as leis ou teorias devem ser encaradas como hipotéticas ou conjecturais; isto é, como suposições (POPPER, 1975). Vejamos a síntese das questões relativas às teorias especulativas ou conjecturais: 1. Teorias especulativas devem ser testadas rigorosamente por observação e experimento. 2. Teorias que não resistem a testes de observação e experimentais devem ser eliminadas e substituídas por conjecturas especulativas ulteriores. 3. A ciência progride por tentativas e erro, por conjecturas e refutações. 4. Apenas as teorias mais adaptativas sobrevivem O ponto inicial da questão Popperiana é que para fazer parte da ciência, uma hipótese deve ser falsificável. Somente excluindo um conjunto de proposições de observação logicamente possíveis que uma lei ou teoria é informativa. Se uma afirmação é infalsificável, então o mundo pode ter quaisquer propriedades, pode se comportar de qualquer maneira, sem conflitar com a afirmação. Se uma teoria deve ter conteúdo informativo ela deve correr o risco de se falsificada (CHALMERS, 1997). Esse argumento Popper sempre utilizou para comparar Freud com Einstein. Popper enfatizou, por exemplo, que a teoria da relatividade gerou hipóteses e predições dos movimentos materiais e se colocou numa posição que permitia o contraponto dos seus pares na física. Quanto mais uma teoria afirma mais oportunidade potencial haverá para mostrar que o mundo de fato não se comporta de maneira como mostrada pela teoria. Uma teoria muito boa será aquela que faz afirmações bastante amplas a respeito do mundo, e que, em consequência, é altamente falsificável, e resiste a falsificação toda vez que é testada. (CHALMERS, 1997, p. 69). Um dos grandes entraves que Popper não soube responder é sobre a possibilidade de falhas na observação. Segundo Chalmers (1997) as teorias podem ser conclusivamente falsificadas à luz das provas disponíveis, enquanto não podem

5 Popper, Kuhn e as Ciências Sociais 13 jamais ser estabelecidas como verdadeiras ou mesmo provavelmente verdadeiras qualquer que seja a prova. A aceitação da teoria é sempre tentativa. A rejeição pode ser decisiva. Se uma afirmação universal ou um complexo de afirmações universais constituindo uma teoria entra em choque com alguma proposição de observação ela pode estar errada. Mas é precisamente o fato de as proposições de observação ser falíveis e sua aceitação apenas experimental e aberta revisão que derruba a posição falsificacionista. As teorias não podem ser conclusivamente falsificadas porque as proposições de observação que formam a base para a falsificação podem se revelar falsas à luz de desenvolvimentos posteriores. Kuhn e Popper Algumas questões importantes de epistemologia vão aproximar Thomas Kuhn de Karl Popper e à medida que o debate vai se aprofundando outras questões vão ficando antagônicas. Kuhn comungava com Popper a sua preocupação com a demarcação de uma ciência de uma não ciência. Por exemplo, Kuhn também não admitia a cientificidade da psicanálise ou do marxismo. Tanto Popper quanto Kuhn vão reabilitar a teoria restituindo função e status no seio da ciência, coisa que os Empiristas Lógicos tinham diminuído, quando não, negligenciado. Outra questão que aproxima os dois é a sua preocupação em relação à história da ciência e o desenvolvimento de uma filosofia da ciência. Nesse sentido, Kuhn vai criticar duramente os Empiristas Lógicos de fazerem apenas análises abstratas de verificabilidade e quando tratam do processo histórico da ciência, sobretudo dos pesquisadores que a engrandeceu, eles enfatizam relatos de descobertas científicas como conquistas acabadas, tal como registradas em livros didáticos. Para Kuhn os positivistas jamais analisaram sob que circunstâncias e em que contexto a descoberta e os avanços científicos foram conquistados. A análise histórica é o ponto de partida para o embate teórico de Kuhn em relação a Popper. Este último cita com entusiasmo autores como Lavoisier, Copérnico e Einstein como exemplos de pesquisadores que revolucionaram a ciência com conjecturas e refutações. Kuhn vai argumentar que Popper ignora o fato de que as realizações científicas destes homens são episódios raríssimos na história da ciência; caracteriza momentos especiais da ciência, não seu estado de normalidade: são situações extraordinárias e não situações normais. É por isso que Kuhn estabelece a distinção fundamental entre ciência extraordinária e ciência normal. Kuhn percebeu que os relatos tradicionais da ciência, fosse indutivista ou falsificacionista, não suportam uma comparação com o testemunho histórico. (CHALMERS, 1997). Para Kuhn, se a ciência é a reunião de fatos, teorias e métodos reunidos nos textos atuais, então os cientistas são homens que, com ou sem sucesso, empreenderam-se em contribuir com um ou com outro elemento para essa constelação específica. (KUHN, 2006). Ou seja, o que está em jogo é o processo da atividade científica e isso é exatamente o oposto da dinâmica e do ideal de ciência em Popper. Este acreditava que uma teoria deve resistir a testabilidade e em caso de falseamento deve ser substituída por outra mais resistente. Para Kuhn o falsea-

6 14 Gilberto Leocádio de Lima Filho mento na normalidade científica seria uma exceção, já que o pesquisador teria um compromisso com as crenças tradicionais que fazem parte do seu campo de estudo ou o seu programa de pesquisa. No seu desenho teórico o progresso da ciência segue mais ou menos a seguinte sequência: 1. Pré-ciência 2. Ciência normal (estabelecida) 3. Crise revolução 4. Nova ciência normal 5. Nova crise Kuhn articulará o seu desenho teórico e sua análise histórica da ciência com o conceito de paradigma. Um paradigma é uma espécie de modelo teórico ou representação padrão compartilhada por uma comunidade científica. Tal modelo inclui premissas, suposições, crenças e métodos que orientam a comunidade a escolha de questões importantes e a melhor maneira de respondê-las. Os pesquisadores que trabalham dentro de um paradigma praticam a ciência normal. Ainda que a comunidade científica dispute conceitos centrais ou periféricos estará sempre sob o prisma do paradigma que, por suposto, dará meios para a solução de problemas no seu interior. A dinâmica da atividade cientíca em Kuhn Ciência normal: A ciência normal, atividade que consiste em solucionar quebracabeças, é um empreendimento altamente cumulativo, extremamente bem sucedido no que toca ao seu objetivo, ampliação contínua do alcance e da precisão do conhecimento científico. (KUHN, 2006, p. 77). Na ciência normal os cientistas articularão e desenvolverão o paradigma em sua tentativa de explicar e acomodar o comportamento de alguns aspectos relevantes do mundo real tais como revelados através dos resultados de experiências. Ao fazê-lo experimentarão inevitavelmente dificuldades e encontrarão falsificações aparentes. Se dificuldades desse tipo fugir ao controle um estado de crise se manifesta. Uma crise é resolvida quando surge um paradigma novo que atrai a adesão de um número crescente de cientistas até que eventualmente o paradigma original, problemático é abandonado. A mudança descontínua constitui uma revolução científica. É necessário que a ciência normal seja amplamente não crítica. Para Kuhn essa é uma precondição para o processo de desenvolvimento de uma atividade

7 Popper, Kuhn e as Ciências Sociais 15 científica. Os cientistas de uma comunidade seriam, assim, capazes de concentrar esforços no sentido de resolver os problemas de um paradigma Caso todos os cientistas fossem críticos de todas as partes do arcabouço no qual trabalhassem todo o tempo, trabalho algum seria feito em profundidade. Esse traço do comportamento acrítico distingue a ciência madura da pré-ciência. No entanto, se todos os cientistas fossem e permanecesse normal então uma ciência específica ficaria presa em um único paradigma e não progrediria nunca para além dele. (CHALMERS, 1997). Quando começa a crise: a identificação da anomalia: A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é, com o reconhecimento de que, de alguma maneira a natureza violou as expectativas paradigmáticas que governam a ciência normal. Segue-se então uma exploração mais ou menos ampla da área onde ocorreu a anomalia. Esse trabalho somente se encerra quando a teoria do paradigma for ajustada, de tal forma que o anômalo se tenha convertido no esperado. (KUHN, 2006, p. 78). Mais uma vez Kuhn vai demonstrar o processo de uma crise, a identificação de uma anomalia e a mudança de paradigma com o relato histórico. Ele vai relatar o processo de descoberta do oxigênio entre Priestley e Lavoisier e do raio-x com Roentgen. De maneira resumida ele vai relatar que os experimentos de Priestley em 1774 proporcionaram a descoberta do oxigênio, não fosse a presença de um paradigma incompatível com a descoberta Priestley recolheu o gás liberado pelo óxido de mercúrio aquecido, identificando como óxido nitroso. Em 1775, depois de novos testes identificou-o como ar comum dotado de uma quantidade menor de flogisto. Através de intensas investigações repetindo os experimentos de Priestley entre os anos de 1775 e 1780, Lavoisier estava convencido de que o ar de Priestley era o princípio ativo da atmosfera. Realizando vários experimentos brilhantes, Lavoisier mostrou que o ar contém 20% de oxigênio e que a combustão é devido à combinação de uma substância combustível com o oxigênio. Ficou provado também o seu papel na respiração. A questão que se segue é por que Lavoisier teve conclusão tão distinta de Priestley num experimento semelhante? O que Kuhn vai afirmar é que era necessária uma revisão importante no paradigma para que se pudesse ver o que Lavoisier foi capaz de ver e Priestley não. A razão principal é que o próprio Lavoisier já estava descontente com a teoria do flogisto muito antes da descoberta do gás: O trabalho sobre o oxigênio deu forma e estruturas mais precisas à impressão anterior de Lavoisier de que havia algo errado na teoria química corrente (KUHN, 2006, p. 82). O paradigma corrente já não cabia mais à Lavoisier e uma anomalia na investigação científica se manifestava. Ele fizera experiências que não produziram resultados previstos pelo paradigma flogistico. A percepção da anomalia, isto é, um fenômeno para qual o paradigma não preparara o investigador desempenhou um papel essencial na preparação do caminho que permitiu a percepção

8 16 Gilberto Leocádio de Lima Filho da novidade. Todo esse processo que envolve a descoberta do oxigênio preparou uma revolução na química. A ciência deve conter em seu interior um meio de romper de um paradigma para um paradigma melhor. Esta é a função das revoluções. Todos os paradigmas serão inadequados, em alguma medida, no que se refere com a sua correspondência com a natureza. Quando esta falta de correspondência se torna séria, isto é, quando aparece crise, a medida revolucionária de substituir todo um paradigma por outro torna-se essencial para o efetivo progresso da ciência. (CHALMERS, 1997). Popper, Kuhn e as Ciências Sociais A questão intrigante neste ensaio é que uma boa parte dos teóricos das ciências sociais contemporânea vão se apoiar nos argumentos e no modelo de Kuhn para dar visibilidade às vulnerabilidades epistemológicas das ciências da natureza desqualificando de sobremaneira o empirismo lógico. Fazendo isso, ela relativiza e contemporiza as vulnerabilidades das ciências sociais, até então, duramente combatida pelas ciências naturais. Mas como é possível aceitar e reproduzir tais argumentos já que Kuhn toca no ponto nevrálgico das ciências sociais que é a suspensão do juízo crítico de uma teoria? Qual a razão da defesa entusiástica de Kuhn por uma parcela significativa da ciência social? Duas pelo menos são plausíveis: 1. Kuhn se contrapõe a Popper. 2. O prestígio do empreendimento ciência. A necessidade que as ciências sociais têm de se mostrar científicas, um status desejado desde Comte. O modelo de Kuhn apresenta-se como aparentemente viável. Conforme foi dito acima Popper comungava com algumas das preocupações dos positivistas lógicos e, entre elas a necessidade de demarcação da ciência e da não ciência. Tanto para os Positivistas Lógicos quanto para Popper as ciências sociais não cumprem certos requisitos básicos para serem classificadas de ciência. Para eles as ciências sociais produzem um desacordo generalizado por falta de rigor e disciplina e assim torna difícil um diálogo com profundidade. Houve, então, uma associação imediata de Popper com os Positivistas, ainda que ele não fosse engajado aos Positivistas Lógicos. Ao contrário, Popper concentrou boa parte de sua obra para criticar radicalmente o indutivismo que era a premissa fundamental dos Positivistas. Apesar disso, ele herdou o estigma de positivista no seio das ciências sociais. Uma razão para pensar essa herança é a sua provocação frontal com a sociologia e a psicologia afetando uma ala significativamente organizada no seu campo de estudo leia-se marxismo e psicanálise. O modelo rígido de demarcação de fronteira entre a ciência de uma pseudociência por meio das proposições falseabilistas em conjunto com o método científico como instrumento precioso que permite distinguir e dotar de status um dado

9 Popper, Kuhn e as Ciências Sociais 17 conhecimento humano, ao que parece, provocou ressentimento entre os marxistas e os psicanalistas. A hostilidade explícita de Popper ao materialismo histórico, refutando um dos pontos mais caros aos marxistas que eram leis históricas que permitiam uma predição sobre o destino da humanidade: o futuro já está definido é simplesmente demolida por Popper em sua obra A sociedade democrática e seus inimigos (POPPER, 1959). Para Popper, ainda nessa obra, o futuro depende de nós mesmos, e nós não dependemos de qualquer necessidade histórica. Marxistas e psicanalistas que tem uma relação hagiográfica com os seus mestres tinham suficientes motivos para terem rancor de Popper. Ao encontrar um adversário como Kuhn, que confrontou cada um dos argumentos de um Popper provocador até ser reduzido a um falsificacionismo ingênuo, houve uma propensão a aderir ao modelo de Kuhn quase imediatamente. Como o critério de demarcação da cientificidade de Kuhn pareceu ser mais simples, ou seja, estar regido por um paradigma, este requisito aparentou ser mais acessível às ciências sociais. Além do mais, alguns dos teóricos das ciências sociais abusam do termo paradigma com o significado distinto de Kuhn. O problema é que Kuhn também foi estimulado a analisar o contraste entre as ciências naturais e as ciências sociais. Para ele havia falta de concordância entre os cientistas sociais sobre o caráter básico dos seus esforços intelectuais. Segundo Alexander (1987) as ciências sociais, em resumo, não possuiriam paradigma. Assim, para Kuhn, elas demonstram não ter o padrão característico de desenvolvimento das ciências naturais, o caracterizaria o período da ciência normal. Enquanto a normalidade científica, na perspectiva teórica de Kuhn é um esforço de consenso com a finalidade de um entendimento, o dissenso é uma característica das ciências sociais. As condições definidoras de crise do paradigma nas ciências naturais são a rotina nas sociais. Se fôssemos sustentar a argumentação completa de Kuhn chegaríamos à conclusão de que as ciências sociais seriam anômalas, pois viveria numa crise permanente sem uma normalidade científica nem um paradigma definido. Se o juízo crítico é a força motriz que anima as ciências sociais, é muito problemático aceitar os pressupostos e as condições de cientificidade de Kuhn. Nesse caso o debate de Kuhn e Popper serviu muito mais para demonstração da fragilidade epistemológica das ciências naturais. Por exemplo, aspectos subjetivos aparecem claramente na lógica da descoberta científica; esse seria um sério entrave de cientificidade que se revelaria relativo e problemático não fosse a legitimidade conquistada ao longo do tempo. Portanto, se a ciência natural logrou êxito com a construção de leis gerais e acumulação de conhecimentos factuais, apesar dessas implicações subjetivas e interpretativas, essas supostas limitações poderiam servir de base de argumentação em defesa da ciência social. Pois bem, seguindo os argumentos de Alexander (1987) as ciências sociais é uma atividade legítima, possuem um campo de pesquisa estabelecido, bem definido e estruturado. Não haveria razão para orientar-se ou referi-se ao modelo de Kuhn. Ainda que Alexander seja um entusiasta de Kuhn, ele vai afirmar que argumentos sociológicos não dependem de um resultado explicativo imediato para serem considerados científicos. Felizmente, ao que parece, a sociologia con-

10 18 Gilberto Leocádio de Lima Filho temporânea já tem um entendimento razoavelmente maduro de que a lógica das ciências sociais não é igual à lógica das ciências naturais, o que é bem diferente do período anterior ao debate epistemológico que envolveu Empiristas Lógicos, Popper e Kuhn. Ainda segundo Alexander (1987) na medida em que os objetos de uma ciência se localizam no mundo físico exterior à mente, seus referentes empíricos podem, em princípio, ser mais facilmente verificados pela comunicação interpessoal. Na ciência social, os objetos de estudo são estados mentais ou condições que envolvem estados mentais. Por essa razão, a possibilidade de confusão entre os estados mentais do observador e os do observado é endêmica. Referências ALEXANDER, J. O novo movimento teórico. Revista Brasileira de Ciências Sociais, n. 4, CHALMERS, A. F. O que é Ciência Afinal? Trad. Raul Fiker. São Paulo: Brasileiense, GIDDENS, A. Política, sociologia e teoria social: o encontro com o pensamento social. Trad. Cibele Sabila Rizek. São Paulo: UNESP, KUHN, T. A estrutura das revoluções científicas. Trad. Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. São Paulo: Perspectiva, POPPER, K. A sociedade democrática e os seus inimigos. Trad. Milton Amado. Belo Horizonte: Itatiaia, Conjecturas e refutações. Trad. Sérgio Bath. Brasília: Brasília, Conhecimento objetivo: uma abordagem evolucionária. Milton Amado. São Paulo: EdUSP, 1975.

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