PROJETOS DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO

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1 1 PROJETOS DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO Angélica Nakazone, Heloísa Maria Heradão Rogone, Edilene K. Moriya, Mônica Feitosa Santana e Orjana de Oliveira Pacheco RESUMO:A função de uma universidade pública, como a UNESP é, além de ensino e pesquisa, repassar conhecimentos e serviços à comunidade o que se faz através de Programas de Extensão Universitária, buscando gerar novos conhecimentos que contribuam para o desenvolvimento socioeconômico do país, a melhoria da qualidade de vida do cidadão, o incentivo as artes e a cultura em geral, além de proporcionar maior inclusão social. O presente trabalho busca refletir sobre a contribuição destes projetos de extensão na formação profissional complementar do aluno. Utiliza-se para tanto, da experiência vivenciada no Projeto Murucututu - Contadores de Histórias no Hospital, um trabalho realizado através do contar histórias a pacientes crianças e adultos, familiares e equipe médica dos hospitais Regional e Santa Casa de Misericórdia do município de Assis. Tem o objetivo de por meio do conto e do contato com o narrador, oferecer um momento e um lugar de acalanto, possibilitando aos ouvintes das histórias estabelecerem uma outra relação com suas angústias, desejos e fantasias, desencadeadas pelo processo de adoecimento e hospitalização. Na trajetória dos heróis das histórias, cada qual encontra um fio condutor de significação de sua própria história. A angústia ganha forma, cor, cheiro, uma lembrança, uma vivência concreta de dor ou amor e, assim simbolizada, pode ser resignificada. Este projeto é desenvolvido por estagiários do curso de Psicologia, supervisionados pela docente responsável. Durante cinco dias na semana, no início da noite, quando cessam as atividades no hospital e o silêncio se impõem, vestidos de um avental colorido, os estagiários percorrem os leitos contando histórias para as pessoas cujo cotidiano foi alterado em virtude do adoecimento e da internação. Os efeitos desta atuação são observados em alterações clínicas significativas como diminuição ou aumento dos batimentos cardíacos (pacientes da UTI), o interesse do paciente em alimentar-se novamente, o desvio temporário do investimento na dor, e no aparecimento de um sorriso. Mudanças de humor e de comportamento dos pacientes são, freqüentemente, relatados por familiares e pela equipe médica. Este trabalho busca refletir sobre a possibilidade de uma atuação da psicologia clinica que ocorre fora dos moldes tradicionais do setting analítico, proporcionando a interação entre a população do município e a comunidade acadêmica contribuindo na melhoria dos serviços oferecidos pelo hospital e, simultaneamente, para a formação do estudante de psicologia.

2 2 PROJETOS DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO A função de uma universidade pública como a UNESP é, além de ensino e pesquisa, repassar conhecimentos e serviços à comunidade o que se faz através de Programas de Extensão Universitária, buscando gerar conhecimentos que contribuam para o desenvolvimento socioeconômico do país, a melhoria da qualidade de vida do cidadão e o incentivo as artes e a cultura em geral, além de proporcionar maior inclusão social. No Manual do Aluno (2006) de psicologia da Faculdade de Ciências e Letras (FCL) de Assis, encontramos a reprodução de uma frase do Estatuto da UNESP, ressaltando que a mesma é regida pelos princípios de liberdade de pensamento e expressão e tem como objetivo permanente desenvolver o saber e a cultura em todos os seus aspectos e campos... (p.3), com a proposta de formar profissionais de alto nível e lideranças intelectuais, pesquisadores e cidadãos que tenham uma visão do conjunto da sociedade brasileira e que estejam prontos a colaborar com o desenvolvimento social. Propõem-se também a aguçar a curiosidade dos estudantes oferecendo uma base sólida de conhecimento e estimulando os alunos a ter uma visão cada vez mais empreendedora, dedicada e próativa, vendo-se como agentes de transformação do mundo. O Curso de Psicologia da FCL de Assis vem constantemente, construindo estratégias para garantir uma formação comprometida com a função social da Psicologia e assim, além de direcionar as suas ações para a pesquisa e a intervenção nas relações do indivíduo com a própria subjetividade, tem tomado como ponto de partida a conexão da pessoa com a realidade social. Dessa maneira, propicia a formação de um psicólogo apto a ocupar posições significativas nas ações voltadas à saúde coletiva e pública, educação, hospitais, sistema

3 3 prisional e jurídico, organizações não-governamentais (ONGs) e projetos de inclusão social. No Caderno de Orientação de Estágios (2006) pode-se facilmente verificar propostas que objetivam a formação de alunos comprometidos com a realidade social em que vivem. Neste Caderno os estágios curriculares são definidos como uma exigência curricular e mais do que isto,...o estágio é o momento de encontro e corroboração do saber já construído (teoria) com o saber vivenciado (prática) e, mais ainda, com a possibilidade de que, em alguns casos, advenha deste encontro um saber a se questionar (pesquisa). Isso tudo por meio de uma experiência impar: o exercício reflexivo e o encontro com sua clientela. (...). O estágio implica, portanto, uma mudança de posição de sua parte frente ao outro, seja este uma instituição, organização ou mesmo um indivíduo. E, assim, o estágio é também o lugar de construção incansável da ética da Psicologia. (p.3) Assim como em vários estágios, os Projetos de Extensão Universitária buscam a integração dos alunos com a comunidade oferecendo serviços a ela e, em troca, recebendo dados valiosos para o aprimoramento de suas atividades de ensino e pesquisa. Um desses projetos é o MURUCUTUTU Contadores de histórias no hospital, pertencente ao núcleo de Educação e Saúde Coletiva. Este projeto tem como objetivo, contar histórias aos pacientes, familiares e equipe médica da Santa Casa de Misericórdia de Assis e do Hospital Regional proporcionando um espaço de escuta e acolhimento especial aos pacientes durante o período de hospitalização, possibilitando a inserção no mundo da fantasia, o encontro com o inusitado de nós mesmos, o resgate da alma e a elaboração de situações conflitivas próprias deste momento crítico. A concepção que norteia a execução e reflexão deste trabalho é baseada em estudos psicanalíticos que consideram o inconsciente

4 4 na constituição do sujeito, considerando a importância das narrativas que se constroem ao longo do devir temporal. Em alguns dias na semana, 28 estagiários do Curso de Psicologia vestem um avental colorido que identifica o projeto e percorrem os leitos contando histórias, no período noturno, para as pessoas cujo cotidiano foi alterado em virtude do adoecimento e da internação. Posteriormente, circulam com um carrinho-biblioteca oferecendo livros para empréstimo aos pacientes. Na Santa Casa de Assis atendemos a Pediatria, Clínica Médica e Cirúrgica. No Hospital Regional na UTI adulta, Clínica Médica e na sala de espera do ambulatório pediátrico. Pautados na teoria psicanalítica, concebemos a literatura como um elemento que vai além do prazer que proporciona As narrativas utilizadas são contos de fada, fantásticos, populares, orientais, tibetanos e contemporâneos, que fazem referências aos sentimentos humanos tais como medo, insegurança, amor, morte, confiança, amizade e de encontros e desencontros, todos eles mostrando conflitos existenciais e formas de soluções na sua maioria pela magia. Impedidos muitas vezes de falar ou de expressar sua angústia, o paciente, ao ter acesso a uma história narrada ou lida, poderá entrar em contato com um universo psíquico que, muitas vezes, não tem espaço no ambiente hospitalar. Ao ouvirem, fazem comentários, emitem opiniões, relatam experiências de vida e suas vivências no hospital, suas dores, desejos, enfim, narram experiências e sofrimentos humanos que se tornam inauditos na situação hospitalar. Projetam nas histórias conteúdos inconscientes através da identificação com os personagens, visualizando neles um possível desenrolar das suas próprias histórias. Ao oferecer uma história, o narrador personifica uma experiência, possibilitando ao ouvinte o acesso a uma outra realidade que se apresenta com uma outra lógica de

5 5 previsibilidade dos fatos. A percepção da existência de novos parâmetros amplia a compreensão da realidade construída, permite a liberação da energia investida no problema gerado pela crise de internação e doença, e o investimento desta energia em outros pontos. Os efeitos da atuação dos contadores de histórias são percebidos em alterações clínicas significativas como diminuição ou aumento dos batimentos cardíacos (pacientes da UTI) e em mudanças de comportamento. Os pacientes ficam mais ativos, passam a se alimentar melhor, desviam seu interesse sobre a dor que sentem e sorriem. O humor se altera, ficam mais alegres e por vezes fazem chistes sobre a situação em que se encontram. Estes efeitos são extensivos aos familiares, aos acompanhantes, à equipe de enfermagem e aos funcionários administrativos, que param nas portas das enfermarias para ouvirem as histórias e reivindicam um momento exclusivo para eles. Também nos estagiários verifica-se alterações. Os estagiários são supervisionados semanalmente pelas coordenadoras do projeto. Nesta supervisão trabalham-se aspectos teóricos e práticos. Ao trabalhar com alunos em um ambiente hospitalar, em que o sofrimento está presente, não é suficiente lidar com os aspectos teóricos. Os estagiários têm, nesses encontros, a oportunidade de relatar suas dificuldades e emoções desencadeadas pelo contato com o ambiente hospitalar. Procuramos acolher as angústias relatadas e, na medida do possível, trabalhar em grupo com a emoção que o ambiente e os pacientes hospitalizados provocam nos contadores. Isto proporciona uma interação entre a população e a comunidade acadêmica (englobando a proposta dos projetos de extensão) contribuindo para a melhora dos serviços oferecidos pelo hospital e, simultaneamente, para a formação do estudante de psicologia.