MARRACUENE: O FOGO SOB AS CINZAS? UM ESTUDO SOBRE POSSE DA TERRA, CONFLITOS E LAND GRABBING EM MOÇAMBIQUE.

Transcrição

1 CONFERÊNCIA DO SECTOR FAMILIAR E DESENVOLVIMENTO EM MOÇAMBIQUE MARRACUENE: O FOGO SOB AS CINZAS? UM ESTUDO SOBRE POSSE DA TERRA, CONFLITOS E LAND GRABBING EM MOÇAMBIQUE. Uacitissa Mandamule Dezembro, 2014

2 Plano da apresentação I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ A) Objectivos B) Metodologia C) Contextualização II. Estudo de Caso em Marracuene A) ʺPiri-Piri Elefante Moçambiqueʺ e os conflitos com a comunidade local B) Cooperação ou usurpação? Um olhar sobre o projecto de produção de arroz das Maurícias C) Conclusões, recomendações e pesquisas futuras

3 I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ A) OBJECTIVOS Geral Analisar o land grabbing em Moçambique e seus efeitos no modo de estruturação da vida das comunidades afectadas. Específicos Identificar tipos de conflitos de terra e suas causas ; Descrever os tipos de Land grabbing ; Avaliar os efeitos do land grabbing na vida das comunidades.

4 I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ B) METODOLOGIA Revisão bibliográfica Entrevistas exploratórias com pesquisadores especializados na área em pesquisa Observação não-participante Entrevistas semi-estruturadas Para a escolha da amostra foi usado o método de purposive sampling (Cohen e Manion, 1994).

5 I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ C) CONTEXTUALIZAÇÃO O mundo é globalizado, o mundo é uma grande aldeia. Não é apropriado falar em land grabbing por causa de ha. É necessário acabar com os discursos nacionalistas estipulando que a terra pertence apenas aos moçambicanos. O país dispõe de grandes extensões de terras férteis...é preciso investir e utilizá-las... Trata-se aqui duma situação win-win. Representante do governo das Maurícias (19/03/2013)

6 I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ Grandes extensões de terra Missão civilizadora Modernização autoritária

7 I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ UM FENÓMENO, VÁRIAS ACEPÇÕES Aquisições de novas terras Pressões comerciais sobre as terras Apropriação de terras em larga escala Novo imperialismo Pirataria alimentar Land grabbing Neo-colonialismo agrário Usurpação de terras

8 I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ DEFINIÇÕES Toda a aquisição controversa, em grande escala, de direitos sobre a terra, por um estrangeiro ou outro outsider, qualquer que seja o estatuto jurídico da transação (Pearce, 2012). Compra ou aluguer a longo termo (até 99 anos) de largas extensões de terras (200 ha ou mais), destinadas à produção agrícola, comercial e/ou industrial pelos governos ou investidores privados dos países desenvolvidos e emergentes, junto aos governos dos países do Sul, excluindo assim os outros potenciais beneficiários do exercício das suas actividades (FIAN, 2010).

9 I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ Os países que procuram comprar ou alugar terras se apresentam inicialmente como estando interessados em assegurar a segurança alimentar das populações desfavorecidas no momento da crise da fome (Arábia Saoudita, Índia, China, Coreia do Sul, Líbéria Japão). O interesse acrescido dos investidores é considerado como uma questão interna dos países-alvo (Cotula et al., 2009).

10 I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ 56,2 milhões de hectares em Africa (Sudão, Etiópia, Moçambique, Tanzania, Madagascar, Zâmbia, RDC);

11 I. Por uma compreensão da ʺmercantilização do mundoʺ Mais de 50% destas terras não é ainda utilizada na sua totalidade, quer devido à incapacidade dos investidores em explorar tamanhas extensões de terra, ou ainda pelo facto de a grande maioria dos actores que adquirem a terra fazeremno para efeitos de especulação e não de imediata produção agrícola (Cotula et al., 2009).

12 Tabela 1 : Grandes concessões de terras em Moçambique Florestas Província (s) Hectares Origem do investimento Malonda Niassa Reino Unido Chikweti Niassa Suécia, Noruega, EUA Florestas de Niassa Lurio Green Resources Niassa Nampula Noruega Portucel Zambézia Portugal Adaptado de Matavel et al.(2011) ; CIP (2011) e Mousseau & Mittal (2011)

13 Província (s) Hectares Origem do Investimento Biocombustiveis Principle Energy Manica Reino Unido Enerterra Manica Portugal Grown Energy Sofala RSA Agricultura Madal Zambézia Portugal Quifel Zambézia Portugal Sabiol Maputo PRIO Agricultura Sofala Ilha Mauricia RDC, lda Maputo- Marracuene Macau, Moçambique Projecto Indico Sofala RSA SAPPI Zambézia Reino Unido, Moçambique

14 II. O caso de Marracuene hectares (metade da superfície total) de terras aráveis, dos quais menos da metade é explorado pelo sector agricola explorações agrícolas, a maior parte das quais pertence ao sector familiar. Deste total, 56% têm menos de 1 hectar e ocupam somente 20% da superfície total cultivada. Metade das parcelas em que estão divididas as explorações, é oficialmente gerida pelas autoridades tradicionais e oficiais (régulos e chefes de terras). Densidade populacional de 87 hab/km², que influencia para a grande pressão para a obtenção de recursos e existência de vários conflitos. A relação entre investidores, empresas e comunidades está, na maior parte dos casos, na origem dos conflitos de terra existentes no distrito.

15 II. O caso de Marracuene A) ʺPiri-Piri Elefante Moçambiqueʺ e os conflitos com a comunidade local PPEM faz parte do grupo Elephant Pepper group que gere programas de produção de píri-píri para abastecer empresas de produção de especiarias em muitos países africanos. Autorizadas em Junho de 2010, as actividades de PPEM iniciam no mesmo ano, tendo como enfoque principal o desenvolvimento da actividade agrícola.

16 II. O caso de Marracuene A. Piri-piri Elefante Moçambique e os conflitos com os camponeses e comunidade locais Três tipos de conflitos: Conflitos sobre os limites Conflitos sobre os direitos Conflitos sobre as regras

17 II. O caso de Marracuene B. Cooperação ou usurpação? Assinatura, em 2004, de um acordo quadro de cooperação entre os governos Maurício e Moçambicano ; O projecto será implementado pela Regional Development Company (RDC lda.), numa área de ha, e está estimado em 10 milhões de USD. A empresa dispõe de uma concessão para a produção de arroz numa área de 6000 ha em Nampula e 2500 ha em Manica, as duas totalizando 27 milhões de USD.

18 As formas de consulta comunitária não são suficientemente claras; Falta de transparência na elaboração dos contratos e dos memorandos de entendimento; Incumprimento da Lei de terras (terra ociosa para além de dois anos); Fraqueza e imperfeições estruturais das instituições encarregadas de aplicar as legislações sobre a terra.

19 Sentimento de expectativa quanto às promessas articulado com uma situação de insegurança quanto à posse da terra; Há um ʺcapital social e culturalʺ e esforços de organização (Mathieu, 1998) que é investido pelas comunidades (coesão, disciplina colectiva, modos de decisão e de comunicação) que lhes engajam a assumir os custos de ceder as suas terras em favor de beneficios superiores resultantes da implementação dos projectos.

20 Conclusões O land grabbing enquadra-se num contexto político, sócioeconómico e institucional global; Pode assumir formas e acções diversas. Falta de vontade para controlar a situação, fraca capacidade em termos financeiros e técnicos, e múltiplas deficiências no processo de consulta comunitária.

21 Conclusões É um fenômeno que ainda não foi suficientemente apropriado por alguns dos actores em presença (Estados, investidores e comunidades), e que poderá criar conflitos sociais. Instrumentalização da terra pelas elites que integram o sistema de poder, incluindo ao nível das comunidades. Opacidade no conteúdo dos contratos; A gestão e resolução será mais difícil em função do tempo das disputas.

22 Conclusões e recomendações O governo deve fiscalizar as actividades dos investidores e assegurar que estes respeitem as suas promessas que devem ser escritas e assinadas. Fiscalizar os tamanhos dos projectos, garantir que os reassentamentos sejam justos e impôr um côdigo de conduta para promover investimentos responsáveis. Aumentar a capacidade do Estado de cumprir e fazer cumprir a Lei de Terras. Desenvolver as capacidades das organizações da sociedade civil para apoiar as comunidades na negociação, conhecimento das Leis e sobre os direitos e deveres.

23 Pesquisas futuras Analisar os discursos (formais e informais) sobre a usurpação de terras em Moçambique. Identificar e categorizar os tipos de usurpação de terras. Fazer um levantamento dos tipos de conflitos de terra, resultantes da usurpação de terras.

24 MUITO OBRIGADA! Observatório do Meio Rural (OMR):