Capítulo 20. Teorias Éticas. Não existe a ética, mas éticas
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- Laís Lombardi Philippi
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1 Capítulo 20 Teorias Éticas Não existe a ética, mas éticas
2 Ética Grega Séc. V a. C. Ética reflexão sobre as questões morais Sujeito moral = cidadão (membro da comunidade) não um indivíduo isolado, como hoje Ética está ligada à política Política exercício da liberdade isonomia iguais perante a lei
3 Ética Grega Séc. V a. C. Era clássica - pólis (lógos) tudo era decidido pela palavra e persuasão Nos tempos homéricos os melhores (aristói) Temos homéricos a decisão cabia aos aristói = melhores Sujeito moral = cidadão (membro da comunidade) não um indivíduo isolado, como hoje Valores da cidadania Philia amizade, amor reciprocidade isonomia iguais perante a lei Vida pública philia
4 Viés Metafísico Estudo do ser enquanto ser A compreensão do mundo baseia-se na noção do ser A busca pelo sentido nos conduz à essência do ser Sócrates definição do conceito
5 Platão Ética e sabedoria Diálogos: sobre as virtudes e a natureza do bem Virtude = sabedoria Vício = ignorância A virtude pode ser aprendida
6 Platão Ética e sabedoria República Alegoria da Caverna O filósofo é o único capaz de se soltar Contemplar o sol = Contemplar a idéia do Bem Alcançar o bem = capacidade de compreender bem
7 Platão República cidade bela
8 1. Dois relatos míticos
9 Aristóteles O justo meio Ética a Nicômaco Qual é o fim último de todas as atividades humanas? Bens desejáveis: riquezas, prazeres, honra... Qual é o sumo bem? A boa vida, vida feliz (eudaimonia)
10 Aristóteles O justo meio Exercício da inteligência teórica, contemplação
11 1. Dois relatos míticos PRINCÍPIO
12 Para refletir
13 2. O que é o mito?
14 Aristóteles O justo meio
15 2. O que é o mito?
16 2. O que é o mito?
17 2. O que é o mito?
18 3. Os rituais
19 3. Os rituais
20 3. Os rituais O tempo sagrado é, portanto, reversível, ou seja, a festa religiosa não é simples comemoração, mas a ocasião pela qual o evento sagrado, que teve lugar no passado mítico, acontece novamente. Caso contrário, a semente não brotará da terra, a mulher não será fecundada, a árvore não dará frutos, o dia não sucederá à noite. Sem os ritos, é como se os fatos naturais descritos não pudessem se concretizar.
21 A consciência mítica Transgressões do tabu É o caso do tabu, termo que significa proibição, interdito, e que entre os povos tribais assume caráter sagrado. O mais primitivo tabu é o do incesto.
22 Epicuro O que é o prazer? Epicuro faz a distinção em três tipos: naturais necessários, naturais não necessários e não naturais não necessários.
23 Epicuro O que é o prazer? Naturais necessários: sem eles, a harmonia de nosso corpo se desfaz. Os desejos naturais e necessários permitem que o corpo continue afirmando-se na existência. Nós não os desejamos porque são bons, eles são bons porque os desejamos. Água, para não morrer de sede; comida para não morrer de fome; calor; para não morrer de frio.
24 Epicuro O que é o prazer? Naturais não necessários: são prazeres, mas não necessários no sentido em que excedem a simples manutenção da existência. Mais do que conservar-se a vida quer o prazer de viver, e ela pode obter isso através da natureza. Faz-se aqui a passagem da existência para uma estética da existência. Mais do que apenas comer, é possível criar a culinária, arte de cozinhar. Mais do que ver, e ouvir, é possível pintar e fazer música, arte das cores e dos sons.
25 Epicuro O que é o prazer? Não naturais e não necessários: entramos no terreno das ilusões e da superstição. Aqui nascem os deuses e os demônios. Esses desejos são aqueles que se descolam cada vez mais da terra e atingem reinos que não existem. Dinheiro, nosso novo deus, fama, glória, santidade. Curtidas no facebook, por que não? Estes objetos são vazios, alienam, nos impedem de atingir uma vida natural e de prazeres. Enfim, causam mais aflição que prazer, o dispêndio de energia para obtê-los não vale o que nos trazem em retorno. Copos sempre meio vazios, estas ilusões são a cenoura na frente do burro, elas conduzem a humanidade em sua longa marcha irracional
26 O Jardim dos filósofos. Os epicuristas eram conhecidos como os filósofos do jardim, local em Atenas onde celebravam a amizade, aprendendo a cuidar da vida como um belo jardim.
27 2. O que é o mito?
28 Coluna grega (stoá). Chama-se stoá o pórtico de prédios gregos que formavam uma galeria com colunas. Ficaram conhecidos como estoicos (stoikós), isto é, os filósofos do Pórtico.
29 Transgressões do tabu Quando nas tribos a proibição é transgredida, são feitos ritos de purificação, como abster-se de alimentos, retirar-se para local isolado, submeter-se a cerimônias de ablução (purificação por meio da água, ritual comum a várias religiões).
30 As funções do mito
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36 3. As concepções éticas medievais Queda do império romano Surgimento de inúmeros reinos bárbaros Igreja católica surge como elemento agregador - ao difundir a mesma fé cristã
37 3. As concepções éticas medievais O clero - era o único detentor da educação - guardião da tradição greco-romana - a educação foi adaptada aos ideais religiosos - o sobrenatural tem primazia sobre o humano Logo, - a ação orienta-se para a contemplação de Deus - em prol da conquista da vida eterna
38 3. As concepções éticas medievais As teorias estóicas - foram bem aceitas pelo cristianismo - fecundou as ideias ascéticas* Controle das paixões - visando a vida futura - quando poderemos ser felizes
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40 Renascimento Idade Média Idade Moderna Teocentrismo Fé Deus Trevas Homem (Miserável) Renascimento Cultural Retorno à cultura Greco-Romana Antropocentrismo Razão Homem Luz Homem (Digno)
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42 4. O pensamento moderno Alterações sociais e econômicas Ascensão da burguesia Florescimento do comércio Revolução científica produz - outra realidade - se descobriu o poder do conhecimento humano - capaz de transformar o ambiente - dominar a natureza e tornar-se senhor dela
43 4. Hume ( ) Os sentimentos morais Obra: Investigações sobre o entendimento humano Contrário ao racionalismo cartesiano A favor do empirismo radical - Postura cética influenciou Kant - Kant: quais são os limites do nosso conhecimento - capaz de transformar o ambiente
44 4. Hume ( ) Os sentimentos morais Obra: Tratado da natureza humana Desenvolve uma moral do sentimento São as paixões que determinam a vontade, e não a razão - Os atos morais dizem respeito - aos sentimentos de aprovações e desaprovação - às sensações de agrado e prazer ou dor e remorso
45 4. Hume ( ) Os sentimentos morais Obra: Tratado da natureza humana A razão - Se ocupa com o verdadeiro e o falso - faz juízos de realidade (fato) sobre a realidade Os atos morais - Requerem juízo de valor - ajuda a identificar ações - Boas (virtude) - Más (vício)
46 5. A moral iluminista A ilustração O século XVIII é conhecido como Iluminismo, Século das Luzes, Ilustração ou Aufklârung. Como as próprias Designações sugerem, trata-se do otimismo no poder da razão de reorganizar o mundo humano. Vimos que, já no Renascimento, se desenrola a luta contra o princípio da autoridade e a busca dos próprios poderes humanos, pelos quais o homem tecerá ele próprio a trama do seu destino.
47 5. A moral iluminista A ilustração O século XVIII é conhecido como Iluminismo, Século das Luzes, Ilustração ou Aufklârung. Como as próprias Designações sugerem, trata-se do otimismo no poder da razão de reorganizar o mundo humano. Vimos que, já no Renascimento, se desenrola a luta contra o princípio da autoridade e a busca dos próprios poderes humanos, pelos quais o homem tecerá ele próprio a trama do seu destino.
48 4 O pensamento moderno A ilustração O pensamento humano passou por mudanças cruciais O teocentrismo foi substituído pelo antropocentrismo Em lugar da fé a reflexão filosófica secularizada Volta-se para a busca do fundamento racional
49 Iluminismo O racionalismo e o empirismo do século XVII (Descartes, Locke e Hume) dão o substrato filosófico dessa reflexão: Descartes justifica o poder da razão de perceber o mundo através de idéias claras e distintas; Locke valoriza os sentidos e a experiência na elaboração do conhecimento; Hume levanta o problema da exterioridade das relações frente aos termos.
50 Iluminismo "Filha emancipada do cartesianismo, a filosofia do Iluminismo deve a Descartes o gosto do raciocínio, a busca da evidência intelectual, a audácia de exercer livremente seu juízo e de levar a toda parte o espírito da dúvida metódica. "Sou, logo penso" seria de algum modo o cogito do filósofo do Iluminismo, bem próximo do cogito cartesiano."
51 Iluminismo Outra influência importante foi o advento da ciência galileana no século XVII, cujo método experimental fecundou outros campos de pesquisa, fazendo nascer novas ciências. Como essa ciência é aliada da técnica, faz surgir o modelo de um novo homem, o homem construtor, o artífice do futuro, que não mais se contenta em contemplar a harmonia da natureza, mas quer conhecêla para dominá-la.
52 Iluminismo E é uma natureza dessacralizada, isto é, desvinculada da religião, que reaparece em todos os campos de discussão do homem no século XVIII. Tornando-se livre de qualquer tutela, sabendo-se capaz de procurar soluções para seus problemas com base em princípios racionais, o homem estende o uso da razão a todos os domínios: político, econômico, moral e religioso.
53 Iluminismo A exaltação do poder do homem decorre, segundo Desné, do fato de que "a segurança do filósofo é a segurança do burguês que deve à sua inteligência, ao seu espirito de iniciativa e de previdência, o lugar que tem na sociedade (...) A emancipação do homem, na qual Kant vê o traço distintivo do Iluminismo, é a emancipação de uma classe, a burguesia, que atinge sua maioridade".
54 Iluminismo Nesse momento se dá o fortalecimento do sistema capitalista como modo de produção predominante, o que se exemplifica pela Revolução Industrial, marcada pelo aparecimento da máquina a vapor em meados do século XVIII e que introduz o processo de mecanização das indústrias.
55 Iluminismo De fato, o século XVIII é o século das revoluções burguesas: ainda no final do anterior, em 1688, a Revolução Gloriosa na Inglaterra destrona os Stuart absolutistas e, em 1789, os Bourbon são depostos com a Revolução Francesa. Ecos desses acontecimentos chegam ao Novo Mundo, em movimentos de emancipação como a Independência dos Estados Unidos (1776). a Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798).
56 Iluminismo Na Inglaterra, os representantes da Ilustração são sobretudo Newton e Reid, herdeiros de Locke e Hume. Na França, surgem Montesquieu, Voltaire, Rousseau. O poder de penetração da Ilustração na França se deve, sobretudo, ao caráter vulgarizador da produção de seus filósofos, empenhados em "levar as luzes" a todos os homens. Importante nesse processo é a publicação da Enciclopédia, obra imensa cujos verbetes são confiados a diversos autores: Voltaire, D'Alembert, Diderot, Helvetius.
57 Iluminismo Na Alemanha, o movimento é conhecido como Aufklàrung. É importante acentuar a especificidade desse "país", já que não podemos falar em autonomia nacional, pois a Alemanha não passa, naquele momento, de um agregado de Estados que têm em comum apenas a lingua. (A unificação alemã só ocorrerá no século XIX.) A economia feudal ainda predominante mantém o povo miserável e impede a ascensão da burguesia ric a e esclarecida.
58 Iluminismo Além disso, a Alemanha se acha extenuada pela Guerra dos Trinta Anos. Só na segunda metade do século XVIII começam a aparecer sinais da emancipação intelectual, sobretudo na produção literária (Lessing, Herder, Goethe, Schiller) e musical (os descendentes de Bach, Haendel, Haydn, Mozart, Schubert, Beethoven).
59 Iluminismo Na filosoffia alemã, as expressões maiores são: Wolff, Lessing e Baumgarten. Mas foi Kant o filósofo por excelência desse período, criando uma obra sistemática cuja influência marcará a filosofia posterior.
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61 4. Kant: o formalismo moral Obras: Crítica da Razão Pura O que podemos conhecer? Crítica da Razão Prática - O que podemos fazer? Fundamentação da metafísica dos costumes
62 4. Kant: o formalismo moral Ora, enquanto tudo na natureza age segundo leis, apenas o ser humano age segundo princípios. Agir por princípios exige Capacidade de escolha Portanto, só ele tem uma vontade
63 4. Kant: o formalismo moral E como para agir racionalmente ele precisa de princípios, A vontade é a razão prática, o instrumento para compreender o mundo dos costumes e orientar o indivíduo na sua ação.
64 4. O imperativo Analisando os princípios da consciência moral, Kant usa o conceito de imperativo, que pode ser: a) Segundo um tempo verbal, uma ordem: faça!, retire-se b) Na linguagem comum, o que se impõe como um dever: respeitar as pessoas é um imperativo para mim
65 4. O imperativo a) Para Kant, o imperativo é um mandamento da razão que serve para orientar a ação e se exprime pelo verbo dever. Distingue dois tipos de imperativos: - O imperativo hipotético: ordena uma ação como meio de alcançar qualquer outra coisa que se queira; ou seja, a ação é boa porque me possibilita alcançar outra coisa além dela (um objeto, o prazer, o interesse, a felicidade)
66 4. O imperativo - O imperativo categórico: é o que visa a uma ação como necessária por si mesma, ou seja, a ação é boa em si, e não por ter como objetivo outra coisa; portanto, é assim chamado por ser incondicionado, absoluto, voltado para a realização da ação tendo em vista o dever.
67 4. O imperativo Ao distinguir imperativos hipotéticos dos imperativos categóricos, Kant conclui que a vontade humana é verdadeiramente moral apenas quando regida por estes últimos. Rejeita as concepções éticas anteriores, quer seja a ética grega, quer seja a ética cristã, que norteiam a ação moral a partir de condicionantes como a felicidade, o prazer, o interesse.
68 4. O imperativo Para o sujeito racional, a ação não deve ser movida por interesses com objetivo de ser feliz ou evitar a dor, ou ainda para alcançar o céu ou não sofrer a punição divina.
69 4. O imperativo Pelo imperativo categórico, o agir moral funda-se exclusivamente na razão. Mais ainda, a lei moral que a razão descobre é universal, pois não se trata de descoberta subjetiva, mas da pessoa como ser racional, e que é necessária, pois é ela que preserva a dignidade humana.
70 4. Nas palavras do próprio Kant: Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal. Exemplificando, suponhamos a norma moral "não roubar": para a concepção judaico-cristã, o fundamento da norma encontra-se no sétimo mandamento de Deus: "Não furtarás". para os teóricos jusnaturalistas, funda-se no direito natural, comum a todos os seres humanos; para os empiristas (como Locke), a norma deriva do interesse próprio, pois o sujeito que a desobedece será submetido ao desprazer, à censura pública ou à prisão;
71 4. O imperativo Para Kant, a norma enraíza-se na própria natureza da razão. Caso se aceite o roubo e consequentemente o enriquecimento ilícito, de modo a elevar-se essa máxima (pessoal) ao nível universal, haverá uma contradição: se todos podem roubar, não há como manter a posse do que foi furtado.
72 4. Autonomia e dignidade A autonomia da razão para legislar supõe a liberdade e o dever. Todo imperativo impõe-se como dever, mas essa exigência não é heterônoma exterior e cega - e sim livremente assumida pelo sujeito que se autodetermina. É essa a diferença que Kant percebe entre a sua ética e as anteriormente propostas, porque para ele o indivíduo só está sujeito à sua própria legislação, ainda que ele admita que essa lei por ele erigida deve ser universal.
73 4. Autonomia e dignidade A ideia de autonomia e de universalidade da lei moral leva a um outro conceito: o da dignidade humana, e, portanto, do ser humano como fim e não como meio para o que quer que seja.
74 4. Autonomia e dignidade Para tanto, Kant distingue as coisas que têm preço e as que têm dignidade. As que têm preço podem ser trocadas por um valor equivalente, mas as que têm dignidade valem por si mesmas e estão acima de qualquer preço. Isso significa que a moralidade por excelência é a que respeita qualquer ser humano como fim em si mesmo e não meio para o que quer que seja. Portanto, apenas os seres humanos - e qualquer um deles - têm dignidade.
75 4. Autonomia e dignidade Assim diz Kant: Age de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio.
76 4. Autonomia e dignidade Ao acentuar o caráter pessoal da liberdade, Kant elabora as categorias da moral iluminista racional e laica. No entanto, a moral kantiana é formalista porque fundada na razão universal, abstrata, o que mereceu a crítica dos filósofos posteriores. A partir do final do século XIX e ao longo do século XX, os filósofos orientam-se no sentido de descobrir o sujeito concreto da ação moral.
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