SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL SEPPIR
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1 SECRETARIA ESPECIAL DE POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL SEPPIR Nona Conferencia Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe Cidade do México, 10 a 12 de junho de Mesa Redonda: Gênero, raça, pobreza e emprego Apresentação: 12 de Junho 13:30hs Sala 2 Produção: Organização Internacional para o Trabalho - OIT Coordenadora: Laís Abramo (Especialista Regional em temas de Gênero, OIT) Panelistas: Matilde Ribeiro (Ministra Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualadde Racial, Brasil) Vivian Gavilán (Universidade Arturo Prat, Iquique, Chile) Paloma Bonfil (Diretora de Fortalecimento de Capacidades Indígenas da Comissão Nacional para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas do México)
2 A EXPERIÊNCIA DE CRIAÇÃO DE UM MECANISMO GOVERNAMENTAL PARA A PROMOÇÃO DA IGUALDADE RACIAL NO BRASIL Matilde Ribeiro 1 I. Marcos para a atuação A reprodução da pobreza e da miséria é, especialmente no caso brasileiro, um processo amplo e complexo. O Brasil, tanto em termos absolutos como em relação aos diversos países do mundo, não pode ser considerado um país pobre, mas, tem como um dos principais determinantes da pobreza, a desigualdade no acesso aos recursos. É importante ressaltar que os dados mais gerais da desigualdade escondem o fato de que a pobreza tem cor, ou seja, nascer negro no nosso país está diretamente relacionado à possibilidade de ser pobre. São os negros e negras que vivenciam as piores posições no mercado de trabalho, com rendimentos médios inferiores à metade daqueles percebidos pelos trabalhadores brancos, maiores taxas de desemprego e, quando ocupados, mais afetos ao trabalho informal. Os indicadores, pautados em grande medida pela existência da discriminação racial, consubstanciam um dos maiores desafios, senão o maior, a serem enfrentados pelas políticas públicas. Assim, a falta de acesso (ou o acesso desigual e limitado) ao trabalho, à infra-estrutura e aos serviços sociais (tais como educação, saúde, habitação, saneamento básico) faz com que a população negra seja sobre-representada entre os pobres. Os negros de ambos os sexos (pretos e pardos) representam 45% da população indigente. Os brancos, por sua vez, são 54% do total da população, mas somente 36% dos pobres e 31% dos indigentes (Henriques, 2001, dados para 1999). II. Igualdade Racial no Governo Federal A III Conferência Mundial de Durban contra o Racismo, a Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, em Durban África do Sul (2001), refletiu positivamente na política nacional. O governo brasileiro, desencadeou uma série de iniciativas e estratégias compreendidas como ações afirmativas, sugerida pelos Ministérios da Cultura, da Justiça, da Educação, do Trabalho e do Desenvolvimento Agrário, impulsionando o Programa Nacional de Ações Afirmativas. Assim, a gestão de do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva 2, herdou como tarefa a construção do Plano Nacional de Ação Pós Durban. Desafio este que está 1 Ministra chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial Presidência da República Federativa do Brasil. 2 O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito em outubro de
3 sendo levado adiante em parceria com amplos setores da sociedade, concretizando novas ações na área econômica, política, cultural e social. Após três meses de inicio do governo foi criada a SEPPIR Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, em 21 de março de 2003, fortalecendo a data instituída pela ONU como Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial. Este organismo tem por competência o assessoramento a Presidência da República, com status de ministério. Entre as medidas político-administrativas implementadas pelo governo federal, visando à efetiva orientação estratégica que une a política social e o combate a discriminação racial, a Seppir tem por missão: 9 Promover a igualdade e a proteção dos direitos de indivíduos e grupos raciais e étnicos afetados pela discriminação e demais formas de intolerância, com ênfase na população negra; 9 Acompanhar e coordenar políticas de diferentes ministérios e outros órgãos do Governo Brasileiro para a promoção da igualdade racial; 9 Articular, promover e acompanhar a execução de diversos programas de cooperação com organismos públicos e privados, nacionais e internacionais; 9 Acompanhar e promover o cumprimento de acordos e convenções internacionais assinados pelo Brasil, que digam respeito à promoção da igualdade e combate à discriminação racial ou étnica. O compromisso efetivo da SEPPIR é a construção de uma política de governo voltada aos interesses reais da população negra e de outros segmentos étnicos discriminados na sociedade brasileira. Entre as medidas e ações voltadas para a redução das desigualdades raciais, é enfocada a política de ações afirmativas para aa promoção da igualdade racial. Assim, inserir a igualdade racial na política pública nacional, exige uma atuação junto à diferentes esferas, seja na administração publica federal, estadual ou municipal, seja junto a instituições de ensino e organismos não governamentais, exatamente pelo papel desempenhado por tais organismos, considerando que trazem para o poder público as demandas da sociedade. A Seppir, com vistas nos eixos estruturantes do governo federal, desenvolve sua ação considerando: a transversalidade, a gestão democrática e a descentralização. Para a concretização de tais eixos, é necessário garantir: A) O trabalho entre diferentes esferas do governo federal tanto em parceria entre os diferentes ministérios e outras esferas do poder público nas instâncias estaduais e municipais; B) O convencimento da importância das políticas, considerando o valor histórico da questão racial nacional, tal convencimento deve dar-se junto ao poder público, para políticas eficazes, mas também junto à sociedade. 3
4 C) O desenvolvimento de parcerias com entidades de diferentes esferas de atuação: instituições nacionais e internacionais; organizações não governamentais; instituições de ensino público e privado; e outras formas de organização, têm, na maioria dos casos, experiências acumuladas na execução de projetos. Citamos, como exemplo dessa forma de atuação: Gênero Raça Pobreza e Emprego Programa GRPE Na área de capacitação de gestores, o governo federal, a partir de iniciativa da Seppir, desenvolve parceria com a Organização Internacional do Trabalho-OIT para a implementação do Programa de Fortalecimento Institucional Gênero, Raça, Pobreza e Emprego- GRPE. Lançado no ano de 2003, por meio do Fórum Erradicação da Pobreza, Geração de Emprego e Igualdade de Gênero e Raça: Experiências Internacionais, o Programa é composto por oito módulos com fundamentação e proposição para ações relativas à implementação de políticas públicas de promoção da igualdade racial. Estão sendo definidos convênios entre a OIT e o governo federal, intensificando-se tais ações no interior de vários ministérios, e convênios com governos estaduais e municipais. O objetivo principal do Programa GRPE é, de fortalecer a incorporação das dimensões de gênero e raça nas políticas públicas de combate à pobreza e geração de emprego, por meio de 3 linhas de ação: a) sensibilização, capacitação e formação de gestores públicos e outros atores sociais; b) desenvolvimento de atividades de assistência técnica com o objetivo de fortalecer as dimensões de gênero e raça nas políticas públicas de combate à pobreza e geração de empregos; c) fortalecimento dos espaços de diálogo e concertação social em tornos desses temas. A política de Quilombos Há 504 anos aportou no Brasil parte da população Africana. Independente de sua vontade, sob condições difíceis de sobrevivência, essa povo aqui se instalou e através dos anos foi povoando o país. Trouxeram suas manifestações e formas culturais, mesmo que escondidas dos senhores, criaram diversas formas de resistência e de manutenção dos seus costumes ancestrais. Uma dessas formas foi a criação de Quilombos: locais onde moravam muitos escravos que fugiam dos maus tratos; local onde, além da sobrevivência e liberdade, acolhimento e luta, eram guardadas as tradições dos grupos que ali moravam. Assim, os pesquisadores brasileiros partem do pressuposto que as comunidades remanescentes de quilombos são grupos étnicos-raciais com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com resistência à opressão história sofrida. Por motivos históricos, essas comunidades não têm garantido seus direitos constitucionais, o que afeta, sobremaneira, a qualidade de vida e o acesso a bens e serviços. 4
5 Foram localizados oficialmente cerca de 700 (extra oficialmente, fala-se em cerca de 4.000) quilombos nos dias de hoje. A maioria deles em território rural, em regiões de difícil aceso, muitas vezes em péssimas condições de infra-estrutura, sem serviços, sem saneamento básico ou luz elétrica. Assim, o governo federal está formulando o Programa Brasil Quilombola, visando o desenvolvimento das comunidades remanescentes de quilombos. Tal programa reúne ações que visam a alterar as condições de vida dessa comunidade, por meio da regularização da posse da terra, do estímulo ao etnodesenvolvimento e do apoio às associações das comunitárias. A base para desenvolvimento desse programa é o Decreto n de 20/11/2003 que regulamenta o procedimento de identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades de quilombos de que trata o Art. 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. A Seppir coordena o Comitê gestor, que conduz a formulação e monitoramento do Programa Brasil Quilombola, composto por 23 organismos do governo federal. Diante desse novo contexto, além das ações no âmbito federal, são envolvidos governos estaduais e municipais, bem como organizações não governamentais, o que proporciona o atendimento a complexidade do trabalho. Fórum Intergovernamental A Seppir tomou a iniciativa de constituir o Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial, por meio da proposta de trabalho conjunto com Municípios e Estados que possuem organismos executivos: secretarias, coordenadorias, assessorias ou afins com a responsabilidade de coordenar políticas de promoção da igualdade racial. Este Fórum tem como objetivos: a) Construir e/ou ampliar formas de capilaridade da Política Nacional de Promoção da Igualdade Racial; b) Fortalecer a transversalidade da igualdade racial nas políticas públicas; c) Promover a troca de experiências e a articulação entre os organismos e identificar experiências comuns; d) Contribuir para o fortalecimento institucional dos órgãos similares à Seppir voltados para a execução de políticas públicas para a população negra no âmbito municipal ou estadual, buscando o seu empoderamento político das estruturas institucionais existentes; e) Estimular os municípios e estados a realizarem as Plenárias Municipais e Conferências Estaduais e Nacionais de Promoção da Igualdade Racial. Para o primeiro ano de funcionamento do Fórum (maio/2004 maio/2005), a educação foi escolhida como tema prioritário de trabalho. Mais precisamente será enfocada a implementação da Lei , que prevê a inserção da História e Cultura Afro-Brasileira no ensino fundamental e médio, com o objetivo de: 5
6 9 Propor que as Secretarias Municipais e Estaduais de Educação organizem seminários regionais visando a preparação de gestores para a implementação da lei; 9 Estimular o envolvimento, nas ações do Fórum, das Secretarias Estaduais e Municipais de Cultura nos processos de capacitação; 9 Contribuir para a ampliação da inclusão do negro na educação brasileira por meio do fortalecimento de um Programa de Inclusão da População Negra na Educação Brasileira. Após a consolidação do Fórum Intergovernamental de Promoção da Igualdade Racial e da implementação da Lei , pretende-se ampliar a atuação para outros temas como: trabalho, geração de renda e saúde da população negra. 3. Perspectivas para o futuro As experiências demonstradas anteriormente traduzem um grande desafio que é o de estruturar uma política nacional nos marcos da administração pública federal. Neste sentido, estão sendo construídas possibilidades inovadoras. Consideramos que inserir na agenda econômica, política e cultural nacional a promoção da igualdade racial é fundamental para a alteração dos indicadores de pobreza e desigualdade e o exercício pleno da cidadania. Para isso, a Seppir tem a missão de garantir relacionamento contínuo com os diversos organismos governamentais e nãogovernamentais. As perspectivas apontam para uma ação continuada que garanta nivelação entre as várias áreas da política pública. Considera-se importante o fortalecimento de uma Política de Estado, isto é, a formulação de instrumentos legais que legitimem a ação de governo. Com isto, garante-se os direitos dos grupos discriminados, na lei e na vida. Cidade do México, 12 de junho de
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