Uma aula de prática orfeônica com estudo do Hino Nacional

Transcrição

1 Uma aula de prática orfeônica com estudo do Hino Nacional JOSÉ TEIXEIRA n' ASSUNÇÃO - "Vamos hoje começar nossas aulas de Prática Orfeônica. Alguns de vocês talvez não saibam o que significa isso. São aulas que usaremos para cantar em conjunto. Nessas primeiras aulas estudaremos o Hino Nacional Brasileiro. " É comum surgir um ou mais alunos que adiantam já saber êsse Hino. Se assim fôr, obedecendo às necessidades da Escola Ativa, é de todo aconselhável fazer um convite à turma para que cante. Nesse caso, certamente teremos de usar a motivação negativa porque inúmeros serão os erros, sendo preferível que isso seja descoberto pelos alunos e r.30 afirmado pelo professor. P ara tal, pcdemos fazer a seguinte pergunta logo ao término dn execução: - "Que acharam; houve algum êrro?" Temos observado que é boa a autocrítica nessa idade e alguns reconhecerão ter havido erros. Deve então o professor concordar e cuidadosamente citar alguns erros de poesia, ritmo e melodia, executando o modo correto e aquilo que fizeram de errado (não existe aq ui o perigo de fixar o êrro). Isso em geral provoca risos na turma, principalmente se, tratando dos erros feitos na melodia, citarmos no 1.0 refrão, aquêles muito comuns: JosÉ TEIXEIRA D'ASSUMPçÃo - Professor do C. N. F.

2 ESTUDO DO HINO TACIONAL 101 fazendo o que é correto e o que sempre ~e faz, juntando à execução o gesto com a mão espalmada. - "Pois bem, para evitar êsses e outros erros é que vamos começar a nossa Prática Orfeônica com o estudo do Hino Nacional - que muitos julgam conhecer bem, mas que nós sabemos não ser bem assim... " "Acredito que nenhum de vocês tenha dúvidas quanto à necessidade de se estudar bem o Hino de nossa Pátria, mas como às vêzes alguém por preguiça talvez pense: - "Ora pr'a quê estudar o Hino Nacional quando tanta gente o canta erradamente" - é preciso que se diga que, se há pessoas que cantam o nosso Hino com erros (até adultos, quando não o deveriam fazer!), não é por isso que nós devemos continuar errando. Para isso estamos nós no colégio." "Você não veio ao Colégio para estudar História, Geografia, Matemática e várias outras matérias? Então? Você não mais vai ter dúvida quanto ao dia em que o Brasil foi descoberto; não mais vai dizer que a Terra é redonda e sim que é geóide. Assim também, você não mais vai cantar o hino de sua Pátria de qualquer maneira - você vai aprender a cantá-lo bem, se possível sem um êrro!" Depois, veja bem como é triste encontrarem-se brasileiros que ao cantar o Hino de sua Pátria, o fazem temerosos de se destacarem do conjunto dando "foras" por desconhecer a poesia! Deixar que os que estão ao lado iniciem certos versos para depois segui-los! Coçar a testa, tossir, baixar a cabeça ou tampar a bôca nas partes que desconhece, fingindo uma naturalidade que não existe!... É vergonhoso!... "Vocês aprenderão a cantar bem o Hino Nacional, com convicção; e desejarão cantar muito êsse Hino para dar uma lição de patriotismo e não, como muitos... ficam com o coração batendo, pequenininho, quando se pede para cantar o Hino Nacional Brasileiro." Feita essa explanação, motivadora, e que justifica o estudo que se irá iniciar, é aconselhável o professor, dispon-

3 102 Cl:RRIClJLUM ]( / 62 do do Hinário gravado pelo Departamento Nacional da Educação, fazer ouvir êsse Hino, a parte cantada e a parte executada pela orquestra sinfônica, tecendo comentários que iniciem os alunos na parte estética. Caso isso não seja possível, tendo sentido o interêsse da turma em ouvir o Hino cantado corretamente, pode o professor entoar todo o Hino, cuidando que sua execução não desacredite a motivação feita, com acanhamentos ou esquecimentos. Terminada a execução, deve-se entrar então propriamente no seu estudo. - "Como viram quando apontei alguns erros na execução de vocês, os erros podem ser de letra, ritmo e melodia." Vai à pedra e escreve: 1) Letra 2) Ritmo 3) Melodia "Para vocês compreenderem melhor o que estou dizendo, darei um exemplo. Vou declamar a l.a estrofe do Hino Nacional. " E declama: Ouviram do Ipiranga as margens plácidas De um povo heróico o brado retumbante E o sol da liberdade em raios fúlgidos Brilhou no céu da Pátria nesse instante "Isso foi apenas a poesia. Agora ouçam essa mesma estrofe (1) declamada com o ritmo do Hino" - e realiza a Declamação Rítmica dessa estrofe. Vai ao quadro e acrescenta ao que escreveu: 1) Letra 2) Ritmo 3) Melodia Declamação rítmica 1) N ão há inconveniente em usarmos a palavra estrc1e ( que, mesmo de;conhecida para os alunos, na palestra toma um sentido claro e intuitivo que melhor poderá ser explicado adiante, como veremos).

4 ESTUDO DO HINO NACIONAL 103 ~ "Isso que vocês ouviram é a declamação acompanhada do ritmo, que nós chamaremos de Declamação Rítmica." - "Ouçam agora o que vou fazer": - e canta a 1. a estrofe. - "Que foi que eu fiz?" - Os alunos sempre responderão o que desejarmos se pretendemos respostas implícitas. Em casos excepcionalíssimos terá o professor de explicar que juntou à letra, o ritmo e a melodia. Poderá também o professor, a seu critério - mas nunca dando aspecto de ditado ou recitação, e sim como simples citação, indicar os autores da poesia e música no decurso de suas explanações. - "Pois bem, justamente por se juntarem alguns erros de letra com alguns erros de ritmo e alguns erros de melodia é que tantos erros se encontram na execução do Hino Nacional. Nós, para vencermos todos êsses erros que adquirimos por ouvir cantar errado, vamos estudar o Hino dividindo as suas partes. Poderíamos começar pela letra ou então pelo ritmo, mas é mais fácil começarmos pela Declamação Rítmica que é... " - "O que é mesmo a Declamação Rítmica?" Ligeira inflexão de voz e essa pergunta leva os alunos a concluir "é a reunião de ritmo e poesia". Distribuir então o Hino mimeografado a cada aluno ou indicar a página do livro. Pode-se também usar duas fôlhas de cartolina branca com a letra das duas partes do Hino Nacional colocando-as à vista da turma. Dirigindo-se então ao Quadro Mural com a letra do Hino, ou usando simplesmente a fôlha mimeografada ou o livro, apontar as estrofes ou refrãos: - "Vocês podem notar que os versos do Hino Nacional estão reunidos em grupos de três, quatro ou mais versos. Quando êsses grupos de versos não se acham repetidos exatamente iguais na segunda parte, temos o nome de estrofe; quando se encontram repetidos na segunda parte, chamam-se refrão. Vamos ver quais são as estrofes e quais são os refrãos? Examinem a poesia do Hino!"

5 104 CURRICULU M Il/ 62 Feita a localização, pedir aos alunos que cerquem com um traçado de lápis os dois refrãos: Ó Pátria Amada Idolatrada Salve! Salve! e Terra adorada Entre outras mil És tu Brasil Ó Pátria Amada Dos filhos dêste solo és mãe gentil Pátria Amada Brasil! nas duas partes. - "Qual a vantagem para o nos-so estudo da existência dêsses dois refrãos?" A resposta nos alunos, como vimos, é freqüente; cabe ao professor organizá-la. "Isso! Economia de tempo e trabalho! Aprendendo de uma vez o que será usado duas vêzes!" "Vejam então quantas estrofes vocês terão que estudar? Apenas 4 estrofes na primeira parte e 4 na segunda parte." "Pois bem, isso é ainda mais fácil do que vocês estão pensando! Reparem na Declamação Rítmica que vou fazer:" - e faz a Declamação Rítmica do 1.0 verso: - "Ouviram do Ipiranga as margens plácidas" "Façam comigo agora - só a Declamação Rítmica!,. Ajudar com palmas. Fazer repetir duas ou três vêzes, visando uma execução correta do ritmo. Invariàvelmente, ao fazer a elisão "do I" antes da palavra Ipiranga, ouviremos o ditongo "oi". Ràpidamente esclarecer que sempre que tivermos de dizer de uma só vez duas vogais em palavras diferentes, devemos passar ràpida-

6 ESTUDO DO HINO r-.: ACIONAL 105 mente pela primeira e acentuar a segunda. É também conveniente ir à pedra e escrever: desenho que permite intuir bem o que se deseja. "Nós já aprendemos o 1.0 verso da 1. 8 estrofe; coloquem então uma cruz com o lápis nesse verso. Isso! Reparem agora na execução que eu vou fazer do terceiro verso.') E faz a Declamação Rítmica. "Êsse ritmo é igualou diferente do ritmo do 1.0 verso? Caso não seja notada a semelhança nessa primeira vez - o que freqüentemente acontece, pedir à turma que faça a Declamação Rítmica do 1.0 verso, dirigindo-a, e depois sôzinho fazer a Declamação Rítmica do terceiro. - "É igual?" A afirmação é geral. - "Assinale então êsse verso também com uma cruz." - "Olhem agora, a terceira estrofe; vamos fazer a Declamação Rítmica do 1.0 verso; comigo!" E ajuda os alunos com palmas: - "Brasil, um sonho intenso, um raio vívido." Assim, levar os alunos a fazer também o 3. verso dessa estrofe: - "Se em teu formoso céu risonho e límpido", e todos os correspondentes aos versos feitos, na 2. 8 parte, concluindo da sua igualdade e pedindo que os assinalem no papel. - "Chegamos à conclusão então, de que O ritmo do Hino Nacional não é tão difícil de aprender como poderia parecer no início, não é? Aprendendo os 2 refrãos da 1. 8 parte, saberemos os da 2. 8 parte; aprendendo o ritmo do 1.0 verso da 1. 8 estrofe, aprenderemos logo como fazer mais sete versos em todo o Hino." É de todo conveniente

7 106 CU RRI CU LUM JI / 62 que ao fazer essa análise final da letra e ritmo do Hino, o professor vá apontando com a flecha, ou mesmo com a mão, os versos correspondentes no quadro mural, apostilha ou livro. - "E eu posso terminar afirmando a vocês, que como veremos na próxima aula, aprendendo o 2.0 verso da 1. a estrofe (aponta) saberemos também sete novos versos nas duas partes do Hino (aponta e lê): Brilhou no céu da Pátria nesse instante. De amor e de esperança à Terra desce A imagem do Cruzeiro resplandece e os correspondentes na 2. a parte. Êste trabalho - que não é exposto aqui teàricamente, mas numa transcrição quase "ipse literis" de nossas primeiras aulas de Prática Orfeônica nas 1 a.s séries ginasiais, cabe perfeitamente em 50 minutos e obedece aos ditames da Escola Ativa. Analisando-a rápida e esquemàtic2men te, poderíamos dizer: 1. Objetivos - São ressaltados os objetivos de estudo dos Hinos, levando os alunos ao interêsse de aprender, fazendo-os compreender que os muitos erros que inadvertidamente praticam, serão fàcilmente removidos; consegue-se estabelecer desde logo conhecimentos vários sôbre o Hino Nacional, imperceptivelmente (disposição de estrofes e refrãos, alternância de ritmos nos versos, possivelmente autores, fixação da poesia, etc., conhecimentos êsses que serão sistematizados no decorrer dos estudos, dentro do mesmo processo intuitivo); procura-se desenvolver também atitudes de brasilidade, de civismo, amor à perfeição, etc. 2. Tempo Entrada na Sala Ambiente, acomodação e verificação da presença 5 mino Motivação inicial - Normalmente essa parte leva com as variantes admissíveis 5 mm.

8 TI TUDO DO HI O N ACIONAL 107 Prática Orfeônica - Durante: a) execução do Hino 5 mino b) o exercício final 5 mino Apreciação Musical - Audição do Hinário, pequenos comentários Exposição Didática - objetivos dessa intro- Resumo e síntese - dutória ao Hino visando os 10 m1n. 15 mino 5 mm.