PARECER TÉCNICO Nº. 001/08 NCA/TEC GOIÂNIA, GO, 18 DE JULHO DE REFERÊNCIA: GRADE ANTI CARDUMES UHE FOZ DO RIO CLARO OBJETIVO DO DOCUMENTO
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1 PARECER TÉCNICO Nº. 001/08 NCA/TEC GOIÂNIA, GO, 18 DE JULHO DE REFERÊNCIA: GRADE ANTI CARDUMES UHE FOZ DO RIO CLARO OBJETIVO DO DOCUMENTO Este documento faz uma avaliação técnica sobre o dimensionamento da malha a ser utilizada na grade de proteção de peixes (grade anti cardumes), a qual integrará o projeto de engenharia da Usina Hidrelétrica Foz do Rio Claro, localizada na parte baixa do rio Claro (bacia do rio Paranaíba), municípios de São Simão (margem esquerda) e Caçu (margem direita), no estado de Goiás. PADRÕES MIGRATÓRIOS EM PEIXES O conhecimento dos movimentos migratórios dos peixes é um requisito indispensável para o melhor manejo ambiental, principalmente no que se refere à manutenção e exploração dos recursos pesqueiros, bem como na avaliação dos efeitos negativos advindos da inserção de barramentos em um rio, e na elaboração de soluções práticas para as perturbações geradas (Bonetto & Castello, 1985; Carvalho et al., 1995). Os movimentos migratórios dos peixes estão relacionados às necessidades reprodutivas, alimentares, de crescimento corporal ou para fugir das situações estressantes, tais como temperatura ou baixa oxigenação da água (Schlosser, 1995). Estes fatores podem se sobrepor e ser dependentes um do outro (Bonetto, 1963), mas todos estão de alguma maneira, relacionados com as inundações sazonais dos rios (Bonetto & Castello, 1985). Segundo Agostinho et. al. (2007), considerando se o espaço vital requerido pelas espécies durante seus ciclos de vida, pode se classificar os peixes neotropicais em duas categorias principais, sendo elas as espécies sedentárias e os grandes migradores. 1
2 As espécies sedentárias são aquelas aptas a desenvolver todas as atividades vitais (alimentação, reprodução e crescimento) numa área restrita da bacia. Esta categoria é mais freqüente em ambientes lênticos, para os quais apresentam adaptações respiratórias a períodos de baixa oxigenação, tolerando grandes variações térmicas. Espécies dessa categoria são também freqüentes em riachos e ribeirões, onde apresentam morfologia adaptada a uma existência em águas correntes, sendo neste caso sensíveis a baixas concentrações de oxigênio. A reprodução das espécies sedentárias ocorre, geralmente, durante período prolongado e está associada a desovas parceladas. Alguns membros desta categoria são bem sucedidos na ocupação dos novos ambientes formados pelos represamentos ou mesmo em rios de vazão controlada. Destacam se, entre esses peixes, os ciclídeos, alguns loricarídeos, eritrinídeos e pequenos caracídeos. As grandes migradoras, também conhecidas como espécies potamódromas, requerem amplos trechos livres da bacia, onde se deslocam por grandes distâncias. Embora os deslocamentos mais relevantes sejam os reprodutivos, é possível reconhecer outras motivações. Assim, ocorrem também migrações de caráter térmico ou sazonal, trófico ou nutricional, e ontogenético ou de crescimento, quase todas, de alguma forma, associadas ao regime hidrológico (Bonetto & Castello, 1985). É comum que essas migrações se combinem ou se sobreponham em grau variável, ou mesmo que uma dependa de outra (Bonetto, 1963). Os migradores de longa distância são, geralmente, de maior porte e maior valor comercial, e têm ovos pequenos e numerosos que são eliminados em curto intervalo de tempo (Agostinho & Julio Jr, 1999). A desova, em geral, ocorre em áreas lóticas de trechos mais altos da bacia, quando o nível do rio está em ascensão (Godoy, 1975; Agostinho et al., 1993; Agostinho et al., 2003). ESPÉCIES MIGRATÓRIAS O conjunto dos dados sobre a ictiofauna levantados pelo Programa de Conservação da Ictiofauna realizado na área de influência do empreendimento, bem como dados bibliográficos de estudos realizados no rio Claro (ENGEVIX, 2001; Costa, 2006) e na bacia do rio Paranaíba (CESP, 1994; AGMA, 2005), apontam para somente 16 (desesseis) gêneros e 26 (vinte e seis) espécies que apresentam um padrão de deslocamento geralmente superior a 100 quilômetros em suas migrações, seja reprodutivas ou tróficas (Quadro 1). 2
3 Quadro 1. Peixes migratórios registrados na bacia do rio Claro e alto rio Paranaíba. TAXON Classe Actinopterygii Ordem Characiformes Família Prochilodontidae Prochilodus lineatus Prochilodus vimboides Família Anostomidae Leporinus affinis Leporinus friderici Leporinus octofasciatus Leporinus striatus Leporinus taeniatus Leporinus trifasciatus Schizodon nasutus Schizodon knerii Família Characidae Salminus brasiliensis Subfamília Bryconinae Brycon orbignyanus Subfamília Serrasalminae Myleus levis Myleus micans Piaractus mesopotamicus Família Acestrorhynchidae Acestrorhynchus pantaneiro Família Cynodontidae Subfamília Cynodontinae Rhaphiodon vulpinus Ordem Siluriformes Família Pimelodidae Hemisorubim platyrhynchos Iheringichthys labrosus Pimelodella gracilis Pimelodus blochii Pimelodus fur Pimelodus ornatus Pseudoplatystoma corruscans Família Heptateridae Phenacorhamdia tenebrosa Rhamdia quelen NOME COMUM Curimbatá; Curimba; Grumatã Curimba; Papa terra Piau flamengo Piau Ferreirinha Canivete Canivete Piau cabeça gorda Tanguará, Chimboré Tanguará, Chimboré Dourado Piracanjuba Pacu peva Pacu Caranha Peixe cachorro Cachorra facão; Dentudo Jurupoca Mandi bicudo Mandi chorão Mandi Mandi Mandi Pintado Bagrinho, Mandizinho Bagre, Lobó GRADE ANTI CARDUMES Considerando que a maioria das espécies migratórias registradas pada a bacia do rio Claro são espécies consideradas como de médio ou grande porte e, ainda, que o grande fluxo de água a 3
4 ser apresentado no canal de desemboque das turbinas quando de seu funcionamento (aproximadamente 3 m/s), naturalmente restringirá a presença de espécies de menor porte nesse local, sugere se que o tamanho viável para a malha que constituirá a grade anticardumes a ser instalada na Usina Hidrelétrica Foz do Rio Claro seja de 4 (quatro) centímetros diagonais de um retângulo. Esse tamanho certamente será suficiente para impedir o trânsito de peixes que se localizarem no canal de desemboque das turbinas no momento de sua parada, principalmente daqueles que apresentam maiores resistências a ambientes de águas rápidas e aqueles com características morfológicas alongadas como os das famílias Acestrorhinchidae, Anostomidae, Cynodontidae e alguns membros da família Characidae. No dimensionamento da malha da grade anti cardumes há de se considerar a presença de uma quantidade considerável de sedimentos e fragmentos vegetacionais (galhos e folhas) em suspensão, os quais poderão ser direcionados para as turbinas em função do fluxo de água gerado para essas estruturas. Nesse sentido, a redução dessa malha pode comprometer significativamente o seu funcionamento e vida útil. Ressalta se este parecer faz uma análise técnica sobre o dimensionamento da malha a ser utilizada em função das características apresentadas pela assembléia de peixes registrada para o rio Claro até o momento e que o mesmo não se presta para atestar a eficácia e o perfeito funcionamento de tal estrutura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGMA Estudo Integrado de Bacias Hidrográficas da Região Sudoeste do Estado de Goiás. Goiânia. AGOSTINHO, A. A.; GOMES, L. C & PELICICE, F. M Pesca e recursos pesqueiros em reservatórios brasileiros. Maringá, EDUEM, 460p. AGOSTINHO, A. A. & JÚLIO JR., H. F Peixes da Bacia do Alto Rio Paraná. In: LOWE McCONNELL, R.H. (Ed.). Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. Tradução de A. E. A. de M. VAZZOLER, A. A. AGOSTINHO e P. T. M. CUNNINGHAM. São Paulo, EDUSP,
5 AGOSTINHO, A. A.; GOMES, L. C.; SUZUKI, H. I. & JULIO Jr. H. F Migratory fishes of upper Paraná river basin, Brazil. In: CAROLSFED, J.; HARVEY, B.; BAER, A. & ROSS, C. (Eds.). Migratory fishes of South America: Biology Social Importance and Conservation Status. FAO/World Fisheries Trust. 70p. AGOSTINHO, A. A.; VAZZOLER, A. E. & GOMES, L. C Estratificacion Espacial y Comportamental de Prochilodus scrofa em Distintas Fases del Ciclo de Vida, em Planície de Inundacion del Alto Rio Paraná y Embalses de Itaipu, Paraná, Brasil. Revue Hydrobiol. Trop., 26 (1): BONETTO, A. A Investigaciones sobre migraciones de peces en los rios de la cuenca del Plata. Ciência e Investigación, 19(1 2): BONETTO, A. A., & CASTELLO, H. P Pesca y piscicultura en aguas continentales de America Latina. Washington, D.C.: Secretaria General de la Organización de los Estados Americanos. Programa Regional de Desarrollo Científico y Tecnológico (Série de Biologia; n.31). 118 p. CARVALHO, M. L.; PETRERE Jr., M. & AGOSTINHO, A. A Diagnóstico e Diretrizes Para a Pesca Continental. Relatório do Projeto BRA/90/005 Apoio ao Ministério do Meio Ambiente, dos recursos Hídricos e da Amazônia Legal para a Consolidação do Gerenciamento Ambiental. 158 p. CESP Programas de Pesquisas. Reservatório da Usina Hidrelétrica (UHE) Ilha Solteira SP. COSTA, M. C Caracterização da assembléia de peixes da sub bacia do rio Claro e suas relações com os padrões de ocupação humana no sudoeste do Estado de Goiás Brasil Dissertação mestrado Mestrado em Ciências Ambientais e Saúde Universidade Católica de Goiás. 81 f.: il. ENGEVIX Estudo de Impacto Ambiental do Complexo Energético Caçu/Barra dos Coqueiros. Brasília. GODOY, M. P Peixes do Brasil, subordem Characoidei. Bacia do rio Mogi Guassu. Piracicaba, Brasil. Editora Franciscana, 4. 5
6 T021 UHE F PROGRAMA DE CONSERVAÇÃOO DA ICTIOFAUNAA FOZ DO RIO CLAR RO PARECER T TÉCNICO SCHLOSSER, I. J Critical landscape Attibutes that Influence Dynamics in Headstreams. Hydrobiologia, 303 (1 3): Fish Population Nelson Jorge da Silva Jr. CRBio Coordenador Geral Marcio Candido da Costa M.Sc. CRBio Gerente Técnico 6
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