COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA DO RIO CANTU, TRIBUTÁRIO DO RIO PIQUIRI, BACIA DO ALTO RIO PARANÁ.

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1 COMPOSIÇÃO DA ICTIOFAUNA DO RIO CANTU, TRIBUTÁRIO DO RIO PIQUIRI, BACIA DO ALTO RIO PARANÁ. 1 Ricardo Soni; 1 Thales Serrano Silva; 2 Vitor André Frana; 2 Carlos Henrique Orsi; 3 Éder André Gubiani, para correspondência: ricardosoni_20@hotmail.com 1 Acadêmico do curso de Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE Toledo PR. 2 Engenheiro de Pesca e Mestrando de Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE Toledo PR. 3 Professor adjunto da Universidade Estadual do Oeste do Paraná UNIOESTE Toledo PR. Palavra chave: Levantamento ictiofaunístico, espécies raras, extinção de espécies, rio Piquiri. Resumo: A construção de barragens causa severas modificações na assembleia de peixes. Recentemente, tem sido crescente a implantação de pequenas centrais hidrelétricas (PCH s), entretanto seus efeitos sobre a ictiofauna são ainda desconhecidos. Dessa forma, o objetivo deste estudo foi caracterizar a assembleia de peixes do rio Cantu antes da implementação de PCH s em seu curso. As amostragens foram realizadas em novembro de 2008 e fevereiro de 2009, em quatro locais, com utilização de redes de espera simples e feiticeiras, além de espinhéis, covos, tarrafas, peneirões e arrastos. Foram capturados 843 indivíduos, pertencentes a 54 espécies, distribuídas em 13 famílias e 5 ordens. As ordens que registraram o maior número de espécies foram Characiformes (28 espécies) e Siluriformes (20 espécies). O número de espécies capturadas neste estudo foi baixo quando comparado aos rios Tibagi, Piquiri, Ivinhema, Iguatemi e bacia do rio Taquara, também pertencentes à bacia do alto rio Paraná. As espécies mais abundantes foram Acestrorhynchus lacustris, Hypostomus cf. paulinus e Steindachnerina insculpta. Além disso, foi registrada a captura de espécies listadas como ameaçadas de extinção, como é o caso de Myleus tiete e Steindachneridion scriptum. Nesse sentido, a interceptação de rotas migratórias por meio da construção de barragens pode levar ao desaparecimento de espécies migradoras, além de diminuir a diversidade de habitats principal causa da extinção de espécies, especialmente as raras. Introdução A Região Neotropical possui a mais rica ictiofauna de água doce conhecida do mundo, com estimativa de mais de espécies (Reis Kullander & Ferrais JR., 2003). Segundo Graça & Pavanelli (2007) o Brasil possui a maior rede hidrográfica do mundo e mais de espécies válidas, entretanto com o incremento de ambientes ainda não explorados, esse número, certamente, será ainda maior. Essa riqueza ocorre preferencialmente em ambientes lóticos, que estão sendo ameaçados pela construção de numerosas barragens (Ferreira, 1993; Santos, 1995). A modificação de rios em lagos artificiais pelos represamentos resulta na alteração da abundância das espécies com a eventual extinção local, regional ou até mesmo global de alguns componentes da ictiofauna. Agostinho, Júlio JR. & Borghetti (1992) relatam que a assembléia de peixes existente em um reservatório é resultante da colonização feita por aquelas anteriormente presentes no rio, espécies naturalmente em baixas densidades podem encontrar condições favoráveis e

2 proliferarem, enquanto outras, que não tenham no novo ambiente as condições adequadas para satisfazerem suas necessidades ecológicas, podem ter sua abundância reduzida, ou mesmo, serem eliminadas. Tendo em vista que o rio Cantu apresenta a possibilidade de implantação de pequenas centrais hidrelétricas e que é, extremamente, necessário o conhecimento da composição ictiofaunística, antes da formação de reservatórios para a implementação de medidas mitigadoras de impacto, o presente estudo visa apresentar a composição da ictiofauna antes da formação destes pequenos reservatórios no rio Cantu. Metodologia Para o levantamento ictiofaunístico, foram realizadas coletas em novembro de 2008 e fevereiro de 2009, em quatro locais de amostragens (Figura 1). Foram utilizados diversos apetrechos de pesca, tais como: redes de espera de malha simples (2,5 a 12 cm entre nós) e tresmalho (6 a 8 cm entre nós), com 10 metros de comprimento, espinhéis (30 anzóis) e covos, os quais foram expostos por 24 horas e checados a cada 8 horas, além de tarrafas (malhas 4,0 e 6,0 cm entre nós) e peneirões (malha 500 µm) utilizado durante o dia, e arrastos (malha 0,5 cm) realizados durante o crepúsculo vespertino. Após as capturas, os peixes foram acondicionados em sacos plásticos etiquetados quanto ao local, horário e aparelho de pesca, sendo fixados em formol 10% e mantidos em tambores plásticos para posterior análise. Em laboratório, os peixes foram identificados segundo Graça & Pavanelli (2007) e pelo menos um exemplar de cada espécie foi depositado no museu de Ictiologia da Universidade Estadual de Maringá. O enquadramento taxonômico das espécies capturadas foi baseado na classificação proposta por Britski, Sato & Rosa (1988) e Reis, Kullander & Ferraris JR. (2003). De cada indivíduo foi obtido o comprimento total, comprimento padrão e peso total. 4 Figura 1 - Localização dos pontos de amostragem no rio Cantu, realizadas em novembro de 2008 e fevereiro de Resultado e discussão

3 Neste estudo, foram capturados 843 indivíduos, pertencentes a 54 espécies, 13 famílias e 5 ordens, distribuídas conforme segue: 28 espécies de Characiformes, 20 de Siluriformes, 3 de Perciformes, 2 de Gymnotiformes e 1 de Cyprinodontiformes. Os locais com maior número de espécies foram: local 3 (41 espécies) e local 4 (31 espécies). As espécies mais abundantes nos quatros locais foram: Acestrorhynchus lacustris (134 indivíduos), Hypostomus cf. paulinus (116 indivíduos) e Steindachnerina insculpta (74 indivíduos) (Tabela 1). Tabela 1 - Enquadramento taxonômico das espécies registradas no rio Cantu, em novembro de 2008 e fevereiro de Os números de 1 à 4 indicam o local de captura. CHONDRICHTHYES Espécies TOTAL Characiformes Parodontidae Apareiodon affinis (Steindachner, 1879) 3 3 Apareiodon piracicabae (Eigenmann, 1907) Apareiodon vladii Pavanelli, Curimatidae Steindachnerina insculpta (Fernández-Yépez, 1948) Anostomidae Leporinus amblyrhynchus Garavello & Britski, Leporinus octofasciatus Steindachner, Schizodon nasutus Kner, Characidae Astyanax altiparanae Garutti & Britski, Astyanax aff. fasciatus (Cuvier, 1829) 4 4 Astyanax aff. paranae Eigenmann, Bryconamericus aff. iheringii Boulenger, Bryconamericus sp. 4 4 Creagrutus sp Hyphessobrycon sp. 3 3 Oligosarcus paranensis Menezes & Géry, Oligosarcus pintoi Campos, Piabina argentea Reinhardt, Planaltina britski Menezes, Weitzman & Burns, Serrasalmus maculatus Kner, Galeocharax knerii (Steindachner, 1879) Salminus brasiliensis (Cuvier, 1816) 1 1 Myleus tiete (Eigenmann & Noris, 1900) 1 1 Roeboides descalvadensis Fowler, Acestrorhynchidae Acestrorhynchus lacustris (Lütken, 1875) Erythrinidae Hoplias sp Hoplias sp Hoplias sp Prochilodontidae Prochilodus lineatus (Valenciennes, 1836) 1 1 Siluriformes Loricariidae Rineloricaria latirostris (Boulenger, 1900) Ancistrus sp. 2 2 Hypostomus ancistroides (Ihering, 1911) Hypostomus commersoni Valenciennes,

4 Hypostomus hermanni (Ihering, 1905) Hypostomus nigromaculatus (Schubart, 1964) 2 2 Hypostomus cf. paulinus (Ihering, 1905) Hypostomus regani (Ihering, 1905) Hypostomus strigaticeps (Regan, 1908) Hypostomus sp. 1 1 Megalancistrus parananus (Peters, 1881) Heptapteridae Imparfinis schubarti (Gomes, 1956) 3 3 Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824) Pimelodidae Iheringichthys labrosus (Lütken, 1874) Pimelodus heraldoi Azpelicueta, Pimelodus maculatus La Cepède, Pimelodus ornatus Kner, Pimelodus paranaensis Britski & Langeani, Pseudoplatystoma corruscans (Spix & Agassiz, 1829) Steindachneridion scriptum (Miranda Ribeiro, 1918) 2 2 Gymnotiformes Gymnotidae Gymnotus aff. sylvius Albert & Fernandes-Matioli, Sternopygus macrurus (Bloch & Schneider, 1801) 2 2 Cyprinodontiformes Poeciliidae Phalloceros harpagos (Lucinda, 2008) Perciformes Cichlidae Crenicichla britskii Kullander, Crenicichla niederleinii (Holmberg, 1891) Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824) TOTAL Espécies O número de espécies amostradas no rio Cantu, é relativamente baixo quando comparado a outros estudos. Shibatta et al. (2002) reportam 110 espécies para o rio Tibagi, Agostinho et al. (1997, 2004b) relatam 91 e 77 espécies para os rios Ivinhema e Iguatemi, respectivamente, Galves et al. (2007) relatam 74 espécies para a bacia do rio Taquara e Gubiani et al. (in press) relataram 69 espécies para o rio Piquiri. A dominância de Characiformes e Siluriformes observados no rio Cantu, nos quatro locais de coleta, corroboram com o descrito para ambientes neotropicais (Lowe-Mcconnell, 1999). A destacada participação da família Characidae, entre os Characiformes, é decorrente da ampla distribuição de suas espécies em água doce, além desta família incluir a maioria das espécies de peixes de águas interiores do Brasil (Britski, 1972). Neste estudo, foi registrada a captura de espécies que são listadas por Machado, Drummond & Paglia (2008) e Ibama (2009), como ameaçadas de extinção, como é o caso de Myleus tiete e Steindachneridion scriptum. Além dessas espécies, Salminus brasiliensis segundo Graça & Pavanelli (2007) pode ser considerada como em perigo de extinção. Essas espécies são nativas da bacia do alto rio Paraná, em que o rio Cantu está inserido, entretanto, considerada baixa captura, o estabelecimento de um programa de manutenção de biodiversidade, através de um banco genético, seja em cativeiro ou por criopreservação, poderá garantir a perpetuação dessas espécies através de estocagens futuras.

5 Não foram constatadas espécies introduzidas no rio Cantu, entretanto, é necessário que introduções sejam evitadas, pois segundo Enger et al. (1989), a introdução de espécies e a destruição de habitat estão entre as atividades humanas de maior risco à extinção de espécies e, portanto, à diversidade biológica. Agradecimentos Ao Grupo de Pesquisas em Recursos Pesqueiros e Limnologia (GERPEL) e SOMA- Soluções em Meio Ambiente pelo suporte financeiro e logístico. Referência A. A. Agostinho; H. F. Júlio. Junior; J. R. Borghetti. Considerações sobre os impactos dos represamentos na ictiofauna e medidas para sua atenuação. Um estudo de caso: Reservatório de Itaipu. Revista Unimar n. 14(sup.), p A. A. Agostinho; L. M. Bini; C. L. Gomes; F. H. JR Júlio; S. C. Pavanelli; C. S. Agostinho, Fish assemblages. pp In: M. S. Thomaz; A. A. Agostinho; S. N. Hahn. (Eds), The Upper Paraná River and its Floodplain: physical aspects, ecology and conservation. Leiden: The Netherlands Backhuys Publishers A. B. M. Machado; G. M. Drummond; A. P. Paglia. Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. 1.ed. - Brasília, DF : MMA; Belo Horizonte, MG, v p. É. A. Gubiani et al.. Variations in fish assemblages in a tributary of the upper Paraná River Brasil: A comparison betwen preand post closure phases of Dans. River. Research. Applications (in press), DOI: /rra.1298 E. J. G. Ferreira Composição, distribuição e aspectos ecológicos da ictiofauna de um trecho do rio Trombetas, na área de influência da futura UHE Cachoeira Porteira, Estado do Pará, Brasil. Acta Amazonica. 23(Supl.1/4):1-88. E. D. Enger; J.R. Kormelink; B.F. Smith; R.J. Smith Environrnental science: the study of interrelationships. Dubuque, Iowa, WM. C. Brown Publishers, 540p. A. Lansac-Tôha; L. F. V. Velho; C. C. Bonnecker. Estrutura da comunidade zooplanctônica antes e após a formação do reservatório de Corumbá GO. In: Henry. R. (eds.) Ecologia de Reservatórios: estrutura, função e aspectos sociais. FAPESP/FUNDBIO. Botucatu p G. V. Paiva. Grandes represas do Brasil. Brasília: Editerra Editorial, pp. G. M. Santos Impactos da hidrelétrica Samuel sobre as comunidades de peixes do Rio Jamari (Rondônia, Brasil). Acta Amazonica 25: H. A. Britski, Y. Salto, A. B. S. ROSA, Manual de identificação de peixes da região de Três Marias (com chave de identificação para os peixes da bacia do rio São Francisco). ed.3. Brasília: CODEVASF, 1988, 115 p.

6 H. A. Britski Peixes de água doce do estado de São Paulo. In: Comissão Internacional da Bacia Paraná Paraguai. Poluição e piscicultura. São Paulo, Faculdade de Saúde Pública da USP e Instituto de Pesca. p IBAMA Listas de Espécies Aquáticas Ameaçadas de Extinção. Disponível em Acessado em 16 de abril de 2009 Lowe-Mcconnell, R.H Estudos ecológicos de comunidades de peixes tropicais. EDUSP, São Paulo. 534 p. R. H. Lowe-Mconnell Estudos Ecológicos de Comunidades de Peixes tropicais. São Paulo, EDUSP. 534p. R. E. Reis; S. O. Kullander; C. J Ferraris Check list of the freshwater fishes of South and Central America. Porto Alegre, EDIPUCRS. 729 p. O. A. Shibata; M.L. ORSI,; S.T Bennemann; A.T SILVA-SOUZA, Diversidade e distribuição de peixes na bacia do rio Tibagi. pp In: M.E; E. Bianchini; O.A Shibatta; J.A Pimenta. (Eds) A bacia do Rio Tibagi. Londrina: EDUEL. W. Galves, O. A. Shibatta; F. C. Jerep Fish, Taquara river basin, northern of the state of Paraná, Brazil. Check List, Rio Claro, v. 3, n. 3, p W. J Graça E C. S Pavanelli, Peixes da Planície de Inundação do Alto Rio Paraná e Áreas Adjacentes. Universidade Estadual de Maringá. Maringá: EDUEM. 241 p.