À UNIDADE REGIONAL COLEGIADA ZONA DA MATA DO CONSELHO DE POLÍTICA AMBIENTAL DE MINAS GERAIS COPAM / MG
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- Fábio Duarte Sá
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1 À UNIDADE REGIONAL COLEGIADA ZONA DA MATA DO CONSELHO DE POLÍTICA AMBIENTAL DE MINAS GERAIS COPAM / MG Empreendedor: GS SOUTO ENGENHARIA LTDA Empreendimento: CGH INGÁ MIRIM PARECER ÚNICO SUPRAM - ZM Nº: /2011 Trata-se de pedido de deferimento de Licença de Prévia e de Instalação para empreendimento cuja atividade predominante é barragem de geração de energia hidrelétrica, com capacidade de até 01 MW de potência. Em casos semelhantes, em outras unidades regionais do COPAM, 1, o Ministério Público já defendeu a tese, como posição institucional, da necessidade de realização de avaliação ambiental integrada na bacia hidrográfica sempre que percebe que está ocorrendo a implantação de diversos empreendimentos hidrelétricos. Isso porque o Ministério Público tem percebido que a avaliação individualizada dos empreendimentos pode gerar danos irreversíveis ao meio ambiente dentro de uma região. Os impactos causados pontualmente podem não alterar significativamente a biota, as condições estéticas do meio e a qualidade do recurso, podem até ser considerados de baixa intensidade, quando na análise global verifica-se que não são. Há certo tempo, no direito ambiental e na confecção de políticas públicas ambientais, tem-se percebido a preocupação com a prevenção de danos e impactos ambientais. Um dos instrumentos que vem sendo disseminados para a efetivação da prevenção dos impactos é a Avaliação Ambiental Integrada (AAI), que 1 No Processo de Licenciamento Ambiental nº24991/2008/001/2009 da URC COPAM Sul de Minas e no Processo N.º 00264/2001/004/2010 da URC COPAM Jequitinhonha 1
2 é o processo interdisciplinar e social, ligando conhecimento e ação no contexto de decisão pública, para a identificação, análise e avaliação de todos os relevantes processos naturais e humanos e a suas interações como atual e futuro estado da qualidade do meio ambiente e recursos nas apropriadas escalas de tempo e espaço, assim facilitando a definição e implementação de políticas e estratégias (EEA, 1999) 2 Continuando a explanação, podemos dizer, nas palavras de TUCCI e MENDES que a AAI na bacia hidrográfica é entendida como a identificação dos impactos à partir do conjunto de ações que interagem na bacia e que se refletem no seu próprio espaço 3 Particularmente, cuidando-se de empreendimentos hidrelétricos, entendemos como também necessária a realização da Avaliação Ambiental Estratégica (AAE), que consiste na avaliação antecipada e integrada faz políticas, planos e programas que afetam o meio ambiente. (...) a AAE é uma avaliação ambiental pró-ativa, procurando evitar impactos de gestão inadequada. A política de recursos hídricos, os planos Nacionais, Regionais e de Bacia, além dos setoriais e os programas derivados seriam os focos das AAE. 4 Isso porque, com a AAE é possível traçar claramente as metas de conservação de preservação, na área de cada rio ou córrego, as condições mínimas necessárias à manutenção das metas (fauna, flora, ambos, ou volume de água). Entretanto, para proteção dos interesses regionais, e diante do fato haver inúmeros empreendimentos hidrelétricos já instalados e outros em funcionamento, e da expansão do pedido de licenciamento de Centrais Geradora Hidrelétricas (CGH s) e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH s) nos últimos anos, entendemos que a AAI é meio eficaz para projetar as medidas protetivas e inibir a implantação de empreendimentos inadequados. Como bem explicitou Tucci e Mendes, 2 Curso Avaliação Ambiental Integrada de Bacia Hidrográfica, TUCCI, Carlos E. M. e MENDES, Carlos André, Ministério do Meio Ambiente Secretaria de Qualidade Ambiental Rhama Consultoria Ambiental, Disponível em Acesso 09/02/2012. pág Idem, pág Idem, pág
3 A avaliação ambiental integrada (AAI) de aproveitamentos hidrelétricos situados em bacias hidrográficas tem como objetivo avaliar a situação ambiental da bacia com os empreendimentos hidrelétricos implantados e os potenciais barramentos, considerando seus efeitos cumulativos e sinérgicos sobre os recursos naturais e as populações humanas, e os usos atuais e potenciais dos recursos hídricos no horizonte atual e futuro de planejamento. A AAI leva em conta a necessidade de compatibilizar a geração de energia elétrica com a conservação da biodiversidade e manutenção dos fluxos gênicos, e sociodiversidade e a tendência de desenvolvimento socioeconômico da bacia, a luz da legislação e dos compromissos internacionais assumidos pelo governo federal 5. Como anteriormente mencionado, a posição institucional do Ministério Público defende a necessidade de realizar AAI, ao menos, na área de abrangência desta Unidade Colegiada para melhor analise de pedidos de licenciamento ambiental de empreendimentos hidrelétricos. Assim, de modo genérico, opina o Ministério Público pela suspensão (retirada de pauta) do presente processo de licenciamento, bem como demais processos de empreendimentos hidrelétricos previstos na área de abrangência desta URC, até a realização de uma AVALIAÇÃO AMBIENTAL INTEGRADA (AAI), comandada pela Superintendência de Regulação Ambiental da Zona da Mata (SUPRAM-ZM), com participação ativa da sociedade de demais órgãos ambientais, federais e estaduais, competentes. Superada essa colocação genérica, no caso sob análise o empreendedor pleiteia a autorização para implantar uma CGH em um trecho do Ribeirão Pouso Alegre, pertencente a bacia estadual do Rio José Pedro e a Bacia Federal do Rio Doce. Nessa mesma bacia hidrográfica, em agosto de 2011, foram autorizadas a implantação de 05 (cinco) CGH s 6. 5 TUCCI e MENDES, ob. Cit., pág 245/6 6 Faria Lemos / MG, Bacia Hidrográfica: rio Paraíba do Sul, Sub Bacia: rio Muriaé, Curso d água: rio Carangola Antônio Prado de Minas / MG, Bacia Hidrográfica Federal: Rio Paraíba do Sul,Bacia Hidrográfica Estadual: Rio Muriaé,Sub-bacia: Rio Gavião, Rio Gavião. Miradouro / MG, Bacia Hidrográfica Federal: rio Paraíba do Sul, Bacia hidrográfica Estadual: rio Muriaé, rio Alegre Rosário da Limeira / MG, Bacia Hidrográfica Federal: Rio Paraíba do Sul, Bacia Hidrográfica Estadual: Rio Preto, Sub-bacia: Rio Fumaça, Rio Fumaça Caiana / MG, Bacia Hidrográfica Federal: São João, Bacia Hidrográfica Estadual: Rio Preto, Sub-Bacia: Itabapoana, Rio São João 3
4 Conforme noticiado no parecer técnico da SUPRAM-ZM, à f. 38, já existe uma CGH (Ingá) implantada no mesmo ribeirão. Vejamos: A CGH INGÁ se encontra a jusante da CGH INGÁ MIRIM, a uma distância de cerca de 3 (três) Km, o TVR - trecho de vazão reduzida da CGH INGÁ MIRIM corresponde a cerca de 660 metros e o TVR da CGH INGÁ corresponde a 920 metros, totalizando um trecho de 1500 metros. Apesar de entender que o presente empreendimento é uma usina a fio d água, que não provocará inundação de área próxima já que o dique/vertedor apenas permite derivação de água sem proporcionar nenhuma acumulação de vazão natural do rio (conforme descrito no parecer da SUPRAM-ZM, à f. 04), entendemos que há outras implicações possíveis de causar dano ambiental considerável, tais como a intervenção em APP e Bioma Mata Atlântica, a redução do volume de água em um trecho do ribeirão. Não cuidando aqui de questões técnicas, verificamos que os técnicos da SUPRAM-ZM afirmam, à f. 38/9, que Foi identificado que poderá ocorrer a alteração de habitats naturais existentes, devido a diminuição do volume de água no TVR - trecho de vazão reduzida da CGH INGÁ MIRIM que corresponde a cerca de 660 metros, somado ao TVR da CGH INGÁ que corresponde a 920 metros, totalizando um trecho de 1500 metros, podendo interferir nas comunidades que ocupam os arredores deste trecho. Com relação ainda a redução do volume deste trecho, pode-se inferir que, com a diminuição da profundidade média, velocidade da corrente e diminuição das corredeiras podem restringir a ocorrência das espécies que ocupam esses ambientes, de modo que o trecho de vazão reduzida poderá ser limitante para algumas espécies da comunidade aquática, pois uma vez afetada a dinâmica hídrica, existirá por consequência uma interferência na estrutura atual dessas comunidades. Além disso, a exposição de parte do leito do rio, tornam visíveis abrigos naturais e pode provocar a mortalidade por dessecamento e predação de algumas espécies que habitam estes ambientes. No parecer, não foram descriminadas as espécies animais serão atingidas por essas alterações ambientais bem como não foi analisado se a alteração da dinâmica hídrica 4
5 causará desequilíbrio ecológico, com aumento ou diminuição de animais essenciais a perpertuação da cadeia alimentar e manutenção do equilíbrio. Ressalte-se que não há como afirmar se nesta análise foram considerados os impactos cumulativos causados pelas CGH Ingá Mirim e CGH Ingá (já implantada), distante a poucos quilômetros. Outro dano identificado pelos técnicos da SUPRAM-ZM que será causado com a implantação da CGH é a supressão de vegetação de Mata Atlântica. No caso proposto para a CGH Ingá Mirim, a margem selecionada para implantação das estruturas do empreendimento foi a margem esquerda do ribeirão Pouso Alegre, neste trecho do rio, há fragmentos em ambas as margens de vegetação do tipo Floresta Estacional Semidecidual. (f. 07 do parecer técnico) Considerando que a Área de Influência Direta (AID) pelo empreendimento em questão corresponde a 2,50 hectares, será necessária a intervenção em apenas 0,8814 hectares, envolvendo supressão de vegetação secundária, em estágio inicial a médio de regeneração, dentro e fora de áreas de preservação permanentes (APP), com volume total estimado de 41,6898 m³. (f. 29 do parecer técnico) Apesar da previsão genérica de compensação de danos ambientais por supressão de vegetação pertencente ao Bioma Mata Atlântica à f. 40 do parecer técnico, no momento das condicionantes, não foi imposta referida medida compensatória. Assim, reforçando a proposta apresentada informalmente durante a reunião anterior (19/12/2011), sugere-se a inclusão da condicionante da compensação da Mata Atlântica no parecer, se superada a tese de suspensão das análises de projetos até realização de AAI. Aproveito o ensejo para explanar que, diante do pedido de vista do processo de licenciamento, o empreendedor encaminhou, via , um Relatório complementar de avaliação integrada de impactos ambientais- CGH Ingá Mirim e CGH Ingá, com informações relativas aos empreendimentos. 5
6 No documento, que disponibilizamos em anexo, há caracterização do empreendimento e analise integrada dos impactos ambientais nas áreas de influência dos empreendimentos, ou seja, restringindo-se aos impactos causado no ribeirão Pouso Alegre. Percebemos a boa vontade do empreendedor em apresentar referido estudo, porém não acreditamos que esse estudo seja hábil a substituir a AAI. estrutura. Isso porque, como ensina TUCCI e MENDES 7, a AAI deve seguir a seguinte 7 TUCCI e MENDES, ob. Cit., pág
7 Assim, analisando o estudo apresentado, constata-se que apesar de analisar os impactos cumulativos dos empreendimentos, não considera as demais influencias da bacia hidrográfica, ficando falho na análise almejada com a AAI. Desta feita, o Ministério Público opina, ab initio, pela suspensão (retirada de pauta) do presente processo de licenciamento, bem como demais processos de empreendimentos hidrelétricos previstos na área de abrangência desta URC, até a realização de uma AVALIAÇÃO AMBIENTAL INTEGRADA (AAI), comandada pela Superintendência de Regulação Ambiental da Zona da Mata (SUPRAM-ZM), com participação ativa da sociedade de demais órgãos ambientais, federais e estaduais, competentes. Superada a solicitação supra, no presente caso, opina o Ministério Público pela inclusão de medida compensatória pela intervenção em Mata Atlântica, conforme recomendação do parecer técnico da SUPRAM-ZM à f. 40. É o Parecer, Ubá, 13 de fevereiro de Thais Lamim Leal Thomaz Promotora de Justiça 7
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