UMA PROPOSTA DE LETRAMENTO DIGITAL PARA OS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL DE JOÃO PESSOA PB
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- Leonor Furtado Weber
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1 1098 UMA PROPOSTA DE LETRAMENTO DIGITAL PARA OS PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL DE JOÃO PESSOA PB João Wandemberg Gonçalves Maciel 1 UEPB/ Marista PIO X Considerações iniciais O mundo da educação vive transformações significativas, especialmente, desde o final do Século XX, isso em decorrência das mudanças sociais, econômicas e políticas. No âmbito do ensino, as propostas curriculares se sucedem nesses anos em busca de soluções validadas que permitem o alcance das metas educativas, as quais, por sua vez, evoluem com as próprias mudanças socioeconômicas. A globalização é posta como conceito explicativo de uma nova ordem mundial. Um fator de reforço desse discurso é o uso da tecnologia como ferramenta de aperfeiçoamento do processo ensino-aprendizagem. O surgimento das novas tecnologias de comunicação tem alterado muitas atividades da vida moderna. Diante do avanço tecnológico e o crescente uso das novas ferramentas tecnológicas (computador, Internet, caixa eletrônico, cartão magnético, etc.) na vida social, há uma necessidade de os cidadãos aprenderem a lidar como esses novos comportamentos e raciocínios específicos. Por essas razões, pesquisadores envolvidos com a temática tecnológica levam-nos a uma nova modalidade de paradigma, o chamado letramento digital (MACIEL, 2007). Segundo a proposta de Soares (2006), é importante, ao discutirmos letramento, que diferenciemos alguns termos que, habitualmente, são usados de modo confuso: alfabetizado, analfabeto, letrado, iletrado e a própria palavra letramento. De acordo com as definições da autora, letramento é o resultado da ação de ensinar a ler e a escrever: o estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como conseqüência de ter-se apropriado da escrita (SOARES, 2006, p.18), enquanto que alfabetizado nomeia aquele que apenas aprendeu a ler e a escrever, não aquele que se apropriou da leitura e da escrita, incorporando as práticas sociais que as demandam (ibidem, p. 19). Seguindo esse pressuposto, um indivíduo pode ser alfabetizado, mas não letrado, porque não faz uso, com todo o seu potencial, das práticas sociais da leitura e da escrita: não escreve seu nome, desenha-o; não lê informativos, cartas ou contas, apenas interpreta sinais gráficos com dificuldades. Do mesmo modo há indivíduos que podem ser analfabetos, mas letrados, ao fazerem uso da escrita e da leitura como práticas sociais, quando pedem a alguém que leia um encarte promocional de um jornal ou de uma revista para eles, quando conferem os valores ao realizar uma compra, quando ditam textos para que alguém escreva por eles etc. Ou seja, a diferença entre letrado e alfabetizado está no uso efetivo que o primeiro faz da leitura e da escrita em práticas sociais, mesmo que esse uso seja mediado por um outro indivíduo, enquanto o segundo não faz uso efetivo dos mecanismos envolvidos na leitura e na escrita. Assim, podemos afirmar que é possível ser analfabeto, mas letrado ou afirmar que existem indivíduos alfabetizados e iletrados. Para Kleiman (1995), existem dois modelos de letramento: o autônomo e o ideológico. Este entende que todas as práticas de letramento são aspectos não apenas da cultura, mas 1 Doutor em Lingüística e Língua Portuguesa (UFPB).
2 1099 também das estruturas de poder numa sociedade ; aquele afirma que a escrita seria um produto completo em si mesmo, que não estaria preso ao contexto de sua produção para ser interpretado; o processo de interpretação estaria determinado pelo funcionamento lógico interno ao texto escrito. Assim, tornar-se letrado é um modo de construir quem você é ou está sendo nas práticas sociais ao mesmo tempo que o processo de construção de identidade social é parte do processo de se tornar letrado uma vez que nossas histórias sociais são intrínsecas aos processos de construção de significados nos quais nos engajamos (LOPES, 2005). Tratando-se do letramento digital, Soares (2002, p.151) o define como um certo estado ou condição que adquirem os que se apropriam da nova tecnologia digital e exercem práticas de leitura e de escrita na tela, diferente do estado ou condição do letramento dos que exercem práticas de leitura e de escrita no papel. A diferença nas práticas de leitura e escrita reside, basicamente, no suporte, que é o computador, mas não se limita a ele. A tecnologia dos programas (em particular, a interface gráfica) também determina a maneira como realizamos nossos letramentos e como participamos de eventos de letramentos. Para Lévy (1999, p. 17), letramento digital é um conjunto de técnicas materiais e intelectuais, de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço, como sendo um novo meio de comunicação que surge da intercomunicação mundial dos computadores. O letramento, contudo, é a competência em compreender, assimilar, reelaborar e chegar a um conhecimento que permita uma ação consciente, o que encontra correspondente no letramento digital: saber utilizar as TICs, saber acessar informações por meio delas, compreendê-las, utilizá-las e com isso mudar o estoque cognitivo e a consciência crítica e agir de forma positiva na vida pessoal e coletiva (SILVA et al, 2005, p.33). A promoção do letramento digital As novas tecnologias de comunicação e informação, aliadas às práticas tradicionais dos métodos de ensino e aprendizagem, permitem aos educadores um acréscimo significativo em suas práticas pedagógicas, que mediadas pelo computador, são, ainda, de difícil aplicabilidade nos dias atuais, uma vez que nos deparamos com a falta de professores preparados para o uso das ferramentas tecnológicas e com a insuficiência de equipamentos e problemas de manutenção. A escola atual deve assumir novas funções sociais e, para que isso aconteça, deve estar com seu espaço físico equipado e com investimento para a formação de seus professores e de todos aqueles ligados diretamente ao processo ensino/aprendizagem. Dentre os objetivos propostos para o letramento dos professores da escola Municipal Seráfico da Nóbrega, destacam-se: Capacitar os professores para o uso das novas tecnologias digitais de forma que eles tenham acesso à informação e aos meios de criação e produção;
3 1100 Proporcionar um intercâmbio cultural de saberes que solidifique o letramento para os professores e alunos; Desenvolver atividades de letramento com vistas à apropriação desse saber; Realizar práticas de leitura e escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização; Levar o professor a exercer seu papel de pesquisador e não mais um repetidor de informação; Utilizar os gêneros textuais virtuais como instrumentos de integração entre as várias disciplinas, realizando a desejada interdisciplinaridade; Favorecer um ensino/aprendizagem mais dinâmico, participativo, descentralizado (da figura do professor) e pautado na independência, na autonomia, nas necessidades e nos interesses imediatos de cada um dos aprendizes que são usuários freqüentes das tecnologias de comunicação digital (MACIEL, SILVA NETO e NÓBREGA, 2007). Dos objetivos acima estabelecidos como metas a serem alcançadas no letramento digital, junto aos professores da escola Seráfico da Nóbrega, evidenciamos que se faz necessária a aquisição da habilidade prática, que ofereça à comunidade, e, em primeiro momento, aos professores, o uso da pesquisa e, assim, a escolha e seleção das informações inerentes às práticas educativas nos seus graus de conhecimento, o que possibilitará oportunidades de vivência social. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino, continuo buscando, recuperando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 2002, p. 32). Um dos desafios da escola atual, que deve compartilhar parte dos seus ensinamentos com o ciberespaço, é o de proporcionar aos aprendizes a vivência e a aprendizagem por meio das ferramentas tecnológicas e, para tal propósito, professores e alunos necessitam buscar os saberes. Nesta forma de compreender e de viver o processo formador, eu, objeto agora, terei a possibilidade, amanhã, de me tornar o falso sujeito da formação do futuro objeto de meu ato formador. É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina a aprender (FREIRE, 2002, p. 25). Percebemos que o trabalho reflexivo, com oficinas de leitura e discussões acerca da temática letramento, realizado no primeiro semestre gerou um envolvimento dos professores no sentido de compreenderem e sentirem a importância do letramento digital. Dentre os assuntos abordados nas referidas oficinas de leitura e discussões, deu-se uma atenção maior para a educação e a sociedade da informação, com ênfase na inclusão e na convergência digital.
4 1101 Buscou-se também um aprofundamento sobre a temática letramento e novas tecnologias para a prática pedagógica, o que motivou os professores, segundo eles, a buscarem fora do ambiente escolar, cursos direcionados ao manuseio do ciberespaço. Até então não se via a necessidade de estudos nesse sentido, já que o laboratório de informática da escola era usado pelos alunos com a orientação de um monitor, sendo um espaço destinado ao entretenimento e não como ferramenta de busca de conhecimentos pertinente aos mais diversos conteúdos programáticos. Estamos no segundo semestre desse trabalho com 10 professores. A escola possui um laboratório, com 12 computadores ligados à Internet. Nessa etapa do projeto, passaremos para a parte prática dando atenção à leitura/escrita, incluindo-se: digitação de trabalhos, jogos, troca de s, blogs, navegação pos sites com temas de entretenimento e de estudo. A nossa atenção maior recairá sobre o estudo dos gêneros textuais virtuais. Compreendê-los e ver sua funcionalidade dentro dos sistemas e nas circunstâncias para as quais foram criados, pode ajudar ao próprio processo educacional. Se os alunos gostam de chats, s, blogs, orkut, etc, é a partir do trabalho com esses gêneros que poderemos levá-los à leitura, compreensão e produção de outros gêneros, virtuais ou não. Além disso, esses gêneros, com algumas adaptações, também servem aos outros gêneros não-virtuais que queremos que eles conheçam, que podem ser digitalizados mantendo características de gêneros antes impressos (MACIEL, 2007). Os professores precisam encarar esse desafio de se preparar para o uso das ferramentas tecnológicas, o que muito contribuirá com planejamento e na execução das atividades em sala de aula. Considerações (quase) finais O letramento digital será de fato uma ferramenta eficaz no processo ensino/aprendizagem, quando a escola, instituição, responsável pela formação social, possibilitar a todos o acesso ao conhecimento mediado pelo ciberespaço, pois através desse instrumento, poderemos ler, escrever e interagir dentro e fora do contexto escolar. A escola deve assumir seu papel, não apenas de transmissora do saber, mas também de espaço de construção e reconstrução do conhecimento. Os alunos precisam saber aprender, saber onde encontrar as informações de que precisam e ter autonomia para lidar com essas informações, questionando e aplicando aquelas que julgarem úteis e pertinentes (COSCARELLI, 2005, p. 32). Sugerimos que a escola, de um modo geral, insira em suas práticas pedagógicas atividades que envolvam as tecnologias de informações comunicacionais. Vale lembrar que o computador não se destina apenas a realizar ações humanas (calcular, ensinar), mas toda atividade mediada por ele pressupõe o desenvolvimento de capacidades cognitivas e metacognitivas (planejamento, resoluções de problemas, etc). Assim sendo, é possível concluir o quão necessário se faz que o ato de educar se efetue de forma interativa e que seus atores façam da descoberta uma atividade constante no modo de viver no coletivismo ou no individualismo. REFERÊNCIAS COSCARELLI, Carla Viana. Alfabetização e letramento digital. In: COSCARELLI, Carla Viana; RIBEIRO, Ana Elisa (Orgs). Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
5 1102 KLEIMAN, A. B. (Org.) Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da leitura. Campinas, SP: Mercado de Letras,1995. LÉVY, P. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. São Paulo: Editora 34, LOPES, Luiz Paulo da Moita. A construção do gênero e do letramento na escola: como um tipo de conhecimento gera outro. In: Investigações: lingüística e teoria literária. Recife: UFPE, v. 17, n. 2, MACIEL, João Wandemberg Gonçalves. O ciberespaço e a leitura: novos desafios para o professor. In: I Simpósio Nacional de Leitura. Anais. João Pessoa: Idéia, p MACIEL, J. W. Gonçalves; SILVA NETO, Carlos Eugênio; Nóbrega, Mariana de Oliveira. In: I Colóquio Nacional de estudos da Linguagem. Linguagem como prática social: fronteiras e perspectivas. Natal-RN, CD-ROM. PASSOS, Rosemary., SOUZA, Josidelma Francisca Costa de. e SANTOS, Gildenir Carolino. Armadilhas do letramento digital: as necessidades de competência para a recuperação da informação. Disponível em: Acesso em: 20 de abr SOARES, M. Letramento: um tema em três gêneros. Belo Horizonte: Autêntica, Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ. Soc., Campinas, vol. 23, n. 81, p , dez Disponível em < Acesso em: 17 de abr SILVA, H. et al. Inclusão digital e educação par a competência informacional: uma questão de ética e cidadania. Ciência da Informação, Brasília, DF, v.34, n.1, p.28-36, jan./abr.2005.
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