ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DE COIMBRA. Engenharia Alimentar 2009/2010. Processamento Geral de Alimentos Docente: Ivo Rodrigues.
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1 ESCOLA SUPERIOR AGRÁRIA DE COIMBRA Engenharia Alimentar 2009/2010 Processamento Geral de Alimentos Docente: Ivo Rodrigues Processamento de marmelada Trabalho realizado por: Cláudia Nunes nº João Rocha nº Sandrina Ferreira nº Tiago Santos nº
2 Índice Introdução... 3 Características gerais do marmelo... 4 A marmelada... 5 Factores de gelificação Fluxograma do processamento de marmelada... 8 Descrição das etapas do processamento... 9 Recepção da matéria-prima... 9 Selecção... 9 Lavagem... 9 Corte... 9 Tratamento com antioxidantes... 9 Escaldão... 9 Trituração... 9 Refinação... 9 Mistura... 9 Cozedura Enchimento Arrefecimento Fecho de embalagem Rotulagem Armazenamento Expedição Conclusão Bibliografia
3 Introdução Para a fabricação de doces, a qualidade da matéria-prima utilizada é essencial para se obter um produto de qualidade. Desta forma, o doce deve ser processado logo após a colheita das frutas, uma vez que estas se encontram no seu estado óptimo de maturação, apresentando melhor sabor, cor e aroma. A marmelada é um doce em massa cuja matéria-prima é o marmelo. O marmelo é um fruto rico em pectina e ácido. Este doce em massa resulta da mistura homogénea e consistente, obtida exclusivamente da cozedura da polpa (mesocarpo) do marmelo com açúcares. A marmelada, podendo afirmar-se que tem origem em Portugal, é um produto com elevado consumo no nosso país, uma vez que é o produto mais importante do fabrico a nível de doces, marmeladas, geleias. 3
4 Características gerais do marmelo O marmeleiro (Cydonia oblonga Miller) é uma planta arbustiva da família das Rosáceas. Os frutos, marmelos, são pomos amarelos muito perfumados, cobertos de pilosidade. A espécie, originária da região do Cáucaso, difundiu-se progressivamente até à Europa Central e Países Mediterrânicos. Na Antiguidade, os Gregos cultivavam várias variedades de marmeleiros e eram das plantas medicinais mais estimadas. Já os Romanos também utilizavam os marmelos, conservando-os em mel. Apesar de ter perdido alguma reputação, o marmeleiro continua a ser cultivado por toda a Europa, tendo os seus frutos diversas utilizações. Raramente são consumidos in natura, devido à sua forte acidez (ph 4), dureza e adstringência. Mas, industrialmente, podem ser utilizados em marmelada, geleia, sopa, licor, xarope e em finos pratos salgados. A pectina presente neste fruto (600mg/100g) tem especial importância, pode ser empregue como aditivo alimentar, mas também em farmácia e perfumaria. Em termos nutricionais, o marmelo é caracterizado por um conteúdo em hidratos de carbono compreendido entre 10 e 15%. O seu conteúdo em proteínas e lípidos é mínimo. O marmelo é um fruto com elevado teor em água, de baixo valor calórico (51 a 60 kcal / 100 g), similar ao da maçã (Malus communis Lamk) e ao da pêra (Pirus communis Lin.). E apresenta cerca de 12º Brix. O marmelo cru é uma boa fonte de vitamina C, mas, durante o cozimento, perde-se grande parte dessa vitamina. Os compostos fenólicos dos frutos têm grande influência nas suas características sensoriais (cor, adstringência e sabor/aroma), as quais podem ser afectadas no decurso dos processos tecnológicos usados na obtenção de produtos transformados. A presença de agentes antioxidantes ao nível alimentar é importante para preservação dos alimentos, e também porque constituem um suplemento de defesa para o organismo. 4
5 A marmelada (ou doce em massa) O sufixo -ada significa que o doce permite o corte. De acordo com a Legislação Portuguesa (Decreto-Lei n. 97/84 de 28 de Março), a marmelada é o produto resultante da mistura homogénea e consistente, obtida exclusivamente da cozedura da polpa (mesocarpo) do marmelo com açúcares. No entanto, nas marmeladas produzidas industrialmente também são acrescentados aditivos: conservantes (como os ácidos benzóico e sórbico e os respectivos sais), antioxidantes (como o ácido ascórbico), reguladores de acidez (como os ácidos cítrico e tartárico), etc. Tendo em consideração o volume de produção de marmelada, são necessárias grandes quantidades das suas matérias-primas, sobretudo de marmelo e de açúcar, os seus ingredientes maioritários. Por vezes, são utilizadas polpas de marmelo e de outros frutos. O marmelo e a marmelada são produtos de elevado consumo em Portugal, uma vez que a marmelada é o produto mais importante da actividade de fabrico de doces de frutos, compotas, geleias e marmeladas e que o marmelo é o seu principal ingrediente. Segundo a Legislação Alimentar Portuguesa (Decreto-Lei n. 97/84 de 28 de Março), uma marmelada "normal" deve conter uma quantidade mínima de 400 g de polpa de marmelo por kg de marmelada, subindo este valor para 500 g de polpa por kg de marmelada quando se trata de uma marmelada "extra". Para além disso, o teor em resíduo seco solúvel, determinado por refractometria a 20 C, deve ser igual ou superior a 60%. Entenda-se por teor de resíduo seco solúvel, a percentagem em massa de sacarose de uma solução aquosa com o mesmo índice de refracção do produto a analisar, em determinadas condições. Assim sendo, o açúcar é um componente essencial da marmelada, pelo que o consumo deste alimento deve ser moderado. A marmelada é um produto com elevado valor calórico (valor médio aproximado de 272 kcal / 100g), ocupando um dos mais altos níveis na escala dos valores energéticos dos alimentos. 5
6 Factores de gelificação A gelificação é um fenómeno coloidal dependente da concentração e tipo de pectina, do teor de iões hidrogénio (ph) e da quantidade de açúcar. Ocorre aquando da precipitação da pectina pela adição de açúcar, alterando o equilíbrio existente entre esta e a água. No substrato ácido da fruta, a pectina é um colóide que contém cargas negativas. A adição de açúcar a esse substrato influencia o equilíbrio entre a pectina e a água, destabilizando-a e formando uma malha semelhante a uma rede capaz de reter líquido e aglutinar o açúcar sob a forma de um gel. A continuidade da malha formada pela pectina e a densidade das fibras dependem directamente da concentração da pectina. Quanto maior a sua concentração, mais densas serão as fibras e, portanto, o gel mais forte. A rigidez da malha é também influenciada pela concentração de açúcar e pela acidez do meio. Quanto maior a concentração de açúcar, menor quantidade de água livre será encontrada na estrutura, logo a estrutura será mais rígida. Substâncias Pécticas Podem ser quimicamente definidas como uma cadeia de ácido poligalacturónico unida por ligações a 1-4, em que os grupos carboxílicos (COOH) se encontram parcialmente metilados (CH3) ou se ligam ao cálcio, formando o pectato de cálcio. Segundo a Sociedade Americana de Química (American Chemical Society), as substâncias pécticas englobam as pectinas, as protopectinas, os ácidos pécticos e pectínicos. Encontram-se nos frutos em diferentes formas, caracterizadas por solubilidades distintas, dependem do estado de desenvolvimento e exercem uma função importante na textura dos frutos. Nas frutas muito maduras houve transformação da pectina em ácido péctico, enquanto nas frutas imaturas, ainda não houve a transformação da protopectina, o que não permite uma perfeita gelificação. Frutas com maturação adequada têm-se concentração máxima de pectina, cor, aroma e sabor. A pectina é o elemento fundamental para a formação do gel. Localiza-se principalmente nos tecidos macios, como na polpa de marmelos. Na presença de ácido e sacarose, em proporções adequadas, as pectinas formam géis bastante estáveis. A sua capacidade de gelificação depende do número de grupos metoxila presentes na molécula. É comercialmente classificada em pectina de alto teor de grupos metoxílicos (ATM), quando contém os grupos carboxílicos, acima de 50%, esterificados. 6
7 Acidez A acidez nas frutas é variável e depende do tipo e da quantidade de ácido presente, controlando a flexibilidade das fibras. Os ácidos geralmente utilizados para a formação do gel são os ácidos orgânicos constituintes naturais das frutas, como o ácido cítrico, devido ao seu sabor agradável e percepção imediata. Quando o ácido não está presente na fruta ou encontra-se em quantidades insuficientes, terá de ser adicionado. Como a formação do gel depende do ph da polpa da fruta, e não de sua acidez titulável, algumas frutas mesmo consideradas ácidas necessitam da adição de acidulantes para que o gel possa ser formado. Esta adição tem por finalidade baixar o ph, para valores entre 3 e 3,5, para uma gelificação adequada e realçar o aroma natural da fruta. Para valores inferiores a 3, a resistência do gel diminui, enquanto que para valores maiores que 3,5 não se consegue formar gel, com quantidades normais de sólidos solúveis. Com o aumento do ácido e da pectina é possível conseguir a formação de um gel de boa consistência, com concentrações de sólidos na ordem de 60%. Açúcar O açúcar utilizado com maior frequência no fabrico de doce em massa é a sacarose, sendo que sua quantidade, juntamente com a pectina e o ácido, determina o grau de gelificação. A adição do açúcar também promove melhoria da aparência, do sabor e do rendimento do produto. A determinação da quantidade a ser adicionada para a fabricação do doce em massa é muito importante, pois assegura o teor de sólidos solúveis necessários para a formação do gel. 7
8 Fluxograma do processamento de marmelada Marmelo Recepção Selecção Refugo Água Lavagem Água suja Corte Cascas Solução de ácido ascórbico Tratamento antioxidante Solução de ácido ascórbico Escaldão Trituração Refinação Sementes Polpa Açúcar Ácido cítrico Mistura Cozedura Água Embalagens Enchimento Arrefecimento Tampos Fecho de embalagens Rótulos Rotulagem Armazenamento Expedição Marmelada 8
9 Descrição das etapas do processamento 1. Recepção da matéria-prima Os marmelos chegam à indústria, onde são verificadas as suas propriedades de acordo com as pretendidas para posterior processamento. 2. Selecção É considerada uma operação de separação, essencial para a obtenção de uma matéria-prima de qualidade, proporcionando uma maior uniformidade ao produto final. Realizada por exame visual, são excluídos os marmelos podres e danificados durante o transporte, e ainda as substâncias estranhas presentes. 3. Lavagem A lavagem permite remover sujidades e contaminantes que se encontram junto dos marmelos. O método mais utilizado consiste na imersão das frutas em água limpa e clorada, reduzindo assim a carga microbiana da casca, embora possa ser feita também por agitação em água. 4. Corte O corte consiste na remoção da casca das frutas, extremidades e partes danificadas. Pode ser realizado de forma manual ou mecânica. O descasque manual é realizado com o auxílio de facas inox totalmente higienizadas. Já o descasque mecânico pode ser realizado por corte da casca, ou por raspagem da casca por abrasivos. (Anteriormente, as frutas podem passar por processos físico-químicos para abrandar a casca e facilitar o descasque, tais como aplicação de vapor, calor seco ou pelo frio.) 5. Tratamento com antioxidante Esta etapa é realizada pela imersão das frutas em solução de ácido ascórbico. De acordo com a legislação, permite-se o uso de 500 mg de ácido L- ascórbico /kg. 6. Escaldão Tratamento térmico que tem por finalidade retirar o ar dos tecidos das frutas, inactivação de enzimas responsáveis pelas reacções de escurecimento e redução da carga microbiana. Consiste na imersão das frutas em tanques com água limpa quente, com temperaturas até 90 C, levando à desintegração do marmelo. 7. Trituração Recorrendo a um triturador, é obtida a polpa de marmelo através de moinho de martelos que os desfaz completamente. 8. Refinação A refinação permite a separação da polpa das sementes e algumas vezes da casca, através de uma centrifugadora. A polpa obtida pode, agora, ser direccionada para a linha de processo. 9. Mistura A acidez, o valor do ph e o conteúdo de pectina devem ser determinados por análise, e as correlações de pectina e ácido devem ser feitas quando necessárias. No caso da marmelada, devido ao elevado teor de pectina dos marmelos não é necessária a adição de pectina. Assim, haverá apenas a mistura de açúcar e ácido cítrico que se junta à polpa. 9
10 10. Cozedura É um dos passos mais importantes na elaboração da marmelada. Devem ser consideradas duas temperaturas durante a cozedura. A primeira é a temperatura de aquecimento, que depende da pressão de vapor que é necessária para dar início ao processo, e a segunda é a temperatura de cozimento, na qual se deve efectuar a fervura do produto até alcançar o ponto final desejado, neste caso, cerca de 65º Brix. A concentração pode ser efectuada em tachos abertos ou a vácuo. Relativamente à concentração a vácuo fornece uma marmelada de qualidade superior (aspecto, aroma, valor nutritivo). Como esta ocorre a uma temperatura inferior, cerca dos 45ºC, devido a um aumento de pressão e consequente diminuição do tempo de cozedura, há uma maior probabilidade de sobrevivência dos microrganismos (factor relevante para uma posterior conservação). Esta etapa tem ainda como objectivo, a destruição dos fungos, dos microrganismos e das enzimas presentes, oferecendo melhores condições de conservação ao produto. 11. Enchimento O enchimento das embalagens da marmelada é feito a quente (em torno de 87º), e por isso não há necessidade de tratamento térmico (pasteurização). 12. Arrefecimento O arrefecimento é uma etapa complementar ao tratamento térmico que não permite a continuidade da cozedura do produto que pode promover o escurecimento, além de tornar-se susceptível ao desenvolvimento de bactérias esporulantes e termofílicas que causam fermentação não gasosa e torna o produto azedo. A temperatura final de arrefecimento deverá ser entre 35 a 40 C, através dos mesmos sistemas utilizados para o tratamento térmico. 13. Fecho de embalagem Após o arrefecimento, são colocados os tampos nas embalagens, de forma a fornecer uma conservação adequada do produto, durante um determinado tempo. 14. Rotulagem As embalagens de marmelada completamente frias e secas são rotuladas de acordo com certas normas, informando o consumidor sobre os valores nutritivos, ingredientes e data de validade, entre outras informações. 15. Armazenamento O ambiente de armazenamento deve ser fresco, seco, ao abrigo da luz e bem ventilado para que não ocorra corrosão das embalagens, danos nos rótulos e amolecimento das caixas de papelão (embalagem secundária para facilitar o transporte). A temperatura de armazenamento deve ser de 38 C, evitando, assim, o crescimento de microrganismos termófilos. 16. Expedição É nesta fase que as embalagens de marmelada são levadas/expedidas para as superfícies comerciais para serem vendidas ao público. 10
11 Conclusão Para se obter uma marmelada com qualidade, de forma a poder ser consumida por um longo período de tempo, são necessárias uma série de etapas, algumas delas complexas e dispendiosas. Devido ao elevado teor de açúcar, a marmelada é um produto que não deve ser consumido em exagero pois pode trazer problemas de saúde, tais como diabetes, doenças cardiovasculares, 11
12 Bibliografia nkanexos/frutascomplementa%c3%a7aoprodutossusanasaadnn.pdf repositorio.up.pt/aberto/bitstream/10216/.../6219_td_01_c.pdf 12
Após a chegada dos pêssegos à fábrica se estes tiverem de ser armazenados deverão permanecer em locais frios e ventilados;
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