- Que balanço faz deste primeiro ano de operações em Macau? A clínica já está a funcionar a cem por cento?

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1 Check-up geral June 2, 2011 by pontofinalmacau A Clínica Malo abriu oficialmente portas em Macau há um ano. Ainda não está na plena capacidade e quer dotar-se de serviços de oftalmologia e melhores equipamentos de diagnóstico. Mas o balanço feito é positivo. Maria Caetano Paulo Malo criou a sua primeira clínica em Actualmente, tem já 15 unidades de serviços clínicos com a principal aposta a ser a medicina dentária, área em que o cirurgião exerce profissionalmente. O grupo Malo está um pouco por todo o mundo, e desde o ano passado também oficialmente estabelecido em Macau. É na Ásia que o empresário quer hoje sobretudo expandir operações, programando para breve aberturas de novas clínicas em Xangai, Pequim, Kuala Lumpur e Singapura. No território, diz que faz falta promover o turismo de saúde numa campanha que junte operadores e Governo. - Que balanço faz deste primeiro ano de operações em Macau? A clínica já está a funcionar a cem por cento? Paulo Malo Ainda não. Neste momento, na clínica de Macau temos as especialidades quase todas a funcionar é um facto. Mas falta-nos ainda duas especialidades-chave. Falta-nos a oftalmologia e equipar o bloco operatório do bloco de oftalmologia, e faltanos ainda equipamento de imagiologia para diagnóstico. É algo que, se tudo correr bem, faremos ainda este ano. De resto, praticamente todas as especialidades já estão cá. Nomeadamente a otorrinolaringologia, a gastrenterologia, a ginecologia, a cardiologia, a cirurgia plástica, a dermatologia e a cosmética, o nutricionismo. A parte dentária é, obviamente, aquela que está mais activa. Temos agora mais um médico e estamos a treinar mais dentistas. Estamos em negociações com dentistas de Macau, Hong Kong e Zhuhai, uma vez que somos um centro de referência, para que nos mandem pacientes. Será talvez a área que vai crescer mais rapidamente. - O mercado local de clientes/pacientes é o principal mercado desta clínica? P.M. Penso que a maior parte dos pacientes ainda é aqui de Macau direi, talvez, 50 por cento. Os restantes são de Hong Kong e do Continente. Mas a tendência é o peso de Macau diminuir à medida que vai haver mais pessoas de Hong Kong e do Continente. O

2 que se espera é ter dez por cento de clientes de Macau e 90 por cento de Hong Kong e China. - Já teve ocasião de se lamentar das dificuldades de contratação de mão-de-obra. Neste momento, tem todos os profissionais de que precisa? Tem sido um processo difícil? P.M. A contratação de médicos nunca é fácil, até porque não é feita localmente não temos médicos em número suficiente. Mas é também isto que nos torna únicos, porque praticamente todos os médicos que temos cá foram médicos treinados na Europa. Esta é a parte difícil. Enquanto nos Estados Unidos ou na Europa temos médicos locais com qualidade e em número suficiente, aqui temos de os ir buscar fora. E não é toda a gente que está disposta a mudar a casa, o ambiente de trabalho, a família e vir até cá. O problema de quotas [para a importação de trabalhadores] dá-se mais na parte do spa e das fisioterapeutas. Não existem muitos fisioterapeutas de qualidade na China, e temos de contactá-los fora tipicamente, nas Filipinas e Tailândia. Aí temos quotas que nos limitam um pouco. Mas neste preciso momento não poderei dizer que temos um problema. Diria que no início isso era um problema. Neste momento não é. - A Malo está naturalmente no sector privado da saúde. Mas gostaria que me dissesse o que pensa da gestão da saúde pública em Macau. P.M. Não sou político e abstenho-me sempre da política. Sou cirurgião, sou empresário. Mas há uma coisa que é importante. Macau tem condições para ter um fortíssimo mercado de turismo de saúde, tem condições que são ímpares: é uma região com autonomia, sem as restrições que existem no Continente, tem um aeroporto internacional e já tem um fluxo de turistas importante, que se poderá associar à parte médica. O acesso a Macau, tanto por barco, como por carro, como por via aérea é facílimo. E já é um centro internacional de turismo, com milhões de visitantes. As pessoas vêm cá, mas não vêm por causa da saúde vêm essencialmente ao casino e comprar coisas. Era extremamente importante que o Governo percebesse a relevância de dar a conhecer que existem outras atracções em Macau uma das atracções é, obviamente, a saúde. Na Malo Clinic temos um centro de saúde que é muito superior ao que existe na Ásia e é de topo em qualquer parte do mundo. A Tailândia, que é um centro de referência na Ásia, devido aos baixos custos que tem, está a atravessar uma crise social da qual as pessoas têm medo. Agora é a altura certa para o Governo de Macau dar incentivos para a criação de centros de saúde especializada de alta qualidade. - De que incentivos fala? P.M. Há incentivos fiscais, há incentivos de facilitar ainda mais a colocação de médicos e profissionais cá, há incentivos que podem consistir nas autorizações de residência, há incentivos muito importantes no sentido de dar visibilidade a Macau na parte médica. Qualquer pessoa associa Macau a casinos. O Governo pode perfeitamente fazer uma campanha à parte médica, juntando os intervenientes de qualidade que existem. Não são muitos nós somos obviamente o principal, mas existem outros. Podemos juntar-nos todos com o Governo e fazer uma chamada de atenção às regiões vizinhas Hong Kong e Continente para as clínicas que existem em Macau de alta tecnologia e de alta qualidade. Isso é essencial que se faça. Se forem dadas condições, rapidamente os centros que já estão instalados podem desenvolver-se ainda mais e ter

3 mais especialidades, e podem aparecer outros centros. Macau precisa de ser vista não só como uma cidade de casinos, mas como algo de mais nobre. - Macau, do ponto de vista da cooperação regional, dispõe-se a fazer uma grande aposta na medicina tradicional. A Malo pensa explorar esta área também? P.M. Já temos consultas e vamos apostar na medicina tradicional chinesa. Mas temos de ter muito cuidado nessa área, porque a medicina tradicional chinesa tem uma componente comprovada e outra que não. Temos de trabalhar com pessoas que sejam idóneas. A medicina tradicional chinesa traz pessoas idóneas, que sabem o que estão a fazer, mas traz também um mar de charlatões. Neste momento temos algumas parcerias com algumas entidades locais e do Continente, onde vamos dar apoio a um hospital na área da medicina dentária. Esse hospital irá dar-nos apoio na área da medicina tradicional. Será uma aposta nossa brevemente. - Que hospital é esse? P.M. Não posso dizer o nome, mas é um grande hospital da China que nos pediu apoio para uma parceria. Estamos a discutir os termos dessa parceria. Uma das coisas que está em cima da mesa é darem-nos apoio técnico na área da medicina tradicional chinesa. - Entretanto, a Malo está também a procurar estabelecer clínicas em Pequim e em Xangai. Em que passo estão esses processos? P.M. Estamos numa fase já final da negociação em Xangai, onde queremos abrir ainda este ano uma clínica. Na verdade, estamos já na fase de procurar o sítio ideal. Em Pequim, tudo indica que vamos estar presentes nos primeiros seis meses do próximo ano. Vim de lá ontem. - Essas possibilidades de expansão na Ásia são resultado de um reconhecimento já dos serviços da Malo? P.M. A Malo Clinic é líder mundial na parte dentária e é nessa área que as pessoas se aproximam de nós. Nestas, as pessoas sabem quem nós somos, as universidades e os professores sabem quem nós somos. Temos tido uma abertura muito grande, não só da China mas de toda a Ásia. Ganhei o prémio Inovador do Ano dado pela revista de Hong Kong Most Valuable Companies, e também recentemente ganhámos o prémio Best Medical Spa da Ásia tudo nos primeiros meses deste ano. São prémios que dão visibilidade e maior credibilidade ao nosso projecto, e tudo isto ajuda. Neste momento somos muito solicitados. Recebemos cerca de dez solicitações por semana para fazer clínicas em vários pontos do mundo. Depois, há coisa que nos interessam e outras que não. Neste momento estamos muito focados na Ásia. - E é mais fácil ou mais difícil fazer negócio na Ásia? P.M. Na Ásia é mais difícil fazer negócio, porque existem mais restrições na saúde. E também porque, por uma questão cultural, a negociação é mais lenta. Enquanto nos Estados Unidos nos sentamos a uma mesa e ao fim de três ou quatro horas temos as coisas feitas, na Ásia a negociação tem vários passos, e reuniões. Temos de nos adaptar

4 a isso. Também existem barreiras linguísticas, precisamos sempre de tradutores e perdemos um bocado da energia da palavra. - Falou-me também das restrições. P.M. Temos países na Ásia onde é quase impossível estabelecer uma clínica, como na Coreia do Sul e no próprio Continente. Temos sempre de fazer parcerias com locais. Também é do nosso interesse fazer estas parcerias, mas às vezes não conseguimos encontrar o local que tenha o nosso nível, que nos perceba e compreenda. Nas sociedades os sócios têm de ter um nível de entendimento mais ou menos igual. Na área da saúde isso é difícil. A Ásia não está ao mesmo nível de cuidados de saúde que a Europa. Mas há países em que, linearmente, é impossível a entrada devido ao proteccionismo. - No que diz respeito ao Continente, tem havido queixas por parte dos Estados Unidos e Europa sobre alegada discriminação das empresas estrangeiras. P.M. Existe uma protecção natural na Ásia. Mas é preciso não esquecer que os próprios Estados Unidos também têm uma protecção brutal. Por exemplo, como cirurgião posso trabalhar aqui, mas não posso trabalhar nos Estados Unidos. Se eu quiser trabalhar nos Estados Unidos, tenho de fazer a escola e universidade toda no país. A protecção é tal na área da medicina dentária que um dentista formado em Nova Iorque não pode trabalhar em Chicago. Nesta área, especificamente, os Estados Unidos são o país mais proteccionista do mundo. - Falando das várias clínicas que a Malo está neste momento a estabelecer em vários pontos do mundo, como é que se gere tantos projectos em simultâneo e assegura a qualidade dos serviços? P.M. Não é complicado assegurar a qualidade dos serviços. É garantida por pessoal que é treinado por nós. Até porque não estamos a abrir tantas clínicas são sempre meia dúzia delas. Com os recursos humanos que temos nomeadamente em Portugal, onde estamos sempre a treinar pessoas podemos abrir cerca de dez por ano. Para colocar um dentista ao nível que nós queremos precisamos de um curso intensivo de seis meses na nossa clínica principal de Lisboa. O aspecto mais complexo é a logística administrativa. É muito mais difícil ter administradores desta área, que não existem. Depois, cada país tem as suas leis. Um dentista, se é bom na Malásia, é bom em qualquer lugar. Com um administrador não é assim. Também há equipamentos que nós usamos que não são reconhecidos nalguns países. Por exemplo, no Continente não conseguimos trabalhar com o CAD/CAM, o sistema mais avançado para fazer dentes de cerâmica, porque não está reconhecido. É drástico porque reduz a qualidade e eficiência nós na China não podemos fazer dentes por computador. - Qual é o volume global das operações da Malo? P.M. O volume global é de cem milhões de euros, porque o grupo não é só a parte médica. Tem outras actividades também. - Qual é a clínica que lhe é mais rentável?

5 P.M. Não digo a mais rentável, porque essa até pode ser uma clínica muito pequena. Mas a que tem maior facturação é a clínica de Lisboa, porque é a sede e só ali trabalham mais de 700 pessoas. São cerca de 50 mil metros quadrados e é a maior clínica do mundo, de longe. - Qual é o peso que Macau tem em termos de facturação, do número de serviços que presta e dos clientes que tem? P.M. Macau começou há pouco tempo e é injusto comparar. Mas, em termos de serviços, Macau está quase ao mesmo nível [de Lisboa]. Só existem três clínicas com este tipo de serviço. Em termos de medical spa, esta é a única que temos. Em termos de clínica médica, só as de Lisboa, Estados Unidos e esta é que têm todos estes serviços. Agora, a nível de facturação, esta ainda é pequenina. - Quais são os planos para Macau a curto prazo? P.M. Continuar a fazer crescer as partes dentária e médica. Na parte médica, fazer uma grande aposta no turismo de saúde nomeadamente, no check-up geral de saúde.