MINISTÉRIO PÚBLICO DE CONTAS PARECER Nº 01142/13

Transcrição

1 Interessado: Prefeitura Municipal de Carrapateira. Objeto: Inspeção de Obras. EMENTA: Prefeitura Municipal de Carrapateira. Inspeção de Obras. Irregularidade de despesa na Construção de aterro sanitário. Pagamento em Excesso. Imputação de Débito. Regularidade com Ressalvas das demais despesas em análise. Não apresentação de documentos. Aplicação de multa. PARECER Nº 01142/13 Versa o presente processo a respeito da inspeção realizada pela Divisão de Controle de Obras Públicas DICOP no que se referem aos aspectos técnicos e financeiros envolvidos na execução das obras e/ou serviços de engenharia, realizados pela Prefeitura Municipal de Carrapateira, durante o exercício de A Unidade Técnica elaborou relatório, às fls. 05/19, a partir do qual chegou, em apertada síntese, as seguintes conclusões: Item 1 CONSTRUÇÃO DE ATERRO SANITÁRIO NA CIDADE DE CARRAPATEIRA - PB: em relação à despesa de 2011, constatou-se um excesso no valor de R$ ,54, pago à empresa INPREL Indúst. de Premoldados e Construç. Civil Ltda. Ademais, merecem ser ressaltados os seguintes aspectos: a Licença de Instalação (nº 2435/2009) do empreendimento se encontra vencida (29/12/2011), bem como a vigência do contrato nº 024/201; a obra não se encontra em andamento, mostrando sinais de abandono, ainda existindo serviços desta primeira etapa a serem concluídos; e o fato do recurso federal ter sido liberado em sua totalidade, de acordo com o sítio da CGU. Diante da relevância da atividade, esta Auditoria solicita o projeto básico completo, o Estudo de Impacto Ambiental EIA e o Relatório de Impacto Ambiental RIMA que serviu de base para o processo de implantação do empreendimento. Ressalte-se que as plantas dos projetos, devem, preferencialmente, ser enviadas por mídia digital em formato CAD (*.dwg). Referente aos documentos solicitados, a Administração deixou de apresentar os seguintes: Termo de Compromisso nº TC/PAC 607/09, respectivo terceiro termo aditivo e o plano de trabalho devidamente assinados pelo representante da entidade concedente (FUNASA), bem como os aditivos de números 1, 2 1/8

2 (tendo em vista que foi entregue o terceiro); e aditivo correspondente ao contrato nº 024/2010. Além disso, ficaram verificadas inconsistências nos papéis de despesa relacionados ao Empenho nº 27057, especificamente na quantificação do real valor pago. Item 2 AQUISIÇÃO DE UMA ÁREA DE TERRA MEDINDO 03 TAREFAS ENCRAVADAS NO SÍTIO BONFIM DOS PEDROSA, PARA A CONSTRUÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO DESTE MUNICÍPIO: verificou-se que nas áreas estão sendo realizados serviços que motivaram a declaração de utilidade pública descrita nas citadas normas municipais. Não obstante tais averiguações, sob pena de uma avaliação dos citados custos, esta Auditoria solicita esclarecimentos a respeito da ausência de um Laudo de Avaliação e da autorização prévia legislativa necessária para a formalização do procedimento de aquisição de terreno relacionada à desapropriação amigável realizada com o Sr. Afonso Nunes Pereira. Item 3 CONSTRUCAO DA REDE DE ESGOTO NAS RUAS ANTÔNIO GALDINO, MANOEL PEDROSA E PROJETADA 12: a Auditoria não encontrou elementos que caracterizassem a incompatibilidade entre os itens executados e o pagamento realizado. Referente aos documentos solicitados, a Administração deixou de apresentar o projeto e a Anotação de Responsabilidade Técnica ART. Item 4 MEDIÇÃO DE SERVIÇOS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO: em relação à despesa do exercício de 2011, a Auditoria não encontrou elementos que indicassem a incompatibilidade entre os serviços executados e o pagamento realizado. Ressalte-se que a obra se encontra em lento andamento. Referente aos documentos solicitados, a Administração deixou de apresentar os seguintes: Termo de Compromisso nº TC/PAC 0249/08 e respectivo plano de trabalho devidamente assinados pelo representante da entidade concedente (FUNASA); aditivos de números 1, 2 e 3 (tendo em vista que foram entregues os de números 4, 5 e 6.), relacionados ao citado termo; e ausência de aditivo referente ao Contrato 039/2011, prorrogando a vigência do mesmo. Importante ser destacado que a ausência de documentos contraria o disposto nos artigos 2º e 4º da RN TC Nº 06/03. Em respeito aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, o Prefeito Constitucional de Carrapateira, Sr. José Ardison Pereira foi regularmente notificado, conforme fls. 21/22, deixando escoar o prazo sem apresentação de esclarecimentos. Cota Ministerial, às fls. 27/30, opinando pela: 1) Citação,via postal, do Sr. José Ardison Pereira, porquanto tal providência foi executada nos autos apenas uma vez, e restando 2/8

3 improdutiva o chamamento postal, seja realizada a citação editalícia do interessado. 2) Citação postal do Sr. André Pedrosa Alves, prefeito eleito, facultando-lhe a oportunidade de apresentar a documentação requerida pelo Órgão de Instrução no relatório de fls. 05/19. Após notificações de fls. 32/36, o Sr. André Pedrosa Alves requereu dilatação do prazo processual, conforme petição de fls. 38/41, e o Sr. José Ardison Pereira apresentou esclarecimentos de fls. 42/51. Em nova análise de defesa, a Unidade Técnica elaborou relatório DECOP/DICOP nº 416/13, às fls. 55/59, apontando as seguintes conclusões: 1. Para a obra de construção de aterro sanitário na cidade de Carrapateira PB: a) Excesso no valor de R$ ,54; b) Licença de Instalação (nº 2435/2009) do empreendimento encontra-se vencida (29/12/2011), bem como a vigência do contrato nº 024/2010; c) A obra encontrava-se paralisada, à época da inspeção realizada, mostrando sinais de abandono, ainda existindo serviços da primeira etapa a serem concluídos; d) Não foram disponibilizados os seguintes documentos: Projeto básico completo (plantas dos projetos devem, preferencialmente, ser enviadas por mídia digital em formato CAD - *.dwg); Termo de Compromisso nº TC/PAC 607/09, respectivo terceiro termo aditivo e o plano de trabalho devidamente assinados pelo representante da entidade concedente (FUNASA), e os aditivos de números 1, 2 (tendo em vista que foi entregue o terceiro); Aditivos correspondentes ao contrato nº 024/ Para a despesa de aquisição de uma área de terra medindo 03 tarefas encravadas no Sítio Bonfim dos Pedrosa, para a construção do aterro 3/8

4 sanitário deste município: Laudo de Avaliação apresentado para a aquisição do terreno destinado à construção de aterro sanitário não atende aos requisitos da ABNT NBR / Para a obra de construção da rede de esgoto nas ruas Antônio Galdino, Manoel Pedrosa e Projetada 12: Permanece a irregularidade de ausência de projeto e de Anotação de Responsabilidade Técnica ART. 4. Para a despesa com medição de serviços de esgotamento sanitário: Permanece a irregularidade de ausência dos seguintes documentos: Termo de Compromisso nº TC/PAC 0249/08 e respectivo plano de trabalho devidamente assinados pelo representante da entidade concedente (FUNASA); aditivos de números 1, 2 e 3 (tendo em vista que foram entregues os de números 4, 5 e 6.), relacionados ao citado termo; e ausência de aditivo referente ao Contrato 039/2011, prorrogando a vigência do mesmo. Em seguida, vieram os autos a este Ministério Público para análise e emissão de parecer. É o relatório. Passo a opinar. A prestação de contas deve se apresentar em sua completude, caso contrário será o mesmo que não tê-la realizado. Deve evidenciar a adequação dos procedimentos adotados para a execução da despesa (pagamento, emissão de nota fiscal, celebração de convênio, entre outras formalidades), e, principalmente, demonstrar o mérito alcançado, ou seja, a efetiva aquisição de bens, realização de obras ou prestação de serviços, bem como a conquista de bons resultados para a coletividade. Esse duplo aspecto da prestação de contas - formal e material, respectivamente - está constitucionalmente previsto: Art. 74. Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário manterão, de forma integrada, sistema de controle interno com a finalidade de: (...) II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados, quanto à eficácia e eficiência, da gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da administração federal, bem como da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado; 4/8

5 O Supremo Tribunal Federal já assentou a obrigação de os responsáveis por dinheiros públicos demonstrarem a sua escorreita aplicação, sob os enfoques formais e meritórios, quando do julgamento do Mandado de Segurança nº /DF, publicado no DJU de 25/02/1983, de cujo voto do eminente relator Ministro Moreira Alves, colhe-se lapidar comentário: Vê-se, pois, que, em tema de Direito Financeiro, mais particularmente, em tema de controle da aplicação dos dinheiros públicos, a responsabilidade do Ordenador de Despesa pelas irregularidades apuradas se presuma, até prova em contrário, por ele subministrada. Acrescente-se, ainda, que de acordo com o Artigo 93 do Decreto-lei nº 200, de : Quem quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego, na conformidade das leis, regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas competentes. Do disposto no citado preceito legal infere-se que, no julgamento das contas dos responsáveis pela aplicação dos dinheiros públicos, dois são os aspectos a considerar: 1) o regular emprego, respeitante às formalidades legais do ato de despesa, tal como prescrevem os arts. 58 a 70 da Lei nº 4.320, de ; 2) o bom resultado, no referente ao objetivo alcançado com o dispêndio, que deve guardar consonância com a destinação dos recursos orçamentários, à conta dos quais é imputada a despesa. A Unidade Técnica, em relatório de fls. 55/59, constatou o pagamento em excesso à empresa INPREL Indúst. de Premoldados e Construç. Civil Ltda, no valor de R$ ,54, na execução da obra referente à construção de aterro sanitário na cidade de Carrapateira - PB. Vale registrar que o Tribunal de Contas da União já se pronunciou acerca da necessidade obrigatória da comprovação da correta aplicação dos recursos públicos, vejamos: A não-comprovação da lisura no trato de recursos públicos recebidos autoriza, a meu ver, a presunção de irregularidade na sua aplicação. Ressalto que o ônus da prova da idoneidade no emprego dos recursos, no âmbito administrativo, 5/8

6 recai sobre o gestor, obrigando-se este a comprovar que os mesmos foram regularmente aplicados quando da realização do interesse público. Aliás, a jurisprudência deste Tribunal consolidou tal entendimento no Enunciado de Decisão nº 176, verbis: "Compete ao gestor comprovar a boa e regular aplicação dos recursos públicos, cabendo-lhe o ônus da prova". Há que se destacar, ainda, que, além do dever legal e constitucional de prestar contas do bom e regular emprego dos recursos públicos recebidos, devem os gestores fazê-lo demonstrando o estabelecimento do nexo entre o desembolso dos referidos recursos e os comprovantes de despesas realizadas com vistas à consecução do objeto acordado. Assim, é imperioso que, com os documentos apresentados com vistas a comprovar o bom emprego dos valores públicos, seja possível constatar que eles foram efetivamente utilizados no objeto pactuado, de acordos com os normativos legais e regulamentares vigentes. (DC / Sessão: 20/06/00 Grupo: II Classe: II 2ª Câmara, Relator: Ministro Adylson Motta - TOMADA E PRESTAÇÃO DE CONTAS, Processo nº /1998-1, publicação no DOU de 03/07/2000.) Assim, opina este Parquet pela imputação do valor de R$ ,54 ao Senhor José Ardison Pereira. Além disso, informou, às fl. 55, que a Licença de Instalação (nº 2435/2009) do empreendimento se encontra vencida (29/12/2011), bem como a vigência do contrato nº 024/201; a obra não se encontra em andamento, mostrando sinais de abandono, ainda existindo serviços desta primeira etapa a serem concluídos; e o fato do recurso federal ter sido liberado em sua totalidade, de acordo com o sítio da CGU. Ainda, apurou-se, no tocante à construção do aterro sanitário, a não apresentação dos seguintes documentos: Projeto básico completo (plantas dos projetos, devem, preferencialmente, ser enviadas por mídia digital em formato CAD - *.dwg); Termo de Compromisso nº TC/PAC 607/09, respectivo terceiro termo aditivo e o plano de trabalho devidamente assinados pelo representante da entidade concedente (FUNASA), e os aditivos de números 1, 2 (tendo em vista que foi entregue o terceiro); Aditivos correspondentes ao contrato nº 024/2010. Ainda, no tocante à aquisição de uma área de terra medindo 03 tarefas encravadas no Sítio Bonfim dos Pedrosa, para a construção do aterro sanitário deste município, o interessado apresentou laudo de avaliação do imóvel, todavia em discordância com os requisitos explicitados na ABNT NBR /2004 (e demais 6/8

7 partes), que trata da avaliação de imóveis rurais, nos seguintes aspectos (relação não exaustiva): Composição de uma amostra representativa de dados de mercado; Quanto ao método de avaliação utilizado - inferência estatística com modelos de regressão linear, conforme os requisitos mínimos estabelecidos no anexo A da citada norma, ou, no caso de tratamento por fatores, nos termos do anexo B da mesma. Não obstante, a inobservância dos requisitos da ABNT, houve apresentação de laudo de avaliação do imóvel rural, às fls. 49/51, razão pela qual, este Ministério Público de Contas entende que a eiva pode ser relevada. Em relação à construção da rede de esgoto nas ruas Antônio Galdino, Manoel Pedrosa e Projetada 12, não foi apresentada a Anotação de Responsabilidade Técnica ART. Tal falha constitui ofensa ao disposto no art. 4º da Resolução RN TC nº06/03, ensejando aplicação de multa aos Senhores José Ardison Pereira e André Pedrosa Alves. Por fim, para a despesa com medição de serviços de esgotamento sanitário permanece como irregularidade a ausência dos seguintes documentos: Termo de Compromisso nº TC/PAC 0249/08 e respectivo plano de trabalho devidamente assinados pelo representante da entidade concedente (FUNASA); aditivos de números 1, 2 e 3 (tendo em vista que foram entregues os de números 4, 5 e 6.), relacionados ao citado termo; e ausência de aditivo referente ao Contrato 039/2011, prorrogando a vigência do mesmo. pelo (a): ISTO POSTO, alvitra o Ministério Público junto a esta Corte de Contas 1) Irregularidade das despesas com a obra de construção de aterro sanitário na cidade de Carrapateira - PB, sob responsabilidade do Sr. José Ardison Pereira. 2) Regularidade com Ressalvas das despesas relacionadas à construção da rede de esgoto nas ruas Antônio Galdino, Manoel Pedrosa e Projetada 12; aquisição de uma área de terra medindo 03 tarefas encravadas no Sítio Bonfim dos Pedrosa, para a construção do aterro sanitário; com medição de serviços de esgotamento sanitário. 7/8

8 3) Aplicação de multa aos Senhores José Ardison Pereira e André Pedrosa Alves, em face da ofensa ao disposto no art. 4º da Resolução RN TC nº06/03. 4) Imputação de Débito, no valor de R$ ,54, ao Sr. José Ardison Pereira, em virtude de pagamento em excesso à empresa INPREL Indúst. de Premoldados e Construç. Civil Ltda, na execução da obra de construção de aterro sanitário na cidade de Carrapateira - PB. É como opino. João Pessoa, 12 de novembro de Marcílio Toscano Franca Filho, Prof. Dr. iur Procurador do Ministério Público junto ao TCE/PB 8/8