ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO

Transcrição

1 PARECER N SERVIDORES PENITENCIÁRIOS QUE SE DESLOCAM, POR DOZE DIAS, A VÁRIOS ESTADOS DA FEDERAÇÃO, TRANSPORTANDO APENADOS E, NO RETORNO, SEM ALONGAR O CRONOGRAMA DA VIAGEM, SÃO VISTOS EM CIDADE BALNEÁRIA, ONDE PERNOITARAM ESTRATEGICAMENTE, E FIZERAM COMPRA DE VÍVERES, UTILIZANDO VIATURA OFICIAL, NÃO COMETEM INFRAÇÃO FUNCIONAL, SUGERINDO-SE A ABSOLVIÇÃO DOS INDICIADOS. Vem a exame e parecer deste Conselho Superior da Procuradoria-Geral do Estado o processo nº /00.4, oriundo da Secretaria da Justiça e Segurança, que se refere ao processo administrativodisciplinar instaurado contra CLENI MARIA USZACKI, matrícula nº , PEDRO RAMOS LEITE,Matrícula nº , JOEL SALDANHA LISCANO, matrícula nº ,josé SADI DA FONSECA, matrícula nº , MILTON FERNANDO OLIVEIRA DA ROCHA, matrícula , JÚLIO CÉSAR RODRIGUES LANZARINI, matrícula nº , à época dos fatos lotados no Núcleo de Segurança e Disciplina da Superintendência dos Serviços Penitenciários, que respondem pelas infrações capituladas nos arts. 178, incs. XVII, XX, XXIV e XXV, e 191, incs. VI e VII, e descumprimento dos deveres do servidor constantes no art. 177, incs. III, IV, V, VI, VII e X, todos da Lei Complementar nº 10098/94, por terem, em 28 de dezembro de 1999, se desviado de sua rota, dirigindose a uma praia em Florianópolis, Santa Catarina, quando em viagem de transferência de presos realizada de 18 a 30 de dezembro de 1999, ocasionando o uso inadequado de veículo oficial, gasto desnecessário de combustível e recebimento indevido de diárias, fatos veiculados pelo jornal A Notícia e pela RBSTV de Florianópolis. Houve, ainda, a emissão de um cheque sem fundos oriundo de conta bancária da SUSEPE pelo agente João Pedro Ramos Leite, em desacordo com as instruções recebidas (fls. 139/40). O processo, precedido de sindicância e instaurado pelo Secretário de Estado da Justiça e da Segurança através da Portaria n.º 48/2000, publicada no Diário Oficial de 15 de março de 2000 (fls. 132/3), foi remetido à Procuradoria-Geral

2 do Estado e distribuído à Procuradoria de Probidade Administrativa e de Processo Administrativo-Disciplinar, onde tramitou regularmente com a citação dos servidores, qualificados e interrogados na presença de defensores constituídos, oferecimento de defesas prévias, ouvida das testemunhas arroladas pela Autoridade Processante e pela Defesa, juntada de documentos e, encerrada a instrução, apresentação das alegações finais. É o relatório. São os seguintes os fatos que deram origem ao presente processo administrativo-disciplinar de acordo com a sindicância: 1. Devidamente autorizados pelo Secretário de Estado da Justiça e da Segurança, os indiciados se afastaram do serviço de 18 a 30 de dezembro de 1999, com o intuito de removerem presos de Porto Alegre para Curitiba, Campo Grande, Cuiabá, Nova Xavantina, MT, e Sorriso, MT, e trazerem outros presos de Cassilândia, MS, Barracão, PR, e Curitiba para Porto Alegre, tudo em função de determinações judiciais (fls. 32/46). O deslocamento se deu em dois veículos, uma camioneta com os presos e um automóvel de apoio. 2. A escolta era chefiada pelo agente João Pedro Ramos Leite, a quem foram entregues seis cheques em branco, da conta n.º , do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, sendo titular a SUSEPE, assinados pelo subdiretor do Núcleo de Segurança e Disciplina. As cártulas só poderiam ser utilizados para atender situações emergenciais, entre elas não se enquadrando a compra de combustível, pois para tanto a escolta portava cartão magnético específico. 3. Logo no início do deslocamento, em Florianópolis, SC, após o abastecimento dos veículos e na impossibilidade de fazer uso de um cartão magnético pertencente ao Poder Público, que não funcionou, o chefe da escolta efetuou o pagamento com um dos cheques supra aludidos, no valor de R$ 185, No retorno da viagem, em 28 de dezembro de 1999, os indiciados, em atenção ao determinado pelo subdiretor do Núcleo de Segurança e Disciplina da SUSEPE, Agente Penitenciário Otto Roberto Ozório Faleiro, desviaram-se de sua rota e entraram em Florianópolis com o intuito de resgatar o cheque no posto de combustível onde abasteceram as viaturas, vez que, tendo sido apresentado pelo credor, fora devolvido por falta de fundos. 5. Como o cheque não se encontrava no posto de combustível, havendo necessidade de aguardar algum tempo até que fosse devolvido, os indiciados resolveram pernoitar em Florianópolis. Para tanto, os Agentes Penitenciários Júlio César Rodrigues Lanzarini e José Sadi da Fonseca dirigiram-se para o Presídio em Florianópolis, onde deixaram os presos que conduziam e aguardaram notícias dos 2

3 demais membros da escolta, que saíram em busca de um hotel, de baixo custo, localizado nas cercanias da praia de Pântano do Sul. 6. Acertada a hospedagem, os quatro indiciados, utilizando-se do veículo oficial do Estado do Rio Grande do Sul, dirigiram-se até a mencionada praia e, ao saírem de uma lancheria, foram abordados pelos repórteres do jornal catarinense A Notícia e da RBSTV de Florianópolis, que tornaram público terem sido servidores gaúchos flagrados na praia, em trajes inadequados, e utilizando viatura oficial (fls. 4, 5, 6, 77, 78 e 131). Os indiciados, interrogados, deram a sua versão dos fatos. Afirmaram que, no início da viagem, em Florianópolis, de posse de uma lista de postos de abastecimentos que aceitavam o cartão magnético para despesas que a escolta levava em mão, procuraram abastecer as viaturas ao longo da rodovia. Em Santa Catarina, como obtiveram sucesso, entraram em Florianópolis à procura de um posto que aceitava o cartão e com o qual haviam previamente entrado em contato por telefone. Contudo, abastecidos os veículos e verificada a impossibilidade do uso do cartão por deficiência do equipamento eletrônico do posto, a chefe da escolta viu-se na obrigação de utilizar um dos cheques que portava para atendimento de situações de emergência. Sabedor de que tal procedimento poderia gerar confusões e de que não havia fundos na conta bancária, tentou entrar em contato com Otto Roberto Ozório Faleiro, subdiretor do Núcleo de Segurança e Disciplina, sem êxito imediato, só o conseguindo dois dias após a ocorrência do fato, quando lhe foi determinado que, no retorno, resgatasse o cheque, que já fora depositado e devolvido ao credor por falta de fundos. Assim, retornando da viagem e passando por Florianópolis, os indiciados entraram na cidade com o intuito de resgatar o cheque. Como este não estava à disposição e, segundo informações obtidas no posto de abastecimento, só estaria disponível em vinte e quatro horas, resolveram sair em busca de hospedagem para o pernoite, deixando os presos no Presídio em Florianópolis sob a custódia de dois dos indiciados. Optaram por um hotel localizado em praia afastada do centro de Florianópolis devido ao preço baixo da diária cobrada. Acertada a hospedagem, dirigiram-se para a praia de Pântano do Sul, nas cercanias do hotel, em busca de local para compra de alimentos, quando foram surpreendidos pelos repórteres do jornal e canal de televisão já mencionados, que os abordaram e indagaram sobre os motivos pelos quais estavam naquele local. As testemunhas arroladas confirmam a versão dos indiciados. O Agente Penitenciário Juarez Fagundes dos Santos, dirigente do Núcleo de Segurança e Disciplina, disse que os cheques estavam vinculados a uma conta da rubrica de despesas com peças e serviços, não se destinando, portanto ao pagamento de combustível. Por tal motivo, foi determinado à escolta que, no retorno, passasse por Florianópolis e resgatasse o documento, eis que o subdiretor do Núcleo de Segurança 3

4 e Disciplinar, o Agente Penitenciário Otto Roberto Ozório Faleiro, já teria entrado em contato com o posto de abastecimento e acertado a devolução do cheque mediante o pagamento do combustível através do cartão magnético. Aduziu inexistir qualquer norma regulamentadora do uso de numerário por agentes penitenciários que se deslocam custodiando presos e ser comum a ocorrência de problemas com o pagamento de combustível por cartão magnético. Acrescentou que a escolta retornou a Porto Alegre um dia antes do previsto, o que determinou a devolução de uma diária (fls. 225/7). O Agente Penitenciário Otto Roberto Ozório Faleiro, subdiretor do Núcleo de Segurança e Disciplina, depondo, disse que, sabedor da utilização do cheque para pagamento de combustível e de seu depósito pelo responsável do posto de abastecimento, sustou o pagamento e determinou que os indiciados passassem por Florianópolis, lá permanecendo até solucionado o problema. Acrescentou ser comum o surgimento de dificuldades envolvendo o uso de cartão magnético para pagamento de combustível (fls. 228/30). O jornalista José Luiz Dias da Silva Lima, Coordenador da Assessoria de Comunicação Social da Secretaria da Justiça e da Segurança, informou que, em contato com a repórter autora da notícia veiculada no jornal A Notícia, esta lhe disse que os indiciados estariam em trajes de banho (fls. 231/2). O Agente Penitenciário Álvaro Cardoso Lazzarin, testemunha arrolada pela Defesa, disse ser Florianópolis utilizada como ponto de apoio das escoltas, especialmente devido a boa estrutura prisional de seu complexo penitenciário, sendo usual a hospedagem das equipes no hotel escolhido pelos indiciados em função da diária cobrada (fls. 233/4). Do exposto, com base nos elementos probatórios que compõem os autos, entendo que: 1. O Agente Penitenciário João Pedro Ramos Leite, chefe da escolta, ao efetuar o pagamento do combustível das viaturas através de um dos cheques que portava, dando a cártula finalidade distinta a que estava destinada, tomou a medida adequada, considerando as circunstâncias em que ocorreu o fato. Mesmo porque inexiste qualquer regra escrita a respeito da forma e da destinação do numerário depositado na conta bancária referida nos autos. 2. A escolta, no retorno de sua viagem, desviou e permaneceu em Florianópolis para atender determinação superior emanada da direção do Núcleo de Segurança e Disciplina da SUSEPE, cujo subdiretor ordenou que lá ficassem até resgatarem o cheque. Cumpre assinalar ser do conhecimento da SUSEPE os constantes problemas surgidos com a utilização de cartões para pagamento de combustível. 4

5 3. Em conseqüência, não houve decisão deliberada por parte dos indiciados de alongarem a missão com o intuito de se locupletarem com o recebimento de diárias de viagem a mais. Tanto é verdade que, ao fim, tendo antecipado o retorno em um dia, devolveram aos cofres públicos o valor da respectiva diária. 4. Não houve, também, tendo em vista as circunstâncias do ocorrido, intenção de uso de veículo oficial em proveito próprio e em detrimento do poder público estadual. Na verdade, as reportagens jornalísticas que flagraram os servidores na praia de Pântano do Sul e deflagraram a sindicância que desaguou no presente processo administrativo-disciplinar, apenas sugerem a utilização inadequada do veículo oficial e de estarem os seus ocupastes usando trajes não condizentes com o momento já que, em princípio, estariam a serviço. 5. Cumpre aludir que o Estado do Rio Grande do Sul como, de resto, o poder público em geral em todas as esferas, deve proporcionar aos seus servidores as mínimas condições para o perfeito exercício de suas funções. No caso, considerando o deslocamento da escolta, o itinerário, a distância e os percalços pelas quais passou para cumprir a missão que lhe foi atribuída, outra atitude não se poderia exigir dos indiciados, que agiram em conformidade das determinações superiores recebidas. Assim sendo, por não vislumbrar no comportamento, na conduta ou na ação dos indiciados elementos que caracterizariam as infrações apontadas, opino pela absolvição, com a conseqüente improcedência das imputações que lhe foram atribuídas na portaria instauradora deste processo administrativo-disciplinar. Porto Alegre, 03 de dezembro de Helena Maria Silva Coelho, Procuradora do Estado. 5

6 Processo nº /00.4 Acolho as conclusões do PARECER nº , do Conselho Superior da Procuradoria-Geral do Estado, de autoria da Procuradora do Estado Doutora HELENA MARIA SILVA COELHO, acolhida pelo Colegiado na reunião realizada no dia 22 de novembro de Submeta-se o expediente à deliberação do Excelentíssimo Senhor Governador do Estado. Em 13 de dezembro de Paulo Peretti Torelly, Procurador-Geral do Estado. 6

7 GABINETE DO GOVERNADOR Processo nº /00.4 Aprovo o PARECER nº , da Procuradoria-Geral do Estado, cujos fundamentos adoto para ABSOLVER os servidores penitenciários CLENI MARIA USZACKI, matrícula nº , PEDRO RAMOS LEITE, matrícula nº , JOEL SALDANHA LISCANO, matrícula nº , JOSÉ SADI DA FONSECA, matrícula nº , MILTON FERNANDO OLIVEIRA DA ROCHA, matrícula nº e JÚLIO CÉSAR RODRIGUES LANZARINI, matrícula nº , lotados na Secretaria da Justiça e da Segurança, da imputação objeto do Processo Administrativo- Disciplinar nº /00.4, instaurado para apurar falta funcional a eles atribuídas. À Procuradoria-Geral do Estado para publicação e anotações de estilo. Após, à Secretaria da Justiça e da Segurança para ciência dos interessados e demais providências pertinentes. PALÁCIO PIRATINI, em Porto Alegre, 12 de dezembro de GOVERNADOR DO ESTADO

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