A CIBERCULTURA NOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS: UMA PROPOSTA CARTOGRÁFICA 1. Manoella Fortes Fiebig 2

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1 A CIBERCULTURA NOS PERIÓDICOS CIENTÍFICOS: UMA PROPOSTA CARTOGRÁFICA 1 Manoella Fortes Fiebig 2 A cibercultura tem sido um tema central e amplamente abordado em diversos artigos científicos, livros, teses e dissertações, principalmente após a popularização da internet, fato que impulsionou o questionamento científico acerca da cultura contemporânea. A diversidade de pesquisas sobre o assunto resulta num universo heterogêneo e quase impossível de ser mensurado. Dada a natureza difusa, inclusive do conceito de cibercultura, constata-se que existem pesquisas que buscam entender o fenômeno pelo viés da chamada filosofia da técnica, outros relacionando o avanço do uso intenso das tecnologias no cotidiano social com uma vertigem ; e outros ainda, que relatam as transformações das mídias tradicionais (passivas do ponto de vista da recepção) para as mídias atuais que permitem a atuação dos receptores e sua metamorfose em emissores, relacionando-as à revolução do conhecimento, sob a perspectiva da convergência midiática (RÜDIGER, 2008, 2011; KEEN, 2012; POLIVANOV, 2014; JENKINS, 2008). Vê-se, portanto, o pensamento e a pesquisa científica em torno da cibercultura se expandir, acompanhando o avanço frenético das tecnologias digitais na vida em sociedade. Lemos (2002) afirma que a técnica assume diversos simbolismos no decorrer dos séculos até chegar a contemporaneidade, e que ligado à complexidade das culturas, todo sistema técnico é marcado por incoerências, bloqueios, paradoxos e conflitos, da Antiguidade aos nossos dias (LEMOS, 2002, p. 39). Logo, a cibercultura como conhecemos hoje, é uma herança da técnica cultivada pela humanidade desde sua existência. A cibercultura, entre outros entendimentos, pode ser sintetizada como a cultura do homem técnico contemporâneo e, como salienta Lemos, mesmo com tantos esforços científicos para compreendê-la, ela continua sendo marcada por incoerências e imprecisões. Felinto (2007) relata que a cibercultura, enquanto campo do conhecimento, encontrase desorientada e que aqueles que se dispõem a entendê-la correm o risco de perder-se em uma selva inóspita de ambiguidades e caminhos que não levam a parte alguma (FELINTO, 1 Artigo apresentado ao Eixo Temático 11 Educação a Distância / Educação Online / Métodos e Processos Pedagógicos/ Inclusão (Métodos e Processos Pedagógicos) do IX Simpósio Nacional da ABCiber. 2 Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná. Pesquisadora do Grupo Click Comunicação e Cibercultura. manoellaff@gmail.com

2 2007, p. 02). Isto quer dizer que, ao longo do tempo, a cibercultura despertou interesse de várias frentes do conhecimento, sendo analisada por diferentes áreas como a Comunicação, Sociologia, Antropologia, etc. Isto resulta em uma notável divergência quanto ao tratamento dado ao termo. O que desorienta a cibercultura, acredita Felinto, é esta infindável lista de teorias e pesquisas sobre o fenômeno, bem como esta heterogeneidade característica ao campo, que não o possibilita ter uma identidade própria, tampouco consenso entre seus adeptos. A tentativa aqui é justamente a de organizar uma parcela deste material, em busca de um entendimento de ordem epistemológica sobre a cibercultura. Embora existam diversas fontes de informação sobre o assunto, neste artigo interessa saber como a cibercultura está sendo abordada nos periódicos científicos brasileiros da área da Comunicação. Para tanto, optou-se por analisar cinco periódicos acadêmicos considerados como A2 pela Qualis Capes 3 no período temporal dos últimos dez anos ( ), são eles: revista E-Compós, MATRIZes, Intercom, Galáxia e Famecos. Com base em técnicas do método da análise de conteúdo (BARDIN, 2011), busca-se realizar um mapeamento dos artigos científicos sobre o tema cibercultura publicados nestes periódicos no período determinado. Este artigo é um recorte bastante reduzido da dissertação de Mestrado da autora e traz os primeiros resultados da pesquisa intitulada Produção Científica Brasileira em Cibercultura: Mapeamento de Publicações no Período e Proposta Epistemológica, que será apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em março de As informações e resultados aqui expostos, por conseguinte, são parte do levantamento quantitativo realizado para a dissertação e cumprem um papel de discussão metodológica, visto que a dissertação ainda está em andamento. Apresentamos aqui uma proposta de cartografia da cibercultura no Brasil, obviamente tomando o cuidado para não cair em generalizações, visto que o artigo limita-se à análise apenas de cinco periódicos científicos. Com um universo total de 440 artigos, busca-se compreender, neste corpus, como os pesquisadores brasileiros que publicam artigos nestas revistas acadêmicas abordam a cibercultura, visando encontrar os principais eixos temáticos e objetos analisados nos últimos dez anos. Para tanto, tomamos como base metodológica o quadro conceitual de Amaral & Montardo ( ), aplicado segundo a técnica de categorização proposta por Bardin (2011, p. 147). 3 A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) estabelece determinados parâmetros para qualificar o ensino superior no país e realiza exames periódicos aos programas de pós-graduação de todo o extenso território brasileiro, estabelecendo algumas normas de qualificação para professores e estudantes, além de avaliar os periódicos científicos de todas as áreas do conhecimento.

3 Este artigo tem por objetivo suscitar discussões e reflexões em cima dos dados resultantes da coleta inicial, que corresponde à etapa quantitativa da dissertação, com vistas a contribuir para a análise crítica deste tema em ambiente nacional. O estudo cartográfico já foi problematizado por Felinto (2007), que sugere alguns instrumentos para o estudo cartográfico inicial sobre a cibercultura, enfatizando que, para este objetivo, é necessário realizar um inventário das metodologias de pesquisa, de seus temas e subtemas, de seu cânone de referências (FELINTO, 2007, p. 10). Tendo como base esta citação de Felinto, propomos, neste artigo, apresentar os principais eixos temáticos observados no corpus determinado, bem como os autores mais citados nos artigos científicos, os objetos mais pesquisados e as metodologias que daí emergem, além de demonstrar os dados quantitativos resultantes da análise. Quanto ao mapeamento, pode-se observar que as regiões Sul e Sudeste possuem uma maior concentração de autores que publicaram textos científicos nas revistas analisadas. Estas duas regiões compreendem os estados do Espírito Santo (ES), Minas Gerais (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Paraná (PR), Santa Catarina (SC) e Rio Grande do Sul (RS) e, destes estados, destacamos dois deles por serem os locais onde verificamos que há maior número de instituições ligadas aos autores dos textos: São Paulo, com um total de 11 instituições, e Rio Grande do Sul, com 10. Perceba-se, no entanto, que a universidade cujos autores mais publicaram textos sobre cibercultura, no montante geral, foi a Universidade Federal da Bahia (com 28 textos científicos de autores provenientes da instituição), que está situada na região Nordeste. O periódico científico que mais dedicou espaço para assuntos relacionados ao campo da cibercultura nestes últimos dez anos foi a Revista E-Compós, com 38% de sua produção voltada para temas pertinentes às discussões sobre a cultura contemporânea. A Revista MATRIZes é o periódico que vem em seguida, destinando 27% de sua produção total a assuntos referentes à cibercultura. Outro detalhe que foi constatado são os dossiês temáticos, que praticamente todos os periódicos costumam publicar em suas edições, porém somente a revista Famecos e E-Compós o fizeram com o tema cibercultura. No Volume 9 da revista E- Compós, publicado no segundo quadrimestre de 2007, o periódico trouxe um dossiê temático voltado somente para temas e reflexões sobre a cibercultura. O mesmo aconteceu com a Revista Famecos, que publicou no ano de 2008 um dossiê da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber), contendo 19 textos sobre o tema. Quanto às divisões temáticas, observamos a incidência de treze categorias ligadas ao campo da comunicação, uma diversidade de objetos e algumas metodologias que são intrínsecas ao

4 ramo da cibercultura, como a netnografia e a análise de interatividade nos sites de rede social. Vale ressaltar que, como base para as categorias temáticas, utilizamos a categorização proposta por Amaral & Montardo (2011). O objetivo, neste caso, é o de dimensionar os estudos em cibercultura nestes periódicos, a fim de contribuir para uma cartografia mais ampla e complexa do tema. Embora este seja apenas um recorte limitado de todo o material coletado, este artigo surge como um exercício essencial para suscitar as discussões sobre o campo, visto que o propósito cartográfico (e a consequente sistematização e organização do material científico sobre o tema) aqui proposto constitui-se como um primeiro passo para a reflexão crítica e epistemológica da cibercultura. Palavras-chave: Cibercultura; Comunicação; Produção Científica; Cartografia. Referências bibliográficas AMARAL, A.; MONTARDO, S. P. Pesquisa em Cibercultura: análise da produção brasileira da Intercom. LOGOS, Rio de Janeiro, v. 1, n. 34, p , AMARAL, A.; MONTARDO, S. P. Pesquisa em cibercultura e internet: estudo exploratóriocomparativo da produção científica da área no Brasil e nos Estados Unidos. Revista Conexão - Comunicação e Cultura, Caxias do Sul, v. 9, n. 18, p , jul./dez BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. São Paulo: Edições 70, FELINTO, E. Cibercultura: ascensão e declínio de uma palavra quase mágica. E-Compós, Brasília, v. 14, n. 1, jan./abr FELINTO, E. Sem mapas para esses territórios : a cibercultura como campo de conhecimento. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, XXX, 2007, Santos. Anais... Santos: Intercom, FOUCAULT, M. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Tradução de Lígia M. Ponde Vassalo. Petrópolis: Vozes, JENKINS, H. Cultura da Convergência. Tradução de Susana Alexandria. São Paulo: Aleph, KEEN, A. Vertigem Digital: por que as redes sociais estão nos dividindo, diminuindo e desorientado. Rio de Janeiro: Zahar, LEMOS, A. Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre: Sulina, POLIVANOV, B. Dinâmicas Identitárias em Sites de Redes Sociais: estudo com participantes de cenas de música eletrônica no Facebook. Rio de Janeiro: Multifoco, 2014.

5 RÜDIGER, F. As Teorias da Cibercultura: perspectivas, questões e autores. Porto Alegre: Sulina, 2011.