ANÁLISE ESPAÇO TEMPORAL DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO - PERNAMBUCO

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1 Autor: Lucas André Penha dos Santos Universidade Federal de Pernambuco Coautor(a): Kétcia Ferreira de Santana Universidade Federal de Pernambuco ANÁLISE ESPAÇO TEMPORAL DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO MUNICÍPIO DE VITÓRIA DE SANTO ANTÃO - PERNAMBUCO INTRODUÇÃO É aceito que um município recém-fundado será o palco de inúmeros acontecimentos que farão parte da sua história, na grande maioria dos casos a ocorrência de tais acontecimentos em um novo município caracterizará o modo de ocupação de seu solo e os aspectos, principalmente os de trabalho, ligados a produção que o mesmo abarcará. A circunstância principal da ocupação de Vitória de Santo Antão é a mesma que JUNIOR (1961) utiliza para relatar a ocupação brasileira, trata-se da exploração comercial mercantilista da colônia, com o intuito de fornecer produtos e riquezas para o continente europeu através da exploração de recursos. A partir de uma análise espaço temporal, será possível observar não só como as atividades iniciais se desenvolveram no município, mas também constatar a caracterização e influência das mesmas durante o seu período de desenvolvimento, além de atentar também para as alterações visíveis após o seu declínio.

2 Ao mesmo tempo, o trabalho adquire um valor histórico uma vez que será exposto o domínio imposto pelas práticas do mercantilismo, principalmente em locais afastados das capitais, exibindo o fenômeno a partir de um ponto de vista mais "interno" e específico; Novos processos de caráter econômico também serão descritos, como a atividade industrial em municípios interioranos, e a sua relação com as práticas "da casa", apontando as alterações sociais geradas pelos mesmos. OBJETIVOS A elaboração deste trabalho tem como objetivo caracterizar o processo de desenvolvimento econômico de Vitória de Santo Antão analisando e destacando as principais atividades e práticas exercidas no município, desde a sua formação até os dias atuais, expondo as alterações sociais promovidas pelas mesmas. METODOLOGIA Se tratando dos procedimentos metodológicos que dizem respeito à etapa de trabalho de gabinete, foi realizado um estudo empírico sobre algumas obras clássicas, dando ênfase nas que trabalham especificamente com o município de Vitória de Santo Antão, além das que relatam as modificações do espaço agrário e as alterações sociais decorrentes do modo de produção capitalista, principalmente dentro de um contexto urbano. A escolha da realização de entrevistas semiqualitativas com antigos moradores de áreas que tiveram um papel relevante na economia, produtores rurais e comerciantes caracterizaram o estágio prático do presente trabalho. Primeiramente foi realizado o estudo e revisão literária, tendo como principal intuito, a construção de uma base teórica sobre os principais fatos e características que se coadunam com os aspectos econômicos e sociais do município.

3 Em seguida ocorreu a aplicação das entrevistas semiqualitativas com moradores, produtores rurais e comerciantes acerca de temas pertinentes à pesquisa. Por fim está sendo realizada a junção das informações pertencentes à etapa teórica e prática, tendo como fim a exposição dos resultados e com isso a caracterização e análise espaço temporal econômica do município de Vitória de Santo Antão. ANÁLISE ESPAÇO TEMPORAL Pode-se estabelecer a repartição da economia do município de Vitória de Santo Antão em quatros grandes fases, que são elas: o trabalho agrícola inicial, a cana de açúcar, a policultura e a industrialização, cada uma delas atuante em um determinado período e contexto histórico, que serão trabalhados a partir de agora. Segundo ARAGÃO (1983), o trabalho agrícola foi introduzido por Diogo de Braga durante o século XVII, logo nos anos que procederam a fundação do município, tendo como área de atuação principal as margens do Rio Tapacurá e a produção para a subsistência como seu aspecto mais marcante, produção essa que é o fator mais predominante e típico dentro do campesinato, este evento justifica o fato do município de Vitória de Santo Antão ser o maior produtor agrícola do Estado de Pernambuco até então. Entre os séculos XVIII e XIX o processo divisão e redivisão de terras se tornou fundamental no que se trata da consolidação e progresso da produção agrícola municipal, isto porque a simples ideia de conquistar a posse de uma determinada parcela de terra, fez com que o pequeno e médio agricultor se dedicasse exclusivamente ao cultivo, tornando a obtenção de terras o maior objetivo do mesmo. Já a introdução dos trabalhos com a cana de açúcar teve uma influência direta da colonização, e a sua área de plantio foi regida por fatores fisiogeográficos, tendo se desenvolvido em grande parte nas regiões sul e oeste do município. Um fato interessante é que em sua maioria, os solos do município de Vitória de Santo Antão não apresentavam características favoráveis para o trabalho com a cana, e que as áreas escolhidas para o plantio da mesma eram caracterizadas como terras agricultáveis de potencial

4 regular, constituídas por argissolos vermelho-amarelos e gleissolos, pertencendo as terras agricultáveis de potencial alto às atividades agrícola com outros produtos. Por outro lado as terras que possuíam um médio potencial estavam localizadas em regiões que apresentavam uma boa quantidade de água, além de estarem em uma distância discreta das terras de alto potencial, adquirindo muitas vezes características das mesmas, como uma boa capacidade de retenção hídrica, fatores atenuantes se tratando do plantio da cana. O mapa abaixo demonstra a região de atuação dos solos que possuem baixo, médio e alto potencial para trabalhos agrícolas. Figura 1 - Mapa de uso do solo do município de Vitória de Santo Antão - PE. Fonte: Arcgis (2014).

5 ARAGÃO (1983) revela que à medida em que a Europa clamava por açúcar a produção canavieira crescia notavelmente, na região da Zona da Mata pernambucana, mais precisamente em Vitória, este crescimento foi caracterizado pela introdução da cana dentro das terras com alto potencial, fato traduzido por um decréscimo na produção de outros produtos agrícolas, expansão dos engenhos e introdução do gado (antes utilizado para produção de leite e corte) como força de tração e transporte da cana, tais eventos marcaram o auge do açúcar na localidade. Se tratando da administração, JUNIOR (1961) cita que os sistemas de distribuição de terras que tinham como destino final a produção, chamados também de sesmarias, admitiram características hierárquicas, já que eram regidos pelos herdeiros dos proprietários de terras. Com o fim do império do açúcar, houve a substituição dos engenhos pelas usinas, este período fez da policultura, novamente, a principal atividade econômica do município de

6 Vitória de Santo Antão; Atualmente a cana de açúcar, serve quase que em sua totalidade como matéria prima para indústrias de bebidas, em Vitória destaca-se a Pitú. Mesmo depois de mais de quatro séculos o setor agrícola/policultor ainda é primordial dentro da economia do município de Vitória de Santo Antão, destacando-se os distritos de Natuba e Pirituba, e a maior evolução ocorrente dentro do setor da policultura foi o grande aumento da dinamicidade da produção, influenciada diretamente pelo atual cenário de desenvolvimento industrial estabelecido dentro do município, o qual será exposto a seguir. Na fundação de Vitória a mandioca e o milho constituíam a base de produtividade agrícola, atualmente tal base já não existe mais, sendo a cada dia introduzidas mais culturas, ganhando destaque as hortaliças, frutas e verduras. Outro importante fator de inovação diz respeito à distribuição/logística da produção, a qual ganhou uma extensão intermunicipal, tendo como destino final o CEASA (centro de abastecimento alimentar de Pernambuco, localizado na capital do Estado, Recife) e interestadual, sobretudo os Estados de Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte. Sobre tal desenvolvimento CUNHA (2012) cita: No passado, e ainda hoje, um dos carros chefes de nossa economia primária vem dos polos agrofrutihortícolas de Natuba, Pacas, Canha, Pirituba, que se tornaram ao longo dos anos o celeiro do Recife, abastecendo com frutas, verduras, legumes e hortaliças o grande mercado atacadista da CEASA e municípios vizinhos. Dezenas de toneladas desses produtos cruzam, todo mês, as fronteiras agrícolas de Vitoria. (p.59) A imagem abaixo demonstra a região de Natuba, já inserida dentro do contexto da dinamicidade da produção, pode ser observada o cultivo de hortaliças, que no passado tinha uma produção discreta. Figura 2 - Produção de hortaliças em Natuba. Fonte: Lucas Santos (2014).

7 Já partindo de uma dinâmica atual, é relevante frisar o papel do setor comercial para a presente economia vitoriense. Este é sem dúvida o setor que forma a base econômica do município, apoiado em práticas típicas do setor terciário como o comércio já citado acima. É interessante a estreita relação do mesmo com a produção agrícola, ocorrendo uma verdadeira "transação" entre a cultura agrícola e a população urbana. Transação essa traduzida nas feiras livres, localizadas em alguns bairros e na região central da cidade, é lá que muitos dos produtos provenientes da atividade agrícola são oferecidos à população. Ainda se tratando da atividade comercial, é claramente vista uma diversificação, adentrando agora para os ramos automotivos e eletroeletrônicos. Este caráter terciário em que se baseava, e que ainda se baseia em grande parte a economia vitoriense se corrobora diretamente com a concepção de CARLOS (2001) no que diz respeito ao ponto de vista do morador sobre os tipos de atividades presentes no uso do solo de um determinado local; O morador não atribui à cidade/município um caráter "industrial", ou seja, o município não é visto como um centro de produção de bens e sim como um centro de circulação e distribuição desses bens, que serão oferecidos a população, obtendo assim um comportamento de consumo coletivo, com bens e serviços destinados à reprodução da vida dos homens.

8 Nesse sentido a ascensão industrial, que teve seu início no ano de 2007, muda a caracterização do município de Vitória de Santo Antão não só em um âmbito interno, a partir do ponto de vista dos seus moradores, mas também em uma dimensão regional. Vitória que antes era tratada como um grande centro de distribuição de mercadorias, e que regionalmente era tida como um "espaço" entre o polo têxtil do Agreste, formado pelas cidades de Caruaru, Toritama e Santa Cruz do Capibaribe, e a capital, Recife, é tida agora como o mais importante eixo de produção e escoamento industrial da Zona da Mata pernambucana. Segundo SILVA (2011), o processo de interiorização de grandes empresas, principalmente do ramo alimentício como a Sadia e a Kraft Foods para o município, foi resultado de acordos entre o governo municipal, estadual e federal, e a escolha do mesmo para suplantar as empresas teve a localização geográfica como o seu principal motivo, tendo em vista que Vitória de Santo Antão está localizada a cerca de 50 km da capital do Estado e a 70 km do porto de Suape, atendendo uma demanda regional e nacional. Como aspecto principal da crescente industrialização é pertinente frisar a maior permanência da população no município, população esta que anteriormente buscava oportunidades de emprego nas cidades da região metropolitana e em outros estados, com destaque para o de São Paulo, fato diretamente relacionado com a quantidade de empregos diretos e indiretos, promovidos pelas industrias. A tabela abaixo exibe o número de empresas que estão se instalando em Vitória, reforçando a tendência crescente do atual cenário de oportunidades de emprego presentes no município. Tabela 1: Novas empresas que estão se instalando em Vitória - PE. Fonte: Silva (2011). Empresa Setor Investimento Empregos Metal módulos do Construção civil R$ 23 milhões 200 diretos nordeste MC Bauchemie Brasil Construção civil R$ 10 milhões 150 diretos Metal Frio Solutions S.A Refrigeração comercial R$ 50 milhões 306 diretos

9 Elcoma Informática R$ 11,5 milhões 200 diretos Mavalério Alimentício R$ 10 milhões 70 diretos Carbogás Gás-Carbônico R$ 8 milhões 25 diretos Coverplast Embalagens Embalagens R$ 12,5 milhões 37 diretos do Nordeste LTDA Ventisol NE Indústria e Ventiladores R$ 2 milhões 100 diretos Comércio de Exaustores Arxo energia em Energia R$ diretos evolução RESULTADOS PRELIMINARES Até o momento têm-se como resultados preliminares da análise que circunda períodos passados:. A formação de uma atividade tipicamente campesina no período pré-cana de açúcar, onde a subsistência prevalecia como característica principal de produção.. A influência da colonização através da produção da cana de açúcar, culminando no enfraquecimento das atividades agrícolas primárias. Já no que se trata dos resultados no período de tempo contemporâneo foram vistas:. Alterações na estrutura da atividade agrária do município, relativas à dinamicidade da produção.. Modificações no cenário social e econômico da região pela maior permanência da população e aumento das ofertas de emprego influenciadas pelo crescimento industrial. OBS: O trabalho encontra-se em fase de cruzamento de dados empíricos e teóricos.

10 A realização do trabalho tornou-se proveitosa, pois através da mesma foi possível analisar como processos tão distintos como o da monocultura canavieira, e o da industrialização moderna influenciaram, modificaram e caracterizaram (seja negativa ou positivamente) o uso do solo, a economia, as características sociais e o modo de vida de uma determinada população, tornando imprescindível o estudo das atividades econômicas dentro da ciência geográfica. BIBLIOGRAFIA ARAGÃO, José. História da Vitória de Santo Antão; Da Cidade da Vitória À da Vitória de Santo Antão ( ) - I. Recife, FIAM/ Centro de Estudos de História Municipal, CARLOS, Ana Fani A.. A CIDADE. 6.ed. São Paulo: Contexto, CUNHA, A. P. Território camponês na transição agroecológica em Vitória de Santo Antão PE f. Dissertação (Mestrado em Geografia) Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, JUNIOR, Caio Prado. Sentido da colonização, In: JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Editora Brasiliense, SILVA, A.Vitória de Santo Antão e a interiorização do desenvolvimento de Pernambuco (Especialização em administração de marketing) - Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco, Recife

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