DOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA
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- Aline Peralta Frade
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1 DOS CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA Crimes Tributários: Conceito:- Crimes tributários em sentido amplo condutas delituosas com comportamento lesivo ao erário (inclui contrabando e, mais particularmente, o descaminho). Crimes tributários em sentido restrito envolve as fraudes fiscais. Direito Tributário Penal e Direito Penal Tributário:- O Direito Tributário Penal comporta responsabilidade objetiva, tem sanções de natureza administrativa. É um ramo do Direito Administrativo. O Direito Penal Tributário cuida de crimes. O regime jurídico é diferente, as penalidades são aplicadas pelo juiz (são sanções criminais). Pressupõe o dolo (responsabilidade subjetiva). Para Luiz Flávio Gomes o Direito Penal moderno trabalha com concessão de garantias. O que não pode haver é aplicação dos principio do Direito Tributário ao Penal. Ex: princípio do non olet mesmo de uma atividade ilícita, há tributação da renda. Se a atividade for criminosa, não deve (não pode) haver tributação (a ilicitude penal não absorve a administrativa, a civil, a comercial, a tributária). Não se aplica o princípio do non olet ao Direito Penal Tributário. Elisão, evasão e fraude fiscal:- A evasão e a elisão fiscal não se confundem com a fraude e a sonegação, porque diversamente dessas últimas figuras não implicam em conduta ilícita do contribuinte. A evasão fiscal consiste em uma conduta preventiva do indivíduo abstendo-se de praticar o fato jurídico definido em lei como hipótese de incidência de tributo. Assim, a evasão corresponde a uma verdadeira abstenção de incidência, como se pode verificar dos seguintes exemplos: não ser proprietário de bem imóvel para não pagar IPTU. A elisão fiscal corresponde à economia de imposto mediante um planejamento fiscal (só será lícita se o indivíduo não manipular ou usar de fraudes). Parte Geral:- Art. 15 todos os crimes contra a ordem tributaria são de ação pública incondicionada. Havia uma lei federal que estabelecia condição de procedibilidade: término da ação fiscal. Todos crimes que ofendam o patrimônio ou interesse da Administração são de ação pública incondicionada. Para Luiz Flávio Gomes, enquanto não terminasse a ação fiscal, não ocorreria a prescrição (não está positivado, mas já influenciou algumas leis). O STF, por maioria, acompanhou o voto proferido pelo Min. Sepúlveda Pertence, relator, no sentido do deferimento do habeas corpus, por entender que nos crimes do art. 1º da Lei 8.137/90, que são materiais ou de resultado, a decisão definitiva do processo 1
2 administrativo consubstancia uma condição objetiva de punibilidade, configurando-se como elemento essencial à exigibilidade da obrigação tributária, cuja existência ou montante não se pode afirmar até que haja o efeito preclusivo da decisão final em sede administrativa. Considerou-se, ainda, o fato de que, consumando-se o crime apenas com a constituição definitiva do lançamento, fica sem curso o prazo prescricional (10/12/03). Dos crimes em espécie:- Arts. 1º e 2º - possuem redação muito parecida. Quando houver dolo de dano, aplica-se o art. 1º (crimes materiais que exigem a supressão ou redução do tributo para seu aperfeiçoamento); dolo de perigo, aplica-se o art. 2º (crimes formais, que se aperfeiçoam com a prática da conduta típica, não importando a ocorrência de qualquer dano ao erário para a consumação). Essa solução é inócua. Como diferenciar crime de dano tentado e de perigo? A diferenciação entre esses crimes está na fase em que os delitos ocorrem. Fases tributárias (Fato Gerador >>> Lançamento >>> Crédito tributário) Se a fraude é destinada a impedir a ocorrência do fato gerador (fato gerador é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência) está-se diante do art. 1º. Se a fraude for para impedir a ocorrência de lançamento (procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo, identificar o sujeito passivo), está-se diante do art. 2º. Conclusão: não basta dizer se o crime é de dano ou perigo, é preciso saber o momento. E quando um sujeito, com uma só conduta, sonega dois impostos? Há três correntes: a) Concurso de infrações, devendo ser punido através do cúmulo material (somam-se as penas). Lesa, por exemplo, a União e o Estado. b) Concurso formal de infrações: uma só conduta violando mais de um bem jurídico (critério da exasperação: aumenta-se a pena mais grave de um sexto a um terço). c) Quem pratica fraude fiscal não pensa em suprimir tributos diversos. Deve-se reconhecer que haveria crime único (Hugo de Brito). O STJ adota a segunda corrente. Os crimes previdenciários estão em outra lei (8.212/91 revogada pela 9983/2000; e arts. 168-A e 337-A, CP). Ressarcimento ao erário. A Lei /03, ao disciplinar uma nova opção de parcelamento dos débitos na esfera federal, trouxe algumas inovações na área penal. O art. 9 da supracitada lei disciplinou sobre as conseqüências penais do parcelamento das dívidas existentes, oriundas de tributos da União. Art. 9 -É suspensa a pretensão punitiva do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1 e 2 da Lei 8.137/90, e nos arts. 168-A e 337-A do Dec.-lei 2.848/40 Código Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no regime de parcelamento. 2
3 1 - A prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. 2 - Extingue-se a punibilidade dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios. Conclusão: 1) o parcelamento do débito suspende a pretensão punitiva, bem como o prazo prescricional. 2) a presente lei não fez distinção sobre o momento da opção do parcelamento. 3) o artigo 9, fazendo menção expressa à pretensão punitiva, entendemos que o beneplácito não atinge aquele que parcela a dívida após o trânsito, hipótese de pretensão executória. 4) temos que atentar para que o 2 do art. 5 foi vetado pelo Presidente da República, não se admitindo, nos termos dessa lei, o parcelamento de débitos oriundos do não repasse das contribuições sociais retidas pelo empregador ou tomador de serviços. Logo, a menção feita no caput do art. 9 relativa ao tipo penal previsto no art. 168-A do CP deu-se em razão de técnica legislativa, já que o nosso ordenamento jurídico impede a figura do veto parcial (art. 66, 2, da CF); 5) Existe divergência se o art. 9 incide apenas na sonegação de tributos federais, aplicando-se aos previdenciários (168-A), estaduais e municipais o art. 34 da Lei 9.249/95 (extingue-se a punibilidade no ressarcimento que precede o recebimento da denúncia, havendo divergências se abrange o parcelamento). 6) a pessoa física parcelando seus débitos, não poderá fazer jus aos benefícios previstos no art. 9, pois a lei só se refere a pessoas jurídicas, não estendo seus efeitos a pessoas físicas. 7) por ser novatio legis, deve retroagir. 8) alguns doutrinadores entendem a presente lei inconstitucional, vez que: a) originário de MP, sendo vedada a esta espécie normativa legislar sobre direito penal e processual penal; b) fere o princípio da isonomia, não estendendo tal benefício aos devedores estaduais e municipais. SEÇÃO I DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULARES Art. 1º. Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; 3
4 V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação; Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Parágrafo único. A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso V. Sujeitos do crime é o particular, ou seja, a pessoa física do contribuinte que pode praticar o crime em comento, sendo perfeitamente possível o concurso de pessoas. Se o crime foi praticado visando reduzir ou suprimir tributo em favor de sociedade comercial, instituições financeiras ou empresa de qualquer natureza, serão pessoalmente responsáveis os diretores, administradores, gerentes ou funcionários responsáveis, sem desconsiderar a prova do dolo nas suas condutas. A vítima é o Estado, representado pela Fazenda Pública (federal, estadual ou municipal). Tipo objetivo suprimir (não mencionar, impedir de aparecer, eliminar) ou reduzir (diminuir, pagar a menor), mediante falsidade material ou ideológica, tributo, ou contribuição social e qualquer acessório (ex: juros da mora), mediante as condutas descritas nos cinco incisos previstos no art. 1º, todas visando produzir uma falsa imagem da realidade (ocultar o fato gerador), buscando enganar o Fisco. ELEMENTARES GENÉRICAS OBRIGATÓRIAS EM CADA CONDUTA:- 1) COMPORTAMENTO DE REDUZIR OU SUPRIMIR TRIBUTO, ETC., REALIZANDO, PARA TANTO, FALSIDADE MATERIAL OU IDEOLÓGICA; 2) TRIBUTO, CONTRIBUIÇÃO SOCIAL OU QUALQUER ACESSÓRIO; OBS: A NÃO INCIDÊNCIA, A ISENÇÃO OU A IMUNIDADE, EXISTENTES NUMA SITUAÇÃO CONCRETA, FAZ COM QUE O FATO SEJA ATÍPICO. I - omitir informação, ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; A modalidade em estudo muito se aproxima da falsidade ideológica (a substância é verdadeira, mas a idéia é falsa), punindo-se o agente pelo fato de ocultar informação devida ao Fisco, ou fornecer informação adulterada. Ex: 1) contribuinte que declara ser microempresa seu estabelecimento, cujo faturamento, na realidade, é superior ao limite, a fim de suprimir o tributo pertinente; 2) o contribuinte reduz o tributo, prestando declaração falsa quer sobre os dependentes, quer sobre as despesas dedutíveis, quer sobre os valores tributáveis (tal situação fática poderia perfeitamente ser enquadrada no inc. II em razão de elemento inexato na declaração de rendas. Contudo, em razão do verbo declarar, bem como o objeto material do delito, mais adequada é a capitulação no inc. I) Entende a doutrina que a falsificação deve ser realizada de forma a gerar a confiança do enganado (falsificação grosseira caracteriza crime impossível). 4
5 Como fraude é meio para o crime, fica por ele absorvida. Cuida-se de crime material (ou de resultado), somente se consumando com a real supressão ou com a redução efetiva do tributo devido. A possibilidade de tentativa divide a doutrina. Para uns, apenas a modalidade omissiva não admite tentativa. Para outros ela é incabível, vez que a infração tentada no caso estaria prevista como infração consumada no art. 2º da mesma Lei. Não se pode olvidar, relativamente ao inciso em comento, serem as condutas passíveis de enquadramento em outros incisos. Há de ser observada, portanto, a tipificação mais adequada à espécie concreta, atendendo-se ao princípio da especialidade. Assim, quem omite o registro de notas fiscais estaria, em princípio, omitindo informações. Contudo, as notas fiscais correspondem a operações de compra e venda. Conseqüentemente, mais adequado ao caso é cogitar de omissão de registro de operações prevista no inc. II. II - fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza, em documento ou livro exigido pela lei fiscal; A conduta incriminada consiste em enganar, pelo emprego de artifícios, ardis ou outros meios similares, a fiscalização tributária, seja inserindo elementos inexatos ou omitindo operação de qualquer natureza (relacionada com a supressão ou redução de tributos), em documento ou livro exigido pela lei fiscal. Também se assemelha ao delito de falsidade ideológica, diferenciando-se do inciso anterior apenas quanto ao objeto material. Trata-se de norma penal em branco, havendo que ser complementada para sabermos quais livros são exigidos pela lei fiscal, podendo variar de Estada para Estado, em caso de tributos estaduais. A fraude aqui estudada por ser praticada por: a) ação (inserir elementos inexatos); b) ou omissão (omitir operações). a) Fraude por ação:- Ex: lançamento das notas fiscais no livro de registro de saída de mercadoria com valores inferiores aos valores constantes das notas fiscais (se o agente falsifica o documento, o inc. pertinente é o nº III); b) Omissão do registro de operações:- Ex: omissão do registro de entrada de mercadorias e conseqüente omissão do registro de saída de mercadorias. Aqui o agente está a impedir o conhecimento por parte da autoridade fazendária da ocorrência do fato gerador da obrigação tributária principal. O STF tem entendido que constitui crime de sonegação fiscal a omissão de registro de lucro advindo de atividade criminosa, especificamente do tráfico de drogas. No que diz respeito a consumação e tentativa, aplica-se o estudo realizado no inciso anterior. III - falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável; 5
6 Aqui se pune a falsidade material de documento relativo à operação tributária na execução do delito de sonegação fiscal. A enumeração do objeto material é exemplificativa e não taxativa. Duas são as modalidades de conduta: a) criar documento (o próprio documento é falsificado, v.g., imprime-se nota fiscal igual à oficial); b) alterar documento (o documento é verdadeiro, mas aquilo que é inserido nele é adulterado, alterado, modificado, v.g., R$ 1.000,00 passa a ser alterado para R$ ,00, aumentando gasto com despesas na declaração, reduz ele a base de cálculo e, conseqüentemente, o tributo devido). O delito se consuma com a obtenção da vantagem indevida, sendo possível a tentativa. O delito em comento não se confunde com o crime de duplicata simulada (art. 172 do CP), vez que neste inexiste qualquer bem vendido, enquanto naquele existe um bem vendido, agindo o agente com a intenção de fraudar o fisco. Não bastasse, o primeiro não protege o fisco, mas sim as relações de comércio. IV - elaborar, distribuir, fornecer, emitir ou utilizar documento que saiba ou deva saber falso ou inexato; Pune-se, aqui, o engenho dos meios falsos e seu uso. A conduta mais comum abrangida pelo inciso em comento é a compra e venda de notas frias, respondendo pelo crime tanto o comprador, quanto o vendedor. A maioria da doutrina entende que o crime não se consuma no momento em que o documento foi elaborado, distribuído fornecido, emitido ou utilizado, mas sim apenas no instante em que o agente se enriquece em prejuízo do fisco. V - negar ou deixar de fornecer, quando obrigatório, nota fiscal ou documento equivalente, relativa a venda de mercadoria ou prestação de serviço, efetivamente realizada, ou fornecê-la em desacordo com a legislação; É a forma mais corrente de sonegação, consistente na venda de produtos ou prestação de serviços sem a emissão de nota fiscal ou documento equivalente. O agente efetua a venda, recebe o valor, devolve o troco, quando existente, mas não emite a nota fiscal. A venda anulada ou prestação de serviços suspensa não caracteriza o crime, vez que não trazem a obrigatoriedade do fornecimento de nota fiscal ou documento equivalente. A conduta deve estar ligada ao caput, ou seja, a conduta deve estar voltada para a redução ou supressão do tributo. Se o agente se recusa a fornecer nota fiscal na venda de produto isento, por exemplo, não se configura o delito, porquanto a falta de dolo de reduzir ou suprimir tributo ou acessório. Além da recusa expressa, formal, ou da omissão do fornecimento da nota fiscal ou documento equivalente, contempla o inc. conduta do agente que fornece a nota fiscal ou documento, em desacordo com a legislação. 6
7 Trata-se, igualmente, de delito material, consumando-se com o locupletamento do agente. Entende a doutrina que o crime, nessa forma, não admite a tentativa. Parágrafo único: obstáculo à ação fiscal; A falta de atendimento da exigência da autoridade, no prazo de 10 (dez) dias, que poderá ser convertido em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência, caracteriza a infração prevista no inciso V (parágrafo único). Tal comportamento só configura crime quando o agente tiver por finalidade suprimir ou reduzir tributo, cuja demonstração, na prática, é por demais difícil. Tipo subjetivo é o dolo (direto ou eventual) acrescido da especial vontade de suprimir ou reduzir o tributo, ou contribuição social e seus acessórios. Não se pune a simples recusa (sem qualquer emprego de fraude) no pagamento total ou parcial de tributo por parte do contribuinte. Art. 2º. Constitui crime da mesma natureza: I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo; II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos; III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal; IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento; V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública. Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo; Sujeitos do crime qualquer pessoa pode ser autor, ferindo, com sua conduta, o erário público. Tipo objetivo - como diferenciar este inciso do inciso I do art. 1º? Como já exposto, os arts. 1º e 2º - possuem redação muito parecida. Quando houver dolo de dano, aplica-se o art. 1º (crimes materiais que exigem a supressão ou redução do tributo para seu aperfeiçoamento); dolo de perigo, aplica-se o art. 2º (crimes formais, que se aperfeiçoam com a prática da conduta típica, não importando a ocorrência de qualquer dano ao erário para a consumação). Essa solução é inócua. Como diferenciar crime de dano tentado e de perigo? A diferenciação entre esses crimes está na fase em que os delitos ocorrem. Tipo subjetivo - no presente caso, o sujeito age com dolo (omite ou faz a afirmação falsa visando iludir a Administração Pública, e, com isso, não pagar tributo). 7
8 Consumação e tentativa - como visto, tratando-se de crime formal, consuma-se antecipadamente (com a conduta), prescindindo do resultado. Apesar de formal, admite a tentativa quando praticado por ação. II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos; Sujeitos do crime pratica o crime pessoa obrigada a recolher tributo ou contribuição social. Tipo objetivo - Trata-se de autêntica apropriação indébita do produto do imposto. A nota característica é que ele é crime comissivo e omissivo (conduta positiva: cobrar valor; e negativa: não repassar aos cofres públicos a quantia devida). Tipo subjetivo - crime de dolo superveniente, pois no primeiro momento, em tese, o sujeito está de boa-fé. É isso que o difere do estelionato (dolo antecedente). Consumação e tentativa - apesar do presente artigo tratar dos crimes de perigo, entende a doutrina que o inciso em comento trata de crime de dano. Consuma-se o crime com o nãorecolhimento no prazo legal (é necessário o escoamento do prazo para o recolhimento do tributo). Mesmo sendo crime material, não comporta tentativa, posto ser crime de natureza instantânea, que ocorrerá se não recolhido, o tributo, ou, caso recolhido, não haverá que se falar em crime. III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal; O tipo penal abrange as instituições financeiras, públicas ou privadas, que arrecadem parcelas correspondentes a incentivos fiscais, bem como aqueles seus intermediários que pratiquem quaisquer das condutas descritas. As condutas devem ser praticadas sobre parcelas deduzidas de imposto ou contribuição social, ou deduzíveis dos mesmos. Não abrangem, porém, quaisquer deduções, devendo ser deduções provenientes de um incentivo fiscal, concedido pela lei. Sujeito ativo pode ser qualquer pessoa que desempenhe função em empresa ou instituição pública ou privada encarregada de arrecadar parcela prevista no tipo penal, inclusive as intermediárias da arrecadação. O crime é punido a título de dolo. Consumação e tentativa - o crime está consumado quando ocorrer a exigência, o pagamento ou o recebimento do percentual, sendo indiferente para sua consumação a quantia efetivamente exigida, paga ou recebida. A tentativa é possível. IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento; 8
9 A norma penal visa tutelar a correta aplicação dos incentivos fiscais. Sujeitos do crime sujeito ativo é o beneficiário do incentivo fiscal, que o não aplica de acordo com a lei ou com as normas administrativas pertinentes. Sujeito passivo é a entidade instituidora do tributo ao qual está vinculado o incentivo. Esta é quem sofre o prejuízo, quem perde a receita tributária. Tipo objetivo - o tipo penal contém duas condutas: 1) Omissiva própria ou pura. O sujeito recebe os incentivos fiscais e não os aplica à finalidade atribuída. 2) Comissiva. Ele emprega os incentivos em finalidade diversa (aplicação incorreta). O tipo, na modalidade comissiva, é uma norma penal em branco, que precisa ser completada pela norma estatuidora da forma da aplicação de incentivo fiscal ou de parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento. As referidas condutas deverão recair sobre incentivos fiscais, que são exonerações tributárias extrafiscais, destinadas à expansão econômica ou ao desenvolvimento de certos ramos da atividade humana (isenções, reduções, estímulos ou devoluções de impostos pagos). Tipo subjetivo dolo. Consumação e tentativa consuma-se o crime quando expirar o prazo para aplicação do incentivo ou das parcelas de imposto, sem que esta ocorra, ou, quando for aplicado o incentivo, ou as parcelas de imposto, liberadas por órgão ou autoridade competente, em desacordo com o estatuído. Tratando-se de crime unissubsistente, a tentativa é inadmissível. V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública. A norma visa tutelar o emprego correta da informática para a informação contábil, evitandose a utilização indevida de programa ou processamento de dados. Sujeitos do crime o sujeito ativo será o contribuinte, bem como aquele que utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao contribuinte levar vantagem sobre a Fazenda Pública. Sujeito passivo será a entidade de direito público lesada, em razão da difusão ou do emprego do programa de processamento de dados. Tipo objetivo - pratica o crime aquele que utiliza um programa de computador para processamento de dados, ou que divulgue tal programa, que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária fornecer uma informação exigida por lei para a Fazenda Pública e possuir outra informação, sobre os mesmos fatos. A diversidade das informações deve ser tal, que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária levar vantagem. 9
10 Tipo subjetivo é o dolo. Consumação e tentativa consuma-se o crime com a mera utilização ou com a divulgação do programa, independentemente do resultado que vier a ser alcançado pelo contribuinte, ou do prejuízo que vier a sofrer a Fazenda Pública. A Lei nº 9.080/95 incluiu no art. 16 da Lei nº 8.137/90 um parágrafo único, trazendo o instituto da delação premiada, permitindo a redução de 1/3 a 2/3 da pena, em caso de confissão espontânea por parte de um dos co-autores ou de um dos participantes da quadrilha, desde que revelasse a trama delituosa, em caso de crimes contra a ordem tributária. Pelos requisitos exigidos pela lei, para obter o benefício não é necessária a eficácia da delação, uma vez que a lei não exige que a confissão impeça o resultado ou os efeitos do crime praticado. 10
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