Aula 03 ATOS CAMBIÁRIOS 1

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1 Turma e Ano: Empresarial B (2015) Matéria/Data: Atos Cambiários: Noções Gerais. Prazos (25/08/15) Professora: Carolina Lima Monitora: Márcia Beatriz Aula 03 ATOS CAMBIÁRIOS 1 Para explicar a sistemática dos atos cambiários, será feita uma simulação das operações possíveis de serem realizadas com um título de crédito. Aqui, será usada como ilustração a letra de câmbio, porém a maioria dos efeitos alcançados é aplicável a todas as espécies de título de crédito. Situação hipotética: Arthur (dono de uma fábrica) tem relações comerciais com Bárbara (dona de uma distribuidora), que por sua vez faz comércio com Cristina (proprietária de loja varejista). Ao invés de aguardar Cristina pagar um débito que tem contigo, Bárbara decide emitir uma letra de câmbio em favor de Arthur para que seu débito com este seja pago com o crédito que possui com aquela. Nesta relação, por ser a emitente do título, Bárbara é o sacador da cártula, ao passo que Cristina é o sacado e Arthur o tomador (beneficiário). Débito Crédito Arthur Bárbara Cristina tomador sacador sacado Por não ter qualquer relação com Arthur, Cristina não é obrigada a aceitar uma dívida para com este (materializada pela letra de câmbio). Como sua relação é exclusivamente com Bárbara, Cristina tem o direito de pagar diretamente àquela e se negar a qualquer intervenção de Arthur (ainda que este seja credor de Bárbara) 2. Entretanto, concordando com o título e lançando o aceite na cártula, Cristina passa a ser o devedor principal da relação cambiária, fazendo com que Bárbara seja apenas uma garantidora da dívida (coobrigado) com benefício de ordem (primeiro deve-se cobrar de Cristina). 1 Nesta aula somete será exposta a sistemática dos atos cambiários (para que se tenha uma visão geral sobre o tema). Cada instituto será estudado, em seus pormenores, nas aulas seguintes. 2 É justamente por não ter qualquer relação jurídica com o beneficiário da cártula que o aceite do sacado, nos casos de letra de câmbio, é facultativo.

2 No caso de o sacado lançar ordem de não aceite no título, ele deixa de ter qualquer ligação na obrigação cambial (não é devedor). Desta forma, por ele desaparecer da relação cambiária, o devedor principal passará a ser o sacador (emitente da cártula). No exemplo dado, Cristina sai da relação, permanecendo apenas Arthur, o beneficiário, e Bárbara, sacador e doravante devedor principal. OBS.: Na letra de câmbio, e apenas nesta espécie de título de crédito, a recusa do aceite ou o aceite parcial (concordância somente com parte da dívida; não responsabilização pela sua integralidade) terá como efeito o vencimento antecipado da cártula (o título passa a ser à vista). Neste caso, o beneficiário do título poderá então procurar o sacador e exigir deste o pronto adimplemento da cártula e de modo integral. Assim, ao emitir o título, o sacador assume os riscos da obrigação cambial, e, o não aceite (ou aceite parcial) pelo sacado faz com que a dívida, que teria vencimento posterior, seja exigida de imediato. Situação hipotética (cont.): Mediante o aceite de Cristina, a letra de câmbio torna-se negócio perfeito e acabado. Arthur, portador desse título representativo de pecúnia, tendo a pretensão de fazer a cártula circular, contrai uma relação jurídica com Daniel e convenciona como pagamento desta obrigação a transferência, por meio de endosso 3, da letra de câmbio emitida por Bárbara. Assim, ao lançar sua assinatura no verso do título, Arthur (endossante) transfere a letra de câmbio a um terceiro. Como no exemplo dado Daniel (endossatário beneficiário da transferência) está identificado no título, esta operação denomina-se e endosso em preto. Ocorre que antes do vencimento do título, Daniel decide transferir a letra de câmbio a Eduardo e para isso assina no verso da cártula, deixando de ser beneficiário da mesma. Entretanto, para evitar que se transforme automaticamente em coobrigado no momento da transferência, Daniel lança no endosso a cláusula sem garantia 4 que expressamente o exonera de responsabilidade pela obrigação constante do título. 3 Endosso é o ato cambiário mediante o qual o credor do título de crédito (endossante) transmite seus direitos a outrem (endossatário). Ele se materializa com uma mera assinatura no verso da cártula. Caso o endosso, seja feito no anverso da cártula, deverá conter, além da assinatura do endossante, a menção expressa de que se trata de endosso, pois é uma exceção à regra. 4 A existência da cláusula sem garantia é fato atípico, pois faz com que o endossante deixe de ter qualquer responsabilidade pela obrigação constante do título a coobrigação é evento natural do endosso.

3 Ademais, ao transferir o título a Eduardo, Daniel não o identifica no verso da cártula e por isso a operação denomina-se endosso em branco. Ao receber o título, Eduardo poderá fazer constar seu nome no título ou deixar que permaneça em branco. Ao decidir por lançar seu nome, será necessário novo endosso para que Eduardo possa, posteriormente, transferir o título a outrem. Contudo, se ele decidir por não lançar seu nome no título, por já haver a autorização em branco de Daniel, para que se realize a transferência, bastará a Eduardo proceder a mera tradição do título ao novo beneficiário 5, ficando ao seu critério deixar que o título continue em branco ou lançar o nome do novo credor (que no caso será Flávia). Antes de passar o título a Flávia, Eduardo decide lançar o nome dela na cártula, transformando o endosso em branco de Daniel em endosso em preto. Posteriormente, Flávia, não desejando mais permanecer com o título, resolve transferi-lo a Guilherme, no entanto, ele exige de Flávia um avalista para que possa aceitar a cártula. Desta feita, Helena assina e lança um aval no anverso da cártula em favor de Flávia 6, sub-rogando aquela em todos os direitos desta. Ressalte-se que, ao contrário da fiança, como o aval detém autonomia, se por qualquer motivo Flávia sair da cadeia de endosso em virtude de alguma mácula, Helena permanecerá como coobrigado mesmo que seu avalizado não mais subsista na relação cambial 7. Não obstante o aval de Helena, Guilherme decide não receber a cártula e transferir o título para Ítalo. Contudo por não quer mais que a letra de câmbio fique circulando na praça, ele lança uma cláusula proibitiva de endosso 8. 5 Caso Eduardo não lance seu nome no verso do título, ele acaba por ficar de fora da cadeia de endossos é como se dela ele nunca tivesse participado. Ademais, é por requerer apenas a tradição do título que muitos afirmam que o endosso em branco transforma o título nominal em um título ao portador. 6 Caso Helena não identificasse Flávia no anverso da cártula como sendo a pessoa avalizada, seu aval seria direcionado a Bárbara, sacador da letra de câmbio. Se fosse o caso de cheque, o aval também iria para o sacador, mas em se tratando de duplicata ou nota promissória o aval não identificado seria direcionado ao devedor principal, ou seja, o sacado. 7 A justificativa para manter o avalista na relação cambial mesmo após a saída do avalizado é que ao avalizar a cártula, ele tem pleno conhecimento de que se tornará garantidor da relação, sub-rogando-se nos direitos de seu avalizado. A única maneira do avalista se ver livre de responsabilidade é se ele conseguir provar um erro de formalidade na formação do título, por exemplo, ausência de requisitos necessários, falsificação de sua assinatura etc. o avalista não poderá se aproveitar de um vício do avalizado para sair da relação junto com ele. É por isso que se recomenda maior diligência para aceitar ser um avalista. 8 A cláusula proibitiva de endosso tem a mesma função que a cláusula não a ordem lançada pelo sacador. Contudo a legislação prevê que a denominação não a ordem somente pode ser usada pelo emitente do título (art. 11, Decreto n /66) e caso o endossante queira também limitar a circulação do título, deve lançar a cláusula proibitiva de endosso (art. 15, Decreto n /66). Este é posicionamento

4 Desta feita, Ítalo não poderá colocar a cártula em circulação, sob pena de desnaturalização do título de crédito em ocorrendo, aplicar-se-ão apenas as normas do Código Civil, pois se estará diante de uma cessão civil de crédito. OBS.: Por ser um mero documento de confissão de dívida, ao título com cláusula não a ordem posto em circulação, não poderá ser aplicado qualquer benefício cambiário. Neste caso perde-se o aval e a solidariedade entre os coobrigados (o único responsável é o devedor principal); não poderá mais ser proposta ação executiva (deixa de ser título executivo extrajudicial); e as exceções pessoais poderão ser opostas. Situação hipotética (cont.): Visto que não tem outra opção senão receber a cártula, Ítalo procura o devedor principal da relação cambiária que é Cristina e caso esta não pague, ele poderá demandar simultaneamente qualquer dos coobrigados que são solidariamente responsáveis 9, quais sejam: Arthur, Bárbara, Flávia, Guilherme e Helena. Não obstante o benefício de ordem, todos os seis sujeitos poderão ser incluídos no polo passivo da demanda executiva desde o início, devendo apenas ser requerida a cobrança por primeiro do devedor principal. OBS.: Para demandar o devedor principal, não será necessário prévio protesto (é facultativo). Todavia, a cobrança dos coobrigados somente ocorrerá se se proceder ao protesto tempestivamente (é ato obrigatório). Situação hipotética (cont.): Se durante a transação com Guilherme, Ítalo exigir daquele o lançamento da cláusula sem despesa, no momento em que for cobrar a cártula, Ítalo poderá executar Guilherme sem protestar o título em virtude da cláusula lançada por este, ainda que ele seja um coobrigado. No entanto, tal cláusula não abrange os demais codevedores, assim, Ítalo para cobrar Arthur, Bárbara, Flávia e Helena deverá imprescindivelmente protestar previamente o título 10. Pode Ítalo, após infrutífera execução contra Cristina, cobrar a cártula de Helena, se tempestivamente proceder ao protesto do título. Por ser avalista de Flávia, Helena tem direito a ação de regresso contra todos os codevedores localizados na relação cambiaria em posição anterior a sua, ou seja, apenas contra Flávia, Bárbara e Arthur. Caso Ítalo demande Bárbara, ela terá direito de regresso somente contra Cristina, a devedora principal. adotado pelas bancas ESAF e FGV, mas no cotidiano cambiário bem como para a banca CESPE, não a ordem é aceito para qualquer um dos dois casos. 9 A responsabilidade do adimplemento pelos coobrigados é subsidiária em relação ao devedor principal, contudo ela é solidária, levando-se em conta dos codevedores. 10 Esta cláusula pode ser lançada tanto por um endossante quanto pelo sacador. Porém, caso seja lançada por este último, a cláusula sem defesa valerá para todos os coobrigados integrantes da relação cambial o protesto será facultativo para todos.

5 Em síntese, no caso hipotético relatado, ficam desta forma os sujeitos na relação cambiária: Bárbara: sacador (coobrigado, se houver aceite integral, ou devedor principal) Cristina: sacado (devedor principal, se lançar o aceite) Arthur: tomador (endossante-coobrigado após a realização do endosso em preto) Daniel: endossatário em preto (endossante não-coobrigado, pois realizou endosso em branco com a cláusula sem garantia) Eduardo: endossatário em branco (inexistente na relação jurídica, pois seu nome não consta do título) Flávia: endossatário em preto (endossante-coobrigado e avalizado) Guilherme: endossatário em preto (endossante-coobrigado) Helena: avalista (coobrigado) Ítalo: endossatário em preto (credor final)

6 Prazos Protesto: Para letra de câmbio e nota promissória, o prazo que o credor tem para protestar o título é de dois dias úteis a contar do vencimento. Assim, se o título venceu na sexta-feira, a pessoa terá até a terça-feira seguinte para protestar. No caso de duplicata o prazo é de 30 dias corridos, contados do vencimento do título. OBS.: O protesto realizado tempestivamente acarreta a interrupção do prazo prescricional. Desta forma, se a pessoa deixar para protestar no trigésimo dia após o vencimento da duplicata, ela conseguirá mais trinta dias de prescrição do título, visto que com o protesto houve a interrupção do prazo iniciado na data de vencimento do título. Por outro lado, o protesto intempestivo contra coobrigados e seus avalistas acarreta a impossibilidade de demanda contra eles o credor só poderá executar o devedor principal. Como se sabe, qualquer inobservância à legislação cambiária enseja a descaracterização do título de crédito. Assim, quando não for observado o prazo para o protesto, o credor perde os privilégios que o título possuía. A única exceção à inobservância do prazo para protesto contra codevedores se dá quando o sacador lança no título a cláusula sem despesas, que tem validade contra todos. Ação: Por ser o título de crédito um título executivo judicial, o credor poderá de pronto ajuizar ação de execução contra devedor principal, coobrigados e seus avalistas. O prazo para propositura de ação executiva contra o devedor principal e seu avalista, tanto no caso de duplicata quando letra de câmbio e nota promissória, é de três anos a contar do vencimento do título. Todavia, se deseja demandar coobrigados e seus respectivos avalistas, o prazo para ajuizamento é de: um ano, contado do vencimento do título, quando nele houver cláusula sem despesa; ou um ano, a contar do protesto, pois enquanto não protestado o título, não será possível a cobrança contra codevedores. O prazo para propositura de ação de regresso contra outro coobrigado será de seis meses quando se tratar de letra de câmbio e nota promissória, entretanto, se o título pago for duplicata, o prazo para ajuizamento de ação de regresso será de um ano, a contar seu do pagamento.

7 Em síntese: LETRA DE CÂMBIO E NOTA PROMISSÓRIA DUPLICATA PRAZO PARA PROTESTO 02 dias úteis, a contar do vencimento 30 dias, a contar do vencimento PRAZO PARA AÇÃO Contra devedor principal e seu avalista: 03 anos a contar do vencimento Contra coobrigados e seus avalistas: 01 ano a contar do protesto ou do vencimento, se houver clausula sem despesa Ação de regresso: 6 meses a contar do pagamento Contra devedor principal e seu avalista: 03 anos a contar do vencimento Contra coobrigados e seus avalistas: 01 ano a contar do protesto ou do vencimento, se houver clausula sem despesa Ação de regresso: 01 ano a contar do pagamento OBS.: Os prazos do cheque serão estudados na próxima aula.