GESTÃO DO CURRÍCULO: ENSINO EXPERIMENTAL DAS CIÊNCIAS

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1 GESTÃO DO CURRÍCULO: ENSINO EXPERIMENTAL DAS CIÊNCIAS RELATÓRIO Agrupamento de Escolas de Silves Distrito de Faro Concelho de Silves Data da intervenção: de a Área Territorial de Inspeção Sul

2 ENQUADRAMENTO DA AÇÃO De acordo com os resultados do PISA (Programme for International Student Assessment) de 2009, Portugal foi o segundo país que mais progrediu em ciências, passando de 474 pontos de literacia científica (em 2006) para 493, em Contudo, em 2012, observa-se que os resultados médios no domínio das ciências representam uma desaceleração da tendência ascendente de resultados, que se consubstancia, quer na redução das pontuações absolutas obtidas, quer na sua comparação com a média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). No estudo mais recente de 2015 verifica-se, pela primeira vez, um desempenho dos alunos portugueses acima da média da OCDE, atingindo 501 pontos. No entanto, é de notar ainda que, da análise dos relatórios da atividade Avaliação Externa de Escolas, conclui-se que a promoção de trabalho prático no ensino das ciências emerge frequentemente como área de melhoria nos agrupamentos e escolas não agrupadas. Acresce, também, que os resultados de Portugal em ciências na edição de 2015 do Trends in International Mathematics and Science Study (TIMSS) revelam uma tendência contrária à do contexto internacional, já que, enquanto a maioria dos países participantes evidencia aumentos significativos naquela área, entre os ciclos de 2011 e 2015, os alunos portugueses do 4.º ano passam de uma pontuação global de 522 (edição de 2012) para 508 em Por outro lado, ainda, a análise dos resultados nacionais das provas de aferição 2017 (IAVE Instituto de Avaliação Educativa, IP.) permite destacar as áreas de Estudo do Meio Á Descoberta de Materiais e Objetos, de Ciências Naturais (5º ano) e das Ciências Naturais e Físico-Química (8º ano) como aquelas em que os alunos evidenciam mais dificuldades em atingir desempenhos de acordo com o esperado. A literatura específica sobre o ensino das ciências enfatiza a importância da promoção de atividades práticas, essencial para a construção de uma cultura científica das crianças e dos alunos. Acresce que, quer as orientações curriculares para a educação pré-escolar, quer os distintos programas de ciências do ensino básico e ainda as metas já definidas destacam a necessidade de se potenciar atividades de indagação e pequenas investigações, implicando, nomeadamente, o recurso ao laboratório e a saídas de campo, que favoreçam a explicitação das conceções prévias dos alunos, a formulação e a confrontação de hipóteses, a eventual planificação e realização de atividades experimentais e respetivo registo de dados. Atribuem uma especial ênfase à introdução de novos conceitos e à sua integração e estruturação nas representações mentais dos alunos e ainda ao desenvolvimento de uma atitude científica perante os problemas. Neste sentido, resulta inequívoco que a educação científica de base assume um papel fundamental na promoção da literacia científica, potenciando o desenvolvimento de competências necessárias ao exercício de uma cidadania interveniente e informada e à inserção numa vida profissional qualificada. O acesso aos conhecimentos científicos não só surge como um direito que todas as crianças e alunos têm, como também um dever dos responsáveis e decisores para com as gerações vindouras. A este propósito é de recordar a Declaração final da Conferência Mundial sobre Ciência para o século XXI: um novo compromisso, realizada pela UNESCO (1999) onde se refere que o acesso ao conhecimento científico, a partir de uma idade muito precoce, faz parte do direito à educação de todos os homens e mulheres, e que a educação científica é de importância essencial para o desenvolvimento humano, para a criação de capacidade 2

3 científica endógena e para que tenhamos cidadãos participantes e informados. (In UNESCO Brasil, 2003, p.29). Esta atividade inserida no Programa de Acompanhamento da IGEC procura, mediante o diagnóstico existente, estar alinhada com as principais tendências relativamente ao ensino das ciências como também conhecer e acompanhar o desenvolvimento do ensino experimental, em contexto de sala de aula ou de campo, promovendo a melhoria das práticas educativas e, consequentemente, os níveis de literacia científica. A atividade focaliza-se na gestão curricular do ensino experimental das ciências na Educação Pré-Escolar e no ensino básico e visa os seguintes objetivos: Apreciar a ação educativa, incluindo o planeamento, o desenvolvimento, a avaliação dos resultados e a supervisão da prática pedagógica, no âmbito do ensino das ciências; Promover práticas pedagógicas e didáticas, com vista a adequar a ação educativa às finalidades do perfil de competências dos alunos; Incentivar o trabalho colaborativo e a implementação e avaliação de trabalho prático, laboratorial, experimental e de campo, no ensino das ciências; Promover a literacia científica, desenvolvendo intencionalmente, na sala de aula ou fora dela, metodologias investigativas e experimentais, numa perspetiva integrada de saberes e de contextualização CTSA Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente; Contribuir para uma gestão mais eficaz do currículo, promovendo a articulação e a sequencialidade, entre os vários níveis de educação e ensino, de modo a garantir aprendizagens de qualidade com impacto nos resultados dos alunos; Identificar boas práticas no âmbito da educação científica. O presente relatório apresenta os aspetos positivos e os aspetos a melhorar relativamente à gestão curricular do ensino das ciências, nomeadamente ao nível do planeamento pedagógico, da implementação de práticas de ensino experimental, em sala de aula, e da avaliação das aprendizagens, bem como na monitorização e avaliação dos resultados. As considerações apresentadas decorrem da análise documental, da realização de entrevistas e da observação de instalações, materiais, equipamentos e dos contextos educativos/aulas. Espera-se que este relatório constitua um instrumento de reflexão e debate na comunidade educativa e contribua para a melhoria e desenvolvimento da literacia científica dos jovens. A equipa regista a atitude de colaboração demonstrada pelas pessoas com quem interagiu na preparação e no decurso da intervenção. Decorrente da metodologia utilizada a equipa de inspetores formula as seguintes considerações: 3

4 MÓDULO A - CARACTERIZAÇÃO DOS RECURSOS A.1. Material e equipamento Aspetos positivos - Afetação de todas as turmas dos 2.º e 3.º ciclos às salas específicas, pelo menos uma vez por semana, para a lecionação das disciplinas de Ciências Naturais e de Físico-Química, criando condições favoráveis para o desenvolvimento regular de trabalho prático. - Assegurar a inventariação e uma gestão eficaz dos recursos existentes no Agrupamento, por forma a garantir, em todos os estabelecimentos da educação pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico, os materiais e equipamentos necessários e suficientes ao desenvolvimento das atividades curriculares no ensino das ciências. -Criar intencional e regularmente oportunidades para as crianças explorarem e experimentarem materiais diversos (naturais, da vida corrente e específicos dos contextos ligados às ciências), incentivando a sua curiosidade e apoiando e documentando as suas descobertas. - Afixar, de forma legível, as instruções para a utilização de materiais e equipamentos específicos em todas as salas específicas das ciências experimentais. A.2. Formação contínua no âmbito do ensino experimental das ciências Aspetos positivos - Promoção do círculo de estudos Ciências Naturais (com) Partilha, em parceria com o Centro de Formação de Associação de Escolas de Albufeira, Lagoa e Silves, com recurso a docentes do Agrupamento com formação específica na didática das ciências experimentais, o que potencia o incremento da formação em contexto de trabalho. - Incentivar todos os docentes da educação pré-escolar e do ensino básico à frequência de ações de formação em didática das ciências experimentais, visando a atualização de conhecimentos e de técnicas, com vista a incrementar a realização de trabalho prático de qualidade, nomeadamente de base laboratorial, experimental e de campo, e fomentar a construção do conhecimento científico nas crianças/alunos. - Promover a realização interna de sessões de trabalho com recurso a docentes que participem em ações de formação e/ou com qualificação específica na didática das ciências experimentais, de forma a disseminar os conhecimentos adquiridos. 4

5 MÓDULO B - PLANEAMENTO CURRICULAR NO ÂMBITO DAS CIÊNCIAS B.1. Documentos orientadores Aspetos positivos - Integração, no plano anual de atividades, de ações no âmbito do programa Escola Promotora de Saúde e do projeto Eco-Escolas que estimulam as crianças e os alunos a questionar a realidade e a serem mais curiosos e interessados pelos outros e pelo mundo. - Desenvolvimento, no âmbito da contextualização e enriquecimento curricular nos 2.º e 3.º ciclos do ensino básico, de atividades, como a Horta Pedagógica e As Rochas e Fósseis na Minha Escola, bem como visitas da educação pré-escolar e do 1.º ciclo do ensino básico à Quinta Pedagógica de Silves, que permitem despertar as crianças e os alunos para a observação de fenómenos na natureza, no laboratório ou no espaço escolar. - Definir, no projeto educativo, para todos os níveis de educação e ensino, objetivos, metas e estratégias, tendo em vista o desenvolvimento da literacia científica nas crianças e alunos e o preconizado no Perfil dos Alunos à Saída de Escolaridade Obrigatória. - Alargar o âmbito da matriz de referência de conteúdos na área das ciências aos que respeitam à Física e à Química, designadamente forças e movimento, luz, som, magnetismo e eletricidade, e perspetivar estratégias de ensino e de avaliação, como forma de assegurar um planeamento curricular que promova o desenvolvimento de competências de crescente complexidade, ao longo dos diferentes níveis de educação e ensino. - Disseminar entre todos os docentes a matriz de referência de conteúdos transversais na área das ciências, elaborada desde a educação pré-escolar ao 9.º ano de escolaridade, de modo a que se torne indutora de um processo efetivo de articulação curricular vertical e horizontal. B.2. Planeamento pedagógico Aspetos positivos - Previsão, em todo o ensino básico, do desenvolvimento de atividades práticas e de base laboratorial, bem como da diversidade de instrumentos para avaliar as aprendizagens efetuadas. - Considerar nos documentos de planeamento pedagógico da educação pré-escolar de modo equilibrado, ao longo do ano letivo, a implementação de atividades que impliquem as crianças em trabalho prático, incluindo o de base experimental, laboratorial e de campo, bem como a diversidade dos registos de observação e de recolha de documentos do processo pedagógico que permitam avaliar os progressos no desenvolvimento das suas aprendizagens. 5

6 - Prever, para os 1.º, 2.º e 3.º ciclos, atividades experimentais, com controlo de variáveis, e de campo, assim como diversos instrumentos e técnicas que permitam avaliar as aprendizagens efetuadas pelos alunos, tendo igualmente em consideração o considerado no Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. - Incluir, no planeamento pedagógico, para todos os níveis de educação e ensino, uma abordagem integradora de conceitos ligados a conteúdos/temas do quotidiano/meio envolvente, facilitadores da aprendizagem numa perspetiva CTSA Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente. - Assegurar, no planeamento, que para os mesmos conteúdos, e numa perspetiva de articulação vertical do currículo, o trabalho prático desenvolva, ao longo dos diferentes níveis de educação e ensino, aprendizagens de nível crescente de complexidade, nas áreas de competências do saber científico, do pensamento crítico e criativo e do raciocínio e resolução de problemas. - Garantir no planeamento a articulação interdisciplinar, de forma a integrar, no âmbito do desenvolvimento do trabalho prático, os saberes das diferentes áreas/disciplinas para aprofundar temáticas das ciências. MÓDULO C PRÁTICAS PEDAGÓGICAS EM CIÊNCIAS - Contextualizar o ensino experimental, numa perspetiva CTSA Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente, estabelecendo comparações com o quotidiano das crianças e alunos para que efetuem aprendizagens mais significativas e articulem saberes. - Promover, através de trabalho prático, o desenvolvimento de capacidades investigativas, designadamente medir/quantificar; seriar; levantar questões/problemas; formular e testar hipóteses; identificar e controlar variáveis, planear/realizar experiências, avaliar dados/informação e comunicar, assim como o contacto com problemas específicos e concretos, que impelem as crianças e os alunos para a sua resolução e tomada de decisões. - Incentivar as crianças e os alunos a comunicarem corretamente as suas ideias acerca dos fenómenos que os rodeiam, através da verbalização e da representação gráfica, matemática e escrita, desafiando-os a observar com rigor, a investigar e a avaliar por experimentação, de forma a provocar a mudança das suas conceções alternativas para as científicas. - Providenciar, no início de cada atividade/aula, informação clara sobre os objetivos e sobre as expetativas do que deve ser apreendido, no final, pelas crianças e alunos. - Recorrer a instrumentos de avaliação diversificados, atendendo ao tipo de tarefas de aprendizagem desenvolvidas nos diferentes contextos educativos e abrangendo a multiplicidade de conhecimentos, capacidades e atitudes relacionados com a construção do conhecimento científico. 6

7 MÓDULO D AVALIAÇÃO DAS APRENDIZAGENS DAS CIÊNCIAS - Promover a reflexão, entre educadores, sobre as formas diversificadas de registar o que se observa das crianças e de selecionar os documentos resultantes do processo pedagógico. - Definir, nos critérios de avaliação, descritores de desempenho que tenham em consideração os conhecimentos, as capacidades investigativas e as atitudes científicas a desenvolver em contexto de trabalho prático, considerando igualmente o referencial do Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória. - Garantir que o trabalho prático seja efetivamente considerado na avaliação formativa e contínua das aprendizagens, nomeadamente nas modalidades que envolvem os alunos na manipulação de materiais e equipamentos de laboratório, no controlo de variáveis e nas atividades de campo. - Assegurar que os instrumentos de avaliação sistemática e reguladora visem desafios e tarefas de resolução de problemas que apelem a domínios cognitivos associados a conhecimento e reprodução de informação, mas também aos que pressupõem maior complexidade nas operações mentais mobilizadas, como aplicação/interpretação e raciocínio/criação. - Realizar a aferição dos critérios de avaliação quanto aos progressos das aprendizagens dos alunos adquiridas no âmbito do trabalho prático de base experimental, laboratorial e de campo. MÓDULO E SUPERVISÃO DA PRÁTICA LETIVA E AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS EM CIÊNCIAS - Desencadear, pelas estruturas de coordenação educativa e supervisão pedagógica, mecanismos de observação de atividades/aulas, entre pares, no âmbito do ensino experimental das ciências, para conhecer as práticas profissionais, refletir sobre o seu significado e identificar melhorias, numa dimensão colaborativa e formativa. - Aprofundar a análise e a reflexão sobre os fatores de sucesso/insucesso no âmbito da literacia científica, nomeadamente com base nos dados dos Relatórios das Provas de Aferição de 2017 (RIPA e REPA) para Estudo do Meio - 2.º ano, Ciências Naturais - 5.º ano e Ciências Naturais e Físico-Química - 8.º ano, e conceber estratégias de ação para superar as fragilidades evidenciadas nos desempenhos dos alunos. - Criar mecanismos que permitam recolher evidências do impacto da formação realizada nas práticas pedagógicas dos docentes. 7

8 Data: A Equipa Inspetiva: João Paulo Dias Maria Paula Carrusca Concordo. À consideração do Senhor Inspetor-Geral da Educação e Ciência, para homologação. Homologo O Subinspetor-Geral da Educação e Ciência A Chefe de Equipa Multidisciplinar de Acompanhamento, Controlo e Avaliação Sul Maria Teresa de Jesus Por subdelegação de competências do Senhor Inspetor-Geral da Educação e Ciência nos termos do Despacho n.º 10918/2017, de 15 de novembro, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 238, de 13 de dezembro de