REFLEXÕES DO PROFESSOR CONTEMPORÂNEO ACERCA DO ENSINO DA MATEMÁTICA
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- Rafaela Schmidt Amado
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1 182 REFLEXÕES DO PROFESSOR CONTEMPORÂNEO ACERCA DO ENSINO DA MATEMÁTICA Franciele Novaczyk Kilpinski BORRÉ; Suelen Suckel CELESTINO Professoras da Rede Municipal de Educação Ijuí/RS s: Resumo O presente trabalho tem como enfoque a prática do professor da educação infantil e dos anos iniciais da educação básica e as mediações referentes à construção de conceitos e conhecimentos matemáticos. Aborda-se uma temática dinâmica e reflexiva no ensino da matemática, buscando o desenvolvimento integral do aluno através de metodologias que ampliam, aprimoram e estimulam o raciocínio lógico. Para tornar significativa a construção dos conceitos matemáticos, os educadores devem planejar intervenções e metodologias práticas que façam com que a criança vivencie situações que a levem a fazer comparações, experimentações e reflexões acerca do universo matemático. É um desafio ao educador contemporâneo o estímulo e a motivação aos educandos para se tornarem aptos a interpretar, compreender e decifrar as situações problemas, conseguindo levar esse conhecimento para além da sala de aula, utilizando o raciocínio lógico e sua cognição no meio em que está inserido. Palavras-chave: Conhecimentos Matemáticos. Ensino-Aprendizagem. Professor Mediador. INTRODUÇÃO Esse artigo parte das reflexões sobre as vivências de educadoras da rede municipal de educação de Ijuí-RS, relativas à construção de conceitos matemáticos através das práticas cotidianas da educação infantil nos anos iniciais do ensino fundamental, visto que o processo de aprendizagem matemática se inicia muito antes do ingresso da criança nos anos iniciais da educação básica. A matemática sempre se fez presente na vida humana, desde os primórdios e se perpetua com o passar dos tempos, sendo imprescindível em nossas atividades. A construção matemática se inicia com o nascer do sujeito e amplia-se no
2 183 decorrer do seu desenvolvimento; partindo disso, acreditamos que o meio em que o sujeito está inserido, seu contexto histórico, social, cultural, econômico, além das intervenções pedagógicas que recebe, são fundamentais ao seu desenvolvimento integral como ser humano, cidadão de direitos e deveres em uma sociedade na qual vive com seus pares. O processo de ensino-aprendizagem da matemática não é algo isolado; portanto, as mediações matemáticas perpassam todas as áreas do conhecimento, bem como se completam. A criança também não constrói possibilidades, estratégias e reflexões isoladamente; ela é um ser integral que vai desenvolver e construir suas aprendizagens a partir dos estímulos e mediações que recebe do ambiente em que está inserida; desta forma, as mediações dos professores na escola são fundamentais para que, com autonomia, cada sujeito estabeleça relações expressivas entre os conhecimentos e, assim, aprenda a agir e interagir positivamente com os conceitos matemáticos estimulando cada vez mais seu raciocínio lógico. METODOLOGIA O presente trabalho partiu de reflexões de professoras da rede pública de ensino sobre a prática pedagógica desenvolvida na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental. Baseia-se nas mediações do docente contemporâneo e leva em consideração a importância da matemática, contextualizando, assim, práticas desenvolvidas em sala de aula. REFLEXÕES DO PROFESSOR CONTEMPORÂNEO ACERCA DA MATEMÁTICA A educação infantil é o primeiro contato que as crianças terão com nosso sistema de ensino; essas vivências permearão toda sua trajetória escolar e farão parte da sua formação enquanto sujeito nas diversas áreas de atuação. O currículo formal da educação básica é organizado em etapas, que se completam e complementam no decorrer da caminhada escolar. A educação infantil, primeira
3 184 etapa de nossa jornada, assume o papel de alicerce para as etapas seguintes, mostrando-se uma parte fundamental para a vida escolar. A educação infantil teve sua importância reconhecida depois de uma longa jornada, e agora se sabe que ela facilita e fortalece as relações do conhecimento. É através dela que se iniciará sistematicamente a interação, a socialização e a formulação do conhecimento escolar; afinal, como nos diz o referencial para a educação infantil do MEC, A criança, como todo ser humano, é um sujeito social e histórico e faz parte de uma organização familiar que está inserida em uma sociedade, com uma determinada cultura, em um determinado momento histórico [...] (RCNEI, 1998, Vol. I, p. 21); sendo assim, a criança já traz consigo várias informações, e o papel da escola neste contexto é o de contextualizar os conhecimentos trazidos pela criança e estimular seu desenvolvimento. Observa-se, então, que a educação infantil oferece grandes contribuições para a formação das crianças, bem como para seu melhor desempenho nas etapas seguintes da educação básica. É sabido que o conhecimento matemático é mais do que simplesmente contar (embora a contagem seja importante para a concepção de número), e que os conceitos matemáticos aprendidos na educação infantil serão de extrema importância na vida escolar e cotidiana dos educandos, sendo a base para os anos iniciais do ensino fundamental. Constatamos dentro das nossas práticas cotidianas que contar, medir, calcular, comparar e resolver problemas são ações que as crianças já efetuam informalmente em seu dia a dia; desta forma, cabe ao educador possibilitar o aprimoramento desses conhecimentos, instigando a curiosidade e oferecendo situações e experimentações para construir e conceituar os saberes. Dante nos mostra duas razões para realizarmos um trabalho voltado para o ensino da Matemática na Educação Infantil: Ela desenvolve na criança o raciocínio lógico, a sua capacidade para pensar logicamente e resolver
4 185 situações-problema, estimulando sua criatividade. É útil para a vida diária da criança, pois, mesmo inconscientemente, ela está em contato permanente com formas, grandezas, números, medidas, contagens etc. (DANTE, 1996, p. 18). Dois pontos principais podem ser expostos a partir da fala de Dante: estimular o raciocínio lógico e ser útil para a vida diária. Quando pensamos logicamente sobre qualquer assunto, aumentamos a probabilidade de acertos e resoluções. As crianças não conseguem pensar logicamente se não forem aguçadas para tal prática. O ensino na escola deve propiciar aos discentes meios para instigar seus pensamentos. A criança que aprende pensando adquire um instrumental importante que lhe servirá por toda a vida (CARRAHER, 2000, p. 32). No ensino da matemática, tanto na educação infantil quanto nos anos iniciais, a criança deve partir da situação prática para depois chegar à teoria; o fazer é instrumento necessário no desenvolvimento da criança, pois, quando ela age sobre o objeto de conhecimento, deixa de ser mera receptora tornando-se agente protagonista da sua ação sobre o conhecimento. Propondo a resolução, e também a elaboração de problemas, estimulamos diferentes formas de raciocínio fazendo com que o aluno planeje, reflita e execute situações matemáticas, utilizando suas habilidades cognitivas levantando hipóteses, lançando mão de estratégias pessoais à fim de chegar ao objetivo. O professor contemporâneo deve apresentar problemas que estejam no nível de seus alunos, problemas que eles consigam solucionar sozinhos e outros que precisam ser resolvidos em grupos ou até mesmo por meio de pesquisa; assim, os discentes estarão desenvolvendo sua autonomia e independência e também aprimorando sua interação com o grupo, tendo assim, troca de experiências. Para Neto (2001, p. 191),
5 186 [...] O problema não é rotina, mas também não pode ser impossível: é proximal. Os problemas fazem dar um passo à frente. Alguns são proximais para o aluno e ele pode resolver sozinho na sala ou em casa, promovendo a própria maturação. Outros são muito difíceis para o aluno, mas são proximais para o grupo de alunos, promovendo maturação e socialização. Nos problemas, a Matemática passa a ser um meio e não um fim. É o momento da troca de ideias, da discussão, da defesa de ideias, mas aprendendo a abandoná-las, se for necessário [...] Uma proposta de trabalho pedagógico com a matemática envolve muito mais do que somente contar, quantificar e calcular. Ela deve instigar a criança a pensar, perceber e demonstrar curiosidade acerca dos conhecimentos matemáticos, adquirindo diferentes formas de perceber a realidade, possibilitando situações de aprendizagens que desenvolvam o pensamento lógico e autonomia tanto no individual como no coletivo. Cabe, assim, aos educadores em sua prática atuar mediando o conhecimento formal, e conduzir o processo de ensino aprendizagem promovendo aos alunos construções internas motivadas e mediadas tanto de maneira intrínseca como extrínseca, tornando-os capazes de fazer inferências acerca do que lhes está sendo apresentado, onde possam descobrir, interagir e produzir através de brincadeiras, jogos, manipulações e levantamento de hipóteses, leitura e escrita, construindo e reconstruindo saberes. As metodologias utilizadas e as mediações que o professor planeja e desenvolve são fundamentais para que a criança se aproxime do universo matemático e este se torne significativo, ocorrendo de fato a aprendizagem. De acordo com Oliveira (2012, p. 13), O professor exerce um papel de suma importância como agente de mudanças e formador de opiniões e caráter ao longo da vida do aluno. Ele poderá despertar simpatias e antipatias pela disciplina,
6 187 causar traumas e dificuldades de aprendizagem ao longo da vida escolar, deixando marcas registradas no desenvolvimento futuro do aluno. Todavia sua presença e atuação pode despertar o prazer em aprender. Assim, é importante ressaltar que as estratégias pedagógicas utilizadas pelo professor aproximam ou afastam, instigam ou aniquilam a curiosidade frente aos conceitos estudados; cabe, então, ao docente alicerçar sua prática de uma forma que instigue a participação efetiva das crianças, fazendo com que cada uma se sinta parte integrante e essencial do processo de ensinoaprendizagem, motivando a estabelecer relações importantes para o alcance do conhecimento esperado. Ao ingressar nos anos iniciais do ensino fundamental, a criança vem repleta de conhecimentos, construções e vivências experienciadas até então, seja com a interação com o meio em que está inserida ou nas vivências que teve na educação infantil. Muitos conceitos básicos já estão se estruturando no raciocínio lógico matemático e precisam ser considerados quando a criança começa os anos iniciais. É interessante propor aos alunos atividades que permitam a iniciativa para que se sintam capazes de vencer as dificuldades com as quais se deparam. Deve-se estimular a criança a controlar e corrigir seus erros, seus avanços, também a rever suas respostas, possibilitando-lhe descobrir onde falhou ou teve sucesso e por que isso aconteceu. Uma boa estratégia para as mediações do professor contemporâneo é o trabalho com jogos nas aulas de matemática; esta é uma forma de propiciar aos educandos um contexto significativo de aprendizagem, que ocorre de forma mais eficiente quando os alunos constroem seu conhecimento a partir de um processo ativo, determinando relações e dando significados. São diversas as formas de utilização dos jogos em sala de aula, com uma variedade de conceitos a serem explorados, cabendo ao educador planejar o melhor momento para utilizá-los. Os jogos
7 188 permitem ao sujeito comunicar-se, levantar hipóteses, desenvolver estratégias, reagir diante do imprevisto, tomar decisões e mobilizar seus conhecimentos para solucionar um problema, conceitos importantes que permeiam a vivência da matemática, ampliando o universo do aluno. Na escola, o jogo assume uma finalidade educativa, deixando de ser apenas lúdico, e passa a ser utilizado como um método para o ensino/aprendizagem da matemática. Como nos dizem em Reame et al., através dos jogos nós exploramos diversas noções matemáticas: quantificação, comparação de quantidades, grandezas, operações e figuras geométricas. Mas para o jogo ser um instrumento de aprendizagem é necessário que o professor tenha uma intencionalidade quanto às noções matemáticas que serão trabalhadas. Outro recurso possível de ser explorado de maneira dinâmica é utilizar literaturas as aulas de matemática; trata-se de uma forma de fugir do ensino tradicional, proporcionando aos alunos uma maneira de explorar os conceitos matemáticos em conjunto com a história, possibilitando aos educandos que realizem ligações entre a linguagem materna, a linguagem matemática e a vida real, favorecendo o desenvolvimento de competências para formulação e resolução de problemas, ao mesmo tempo em que expandem noções e conceitos matemáticos. Sendo assim, a associação das literaturas com o ensino na matemática fundamentase na ideia de que as duas potencializam habilidades de interpretar, analisar e sintetizar. Como a leitura é uma atividade que exige compreensão e comunicação, ela auxilia os alunos a refinar, elucidar, ordenar e sistematizar seus pensamentos; desta forma, contribui para a interpretação na interpelação e na resolução de problemas matemáticos, favorecendo a significação da linguagem matemática. Segundo Smole, Cândido e Stancanelli (1999), Quando abordamos os problemas-padrão com único material para o trabalho com resolução de problemas
8 189 na escola, podemos levar o aluno a uma postura de fragilidade diante de situações que exijam criatividade. Ao se deparar com um problema que não identifica a operação a ser utilizada, só lhe resta desistir e esperar a resposta do professor ou de um colega. Algumas vezes ele resolverá o problema mecanicamente sem ter entendido o que fez e não será capaz de confiar na resposta que encontrou, ou mesmo de verificar se ela é adequada aos dados apresentados no enunciado. É desafio do educador tornar os educandos aptos a interpretar, compreender e decifrar os problemas que lhes são propostos; assim, mesmo quando for uma situação com a qual não estão familiarizados, conseguirão, utilizando seu raciocínio lógico e sua cognição, solucioná-los. As ideias matemáticas não são construídas de uma hora para outra; acontecem em um processo gradativo; por isso, a importância de se trabalhar a matemática ao longo de todo o ano, inclusive de um ano para o outro em todos os anos da educação básica. Desta forma, percebemos que a compreensão matemática requer um permanente processo de dinamização; desta maneira, a criança terá a oportunidade de interagir com o objeto de conhecimento, estabelecendo relações, solucionando problemas e fazendo reflexões para desenvolver noções matemáticas cada vez mais complexas, avançando, assim, em seus conhecimentos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A prática pedagógica voltada para a matemática na educação infantil e nos anos iniciais exige do educador competências e habilidades para além dos conteúdos escolares, fazendo com que as mediações desenvolvidas sejam significativas e tenham o aluno como protagonista do seu conhecimento. No cotidiano escolar, não basta meramente apresentar às crianças os conteúdos específicos; é preciso instigar individualmente e no
9 190 coletivo a curiosidade e a satisfação em aprender, tornando o aluno agente de sua aprendizagem. Essa é uma abordagem que nos desafia, desacomoda e, ao mesmo tempo, nos motiva a desenvolvermos nossa prática pedagógica diariamente. Torna-nos, assim, cada vez mais competentes, reflexivos e críticos sobre nossas práticas e como ela afeta integralmente o desenvolvimento dos nossos alunos. REFERÊNCIAS BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil: Introdução. Brasília: MEC/ SEF, 1998, v. 1. CARRAHER, Terezinha Nunes (org.). Aprender pensando: contribuição da psicologia cognitiva para a educação. 14ª ed. Petrópolis: Vozes, DANTE, Luiz Roberto. Didática da matemática na pré-escola. Série educação. São Paulo: Ática, NETO, Ernesto Rosa. Didática da matemática. Série educação. 11ª ed. São Paulo: Ática, OLIVEIRA, Rosiele Juvino. O bom professor de matemática segundo a percepção dos alunos do ensino médio. Disponível em: /TCC/12007/RosieleJuvinodeOliveira.pdf. Acesso em: 13 maio REAME, Eliane et al. Matemática no dia a dia da educação infantil: rodas, cantos, brincadeiras e histórias. São Paulo: Saraiva, SMOLE, Katia Cristina Stocco; CÂNDIDO, Patricia; STANCANELLI, Renata. Matemática e literatura infantil. 4ª ed. Belo Horizonte: Editora Lê, 1999.
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