HIPERADRENOCORTICISMO EM UM CÃO DECORRENTE DE TUMOR NA ADRENAL: RELATO DE CASO
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- Igor Jorge Álvaro Barreiro
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1 HIPERADRENOCORTICISMO EM UM CÃO DECORRENTE DE TUMOR NA ADRENAL: RELATO DE CASO SILVA, Márcia Marina da¹ RUDNICKI, Héllen Ferreira¹ SOUZA, Rodrigo Quadros de¹ DUARTE, Elton Cleicimar¹ OSTROWSKI, Lilian¹ BRUSTOLIN, Joice Magali² OLIVEIRA, Daniela dos Santos de² OLIVEIRA, Franciele de 2 francieleoliveira@ideau.com.br ALMEIDA, Mauro Antônio² de mauroalmeida@ideau.com.br GRANDO, Rodrigo de Oliveira² grando.rodrigo@bol.com.br GALLIO, Miguel² vetgallio@yahoo.com.br ¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível /1- Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível /1 - Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. RESUMO: O hiperadrenocorticismo (HAC) ou síndrome de Cushing é uma afecção endócrina frequentemente diagnosticada em cães, que está relacionada com a produção ou administração excessiva de glicocorticóides. Pode acometer as mais diversas raças e não apresenta predileção sexual, porém as raças que aparentam estarem mais predispostas a apresentarem esta afecção são os Poodles e os Dachsunds. O presente trabalho tem por objetivo, relatar o caso de hiperadrenocorticismo decorrente de tumor na adrenal em um cão. Foi atendido em uma clínica veterinária no município de Getúlio Vargas-RS um cão da raça Poodle, com aproximadamente 14 anos, castrado pesando aproximadamente 10 kg. Ao exame clínico foram identificados os seguintes sinais: poliúria, polidipsia, polifagia, abdômen pendular, atrofia muscular, letargia e alopecia simétrica bilateral. Como exames complementares, executou-se a coleta de sangue venoso para realização de hemograma, avaliação bioquímica, exames de glicose, colesterol, triglicerídeos, bem como realizaram-se os exames de ultrassonografia, raio- x e teste de supressão com dexametazona. De acordo com os resultados dos exames o cão foi diagnosticado com hiperadrenocorticismo por tumor na adrenal. Instituiu-se tratamento a base de trilostano para HAC e de antibioticoterapia (Rilexine) para controle das infecções secundárias na pele as quais vem apresentando melhora significativa. É possível também salientar a importância do diagnóstico preciso para tal enfermidade, pois apesar de apresentar evolução lenta e sintomatologia característica é necessário, a combinação do histórico do animal com os sinais clínicos, exames físicos e complementares, para diferenciar de outras afecções, e então poder realizar um tratamento adequado na busca por uma melhor qualidade de vida. Palavras-chave: Síndrome de Cushing, cachorro, glicocoticóides. Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 1
2 ABSTRACT: Hyperadrenocorticism (HAC) or Cushing's syndrome is an often diagnosed endocrine condition in dogs, which is related to the production or excessive administration of glucocorticoids. It can affect the most diverse races and does not present sexual predilection, but the breeds that appear to be more predisposed to have this condition are Poodles and Dachsunds. The present study aims to report the case of hyperadrenocorticism due to adrenal tumor in a dog. A Poodle dog, approximately 14 years old, was castrated at a veterinary clinic in the municipality of Getulio Vargas-RS, weighing approximately 10 kg. At the clinical examination, the following signs were identified: polyuria, polydipsia, polyphagia, pendular abdomen, muscular atrophy, lethargy and bilateral symmetrical alopecia. Complementary examinations were performed for the collection of venous blood for blood counts, biochemical evaluation, glucose, cholesterol and triglyceride tests, as well as ultrasound, x-ray, and dexamethasone suppression tests. According to the results of the tests the dog was diagnosed with adrenal tumor hyperadrenocorticism. Treatment based on trilostane for HAC and antibiotic therapy (Rilexine) was instituted to control secondary infections in the skin which have been significantly improved. It is also possible to emphasize the importance of the accurate diagnosis for this disease, since despite the slow evolution and characteristic symptomatology it is necessary to combine the animal's history with the clinical signs, physical and complementary exams, to differentiate from other affections, and then Adequate treatment in the search for a better quality of life. Keywords: Cushing s syndrome, dog, glucocorticoids. 1 INTRODUÇÃO O hiperadrenocorticismo (HAC) ou síndrome de Cushing é uma afecção endócrina frequentemente diagnosticada em cães, que está relacionada com a produção ou administração excessiva de glicocorticóides. Pode acometer as mais diversas raças e não apresenta predileção sexual, porém as raças que aparentam estarem mais predispostas a apresentarem esta afecção são os Poodles e os Dachsunds (ROSA et al, 2011). A síndrome de Cushing pode ter causas naturais como hiperplasia da adrenocortical bilateral, neoplasias na adrenocortical ou a Síndrome do hormônio adrenocoticotrófico (ACTH) ectópico. Ainda podem ser de origem iatrogênica decorrente do uso incorreto de glicocorticóides exógenos (FREITAS et al, 2008). De acordo com Xella (2010), os sinais clínicos mais comuns apresentados pelo cão são poliúria, polidipsia, polifagia, abdômen abaulado, prurido, alopecia e letargia. Em alguns casos ainda é possível visualizar piodermatite e dificuldade respiratória. (FIEGENBAUM, 2013). O animal também pode apresentar obesidade, hepatomegalia, hiperpigmentação cutânea, pelagem fina, infecções cutâneas, fraqueza muscular e, atrofia testicular em machos (OLIVEIRA, 2004). O diagnóstico é baseado na associação de uma boa anamnese com exames como hemograma, urinálise, avaliação bioquímica, ultrassonografia, raio-x, ressonância magnética, tomografia e uma série de outros exames como supressão com dexametasona, estimulação de ACTH e teste de função da tireóide em associação com o histórico clínico do animal, e é de Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 2
3 extrema importância realizar o diagnóstico preciso para tal enfermidade, pois apesar de possuir evolução lenta e sintomatologia característica, o HAC tem como diagnósticos diferenciais hipotireoidismo, hipertireoidismo, hipercalcemia, dermatoses responsivas a hormônios sexuais e de crescimento, acromegalia, diabetes insípidus, hepatopatias e doenças renais (XELLA, 2010). De acordo com Silva (2013), a síndrome de Cushing pode gerar complicações ao paciente, decorrente da exposição prolongada ou excessiva aos glicocorticóides, o que leva ao desenvolvimento de doenças concomitantes, ou ao agravamento de quadros já existentes. Dentre as alterações mais comuns pode-se citar hipertensão, alterações oftalmológicas, diabetes mellitus, infecção do trato urinário inferior e tromboembolismo pulmonar. O tratamento do hiperadrenocorticismo pode ser feito com quimioterápico (mitotano), esteróide inibidor da síntese de cortisol, aldosterona e andrógenos adrenais (trilostano), antifúngico (cetoconazol), deprenil medicamento de linha humana utilizado na síndrome de Cushing para inibir a produção de ACTH, anti-histamínico (ciproeptadina) e agonista dopaminérgico (bromocriptina). Deve-se levar em conta o estado geral do animal e a existência de doenças coexistentes, pois o objetivo deste tratamento é melhorar a qualidade de vida do paciente, reestabelecendo o equilíbrio do seu metabolismo juntamente com a reversão dos sinais clínicos (FIEGENBAUM, 2013). O presente trabalho tem por objetivo relatar o caso de hiperadrenocorticismo decorrente de tumor na adrenal em um cão. 2 MATERIAL E MÉTODOS Foi atendido em uma clínica veterinária no município de Getulio Vargas- RS um cão da raça Poodle, com aproximadamente 14 anos, castrado pesando aproximadamente 10 kg. A principal queixa do proprietário era a perda de pelos, prurido, aumento do volume abdominal, polidpsia, poliúria e cansaço. O animal havia sido submetido a tratamento anteriormente para dermatite, onde apresentou melhora por um curto período de tempo, porém houve recidiva e manifestação de novos sinais como aumento abdominal, polidpsia, poliúria, e cansaço em simples atividades do dia a dia. O proprietário relatou também que desde filhote o animal faz tratamento para cardiomegalia de forma contínua. Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 3
4 Ao exame clínico (Figura 1) foram identificados os seguintes sinais: poliúria, polidipsia, polifagia, abdômen pendular, atrofia muscular, letargia e alopecia simétrica bilateral. Figura 1: Exame clínico no cão da raça Poodle. Fonte: Silva, M.M., Realizou-se coleta de sangue venoso (Figura 2) da veia cefálica para exames complementares como hemograma, avaliação bioquímica, exames de glicose, colesterol e triglicerídeos. Ultrassonografia, Raio X e teste de supressão com dexametasona também foram realizados. Figura 2: Coleta de sangue para realização de exames complementares. Fonte: Souza, R.Q., Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 4
5 3 RESULTADOS E ANÁLISE De acordo com anamnese e, exames realizados, o cão foi diagnosticado com Hiperadrenocorticismo. No hemograma observaram-se pequenas alterações decorrentes do estresse no momento da coleta. Segundo Brumati et al. (2015), cerca de 65% dos cães com síndrome de Cushing apresentam o hematócrito com valores dentro dos padrões fisiológicos para a espécie, sendo comum apresentar alterações no leucograma como leucocitose, linfopenia, eosinopenia, neutrofilia, monocitose e elevação de plaquetas decorrente do estresse. As alterações encontradas no hemograma do cão descrito estão presentes (Tabela1). Tabela 1: Hemograma do cão raça Poodle com hiperadrenocorticismo. ERITROGRAMA Resultado Valores de referência Hemácias em milhões 7,85 10³/mm³ 4,00-6,00 Hemoglobina 17,8 g/dl 12,00 16,00 Hematócrito 47,5% 36,00 46,00 VCM 60,50 um³ 80,00 100,00 HCM 22,67 pg 25,00 35,00 CHCM 37,47 g/dl 31,00 37,00 LEUCOGRAMA Leucócitos /mm³ Metamielócitos 0 /mm³ Bastonetes /mm³ Segmentados /mm³ Eosinófilos 550 /mm³ Basófilos 0 /mm³ Linfócitos /mm³ Monócitos /mm³ PLAQUETAS Plaquetas /mm³ O exame bioquímico (Tabela 2) revelou elevação dos níveis de alamina aminotransferase (ALT), uréia, colesterol e triglicerídeos e níveis normais de fosfatase alcalina (FA). De acordo com Brumati et al. (2015), é comumente observado o aumento de Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 5
6 ALT e FA em cães que apresentam hiperadrenocorticismo resultante de danos hepáticos causados pela patogenia. O aumento da uréia ocorre devido ao catabolismo protéico e a creatinina normalmente se encontra abaixo dos valores de referência em consequência da diurese excessiva, porém no presente relato a creatinina estava dentro dos padrões fisiológicos. Em 90% dos casos ocorre elevação de triglicerídeos, a qual se acredita que seja devido à lipólise, porém é um fator indefinido, pois esse aumento pode ocorrer em diversas doenças endócrinas, assim como em enfermidades renais e hepáticas (XELLA, 2010). Tabela 2: Exame bioquímico do cão raça Poodle, com hiperadrenocorticismo. BIOQUIMÍMICO Fosfatase alcalina Resultado 92U/L Valores de referência 27,0 a 100,0 U/L Alamina aminotransferase 68,9 U/L 11,0 a 45,0 U/L Creatinina 0,76 mg/dl 0,7 a 99mg/dL Uréia 59mg/dL 15,0 a 45,0mg/dL Glicose 78mg/dL 70 a 99mg/dL Colesterol total 231mg/dL < 200mg/dL Triglicerideos 339mg/dL < 150mg/dL Os glicocorticóides são secretados do córtex adrenal, sendo o cortisol o mais importante, o qual é transportado para o sangue ligado a uma globulina plasmática, a transcortina ou globulina receptora de corticosteróide (CBG) e tem diversos efeitos sobre os tecidos corporais, é muito comum o cortisol causar elevação da glicose circulante (hiperglicemia), e a diminuição periférica da glicose (REIS, 2009). Entretanto, não houve alteração no exame de glicose do paciente do presente estudo. Na avaliação ultrassonográfica, visualizaram-se os rins, com aumento de ecogenicidade da cortical, deixando-a bastante evidenciada, com delimitação cortico-medular preservada, sendo alteração sugestiva de doença hormonal. Observou-se também que as glândulas adrenais apresentavam dimensões aumentadas, textura homogênea, hipoecogênica, visibilisação de delimitação cortico-medular, parênquima e contornos preservados com adrenomegalia bilateral (Hiperadrenocorticismo adrenal dependente). Na avaliação do fígado, notou-se dilatação dos vasos, hepatomegalia, congestão e infiltrado gorduroso; os demais órgãos apresentavam dimensões, repleção, e conteúdo dentro da normalidade. Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 6
7 De acordo com Xella (2010), o teste de supressão com dexametasona consiste em avaliar a sensibilidade presente entre o eixo hipotálamo-hipófise onde deve ocorrer a inibição na liberação dos hormônios ACTH e cortisol, e em caso de HAC haverá resistência deste mecanismo, quando realizado em doses baixas esse exame é extremamente sensível e específico. Portanto de acordo com as alterações apresentadas neste canino, ao serem comparadas aos valores de referência (Tabela 3), chegou-se ao diagnóstico definitivo de hiperadenocorticismo decorrente de tumor na adrenal. Tabela 3: Resultado do teste de supressão com dexametazona em dose baixa. Basal 4 horas após supressão 8 horas após supressão 1,0 mcg/dl 1,7 mcg/dl 3,4 mcg/dl Normal 4 horas após supressão: menor que 1,4 mcg/dl 8 horas após supressão: menor que 1,4 mcg/dl Tumor adrenal ou PDH 4 horas após supressão: maior que 1,4 mcg/dl 8 horas após supressão: maior que 1,4 mcg/dl Apenas PDH 4 horas após supressão: menor que 1,0 mcg/dl 8 horas após supressão: maior que 1,4 mcg/dl Nota: PHD = pituitária dependente. Outro método utilizado para o diagnóstico pra hiperadrenocorticismo é o teste de estimulação com ACTH. Ele consiste na coleta de sangue para dosagem do cortisol, aplicação do hormôno adrenocorticotrófico por via venosa que desencadeia o aumento na secreção de cortisol pelas adrenais. Aproximadamente uma hora depois é realizada uma nova dosagem do cortisol, sendo que animais saudáveis devem apresentar valores entre 60 e 170 ng/ml e os Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 7
8 que apresentarem valores acima de 220 ng/ml são diagnosticados com HAC (MACHADO, 2010). Esse exame apesar de bastante especifíco, não foi solicitado para o cão do presente relato. A poliúria e polidipsia são observadas na maioria dos casos, assim como no cão descrito. Isso ocorre devido os glicocorticóides reduzirem a reabsorção tubular de água, através do aumento da filtração glomerular e do fluxo sanguíneo renal e através da inibição do hormônio antidiurético (ADH) nos túbulos renais. O apetite e ingestão de alimentos são frequentemente aumentados, como resultado direto do hiperadrenocorticismo, ou pelo envolvimento do centro do apetite no hipotálamo por um grande tumor hipofisário (REIS, 2009). Ainda de acordo com Reis (2009), acredita-se que a distensão abdominal, a qual pode ser observada neste paciente (Figura 3), seja o resultado cumulativo de vários fatores como: o aumento do peso do conteúdo abdominal pela polifagia e efeito do cortisol no fígado, bexiga cronicamente repleta e dilatada, juntamente com o decréscimo do vigor muscular decorrente do efeito do cortisol, resultando em abdômem penduloso. O catabolismo protéico é responsável pela depleção muscular e os músculos enfraquecidos pelos efeitos dos glicocorticóides simplesmente não podem evitar a protuberância do ventre. Figura 3: Cão com abdômen pendular, característico de HAC. Fonte: Rudnicki, H.F., 2017 Outro sinal apresentado pelo cão foi a polifagia, que nada mais é do que o aumento do apetite. A polifagia, segundo Fiegenbaum (2013), ocorre em 90% dos casos de HAC, devido à diminuição na concentração do hormônio liberador de corticotrofina (HCR), e pelo efeito Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 8
9 anti- insulínico do cortisol. Agora a fraqueza muscular e letargia são sinais que muitas vezes são confundidos com senilidade do animal, porém ocorrem em 80% dos cães com Hiperadrenocorticismo devido à inibição da síntese protéica pelo aumento dos glicocorticóides circulantes que favorecem o catabolismo protéico, fator que pode desencadear atrofia muscular, como ocorrido neste paciente (Figura 4). Figura 4: Atrofia muscular nos membros posteriores do cão com HAC. Fonte: Duarte, E.C., Alterações reprodutivas também são comuns de ocorrer em cães com Síndrome de Cushing, devido ao efeito do feedback negativo na glândula pituitária causado pela elevada concentração de cortisol circulante, onde nos machos pode causar atrofia testicular e nas fêmeas anestro. Também ocorre diminuição na produção de hormônios pelas gônadas sexuais baixando os níveis de testosterona e diminuindo a libido, no exame físico é possível observar atrofia dos testículos com consistência macia e esponjosa (MASCHIETTO, 2007). Não foi possível observar alterações reprodutivas no macho descrito, pois o mesmo era castrado. A alopecia decorrente desta patologia, como observado no paciente (Figura 5), é resultado do efeito do cortisol no ciclo do crescimento do pelo, onde ocorre encurtamento da fase anágena e aumento da fase telógena. O cão poderá apresentar pelagem seca e sem brilho, sendo a progressão evidenciada de forma lenta atingindo primeiramente o tronco, evoluindo para os flancos zona perineal e abdômen geralmente com apresentação bilateral e simétrica e sem prurido. O prurido ocorre em apenas 25 % dos casos, decorrentes de outros fatores como seborréia, piodermatite secundária e malassezia (FIEGEMBAUM, 2013). Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 9
10 Figura 5: Cão com HAC apresentando alopecia. Fonte: Zanelatto, C.C., 2017 Cães que possuem essa enfermidade podem desenvolver insuficiência cardíaca congestiva e hipertrofia ventricular esquerda devido à hipertensão arterial, diabetes mellitus e intolerância a glicose (SOARES, 2015). O animal avaliado realiza tratamento de forma contínua para uma cardiomegalia desde quando era filhote (Figura 6), com utilização das seguintes medicações: diurético (furosemida) e vasodilatador (enalapril), porém descartou-se a possibilidade de relação com o hiperadrenocorticismo, devido à cardiomegalia ter sido diagnosticada com o cão ainda jovem. Figura 6: Raio-x do cão da raça Poodle indicando cardiomegalia. Fonte: Ostrowski, L., Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 10
11 Segundo Oldenburg et al. (2016), o HAC é uma doença endócrina comumente diagnosticada em cães associada à produção ou administração em excesso de glicocorticóides, podendo ser originada de tumor hipofisário ou adrenocortical, que é a causa da patologia encontrada no presente estudo. Nesse caso é classificada como adrenal-dependente responsável por 15% a 20% dos casos e se relaciona com uma neoplasia adrenocortical, geralmente um adenoma ou um adenocarcinoma em apenas uma das adrenais, raramente em ambas. Ainda se tem pouco conhecimento sobre o aparecimento de tumores adrenocorticais, acreditando-se que o surgimento destes tumores esteja relacionado com defeitos moleculares, como mutações ativas nos receptores dos fatores corticotróficos. Tumores adrenais normalmente ocorrem com maior frequência em cães mais velhos entre 6 e 16 anos em relação a tumores hipofisários. Eles provocam hipercortisolismo, ou seja, produção excessiva de cortisol, sendo o mais comum entre as neoplasias apresentadas por cães e gatos. Ainda é possível classificá-lo como benigno ou maligno, apresentando difícil distinção histológica (MEDEIROS, 2015). O paciente do presente estudo desenvolveu o tumor com aproximadamente 14 anos. Existem diversas opções de tratamento, porém é necessário levar em conta o estado geral do paciente, bem como o tipo de HAC apresentado pelo animal para estabelecer a opção terapêutica mais adequada. Em casos de hiperadrenocorticismo de tumor na adreno-cortical, a retirada cirúrgica do mesmo é o tratamento de eleição, em casos de risco anestésico elevado ou em casos que se contraindique operar o tumor, pode ser realizado um tratamento clínico para controlar os sinais clínicos (SILVA, 2013). Como tratamento da Síndrome de Cushing indicou-se um protocolo medicamentoso composto por um quimioterápico esteróide sintético inibidor da síntese de cortisol, aldosterona e andrógenos adrenais (trilostano) 3mg/kg via oral por tempo indeterminado, e antibiótico (rilexine) para a infecção secundária de pele 15 mg/kg via oral por 10 dias, diminuindo desta forma a sintomatologia clínica e apresentando melhora significativa. A retirada cirúrgica do tumor na adrenal não foi indicada, pois o animal possui problemas cardíacos e apresenta idade avançada, portanto indicou-se um acompanhamento veterinário periódico com intervalo de 20 dias, para possíveis ajustes que venham a ser necessários nas medicações e suas dosagens, tendo em vista que essa patologia não apresenta cura efetiva, apenas tratamento de suporte para melhorar as condições de vida do animal. Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 11
12 O prognóstico do paciente com Síndrome de Cushing sofre influência de fatores como idade, estado geral do animal, acompanhamento e abordagem terapêutica utilizada. Em casos de tumor na adrenal, o prognóstico pode variar de bom a reservado dependendo se o tumor for benigno e da evolução do caso. Os pacientes que apresentam quadros severos decorrentes das complicações do HAC indica-se eutanásia, e por ser uma enfermidade com maior prevalência em cães de meia idade a idosos muitos animais acabam vindo a óbito (FIEGENBAUM, 2013). O cão do presente relato apresenta um prognóstico reservado, devido ao tratamento se manter apenas clínico, pois o animal possui fatores que o contra indicam para a realização cirúrgica de remoção deste tumor. 4 CONCLUSÃO Foi relatado um caso de Hiperadrenocorticismo ocasionado por tumor na adrenal, em um cão atendido no município de Getulio Vargas-RS, podendo comparar as alterações clínicas e laboratoriais envolvendo está patologia, bem como os possíveis tratamentos presentes na literatura, comparando-os com os instituídos neste caso. É possível salientar a importância de distinguir o hiperadrenocorticismo outras enfermidades, através da associação de exames e histórico pregresso do animal para que o tratamento adequado possa ser instituído e desta forma propocionar ao animal uma melhor qualidade de vida. REFERÊNCIAS BRUMATI, A.C, PITA, M.C.G. Estudo retrospectivo das principais alterações laboratoriais e achados ultrassonograficos dos casos de hiperadrenocorticismo em cães atendidos na clínica-escola veterinária da universidade de Guarulhos ( ). 13º CONPAVET São Paulo, FELDMAN, E.C. Hiperadrenocorticismo. In: ETTINGER, J.S., FELDMAN, E.C. Tratado de medicina interna veterinária. Manole, São Paulo, SP, 1997, pg FIEGENBAUM, L.C Hiperadrenocorticismo em cães: uma abordagem dermatológica- Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre- RS, FREITAS, M.L. B, ALMEIDA, T.L.A. C, ROCHA, A.N. S, LIMA, M.V.F. B, ARAÚJO, I.R. M, SILVA, W.M, SANTOS, J.S. M, LIRAS, C.C. S, MOURA, R.T. D- Hiperadrenocorticismo canino: relato de caso- Universidade Federal Rural de Pernambuco, MACHADO, F, J. Uso de trilostano no tratamento de hiperadrenocorticismo canino. Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Medicina Veterinária, Porto Alegre- RS, Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 12
13 MASCHIETTO, L.A. Perfil de esteróides sexuais em cães com hiperadrenocorticismo Aspectos de diagnósticos e correlações clínicas. Pós- graduação de medicina veterinária e zootecnia da universidade de São Paulo. São Paulo- SP, MEDEIROS, J, S, P. Tumores adrenais no cão. Universidade de Trás - os- Montes e Alto Douro. Vila Real, OLDENBURG T. S., TEICHMANN C. E, HICKMANN T. C.Hiperadrenocorticismo canino: Relato de experiência XXI Jornada de pesquisa - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí-RS, OLIVEIRA, S.de. T., Transtornos dos Hormônios adrenais em cães, Disponível em: Acesso em: 22/03/17 REIS, B. V. G. M. Aspectos clínicos da Síndrome de Cushing em cães Revisão de literatura- Universidade federal rural do semi-árido, Recife PE, ROSA, V.M, CARNIATO, C.H. O, CAVALARO, G.C. C- Hiperadrenocorticismo em cães Anais Eletrônicos VII Encontro internacional de Produção Científica CESUMAR, Maringá PR, SILVA, R.F. G - Estudo de vinte casos de hiperadrenocorticismo no cão - Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnoligias (Faculdade de Medicina Veterinária) Lisboa- Portugal, XELLA, C.L Metodos diagnósticos de hiperadrenocorticismo canino- Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Júlio de Mesquita Filho, Botucatu- SP, Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: Getúlio Vargas RS Brasil 13
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