PROCESSO CONSULTA Nº 19/2013 PARECER CONSULTA Nº 11/2015
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1 PROCESSO CONSULTA Nº 19/2013 PARECER CONSULTA Nº 11/2015 Solicitante: HOSPITAL MUNICIPAL DE ALEXANIA - DR. M. R. M. F. CRM/GO XXXX Conselheiro Parecerista: DR. HAROLDO DE OLIVEIRA TORRES Assunto: ANESTESIA E CIRURGIA SIMULTÂNEAS SEM A PRESENÇA DE ANESTESIOLOGISTA Ementa: O médico. deve obediência ao CEM em qualquer função e/ou especialidade. É dever dos diretores hospitalares exigir e oferecer recursos humanos e materiais para que o ato anestésico seja praticado pelo médico anestesiologista de forma individualizada e única conforme a Resolução CFM 1802/2006 preconiza cabendo denuncia formal ao CRM dos envolvidos quando tal não ocorrer.. Sr. Presidente, Srs(as). Conselheiros(as), Designado que fui para emitir relatório do presente Processo Consulta, o faço da forma que se segue: 1
2 PARTE EXPOSITIVA DA SOLICITAÇÃO: Trata-se de solicitação encaminhada a este Conselho pelo Dr. M. R. M. F. CRM/GO XXXX nos seguintes termos: Srs. Conselheiros; como Diretor do Hospital Municipal de Alexânia, no Município de Alexânia-GO em 18/06/2013 fiz, via Internet, consulta a este CRM e até o momento não obtive resposta. Como tenho urgência desta torno a fazê-la solicitando urgência: 1 - Como devo proceder como Diretor do Hospital em que um dos cirurgiões insiste em jazer Raquianestesia e, em seguida, procedimento cirúrgico em pacientes sem a presença de médico Anestesiologista, contrariando a Resolução CFM /03? 2 - Solicito resposta urgente, inclusive especificando as Sansões Legais para o médico infrator e para o hospital, uma vez que estou sendo pressionado pelo Presidente da Câmara Municipal, além de alguns Vereadores, a permitir tal infração sob risco de perder o cargo de Diretor, pois como Diretor e consciente da seriedade de tal infração não tenho permitido tal delito. Atenciosamente. Dr. M. R. M. F. Diretor. FUNDAMENTAÇÃO: Pela Lei nº 3.268, de 30 de setembro de 1957, o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Medicina são os órgãos supervisores da ética profissional em toda a República e ao mesmo tempo, julgadores e disciplinadores da classe médica, cabendo-lhes zelar e trabalhar por todos os meios ao seu alcance, pelo perfeito desempenho ético da medicina e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exerçam legalmente. 2
3 O Código de Ética Médica é um documento aprovado pelo plenário do Conselho Federal de Medicina e publicado no Diário Oficial da União (Resolução CFM N 1931, de 17 de setembro de 2009), que contém as normas éticas que devem ser seguidas pelos médicos no exercício da profissão, independentemente da função ou cargo que ocupem. As Resoluções são atos normativos emanados dos plenários do Conselho Federal de Medicina e de alguns dos Conselhos Regionais de Medicina que regulam temas de competência privativa dessas entidades em suas áreas de alcance. Elas resultam do esforço conjunto com sociedades de especialidades e outras entidades públicas que são supervisoras, disciplinadoras e fiscalizadoras da atividade profissional médica em todo o território nacional. Em referência a consulta em análise importa trazer à reflexão a Resolução e os Artigos do C.E.M. ressaltando os artigos de mérito pertinente ao que o aqui interessado questiona, quais sejam: RESOLUÇÃO CFM N 1.802/2006 (Publicado no D.O.U. de 01 novembro 2006, Seção 1, pg. 102): Dispõe sobre a prática do ato anestésico. Art. 1 - Determinar aos médicos anestesiologistas que: I -... II - Para conduzir as anestesias gerais ou regionais com segurança, deve o médico anestesiologista manter vigilância permanente a seu paciente. III - A documentação mínima dos procedimentos anestésicos deverá incluir obrigatoriamente informações relativas à avaliação e prescrição préanestésicas, evolução clínica e tratamento intra e pós-anestésico. Art. 2 - É responsabilidade do diretor técnico da instituição assegurar as condições mínimas para a realização da anestesia com segurança. 3
4 Art. 3 - Entende-se por condições mínimas de segurança para a prática da anestesia a disponibilidade de: I - Monitoração da circulação, incluindo a determinação da pressão arterial e dos batimentos cardíacos, e determinação contínua do ritmo cardíaco, incluindo cardioscopia; II - Monitoração contínua da oxigenação do sangue arterial, incluindo a Oximetria de pulso; III - Monitoração contínua da ventilação, incluindo os teores de gás carbônico exalados nas seguintes situações: anestesia sob via aérea artificial (como intubação traqueal, brônquica ou máscara laríngea) e/ou ventilação artificial e/ou exposição a agentes capazes de desencadear hipertermia maligna. IV - Equipamentos (ANEXO II), instrumental e materiais (ANEXO III) e fármacos (ANEXO IV) que permitam a realização de qualquer ato anestésico com segurança, bem como a realização de procedimentos de recuperação cardiorrespiratória. CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA: Art. 1º - É vedado ao médico causar dano ao paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência. Parágrafo único. A responsabilidade médica é sempre pessoal e não pode ser presumida; Art. 2º - É vedado ao médico delegar a outros profissionais atos ou atribuições exclusivos da profissão médica; Art É vedado ao médico desobedecer aos acórdãos e às resoluções dos Conselhos Federal e Regionais de Medicina ou desrespeitá-los. Art É vedado ao médico deixar de assegurar, quando investido em cargo ou função de direção, os direitos dos médicos e as demais condições adequadas para o desempenho ético- profissional da Medicina. 4
5 Art É vedado ao médico permitir que interesses pecuniários, políticos, religiosos ou de quaisquer outras ordens, do seu empregador ou superior hierárquico ou do financiador público ou privado da assistência à saúde interfiram na escolha dos melhores meios de prevenção, diagnóstico ou tratamento disponíveis e cientificamente reconhecidos no interesse da saúde do paciente ou da sociedade. DECRETO N DE 19/07/1958: Aprova o regulamento do CFM e CRMs a que se refere a Lei n Regulamento:... Capitulo III - Das penalidades:... Art As penalidades disciplinares aplicáveis aos infratores da ética profissional são as seguintes: a) advertência confidencial, em aviso reservado; b) censura confidencial, em aviso reservado; c) censura pública em publicação oficial; d) suspensão do exercício profissional, até 30 (trinta dias); e) cassação do exercício profissional. PARTE CONCLUSIVA A questão levantada pelo consulente é recorrente nos Conselhos de Medicina e há tempos já está pacificada. Pelas possibilidades citadas na consulta de possível demissão de diretor de hospital público e pressão de poder legislativo municipal para prática antiética toma-se imprescindível, mais uma vez, explicitar que: A anestesia e a cirurgia propriamente dita são atos médicos distintos, simultâneos e imbricados sendo que as condutas e técnicas executadas em um 5
6 podem interferir direta ou indiretamente nas manobras e efeitos do outro e viceversa. São atos médicos que exigem perícia, diligência e atenção contínua não podendo um só profissional dedicar sua observação, conhecimento técnico/científico e ação ora a um ato, ora ao outro de forma dividida e segmentada. A resolução CFM 1802/06 é clara no inciso II do Art. 1º: Para conduzir as anestesias gerais ou regionais com segurança, deve o médico anestesiologista manter vigilância permanente a seu paciente. Para atendera esta normativa, não há como admitir um cirurgião anestesiar e operar a seguir. Na verdade, estará somente iniciando a anestesia, pois está claro que o seguimento, monitorização, correção de intercorrências tais como hipotensão/hipertensão, bradicardia/taquicardia, hipoxemia ou hipercarbia/hipocarbia não serão devidamente diagnosticadas em tempo hábil e resolvidas ou conduzidas de forma efetiva. A realização dos dois atos concomitantes de forma perita, diligente e prudente por um único médico é, portanto, impossível. Cabe ao cirurgião, independentemente da cirurgia e da localidade que estiver, atuar dentro de sua competência, qual seja, de operar, em obediência aos preceitos éticos e técnicos vigentes. A outro profissional, o anestesiologista, cabe o ato simultâneo de proceder e conduzir a anestesia. O código de ética medica propugna que é dever do médico acatá-lo. O artigo 1º veda ao médico qualquer conduta que seja imperita, negligente, ou imprudente. Portanto, a realização dos, dois atos médicos, anestesia e cirurgia, por um só profissional médico de forma simultânea, infringe este artigo frontalmente. Estará infringindo também o artigo 2º se delegar à enfermagem a monitoração e condução da anestesia enquanto estiver operando, pois estas últimas são condutas médicas. Da mesma forma estará infringindo a Resolução CFM 1802/2006 que determina ao médico que estiver anestesiando, a vigilância permanente ao seu paciente. Quando não obedece a uma Resolução do CFM, infringe o Art. 18 do C.E.M. que determina o acatamento destas. 6
7 Quando todas as possibilidades citadas estiverem ocorrendo sob o conhecimento ou determinação de um diretor hospitalar médico por intervenções político- administrativas, estará caraterizada, consequentemente, infrações aos artigos 19 e 20 do C.E.M. pelo referido diretor. As sansões e/ou penalidades decorrentes de tais práticas serão aquelas previstas na Lei n 3268 de 1957 regulamentada pelo Decreto nº de 1958 no seu art. 17 que poderão ir desde uma Advertência Confidencial em aviso reservado até uma Cassação do exercício profissional a depender do devido Processo Ético Profissional. Este é o nosso parecer, s.m.j. Goiânia, 04 de junho de DR. HAROLDO DE OLIVEIRA TORRES Conselheiro Parecerista 7
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