MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Avenida Marechal Floriano Peixoto, 550, Tirol Natal CEP fone/fax: (84)
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- Margarida Gusmão Ventura
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1 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Avenida Marechal Floriano Peixoto, 550, Tirol Natal CEP fone/fax: (84) RECOMENDAÇÃO N.º 06/2011 O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, por seu Procurador Geral de Justiça e suas Promotorias na Defesa do Patrimônio Público, do Consumidor e do Meio Ambiente da Comarca de Natal, no uso de suas atribuições legais, com fulcro no art. 27, parágrafo único, IV, da Lei nº 8.625/93, no art. 6º, XX, da Lei Complementar federal nº 75/93; CONSIDERANDO que compete ao Ministério Público expedir recomendações visando o efetivo respeito aos interesses, direitos e bens cuja defesa lhe cabe promover; CONSIDERANDO a manifesta inconstitucionalidade da Lei Estadual nº 9.270/09 e dos Decretos Estaduais nº /02 e nº /10 que cuidam do Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso I/M neste Estado e dá outras providências, ante a ofensa direta à Constituição da República, mormente no que se refere ao seu art. 22, XI; CONSIDERANDO que o serviço de inspeção veicular para medição da emissão de gases poluentes, bem como o de implantação de selo de identificação, por constituírem um exercício regular do poder de polícia do Estado na fiscalização da frota automotiva e possuir natureza compulsória, sujeitam-se à remuneração mediante taxa, e não tarifa, o que ofende o art. 150, da Constituição Federal e vai de encontro à Súmula 545 do Supremo Tribunal Federal;
2 CONSIDERANDO que a Concorrência Pública Nacional nº 001/10-DETRAN-RN (Processo nº ), referente à contratação dos serviços da citada inspeção veicular e implantação de selo de identificação, é nula, pois deixou de cumprir o disposto no artigo 5º da Lei nº 8.987/95, que rege as Concessões e Permissões de Serviços Públicos em todo país, bem como não observou a proibição contida no art. 9º, 3º da Lei n /93; CONSIDERANDO que a implantação do Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso -I/M, de forma irrestrita em toda a frota de veículos do Estado, como estabelece o art. 5º, da Lei nº 9.270/2009, contraria o previsto no art. 12, 1º, da Lei nº 8.723/93 quando prevê que os planos de redução de emissão de poluentes devem ser fundamentados em ações gradativamente mais restritivas; CONSIDERANDO que o Plano de Controle de Poluição Veicular - PCPV, elaborado pelo órgão ambiental do Estado não contemplou a participação de todos os municípios envolvidos, ainda que como ouvintes, contrariando o disposto no art. 4º, caput, da Resolução 418/09- CONAMA; CONSIDERANDO que o Plano de Controle de Poluição Veicular - PCPV, elaborado pelo órgão ambiental do Estado não teve como base um inventário de emissões de fontes móveis, visando a redução da emissão de poluentes, contrariando o disposto no art. 4º, caput, da Resolução 418/09- CONAMA; CONSIDERANDO que o Plano de Controle de Poluição Veicular - PCPV, elaborado pelo órgão ambiental do Estado não caracterizou, de forma clara e objetiva, as alternativas de ações de gestão e controle da emissão de poluentes e do consumo de combustíveis, tampouco demonstrou a necessidade de implantação do Programa de Inspeção Veicular como ação de gestão e controle de emissão de poluentes (art. 4º, caput, e 2º, da Resolução nº 418/2009 CONAMA); CONSIDERANDO que o PCPV não observou as disposições dos 1º, do art. 4º, da Resolução nº 418/2009 CONAMA que o obriga a conter,
3 além de outras informações, dados sobre o comprometimento da qualidade do ar nas regiões abrangidas e sobre a contribuição relativa de fontes móveis para tal comprometimento; CONSIDERANDO que o PCPV não observou as disposições dos 2º, do art. 4º, da Resolução nº 418/2009 CONAMA, uma vez que não houve avaliação e comparação de diferentes instrumentos e alternativas de controle da poluição do ar por veículos automotores, justificando tecnicamente as medidas selecionadas com base no seu custo e efetividade em termos de redução das emissões e melhoria da qualidade do ar; CONSIDERANDO que o Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso I/M, não apresentou embasamentos técnicos para estabelecer, no mínimo, entre outros aspectos, a extensão geográfica e as regiões a serem priorizadas, a frota-alvo, conforme estabelecem os incisos I, II, III e VI, do art. 6º da Resolução nº 418/2009 CONAMA; CONSIDERANDO que não foram expostos os motivos pelos quais não foi observado o contido no art. 15, da Resolução nº 418/2009 CONAMA, sobre a previsão de, no estágio inicial do Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso - I/M, o órgão responsável considerar, a seu critério, por um prazo máximo de 12 meses, contado do início da operação, uma fase de testes com os objetivos de divulgação da sua sistemática, conscientização do público e ajustes das exigências do Programa; CONSIDERANDO que não foram apresentados os motivos técnicos pela não opção prevista no 2º, do art. 6º, da Resolução nº 418/2009 CONAMA (a frota alvo poderá compreender apenas uma parcela da frota licenciada na região de interesse, a ser ampliada ou restringida a critério do órgão responsável em razão da experiência e dos resultados obtidos com a implantação do Programa e das necessidades regionais); CONSIDERANDO que a frota-alvo do Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso - I/M, não foi definida município a município, com
4 base na sua contribuição para o comprometimento da qualidade do ar ( 3º, do art. 6º da Resolução nº 418/2009 CONAMA); CONSIDERANDO que não foi incluso no PCPV do Rio Grande do Norte um programa de controle de emissão de ruídos, tal qual determina o art. 8º da Resolução n. 418/09-CONAMA; CONSIDERANDO que o Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso - I/M não previu sua implantação prioritariamente em regiões que apresentem, com base em estudo técnico, comprometimento da qualidade do ar devido às emissões de poluentes pela frota circulante (art. 12 da Resolução nº 418/2009 CONAMA); CONSIDERANDO a existência de parecer da lavra do Procurador Geral do Estado Miguel Josino e do Adjunto José Marcelo Ferreira Costa que recomenda a anulação da licitação e do contrato à Governadora do Estado do Rio Grande do Norte, em face da constatação de diversas ilegalidades, mas que até o momento não houve decisão formal do Governo sobre a anulação do contrato; CONSIDERANDO, ainda, que embora esteja sendo discutida no âmbito do Poder Judiciário a nulidade do Processo Licitatório nº e por consequência o Contrato de Concessão celebrado com o Consórcio Inspar, referente à implantação e operação do serviço de inspeção veicular para atender às necessidades do Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso (I/M) do Estado do Rio Grande do Norte, é dever da Administração Pública, de ofício, anular atos eivados de manifesta nulidade; CONSIDERANDO que o fundamento para a decretação da nulidade de atos da Administração Pública de ofício encontra guarida além da legislação pátria nas súmulas nº 346 A Administração Pública pode decretar a nulidade dos seus próprios atos e nº 473 A Administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
5 judicial, ambas do Supremo Tribunal Federal; CONSIDERANDO que não há o mínimo empecilho legal ou constitucional para que a Administração Pública anule a licitação e o contrato de concessão mesmo que pendente ação judicial discutindo o mesmo objeto; CONSIDERANDO que em face das informações constantes do ofício n. 038/2011 GPGEA/PGE, datado de 16 de maio de 2011, da Procuradoria Geral do Estado já foi devidamente formado o contraditório administrativo estando o processo administrativo apto a ser decidido; CONSIDERANDO que embora o Governo tenha anunciado que iria promover a anulação da Licitação e do Contrato de Concessão de Inspeção Veicular, posteriormente abriu prazo de defesa para o Consórcio Inspar e não mais decidiu a questão, já que o ato formal de anulação jamais foi publicado; aliás não há a mínima coerência entre a manifestação do Estado do Rio Grande do Norte nos autos da ação judicial, defendendo a anulação do contrato, e não ter ainda o próprio Estado desconstituído voluntariamente na seara administrativa o referido contrato; CONSIDERANDO que a sociedade, em face das manifestações pela imprensa dos representantes da Procuradoria Geral do Estado, tem esta questão como já resolvida pelo Governo do Estado, o que não se verifica na prática; RESOLVE: RECOMENDAR à Excelentíssima Governadora do Estado do Rio Grande do Norte Rosalba Ciarlini Rosado e ao Ilustríssimo Diretor Geral do DETRAN Érico Vallério Ferreira de Souza, que, no prazo de 10 (dez) dias, anule o Processo Licitatório nº e em conseqüência o Contrato de Concessão celebrado com o Consórcio Inspar, referente à implantação e operação do serviço de inspeção veicular para atender às necessidades do Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso (I/M) do Estado do Rio Grande do Norte.
6 As providências adotadas em cumprimento à presente Recomendação deverão ser comunicadas ao Ministério Público Estadual, no prazo de 10 (dez) dias. Noutro turno, o não atendimento à presente recomendação ensejará a tomada das providências legais cabíveis Registre-se e Publique-se. Natal-RN, 24 de maio de AFONSO DE LIGÓRIO BEZERRA JÚNIOR DANIELLI CHRISTINE DE OLIVEIRA G. PEREIRA PROMOTORA DE JUSTIÇA EMANUEL DHAYAN BEZERRA DE ALMEIDA EUDO RODRIGUES LEITE RODRIGO MARTINS DA CÂMARA ROSSANA MARY SUDÁRIO PROMOTORA DE JUSTIÇA SÉRGIO LUIZ DE SENA
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