RECOMENDAÇÃO nº 12/2009

Transcrição

1 RECOMENDAÇÃO nº 12/2009 Ementa: Ministério Público atuando na condição de Curador dos Registros Públicos. Recomendação ao Cartório de Registro Civil para devido cumprimento da Lei Federal nº /2007. Vedação a qualquer inobservância ao disposto na Lei Federal nº /2007 e Resolução 35/07 do CNJ-Conselho Nacional de Justiça. Nulidade Absoluta dos atos praticados que não revestir a forma prescrita em lei. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, por intermédio do Promotor de Justiça que ao final subscreve, nos termos do art. 129, II, III, VI e IX, da Constituição Federal de 1988, art. 47, V e VII, da Lei Orgânica Estadual do Ministério Público do Estado de Goiás (Lei Complementar 25/98), a par de cumprimentá-lo, resolve expedir a presente RECOMENDAÇÃO, fazendo-a nos seguintes termos, CONSIDERANDO que a Constituição Federal atribui ao Ministério Público a função de zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados na Lei Maior, promovendo as medidas necessárias à sua garantia (artigo 129, inciso II da CF/88), cabendo à instituição Ministerial, dentre outras medidas, EXPEDIR RECOMENDAÇÕES para a salvaguarda destes direitos; CONSIDERANDO que também compete ao Ministério Público atuar como Curador dos Registros Públicos;

2 CONSIDERANDO que a Lei de 04 de janeiro de 2007 alterou dispositivos do Código de Processo Civil, acrescentando o artigo A que possibilita a realização de separação consensual e divórcio consensual por via administrativa, trazendo a possibilidade de separação ou divórcio consensual por escritura pública, quando não houver filhos menores ou incapazes do casal; CONSIDERANDO que se trata de uma faculdade legal concedida aos cônjuges que desejam se separar ou divorciar de forma mais célere e simplificada, que não possuam filhos menores ou incapazes na data da separação ou do divórcio, caso contrário há a obrigatoriedade da intervenção judicial para a tutela destes, sob a fiscalização do Ministério Público; CONSIDERANDO que o artigo 52 da Resolução 35/07 do Conselho Nacional de Justiça dispõe que : A Lei nº /07 permite, na forma extrajudicial, tanto o divórcio direto como a conversão da separação em divórcio. Neste caso, é dispensada a apresentação de certidão atualizada do processo judicial, bastando a certidão da averbação da separação no assento de nascimento; CONSIDERANDO que tal Resolução visa apenas conferir uma interpretação razoável, em conformidade com a lei, de que a separação judicial não impediria a conversão da separação em divórcio pela via administrativa, mas em momento algum, dispensou o requisito legal da inexistência de filhos menores ou incapazes;

3 CONSIDERANDO que o artigo 34 da referida Resolução é peremptório ao estabelecer que: As partes devem declarar ao tabelião, no ato da lavratura da escritura, que não têm filhos comuns ou, havendo, que são absolutamente capazes, indicando seus nomes e as datas de nascimento; CONSIDERANDO que qualquer interpretação contrária, com o simples argumento de que a conversão da separação em divórcio poderia ser feita extrajudicialmente, ainda que com filhos menores ou incapazes, pois houvera a separação judicial, com disposição sobre guarda e pensão destes, enseja uma interpretação completamente equivocada e em desconformidade com a lei; CONSIDERANDO que o artigo A do Código de Processo Civil, com a redação dada pela Lei nº /07, e a Resolução 35/07 do Conselho Nacional de Justiça veda expressamente a separação e o divórcio pela via administrativa, quando houver a existência de filhos menores ou incapazes, caso em que deverá ser adotada exclusivamente a via judicial; CONSIDERANDO que caso o Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais desta localidade proceda de forma diversa, estará atuando em desconformidade com a lei, causando a nulidade do ato assim lavrado por infringir formalidade legal; RECOMENDA

4 ao Senhor Ronan Bernardes de Oliveira, Oficial Respondente do Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais de São Miguel do Araguaia-GO: 1. Que nas hipóteses de separação consensual ou divórcio regidos pelo artigo A (redação dada pela Lei /07), o tabelião, no ato da lavratura da escritura, sempre, colha declarações das partes de que não possuem filhos comuns, ou, havendo, que são absolutamente capazes, indicando seus respectivos nomes e as datas de nascimento; 2. Que caso seja constatada a existência de filhos menores ou incapazes do casal, ou a ausência dos demais requisitos legais, deixe de proceder à escritura pública relacionada à separação ou ao divórcio, alegando que a via judicial nesses casos é a única possível; 3. Que mesmo em casos de conversão de separação judicial em divórcio, não se proceda à referida conversão extrajudicial, caso haja a existência de filhos menores ou incapazes do casal, por expressa disposição legal; 4. No prazo improrrogável de 10 (dez) dias deverá o Cartório de Registro Civil desta Localidade, informar a esta Promotoria de Justiça acerca das providências e medidas efetivadas

5 no sentido de cumprir as orientações descritas nesta RECOMENDAÇÃO. Por fim, fica advertido que o não cumprimento da presente RECOMENDAÇÃO, implicará na adoção de medidas judiciais de naipes diversos. São Miguel do Araguaia-GO, 27 de fevereiro de LUCAS DANILO VAZ COSTA JÚNIOR PROMOTOR DE JUSTIÇA SUBSTITUTO