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- Marcelo de Carvalho Clementino
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1 4ª VARA FEDERAL PREVIDENCIÁRIA SÃO PAULO AUTOS DO PROCESSO N.º NATUREZA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA AUTORES: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL SINDICATO NACIONAL DOS APOSENTADOS, PENSIONISTAS E IDOSOS DA FORÇA SINDICAL RÉU: INSS Vistos em decisão liminar. Pretendem os autores, através de provimento liminar satisfativo, incidente em todo o território nacional, seja compelido o INSS na obrigação de não fazer, consubstanciada em...abster-se de cobrar os valores referentes aos benefícios previdenciários ou assistenciais concedidos por meio de liminar, tutela antecipada e sentença que foram revogadas ou reformadas por decisão judicial posterior, ressalvados os casos em que tal devolução for determinada expressamente na decisão que suspendeu/revogou ou reformou a decisão judicial anterior. (item V, de fl. 12). Documentos às fls. 14/90. Detectada relação de prevenção - fls. 91/92 nos termos da decisão de fl. 93, foram os autores instados a promover a emenda da inicial. Petição e documentos às fls. 95/247 e 251/306. Decisão de fl. 307, através da qual afastada relação de prevenção e determinada a intimação do INSS, nos termos da Lei 8.437/92. Manifestação do réu às fls. 312/347, com argumentos meritórios, defensivos a afastar o pretendido direito, bem como suscitadas questões técnicas, afetas à impossibilidade de concessão de
2 tutela em face de entidades de direito público, que esgotem o objeto da ação, e ausência de todos os pressupostos autorizadores à concessão da tutela antecipada. É breve relato. Decido. De início, afastadas quaisquer restrições à análise do requerimento à antecipação da tutela. A legislação nacional confere às Entidades de Direito Público determinadas prerrogativas, justificáveis em razão dos interesses defendidos, quais sejam, interesses públicos (ou primários ) que, em essência, são interesses da coletividade. Neste sentido, as vedações impostas pela Lei 9.494/97. Todavia, as questões tratadas nos autos não se subsumem as hipóteses versadas no citado diploma legislativo. Portanto, nesta fase de cognição sumária, possível a análise da pretensão inicial como disposta. O interesse defendido pelo Ministério Público Federal (e outro), veiculado nesta Ação Civil Pública, reside na obrigatoriedade do INSS abster-se de exigir a devolução de quantias pagas, oriundas de decisões judiciais concessivas de determinado direito previdenciário ou assistencial, posteriormente reformadas. A causa geradora da pretensão inicial vem pautada em uma especifica situação fática, retratada na Representação n.º / , anexada às fls. 14/45 dos autos, na qual em determinada ação judicial, havida a concessão de um benefício previdenciário em tutela antecipada, com pagamento das respectivas prestações mensais, cessadas estas, quando da ulterior decisão judicial reformatória, proferida em instância superior. Naquela ação, quando do retorno dos autos à instância originária, comunicado pelo INSS a retroação na data de cessação do benefício à época da concessão da tutela antecipatória, bem como aventada a cobrança dos valores pagos ao autor da citada ação. Asseveram os autores que tal procedimento causa prejuízos financeiros aos beneficiários da Autarquia, com a exigência de devolução dos valores pagos ao segurado até então. O fundamento à plausibilidade do direito seria a afronta aos princípios da inafastabilidade da jurisdição, da boa-fé dos segurados e da irrepetibilidade dos alimentos. Pela Autarquia, as premissas jurídicas e/ou factuais deduzidas foram lastreadas, num primeiro momento (nos autos do procedimento administrativo), nas normas contidas nos artigos 273 e 475-O, do CPC, no dever do agente em promover o ressarcimento ao
3 erário, dada a indisponibilidade do bem público (fls. 37/44 dos autos) e, mais recentemente, nesta demanda, quando instado nos termos da decisão de fl. 307, de que não adequada a via eleita ação civil pública porque o que se pretende é, ainda que por via transversa, a declaração de inconstitucionalidade da norma contida no artigo 115, da Lei 8.213/91, na afronta a especificados efeitos vinculantes, preconizados pelo STF, e falta dos requisitos necessários à concessão da tutela (fls. 312/344). Consoante preconizado pelo processualista, Dr. Athos Gusmão Carneiro in Da Antecipação de Tutela, 7ª edição, Editora Forense, 2010, p. 23, A antecipação de tutela depende de que prova inequívoca convença o magistrado da verossimillhança das alegações do autor... É mister que aos mesmos se conjugue o fundado receio, com amparo em dados objetivos, de que a previsível demora no andamento do processo causará ao demandante dano irreparável ou de difícil reparação.... Em resumo, é sabido que, como regra, a concessão da tutela exige a demonstração conjunta da prova convincente dos fatos, direito plausível e risco de periclitação, os quais, em um primeiro momento, parecem estar presentes na espécie. Mas, como ainda compila o autor, casos existem, em exceção (ou ainda), de concessão da tutela de urgência sem evidência ou, ao contrário, de tutela de evidência sem comprovação de urgência hipótese esta na qual a jurisprudência dos tribunais, sumulada ou não, é remansosa no sentido pugnado pelo requerente. Na situação em apreço, no aprofundamento possível e necessário a esta fase da demanda, nada tendo a hipótese, ainda que por via transversa, com declaração de inconstitucionalidade de dispositivos legais que estariam a legitimar o comportamento do INSS na busca da devolução de valores, vislumbra-se certa plausibilidade no direito invocado pelos autores. Mas, principalmente na dimensão do risco de dano ocasionado aos segurados/beneficiários. O procedimento assumido pelo INSS, dados os inúmeros entendimentos jurisprudenciais, traz os contornos da nominada tutela de urgência sem evidência. É fato, as atividades da Administração Pública Autárquica devem estar firmadas no princípio da legalidade, logicamente, entendido tal mister, não só como necessária observância à lei, mas também aos princípios norteadores do Estado de Direito.
4 Em prefacial análise, nos fatos apresentados, adequado sopesar a conduta do INSS na cobrança de valores - até então pagos por força de determinada decisão judicial, não mais devidos diante de outra decisão judicial revogatória do direito - com os riscos sofridos pelos beneficiários e as conseqüências advindas com ditos descontos, situação a implicar em privação de prestações de natureza alimentar. Vigora, in casu, o princípio da irrepetibilidade dos alimentos, e suficientemente hábil para a proteção liminarmente visada e para, neste instante, excepcionar os princípios da vedação do enriquecimento sem causa e da indisponibilidade do bem público (erário). Segundo preleciona José Antonio Savaris, in Direito Processual Previdenciario, Editora Juruá, 2009, p. 285,...De um lado, o bem de caráter alimentar indispensável à subsistência do beneficiário hipossuficiente se presume consumido para a subsistência. De outra parte, o gozo provisório da prestação previdenciária se operou por ordem judicial diante da probabilidade do direito (no caso de tutela de urgência posteriormente revogada) ou da própria declaração judicial do direito (no caso de sentença posteriormente rescindida) ; não se apresentando, desse modo e em princípio, razoável impor ao beneficiário, e como regra, a restituição do recebido presumivelmente, ademais, de boa-fé (porquanto se de má-fé ou fraude se estivesse cogitando nenhuma restrição mereceria à Autarquia) -, ou se permitir ao INSS a cobrança do pago então apoiado em decisão judicial minimamente estável (não de pronto ou brevemente revogada) e eficaz. E não é errado pensar que aquele que satisfaz alimentos (mesmo que estabelecidos em decisão judicial precária), não promove mera e pura antecipação ou um simples empréstimo, mas cumpre com dívida consolidada e aperfeiçoada num determinado instante histórico, normalmente não sujeita a influências e efeitos de decisão posterior que venha reconhecer por não mais devida tal prestação (alimentos), e, com isso, inviável a restituição. Segue a jurisprudência: AGRAVO REGIMENTAL. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. NATUREZA ALIMENTAR. DEVOLUÇÃO DE VALORES. INTERPRETAÇÃO RESTRITIVA. RESERVA DE PLENÁRIO, SÚMULA VINCULANTE N. 10 E PREQUESTIONAMENTO DE DISPOSITIVOS CONSTITUCIONAIS. DESCABIMENTO. 1. A revogação da antecipação assecuratória importa no dever de restituição das partes ao estado anterior, bem como na liquidação de eventuais prejuízos advindos da execução provisória, com efeito ex tunc, em razão do caráter precário imanente às decisões de natureza antecipatória. 2. A Terceira Seção, no entanto, restringiu a aplicação desse entendimento, assentando a compreensão de que, em se tratando de
5 antecipação dos efeitos da tutela em ação de natureza previdenciária posteriormente cassada, o segurado não está obrigado a restituir os valores recebidos, em virtude do caráter alimentar do benefício. 3.Descabe falar-se em adoção do procedimento previsto no art. 97 da Constituição Federal se a tese do recorrente foi afastada somente por ser inaplicável à espécie, e não porque os dispositivos legais invocados possuam incompatibilidade com o texto constitucional. 4. Agravo regimental improvido. (5ª T. do STJ, AgRg no AREsp 12844/SC proc. 2011/ , Rel. Min. Jorge Mussi, DJe ). PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL. RESTABELECIMENTO DE APOSENTADORIA. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. AÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS. IMPOSSIBILIDADE. CARÁTER ALIMENTAR DO BENEFÍCIO RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO. 1. O Superior Tribunal de Justiça firmou entendimento no sentido da impossibilidade da devolução dos proventos percebidos a título de benefício previdenciário, em razão do seu caráter alimentar, incidindo, na hipótese, o princípio da irrepetibilidade dos alimentos. 2. Recurso Especial conhecido e improvido. (5ª T. do STJ, Resp /RS, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, DJU , p. 461) PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. TUTELA ANTECIPADA. REVOGAÇÃO. RESTITUIÇÃO DOS VALORES PAGOS. IMPOSSIBILIDADE. CARÁTER ALIMENTAR DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. RESERVA DE PLENÁRIO. INAPLICABILIDADE. MATÉRIA NOVA. DISCUSSÃO. NÃO-CABIMENTO. PRECLUSÃO. 1. Em razão do princípio da irrepetibilidade ou da não-devolução dos alimentos, bem como o caráter social em questão, é impossível a restituição dos valores recebidos a título de antecipação da majoração do benefício previdenciário, posteriormente cassada. 2. "Decidida a questão sob o enfoque da legislação federal aplicável ao caso, inaplicável a regra da reserva de plenário prevista no artigo 97 da Constituição da República." (AgRg no REsp /RS, JANE SILVA - Desembargadora Convocada do TJ/MG -, DJ de 08/09/2008.) 3. Em sede de regimental, não é possível inovar na argumentação, no sentido de trazer à tona questões que sequer foram objeto das razões do recurso especial, em face da ocorrência da preclusão. 4. Agravo regimental desprovido. (5ª T. do STJ, AgRg no AREsp 67318/MT, proc. 2011/ Relª. Min. Laurita Vaz; DJe ). Destarte, neste juízo de cognição sumária, constatada presença de dano grave, concreto e irreversível, dessume que, as questões de fato, quanto as de direito, insertas nos autos induzem, por ora, à prestação jurisdicional parcialmente favorável ao demandante, razão pela qual, DEFIRO PARCIALMENTE o pedido de antecipação da tutela, para o fim de determinar ao INSS a suspensão do direito de
6 cobrança de valores atinentes aos benefícios previdenciários e assistenciais, concedido por meio de decisão liminar, tutela antecipada e sentença, reformadas por outra e ulterior decisão judicial, excetuadas as hipóteses nas quais expressa esta decisão em determinar tal devolução. A eficácia desta decisão está restrita aos limites da competência territorial ao âmbito da Seção Judiciária do E. TRF desta 3ª Região. Em caso de descumprimento, fixo a multa diária em R$ 3.000,00 (três mil reais) por benefício cobrado. Intimem-se os autores para ciência. desta decisão. Oficie-se ao INSS para ciência e regular cumprimento Oficie-se aos Diretores da Seção Judiciária do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, com cópia desta decisão, para a devida divulgação. Cite-se o réu. São Paulo, 30 de outubro de ANDREA BASSO Juíza Federal
(ambas sem procuração).
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