PERFIL DE GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE NO ANO DE 1995
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1 PERFIL DE GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE NO ANO DE 995 Sônia Seger Pereira Mercedes () Engenheira Civil pela UFV (988). MSc em Engenharia pela UFPb (993). Doutoranda em Energia pela USP. Técnica Superior do Serviço Público I, Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Belo Horizonte ( ); Engenheira Sanitarista II, Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte (995 - atual). Endereço () : Av. Prof. Almeida Prado, 95 - Cidade Universitária - São Paulo - SP - CEP: Brasil - Tel: () Fax: () seger@iee.usp.br. RESUMO Entre maio de 95 e maio de 96, a Superintendência de Limpeza Urbana de Belo Horizonte (SLU) desenvolveu um trabalho de pesquisa, a fim de atualizar os dados existentes sobre os resíduos gerados no município, durante o qual foram testadas algumas adaptações aplicadas aos procedimentos tradicionalmente adotados para a caracterização, buscando compatibilizar rigor científico e condições operacionais disponíveis. Fizeram parte do escopo a elaboração do plano de amostragem, o levantamento de parâmetros físicos, físico-químicos, químicos, bacteriológicos e sócio-econômicos e a compilação e análise dos dados. Os resultados mostraram uma geração per capita entre 6 e g/hab./dia; com predominância de matéria orgânica e materiais recicláveis inorgânicos, no balanço de massa; peso específico médio em torno de 5 kg/m 3 ; alta umidade; relação C:N em torno de :; presença insignificante de metais pesados e nível de indicadores bacteriológicos da ordem da nona potência de dez. Confirmou-se a correlação existente entre geração de resíduos e características sócio-econômicas da população que o produz, bem como a interferência da sazonalidade sobre esta geração. De modo geral observou-se que, quanto maior o padrão de vida, a diversificação das atividades econômicas e o índice de verticalização de uma região, maior a geração de lixo e mais rica sua composição. Além disso, em Belo Horizonte, a estação do ano em que mais se gerou resíduos foi o verão (dezembro, janeiro e fevereiro), coincidindo com as festas natalinas e as férias escolares. PALAVRAS-CHAVE: Caracterização, Resíduos Sólidos, Limpeza Urbana, Belo Horizonte, Atualização. INTRODUÇÃO Cada vez mais, o planejamento racional de infra-estrutura, políticas e recursos necessários para a prestação de serviços, especialmente aqueles de caráter público, exige que sejam conhecidos 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 863
2 os usos finais aos quais eles se destinam. No âmbito da limpeza urbana, a caracterização de resíduos sólidos é o instrumento que permite identificar a quantidade e qualidade do material com o qual se vai trabalhar, valendo-se de métodos estatísticos de levantamento. A despeito de constituir-se numa ferramenta tradicional, algumas dificuldades de ordem operacional têm limitado sua aplicação, sobretudo em face da rotina geralmente sobrecarregada dos serviços de limpeza urbana. Essas dificuldades podem, entretanto, ser minoradas, valendose do fato de que é possível adaptar as técnicas de amostragem às necessidades de planejamento, sem descartar outras informações de interesse. Nesse sentido, algumas alterações de critérios poderão ser percebidas na metodologia utilizada pela SLU, ressaltando-se, porém, que ainda estão em aperfeiçoamento. METODOLOGIA Para a elaboração do plano de amostragem, utilizou-se a técnica da Amostra Estratificada Proporcional ( ), adotando-se como unidade amostral o distrito de coleta. As amostras foram escolhidas através de sorteio e obtidas de acordo com os procedimentos recomendados pela NBR-7 (). O número total de amostras foi determinado levando-se conta o erro desejável para cada parâmetro a ser pesquisado () (8) e, a cada três meses, aproximadamente, foram coletadas vinte amostras, distribuídas de forma proporcional pelas dez divisões de limpeza do município, como ilustra a Tabela (a razão de proporcionalidade foi fornecida pelo quociente entre o número de distritos da divisão em questão e o total de distritos da cidade). O cronograma estabelecido para a realização de amostragens para fins analíticos determinou três coletas semanais para obtenção de C, N, sólidos voláteis, ph e umidade e uma coleta semanal para os demais parâmetros, segundo os preceitos da norma supracitada. Tabela - Número de Amostras por Divisão de Limpeza. DIVISÃO NÚMERO DE DISTRIBUIÇÃO AMOSTRAS TOTAL DE DISTRITOS PERCENTUAL POR ETAPA AMOSTRAS 3 9% 8 DV-LPC 7 + * 6% + * 8 8 3% 3 DV-LPNE 9 % 3 DV-LPNO 9 % 6 DV-LPN 8 6% 6 6% 8 DV-LPP 7% 7 5% DV-LPVN 7% TOTAL 38 % 8 * Distritos existentes em fevereiro de 995 Os parâmetros levantados foram, além daqueles já mencionados, a composição gravimétrica dos resíduos; geração per capita; peso específico; umidade; massa total coletada; massa total triada; macro e micronutrientes; metais pesados; die-off de coliformes fecais, estreptococos fecais e Salmonella () (3) (6) (7) (9); padrão (incluindo número de pavimentos) e utilização das 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 86
3 edificações amostradas; além de dados da população, obtidos através de entrevistas, tais como: número de ocupantes da edificação, renda familiar e estimativa de clientela atendida (este último apenas em estabelecimentos onde a geração de lixo é intrínseca à atividade-fim ali desenvolvida, por exemplo, lanchonetes, bares, etc.). Os valores finais dos parâmetros levantados foram obtidos por média ponderada, com fatores de ponderação variáveis por tipo de parâmetro. Os resultados foram plotados em função do dia e da etapa de coleta (sazonal) e da Divisão de Limpeza (regional). RESULTADOS GERAÇÃO PER CAPITA A geração per capita foi avaliada considerando ou não a adição da parcela denominada flutuante, constituída pelos cidadãos que se deslocam temporariamente de sua região para realizar atividades quaisquer em outras (eram contabilizados como clientela atendida). Figura - Per capita Regional por Etapa (kg/m 3 ) - Pop. Fl. 3,5 3,,5,,5,,5 3, dv-lps dv.lpb dv-lpc dv=lpl dvlpne dvlpno dvlpn dvlpo dvlpp dvlpvn Figura - Per capita Regional por Etapa (kg/m 3 ) - Pop. Fixa. 3,5 3,,5,,5,,5, dv-lps dv.lpb dv-lpc dv=lpl dvlpne dvlpno dvlpn dvlpo dvlpp dvlpvn 3 Conforme ilustram as Figuras, e 3, em relação à variação diária não foi observada formação 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 865
4 de padrão, tendo-se verificado, entretanto, a interferência da sazonalidade e do fator regional indicando, indiretamente, a influência das características sócio -econômicas sobre este parâmetro. A consideração da parcela flutuante, como se esperava, causou forte impacto sobre o valor do per capita. Figura 3 - Per capita Diário (kg/m 3 ).,,,,8,6,,, -, E (pfl) E (pfx) E (pfl) E (pfx) E3 (pfl) E3 (pfx) E (pfl) E (pfx) COMPOSIÇÃO GRAVIMÉTRICA A influência mais forte deveu-se ao fator sazonal, ainda que alguns componentes do lixo tenham demonstrado nítida interface com os aspectos sócio-econômicos, incorporados nas características das regiões amostradas (Figuras, 5 e 6). Figura - Composição Gravimétrica Média do Lixo de Belo Horizonte. ALIMENTOS - 63, % PODAS -, % PUTRESCÍVEIS,98 % PAPEL FINO - 6,8 % PAPELÃO - 3,3 % EMBALAGENS TETRAPAK -,9 % PAPEL NÃO RECICLÁVEL - O,% PLÁSTICO MOLE - 9,8 % PLÁSTICO DURO -,9% PET -, % METAL FERROSO -,6 % METAL NÃO FERROSO -,38 % PILHAS -,5 % VIDRO BRANCO -,56 % VIDRO COLORIDO -,83 % VIDRO NÃO RECICLÁVEL -, % OSSOS -,7 % ESPUMA -,6 % ISOPOR ENTULHO -,9 % MADEIRA -,53 % TECIDO -,7 % BORRACHA -,7 % COURO -,6 % OUTROS -,3 % 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 866
5 Figura 7 - Composição Gravimétrica Sazonal MÉDIA - ETAPA MÉDIA - ETAPA MÉDIA - ETAPA 3 MÉDIA - ETAPA 3 ALIMENTOS PODAS PUTRESCÍVEIS PAPEL FINO PAPELÃO EMBALAGENS TETRAPAK PAPEL NÃO RECICLÁVEL PLÁSTICO MOLE PLÁSTICO DURO PET METAL FERROSO METAL NÃO FERROSO PILHAS VIDRO BRANCO VIDRO COLORIDO VIDRO NÃO RECICLÁVEL OSSOS ESPUMA ISOPOR ENTULHO MADEIRA TECIDO BORRACHA COURO OUTROS Figura 6 - Percentuais Regionais de Alguns Componentes de Interesse. PAPEL FINO 8 6 6, 7,53 6,65 6,5 6,8,87 8,7,58,7 6, 6,8 DV- LPNO BELO HORIZO NTE 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 867
6 Figura 6 - continuação METAL NÃO FERROSO,7,6,5,,3,,,5,53,3,37,3, DV- LPNO,7,6,58 BELO HORIZO NTE,7,38 RESTOS DE ALIMENTOS , 65,6 6,78 6,8 63,7 DV- LPNO 65,6 6,89 63,9 5,6 6,6 63, BELO HORIZO NTE PLÁSTICO MOLE,5 9,5 9 9,9 8,93 8,8 8,69 8,89, 9,38 8,77 9,9 9,6 9,8 8,5 8 DV- LPNO BELO HORIZO NTE 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 868
7 Figura 6 - continuação,5,5,5,,93,5 VIDRO BRANCO,3,9,5,63,68,38,56,5 DV-LPNO BELO HORIZONT E PESO ESPECÍFICO O peso específico dos resíduos de Belo Horizonte mostrou estar intimamente ligado à composição gravimétrica e, portanto, à sazonalidade e aos fatores regional e sócio-econômico (Figuras 6 e 7). Pôde-se perceber tal relação observando que às ocorrências de maior percentual de matéria orgânica corresponderam os maiores pesos específicos, ao longo de toda a amostragem, o que reforçou a afirmação anterior. Figura 7 - Peso Específico Regional por Etapa (kg/m3) DV-LPC DV-LPNE DV- LPNO DV-LPN ETAPA ETAPA ETAPA 3 ETAPA DV-LPP DV-LPVN Características Físicas, Físico-Químicas, Químicas e Bacteriológicas dos Resíduos de Belo Horizonte Sob este aspecto, os resíduos de Belo Horizonte não fugiram da média nacional, apresentando umidade em torno de 6%, altos teores de sólidos voláteis, ph ácido, relação C:N situada na faixa adequada para ataque biológico e não se podendo dizer que sofrendo contaminação por 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 869
8 metais pesados (5), como ilustram as Figuras 8 e 9. 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 87
9 Figura 8 - Características Químicas e Físico-Químicas Médias dos Resíduos GERAL VOLÁTEIS SÓLIDOS FIXOS SÓLIDOS CARBONO NITROGÊNIO POTÁSSIO FÓSFORO SÓDIO CÁLCIO Figura 9 - Características Químicas Médias dos Resíduos. (PPM) GERAL ZINCO COBRE CHUMBO CÁDMIO CROMO MERCÚRIO NÍQUEL MOLIBDEN IO Características Sócio-Econômicas da População Amostrada Obedecendo aos preceitos recomendados pela bibliografia, ainda que o critério de estratificação do universo amostral tenha sido diferente do tradicional, não sendo função direta da população, ainda assim, foi possível obter um perfil populacional bastante coerente com a realidade do município, mesmo em aspectos específicos, como por exemplo, a vocação econômica e a verticalização das regiões Centro e Sul de Belo Horizonte (Figuras, e ). 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 87
10 Figura - Padrão das Habitações Amostradas. % 8% 6% % % % Barreiro Centro Leste Nordest e Noroest e Norte Alto Baixo Médio Oeste Pampulh a Sul Venda Nova GERAL Figura - Atividade Econômica Predominante nas Regiões Amostradas. % 8% 6% % % % Barreiro Centro Leste Nordeste Noroeste Norte Oeste Pampulha Sul Venda Nova GERAL Comercial Residencial Mista Figura - Grau de Verticalização nas Regiões Amostradas. % 9% 8% 7% 6% 5% % 3% % % % Barreiro Centro Leste Nordeste Noroeste Norte Oeste Pampulha Sul Venda Nova GERAL Térreos Sobrados Prédios 9 o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 87
11 Indicadores de Desempenho do Projeto A Tabela, abaixo, relaciona alguns indicadores que se considerou importantes levantar, a fim de verificar a validade estatística do trabalho efetuado, sobretudo por tratar-se de metodologia em desenvolvimento. De modo geral, conclui-se, pelos números, que os objetivos a que a SLU se propôs foram atingidos. Tabela - Indicadores de Desempenho do Projeto. ÍNDICES TOTAIS - NUMERO DE AMOSTRAS 8 - MASSA TOTAL COLETADA (t) MASSA TOTAL TRIADA (t) POPULAÇÃO TOTAL AMOSTRADA ~ % DA POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO 6, 6- DIAS DE COLETA DE AMOSTRAS 8 7- VOLUME TOTAL COLETADO (m 3 ) 8- TOTAL DE ANÁLISES DE LABORATÓRIO 3 9- EQUIPE (TOTAL) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 7 - Amostragem de Resíduos AMERICAN PUBLIC HEALTH ASSOCIATION. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. 9 a ed. Washington, BORGES, M.E., SANT ANNA FILHO, R. - Lixo Domiciliar de Belo Horizonte. Características Físicas, Físico-químicas, Microbiológicas. Belo Horizonte, Superintendência de Limpeza Urbana, publicação interna, 99.. CERRATO,D.. Characterization of Waste Streams. In: Lund, H.F.; The Mc Graw - Hill Recycling Handbook, USA, 993. p EGREJA F O, F.B.E.. Avaliação da Ocorrência e Distribuição Química de Metais Pesados do Lixo Domiciliar de Belo Horizonte. Dissertação de Mestrado, Departamento de Química - Universidade Federal de Viçosa, KIEHL, E.J., PORTA, A.. Análises de Lixo e Composto. Piracicaba, Universidade de São Paulo, publicação interna, pp. 7. KIEHL,E.J.. Fertilizantes Orgânicos. São Paulo, Editora Agronômica Ceres, KUME, H.. Métodos Estatísticos para Melhoria da Qualidade. 5 a Edição. São Paulo, Editora Gente, LABORATÓRIO NACIONAL DE REFERÊNCIA VEGETAL. Análise de Corretivos, Fertilizantes e Inoculantes. Métodos Oficiais. Min. da Agricultura, Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária, Brasília, SAKURAI, K.. Manual de Instruccion. In: Programa Regional OPS/EHP/CEPIS de Mejoramiento de la Recoleccion, Transporte y Disposicion Final de Resíduos Solidos, Ciclo: Aspectos Basicos del Aseo, Modulo: Analisis de Residuos Solidos, p. - 5, o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 873
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