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1 1 de 6 25/07/ :31 PROCESSO Nº: PROCEDIMENTO COMUM AUTOR: SINDICATO COM VAREJ PRODS FARMACEUTICOS DE JOAO PESSOA ADVOGADO: Andre Araujo Pires RÉU: CONSELHO REGIONAL DE FARMACIA DO ESTADO DA PARAIBA CRF 2ª VARA FEDERAL - PB (JUIZ FEDERAL TITULAR) I. Relatório SENTENÇA O Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos de João Pessoa/PB - SINDFARMA ajuizou ação ordinária contra o Conselho Regional de Farmácia - CRF/PB, objetivando seja declarada a inexistência do dever legal de as empresas representadas pelos autores seguirem as disposições contidas na Resolução nº 579/2013, relativamente à apresentação de Certidão de Regularidade Técnica para atividades de farmácias e drogarias, bem assim que não sejam cobradas taxas por situações como novo registro, mudança de horário, mudança de farmacêutico ou algo similar, alteração contratual e anotação da atividade do farmacêutico no CRF. Requer, ainda, a determinação para que o réu se abstenha de apresentar qualquer ato que possa fazer com que os associados da parte autora renunciem aos direitos da decisão judicial prolatada no autos do processo nº , que tramita na 5ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal. Por fim, busca a restituição de tudo que as empresas representadas tenham despendido, nos último cinco anos, a título das taxas impugnadas. Na petição inicial, alegou-se, em suma, o seguinte: a) as empresas privadas que exploram a atividade econômica de farmácia e/ou drogaria, representadas pelo autor, estão sendo arbitrariamente obrigadas a possuir uma certidão de regularidade técnica, com fundamento na Resolução nº 579/2013 do CFF, todavia, tal exigência não tem nenhuma previsão legal; b) o CRF fixou os valores de taxas e emolumentos para o ano de 2016, fixando o valor de R$ 145,00 para a expedição de regularidade técnica, R$ 190,00 para simples anotação da atividade profissional do farmacêutico no CRF e R$ 80,00 para qualquer alteração contratual; c) em sede de antecipação de tutela, nos autos do processo nº , todos os estabelecimentos associados à Associação Brasileira do Comércio Farmacêutico - ABCFARMA, da qual o sindicato autor faz parte, foram desobrigados de requererem/possuírem a Certidão de Regularidade Técnica criada pela Resolução nº 579/2013 do CFF, com a determinação para que todos os conselhos fossem intimados do conteúdo da referida decisão, a fim de que se abstenham de impor qualquer sanção aos associados por não possuírem a referida certidão; e d) ocorre que, mesmo tendo sido comunicado pelo CFF do teor da citada decisão, o réu passou a exigir que os associados do sindicato autor renunciassem aos direitos obtidos na decisão judicial aludida ao apresentarem o nome de um novo farmacêutico para fins de registro na entidade fiscalizadora. Instruiu a inicial com procuração, guia de recolhimento de custas e documentos de fls. 4/92. Antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional deferida (fls. 129/131) para determinar que o

2 2 de 6 25/07/ :31 Conselho Regional de Farmácia da Paraíba se abstenha de exigir das unidades farmacêuticas filiadas ao Sindicato Autor (SINDFARMA) a apresentação de Certidão de Regularidade Técnica para atividades de farmácias e drogarias, bem como que se abstenha de exigir a renuncia da parte autora aos direitos da decisão judicial prolatada no autos do processo nº , que tramita na 5ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, até deliberação em contrário. A parte ré, devidamente citada, não contestou a ação, limitando-se a requerer a habilitação dos causídicos que indica (fls. 158/160). Vieram-me os autos conclusos. É o relatório. Decido. II. Fundamentação 1. Julgamento antecipado do mérito Da leitura do art. 14 do CPC/2015, que entrou em vigor em março de 2016, dessume-se com clareza a adoção do primado do tempus regit actum. De tal sorte, será aplicado à presente demanda, que antes seguia o rito ordinário, o procedimento comum da nova lei. Já no que concerne a procedimento comum, dispõe o art. 355, inciso I, do CPC/2015, que deve haver o julgamento antecipado do mérito quando desnecessária a produção de outras provas a mais das que já constem dos autos, o que entendo ser o presente caso. 2. Prejudicial: prescrição Mister se faz tecer alguns comentários sobre o instituto da prescrição, no caso de taxas cobradas por conselhos profissionais. Com efeito, em tais casos, o lançamento não é por homologação, e sim de ofício, logo que a autarquia calcula e cobra o tributo de forma antecipada. Não há, por parte do sujeito passivo, nenhuma antecipação de pagamento. Por isso, não se conta o prazo de 5 anos de decadência, mas apenas 5 de prescrição e, de consequência, o que eventualmente pode ser restituído é o que foi pago até 5 anos antes do ajuizamento da ação. Portanto, conforme o disposto no artigo 168, inciso I, do CTN, reconheço a prescrição pretensão de restituição das taxas ilegalmente pagas ao CRF/PB antes do quinquênio que antecedeu o ajuizamento da ação, ou seja, antes de 17/02/ Mérito A demanda tem três pedidos a apreciar: a) inexistência do dever legal das empresas representadas pelo autor de seguirem as disposições contidas na Resolução nº 579/2013, relativamente à apresentação de Certidão de Regularidade Técnica dos profissionais farmacêuticos que contratam e mantêm em seus quadros de funcionários; b) declaração de ilegalidade da cobrança de taxa, pelo CRF/PB, às empresas representadas pelo autor, em situações de novo registro de profissional farmacêutico em seus quadros, mudança de horário de profissional farmacêutico que esteja a ela vinculado, mudança de profissional farmacêutico a ela vinculado ou algo similar, bem assim a alteração contratual da empresa e a

3 3 de 6 25/07/ :31 anotação da atividade do farmacêutico no CRF, com o direito a restituição dos valores pagos indevidamente; e c) confirmação da antecipação dos efeitos da tutela, no sentido de determinar que o réu se abstenha de exigir a renuncia da parte autora aos direitos da decisão judicial prolatada no autos do processo nº , que tramita na 5ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal, até deliberação em contrário; A despeito de a parte demandada não ter contestado a ação, os direitos aqui discutidos não lhe são disponíveis, pelo que não se pode aplicar-lhe os efeitos da revelia. Resta, portanto, verificar se, em relação a cada um dos três pontos, a parte autora traz fundamentos bastantes para a procedência de seus pedidos. Nesse tocante, empresto o que foi expendido na fundamentação da decisão que antecipou os efeitos da tutela (fls. 129/131), por trazer exame compatível com a cognição exauriente da causa que ora se realiza. Transcrevo: "Conforme a literal previsão do art. 10, "c", da Lei n.º 3.820, de , dentre as atribuições dos Conselhos Regionais de Farmácia, destaca-se a de "fiscalizar o exercício da profissão, impedindo e punindo as infrações à lei, bem como enviando às autoridades competentes relatórios documentados sobre os fatos que apurarem e cuja solução não seja de sua alçada". Eis o poder regulatório e fiscalizatório próprio das "autarquias profissionais", no que tange ao exercício de atividade profissional regulamentada. A certidão de regularidade prevista no 1º do art. 3º da Resolução nº 579, de 26 de julho de 2013, editada pelo Conselho Federal de Farmácia objetiva atestar a ausência de impedimento ou suspeição do profissional farmacêutico para exercer suas atividades profissionais. Vejamos: Art. 3º. Fica instituída nesta resolução a certidão de regularidade conforme modelo definido na legislação vigente. 1º. A certidão de regularidade é o documento expedido pelo Conselho Regional de Farmácia, com valor probante de ausência de impedimento ou suspeição do profissional farmacêutico, para exercer a função de diretor técnico ou responsável técnico ou farmacêutico assistente técnico ou farmacêutico substituto, o exercício da responsabilidade técnica, respeitando os princípios legais, éticos e sanitários pelo profissional e pela empresa ou estabelecimento. A Lei nº 5.991/73 determina a presença obrigatória de técnico responsável nas farmácias e drogarias, durante todo o horário de funcionamento, podendo os Conselhos Federais e Regionais atuarem na fiscalização dos profissionais indicados pelas farmácias como responsáveis técnicos. Dessa forma, é evidente que compete ao CRF/PB fiscalizar a regularidade do exercício da profissão de farmacêutico no Estado da Paraíba, bem como expedir a Certidão de Responsabilidade Técnica. Não pode, entretanto, transferir à unidade farmacêutica o ônus de ter que registrar todas as alterações referentes ao contrato de trabalho do profissional contratado, mediante cobrança, o que desvirtua a finalidade da certidão de regularidade técnica. Se existem funcionários exercendo irregularmente a profissão de farmacêutico é

4 4 de 6 25/07/ :31 obrigação própria do Conselho, como órgão fiscalizador e regulamentador dessa profissão, exercer o seu poder de polícia administrativa e tomar as medidas legais para coibir tal situação. É sua função institucional. No caso dos autos, verifica-se que o Conselho Regional de Farmácia/PB extrapolou o dever de fiscalização dos seus profissionais, incidindo em ilegalidade ao exigir, arbitrariamente, das empresas farmacêuticas que contratarem os profissionais farmacêuticos certidões acerca da regularidade dos profissionais junto ao Conselho, uma vez que, repita-se, não há respaldo legal para a dita exigência. Cabe aos empregadores, deliberadamente, exigirem essa documentação aos seus profissionais, porém, jamais por imposição do Conselho, na medida em que já exige dos farmacêuticos que estejam devidamente habilitados no respectivo Conselho a fim de que possam ser responsáveis pelas atividades do estabelecimento farmacêutico, não cabendo, portanto, exigir também da pessoa jurídica contratante que obtenha uma certidão com a mesma finalidade, ou seja, comprovar a regularidade técnica do profissional. Vale salientar ainda que, caso o empregador exija a referida documentação para fins de contratação do profissional, deverá o Conselho, gratuitamente, emitir tal documento ao profissional farmacêutico que solicitar, nos termos do art. 5º, XXXIV, da Constituição Federal. Por outro lado, a exigência dessa certidão poderia ser feita pelos Conselhos de Farmácia, decorrentes do exercício do poder de polícia, desde que expressamente prevista em lei, sob pena de ilegal restrição ao livre exercício da profissão, e a sua cobrança representaria taxa pelo seu exercício, nos termos do art. 77 do CTN, o que reforça a necessidade de lei para o seu estabelecimento. Além do mais, se a exigência da certidão de regularidade técnica pelas farmácias e drogarias não tem respaldo legal, o mesmo se diga em relação à exigência de que as empresas tenham que renunciar eventuais direitos reconhecidos em decisão judicial para a obtenção de qualquer documento que seja. Prática essa abusiva e ilegal, que deve ser coibida pelo Poder Judiciário." Nos autos há cópia da resolução impugnada (fls. 30/80), de deliberação do CRF/PB em que consta tabela de taxas por diversos serviços, dentre os quais, expedição de certidão de regularidade técnica para pessoa jurídica (fl. 82) e três modelos de declaração (fls. 89/91), um inclusive para estabelecimentos empresariais, com expressa disposição de renúncia aos direitos garantidos em decisão liminar nos autos (cópia da decisão às fls. 83/88). A meu sentir, é suficiente prova da exigência, pelo CRF/PB de certidões de regularidade técnica para empresas, em conformidade com a fundamentação transcrita e na forma do item "a" acima, de taxas indevidas (fundamentação transcrita e item "b" acima) e de renúncia à eficácia de decisão antecipatória (fundamentação transcrita e item "c" acima). Não resta outra senda senão julgar procedentes os pedidos. III. Dispositivo Ante o exposto, julgo procedentes os pedidos, extinguindo o processo com resolução de mérito (art. 487, inciso I, do CPC/2015, para:

5 5 de 6 25/07/ :31 a) declarar a inexistência do dever legal das empresas representadas pelo autor de seguirem as disposições contidas na Resolução nº 579/2013, relativamente à apresentação de Certidão de Regularidade Técnica dos profissionais farmacêuticos que contratam e mantêm em seus quadros de funcionários; b) declarar a ilegalidade da cobrança de taxa pelo CRF/PB às empresas representadas pelo autor, em situações de novo registro de profissional farmacêutico em seus quadros, mudança de horário de profissional farmacêutico que esteja a elas vinculado, mudança de profissional farmacêutico a elas vinculado ou algo similar, bem assim a alteração contratual da empresa e a anotação da atividade do farmacêutico no CRF; c) confirmar a antecipação dos efeitos da tutela, no sentido de determinar que o réu se abstenha de exigir a renúncia da parte autora e de empresas por ela representadas aos direitos da decisão judicial prolatada no autos do processo nº , que tramita na 5ª Vara Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal; d) condenar o réu a restituir, respeitada a prescrição quinquenal reconhecida, os valores de taxas ilegais que tenha recolhido nos moldes do item "b", com correção e juros pela taxa SELIC, na forma orientada pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal vigente. Condeno o réu ao pagamento dos honorários advocatícios, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), considerando especialmente a pequena complexidade da causa, na forma do art. 20, 4 o, do CPC/1973 (aplicáveis, neste ponto, as regras do CPC/1973, tendo em vista que o ajuizamento da ação se deu antes da vigência do CPC/2015, conforme precedentes do TRF5: APELREEX , Desembargador Federal Ivan Lira de Carvalho, TRF5 - Segunda Turma, DJE - Data::07/12/ Página::22; AC , Desembargador Federal Edílson Nobre, TRF5 - Quarta Turma, DJE - Data::01/12/ Página::170.). O CRF/PB não sofre condenação em custas, em atenção ao art. 4 o, inciso I, da Lei Federal n. o 9.289/1996, mas condeno-o a restituir as custas adiantadas pela parte autora. Sentença sujeita ao reexame necessário. Com ou sem recursos, remetam-se os autos ao TRF da 5ª Região. Publicação e Registro decorrem automaticamente da validação desta sentença no sistema eletrônico. Intimem-se. Após o trânsito em julgado desta sentença, adote a secretaria as providências em relação ao cumprimento da obrigação de fazer e de pagar. João Pessoa/PB, data de validação no sistema. [DOCUMENTO ASSINADO ELETRONICAMENTE] WANESSA FIGUEIREDO DOS SANTOS LIMA Juíza Federal Substituta da 2ª Vara LCA

6 6 de 6 25/07/ :31 Processo: Assinado eletronicamente por: WANESSA FIGUEIREDO DOS SANTOS LIMA - Magistrado Data e hora da assinatura: 12/05/ :10:47 Identificador: Para conferência da autenticidade do documento: /ConsultaDocumento/listView.seam