Salvador e Lauro de Freitas discutem saúde e religiões afro-brasileiras
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- Rui Sales Casado
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1 Salvador e Lauro de Freitas discutem saúde e religiões afro-brasileiras Fotos: Alberto Lima Nos dias 14 e 15 de setembro, as Secretarias da Saúde de Salvador e Lauro de Freitas, Bahia, promoveram o I Seminário Religiões de Matriz Africana e Saúde. Realizada na cidade de Salvador, a atividade envolveu representantes dessas religiões, profissionais de saúde dos dois municípios, bem como membros das equipes técnicas de outros departamentos dos governos municipais e estadual. O Seminário corresponde a uma ação governamental em resposta à demanda por implementação de ações em saúde nos e em diálogo com os espaços religiosos afro-brasileiros. As atividades foram iniciadas com as falas de lideranças religiosas dos dois municípios, como Mãe Stella de Oxossi, do Ilê Axé Opô Afonjá; Ekedi Sinha, da Casa Branca; Makota Valdina, do Tanuri-Junçara; Everaldo Nogueira, do Kale Bokun entre outros. Nos debates ocorridos na tarde de sexta-feira (14), sob o formato de grupos de trabalho, os participantes trataram dos seguintes temas: controle social e financiamento em saúde; gênero, raça, geração e orientação sexual; racismo e intolerância religiosa; saúde ambiental e terapias complementares; e DST/Aids. A fim de estabelecer ações a serem desenvolvidas, a Política Nacional de Saúde Integral de Saúde População Negra (PSPN) foi tomada como base. Um dos objetivos da PSPN é valorizar os conhecimentos em saúde das religiões de matriz africana. E, no que diz respeito às realidades dos municípios, essa meta pode não ser de fato alcançada se não especificarmos o que queremos valorizar nesse sentido e que ações seriam mais eficientes.
2 Dialogamos com a Política no intuito de adaptá-la às realidades de Salvador e Lauro de Freitas explicou Denize Ribeiro, coordenadora do evento e integrante do GT de Saúde da População Negra, da Secretaria de Saúde de Salvador. Além da PSPN, foram também utilizados os documentos das Conferências Municipais de Saúde de Salvador de 2006 e 2007, o Plano Nacional de Saúde, as deliberações da Conferência Nacional de Saúde (2003) e da Conferência Nacional de Promoção de Igualdade Racial (2005). O trabalho desenvolvido nos GT s resultou no Plano de Ação, apresentado na manhã de sábado (15/09). O documento foi simbolicamente entregue aos/às Secretários/as dos governos estadual e municipais presentes no encerramento do evento a exemplo da Sepromi, Semur, SES, SMS-SSA, SMS-Lauro de Freitas entre outras. O Plano de Ação também será repassado a membros das equipes técnicas das Secretarias que assumiram o compromisso de acompanhar o desenvolvimento do trabalho. O próprio GT de Saúde da População Negra de Salvador compõe essa equipe que irá trabalhar para dar encaminhamento ao que foi acordado aqui, afirmou Denize Ribeiro. Veja, a seguir, o Plano de Ação construído no I Seminário Religiões de Matriz Africana e Saúde: I SEMINÁRIO DE RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA E SAÚDE Bankoma -Bloco Afro de Lauro de Freitas As Secretarias de Saúde de Salvador e Lauro de Freitas, através da Assessoria de Promoção da Equidade Racial em Saúde de Salvador e da Coordenação de Saúde da
3 População Negra de Lauro de Freitas, realizaram o I Seminário de Religiões de Matriz Africana e Saúde nos dias 14 e 15 de setembro de Este Seminário teve como objetivo aprofundar as discussões em torno da promoção da equidade racial na saúde para as religiões de matriz africana, do combate ao racismo e à intolerância religiosa em saúde, e para tal desenvolveu discussões temáticas que originaram propostas com o objetivo de promover a interação entre os conhecimentos da medicina tradicional de matriz africana e a biomedicina, contribuindo para o desenvolvimento de projetos e programas de saúde que contemplem esses saberes. Esta atividade atende às ações definidas na VIII e IX Conferência Municipal de Saúde de Salvador, bem como as recomendações da XII Conferência Nacional de Saúde, das diretrizes do Plano Nacional de Saúde, em conformidade com as recomendações do Comitê Técnico Nacional de Saúde da População Negra, aprovadas pelas Conferências Municipal, Estadual e Nacional de Promoção da Igualdade Racial. GRUPO 1 CONTROLE SOCIAL E FINANCIAMENTO DAS AÇÕES DE SAÚDE E AS RELIGIÕES DE MATRIZ AFRICANA PROPOSTAS: 1. Os órgãos oficiais de turismo do estado e município devem elaborar projetos, em conjunto com as lideranças dos terreiros com o objetivo de sistematizar a visita de turistas aos terreiros, garantindo funcionamento/subsídio às casas, sem discriminação; 2. Estabelecer parcerias entre serviços de saúde (poder público) e terreiros de candomblé para o desenvolvimento de ações de saúde (atividades educativas, disponibilização de preservativos, etc) em benefício da comunidade afrodescendente.
4 3. Os sistemas de saúde (estadual e municipal) devem apoiar a formação/organização da rede integrada distrital dos terreiros de candomblé para o desenvolvimento de ações em saúde; 4. Formação de agentes multiplicadores nos terreiros de candomblé para desenvolver ações de educação em saúde, com destaque aos problemas de saúde da população negra; 5. Preparar/capacitar os profissionais de saúde para trabalhar em parceria com os terreiros. 6. Estimular a participação de representantes das religiões de matriz africana nos espaços de controle social. 7. As secretarias de educação (estadual e municipal) devem desenvolver projetos de alfabetização/educação nos terreiros, valorizando em seu conteúdo a cultura afro, em conformidade com a Lei / Promover espaços para a discussão entre servidores das três esferas de gestão sobre a questão da intolerância religiosa, destacando a responsabilização dos agentes públicos, autores de práticas discriminatórias. 9. O estado da Bahia e os municípios devem definir uma política de atenção à saúde da população negra, com previsão de recursos financeiros/orçamentários no PPA/Estadual e municipal. Valorizar a contribuição das religiões de matriz africana em prol da preservação do meio ambiente e da cultura alimentar. Desenvolver políticas de proteção e promoção à saúde da mulher negra, elevando os seus indicadores de qualidade de vida.
5 GRUPO 2 SAÚDE NOS TERREIROS E AS DIMENSÕES DE GÊNERO, RAÇA, GERAÇÃO E ORIENTAÇÇÃO SEXUAL PROPOSTAS Executar ações de formação (educação em saúde-raça-gênero-geraçãoorientação sexual). o Sensibilização/ formação de: lideranças de candomblé e profissionais de saúde, com o objetivo de: Proporcionar uma aproximação dos/as profissionais de saúde com as comunidades de terreiros, quebrando a dicotomia entre a cultura de cuidado à saúde / conhecimento de profissionais de saúde. o Estabelecer um caráter descentralizado por distritos sanitários / unidades, no planejamento das ações. o Garantir a construção da programação em conjunto com representantes das comunidades de terreiros de candomblé. Comprometimento dos/as gestores/as públicos/as para a importância de operacionalizar as propostas em saúde-raça-gênero-orientação sexual-geração. Fortalecer o GT de Saúde da População Negra como espaço qualificado para trabalhar, disseminar as questões de raça-gênero-orientação sexual-geração, dando maior visibilidade e condições de trabalho ao grupo. Fortalecer a área técnica de saúde da mulher de SSA e Lauro de Freitas, proporcionando as condições para seu funcionamento com a incorporação das dimensões de raça e orientação sexual; Divulgar as propostas do GT Raça-gênero-orientação sexual-geração através da carta proposta construída neste seminário, nas organizações que participaram do evento, em outras afins e através de veículos de comunicação.
6 Criar uma rede intersetorial: secretarias estaduais, municipais, sociedade civil, serviços, para discussão, proposição e monitoramento de ações de educação em saúde-raça - gênero-orientação sexual-geração. Garantir recursos nos orçamentos municipal e estadual para realizar as ações na área de saúde-raça-gênero-orientação sexual-geração. GRUPO 3 RACISMO E INTOLERÂNCIA RELIGIOSA EM SAÚDE O grupo iniciou a discussão pelos conceitos de intolerância religiosa e racismo, onde cada participante apresentou sua concepção destes conceitos e em seguida foi feita uma apresentação e contextualização do tema do grupo com a apresentação da professora Jacimara, abordando aspectos históricos do racismo e como ele se expressa no Brasil e a relação entre racismo e intolerância religiosa, focando na área da saúde. No momento seguinte foram apresentadas as experiências de racismo e intolerância religiosa em saúde onde cada um colocava a sua experiência e propostas de enfrentamento da situação vivenciada. PROPOSTAS Capacitar a ouvidoria da saúde para atender adequadamente as queixas e denúncias de racismo ou de intolerância religiosa; Mudar a cultura institucional através da educação dos profissionais de saúde; Ampliar o controle social garantindo a participação das religiões de matriz africana nesse processo; Valorizar a contribuição das religiões de matriz africana para o tratamento da saúde mental;
7 Articular os serviços de saúde com as universidades/centros de formação de profissionais de saúde para inserir disciplinas como antropologia cultural e outras que abordem a temática racial e da diversidade religiosa; Incluir membros das religiões de matriz africana nos conselhos estaduais e municipais de saúde Problema: identificado no grupo Impedimento de rituais religiosos de matriz africana nos hospitais: Propostas: Garantir a presença de símbolos de diversas religiões nos hospitais ou retirar todos; Garantir através de leis o direito dos pacientes de receber os cuidados religiosos de matriz africana dentro dos hospitais; A infecção hospitalar não é responsabilidade das religiões de matriz africana Promover intercâmbio entre o Estado e os terreiros de candomblé; Problema: Negação do conhecimento do povo de santo Propostas: Reconhecimento da palavra e da oralidade como fontes importantes do nosso conhecimento; Reconhecer e inserir nos programas de saúde os saberes do povo de santo para as terapias alternativas;
8 Problema: Os Agentes Comunitários de Saúde e de Zoonoses, se negam a realizar ações de saúde nos terreiros. Propostas: Promover educação continuada contemplando o combate a intolerância religiosa para os profissionais de saúde; Criar legislações punitivas para estes casos; Promover inquérito administrativo para estes crimes de irresponsabilidade sanitária. Ampliar e divulgar o papel da ouvidoria para a população em geral. GRUPO 4 SAÚDE AMBIENTAL, TERAPIAS COMPLEMENTARES E O SUS O grupo fez toda uma discussão sobre o conceito de Promoção da Saúde fazendo uma interface com a educação e o papel da linguagem. Focalizou a partir da educação sua intersetorialidade com: Moradia, Meio Ambiente e alimentação. O grupo fez uma reflexão em torno do papel da linguagem para as religiões de matriz africana. Daí foram feitas as seguintes propostas: PROPOSTAS: Resgatar a homeopatia, fitoterapia e naturopatia nos atendimentos do SUS; Qualificação para promoção da troca de conhecimentos, saberes e práticas, além de concurso público para os mestres de saberes populares e profissionais que atuam com terapias complementares;
9 Levantar e resgatar o uso e preparo das plantas medicinais (chás e banhos), entre os profissionais de saúde e a comunidade em geral; Utilizar a estratégia da compostagem, matéria orgânica oriunda das oferendas das religiões de matriz africana, para contribuir com o estímulo ao cultivo das ervas e na manutenção e preservação do meio ambiente; Buscar junto aos setores da sociedade, a promoção da preservação e conservação dos recursos naturais, já que as religiões de matriz africana dependem desses para os seus rituais e oferendas. Garantir a captação de recursos junto ao Fundo Nacional de Saúde e outras instituições de fomento, para a implementação da fitoterapia e outras práticas complementares que atendam às necessidades da população negra. GRUPO 5 QUEBRANDO AS BARREIRAS COM DST/AIDS PROPOSTAS 1.Produzir material educativo: o Criar literatura com linguagem clara e acessível com a cara da comunidade, utilizando pouco texto e maisimagens, onde os personagens sejam construídos com os próprios grupos da comunidade, além de intensificar a utilização do preservativo feminino. o Este material deve contemplar elaboraçãode vídeos instrutivos, vinhetas, panfletos e folders; o Em médio e longo prazo elaborar um texto de teatro para trabalhar na comunidade.
10 2. Traçar rotinas de ordem prática para biossegurança dos terreiros. 3. Divulgar rotinas de acidentes biológicos. 4. Capacitar em DST/AIDS representantes de religiões de matriz africana, voltada para prevenção e assistência. 5. Criar interlocução entre os terreiros e os serviços de saúde. 6. Fortalecer a manutenção do programa de DST/AIDS nas unidades básicas, garantindo insumos e EPIs para prevenção e tratamento, assegurando a biossegurança. Depois de dois dias de seminário, onde profissionais de saúde e representantes das religiões de matriz africana discutiram e elaboram as propostas, estamos encaminhando este documento aos gestores do governo do estado e dos municípios de Salvador e Lauro de Freitas, para que sejam implementadas, enquanto uma conquista de resgate de cidadania da maioria da sociedade representada neste Estado, sabendo do compromisso desses governos com a equidade e o combate às desigualdades raciais, reconhecendo ainda a necessidade de maiores avanços dos poderes constituídos. Salvador, 15 de setembro de 2007 Um grande AXÉ! Comissão Organizadora.
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