Objetivo. Metodologia

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1 Título:CAPACITAÇÃO DE PRODUTORES RURAIS PARA OTIMIZAÇÃO DA CAPRINOCULTURA NO MUNICÍPIO DE MATÕES-MA. Autores: Ricardo Alexandre Silva Pessoa, Rozélia Bezerra, Francisco Fernando R. de Carvalho Área Temática: TECNOLOGIA Objetivo O presente trabalho teve por objetivo capacitar os produtores rurais do município de Matões-MA, ligados à exploração caprina, com o uso de técnicas orientadas que valorizem a utilização dos recursos locais e que permitam estabelecer estratégias para melhoria do sistema, visto que a caprinocultura de corte foi apontada como prioridade para investimentos no município devido a grande aceitação pelo mercado local da carne caprina in natura. Metodologia O município de Matões tem uma extensão territorial de 1.812,9 Km 2, situando-se na zona sul do médio Parnaíba, distante 459 Km da capital São Luís, limitando-se ao leste com o estado do Piauí. A população de Matões é de habitantes, sendo que 31,35% são residentes na zona urbana e 68,65% residem na zona rural. Durante a realização da viagem precursora ao município em dezembro de 2000, a Prefeitura Municipal e o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Matões solicitaram a coordenadora do Programa Universidade Solidária/UFRPE, que fossem realizadas atividades inerentes a caprinocultura, a fim de implementar melhorias na qualidade da produção animal. No período de 1 a 11 de fevereiro de 2001, foram realizadas atividades que envolveram os caprinocultores da região, onde, para obtenção das informações que permitiram traçar o perfil técnico e social da exploração, foram realizadas entrevistas estruturadas com 17 proprietários, nas quais constavam perguntas referentes ao nível de escolaridade, idade dos envolvidos na exploração, práticas de manejo, entre outras. A partir das informações colhidas, montou-se um banco de dados que permitiu identificar através de análise de freqüência, os problemas mais comuns e que representam um entrave no processo produtivo. Durante o processo de mútua transferência de conhecimentos, foram

2 realizadas duas palestras e dois minicursos, que envolveram produtores tanto da zona urbana, quanto da zona rural, inclusive boa parte proveniente de áreas de assentamento do INCRA. Nas atividades teóricas foram utilizados recursos audio-visuais, e os temas abordados foram: história da Caprinocultura, introdução no Brasil, relatos, domesticação, efetivo rebanho, distribuição, importância, desafios ao desenvolvimento, perfil dos sistemas, histórico, as primeiras raças, as raças naturalizadas, importância da conservação, potencial genético das raças nativas e exóticas, origem, características e aptidão, instalações e equipamentos, definição, custos, importância, características e diversidade, origem e classificação dos caprinos, diferenças entre caprinos e ovinos, a eficiência na exploração pecuária e os benefícios da assistência técnica no processo produtivo, desempenho do rebanho, levantamento das condições de exploração, manejo reprodutivo e sua importância na eficiência da atividade pecuária, fatores que influenciam a fertilidade do rebanho, reprodução, puberdade fisiológica e zootécnica, ciclo estral e estro, estação de monta, gestação, parto, melhoramento genético, nutrição, alimentos e alimentação, hábitos alimentares, manejo nutricional, manejo sanitário, importância do manejo preventivo, doenças e controle, escrituração zootécnica, seleção zootécnica. Durante as aulas práticas realizadas em criatórios próximos, procurou-se envolver temas mais condizentes com a realidade local, valorizando os recursos abundantes na região, e em todo o período de convivência, procurou-se acima de tudo, valorizar conceitos os quais foram bem descritos por BOTELHO et al., 2000, que relatam: o respeito para com os assentados (homem do campo), não só em relação ao seu saber e desempenho técnico, mas principalmente, em relação as suas condições sócio-culturais distintas, permite pensar em novas articulações que envolvem outros públicos como a universidade, fazendo suscitar novos usufrutos do saber universitário. Resultados

3 O processo de capacitação tem sido um dos principais instrumentos que visam contribuir para diminuição da interdependência existente entre a população rural e o poder público. O Plano Nacional de Extensão Universitária (1998) define a extensão como prática acadêmica que tem como objetivo interligar a universidade em suas atividades de ensino e pesquisa, com as demandas da sociedade. CAVALCANTI (1993) relata que esta nova estratégia na extensão rural, cuja meta é a participação, deverá identificar a realidade e as potencialidades do local em que vivem os envolvidos com a ação e, de forma conjunta, partir para definir que estratégias utilizar para sua realização. Dentro deste contexto, a Caprinocultura constitui uma das atividades de maior importância social para a região Nordeste, e de acordo com o Anuário Estatístico do Brasil, citado por SIMPLÏCIO & ALVES (1993), a região Nordeste do Brasil detém aproximadamente 90,2% da população caprina do país, o que corresponde a aproximadamente 9,5 milhões de animais. Dados do SEBRAE/PRODER (2000) revelam que a caprinocultura de corte apresenta-se como uma potencialidade para investimentos no município de Matões-MA, principalmente por constituir-se numa alternativa mais acessível às diversas camadas da população, tendo o município apresentado em 1997 um efetivo rebanho caprino da ordem de cabeças. De acordo com LIMA (1999), os custos de implantação e manutenção são menos onerosos em comparação à outras atividades pecuárias, entretanto, chama-se atenção para alguns entraves à exploração da caprinocultura, que conferem um desmembramento entre a importância dessa atividade e seu aprimoramento através da adoção de medidas tecnicamente orientadas, ressaltando que, o fortalecimento da atividade como alicerce para a agropecuária, está na dependência de uma articulação organizada, de forma que se promova a valorização dessa atividade através de perspectivas reais, com base em programas de crédito e assistência técnica conseqüentes e, principalmente, reconhecimento político de sua importância para o desenvolvimento regional. Desta forma, foram capacitados aproximadamente 70 pessoas, dentre estes, pecuaristas, pequenos produtores, donas de casa, funcionários públicos, entre outros relacionados à atividade. Observou-se que o perfil da exploração no município se enquadra dentro do comumente observado em outros estudos. A maioria dos caprinocultores (88%) residem na zona rural, local onde desenvolvem prioritariamente às suas atividades. A mão-

4 de-obra é basicamente familiar e jovem, na amostra utilizada a maior parte está na faixa etária abaixo dos 18 anos. Talvez este seja um dos fatores que auxiliem para o alto índice de evasão escolar (21%), bem como de repetência escolar (26%) dos alunos matriculados nas escolas da zona rural do município, e isto está refletido nos resultados obtidos com os entrevistados: 46% são analfabetos, 24% escrevem o nome, 18% possuem o primeiro grau menor e 12% possuem o segundo grau. De acordo com SIMPLÍCIO & SANTOS (1999), o grau de instrução dos caprinocultores é um dos fatores limitantes para adoção e uso de tecnologias mais avançadas em regiões subdesenvolvidas. As cercas utilizadas nas propriedades são em grande maioria feitas com arame (70%), e apenas 35% dos criatórios possuem energia elétrica. Deve-se salientar que, grande parte das propriedades do Nordeste é de pequeno porte, e dependem basicamente da força de trabalho familiar, por outro lado, observa-se também, que a pecuária apresenta-se como uma das principais alternativas de ocupação devido a sua maior estabilidade, contribuindo para sustentabilidade da região. Quanto ao sistema de produção, a maior parte das propriedade (70,6%), possuem apriscos, muito embora os animais sejam criados de forma extensiva, e os apriscos servirem apenas para abrigo. A mineralização e vermifugação são práticas comuns, e vacinações contra raiva e febre aftosa não são realizadas pela maioria. O ambiente em que os animais são explorados favorece a proliferação de microorganismos responsáveis pelo aparecimento de doenças. A utilização do pasto nativo é comum a todas as propriedades, sendo que 70,6% dos produtores utilizam outros tipos de forragens, predominando as do gênero Brachiaria. A monta natural sem controle é uma prática comum à todas as propriedades, sendo que 82% dos criadores castram os animais com até um mês de idade. SIMPLÍCIO & SANTOS (1999) relataram que em regiões tropicais e subtropicais, o comportamento reprodutivo de caprinos e ovinos é predominantemente influenciado pelas práticas de manejo, principalmente da nutrição e da saúde impostas aos animais. De forma surpreendente, foi verificado que 47% das propriedades estão sendo financiadas pelo Banco do Nordeste, sem se quer nenhum tipo de assistência técnica, o que revela o descaso das autoridades competentes em relação ao pequeno produtor. Embora a curta disponibilidade de tempo não tenha sido suficiente para promover a troca de conhecimentos de forma mais sedimentada, o processo de capacitação permitiu criar alternativas necessárias de viabilização das atividades econômicas, possibilitando aos

5 agentes envolvidos, bem como a comunidade externa à universidade, um caminho efetivo que permita a construção de uma estrutura coletiva da qual todos sejam beneficiários. Os produtores rurais demonstraram-se aptos à absorção dos conhecimentos repassados, bem como no repasse do saber popular, o que nos enriquece de forma ímpar. Além disso, a prática de capacitação permitiu indicar uma série de lacunas que precisam ser melhor aprofundadas, para que como técnica, se possa responder mas adequadamente as necessidades de produção, através de tecnologias acessíveis e adaptadas a cada ecossistema no qual se trabalha. Observa-se que, por mais que tenha sido gerado novas tecnologias, quer por dificuldade de acesso a informação, quer por falta de discernimento do seu benefício, esse avanço tecnológico não tem sido acompanhado quanto a sua incorporação ao sistema produtivo. Esse contraste que existe entre o grande volume de tecnologias disponíveis e o baixo índice de adoção dessas práticas pelos criadores, deixa transparecer a fragilidade do processo de transferência de tecnologia. Os resultados mostram que a atividade deve ser induzida no sentido de reestruturação do sistema produtivo e comercial, com grande foco nos elementos associativismo e cooperativismo, os quais permitirão um incremento na produtividade dos rebanhos pela aceitação de medidas tecnicamente orientadas, além do fortalecimento da categoria. Referências Bibliográficas BOTELHO, M.I.V.; COELHO, G.M.F.; BRAGA, M.J. et al., Estágio estudantil em assistência técnica em assentamentos de reforma agrária: um trabalho de extensão universitária. In: Metodologias e experiências em projetos de extensão. UFF. Rio de Janeiro, p CAVALCANTI, N.B Mudança na ação educacional da extensão rural brasileira. Viçosa-MG: Debate, n. 16, p LIMA, A.B. de Perfil do gerenciamento técnico financeiro da caprinocultura leiteira no semi-árido paraibano. Areia, PB, UFPB: 58p. SEBRAE/PRODER Diagnóstico situacional do município de Matões-MA. 60 p.

6 SIMPLÍCIO, A.A. & ALVES, J.U Parâmetros produtivos da caprino e ovinocultura deslanada do Nordeste Brasileiro. III Congresso Pernambucano de Medicina Veterinária e III Seminário Nordestino de Caprinocultura. Anais... Recife, 18 a 22 de outubro, p SIMPLÍCIO, A.A. & SANTOS, D O manejo reprodutivo de caprinos e ovinos em regiões tropicais. IV Congresso Pernambucano de Medicina Veterinária e V Seminário Nordestino de Caprinocultura. Anais... Recife, 17 a 20 de agosto, p