PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo ambiental; revistas de informação semanal; aquecimento global; efeito estufa; conferências climáticas.

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1 Efeito estufa e aquecimento global nas páginas das revistas semanais brasileiras: Rio 92, Kioto 97 e Copenhague Morgana NUNES Unicentro/PR (bolsista de Iniciação Científica) Ariane PEREIRA Unicentro/PR (orientadora) RESUMO As práticas discursivas produzem e fazem circular sentidos na(s) sociedade(s). Dessa maneira, contemporaneamente, não podemos negar que os discursos midiáticos devem ser, seguindo Foucault, tomados como uma superfície de emergência dessas práticas discursivas. Assim, é possível afirmar que o discurso jornalístico intervém em práticas sociais e discursivas. Como na construção/disseminação dos discursos do caos climático e da atividade agropecuária como vilã ambiental. Dessa maneira, propomos analisar qual é a importância dada aos dois discursos, se são crescentes ou não ao longo dos anos conferências climáticas do Rio de Janeiro (Brasil), Kioto (Japão) e Copenhague (Dinamarca) realizadas, respectivamente, em 1992, 1997 e 2009, pela mais importante revista semanal de informação brasileira (Veja). PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo ambiental; revistas de informação semanal; aquecimento global; efeito estufa; conferências climáticas. Reviravolta climática. Aquecimento global. Temperaturas em elevação. Desmatamento. Geleiras derretendo. Chuvas torrenciais. Inundações. O alarme de que nas questões ambientais estamos nós, seres humanos conduzindo o planeta de maneira torta soou e volta a soar recorrentemente nos veículos de imprensa brasileiros. O clima, o meio-ambiente e a ecologia são assuntos cativos em jornais, revistas, TVs, emissoras de rádio, sites de conteúdo. Dessa maneira, as revistas de informação semanal não passaram sem registrar o medo de que seja tarde demais para o planeta; os vilões do aquecimento global e as saídas possíveis para esse lugar chamado Terra abordados durante a Conferência Mundial do Clima, realizada no final de 2009, na Dinamarca. Constatação de leitores atentos que levou ao questionamento que move este estudo, ainda em fase inicial: como a revista Veja, aprincipal publicação semanal de informação brasielira, tratou as conferências do clima anteriores, realizadas, respectivamente, em 1997 e 1992, nas cidades de Kioto, no Japão, e do Rio de Janeiro, no Brasil? 1 Trabalho apresentado no GT História do Jornalismo, componente do I Encontro Paraná/Santa Catarina de História da Mídia. 1

2 Assim, nossa proposta, nesse momento, é levantar quantitativamente o destaque dado a cada um dos eventos climáticos (entendendo aqui os momentos imediantamente anteriores e posteriores e, também, o durante das conferências) capa, número de páginas, quantidade de matérias relacionadas ao assunto nas edições direcionadas à Rio 92, Kioto 2007 e Cop 15. Além de verificar se essas mesmas coberturas abordam a atividade agropecuária e qual o tratamento dado vilã ou ação sustentável. Conferências do clima em pauta Eco 92 Em junho de 1992 as atenções do mundo se voltam para o Rio de Janeiro, o Brasil é sede da Eco 92, conferência climática pioneira. Nesse período, o meio ambiente, o aquecimento global e o efeito estufa pautam o jornalismo mundial. Veja também dá lugar de destaque à conferência e as discussões que a perpassam. Assim, antes, durante e após o evento, a referida revista publicou reportagens sobre a Eco 92. A edição 1237, de três de junho de 1992, referente a semana que antecede a conferência, dedica a principal chamada de capa à Eco 92, bem como 31 páginas internas, isso num momento em que a revista investe muito na investigação e publicação de informações referentes às denúncias de Pedro Collor de Melo, a crise Paulo César Farias e as consequências no governo Fernando Collor de Melo. Assim, voltando à Eco 92, encontramos: Capa: O mundo se encontra no Rio de Janeiro Estrelas, temas e brigas da maior conferência ecológica da História Reportagem de capa/principal: Última chance (chapéu) A Terra em transe na Eco 92 (título) Começa no Rio de Janeiro a megarreunião ecológica que pode mudar os rumos do mundo Reportagens secundárias (ligadas à principal e a capa): 1. Efeito Estufa (chepéu) O tio sujismundo (título) Presidente da nação que mais suja a atmosfera, Bush chega ao Rio com fama de inimigo da Eco 92 (linha fina); 2. Roteiro (chapéu) A temporada verde no Rio (título) Dos shows à cúpula dos chefes de Estado, os principais destaques da programação da Eco 92 (linha fina); 3. Personagens (chapéu) A fauna da festa (título) Os personagens e as tribos que desfilarão na passarela verda da Conferência do Rio (linha fina); 4. Imagem (chapéu) Os dois Brasis (título) Está na hora de corrigir os erros dos estrangeiros que falam de índios, queimadas e Amazônia (linha fina); 5. Japão 2

3 (chapéu) De vilão a modelo (título) O Japão descobre que a indústria limpa rima com lucros e firma-se como a primeira superpotência ambiental (linha fina); 6. Militantes (chapéu) Guerreiros do verde (título) Com milhões de filiados no mundo inteiro, as ONG abrem os braços para proteger a vida no planeta (linha fina); 7. Arte (chapéu) A natureza morta (título) Frans Krajaberg, a estrela dos vernissages verdes, leva um floresta queimada ao MAM. Artigo: Opinião (chapéu) Um lugar na História (título) O Brasil tem a chance de ser a primeira nação a colocar os pés no Primeiro Mundo com um modelo que combine desenvolvimento e respeito à natureza, por Thomas Lovejoy. Na edição seguinte, de dez de junho de 1992, Veja tem como capa as agressões física e sexual cometida pelo índio Paiakan, uma das estrelas do momento verde, a uma jovem. A reportagem referente a esta capa leva o selo utilizado pela revista para identificar os assuntos referentes à Eco 92. Imediatamente depois desta reportagem, também com o selo, encontra-se a reportagem O norte diz não Sem o apoio de seus aliados tradicionais os Estados Unidos passam na defensiva a primeira semana da Eco 92, respectivamente, título e linha fina. Com o encerramento da Eco 92, a cobertura termina com a edição 1239 de Veja, datada de dezessete de junho de 1992, que trás a reportagem O Rio já é História As discussões da Eco 92 chegam ao fim com queixas veladas dos países ricos e pobres, que receberão menos dinheiro do que esperavam. Vale ressaltar que, em nenhum momento, a cobertura de Veja referente a Eco 92 abordou a atividade agropecuária relacionando-a aos problemas ambientais, nem tão pouco apresenta inovações na área capazes de evitar a poluição, aquecimento global e/ou efeito estufa. Kioto 1997 A grandiosidade da cobertura dada à Conferência do Rio de Janeiro não se repete cinco anos depois, quando da realização da Conferência do Japão, em Kioto, em dezembro de Veja restringe-se a publicação da reportagem que tem como chapéu, título e linha fina, rspectivamente, Meio Ambiente Fumaça da discórdia A Conferência do Japão tenta chegar a um acordo sobre o aquecimento global, na edição 1525, de dez dezembro de Aqui, mais uma vez, a agricultura e a pecuária não são citadas. 3

4 COP 15 A ênfase dada aos problemas ambientais e as mudanças necessárias na cobertura da Conferência do Rio de Janeiro volta a ser dada 17 anos depois, em 2009, quando da realização da Conferência do Clima de Copenhague. A COP 15 foi destacada pela capa de Veja na edição 2143, de 16 de dezembro de 2009, e ainda em quinze páginas internas. Assim, quantificamos: Capa (com chamada principal e outras duas ligadas a ela (complementares): 1. Estamos devorando o planeta Agua, carne, peixe: o mundo já consome mais do que a Terra pode oferecer; 2. Copenhague: o suspense pelo acordo; 3. A esperança na nova Revolução Verde. Reportagem de capa/principal: Especial (chapéu) Fome de ar, água e comida (título) Os donos do mundo e seus sábios reunidos em Copenhague ainda não se entenderam sobre como salvar o planeta. A COP15 já funcionou porém, como uma martelada na cabeça dos líderes, alertando-os para a superlotação da Terra e a dramática escassez de recursos naturais (linha fina). Reportagens secundárias (ligadas à principal e a capa): 1. Especial (chapéu) Uma nova revolução verde (título) Para suprir o aumento na demanda mundial, a produtividade do campo precisará duplicar. A resposta terá de vir do avanço tecnológico, e não há razões para duvidar de que ela virá (linha fina); 2. Especial (cahpeú) Riqueza ameaçada (título) O governo federal prorroga uma norma ambiental que pode reduzir a produção de alimentos no Brasil. Mas o mais urgente ainda está por ser feito: reformar o confuso Código Florestal (linha fina). Na última das conferências climáticas, como podemos observar a partir dos títulos e das linhas finas apresentados acima, a cobertura de Veja está, ao contrário dos eventos anteriores, direcionada a co-relação problemas ambientais-produção de alimentos-atividade agropecuária. Conteúdo este, aparentemente, voltado a apresentar novas maneiras, sustentáveis, de produção nos campos brasileiros. Análise esta, de cunho qualitativo, que evidenciaremos num segundo momento da pesquisa iniciada com este resumo expandido. Comprometimento de ampliar a discussão Ao propor a análise da cobertura das conferências mundiais do clima pelas 4

5 revistas semanais brasileiras temos objetivos quantitativos e, também/sobretudo, qualitativos. O primeiro, de ordem númerica, constatativa, realizamos neste resumo expandido apresentado ao I Encontro Paraná/Santa Catarina de História da Mídia. Retomando, verificar a importância tomada aqui como índice -, crescente ou não, do discurso do caos climático e da atividade agropecuária como vilã ambiental, nas revistas semanais de informação em circulação no Brasil. Agora, sabemos, precisamos realizar a análise qualitativa desses discursos. Vereda esta que já estamos empreendendo e pretendemos apresentar no VIII Encontro Nacional de História da Mídia, em Adiantamos que neste empreitada encaramos os discursos midiáticos como superfícies de emergência, seguindo Foucault, das práticas discusivas. Afinal, são estas que produzem e fazem circular sentidos na sociedade, sendo a mídia, senão a principal, uma das principais construtoras e disseminadoras de redes discursivas e de sentidos na sociedade atual. REFERÊNCIAS FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Petrópolis: Vozes; Lisboa: Centro do Livro Brasileiro,