EFEITO DA PODA SOBRE CARACTERES AGRONÔMICOS EM MANDIOCA
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- Benedicta Anjos Balsemão
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1 EFEITO DA PODA SOBRE CARACTERES AGRONÔMICOS EM MANDIOCA Eduardo Alano Vieira 1, Josefino de Freitas Fialho 1, Francisco Duarte Fernandes 1, Roberto Guimarães Júnior 1, Marilia Santos Silva 1, Silvana Vieira de Paula-Moraes 1, Mário Ozeas Sampaio dos Santos Filho 1, ( 1 Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Caixa Postal 08223, Planaltina, DF. vieiraea@cpac.embrapa.br) Termos para indexação: Manihot esculenta Crantz, melhoramento genético, alimentação animal, poda, mandioca de indústria. Introdução A mandioca é cultivada na região do Cerrado do Brasil Central principalmente objetivando a produção de raízes tuberosas para a indústria de farinha e fécula ao então para o consumo in natura. Entretanto, apesar de no período da seca haver escassez de alimentação animal natural, em razão da queda na produtividade das pastagens, a maioria dos produtores ainda não utilizam a parte aérea e as raízes de mandioca como alimento para os animais. Como as raízes de mandioca são fontes de carboidratos e a parte aérea de proteínas (Carvalho, 1984; Lopes, 1998) a planta constituí-se em alimento alternativo na alimentação animal (monogástricos e/ou poligástricos) e em uma forma de diminuir os custos de produção. Tradicionalmente, os produtores vendem ou processam as raízes, utilizam o terço médio das hastes em novos plantios e o restante (folhas, pecíolos e hastes não utilizadas para o plantio) permanecem no campo e são incorporados ao solo. Um problema adicional para a cultura que apresenta propagação vegetativa é que o material para o plantio apresenta curto período de armazenamento o que faz com que o período de colheita (início das chuvas) coincida com o momento do plantio e com a época de máxima produção das pastagens. Dessa forma, se considerarmos que as variedades de indústria normalmente são colhidas aos dezoito meses após o plantio, o que coincide com o início da seca e de escassez de alimentos é possível à adoção de estratégias para o manejo da mandioca para triplo propósito: produção de manivas-sementes, produção de raízes e produção de parte aérea para alimentação animal. Nesse cenário, é possível considerar que uma opção de grande valia seria que o produtor efetuasse a poda do mandiocal aos 12 meses após o plantio (final da seca e início das chuvas) e utilizasse as manivas-sementes para novos plantios e o restante na alimentação animal. Assim após a poda a parte aérea da planta regeneraria e cresceria vigorosa até o
2 momento propício para a colheita aos 18 meses após o plantio (início da seca e escassez de alimentos), momento em que ainda estaria tenra e então poderia ser totalmente utilizada na alimentação animal, juntamente com as raízes que não estiverem aptas para a comercialização ou as que o produtor optar por utilizar na formulação de rações para comercialização ao consumo próprio. O objetivo do trabalho foi quantificar o efeito da poda da parte aérea aos 12 meses após o plantio sobre a produtividade de raízes, peso da parte aérea e teor de amido nas raízes de mandioca aos 18 meses após o plantio. Material e Métodos O experimento foi conduzido entre outubro de 2006 e abril de 2008 (18 meses), em área experimental da Embrapa Cerrados no município de Planaltina-DF. Foram avaliados 13 genótipos de mandioca sendo 11 híbridos em processo final de avaliação e duas variedades como testemunhas (IAC 12 e IAC 14). A relação dos genótipos avaliados está listada na Tabela 1. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com seis repetições, onde cada parcela foi composta por 4 linhas com 10 plantas em espaçamento de 1,20 m entre linhas e 0,80 m entre fileiras, sendo a área útil de cada parcela constituída pelas 16 plantas centrais. Aos 12 meses após o plantio foi efetuada uma poda da parte área a cerca de 10 cm do solo em todos os genótipos em três dos seis blocos. Tabela 1. Genótipos de mandioca analisados com respectivas cores da película das raízes (CP). Genótipos Tipo CP 6/88 Híbrido Branca PB Híbrido Branca 5/87 Híbrido Branca 2/87 Híbrido Marrom escuro 6/87 Híbrido Branca 10/87 Híbrido Branca 2/88 Híbrido Marrom escuro 3/88 Híbrido Branca PM Híbrido Marrom escuro 9794/06 Híbrido Marrom claro
3 8/87 Híbrido Branca IAC 12 Variedade Marrom escuro IAC 14 Variedade Marrom escuro * = aferido no momento da colheita por meio do método qualitativo descrito por Willians e Edwards (1980). A seleção do material para o plantio bem como os tratos culturais seguiram as recomendações do sistema de produção de mandioca para a região do Cerrado (Souza e Fialho, 2003). Os acessos foram aferidos quanto aos caracteres: i) peso da parte aérea sem a cepa em kg ha -1 (PPA); ii) produtividade de raízes em kg ha -1 (PR); e iii) porcentagem de amido nas raízes por meio do método da balança hidrostática (AM). Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas por meio do teste de comparação de médias de Tukey a 5% de probabilidade de erro. Todas as análises estatísticas foram realizadas com auxílio do programa Genes (Cruz et al., 2001). Resultados e Discussão Os resultados da análise de variância evidenciaram a existência de diferenças significativas entre os genótipos avaliados quanto aos caracteres peso da parte aérea sem a cepa em kg ha -1 (PPA), produtividade de raízes em kg ha -1 (PR) e porcentagem de amido nas raízes por meio do método da balança hidrostática (AM), revelando a existência de variabilidade entre os genótipos avaliados quanto a esses caracteres (Tabela 2). A existência de elevada variabilidade fenotípica no grupo de genótipos avaliados era esperada uma vez que estão sendo comparados híbridos e variedades recomendadas para o cultivo. Os resultados revelaram também a existência de diferenças significativas para todos os caracteres avaliados em relação ao manejo com e sem poda aos 12 meses após o plantio (Tabela 2), demonstrando a grande influência da poda na expressão dos caracteres PR, PPA e AM em mandioca. Tabela 2. Resumo da análise de variância dos caracteres peso da parte aérea sem a cepa em kg ha -1 (PPA), produtividade de raízes em kg ha -1 (PR), porcentagem de amido nas raízes por meio do método da balança hidrostática (AM), avaliados em 13 genótipos de mandioca com e sem poda da parte aérea os 12 meses após o plantio, na Embrapa Cerrados em Planaltina-DF. Fonte de Variação GL QM
4 PPA PR AM Genótipos (G) * * 10,36 * Poda (P) * * 46,25 * Interação (G x P) * * 1,80 * Resíduo ,18 Média ,19 CV (%) 4,83 3,44 1,34 * = significativo a 5% de probabilidade de erro pelo teste F. Também foi detectada a existência de interação significativa entre os genótipos e os manejos (com e sem poda) para os caracteres aferidos, indicando que os genótipos avaliados apresentam respostas diferenciadas para os caracteres PR, PPA e AM em função da poda. Os coeficientes de variação das análises de variância variaram de 1,34% para o caráter AM a 4,83% para PPA, conferindo elevada precisão experimental aos ensaios (Tabela 2). Em média, foi detectada uma redução significativa na PR, PPA e AM em consequência do manejo com poda aos 12 meses após o plantio (Tabela 3). As reduções médias detectadas foram de 4259 kg ha -1, 6186 kg ha -1 e 1,54% para os caracteres PPA, PR e AM, respectivamente (Tabela 3). Esta redução significativa na média dos caracteres aferidos, provavelmente tenha ocorrido em função da maioria dos genótipos podados terem utilizado as reservas de suas raízes no processo de rebrota e de formação de uma nova parte aérea (Moura e Costa, 2001). Apesar da redução detectada em percentual, ser razoavelmente elevada, 18,05%, 15,45% e 4,82% para PPA, PR e AM respectivamente, deve-se ser considerado nessa equação os benefícios oriundos do manejo com poda. Isso porque a poda aos 12 meses: i) garante ao produtor de mandioca manivas-sementes de elevada qualidade no momento ideal para o plantio (início das chuvas); ii) garante uma parte aérea com elevada qualidade nutricional (ramos mais tenros) no início da seca quando o mesmo precisara suplementar a alimentação de seu rebanho; e iii) diminui os custos de alimentação de seu rebanho na época da seca. Essa redução detectada na PR e AM resultaria em uma redução na produção de amido em torno de 2500 kg ha -1, se considerarmos que o preço médio da tonelada de amido paga ao produtor pela indústria é de R$ 85,00 o decréscimo de rendimento do produtor seria de R$ 215,50 por ha, valor muito baixo se pensarmos no quanto o mesmo vai economizar na aquisição de ração para seu rebanho utilizando a parte aérea excedente.
5 Tabela 3. Comparação de médias do peso da parte aérea sem a cepa em kg ha -1 (PPA), produtividade de raízes em kg ha -1 (PR) e porcentagem de amido nas raízes por meio do método da balança hidrostática (AM), avaliados em 13 genótipos de mandioca com poda (CP) e sem poda (SP) da parte aérea aos 12 meses após o plantio, na Embrapa Cerrados em Planaltina-DF. Genótipos PPA PPA PR PR AM AM CP SP CP SP CP SP 6/ Babc * Aa Bb Ab 29,04 Ba 31,74 Ac PB Bf Abcd Bf Af 30,90 Bbcd 32,48 Abc IAC Aab Bcd Aa Bb 31,92 Aab 31,74 Ac 5/ Bfg Aab Bf Ad 29,26 Ae 29,60 Ad 2/ Bd Ade Bd Aa 30,90 Bbcd 32,93 Aabc 6/ Bg Af Bf Ade 26,27 Bf 30,22 Ad 10/ Aef 8700 Bg Be Ad 31,63 Babc 33,78 Aa 2/ Bde Ae Bd Ac 31,24 Babc 32,53 Abc 3/ Bd Acd Be Ad 30,50 Bcd 32,59 Aabc IAC Aa Bcd Bc Ab 32,31 Ba 33,16 Aab PM Abc Acd Bd Ac 30,90 Bbcd 32,14 Abc 9794/ Abc Abc Acd Bef 29,77 Ade 30,17 Ad 8/ Ac Acd Be Ad 30,90 Bbcd 32,48 Abc Média B A B A 30,43 B 31,97 A * = médias seguidas pela mesma letra maiúscula na horizontal e minúscula na vertical não diferem entre si, a 5% de probabilidade de erro, pelo teste de Tukey. Dentre os genótipos avaliados revelaram um acréscimo no PPA no manejo com poda os genótipos IAC 12, IAC 14 e 10/87 e não apresentaram redução no PPA os genótipos 9794/06 e 8/87; em relação a PR revelaram acréscimo IAC 12 e 9794/06 e quanto ao AM não apresentaram redução nas médias em função da poda IAC 12, 5/87 e 9794/06 (Tabela 3). Esses resultados revelam que no grupo de genótipos avaliados existem indivíduos que respondem melhor ao manejo com poda aos 12 meses após o plantio. O acréscimo de PR e PPA revelado por alguns genótipos provavelmente esteja relacionado ao fato de que após a poda a planta tem seu balanço hormonal afetado o que diminui a dominância apical e faz com que a planta lance uma grande quantidade de brotações e folhas novas. Assim é possível que essa grande quantidade de brotações e folhas novas, nesses genótipos leves a um aumento da área e da eficiência fotossintética e por consequência no armazenamento de amido nas raízes. Em relação ao desempenho dos genótipos avaliados no manejo com poda se destacaram quanto ao PPA os genótipos IAC 12, IAC 14 e 6/88; em relação a PR os genótipos IAC 12 e 6/88 e quanto ao AM os genótipos IAC 12, 6/88, 10/87, 2/88 e IAC 14. Dessa forma
6 fica clara a superioridade de variedade já recomendada para o cultivo na região do Cerrado IAC 12 com PPA de kg ha -1, PR de kg ha -1 e AM de 31,92%. Em relação aos híbridos testados se destacou o 6/88 com PPA de kg ha -1, PR de kg ha -1 e AM de 29,04% (Tabela 3), em relação a esse híbrido é importante ressaltar que em relação a variedade IAC 12 o mesmo apresenta a grande vantagem de ter película da raiz branca, o que facilita a utilização das raízes na indústria (Tabela 1). No manejo sem poda, se destacaram quanto ao PPA os genótipos 5/87 e 6/88; em relação a PR os genótipos 6/88, 2/87, IAC 12 e IAC 14 e quanto ao AM os genótipos 2/87, 10/87 e 3/88. Neste manejo se destacaram os híbridos 2/87 com PPA de kg ha -1, PR de kg ha -1 e AM de 32,93% bem como o híbrido 6/88 com PPA de kg ha -1, PR de kg ha -1 e AM 31,74% (Tabela 3). Em relação a esses híbridos é importante ressaltar que o híbrido 2/87 apresenta uma maior produtividade de amido por hectare que o híbrido 6/88 que apresenta a grande vantagem de ter película da raiz branca, o que facilita a utilização das raízes na indústria (Tabelas 1 e 3). Conclusões O manejo de poda ao doze meses após o plantio em média reduz a produtividade de parte aérea, a produtividade e raízes e o teor de amido em raízes de mandioca e no grupo de genótipos avaliados se destacaram para o manejo com poda a variedade IAC 12 e o híbrido 6/88 e para o manejo sem poda os híbridos 2/87 e 6/88. Agradecimentos Os autores agradecem a Embrapa, Fundação Banco do Brasil, CNPq, FAPDF e ao Programa Biodiversidade Brasil-Itália pelo apoio financeiro. Referências Bibliográficas CARVALHO, J.L.H. A parte aérea da mandioca na alimentação animal. Informe Agropecuário, v.119, n.10, p.28-36, CRUZ, C.D. Programa genes: aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa: UFV, p. LOPES, H.O.S. Suplementação de baixo custo para bovinos. Brasília: Embrapa-SPI, 1998.
7 107p. MOURA, G.M.; COSTA, N.L. Efeito da freqüência de poda na produtividade de raízes e parte aérea em mandioca. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.36, p , SOUZA, L.S.; FIALHO, J.F. Sistema de produção de mandioca para a região do cerrado. Cruz da Almas: CNPMF, p.
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