COMPETIÇÃO DE ACESSOS DE MANDIOCA DE MESA NA EMBRAPA CERRADOS

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1 COMPETIÇÃO DE ACESSOS DE MANDIOCA DE MESA NA EMBRAPA CERRADOS Jana Buoso Malovany 1, Josefino de Freitas Fialho 1, Eduardo Alano Vieira 1, Marilia Santos Silva 1, Silvana Vieira de Paula-Moraes 1, Mário Ozeas Sampaio dos Santos Filho 1, Karina Nascimento da Silva 1, Marijaldo Francisco dos Santos 1, Rusival Silva de Souza 1 ( 1 Embrapa Cerrados, BR 020, Km 18, Caixa Postal 08223, Planaltina, DF. vieiraea@cpac.embrapa.br) Termos para indexação: Manihot esculenta Crantz, variabiliade genética, mandioca de mesa, melhoramento genético. Introdução A Região do Cerrado tem grande potencial para produção de alimentos, todavia, seus solos inférteis e a ocorrência de veranicos requerem sistemas de produção adequados que possibilitem sua exploração de forma racional e econômica. Costa et. al. (1988) relatam que a mandioca é uma das culturas mais indicadas para a região, por apresentar alto potencial de produção, baixo risco, baixa exigência em insumos e tolerância à acidez e ao alumínio tóxico do solo. Entretanto, o cultivo de variedades de mandioca de mesa, aipim ou macaxeira, para consumo in natura, requer muitos cuidados, uma vez suas características, principalmente qualitativas, são muito influenciadas pelos fatores ambientais. A mandioca de mesa é muito utilizada como fonte de calorias na alimentação do brasileiro, principalmente nas Regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. No Distrito Federal a área cultivada com mandioca de mesa é cerca de 850 ha, com média de produtividade de raízes de reserva de 16 t ha -1 (Souza et al., 2005). Entretanto, a expansão demográfica na região geoeconômica de Brasília criou mercado capaz de consumir a produção agrícola regional, porém, a oferta de mandioca não evoluiu em quantidade e, principalmente, em qualidade para abastecer esse mercado. Aguiar et al. (2005) mencionam que nessas condições a mandioca de mesa tem grande potencial de expansão, principalmente em função desse mercado e da alta lucratividade com o produto. A expansão desse mercado de mandioca de mesa, no entanto, depende de variedades que apresentem, além de alta produtividade e resistência às pragas e doenças, baixo teor de HCN nas raízes e certas características qualitativas, indispensáveis à comercialização para consumo in natura, como o tempo de

2 cozimento, a qualidade culinária da massa cozida e o tempo de conservação depois da colheita. Características essas que Pereira et al. (1985), mencionavam como fatores de alta variabilidade em mandioca e passíveis de seleção. O objetivo desse trabalho foi avaliar o desempenho agronômico de acessos de mandioca de mesa na Embrapa Cerrados. Material e Métodos O experimento foi conduzido entre outubro de 2006 e fevereiro de 2008, em área experimental da Embrapa Cerrados no município de Planaltina-DF. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados com três repetições, onde foram avaliados 11 acessos de mandioca de mesa mantidos no Banco Regional de Germoplasma de Mandioca do Cerrado (BGMC), listados na Tabela 1. Cada parcela foi composta por 4 linhas com 10 plantas em espaçamento de 1,20 m entre linhas e 0,80 m entre fileiras, sendo a área útil de cada parcela constituída pelas 16 plantas centrais. Tabela 1. Acessos de mandioca de mesa avaliados com respectivos nomes comuns, coloração da polpa da raiz (CPR) e teor de HCN nas raízes em ppm (HCN). Acessos Nome comum CPR HCN * BGMC 1282 PP3 branca 25 BGMC 753 IAC /Japonesinha creme 25 BGMC 1196 Sem denominação creme 15 BGMC 1277 Sem denominação creme 15 BGMC 1257 Cacau Dourada branca 25 BGMC 1189 Água Morna amarela 15 BGMC 768 Sem denominação amarela 15 BGMC 774 Sulista branca 25 BGMC 1132 Cacau branca 15 BGMC 982 Iapar 19/Pioneira creme 15 BGMC 1268 Clara de Ovo branca 25 * = aferido no momento da colheita por meio do método qualitativo descrito por Willians e Edwards (1980).

3 A seleção do material para o plantio bem como os tratos culturais seguiram as recomendações do sistema de produção de mandioca para a região do Cerrado (Souza e Fialho, 2003). Os dados aferidos nos acessos quanto aos caracteres i) altura da planta em m (AP); ii) altura da primeira ramificação em m (APR); iii) peso da parte aérea sem a cepa em kg ha -1 (PPA); iv) peso da cepa em kg ha -1 (PC); v) produtividade de raízes em kg ha -1 (PR); vi) índice de colheita por meio da razão entre o peso total de raízes e o peso total da planta (IC); vii) porcentagem de amido nas raízes por meio do método da balança hidrostática (AM) e viii) tempo de cocção em minutos (TC), foram submetidos à análise de variância e as médias foram comparadas por meio do teste de comparação de médias de Scott e Knott a 5% de probabilidade de erro. Todas as análises estatísticas foram realizadas com auxílio do programa Genes (Cruz et al., 2001). Resultados e Discussão Os coeficientes de variação das análises de variância de 5,01% para o caráter IC a 15,27% para o caráter TC, conferindo elevada precisão experimental ao ensaio (Tabela 2). Foram verificadas variações significativas (P<0,05) entre os acessos avaliados para todos os caracteres, exceto para o caráter AP, evidenciando a variabilidade genética entre esses acessos. Da mesma forma, essa ampla variabilidade foi demonstrada pela amplitude das médias de todos os caracteres avaliados (Tabela 2), o que sugere a influência tanto de fatores do ambiente, como de componentes genéticos, expressos pelos acessos. Variações essas que, na cultura da mandioca, já foram relatadas por vários autores como Pereira et al. (1985), Borges et al., (2002) e Vieira et al. (2007). Dentre os acessos avaliados foi detectada também variabilidade quanto ao teor de HCN nas raízes de reserva, que variou de 15 a 25 ppm, mostrando, portanto, que são acessos de mandiocas de mesa cujas raízes podem ser consumidas in natura (Tabela 1). Tabela 2 - Resumo da análise de variância dos caracteres altura da planta em m (AP), altura da primeira ramificação em m (APR), peso da parte aérea sem a cepa em kg ha -1 (PPA), peso da cepa em kg ha -1 (PC), produtividade de raízes em kg ha -1 (PR), índice de colheita por meio da razão entre o peso total de raízes e o peso total da

4 Fonte de variação planta (IC), tempo para a cocção em minutos (TC) e porcentagem de amido nas raízes por meio do método da balança hidrostática (AM), avaliados em onze acessos de mandioca na Embrapa Cerrados em Planaltina-DF. GL Quadrado médio AP APR PPA PC PR IC TC AM QM acessos 10 0,13 0,13 * * * * 0,009 * 42,74 * 16,12 * QM resíduo 20 0,06 0, ,0007 9,73 2,78 CV (%) 11,60 6,54 13, ,98 5,01 15,27 5,79 * = significativo a 5% de probabilidade de erro pelo teste F. Dentre os caracteres avaliados, o caráter AP foi o que apresentou o menor número de classes distintas (uma classe), ou seja, não houve diferenciação significativa entre os acessos para esse caráter. O que apresentou o maior número de classes distintas, no teste de comparação de médias (cinco classes), foi o caráter APR, cujas médias variaram de 0,23 a 0,97 m, para os acessos BGMC 1196 e BGMC 982, respectivamente (Tabela 3). Já o caráter PPA apresentou três classes distintas de médias, variando de kg ha -1 para o acesso BGMC 1189 a kg ha -1 para o acesso BGMC 982. Variações essas que devem ser consideradas na seleção de cultivares, uma vez que os caracteres AP, APR e PPA dão indicativos da estatura da planta, que é importante na produção de manivas-sementes, tratos culturais e colheita, acrescidos ainda da importância do PPA no aproveitamento como forragem para a alimentação animal. O caráter PC apresentou, no teste de comparação de médias, três classes distintas, cujas médias variaram de 3735 BGMC 1189 a 9120 kg ha -1 para o acesso BGMC O caráter PR apresentou, no teste de comparação de médias, sete classes distintas, onde as médias variaram de a kg ha -1 para os acessos BGMC 1189 e BGMC 1268, respectivamente. Em relação a PR todos os acessos obtiveram um bom desempenho com uma produtividade acima da média obtida pelos produtores no Distrito Federal. que é cerca de kg ha -1. Em destaque os acessos BGM 1268 (44209 kg ha -1 ), BGM 753 (42368 kg ha -1 ), BGMC 1257 (40206 kg ha -1 ), e BGMC 774 (38203 kg ha -1 ), sendo que todos possuem as raízes com polpa de coloração branca, exceto o BGM 753, com polpa creme, que

5 é nesse grupo o único recomendado para o plantio comercial no Distrito Federal. Enquanto que no caráter IC, que expressa à produção de raízes em relação à produção total da planta, as médias variaram de 0,45 a 0,63. Essas variações nos caracteres PPA, PR e IC são as respostas dos efeitos dos componentes genéticos e dos fatores de produção locais, como clima e solo, evidenciados no comportamento agronômico dos genótipos. O caráter TC, que expressa a qualidade culinária das raízes de reserva, apresentou duas classes distintas no teste de comparação de médias, cujas médias variaram de 12,67 min a 25,3 min, para os acessos BGMC 1196 e BGMC 1268, respectivamente (Tabela 2). Esses dados evidenciam a boa qualidade culinária de todos os acessos avaliados, principalmente dos BGMC 1196 e BGMC 1189, por apresentarem o cozimento rápido, abaixo de 30 minutos, de suas raízes de reserva, conforme Wheatley, 1987 e Normanha, Dentro desses acessos, devem ser destacados os já recomendados para o cultivo do DF, que apresentam cor da polpa da raiz creme BGMC 982 e BGMC 753 e os ainda não recomendados para o cultivo BGMC 1196 e BGMC 1277, que apresentam cor da polpa da raiz creme e os acessos BGMC 1189 e BGMC 768 com a cor da polpa da raiz amarela (Tabelas 1 e 3). Considerando que a maior parte do mercado de mandioca de mesa no Distrito Federal, é de mandiocas de coloração da polpa das raízes creme ou amarela. Entretanto, os acessos de polpa branca são alternativas de plantio para os produtores, em virtude do rendimento e da boa qualidade culinária de suas raízes. Tabela 3. Comparação de médias dos caracteres altura da planta em m (AP), altura da primeira ramificação em m (APR), peso da parte aérea sem a cepa em kg ha -1 (PPA), peso da cepa em kg ha -1 (PC), produtividade de raízes em kg ha -1 (PR), índice de colheita por meio da razão entre o peso total de raízes e o peso total da planta (IC), tempo para a cocção em minutos (TC) e porcentagem de amido nas raízes por meio do método da balança hidrostática (AM), avaliados em onze acessos de mandioca na Embrapa Cerrados em Planaltina-DF. Acessos BGMC ,10 A * Caracteres AP APR PPA PC PR IC TC AM 0,73 C B 4548 C C 0,50 D 25,00 A 30,28 A BGMC 753 2,17 A 0,83 B A 5709 C A 0,58 B 20,00 A 28,96 A

6 BGMC ,03 A 0,23 E B 3944 C C 0,60 B 12,67 B 29,97 A BGMC ,17 A 0,83 B A 4107 C C 0,45 D 20,00 A 28,08 A BGMC ,37 A 0,93 A A 6372 B A 0,55 B 21,67 A 29,86 A BGMC ,73 A 0,73 C C 3735 C C 0,63 A 15,67 B 30,20 A BGMC 768 1,90 A 0,73 C A 5218 C B 0,49 D 21,33 A 27,32 B BGMC 774 1,83 A 0,57 D A 7048 B A 0,48 D 23,67 A 25,72 B BGMC ,17 A 0,67 C B 4758 C C 0,49 D 19,33 A 24,07 B BGMC 982 2,20 A 0,97 A A 4818 C B 0,53 C 20,00 A 31,56 A BGMC ,40 A 0,93 A A 9120 A A 0,52 C 25,33 A 31,03 A Média 2,10 0, ,53 20,42 28,82 Amplitude # 0,67 0, ,18 12,66 7,49 * = Médias seguidas de letras distintas na coluna diferem entre si a 5% de significância pelo teste de separação de médias de Scott e Knott; # = diferença entre a maior e a menor média. Quanto ao caráter AM, no teste de comparação de médias, os acessos foram agrupados em duas classes distintas, cujas médias variaram de 24,07 no BGMC 1132 a 31,03 no acesso BGMC 1268, evidenciando variação em função dos componentes genéticos e fatores ambientais. Dessa forma, os resultados mostram que alguns acessos avaliados apresentam elevado potencial agronômico e que, portanto devem ser avaliados por um maior número de anos em um maior número de locais para terem sua qualidade superior validada. Sendo um aspecto interessante a ressaltar, o comportamento agronômico dos acessos BGMC 1257 e BGMC 1268 pela superioridade de todos os caracteres avaliados em relação aos outros acessos avaliados, surgindo como alternativas de plantio, principalmente, para os produtores de agricultura familiar, com o duplo propósito de produção de mandioca para o mercado de mandioca de consumo in natura e o mercado de farinha, apesar da coloração da polpa das raízes serem brancas. Conclusões Os resultados mostraram que existe ampla variabilidade fenotípica entre os acessos

7 avaliados e que os mesmos apresentam potencial para o cultivo na Região Distrito Federal e Entorno, portanto, devem ser avaliados por um número maior de anos em um número maior de locais. Agradecimentos Os autores agradecem a Embrapa, Fundação Banco do Brasil, CNPq, FAPDF e ao Programa Biodiversidade Brasil-Itália pelo apoio financeiro. Referências Bibliográficas AGUIAR, J.L.P.; BARRETO, B.; SOUSA, T.C.; FIALHO, J.F. Cadeia produtiva da mandioca no Distrito Federal: Caracterização do consumidor final. ln: CONGRESSO BRASILEIRO DE MANDIOCA, XI, 2005, Campo Grande. Resumos... Campo Grande, MS: Embrapa Agropecuária Oeste, BORGES, M. F.; FUKUDA, W. M. G.; ROSSETTI, A. G. Avaliação de variedades de mandioca para consume humano. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.37, p , COSTA, I. R. S.; PERIM, S. Variedades de mandioca-brava resistente a bacteriose, para a região geoconômica de Brasília. Planaltina: Embrapa-CPAC, p. (Embrapa-CPAC. Comunicado Técnico, 31). CRUZ, C.D. Programa genes: aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa: UFV, p. NORMANHA, E. S. O mau cozimento dos aipins: uma hipótese. Agronômico, v. 40, p , PEREIRA, A. S.; LORENZI, J. O.; VALLE, T. L. Avaliação do tempo de cozimento e padrão de massa cozida em mandioca de mesa. Revista Brasileira de Mandioca, v. 4, p.27-32, SOUZA, T.C.; BARRETO, B.; AGUIAR, J.L.P. Perfil do produtor de mandioca no Distrito Federal. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MANDIOCA, XI. Resumos... Campo Grande: Embrapa Agropecuária Oeste, Não paginado. SOUZA, L.S; FIALHO, J.F. Sistema de produção de mandioca para a região do cerrado. Cruz da Almas: CNPMF, p. VIEIRA, E.A.; FIALHO, J.F.F.; SILVA, M.S.; FALEIRO, F.G. Variabilidade genética do banco ativo de germoplasma de mandioca do cerrado acessada por meio de descritores morfológicos. Planaltina: CPAC, p.

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