Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
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- Regina Macedo César
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1 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 1
2 PEQUI SCLN 408 Bloco E Sala 201 Brasília - DF CEP Telefone e Fax: (61) pequi@pequi.org.br Organização e elaboração do conteúdo: Isabel Belloni Schmidt, Isabel Benedetti Figueiredo e Maurício Bonesso Sampaio Texto: Fábio Carvalho, Isabel Belloni Schimdt, Maurício Bonesso Sampaio e Isabel Benedetti Figueiredo Ilustração, arte e diagramação: Fábio Carvalho Fotografias: Isabel Belloni Schmidt, Isabel Benedetti Figueiredo, Maurício Bonesso Sampaio e Ísis Meri Medri Colaboração: Ana Palmira Silva, Angélica Beatriz Corrêa Gonçalves, Cassiana Solange Moreira, Gabriel Antunes Daldegan, Igor de Carvalho, Luis Carazza, Maurício José Alexandre de Araújo, Paulo Takeo Sano, Rinaldo Pinheiro de Farias FICHA CATALOGRÁFICA C243 Capim dourado e buriti: práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato / Organização de Isabel Belloni Schmidt ; Isabel Benedetti Figueiredo ; Maurício Bonesso Sampaio ; Ilustração de Fábio S. H. de Carvalho. - Brasília : PEQUI - Pesquisa e Conservação do Cerrado, p. : il. ; 21 cm. 1. Meio ambiente Cerrado. 2. Extrativismo sustentável. 3. Artesanato produtos não madeireiros. 4. Veredas. I. Schmidt, Isabel Belloni. II. Figueiredo, Isabel Benedetti. III. Sampaio, Maurício Bonesso. IV. Carvalho, Fábio S. H. de. V. Título. CDD CDU Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
3 Abril, 2007 Capim dourado e buriti Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 3
4 Índice Apresentação...5 O Jalapão e o Cerrado...8 O início do artesanato...13 O capim dourado...16 A colheita do capim dourado...18 O buriti...20 A colheita do olho do buriti...22 O manejo com o fogo...26 Extrativismo sustentável...29 Geração de renda...31 Só pra lembrar Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
5 Apresentação Esta cartilha chegou em suas mãos porque temos um problema para resolver e precisamos da colaboração de todos: precisamos garantir a sustentabilidade do artesanato de capim dourado e seda de buriti na região do Jalapão! Boa parte da renda das comunidades do Jalapão é gerada pelo comércio deste artesanato. E para garantir a continuidade desta atividade é preciso respeitar o frágil ambiente, conservando o Cerrado da região, e respeitar o povo local, garantindo uma vida digna a todas as pessoas. E é justamente com este objetivo que esta cartilha aborda este assunto, trazendo informações e resultados de mais de três anos de pesquisa. Neste projeto, a PEQUI Pesquisa e Conservação do Cerrado trabalha em conjunto com muitas instituições: a Diretoria de Floretas do Ibama, o Parque Estadual do Jalapão, o Naturatins (Instituto Natureza do Tocantins), a Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, o Ibama em Tocantins, a Embrapa Cenargen e a Universidade de Brasília. Além disto, contamos com o importantíssimo apoio da Associação Capim Dourado do Povoado da Mumbuca, que solicitou a realização de pesquisas e participou de seu planejamento e execução. Também temos o valioso apoio de extrativistas e associações de outras comunidades do Jalapão. Ao longo deste caminho, contamos com recursos financeiros da Diretoria de Florestas do Ibama e do Programa de Pequenos Projetos Ecossociais PPP-ECOS GEF/PNUD. Para contribuir com a sustentabilidade ambiental e econômica do extrativismo buscamos informações sobre: a) como os extrativistas exploram e manejam as plantas; b) aspectos da vida das plantas, como crescimento e reprodução; c) e os impactos do extrativismo sobre as plantas utilizadas. Com estas informações, podemos propor práticas de manejo para o extrativismo sustentável. As pesquisas foram feitas próximo à Mumbuca, mas as recomendações da cartilha são válidas para todo o Jalapão e seus extrativistas. Sendo assim, boa leitura! PEQUI Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 5 5
6 O capim dourado tá que nem artista de televisão, cada dia mais famoso. E fama, a gente sabe, acontece assim: um comentário aqui, outro ali, uma prosa lá, outra acolá, e de repente tem um mundo de gente falando e querendo saber mais sobre o assunto Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
7 Mas quando o assunto é capim dourado, é preciso falar, logo de início, que o artesanato é feito com a seda de buriti também. E é preciso falar sobre várias outras coisas. Já que a fama desperta a curiosidade das pessoas, a gente quer é que todo mundo saiba ainda mais sobre o que acontece antes, durante e depois do capim dourado e da seda de buriti virarem artesanato e viajarem para vários cantos do Brasil e até mesmo para outros países. E para ajudar a passar todo este conhecimento nesta cartilha, criamos quatro personagens Este é o Zé do Capim, esta é a Maria Dourada, esta é a Ana Vereda e este é o João Fogão. Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 7
8 ia O Jalapão e o Cerrado Jalapão é a região onde começou a fama do artesanato de capim dourado e seda de buriti. O Jalapão fica no leste do Estado do Tocantins, na divisa com a Bahia, o Piauí e o Maranhão. Tocantins gua Rio Ara Rio Palmas Jalapão E dá pra ver no mapa que, assim como várias outras regiões do Brasil, o Jalapão também está no Cerrado. Estado do Tocantins Mas, infelizmente, o Jalapão é um dos poucos locais que tem uma boa área de Cerrado conservada. Na maioria dos outros lugares, o Cerrado vem sendo destruído por conta das grandes lavouras e das grandes criações de gado. 8 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 8 Capim dourado e buriti: práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
9 O Cerrado apresenta, de uma forma geral, 6 tipos de vegetação, que são: campo limpo, campo sujo, cerrado sentido restrito (ou propriamente dito), cerradão, mata ciliar e vereda. Além destes 6 tipos de vegetação, no Jalapão se vê ainda impressionantes dunas de areia. Apesar disto, não podemos dizer que a região é um deserto, pois, além de outros fatores, nela existem muitas nascentes, muitos córregos, rios e riachos. Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato Capim dourado e buriti: práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 9 9
10 mata ciliar campo úmido Pois é... Até onde eu sei, os buritis nascem nas veredas e no meio das matas ciliares. Mas e o capim dourado, nasce a onde? O capim dourado, João, nasce nos campos úmidos, que são um tipo de campo limpo, com vegetação rasteira, sem arbustos e sem árvores. Os campos úmidos ficam encharcados durante as chuvas e com menos água durante o período de seca. Falo, falo sim. É, e os campos úmidos ficam, geralmente, ao lado das matas ciliares ou das veredas. Sempre perto de onde tem água. Você podia falar um pouco sobre isso, né Ana? 10 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
11 Todo mundo sabe que sem água não há vida e sem vida não há nada. Por isso, toda e qualquer área úmida é considerada, no Código Florestal Brasileiro, como Área de Preserva- ção Permanente ermanente, ou seja, as áreas úmidas são protegidas por lei. Isso significa que que elas não podem ser devastadas. Isto porque a conservação e a qualidade da água de um ambiente dependem de suas áreas úmidas. Assim, se quisermos conservar o nosso querido capim dourado, a gente tem que conservar as áreas úmidas como um todo. Isto é, todas as outras plantas nativas, todos os animais que vivem e passam por ali e, principalmente, as nascentes, os córregos e os rios. Capim dourado e buriti: - práticas Práticas para para garantir a a sustentabilidade do do artesanato 11
12 O início do artesanato Contam as pessoas mais antigas que o artesanato feito com capim dourado e seda de buriti começou no Jalapão, há mais ou menos 80 anos. Pois, então. Essa história teve início no povoado da Mumbuca, quando os índios Xerente, que vinham lá do lado do Araguaia, ensinaram o Seu Firmino a costurar capim dourado com seda de buriti. É... E você sabe, né Maria, que foi o Seu Firmino quem ensinou as suas sobrinhas. Dentre elas, a Dona Laurina, que é mãe da Dona Miúda e da Dona Laurentina. E foi com a Dona Miúda que o artesanato se popularizou... Mas algumas outras mulheres, como a Dona Inocência e a Dona Severa, de Mateiros, também faziam e ensinavam a fazer artesanato de capim dourado... Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
13 No início, o que mais se fazia eram chapéus e cestos. Mais para usar do que para vender. Então, lá pelos anos 96, 97, 98, o governo de Tocantins e algumas prefeituras, principalmente a da cidade de Mateiros, passaram a ajudar na divulgação do artesanato de capim dourado e seda de buriti. Além disso, nessa mesma época, a região passou a ser muito visitada por turistas interessados no ecoturismo. Até porque, lá foram criadas três Unidades de Conservação de proteção integral e duas Áreas de Proteção Ambiental (APAs). Veja o mapa na página seguinte. Unidades de Conservação de Proteção Integral: - Parque Estadual do Jalapão - Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins - Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba Áreas de Proteção Ambiental (APAs): - APA Jalapão - APA Serra da Tabatinga Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 13
14 Região do Jalapão 14 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
15 Pra vocês verem: no final dos anos 90, aumentou tanto o número de pessoas envolvidas com o artesanato que muitos homens trocaram de trabalho e começaram a costurar capim dourado também. É, e a procura foi tanta que a atividade começou a se espalhar por quase toda a região: Mateiros, São Félix, Ponte Alta, Novo Acordo, Rio Novo, Carrapato, Formiga, Galheiros, Prata, Boa Esperança, Borá, Mumbuquinha, Fazenda Nova e tantas outras... E tem mais: a partir do ano 2000, várias associações de coletores e artesões foram fundadas. Hoje, já são mais de 15 espalhadas pela região. Isso significa mais de 600 artesões cadastrados. Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 15
16 O capim dourado Quase todas as plantas conhecidas têm um ou mais de um nome popular. Depende de cada região. E quase todas as plantas também têm um nome científico. No entanto, o nome científico não depende da região. O nome científico é igual em qualquer lugar do mundo e é escrito em latim. Assim, o nome científico do capim dourado é Syngonanthus nitens. Nitens, em latim, significa brilho. O curioso é que o capim dourado não é uma gramínea como os outros capins. O capim dourado, na verdade, é uma sempre-viva da família das Eriocauláceas. 16 Capim dourado e buriti: - práticas Práticas para para garantir garantir a a sustentabilidade do do artesanato 16
17 Muita gente acha que o capim dourado é só um filetinho de palha e pronto. Mas não é, não! Na base tem uma roseta de folhas, também conhecida como sapata ou pé. E lá na ponta do haste tem as flores. 1 mm No Jalapão, as flores do capim dourado se abrem entre julho e agosto. Depois de serem polinizadas, elas produzem as sementes, que ficam maduras só a partir de setembro. É nesta época que as hastes ficam secas. As hastes secas é que são brilhosas e boas para fazer o artesanato. 4 cm Resultados das pesquisas - Cada flor de capim dourado pode produzir até 250 sementes (em média, produz 60 sementes); - Quase todas as sementes germinam (a cada 100 observadas, mais de 90 germinaram); - O capim dourado pode dar flor no primeiro ano de vida e florescer várias vezes durante sua vida; - Cada planta produz 1 ou 2 hastes por floração. Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 17
18 A colheita do capim dourado Já que as sementes amadurecem e as hastes secam na metade de setembro, é só a partir desta época que a gente deve fazer a colheita.isto até virou lei!!! O Naturatins, por meio do Parque Estadual do Jalapão, criou uma lei para a colheita do capim dourado (Portaria n 092/2005). Esta lei diz que o capim dourado só pode ser colhido depois do dia 20 de setembro e que, além disso, no momento da colheita, as flores devem ser cortadas e jogadas no campo úmido onde foram colhidas. A lei diz ainda que o capim dourado não pode ser comercializado in natura (antes de virar artesanato) para fora do Jalapão. Isso é sério, pessoal. É preciso esperar o capim dourado produzir a semente pra depois colher. E o melhor: se na hora da colheita a gente jogar as sementes no chão, nós vamos garantir a dispersão e o nascimento delas. Se não fizermos isso, se não cortarmos as cabecinhas, iremos levar as sementes pra casa. E na nossa casa as sementes não vão nascer! 18 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
19 Resultados das pesquisas - Colher após 20 de setembro, não prejudica o capim dourado; - Colher hastes verdes pode arrancar a roseta. No ritmo de colheita do capim dourado, pode ser desenterrada mais de uma roseta por minuto. Assim, em uma hora, podem morrer até 100 plantas adultas! Vocês sabem da história das sempre-vivas mineiras? Lá em Minas Gerais, na região de Diamantina, há muitos anos o povo já faz arranjo de sempre-vivas para vender. E de tanto colherem as hastes ainda em flor, isto é, antes das plantas produzirem sementes, muitas espécies de sempre-vivas desapareceram! Por isso, mesmo o capim dourado sendo muito comum nos campos úmidos do Jalapão, se a gente não cuidar ele pode acabar! Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 19
20 O buriti Para fazer o artesanato de capim dourado é preciso uma linha para costurar. Essa linha é tirada do buriti: é a seda de buriti. Por isso, assim como o capim dourado, o buriti também merece muito a nossa atenção. 20 Capim dourado 20e buriti Capim - Práticas dourado para e buriti: garantir práticas a sustentabilidade para garantir do a artesanato sustentabilidade do artesanato 20 20
21 Vocês sabem, né, que existem buritis machos e buritis fêmeas? Pois, é. Mas só as fêmeas produzem frutos e cada cacho pode ter até 4 mil frutos! E o nome científico do buriti que é Mauritia flexuosa! Mas o apelido dele é árvore da vida, pois do buriti dá pra aproveitar tudo. Com a polpa do fruto dá pra fazer suco, doce, geléia, licor, bolo etc. Do caroço do fruto é tirado o óleo, que serve pra cozinhar, fazer sabão E o tronco, que serve pra construir casas e outras coisas! As folhas verdes servem para fazer telhado, cestos e etc. O talo das folhas é usado pra fazer móveis e até brinquedo... Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 21
22 A colheita do olho do buriti Olho do buriti é a folha nova que ainda não abriu. Dele é retirada a seda de buriti, que só depois de seca é utilizada para costurar o capim dourado. O olho é colhido dos buritis jovens, aqueles que têm entre 4 e 10 metros de altura e que ainda não produziram flores nem frutos. Os melhores buritis para fazer a colheita são os que têm muitas folhas grandes e verdes. 22 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
23 Os buritis jovens podem produzir de 1a 5 olhos por ano. E a gente sabe muito bem que, como todas as plantas, o buriti precisa das folhas para viver. Quem entende do assunto diz que nós não devemos colher dois olhos seguidos de um mesmo pé de buriti. E é bom escutar quem entende... Na hora de colher, tem que chegar no pé e ver se tem um talo cortado, que foi do último olho colhido. Se tiver o talo e não tiver outra folha mais nova que esse talo, ainda não deu tempo do buriti guardar uma folha pra ele. Então, não podemos colher o olho deste buriti. Assim, fica uma boa parceria: uma folha para o buriti e outra para o extrativista! 23 Capim dourado e buriti: práticas Capim para garantir dourado a e sustentabilidade buriti - Práticas do para artesanato garantir a sustentabilidade do artesanato 23
24 Se os buritis jovens produzem de 1a 5 olhos por ano, nós podemos tirar uma média e dizer que eles produzem 3 olhos por ano, certo? Então, isso significa que, de uma forma geral, o buriti demora 4 meses para produzir um olho! Isso tudo??!!! Você tá brincando, João! Então, se nós não podemos colher 2 olhos seguidos de um mesmo buriti, isso quer dizer que a gente só pode colher 1 olho a cada 8 meses??!!! Não acredito!!! Mas pode acreditar, Maria, porque é isso mesmo. E tem mais: quando a gente colhe muitos olhos ou muitas folhas de um buriti sem dar o tempo certo da colheita, esse buriti fica, como o povo diz, acanhado, pois passa a produzir menos folhas e folhas menores e pode até morrer. 24 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
25 Pergunta: Se em uma comunidade tem 50 pessoas fazendo artesanato e cada pessoa precisa de 1 olho por mês, quantos pés de buriti jovem são necessários para não faltar seda em 2 anos de trabalho? Resposta: Para não faltar seda em um comunidade com 50 pessoas fazendo artesanato são necessários 400 pés de buriti jovem em 2 anos de trabalho! Veja as contas: - Quantos olhos em 2 anos são utilizados? 50 pessoas x 1olho por mês = 50 olhos por mês 50 olhos por mês x 24 meses = 00 olhos em 2 anos - Quantos olhos de um só buriti pode tirar em 2 anos? a cada 8 meses 1 olho X = 24 dividido por 8 a cada 24 meses X olhos X = 3 olhos em 2 anos - Quantos buritis são necessários em 2 anos? 3 olhos 1 pé buriti 00 olhos Y pés de buritis Y = OO dividido por 3 Y = 400 pés de buritis em 2 anos Observação: É bom lembrar que estas contas foram feitas considerando a produção anual média de 3 olhos por buriti. Mas existem buritis que podem produzir até 5 olhos e outros que produzem só 1. Essa conta é só pra gente saber que precisa de muitos buritis! Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 25
26 O manejo com o fogo No Jalapão, o fogo é muito utilizado para fazer rebrotar o pasto, fazer roça e, também, para manejar as áreas de colheita de capim dourado. Isso porque o fogo limpa a área e, como o povo diz, desabafa o capim dourado. Há também quem acredite que as cinzas adubam o solo e estimulam o crescimento das plantas. É, mas aí tem um problema! Quando o fogo passa muitas vezes na mesma área, o solo fica exposto ao sol, os nutrientes vão embora e as plantas enfraquecem! Por isso, queimar a mesma área muitas vezes seguidas pode desequilibrar o ambiente e prejudicar, inclusive, o capim dourado. 26 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
27 Além do mais, por várias vezes, o fogo já se espalhou pelo Cerrado a fora, queimando o que se pretendia e o que não devia. Por isso, quem for fazer uma queimada, não pode deixar o fogo chegar nas veredas, no topo das serras e nem nas matas, principalmente nas matas na beirada dos rios, córregos e nascentes. Isso é muito sério! Sem vegetação, caem os barrancos, assoreando os rios e córregos, os brejos ficam secos, morrem as nascentes e todos nós ficamos sem água! O fogo pode até ajudar na colheita do capim dourado. Mas deve ser usado com sabedoria pra não virar um grande incêndio. E pra não perder o controle do fogo, é preciso seguir algumas orientações. Vejam só: Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 27
28 QUEIMADA CONTROLADA Antes de começar a queimada: 1) Avise o pessoal da comunidade e organize um mutirão. Tente juntar o maior número de pessoas possível; 2) Veja se a brigada de incêndio do seu município pode ajudar; 3) Faça aceiros ao redor da área que se pretende queimar; 4) Faça a queimada em horários de menor calor e menos vento, de preferência no final da tarde; 5) Use luvas e botas e tenha sempre em mãos abafadores de fogo; 6)Distribua o pessoal ao redor da área que vai ser queimada; 7) Vá queimando por partes e contra o vento. A queima contra o vento é muito importante. Quando o fogo tiver avançando de um lado da área, coloque fogo do outro lado, fazendo o contrafogo. 8) Se preciso, solicite ao IBAMA e ao Naturatins treinamento e equipamento para fazer a queimada controlada. Fonte: IBAMA - PREVFOGO 28 Capim dourado e e buriti: - práticas Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 28
29 Extrativismo sustentável Sabemos que extrativismo sustentável significa tirar da natureza os recursos que ela tem disponível, atendendo as necessidades do presente sem comprometer o futuro. Só que para isso é preciso levar em consideração 4 coisas: 1) os fatores ecológicos (os recursos naturais); 2) os fatores sociais (as pessoas); 3) os fatores políticos (a forma de organização das pessoas); 4) e os fatores econômicos (a geração de renda). Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 29
30 Então, quer dizer que extrativismo sustentável significa tirar da natureza pra poder gerar renda? Não é só isso, Maria. Para ser sustentável mesmo tem que saber duas coisas. Primeiro: tem que extrair os recursos naturais sem acabar com eles, isto é, conservando a natureza. E, segundo, tem que gerar renda sem explorar as pessoas. A não exploração entre as pessoas é o que garante a igualdade social. Eu concordo. E acho ainda que uma forma de evitar a exploração entre as pessoas é a organização de associações e de cooperativas, sem patrão, nem empregado! 30 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
31 Geração de renda O Cerrado possui várias plantas nativas que podem virar produtos de qualidade e gerar renda para as famílias da região. O nosso grande exemplo é o artesanato de capim dourado e seda de buriti. Mas têm também inúmeras frutas que podem virar polpa, doces, sorvetes, etc. Têm folhas, cascas e raízes medicinais. Têm fibras, palhas, troncos e sementes que podem virar outros artesanatos. E tem mais... Dessa forma, o extrativismo sustentável pode ser sempre uma fonte de renda para os povos do Cerrado. Basta saber informações sobre a vida das plantas, as formas de manejo e de colheita O extrativismo sustentável no Jalapão é uma forma de gerar renda para as comunidades locais. Mas tão importante quanto isso, o extrativismo sustentável é também uma forma de conservar o Cerrado, ao contrário das grandes plantações e das grandes criações de gado, que destroem a vegetação, expulsam os animais silvestres, esgotam o solo, poluem e diminuem o volume das águas e praticamente não geram benefícios para o povo local. Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 31
32 No entanto, quando se fala em geração de renda, é bom $ lembrar de uma coisa: onde tem dinheiro sempre tem gente querendo tirar vantagem para se dar bem. Gente de todo tipo. Desde um morador da comunidade, até grandes empresários de fora. Seja explorando o trabalho das pessoas, querendo comprar o artesanato por um preço baixo pra vender por um preço alto. Seja prejudicando a natureza e o ciclo natural das plantas, desrespeitando as regras da colheita para adquirir cada vez mais matéria-prima. Pois é, o negócio é fazer o que a Ana falou. Tem que organizar as associações e as cooperativas. É claro. Mesmo porque, com as associações organizadas, além de ter mais força pra garantir que o extrativismo seja sustentável, a gente consegue negociar direto com as lojas das cidades grandes. É isso aí, sem ter que aceitar qualquer preço imposto por alguns intermediários. 32 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
33 Só pra lembrar Bom, chegamos ao fim desta cartilha. Como se viu, o objetivo aqui é divulgar informações para garantir a sustentabilidade do artesanato de capim dourado e seda de buriti no Jalapão. E foi mostrado no decorrer destas páginas que garantir a sustentabilidade do artesanato significa duas coisas: a) Zelar não só pela conservação destas duas plantas, mas, sim, pela conservação de todo o Cerrado. b) E assegurar que a relação entre as pessoas que estão envolvidas com o trabalho do artesanato não seja marcada pela exploração e, sim, pela dignidade. Mas, para garantir estas duas coisas, é preciso estar sempre atento a 9 questões, descritas na página seguinte. Agradecemos as instituições e todas as pessoas que contribuiram com as pesquisas e, portanto, com a as informações apresentadas nesta cartilha. Um grande abraço da PEQUI! Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do do artesanato 33
34 1 Colher capim dourado só depois do dia 20 de Setembro, pois só após esta data que as sementes estão maduras. 2 Na hora da colheita do capim dourado, cortar as flores e espalhá-las pelo campo úmido em que foram colhidas. 3 Não comprar capim dourado de quem não toma estes cuidados na hora da colheita. Nunca compre capim verde! 4 Não vender capim dourado in natura para fora da sua região. A lei do capim dourado diz isso. As outras regiões também deveriam seguir este exemplo, pois, assim, o capim dourado irá gerar renda na região em que foi colhido. 5 Não colher 2 olhos seguidos de um mesmo buriti e, sim, colher do mesmo pé, no máximo, 1 olho a cada 8 meses. 6 Colher olho do buriti nas veredas mais distantes também. Isso para não explorar demais e, assim, prejudicar as veredas mais próximas das comunidades. 7 Nunca compre seda de buriti de quem não toma estes cuidados na hora da colheita! 8 Tomar muito cuidado quando for fazer fogo. Faça queimada controlada pra não virar incêndio! 9 Fortalecer as associações para organizar o trabalho e gerar renda conservando a natureza! Capim Capim dourado dourado e buriti e buriti - Práticas - Práticas para para garantir garantir a a sustentabilidade sustentabilidade do do artesanato artesanato Lembrar sempre:
35 A PEQUI é uma organização não-governamental (OnG), sediada em Brasília, que tem por objetivos: 1.Organizar e executar avaliações ecológicas para identificar, diagnosticar e propor a criação de áreas protegidas; 2.Divulgar informações úteis à conservação do Cerrado; 3.Conscientizar a opinião pública sobre a importância da conservação do meio ambiente, notadamente do Cerrado. A PEQUI atua na região do Jalapão desde Inicialmente, participou da elaboração do Plano de Manejo do Parque Estadual do Jalapão, elaborou o Plano de Utilização da Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN Minehaha, localizada ao sul da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins e, atualmente, tem realizado pesquisas para contribuir com o manejo e conservação de capim dourado (Syngonanthus nitens) e buriti (Mauritia flexuosa). Desde o início dos trabalhos no Jalapão a PEQUI estabeleceu profícua parceria com o Ibama, o Naturatins e as unidades de conservação da região. A publicação desta cartilha é uma etapa do longo caminho necessário para garantir a conservação do Jalapão, região que abriga um dos maiores remanescentes de Cerrado no Brasil. Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato 35
36 Realização Financiamento Apoio 36 Capim dourado e buriti - Práticas para garantir a sustentabilidade do artesanato
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