OS DISCURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PÚBLICA VEICULADOS NO JORNAL O ESTADO DE MATO GROSSO NOS ANOS 1960
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- Aparecida Gorjão da Fonseca
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1 OS DISCURSOS SOBRE A EDUCAÇÃO PÚBLICA VEICULADOS NO JORNAL O ESTADO DE MATO GROSSO NOS ANOS 1960 Rômulo Pinheiro de Amorim Doutorando em Educação Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) romulo79@gmail.com Resumo O presente artigo tem como objetivo analisar as representações construídas sobre a educação pública veiculados no jornal O Estado de Mato Grosso nos anos A definição dos anos 1960 como recorte temporal deste estudo foi devido à elaboração de planejamentos educacionais realizados pelo governo federal, que influenciaram a organização da educação escolar no estado, principalmente no que se refere à constituição de uma estrutura voltada para a formação e aperfeiçoamento de professores matogrossenses. O jornal O Estado de Mato Grosso foi criado em 1939, e funcionou no estado por um período de 40 anos, com um total de 7749 edições. Este jornal noticiou várias matérias relacionadas à situação do ensino público do estado diante das ingerências dos governos federal e estadual na educação de Mato Grosso. Sendo assim, este artigo procura compreender como as questões educacionais foram narradas nos conteúdos publicados no referido jornal. O subsídio teórico escolhido para este estudo foi o conceito de representações, que é compreendido como delimitações, classificações e divisões que indivíduos e grupos organizam sobre si mesmos ou sobre algum aspecto do mundo social. Para a realização deste texto foram consultadas diversas matérias publicadas no jornal O Estado de Mato Grosso, localizada no arquivo do Núcleo de Documentação e Informação de História Regional NDIHR/UFMT e da literatura relacionada à história da educação. As análises indicaram que diversos discursos difundidos nos conteúdos do jornal procuravam enaltecer a atuação do Estado na implantação de modificações no ensino estadual. Palavras-chave: Educação pública. Representações. Mato Grosso. Introdução A educação brasileira nos anos 1960 passou pela ingerência do governo federal com a elaboração de planejamentos educacionais que influenciaram o ensino público em diversos estados do país. O Plano Trienal de Educação de 1963 foi um dos planos elaborados pela gestão federal nessa época, e que procurava propiciar melhorias na educação nacional ao buscar ampliar a escolarização da população brasileira e organizar uma estrutura voltada para a formação e aperfeiçoamento dos professores. O governo de Mato Grosso aderiu a esse plano quando buscou adotar ações atreladas ao planejamento do governo federal, pois o ensino do estado procurou seguir as metas definidas no referido plano ao realizar investimentos na melhoria da formação dos
2 professores mato-grossenses. Contudo, a organização da ampliação da rede escolar e do aprimoramento docente foi acompanhada pela veiculação de discursos governamentais por meio de mensagens presidenciais, bem como pelos relatórios do secretario de educação de Mato Grosso nesse período. Sendo assim, o ensino primário oferecido nas escolas brasileiras estava sendo questionados em relação à quantidade de instituições escolares e na qualidade do ensino ministrado nas escolas que ofereciam o curso primário. O número de escolas era considerado insuficiente para atender a população, e a quantidade de professores leigos (docentes que não possuíam a habilitação para o magistério) exercendo o magistério era um das preocupações do governo federal e estadual, pois acreditavam que os professores não possuíam os conhecimentos pedagógicos necessários para atuarem no magistério primário. O processo de industrialização e urbanização no Brasil durante anos 1950 e 1960 foi considerado pelo governo brasileiro como algo que levaria o país ao progresso. A partir deste entendimento, a educação foi vista como mecanismo que poderia contribuir para o desenvolvimento econômico do país. Dessa forma, era preciso propiciar a formação de um cidadão com conhecimentos educacionais necessários para a melhoria da eficiência do trabalhador no mercado de trabalho. O governo de Mato Grosso buscou atrelar as suas ações na educação pública do estado com o planejamento educacional elaborado pelo governo federal nos anos Deste modo, diversas ações previstas no Plano Trienal de Educação de 1963 foram executadas no estado com o apoio da gestão estadual. Diante deste contexto que o Jornal O Estado de Mato Grosso veiculou diversas matérias relacionados à educação pública no estado nessa época. Sendo assim, este artigo tem como objetivo analisar as representações construídas sobre a educação pública veiculados no jornal O Estado de Mato Grosso nos anos A definição dos anos 1960 como recorte temporal deste estudo foi devido à organização e execução de planejamentos educacionais realizados pelo governo federal que interviram na educação escolar no estado, principalmente no processo de formação e aperfeiçoamento de professores primários de Mato Grosso. Esse texto procura compreender como as questões educacionais foram narradas nos conteúdos publicados no referido jornal. O subsídio teórico escolhido para este estudo foi o conceito de representações elaborado por Roger Chartier (1990), que é compreendido como delimitações, classificações e divisões que indivíduos e grupos
3 organizam sobre si mesmos ou sobre algum aspecto do mundo social. Para a realização deste texto foram consultadas diversas matérias publicadas no jornal O Estado de Mato Grosso, localizada no Arquivo do Núcleo de Documentação e Informação de História Regional NDIHR/UFMT e da literatura relacionada à história da educação. As análises indicaram que diversos discursos difundidos nos conteúdos do jornal procuravam enaltecer a atuação do Estado na implantação de modificações no ensino estadual. O ensino primário e a formação de professores em questão O governo federal, desde anos 1950, já acenava pela necessidade de alterar o sistema de ensino no Brasil, pois acreditava que a realização de modificações na educação pública nacional poderia contribuir para a melhoria do ensino, bem como esta melhoria educacional ajudaria no desenvolvimento da economia brasileira, diante do processo de industrialização sucedida pelo governo do presidente Juscelino Kubitschek. Para adequar a educação como mecanismo colaborador do crescimento econômico do país, era necessário o enfrentamento das diversas dificuldades pela quais a educação nacional estava vivenciando nos anos 1950 e Essas problemáticas educacionais foram evidenciadas nas mensagens dos Presidentes da República nessa época, conforme podemos observar nessa mensagem do presidente Juscelino Kubitschek para o Congresso Nacional, em 1956, sendo o ensino primário um problema eminentemente nacional, que pode o governo ficar indiferente a estas duas graves afirmações: as oportunidades de instrução primária são insuficientes, a instrução ministrada não satisfaz, dado o pouco rendimento escolar (BRASIL, 1987, p. 264). O rendimento escolar nas instituições de ensino brasileiro estava sendo considera inferior, pois a gestão federal desejava que a educação escolar estivesse em condições de ajudar o crescimento do país. Por isso havia a preocupação com o nível do ensino primário oferecido aos alunos e com o número insuficiente de escolas existentes no Brasil. Os investimentos voltados para o incremento da industrialização era um dos objetivos do governo de Juscelino para alcançar o progresso nacional. Diante deste objetivo, a educação nacional foi adquirindo maior relevância para o governo, até pouco tempo, não procurava o Estado atender às necessidades educacionais decorrentes da urbanização e da industrialização de muitas cidades do País (BRASIL, 1987, p. 332). Na mensagem para o Congresso Nacional do presidente Jânio Quadros, ocorrido durante o ano de 1961, o mesmo ressaltava o interesse governamental em buscar realizar
4 investimentos na educação nacional, visando a sua melhoria, conforme podemos observar: A atividade da União exercer-se-á através da atuação indireta, pelo auxílio financeiro, pela assistência técnica, pelo aperfeiçoamento do pessoal docente e administrativo, pela manutenção de escolas experimentais, enfim, pela pesquisa, estimulando e favorecendo os esforços dos estados e municípios (BRASIL, 1987, p. 349). As ações da União estavam voltadas para a atuação em várias áreas relacionadas à educação, com a finalidade de estabelecer parcerias com os governos estaduais e municipais. A concentração de esforços dos poderes federal, estadual e municipal foi uma medida adotada pelo governo federal como forma de propiciar maiores investimentos no setor educacional, a partir de investimentos direcionados para o estímulo e incentivo às gestões estaduais e municipais na execução de melhorias nos diversos níveis de ensino. A União procurava auxiliar os Estados e municípios com base na ajuda financeira, pelo incentivo a pesquisa educacional, na assistência técnica e aprimoramento dos professores e técnicos administrativos, bem como na manutenção de escolas experimentais. Verifica-se nessa mensagem presidencial, que a preocupação estava direcionada para a constituição de uma melhor organização do sistema educacional brasileiro a partir de auxílios da União aos Estados e municípios, para que os mesmos obtivessem as condições necessárias para melhorar os seus sistemas de ensino, pois os setores de administração escolar e do pessoal docente deveriam receber investimentos financeiros para a execução do aperfeiçoamento do quadro docente e administrativo. Na mensagem do Presidente da República João Goulart, ao Congresso Nacional, em 1962, o presidente ressaltou que educação poderia contribuir para o crescimento do país, A política educacional, de sentido eminentemente técnico e profissional, em todos os seus níveis, é indispensável objetivo para que se possa contar com a formação de técnicos e mão-de-obra qualificada, tão necessários ao desenvolvimento nacional (BRASIL, 1987, p. 354). A formação de técnicos e mão de obra qualificada eram os focos essenciais para alcançar o desenvolvimento do país, pois a formação de pessoal técnico mais capacitado para o mercado de trabalho estava relacionado com o oferecimento de uma educação básica a maior número de pessoas, bem como essa educação deveria propiciar as
5 condições necessárias para que os alunos efetivamente aprendessem o que estava sendo ensino nas escolas do país. No ano de 1963, ainda no governo de João Goulart, o presidente mencionou em sua mensagem ao Congresso Nacional no referido ano, que a educação nacional ainda carecia de maiores investimentos para superar as problemáticas educacionais que dificultavam o crescimento pleno da população brasileira, Um dos principais obstáculos ao pleno desenvolvimento do povo brasileiro encontra-se na extrema precariedade da rede nacional de ensino, destinada à preparação da infância e da juventude (BRASIL, 1987, p. 356). A busca pelo desenvolvimento nacional estava relacionada com a constituição de pessoal capacitado para atuar em uma sociedade que vivenciava um contexto de modificações na economia. O incremento do setor produtivo do país realizado durante o governo de Juscelino, a partir de investimentos no processo de industrialização, na mecanização da agricultura e na urbanização do Brasil também foi algo que os governantes que exerceram mandatos posteriores ao presidente Juscelino buscaram em suas ações, pois os mesmos visavam à continuidade dos avanços na área da produção nacional. Contudo, além dos investimentos no setor econômico do país, era necessário criar as condições para que o sistema de ensino nacional exercesse o papel de colaborador dos avanços que o país estava alcançando na economia. Para isso, o governo brasileiro compreendia que a educação deveria ser modificada, com o intuito de criar as condições necessárias para o sistema de ensino ajudasse no desenvolvimento nacional. A rede nacional de ensino foi considerada um entrave para o objetivo de atrelar a educação ao crescimento do país, pois a formação da infância e da juventude estava prejudicada pelas condições precárias das escolas brasileiras. Sendo assim, a formação de uma mão de obra mais qualificada para o setor produtivo não poderia ser alcançado, pois havia uma extrema dificuldade na rede de ensino nacional em oferecer escolas com melhores condições estruturais, bem como na quantidade da oferta de ensino para a população do país. Deste modo, um dos objetivos do governo federal foi na ampliação da oferta do ensino para o povo brasileiro, pois entendia que a educação poderia propiciar a formação de pessoas mais habilitadas para atuar no setor produtivo. Sendo assim, o aprendizado efetivo dos conhecimentos básicos da educação escolar era fundamental não só para o ingresso no mercado de trabalho, mas na melhoria da capacidade de exercer, com eficiência, as funções trabalhistas exigidas por uma sociedade que buscava o incremento
6 da produção, conforme podemos observar na mensagem do presidente João Goulart, que mencionava a necessidade [...] de expandir a rede de ensino, a fim de que possa abranger toda a infância e toda a juventude, assegurando a cada criança ou adolescente aquele mínimo de conhecimentos indispensáveis para que conquistem um lugar entre as forças da produção (BRASIL, 1987, p. 358). Além da dificuldade com a falta da oferta de ensino e das condições estruturais das escolas brasileiras, o governo federal considerava a formação de professores uma das questões problemáticas que deveriam ser enfrentadas pela administração pública, pois compreendiam que os professores não possuíam a capacidade profissional necessária para exercerem o magistério primário, já que havia uma grande quantidade de professores leigos lecionando nas escolas primárias do Brasil (BRASIL, 2011). No estado de Mato Grosso existiam também as dificuldades educacionais relacionadas à precariedade das escolas primárias, bem como a falta de preparo dos professores para exercerem o magistério nas instituições escolares do estado. A maioria dos professores primários que atuavam nas escolas de Mato Grosso eram leigos, constituindo um percentual de mais de 60% que estava na condição de docentes leigos. Os conhecimentos do magistério desses professores, advindos de experiências práticas no exercício de lecionar, foram considerados insuficientes para o exercício da profissão, pois o ex-secretário de educação do estado acreditava que a atuação plena do professor em suas funções somente ocorreria com base nos conhecimentos específicos da profissão (MARCÍLIO, 1963). O governo federal procurou realizar não somente a ampliação de rede escolar, mas também visava melhorar o ensino oferecido nas escolas a partir de investimentos no aprimoramento dos professores, com técnicas de ensino consideradas mais avançadas para o processo de desenvolvimento da aprendizagem, conforme podemos verificar na mensagem do presidente João Goulart, em [...] deve ser promovido o aprimoramento da técnica do ensino, para que alcance maior rendimento, graduando nos cursos primários e médios proporção maior de alunos que neles ingressam. Tarefa de tal vulto só pode ser enfrentada através da mobilização de todos os recursos nacionais disponíveis (BRASIL, 1987, p. 358). Desde modo, verifica-se que o discurso em relação ao professor leigo era de que essa categoria de professores não exercia o magistério em condições de oferecer um ensino eficiente aos alunos das escolas primárias, já que os mesmos eram considerados
7 desprovidos de conhecimentos específicos da profissão. Além disso, não era somente a condição profissional dos professores leigos que estavam sendo questionados, pois existiam professores normalistas (docentes habilitados para o magistério advindos da formação nas Escolas Normais) atuando no ensino primário, mas as técnicas de ensino utilizados pelos dos professores nas escolas deste nível de ensino. Em 1963, o relatório do Secretário de Educação, Cultura e Saúde de Mato Grosso evidenciou que um dos grandes problemas relacionados à educação pública do estado era a presença do professor leigo no quadro de efetivos do Estado. Esses professores eram considerados como incapacitados profissionalmente para atuarem no magistério, pois seus conhecimentos educacionais eram insuficientes para a prática profissional. Sendo assim, a gestão estadual acreditava que os professores leigos poderiam ser recuperados, ao propiciar o aperfeiçoamento necessário para suprir o grau de conhecimentos e capacidade profissional que faltavam para esses professores (ALCANTARA, 1964). As necessidades de melhorias nas condições das escolas, na busca pela ampliação do número de instituições escolares, bem como no aprimoramento dos professores primários eram objetivos a serem alcançados pelas secretarias de educação de diversos estados. Deste modo, o governo federal também almejava apoiar os Estados e municípios na tarefa de melhoria do ensino oferecidos nas escolas do país. Nesse sentido, foi elaborado pelo governo federal o Plano Trienal de Educação, em Este plano previa a ampliação da rede escolar com a construção de vários estabelecimentos escolares e a organização e execução de um programa voltado para a recuperação e aperfeiçoamento do magistério primário e médio. Para alcançar esse objetivo, estava previsto a criação de Centros de Treinamento do Magistério em diversas regiões do Brasil. Estes centros estariam responsáveis pela recuperação de professores leigos, a partir do oferecimento de cursos de treinamentos específicos para esses docentes, bem como visava à formação de grupo de professores supervisores, que possuíam a atribuição de orientar as atividades pedagógicas dos professores leigos nas escolas primárias do país. Além disso, esses centros ofereciam cursos destinados ao aperfeiçoamento de professores normalistas (BRASIL, 2011). O planejamento educacional do início dos anos 1960 visava à organização de medidas direcionadas para o enfretamento dos problemas educacionais. Sendo assim, a falta de escolas, as condições precárias das existentes, e a problemática da formação docente, com a presença de grande quantidade de professores leigos exercendo o magistério no Brasil, eram dificuldades educacionais que deveriam ser superadas pelas
8 ações do planejamento, pois foram estabelecidos investimentos para a melhoria das técnicas de ensino, com o aprimoramento de professores, como a recuperação dos docentes leigos nos centros de treinamento e nas atividades de supervisão escolar. O Centro de Treinamento do Magistério de Cuiabá foi criado diante deste cenário em que o governo federal procurou a resolução dos problemas do ensino, a partir da organização do planejamento educacional nos anos O CTM-Cuiabá foi instalado no prédio do Educandário dos Menores Abandonados, edifício cedido pelo Ministério da Justiça e Negócios Interiores ao governo de estadual (MARCÍLIO, 1963). Diante deste contexto que procuramos analisar os discursos do jornal O Estado de Mato Grosso em relação à educação pública do estado nos anos Alguns discursos sobre educação pública difundidos no Jornal O Estado de Mato Grosso O jornal O Estado de Mato Grosso foi criado em 1939, e funcionou no estado por um período de 40 anos, com um total de 7749 edições. O referido jornal foi fundado pelo advogando e jornalista Arquimedes Pereira Lima. Arquimedes também coordenou a Fundação Brasil Central durante o governo de Getúlio Vargas e fez parte do grupo responsável pela criação da Federação das Indústrias do Estado Mato Grosso FIEMT, bem como exerceu o cargo de diretor-presidente da Companhia Cervejaria Cuiabana. Além disso, atuou na direção da Associação Comercial de Cuiabá e ocupou a cadeira número 13 da Academia Mato-Grossense de Letras (JUCÁ, 1995). Este jornal noticiou várias matérias relacionadas à situação do ensino público do estado durante os anos Em uma das matérias publicadas pelo jornal, no dia 09 de julho de 1963, com o título: Mato Grosso: mais cursos para professores. O jornal fazia referência à parceria que a Secretaria de Educação, Cultura e Saúde do Estado realizou com o Ministério da Educação, Fundo Internacional das Nações Unidas para Socorro à Infância FISI, e com a Organização para a Educação, Ciência e Cultura das Nações Unidas UNESCO, com o objetivo de patrocinar o treinamento e aperfeiçoamento de professores mato-grossense em cursos que seriam oferecidos nas instalações do CTM-Cuiabá, no Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo e no Instituto de Educação de Minas Gerais (O ESTADO DE MATO GROSSO, 09/07/1963). Nesta matéria, verifica-se a aproximação do jornal com o governo de Mato Grosso, pois as ações da gestão estadual foram descritas de forma a referendar as medidas
9 de investimentos realizados pelo Estado para superar as dificuldades relacionadas à falta de preparo profissional dos professores leigos, bem como na busca pela melhoria das técnicas de ensino advindas tanto dos docentes leigos como dos professores normalistas do estado. As professoras bolsistas mato-grossenses receberiam as passagens referentes à ida ao CTM-Cuiabá, CRPE-SP e no Instituto de Educação de Minas Gerias, assim como o auxílio mensal advindo das bolsas de estudos. Percebe-se que o jornal procurava difundir as ingerências do governo do estado na educação pública na medida em que noticia os investimentos realizados para superar as dificuldades educacionais do estado. A divulgação da convocação de vários professores no mês de julho de 1963, para realização de cursos de treinamento e aperfeiçoamento no CTM-Cuiabá, que ainda não havia efetivamente se instalado na cidade, indica o destaque que o referido jornal acenava para os feitos da Secretaria de Educação, Cultura e Saúde do estado em relação à educação pública, já que vários investimentos no patrocínio de bolsas de estudos, passagens e o envio de professores de diferentes regiões do estado para realizarem cursos na capital, bem como nos investimentos efetivados para o envio desses docentes para instituições escolares fora do estado revelam a dimensão das ações da gestão estadual sobre a formação dos professores mato-grossenses. A representação advinda do discurso jornalístico referencia a ideia que a educação estadual concretizaria os avanços necessários com base no aprimoramento dos professores do estado em centros educacionais, considerados na época, como de excelência no ramo da formação de professores. As técnicas de ensino compreendidas pela gestão estadual como inadequadas para propiciar a aprendizagem dos alunos seriam modificados a partir do aperfeiçoamento dos professores com as técnicas de ensino vista como modernas, e que deveriam ser adquiridas nas instituições escolares fora de Mato Grosso. A recuperação e aperfeiçoamento de professores ocorreriam também no CTM- Cuiabá, com a presença de professores vindos de outros estados para contribuírem na organização e ministração de cursos para docentes leigos e normalistas. Na matéria noticiada no jornal O Estado de Mato Grosso, no dia 29 de dezembro de 1963, com o título: Mais bolsas para estudantes mato-grossenses: Especialização reforça a percepção sobre os crescentes investimentos para o aprimoramento de professores em cursos de especialização em centros de referência em educação. A busca por conhecimentos pedagógicos modernos foi referenciada como um dos caminhos que levariam o ensino do estado a obter uma melhor eficiência nas escolas.
10 Na oportunidade, o titular da pasta da Educação, Cultura e Saúde adiantou-nos, também, que três bolsistas mato-grossenses terminaram os seus cursos no Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo e sete terminaram o PABAEE, de Belo Horizonte, todos esses novos técnicos são aguardados em Mato Grosso, dentro em breve, para início de aplicação dos conhecimentos recebidos nesses importantes centros de especialização (O ESTADO DE MATO GROSSO, 29/12/1963). A representação apresentada por meio deste discurso visava difundir o entendimento de que os professores mato-grossenses superariam as suas dificuldades pedagógicas com base em aperfeiçoamentos ministrados por professores reconhecidos e credenciados por instituições brasileiras que se destacavam na tarefa de difundir técnicas de ensino consideradas modernas na época. Deste modo, pode-se indicar que a percepção a ser aceita era a de que, se os cursos de treinamento e aperfeiçoamento dos docentes do estado fossem realizados por professores com formação advindos somente em Mato Grosso, não trariam a credibilidade necessária para a implantação de mudanças na forma de ensino dos professores do estado. Sendo assim, a ênfase para as modificações necessárias para a melhoria do ensino no estado estava associado à representação da ideia de que a educação avançaria a partir da difusão dos conhecimentos pedagógicos modernos, advindos dos professores de centro educacionais de estados considerados mais avançados na área educacional, como Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerias, bem como de docentes mato-grossenses que realizaram cursos de especialização nesses estados, e que voltaram para difundir os novos conhecimentos educacionais. O jornal O Estado de Mato Grosso, no dia 02 de fevereiro de 1964 mencionava a atuação do governo do estado em ações voltadas para o aperfeiçoamento dos professores em seus diferentes níveis de ensino. O trecho noticiado neste dia apresentava o seguinte destaque: Novos métodos pedagógicos: equipes vão preparar educadores. A assessoria de Educação está ultimando os trabalhos para a formação de equipes, com sete elementos cada uma, constituída de pessoal especializado, que ministrarão em todas as cidades de MT Cursos de Difusão de Novos Métodos Pedagógicos aos professores de Escolas Normais, Ginásios e Escolas Primárias. Esses cursos revolucionarão os ensinos Primário, Secundário e Normal de todo o Estado, pois levarão aos professores conterrâneos os mais modernos métodos educacionais realizados no mundo (O ESTADO DE MATO GROSSO, 02/02/1964). O discurso proferido neste trecho do jornal articular a representação voltada para a ênfase na aquisição, por parte dos docentes do estado, dos novos métodos
11 pedagógicos capazes de elevar o nível de ensino em Mato Grosso. A articulação argumentativa destaca a percepção a ser adotada pela sociedade mato-grossense de que os modernos métodos educacionais foram adquiridos por professores dos principais estados brasileiros. A evidência sobre os melhores métodos de ensino praticados no mundo reforçam a ideia que Mato Grosso teria o que havia de melhor em relação a metodologias de ensino, por isso o estado estariam no caminho para obter maiores progressos na área educacional. Esse conhecimento pedagógico avançado não estaria em Mato Grosso, era preciso que o governo estadual adotasse medidas voltadas para aquisição das novas técnicas de ensino nos estado onde já se haviam adquiridos. Sendo assim, as ações do governo estadual para a aquisição dos conhecimentos educacionais modernos são destacadas no discurso advindo do jornal, bem como ressaltava a ideia na constituição de uma equipe de especialistas em educação, que estariam providos desses conhecimentos, com a finalidade de difundir, aos demais professores do estado, às modernas técnicas de ensino. A utilização da palavra revolução no discurso do jornal ressalta o entendimento de que essas novas técnicas de ensino, que deveriam ser adquiridas pelos professores do estado, tem uma enorme relevância para o ensino estadual, ao ponto de proporcionar uma mudança radical na educação pública do estado, pois as mudanças ocorreriam nos ensino primário, ginasial e no curso normal. Dessa forma, o discurso mencionado pelo jornal pode indicar a veiculação de uma representação voltada para o enaltecimento da enorme mudança que a educação pública mato-grossense iria sofrer com a chegada dos novos métodos de ensino em Mato Grosso. Pode-se verifica a seguinte articulação no discurso do jornal: os novos métodos de ensino praticados no mundo, a presença desses métodos pedagógicos nos estados brasileiros que possuíam instituições formativas de maior destaque no campo educacional, e a ações adotadas pelo governo estadual para proporcionar à educação do estado a inserção aos novos métodos considerados modernos na época, e que levariam ao progresso educacional de Mato Grosso. Sendo assim, o destaque aos termos novos e revolucionarão enfatiza a ideia de renovação educacional propiciada pelas medidas adotadas pela gestão estadual para que os professores adquirissem esses conhecimentos. Considerações finais
12 A educação foi sendo considerada pelo governo federal como algo importante para o progresso do país, já que havia o entendimento, conforme podemos observar nas mensagens dos Presidentes da República para o Congresso Nacional, proferida no final dos anos 1950 e início dos anos 1960, de que a educação poderia ser um mecanismo impulsionador do crescimento econômico em curso no Brasil nessa época. A falta de escolas para população brasileira, a precariedade das instituições escolares, a presença de professores leigos atuando no magistério, bem como o ensino oferecido nas escolas foram considerados como entraves para a articulação entre a educação e desenvolvimento do país. Para modificar esta situação, o governo federal criou o Plano Trienal de Educação, em 1963, com o objetivo de ampliar a rede escolar de ensino e oferecer o aprimoramento dos professores brasileiros. O governo de Mato Grosso buscou atrelar a esse planejamento para enfrentar a problemática da presença de professores leigos no quadro de efetivos do estado e na falta de escolas para a população. A renovação das técnicas de ensino foi um dos pontos de atuação dos governos federal e estadual para alcançarem a melhoria da educação nacional. Por isso diversos investimentos foram feitos na constituição de centros de treinamentos para professores, como foi o caso da criação do Centro de Treinamento do Magistério de Cuiabá no ano de Diante deste cenário, o Jornal O Estado de Mato Grosso veiculou discursos relativos à educação pública mato-grossense nos anos Os discursos do referido jornal revelam a constituições de representações voltadas para o enaltecimento das ações governamentais em relação aos investimentos na recuperação e aperfeiçoamento dos professores do estado. A ênfase representativa nos discursos foi à utilização de mensagens que difundiam a ideia de que o estado estaria caminhando para o progresso educacional a partir da aquisição de conhecimentos pedagógicos modernos, que propiciariam uma revolução na educação mato-grossense. A amplitude da mudança que o ensino público iria passar foi evidenciada pelo destaque que o discurso do jornal veiculou ao mencionar que as técnicas de ensino seriam renovadas nos ensino primário, ginasial e nas Escolas Normais. As realizações das ações governamentais foram reforçadas pelo jornal com a difusão das estratégias da gestão estadual para executar alterações no ensino de Mato Grosso. Nesse sentido, o jornal
13 dedicava várias matérias que destacavam as medidas da gestão estadual para a melhoria da educação pública estadual. Verifica-se uma possível aproximação dos discursos presidenciais e do governo estadual quanto às problemáticas educacionais e as medidas voltadas para a resolução das dificuldades do ensino nas escolas. Os apontamentos deste artigo refletem algumas indicações relacionadas às representações advindas dos discursos sobre a educação no jornal O Estado de Mato Grosso. Nesse sentido, acenamos pela necessidade de maiores investimentos em estudos sobre o jornal e as suas representações, pois este texto procurou analisar algumas matérias veiculadas pelo jornal nos anos Sendo assim, este estudo buscou levantar possibilidades de discussão sobre a educação pública mato-grossense através da impressa do estado nessa época. Referências ALCÂNTARA, Hermes Rodrigues de. Três anos de progresso educacional e sanitário. Cuiabá, Secretaria de Educação, Cultura e Saúde, BRASIL. O Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social In: O Plano Trienal e o Ministério do Planejamento. [direção Rosa Freire d Aguiar] Rio de Janeiro: Contraponto: Centro Internacional Celso Furtado, p Ministério da Educação e Cultura. A educação nas mensagens presidenciais. ( ). V. II, Disponível em: www. dominiopublico.gov.br/pesquisa/detalheobraform.do?...> Acesso em 29 set MARCÍLIO, Humberto. História do ensino em Mato Grosso. Cuiabá: Secretaria de Educação, Cultura e Saúde, O ESTADO DE MATO GROSSO. Mato Grosso: mais cursos para professores. 09/07/1963. NDIHR/UFMT. O ESTADO DE MATO GROSSO. Mais bolsas para estudantes mato-grossenses: Especialização. 29/12/1963. NDIHR/UFMT. O ESTADO DE MATO GROSSO. Novos métodos pedagógicos: equipes vão preparar educadores. 02/02/1964. NDIHR/UFMT.
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