Nelson Albissú. Cômicos Cotidianos. Ao explorar o cotidiano do cidadão comum,

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1 capa_comicos_orelhas_cortez_layout 1 21/05/ :41 Página 1 Nelson Albissú nos diverte e emociona em 38 narrativas deliciosamente escritas. Como não rir com a história da velhinha, que Nelson Albissú Ao explorar o cotidiano do cidadão comum, surpreende seu algoz, em Assalto inesperado, ou com a do motorista, em O aniversário do Banha, que ultrapassa os limites do bom senso ao conversar com o guarda sobre seu carro em situação irregular? Como não se sensibilizar com o garotinho, na crônica Solidão? Palavras e argumentos, uma súplica apaixonada de puro lirismo. Cômicos Cotidianos Mas o amor também está presente em

2 Sumário Contratando empregada... 5 Assalto inesperado... 9 O aniversário do Banha A simpatia Casa de síndica Sinais dos tempos Cada tempo tem seu jeito Solidão Cada mãe e cada filha A vigarista A alface Doces, chá e doçuras Astúcia caipira Mas que dia! Do jeito do sonho A corrente da sorte As fofoqueiras Abraços Palavras e argumentos

3 A afinada Nem lhe conto Haja paciência A fila Bebel e Roger De pai pra filho Carta de Porto Alegre Foi assim! Dois fazendeiros papudos Os foras O novo golpe da praça Golpe sobre golpe A fã Rosinha e Rodolfo Nocaute Telemarketing Bancos, filas e usuários Que herói sou eu? Pois é!

4 Contratando empregada A o abrir a porta, ela se deparou com a mulher, que perguntou: A senhora precisa de empregada? É do que mais preciso. Achou! Você lava? Lavo e passo muito bem. Cozinha? Em forno e fogão. Limpa a casa? E arrumo. Não acredito! Pode acreditar. 5

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6 miolo_comicos_cotidianos_cortez_ok_layout 1 27/05/ :01 Página 7 CÔMICOS COTIDIANOS Deus seja louvado! Você é a empregada que eu preciso! Se a senhora quiser... Claro que quero! Mas preciso de mensalista começou a exigir mais, mais e mais. Eu sou. Quero que durma no emprego. Sem problema. Quero que trabalhe aos sábados e domingos. Eu trabalho. Só pago o salário-mínimo. Pra mim tá ótimo. Quero empregada que dê banho nos meus cachorros. Eu dou. Que cuide de meus gatos. Adoro animais. Não permito que assista à novela da tarde. Odeio ver reprise. Não acredito! É verdade. Você não existe! Pode beliscar, pra confirmar. 7

7 CÔMICOS COTIDIANOS Posso? Aiii... A partir de agora, você está contratada e passa a morar no emprego. Quando começo? De imediato. Espere... Esperar o quê? Vou buscar meus filhos! Você tem filhos?! Cinco. Por que não me falou? A senhora não perguntou. Então, pode ir! Posso? Mas não volte nunca mais. Ah, é?! É! Pois fique sabendo que não lavo, não passo, não cozinho, não limpo nem arrumo. Adoro novelas e odeio cachorros e gatos. Durmo no emprego, mas à tarde, porque de noite sempre saio pra dançar. E passe muito bem, minha senhora! 8

8 Assalto inesperado Numa noite escura, sem lua nem luz na rua, a velha chegou ao ponto de ônibus. Como quem não quer nada, o bandido se aproximou, tirou o revólver da cintura, apontou e avisou: É assalto! O quê? Assalto, velha surda! Não tá vendo o revólver? Assalto!? Sim! Tá bom, moço! concordou, batendo violentamente com seu guarda-chuva no revólver, que caiu no chão. Rapidamente, ela o pegou e reverteu a situação, mirando para o bandido: Vamos começar! Calma, dona! temeu o bandido. 9

9 miolo_comicos_cotidianos_cortez_ok_layout 1 27/05/ :01 Página 10 CÔMICOS COTIDIANOS Calma coisa nenhuma! Me dê sua correntinha! Ela é de estimação, dona. Foi minha mãe quem me deu. Passe logo, porque eu adoro ouro! Temeroso, ele atendeu: Tome! Agora, o relógio! Meu relógio? Vou precisar dizer duas vezes? Não! Claro que não! e entregou o relógio. Me passe todo dinheiro que você tem! Ele arrancou umas poucas notas amarrotadas do bolso e passou. Só isso? É tudo que tenho. Me dê as moedas também! Assim, fico duro! Não quero saber. Tome! É tão pouco que nem dá pra eu tomar táxi ela avaliou e acrescentou, enquanto embolsava as moedas: Gostei da sua camisa. Meu velho tá precisando de uma nova. Ah, não! A camisa não! Paguei a maior nota, porque é de marca. 10

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11 CÔMICOS COTIDIANOS Vamos! Não tenho tempo a perder! A senhora tá exagerando reclamou, arrancando a camisa e entregando-a. Seu tênis tá bonito! Sem pensar duas vezes, ele se agachou para descalçá-lo e lhe entregar. Mas ela o interrompeu: Que número você calça? Quarenta. Que pena! É bonito, mas pequeno pro meu velho. E não gosto de dar coisa usada pros meus netos. Graças a Deus! suspirou ele aliviado. Agora, desaparece rápido! Pô, dona, a senhora podia... Tá querendo o quê? reagiu ela, ameaçando atirar. Nada, não. A senhora tá no seu direito. Vou mandar bala na sua direção. Se te acertar, azar seu. Cai fora, moleque! Tá legal, dona! admitiu e saiu correndo em disparada, sem olhar para trás, enquanto ela disparava três tiros só para assustá-lo. Em seguida, ela se lamentou: Caramba! Por causa desse assalto mixo, vou ter de mudar de ponto por uns tempos. 12

12 capa_comicos_orelhas_cortez_layout 1 21/05/ :41 Página 1 Nelson Albissú nos diverte e emociona em 38 narrativas deliciosamente escritas. Como não rir com a história da velhinha, que Nelson Albissú Ao explorar o cotidiano do cidadão comum, surpreende seu algoz, em Assalto inesperado, ou com a do motorista, em O aniversário do Banha, que ultrapassa os limites do bom senso ao conversar com o guarda sobre seu carro em situação irregular? Como não se sensibilizar com o garotinho, na crônica Solidão? Palavras e argumentos, uma súplica apaixonada de puro lirismo. Cômicos Cotidianos Mas o amor também está presente em