CÉSARE BATTISTI DA CAUSA OPERÁRIA À PRISÃO PERPÉTUA: UM ESTUDO SOBRE A LEGALIDADE DO PROCESSO EXTRADITÓRIO 1085
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1 CÉSARE BATTISTI DA CAUSA OPERÁRIA À PRISÃO PERPÉTUA: UM ESTUDO SOBRE A LEGALIDADE DO PROCESSO EXTRADITÓRIO 1085 Autoria: Gabriela de Souza Oliveira Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FACISA) Matheus Macêdo Góes Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FACISA) Sayonara Ribeiro de Oliveira Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FACISA) Herry Charriery da Costa Santos (orientador) Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas (FACISA) goesmatheus@hotmail.com RESUMO ESTENDIDO Um dos institutos do direito internacional de maior importância do ordenamento jurídico, porém pouco conhecido em suas regras e exceções pela sociedade brasileira é o da extradição. Trata-se de um mover compulsório de um indivíduo estrangeiro do país onde ele se encontra, ora requerido, para seu país de origem, ora requerente, para que este possa cumprir pena por crime cometido em seu país. Desde que o caso esteja de acordo com o tratado estabelecido pelos países envolvidos e com as leis estabelecidas na constituição do país requerido. No Brasil, um dos casos de extradição mais polêmicos foi o do escritor italiano Césare Battisti acusado de ter cometido quatro homicídios na década de 70, durante o tempo em que militava no partido comunista italiano de esquerda. O caso gerou tanta polêmica devido à sua repercussão midiática, bem como pelas suas peculiaridades e controvérsias que são objeto deste estudo. O princípio da legalidade no âmbito público reza que nada pode ser feito ou deixar de ser
2 feito sem que haja previsão normativa para tanto. Considerando que os crimes imputados a Cesare Battisti possuíam fundamento político, baseando-se no Art. 5 º, LII, da CF/88, que proíbe a extradição de estrangeiro por crime político e na lei nº 6.815/80, art. 77 que versa mais especificamente sobre o tema em voga, resta-nos a seguinte indagação: Houve legalidade no processo de extradição de Cesare Battisti? Em virtude disto, o presente estudo apresentou a relevância jurídica do instituto da extradição e do refúgio político à luz do caso Cesare Battisti, bem como a demonstração dos equívocos cometidos pelos que fizeram parte deste processo tão polêmico e marcante na história do Direito brasileiro. O qual proporcionará uma análise fundamentada e aprofundada sobre o tema para a comunidade acadêmica, juristas e sociedade em geral, para que a partir de tal leitura possam entender melhor o caso e fazerem suas reflexões acerca do mesmo. Este trabalho tem como objetivo geral analisar o instituto extradição bem como o refúgio político com base no caso supracitado, fazendo a abordagem das suas principais características e peculiaridades, e também um panorama histórico, jurídico, social e científico do tema. O Direito Internacional trata da relação entre Estados e disciplina interesses e conflitos que venham a surgir. Um tipo bastante comum de conflito que surge entre países está relacionado aos seus indivíduos, haja vista que diariamente pessoas se deslocam de um país para outro, pelas mais diversas razões e, por vezes, essas pessoas cometem ilegalidades em seu país de origem ou no país destino sendo necessário que lhe seja aplicada uma sanção. Assim, temos a aplicação de institutos de saída compulsória do direito internacional que são três: Expulsão, Deportação e Extradição. A Extradição, objeto desta pesquisa, tem como preceito que todo crime comum e principalmente os de maior gravidade são puníveis com a Extradição. É o que convenciona a maioria dos tratados dos quais o Brasil é signatário, bem como é o que versam as leis internas. A principal exceção a essa regra, são os crimes de ordem política, como está disposto na Constituição Federal de 1988, art. 5º, LII Não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião e como corrobora a lei 6.815/1980 no seu art. 77, inciso VII. Para haver legitimidade e legalidade no processo extraditório, é necessário que o mesmo obedeça a alguns critérios e a um rito repleto de formalidades. De início, no caso da extradição passiva, o pedido é encaminhado ao
3 Ministério das Relações Exteriores que, por sua vez, deve encaminha-lo ao Ministério da Justiça para sua apreciação e análise pelo Superior Tribunal Federal que deverá referendar acerca da legalidade do processo, regularidade e a sua procedência.verificada a legalidade do processo, o mesmo deve serencaminhado ao Chefe do Poder Executivo, para que o seu chefe, presidente da república, em ato discricionário, defira ou não o pedido de extradição, não cabendo novo pedido em caso de indeferimento. Posto isto, resta-nos analisar a biografia de Césare Battisti, bem como os aspectos legais que envolveram o seu processo extraditório aqui no Brasil. O ex-ativista e atual escritor italiano, Cerase Battisti, nasceu e 1954 em Sermoneta, na Itália e vivenciou tal período. Battisti fazia parte do grupo de esquerda chamado de Proletários Armados pelo Comunismo PAC, criado em 1976 durante os anos de chumbo, e tornou-se seu membro mais conhecido devido à sua história. As ações do grupo tinham como objetivo apoio às reivindicações operárias, eram independentes e descentralizadas, cometiam assaltos em estabelecimentos para garantir o sustento de seus membros e não para expropriar os mesmos. Em fevereiro de 1982, o processo que acusava os membros da PAC pelos assassinatos de dois comerciantes, um policial e um comandante de prisão, estava em andamento na Itália no momento da prisão do cofundador da PAC, Pietro Mutti, que ao ser presoacusou seu ex-companheirobattisti da autoria de tais crimes. A condenação da Corte de Assise de Milão à Cesare Battisti à prisão perpétua em 13 de dezembro de 1988 fora baseada nos argumentos de Mutti, uma vez que, não surgiram novas ou testemunhas ou provas que pudessem acrescentar ao caso. Em Outubro de 2004, a Corte de Cassação sentenciou que Cesare Battisti deveria ser entregue à Itália, porém, Battisti conseguiu fugir para o Brasil com uma identidade falsa, passou três anos na clandestinidade e, em 18 de março de 2007, fora detido no Rio de Janeiro, e levado à penitenciária da Papuda, em Brasília. Quando falamos no caso de CesareBasttisti, automaticamente podemos relatar inúmeras ilegalidades desde o princípio do processo, como a delação premiada, o advogado que o representou no segundo julgamento na Itália com uma falsa procuração que não havia sido outorgada pelo mesmo, as contradições apresentadas nos depoimentos das testemunhas, entre outras. Contrariando a princípios lógicos de relações internacionais, a República Italiana impetrou no Brasil um mandado de segurança questionando o ato do Ministro da Justiça
4 de ter concedido à Battisti refúgio político. Não obstante as razões legais para a extinção do processo extraditório constantes no art. 33 do Estatuto do Estrangeiro, lei 6.815/1980, no dia 09 de setembro de 2009, o pedido de extradição nº foi apreciado pelo pleno da Suprema Corte Brasileira em um julgamento conjunto para a também apreciação do Mandado de Segurança nº A relatoria do processo ficou a cargo do Min. Cezar Peluso, que, em seu voto, entendeu que a concessão de refúgio por parte do Ministro da Justiça foi ilegal, fundamentando que Cesare Battisti não havia cometido crime político algum, mas delitos comuns, que não estavam prescritos, com fulcro no art. 3º, III da lei nº 9.474, Estatuto dos Refugiados. Também julgou prejudicado o Mandado de Segurança Impetrado pela Itália. Os ministros Carmem Lucia, Joaquim Barbosa, Eros Grau e Marco Aurélio de Melo não seguiram o entendimento do relator do processo no que concerne à extradição. A Min. Cármem Lúcia, antes de iniciar a leitura de seu voto, propôs duas questões de ordem ao Min. Peluso, o que gerou uma discussão envolvendo mais ministros que criticaram duramente o voto do eminente relator do processo. No entanto, acalmaram-se os ânimos e a ministra prosseguiu com o seu voto que argumentou brilhantemente, acerca do mandado de segurança, que aquela Corte já havia decidido na ext. 1008, de forma análoga, que o que consta no art. 33 da lei 9.474/1997 deve ser seguido, destarte, não há que se contrariar uma lei que já foi considerada constitucional. Ressaltou também que, quando se trata sobre a competência do poder executivo nas relaçoes internacionais, o princiopio adotado pelo Brasil é o da não entrega do extraditando e discorreu sobre as possibilidades de aplicação desse principio. Disse ainda que, na decisão do Ministro de Estado da Justiça não há lugar para se questionar abuso de poder, haja vista que houve exercicio dos elementos da discricionariedade do ato recursal provido pelo mesmo que o fez legalmente paramentado pelos elementos processuais dos autos que examinou. Portanto, não é de competência jurisdicional do STF revisar a decisão política e discricionária do Ministro da Justiça. O Min. Joaquim Barbosa iniciou o seu voto já de forma bastante incisiva ao afirmar a sua perplexidade em relação à arrogancia com que a República Italiana litigou no caso. Também afirmou ele ser bastante audaciosa a vontade ibérica de questionar a decisão política de um país soberano que possui competência para se reafirmar perante a comunidade internacional e ainda nessa análise,
5 referiu-se ao Mandado de Segurança nº como um mandado natimorto. Finalmente, concluiu seu voto dando o Mandado como prejudicado e posicionou-se contra a extradição de Cesare Battisti. É inegável o repercussão que esse processo gerou nos mais diversos âmbitos. Primeiro, internamente, onde houve conflito de interesses entre os poderes judiciário e executivo que chegou a colocar em cheque a autonomia de cada um. As relações institucionais do Brasil com a Itália também ficaram um pouco abaladas, uma vez que eram constantes as provocações da República Italiana em relação à decisão brasileira. Em face do exposto, considerando todos os fatos elencados e a repercussão legal dos mesmos na Ext. nº 1.085, foi possível aferir que tamanho foi o desrespeito aos dispositivos legais já citados, aos princípios do Direito, bem como princípios constantes da Carta Magna da República Federativa do Brasil e também às contradições a matérias que já eram ponto pacífico no entendimento da Suprema Corte do Brasil. Palavras-chave: Caso Césare Battisti, extradição, refúgio
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