História de Nilsa Koenig

Transcrição

1 História de Nilsa Koenig Nascimento: 18 de outubro de 1930 Falecimento: 31 de dezembro de 2007 Esta é uma história bonita, mas triste, disseram as filhas de Nilsa. Nilsa Koenig foi uma grande líder. Não comandou grandes grupos e nem participou de guerras, mas mostrava sua liderança ao cuidar, com toda força da mulher brasileira, de suas quatro filhas. Enfrentou dificuldades, sofrimento e situações perigosas sempre de cabeça erguida. Em um terreno de nove mulheres, ela era a líder, a mãe e o conforto. Nilsa nasceu dia 18 de outubro de 1930, no município de Candelária, filha de Francisco Augusto Buchmeier e Arlinda Schuncke Buchmeier. Com seus irmãos Loni, Hedi, Danilo, Claúdio e Nívea, passou uma infância de trabalho, mas de companheirismo na agricultura. Plantavam variedades para consumo próprio e tinham um alambique. Casou-se no dia 3 de junho de 1950, com Selvino Koenig. Com ele, teve as filhas Clédia, Clair, Clésia e Glaceti. Ainda fazem parte dessa geração os netos Merceli,

2 Aline, Adilaine Carine, Amália Tatiane, Michele, Jeferson, Daylene e Tamires. E, também, os bisnetos Namat, Nantes, Rafaela, Maria Eduarda, Erich e Sofia. Quando eram agricultores, plantavam erva, milho, soja, tabaco e tinha açude com carpas e criação de gados. Moraram em 14 lugares. Quando casaram moraram em Passa Sete, Natal, Picada Karnopp (hoje Vila União), Rebentola, Mato Alto, Venâncio Aires, Tangerina, Tramontina e Santa Cruz do Sul, onde se fixaram. Praticamente sozinha, criou as filhas. Afinal, seu marido tinha muitos problemas com o alcoolismo. Trabalhou como faxineira e empregada doméstica para sustentar a família. Todas as meninas também ajudavam, inclusive a mais nova, na época com 11 anos. Depois de um tempo, ela tornou-se safrista na Sousa Cruz e na Meridional. Nilsa e as colegas de trabalho da Meridional.

3 Sua vida era trabalhar em prol de suas filhas. Viveu de forma muito simples, mas totalmente honesta. Era uma mulher batalhadora, guerreira e amiga. Com o marido dependente do álcool, tanto mãe quanto filhas sofriam maus tratos físicos e morais. Tentativas de envenenamento, agressão e ofensas faziam parte do cotidiano de Nilsa e das garotas. Mas, com garra e coragem, elas ultrapassaram essas barreiras. Como era uma mulher com princípios antigos, ela nunca tentou se separar mesmo com toda a violência que sofriam. Seu marido faleceu por causa desse mesmo líquido que lhe encorajava a fazer maldades à família. Para as filhas, isso deve ser um carma da família, pois tanto Nilsa quanto elas se casaram com homens complicados e que usam a violência. Nas vezes que Selvino foi preso, Nilsa ainda preocupava-se com o seu bem-estar. Mesmo a tratando mal, ela ainda tinha compaixão em seu coração. De acordo com a filha Clésia, elas eram muito ingênuas e leigas. Mas, o tempo e a dor foram ensinando e lhes tornando mais fortes. Se fosse hoje, elas acreditam que seria diferente. Nos aniversários e outras comemorações, a família se reunia em casa. Tudo com muita música, boa comida e, é claro, a polonese. Nem sempre podiam se esbanjar. Muitas vezes, todas elas passaram por dificuldades financeiras. Quando ganhavam alguma comida, elas dividiam entre todas elas, mas nenhuma ficava sem comer. Mesmo na dificuldade, eram unidas, amigas e companheiras. Nilsa gostava de comer carne de panela, churrasco, mandioca, frutas, chocolate e iogurte.

4 Nilsa tinha defeitos, segundo as filhas, mas estes eram apagados quando elas lembravam a heroína que ela foi, ao criá-las e ao permanecer forte mesmo quando as situações lhe diziam para chorar. Mesmo com diversos motivos para ela e as garotas entrarem em realidades erradas, elas nunca fizeram nada que não fosse o correto. Sempre ensinou para todas o valor de ser humilde e verdadeira. Com a doença, sofreu muito. Em um período já nem conseguia mais caminhar até a sombra de casa para tomar chimarrão com as filhas. Clésia precisava buscar ajuda de um homem ou arrastá-la. A doença a debilitou muito, afinal, sua pele precisava de atenção. Qualquer movimento de outra pessoa perto dela, poderia a fazer estourar. Uma água amarela saia de Nilsa com um simples toque de outra pessoa em seu braço. Seu coração estava crescendo e tinha água tanto no coração, quanto no pulmão. Sua vida passou a ter repletos cuidados. Nilsa ficou bem por algum tempo, mas cinco anos antes de sua morte ela se entregou para a doença. Nos três anos anteriores a sua partida, sua vida era baseada em idas ao hospital e voltas para casa. Certa vez, as filhas a levaram no médico Nutz, de Santa Cruz do Sul. Ele era espírita e tinha poderes que, até então, elas desconheciam. Seu trabalho era através da força da mente e da massagem. Elas foram até o local em busca de curar as dores de cabeça que lhes incomodavam. Mas, quando chegaram até a casa onde ele atendia os pacientes, ele pediu desculpas para quem estava esperando, pois precisava atendê-las primeiro. Elas

5 acharam estranho no começo, mas entenderam tudo quando perceberam a grandiosidade do dom daquele homem. Nutz massageou as duas e falou tudo sobre a vida delas. A partir desse momento, Nilsa passou a acreditar muito naquele tipo de tratamento. O que o paciente sentia, ele sentia. Depois de algum tempo, ela estava muito ruim em casa e começou a chamar por ele. Quando as filhas resolveram ir buscá-lo, encontraram Nutz no meio do caminho, que já tinha escutado, em seu pensamento, o pedido da paciente. Hoje, ele já é falecido, mas seu filho continua atendendo em seu lugar. Nilsa faleceu em 31 de dezembro de 2007, às 23h45min, quase na virada de 2008, com insuficiência cardíaca. Quando ela começou a passar mal, o médico avisou a morte dela para as filhas, dessa forma: É, ela não quis mais ver a chegada de um ano novo. Com personalidade forte, guerreira e trabalhadora, ela ficará, eternamente, na memória de suas filhas. Mesmo exigente e pouco carinhosa, foi graças a ela que as filhas permaneceram no caminho do bem, mesmo com as diversas dificuldades e com todos os sofrimentos que o destino colocava em suas vidas. Pais de Nilsa.

6 Família reunida do casamento da filha de Clésia. Como Nilsa estava doente, o casal foi até a sua casa registrar o momento do casamento ao lado da avó.