CONFECÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL GEOECOLÓGICO DA BACIA DO RIO SAGRADO (MORRETES/PR)
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- Davi Nathan Madeira da Mota
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1 CONFECÇÃO E ANÁLISE DO PERFIL GEOECOLÓGICO DA BACIA DO RIO SAGRADO (MORRETES/PR) Ana Paula Marés Mikosik (UFPR) anammikosik@hotmail.com Fernando Helmuth Syring Marangon (UFPR) fernandomarangon@uol.com.br Josemar Pereira da Silva (UFPR) josemar@ufpr.br Eduardo Vedor de Paula (UFPR) edugeo@ufpr.br Resumo O presente trabalho teve como objetivo a elaboração de um Perfil Geoecológico, o qual servirá de subsidio à análise das tipologias vegetacionais encontradas na bacia hidrográfica do Rio Sagrado, localizada no município de Morretes (PR). A partir do mapa de vegetação original potencial elaborado por Paula e Santos (2007), delimitou-se um transecto que contempla a maior variedade de vegetação existente na bacia em questão. Com o auxílio do software ArcGIS 9.2, e considerando-se o MDT (Modelo Digital do Terreno), o transecto foi convertido em formato 3D, o que se denominou de perfil longitudinal da bacia. Este perfil, por sua vez, recebeu um tratamento gráfico e informativo referente aos compartimentos geológicos, geomorfológicos, pedológicos e de vegetação original potencial. As informações cartográficas dos mencionados compartimentos foram obtidas em Paula e Cunico (2002). Dentre os resultados deve-se destacar que o Perfil Geoecológico demonstrou que a configuração do relevo exerce papel de destaque na formação dos solos e conseqüentemente no desenvolvimento da vegetação. Assim sendo, os refúgios vegetacionais, por exemplo, se caracterizam por apresentar vegetação rasteira e pouco desenvolvida em comparação às vegetações das áreas de Floresta Ombrófila Densa. Fato diretamente relacionado à alta altitude. À medida que se segue ao sentido litorâneo, em virtude do decréscimo da declividade e altitude, localizam-se solos e vegetações mais desenvolvidos em relação à parte mais alta do perfil, com exceção da área de Planície Aluvial, pois se trata de um local com deposição de sedimentos recente na qual a presença da água é constante. O Perfil Geoecológico mostrou ser uma ferramenta na qual os dados se mantêm organizados de forma sistêmica. Além disso, possibilita a representação dos elementos do meio físico de maneira didática, o que proporciona certa facilidade para análise integrada dos elementos e descrição da paisagem. Palavras-chave: cartografia, perfil geoecológico, vegetação. Abstract The present work had as objective the developing of a Geoecological Profile, which will serve as an allowance to the analysis of vegetation types found in the hydrografic basin of the Sagrado river, located in Morretes (PR). From the original potential vegetation map produced by Paula and Santos (2007), it was bounded a transect that contemplates the greatest vegetation s variety existing in the basin in question. Using the software ArcGIS 9.2, and considering the DTM (Digital Terrain Model), the transect was converted to 3D format, which has been called the longitudinal profile of the basin. This profile, in turn, received a graphical processing information concerning to the geological, geomorphological, pedological compartments and to the original potential vegetation. The cartographic information of the mentioned compartments were obtained in Cunico and Paula (2002). Among the results it must be detached that the Geoecological Profile showed that the relief s configuration exercises a proeminet role in soil s formation and consequently in the development of vegetation.therefore, the vegetacional refuges, for example, is characterized by present creeping vegetation and underdeveloped compared to the vegetation of the Dense Ombrophile Forest s areas. Fact directly related to high altitude. As you follow to the coastal direction, the more developed soils and vegetation are located, because of the slope and altitude s decrease, in relation to the highest part of the profile, except the Alluvial Plain s area, because it is a place with recent deposition of sediments on which the presence of water is constant. The Geoecological Profile has shown to be a tool on which
2 the data remains organized in a systematic way. Besides, it permits the representation of the physical enviroment s elements in a didactic way, which provides some facility for integrated analysis and description of the landscape s elements. Key-words: cartography, Geoecological Profile, vegetation. Introdução O presente trabalho teve como objetivo a elaboração de um Perfil Geoecológico, o qual servirá de subsídio à análise das tipologias vegetacionais encontradas na bacia hidrográfica do Rio Sagrado, localizada no município de Morretes (PR), como exposto na Figura 1. A escolha desta bacia hidrográfica levou em consideração a existência da diversidade de tipos de vegetação potencial que poderiam ser abordados no perfil geoecológico, ou seja, das 10 tipologias vegetacionais contemplou-se 8 delas, sendo elas: Floresta Pioneira de Influência Fluviomarinha e Fluvial; Floresta Ombrofila Densa Terras Baixas, Aluvial, Submontana, Montana, Altomontana e Campos de Altitude. Outro fator preponderante é a existência de base cartográfica pertinente à bacia em questão. O Perfil Geoecológico configura se como uma representação da paisagem ao apresentar a estrutura geoecológica da mesma. A organização dos elementos integrados no Perfil Geoecológico faz alusão à idéia da forma e estrutura de um geossistema elaborado por Bertrand (1971) apud Moresco (2007) em que os geohorizontes são estruturas verticais homogêneas que se superpõem umas as outras e as geofácies correspondem a distribuição horizontal de elementos de características similares com distinção superficial. A abordagem sistêmica dos elementos estruturais (relevo, geologia e solo) e climático permitiu o entendimento da dinâmica natural das unidades de paisagem, bem como possibilitou atribuir a morfodinâmica o papel de repercutir diretamente no desenvolvimento da vegetação.
3 Figura 1 Localização da bacia hidrográfica do Rio Sagrado. Materiais e Método A elaboração do perfil geoecológico, situado na Bacia Hidrográfica do Rio Sagrado teve como base para a determinação dos fatores estruturais os seguintes mapeamentos: geológico (1:50.000),
4 pedológico (1:50.000) e geomorfológico (1:70.000) da região. As informações relativas aos compartimentos e classes de solos mencionadas encontram-se disponíveis em Paula e Cunico (2002). Classificou-se, segundo Köeppen (Iapar, 2000) apud Paula e Cunico (2002), o clima como incluso na tipologia Cfa, chuvoso tropical sempre úmido.tomou se por base essa classificação devido ao fato de não haver disponibilidade de dados referentes ao(s) microclima(s) presente(s) na bacia hidrográfica. Por fim, o fator biogeográfico concebeu-se como sendo o mapa de vegetação potencial (Paula et all, 2008) na escala 1: da região. Conforme a metodologia proposta por Bertrand (1968) apud Nascimento e Sampaio (2004/2005), Tabela 1, seria ainda necessária a presença dos fatores antrópicos que exercem influência sobre o geossistema e consequentemente nas suas geofácies. Porém, ao se utilizar o mapa de vegetação potencial mantendo o enfoque no sistema de evolução, o qual considera uma série de agentes e processos hierarquizados que atuam sobre o geossistema, segundo (Souza, 2000) apud Nascimento e Sampaio (2004/2005), a influência do fator antrópico não é considerada e, portanto, não foi discutida. Com base na sobreposição dessas informações e nas averiguações realizadas em campo, desenhou-se um transecto de sentido SW - NE, com o intuito de contemplar a maior variedade de cobertura vegetacional potencial presente na bacia hidrográfica. Desta forma, o trabalho não conseguiu abordar todas as tipologias vegetacionais existentes na Bacia Hidrográfica do Rio Sagrado, pois a escolha do transecto selecionou a maior parte delas totalizando 8 tipos. A Figura 2 demonstra as tipologias contempladas no Perfil Geoecológico, quais sejam:
5 Figura 2 Demonstra as tipologias vegetacionais potencias contempladas pelo transcecto, o qual originou o Perfil Geoecológico. Em ambiente digital, a partir das curvas de nível (intervalo de 10 metros) e pontos cotados (DSG 2002), por meio do uso do software ArcGIS 9.2 foi gerado o Modelo Digital do Terreno (MDT) utilizando-se o método de interpolação TIN (van Kreveld, 1996). Posteriormente, elaborou-se o perfil longitudinal da área de estudo através do cruzamento do MDT gerado a partir da linha de transecto
6 previamente definida. Feito isso, foram inseridas informações dos compartimentos geológicos, geomorfológicos, tipos de solos e vegetação potencial identificados anteriormente. Com o intuito de facilitar a análise dos tipos vegetacionais optou se por definir no Perfil Geoecológico a compartimentação das unidades de paisagem. Segundo Moresco (2007), a identificação e delimitação das unidades de paisagem deve ser realizada através do elemento mais significativo para a dinâmica do ambiente. No caso estudado, esse elemento é relevo. Com base na classificação ecodinâmica proposta por Tricart (1977) estabeleceu se duas unidades de paisagem: uma delas compreende a variação da altitude de 1030m a 500m e a outra de 500m a 0m. Justamente por isso, o transecto compreende essas duas unidades de paisagem. A Tabela 1 apresentada abaixo sugere que o procedimento da análise geoecológica, seja norteada pelos parâmetros atrelados a grandeza de ordem IV-V numa escala espaço-temporal, a qual considera como sendo os elementos fundamentais os biogeográficos e antrópicos. Contudo, no estudo presente neste trabalho, como já justificado anteriormente, deu-se ênfase aos elementos chamados pelo referido autor de climáticos e estruturais. Unidade da paisagem Zona Domínio Região Natural Geossistema Geofácies Geótopo Escala espaço-temporal (CAILEUX; TRICART) G. I (*) Exemplo tomado numa mesma série de paisagens + de km 2 Intertropical G. II a km 2 Das caatingas semi-áridas G. III Litoral do Nordeste brasileiro a km 2 ou depressão sertaneja G. IV - V Cerca de 10 a 1 km 2 G. VI G. VII Planície litorânea de Fortaleza ou depressão sertaneja de Baturité Planície flúvio-marinha do Rio Ceará Salina desativada, encostas, ravinas ou outros elementos bem particulares Fonte: Nascimento e Sampaio (2004/2005), adaptado de Bertrand (1968). Nota: (*) G = Grandeza. Relevo Domínio Estrutural Região Estrutural Unidade Estrutural Elementos fundamentais Climáticos e estruturais Biogeográficos e antrópicos Tabela 1 Apresenta o procedimento para a análise geoecológica.
7 Resultados Figura 03 Corresponde ao Perfil Geoecológico. A configuração do Perfil Geoecológico, conforme Figura 3, permitiu que se estabelecesse uma unidade de paisagem correspondente a variação de altitude de 500 a 1030 metros em que sua caracterização apresenta o predomínio do processo de morfogênese. Fato relacionado à instabilidade das vertentes, as quais apresentam declividades altas (acima de 20%) que contribuem para a dissecação das encostas, as quais são acentuadas pela influência pluviométrica Assim sendo, o solo não atinge a maturação, e consequentemente apresenta se pouco espesso. Essa configuração pode ser atrelada à área encontrada nas altitudes entre 500 e 1000 metros com a presença do tipo de solo denominado de Neossolo Litólico e vegetação de pequeno porte como, o exemplo presente no perfil geoecológico, a Floresta Ombrófila Densa Altomontana. É importante ressaltar que o Organossolo, 1000 a 1030 metros, está compreendido nessa unidade de paisagem (500 a 1030 metros) apenas por localizar se na alta altitude em que a cobertura vegetal composta pelos campos de altitude não é densa o suficiente para estabilizar o solo. Diferente da Floresta Ombrófila Densa presente na outra unidade de paisagem (0 a 500 metros), a qual acredita se que esteja num processo de fitoestasia capaz de possuir um efeito estabilizador em relação ao
8 deslocamento do solo (Tricart, 1977). A ocorrência de Cambissolo associado ao Argissolo Vermelho Amarelo em relevo relativamente mais plano permite justificar essa proposição. Já a Planície Aluvial possui influência do canal hídrico que parece estar relacionado Cambissolo Flúvico devido a esse tipo de solo conter como característica os sedimentos aluviais (IBGE, 1995). No local apresenta se vegetação arbustiva e/ou rasteira típicas de terrenos mais baixos. Nota se a aparição dos tipos de Gleissolos (Gleissolo Háplico e Tiomórfico) nas condições de hidromorfismo em que ocorrem os tipos vegetacionais aptos ao ambiente com condições de excesso d água; ou seja, Floresta Ombrófila Densa Terras Baixas e Floresta Pioneira de Influência Flúvio Marinha. Esta última aprecerá no perfil no espaço compreendido a Floresta Ombrófila Densa Submontana, pois há um vale entrecortado pelo rio principal (Rio Sagrado) que permite a existência da mesma. Deve se esclarecer que o exagero desse vale é resultado da curva à nordeste (NE) do transcecto. Considerações Finais A finalidade deste trabalho era detalhar a metodologia utilizada para a construção do Perfil Geoecológico como também averiguar a eficácia do mesmo ao entendê lo como uma ferramenta. O resultado obtido neste trabalho revelou-se satisfatório. Constatou-se que a organização dos elementos do meio físico no formato do perfil permitiu que se obtivesse uma visualização da paisagem, bem como a forma sistêmica na qual esses elementos foram representados proporcionou certa facilidade para a análise integrada e descrição da paisagem. Indubitavelmente, é necessário o aprimoramento da construção do Perfil Geoecológico como também da análise, a qual não pode ser aprofundada devido à escassez de determinados dados. Deste modo, a perspectiva é que esse trabalho possa contribuir para a elaboração de outros nos quais abordem esse intuito. Referências Bibliográficas BERTRAND, Georges. Paysage et Géographie Physique Global. Esquisse Méthodologique Revue Géographique dês Pyrenés et du Sud Ouest, Toulouse, v. 39, n. 3, p , IBGE. Manual Técnico de Pedologia. Rio de Janeiro: Fundação IBGE, Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais, 1995.
9 FÁVERO, Oriana Aparecida, NUCCI, João Carlos, BIASI, Mário de. Vegetação Natural Potencial e Mapeamento da Vegetação e Usos Atuais das Terras da Floresta Nacional de Ipanema, Iperó/Sp: Conservação e Gestão Ambiental. RA EGA, n 8, p Editora UFPR. Curitiba KLINK, Hans Jürgen Geoecologia e Regionalização Natural (Bases para Pesquisa Ambiental) Instituto de Geografia, Universidade de São Paulo, São Paulo, n.17 - Biogeografia, MORESCO, Maristela Denise. Estudo de Paisagem no município de Marechal Cândido Rondon Paraná. Dissertação (Mestrado em Geografia) Universidade Estadual de Maringá. Maringá, NASCIMENTO, Flávio Rodrigues do e SAMPAIO, José Levi Furtado Geografia Física, Geossitemas e Estudos Integrados da Paisagem Revista da Casa da Geografia de Sobral, Sobral, v. 6/7, n.1, p , 2004/2005. PAULA, Eduardo Vedor de; CUNICO, Camila. O assoreamento das baías de Antonina e Paranaguá e a gestão de suas bacias hidrográficas. In: Eliane Bêe Boldrini, Carlos Roberto Soares, Eduardo Vedor de Paula. (Org.). Dragagens Portuárias mo Brasil: Engenharia, Tecnologias e Meio Ambiente. 1 ed. Antonina/PR. Faculdades Integradas Espírita (UNIBEM), 2008, v. 1, p PAULA, Eduardo Vedor de; SANTOS, Leonardo José Cordeiro; BERTRAND, Frédéric; ANSELME, Brice. Estimativa da Vegetação Natural Potencial na Área de Drenagem da Baía de Antonina. FLORESTA, Curitiba, PR, v. 38, n. 2, abr./jun PARANÁ. Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Programa Floresta Atlântica. Mapeamento da Floresta Atlântica do Estado do Paraná. Relatório final. Curitiba, 2002b. VAN KREVELD, M. - Digital Elevation Models and TIN Alghorithms - Notes for CISM Advanced School on Alghorithms Foundations of GIS, TRICART, Jean. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE, Agradecimentos
10 Agradecemos aos Prof. Dr. João Carlos Nucci, Prof. Dr. Leonardo José Cordeiro Santos, Prof. Dr. Everton Passos e a Profª. Ms. Maristela Denise Moresco Mezzomo, pelas contribuições realizadas neste trabalho.
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