PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO: aplicação
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- Felícia Varejão de Barros
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1 PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO: aplicação e eficácia social no sistema jurídico atual Larissa Márcia Ribeiro Pinto 1 RESUMO: As penas restritivas de direito também chamadas de penas alternativas de Direito, são aquelas que substituem a pena privativa de liberdade. A aplicação dessas penas é dada de forma autônoma e em cinco modalidades diferentes. Sua aplicação e eficácia na sociedade ainda geram muitas dúvidas e controvérsias, principalmente em relação a sua efetividade social. Este trabalho tem como objetivo analisar a efetividade da aplicação dessas penas e como tem se dado a eficácia desta na sociedade atual. PALAVRAS-CHAVE: Aplicação. Eficácia. Penas Alternativas. Social. Sociedade. 1 INTRODUÇÃO O tema escolhido para ser estudado neste trabalho se encontra em destaque na área penal e tem uma relevância social muito forte na sociedade, por se tratar das penas restritivas de direito, que não causam repercussão somente na vida de quem é condenado a cumprir essas sanções, mas, também, refletem no âmbito social como um todo. As penas restritivas têm sido consideradas uma solução para o sistema prisional brasileiro e também um modo de reintegração social do condenado. O fomento dado por parte do ministério da justiça e pelo conselho nacional de justiça para a aplicação dessas penas tem sido muito forte atualmente, tornando as penas restritivas destaque em discussões de magistrados e juristas na sua aplicação para punição de crimes. Contudo, há uma grande discussão sobre a aplicação e a real eficácia dessas penas na nossa sociedade e qual relevância ela tem tido socialmente, então, inicialmente, irá se conhecer sobre o que se tratam essas penas, como surgiram, como se dá a sua aplicação e fiscalização, partindo para os pontos cruciais da pesquisa com relação à efetividade e eficácia que essas penas produzem no sistema jurídico atual, para vermos se suas intenções estão sendo atendidas e ao final propor inovações ou mudanças que possam ocorrer para uma melhor aplicação desse sistema de penas restritivas de direitos, que são tão essenciais ao nosso ordenamento jurídico. 2 DA EVOLUÇÃO HISTÓRICA DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO Inicialmente se faz necessário voltar no tempo, para contextualizar como se deu o surgimento das penas restritivas de direito. Essa pena foi criada por ineficiência da pena privativa de liberdade na recuperação do detendo. O primeiro registro que se tem do uso da pena restritiva foi em 1926, quando o código penal soviético previu a pena de prestação de serviços à comunidade, nos artigos 20 e 30 do seu código penal. No ano de 1963 a Bélgica adotou a pena de limitação de final de semana, para penas inferiores a um mês. Em 1972 a Inglaterra implantou o Community Service Order, em que o condenado no seu período de descanso tinha que se dedicar a uma atividade não remunerada de interesse comum, ou seja, o trabalho comunitário. Bitencourt fala em sua obra: O êxito obtido pelos ingleses influenciou vários países, que passaram a dotar o instituto, ainda que com algumas peculiaridades distintas. (BITENCOURT, 2016, p. 589). Em 1975 o código penal Francês introduziu a retirada da licença para dirigir como pena alternativa. Neste mesmo ano, na Alemanha, as penas inferiores a seis meses passaram a ser substituídas por pena de multa. Com o sucesso da recuperação dos condenados nesses países outros passaram a adotar as penas restritivas de direito, como Luxemburgo em 1976, Canadá em 1977, entre outros. Como Luiz Regis Prado aborda em seu livro, as penas alternativas estão presentes de várias formas nos outros ordenamentos jurídicos, como o código penal alemão que prevê a pena de proibição de conduzir veículos e a perda dos direitos políticos, ou o código penal italiano, que prevê a proibição e exercício de cargos públicos, a proibição de exercício de uma profissão, entre outros. É importante ressaltar as Regras de Tóquio, denominadas Regras Mínimas das Nações Unidas para a Elaboração de Medidas Não Privativas de Liberdade. As Regras de Tóquio foram formuladas pelo instituto da Ásia e do Extremo Oriente, aprovadas em 19 de dezembro de 1990 pela Assembleia Geral das Nações Unidas, com o objetivo de incentivar os estados-membros a adotar meios mais eficazes para prevenir a criminalidade e dar um melhor tratamento aos encarcerados. Assim, essas regras visam encontrar outros meios que não a prisão para o cumprimento da pena, devido à superlotação das prisões e o tratamento muitas vezes desumano aos encarcerados. No Brasil, o movimento para a introdução das penas alternativas veio na transição da ditadura para a democracia e com o advento da reforma penal de 1984, que introduziu no ordenamento jurídico as penas restritivas de direito e teve sua reforma na lei das penas alternativas, Lei de novembro de 1998 que ampliou as medidas restritivas. Percebe-se como essa pena foi surgindo e evoluindo ao longo das décadas e dos diversos ordenamentos jurídicos. 3 DA PENA RESTRITIVA DE DIREITOS Com o passar dos anos foi possível perceber que a pena privativa de liberdade não foi suficiente para a prevenção da criminalidade, sendo ineficiente na recuperação do detento. Para tentar reverter essa situação, procurou-se um meio fora da pena privativa de liberdade para a recuperação do detendo e sua reinserção na sociedade, para isso criou-se as penas restritivas de direito. Luiz Regis Prado preleciona: A imposição dessas penas tem por escopo contornar a duvidosa eficácia das penas privativas de liberdade 1 Graduanda da Escola de Direito do Centro Universitário Newton Paiva. 281
2 de curta duração aplicadas a condutas delitivas de escassa repercussão, não raro perpetrados por delinquentes ocasionais. (PRADO, 2013, p. 679) Assim, as penas restritivas representam de certa forma um alívio na punição por pena privativa de liberdade, no que tange infrações penais em que a pena de prisão representaria algo desproporcional, ou seja, condutas de potencial ofensivo muitas vezes menor e com penas de curta duração. 3.1 Conceito As penas restritivas buscam a recuperação do condenado sem tirá-lo da sociedade, assim diminuindo a violência e a reincidência. Além disso, elas trazem grandes vantagens como: a redução dos gastos do sistema penitenciário, evitam o encarceramento dos condenados que praticam crimes de menor potencial ofensivo, o condenado não precisa deixar sua família e nem se afastar do seio da sociedade, permite ao magistrado adequar a pena às condições pessoais do condenado e à gravidade do fato, possibilidade de redução da reincidência, evita as violências intrínsecas das prisões, eficiência na reeducação e ressocialização do condenado, entre outros. A pena restritiva de direitos tem como natureza jurídica ser autônoma e substitutiva e será cumprida pelo mesmo prazo da primeira (pena privativa de liberdade). [...] as penas restritivas de direito previstas no estatuto atual são autônomas, e não acessórias, sendo, inadmissível sua cumulação com as penas privativas de liberdade. São, de fato, substitutivas destas últimas, de modo que sua aplicação exige, em uma etapa preliminar, a fixação pelo juiz do quantum correspondente à privação da liberdade, para depois proceder-se sua conversão em pena restritiva de direitos, quando isso for possível. (PRADO, 2013, p. 674) A pena restritiva de direito está prevista nos artigos 43 a 48 do código penal, e tem a intenção de proteger a dignidade da pessoa humana, sendo uma forma de prevenção da criminalidade e de ressocialização do condenado. Nunca será cumulada com a pena privativa de liberdade, será aplicada a delitos cometidos sem violência ou grave ameaça, com pena de até quatro anos, em crime culposo e se o réu não for reincidente em crime doloso. Apesar do caráter substitutivo das penas restritivas de direito, já se podem encontrar penas aplicáveis independentes das penas privativas de liberdade, como no código de trânsito brasileiro (Lei 9.503/97), que dispõe no artigo 292 sobre a suspensão ou a proibição de se obter permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor ou como pode-se ver no artigo 302 da mesma lei, que possibilita aplicar pena privativa de liberdade cumulada com a pena restritiva de direitos. 3.2 Espécies de penas alternativas No artigo 43 do código penal brasileiro encontram-se as modalidades de penas restritivas de direito. Entende-se a doutrina que o rol é taxativo. Art. 43. As penas restritivas de direitos são: Prestação pecuniária; Perda de bens e valores; VETADO; Prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; Interdição temporária de direitos; Limitação de fim de semana. (VADE MECUM, 2012, p. 346) A prestação pecuniária é o pagamento à entidade pública ou privada ou à vítima e seus dependentes de uma quantia fixada pelo juiz, não inferior a um salário mínimo nem inferior a 360 salários mínimos. Porém, atualmente, o conselho nacional de justiça (CNJ), determinou no seu provimento conjunto n 27/2013 que os valores arrecadados da prestação pecuniária serão feitos por meio de depósitos na conta corrente de cada comarca, aberta exclusivamente para essa finalidade e será vinculado ao juízo da execução penal de cada comarca. E os recursos arrecadados serão destinados ao financiamento dos projetos apresentados por entidade pública ou privada com finalidade social, de educação e saúde. Artigo 45. 1º. A prestação pecuniária consiste no pagamento em dinheiro à vítima, a seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um) salário mínimo nem superior a 360 (trezentos e sessenta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do montante de eventual condenação em ação de reparação civil, se coincidentes os beneficiários. (VADE MECUM, 2012, p. 346) A perda de bens e valores consiste na transferência, em favor do fundo penitenciário nacional, dos bens e valores adquiridos pelo condenado, tendo como base o montante do prejuízo causado a terceiro ou ao proveito obtido pelo agente pela prática do crime. Artigo 45. 3º. A perda de bens e valores pertencentes aos condenados dar-se-á, ressalvada a legislação especial, em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu valor terá como teto - o que for maior - o montante do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente ou por terceiro, em consequência da prática do crime. (VADE A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é a realização de tarefas gratuitas do condenado junto a entidades assistenciais. Como escolas, hospitais etc. É a sanção penal mais comum e a melhor, por obrigar o autor do crime a reparar o dano causado através do seu trabalho. É aplicável a penas superiores a seis meses de privativa de liberdade, e a intenção desta pena é a reinserção social do condenado. Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é aplicável às condenações superiores a 6 (seis) meses de privação da liberdade. 1º. A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas ao condenado. 2º. A prestação de serviço à comunidade darse-á em entidades assistenciais, hospitais, escolas, orfanatos e outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou estatais. 3º. As tarefas a que se refere o 1º serão atribuídas conforme as aptidões do condenado, devendo ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada normal de trabalho. 4º. Se a pena substituída for superior a um ano, é facultado ao condenado cumprir a pena substitutiva em menor tempo (artigo 55), nunca inferior à metade da pena privativa de liberdade fixada. (VADE A interdição temporária de direitos consiste na proibição do condenado de frequentar certos lugares ou exercer certa função. Como, por exemplo, não frequentar bares ou similares, ou não se inscrever em concurso público. Art. 47 As penas de interdição temporária de direitos são: I proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo; II proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação especial, de 282
3 licença ou autorização do poder público; III suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo. IV proibição de frequentar determinados lugares. V proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exame público. (VADE Por fim, tem-se a limitação de final de semana que consiste na permanência do sentenciado em casas de albergado nos finais de semana durante cinco horas diárias, para participar de palestras, atividades educativas, entre outros. Vale ressaltar que essa modalidade está em desuso, devido à falta de casas de albergado, e na falta de vaga nas que existem. Art. 48. A limitação de fim de semana consiste na obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por 5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado. Parágrafo único. Durante a permanência poderão ser ministrados ao condenado cursos e palestras ou atribuídas atividades educativas. (VADE Essas são as espécies de penas alternativas, sendo que a prestação de serviços à comunidade é a mais utilizada por ser considerada a mais eficiente, se tratando da recuperação do condenado e tem caráter mais objetivo. Porém, para cada caso é preciso analisar qual será a medida a ser aplicada para que se tenha uma correta aplicação da pena restritiva. 3.3 Da aplicação das penas restritivas de direito A Pena Restritiva de Direito será aplicada utilizando três requisitos objetivos e um subjetivo, sendo os objetivos: a aplicação da pena privativa de liberdade não superior a quatro anos, quando se tratar de crime doloso, ou seja, crime cometido sem violência ou grave ameaça à pessoa e réu não reincidente em delito doloso. Subjetivos: condições pessoais favoráveis (culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, motivos e circunstâncias). Essas penas são autônomas, ou seja, não aplicadas conjuntamente com as penas privativas de liberdade, porém não pode ser aplicada diretamente, e sim em substituição a pena corporal imposta anteriormente. A lei abriu um precedente com relação à substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos no caso de reincidente por crime doloso, para isto a substituição tem que ser socialmente recomendável, ou seja, essa substituição verifica maior possibilidade de reeducação do condenado, e no caso de não ter havido reincidência específica, ou seja, não pode reiterar o mesmo crime, mesmo tipo penal. No caso de concurso de crimes, é preciso analisar se poderá ter a substituição da privativa de liberdade por restritiva de direitos, verificando se os somatórios das penas não ultrapassam o limite legal previsto, no caso, quatro anos. A conversão da pena em restritiva de direito é mais comum na sentença condenatória em que o juiz tem que definir por qual ou quais restritivas irá substituir a pena privativa de liberdade. Pena privativa de liberdade igual ou inferior a um ano pode ser substituída por uma restritiva de direitos e multa, condenação superior a um ano será substituída por duas restritivas de direitos, ou uma restritiva de direitos e multa. No caso de o condenado não cumprir suas obrigações, suas condições impostas na condenação sem justificativa, ele poderá perder o benefício, ou seja, a reconversão da pena restritiva de direitos em pena privativa de liberdade. André de Abreu Costa discorre o seguinte: Prevê o código penal que há caso em que a conversão é obrigatória, devendo ser promovida pelo juízo da execução sempre que ocorrer a situação prevista legalmente; outros em que ela é facultativa, podendo não existir a supressão do benefício. (COSTA, 2014, p. 338). A conversão será obrigatória quando ocorrer o descumprimento injustificado da restrição imposta. E será facultativa quando sobrevier condenação a pena privativa de liberdade por outro crime, o juiz neste caso deve verificar se a possibilidade de continuar cumprindo a obrigação imposta, devido à vinda de nova condenação. Na maioria dos casos, após ser feita a reconversão o juiz determina que seja realizada audiência de justificação, em que o condenado poderá justificar seu descumprimento e se for o caso o juiz poderá mandá-lo retomar ao cumprimento da pena restritiva de direitos. 4 FISCALIZAÇÃO DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO Após entender o que são as penas restritivas de direitos, quais são e como se aplicam, é necessário analisar como é feita a fiscalização dessas penas. É preciso entender que esse tipo de sanção é cumprido no meio aberto, então exige-se que seu monitoramento seja diverso daquele realizado e exigido no regime prisional. Ele engloba outros ramos como o uso de drogas, meio ambiente e violência contra mulher, todos passíveis de aplicação das penas restritivas de direito. Uma das grandes questões que se tem ao aplicar essa pena é qual o tipo de sanção que se encaixa melhor no perfil do autor do delito e qual instituição vai se adequar melhor a sua realidade. Para isso, teve início o dilema de qual órgão seria responsável por essa monitoração e fiscalização na aplicação das penas restritivas de direito, se seria a varas especializadas ou centrais de aplicação dessas penas e medidas como, por exemplo, as CEAPAs (Centrais de Acompanhamento às Penas e Medidas Alternativas), um órgão composto por profissionais de diversas áreas como psicologia, assistência social e direito, com o intuito de monitorar e fiscalizar a execução da pena ou medida aplicada, que tem sido fortemente utilizada pelos Estados na aplicação dessas penas, ficando responsável pelo encaminhamento e pelos relatórios de cumprimento do condenado. [...] Inicialmente, cabe às Centrais, prestar assessoria ao Juízo de Execução quanto ao processo de adequação das alternativas penais aplicadas ao perfil do beneficiário, no intuito de conferir efetividade no cumprimento da reprimenda imposta, colaborado para evitar o seu insucesso. Cabe à CEAPA acompanhar, durante todo o período do cumprimento da alternativa penal imposta, o comportamento do beneficiário, auxiliando e intervindo nas possíveis situações que potencializem o descumprimento [...]. (GOMES, 2008). Como o Brasil é um país extenso é complicado uniformizar esse padrão de fiscalização em todos os estados, então, aqui em Minas Gerais, por exemplo, para a monitoração e fiscalização da execução das penas e medidas restritivas não foi criada nenhuma vara especializada, porém a vara de execução criminal tem estrutura voltada para aplicação e monitoração das sanções restritivas de direito e o poder executivo instalou centrais de aplicação dessas penas e medidas, como a CEAPA. No Brasil, dessas sanções as mais aplicadas são a prestação de serviço à comunidade e a prestação pecuniária, conforme estudo realizado por Ilanud (2006). Para isso são necessárias instituições da sociedade civil e de órgãos públicos não vinculados às execuções penais para receber de modo voluntário os cumpridores das penas e medidas restritivas, como exemplo as creches, hospitais, escolas etc. 283
4 Entretanto, essas instituições precisam de apoio técnico, político e financeiro, pois a função que elas exercem é de interesse público, além do sistema de justiça que precisa ter mais comprometimento acerca da aplicação e execução dessas medidas alternativas. 4.1 Da eficácia das penas restritivas de direito As penas restritivas de direito trazem dúvidas sobre sua real eficácia no ordenamento jurídico, e se elas realmente realizaram melhorias no sistema de penas brasileiro. Porém, é preciso entender que para se ter sucesso na aplicação dessas medidas é preciso investimento e confiança por parte dos órgãos públicos, o que nem sempre acontece como deveria. Conforme apresentado no relatório de pesquisa a aplicação de penas e medidas alternativas do IPEA, falta estrutura para a execução e fiscalização no cumprimento dessas penas, como, por exemplo, a falta de estrutura para atender aqueles que cumprem a pena de limitação de final de semana, o que fez entrar em desuso no sistema atual por falta de vagas e casas de albergado, ou na própria falta de fiscalização para o cumprimento da pena de prestação de serviços à comunidade. Isso ocorre principalmente pela falta de vontade e investimento por parte das autoridades para melhorar o sistema. Tudo isso causa uma sensação de impunidade por parte da sociedade e até dos magistrados que apresentam, muitas vezes, resistência em aplicar a substituição da pena. Porém, mesmo com os problemas enfrentados na execução e fiscalização dessas sanções, as penas alternativas tem sido uma grande aposta na reforma do sistema prisional no país, necessárias na recuperação do condenado. O intuito maior na aplicação das penas restritivas é tentar reinserir no seio da sociedade aquele que pratica um delito, de forma a tentar diminuir o número de reincidência e de encarcerados, principalmente quando esse condenado apresenta pouca periculosidade e praticou um crime de menor potencial ofensivo, além de ter um custo bem menor que o do cárcere. É também uma busca em impedir que condenados de crimes de baixa periculosidade convivam no sistema privativo de liberdade com aqueles que cometeram delitos mais graves, e acabem por vir a praticar futuramente delitos de alta gravidade também. É uma chance, para haver uma recuperação do sentenciado mantendo-o no convívio da sociedade, de sua família, e profissional, para que possa ter a sua ressocialização. Portanto, fica claro que a pena restritiva de direitos é mais eficaz ao condenado do que a pena privativa de liberdade, pois facilita sua recuperação e reinserção na sociedade, sem que conviva no ambiente do cárcere, que geralmente torna um condenado de baixa periculosidade em um perigo maior para a sociedade. Mas é preciso entender que nem todos os casos caberão às restritivas de direitos, é preciso saber aplicá-las respeitando os requisitos previstos em lei para que elas tenham a eficácia esperada, além de um maior comprometimento dos juízes das execuções penais e do ministério público na fiscalização do cumprimento dessas penas, para que não haja na sociedade a sensação de impunidade na aplicação das penas substitutivas. 5 SOLUÇÕES QUE PODEM PROMOVER A MAIOR EFETIVIDADE E EFICÁCIA DAS PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO As penas restritivas de direitos como apresentadas no trabalho são de grande importância na luta pela reforma do sistema prisional no Brasil. Mostra-se claro que ela exerce uma eficácia maior que a pena de cárcere, tendo forte significância na luta pela reinserção do condenado no seio da sociedade. Vimos também que há problemas a serem superados na execução e fiscalização dessas penas, o que muitas vezes prejudica sua real efetividade, gerando um descontentamento e um sentimento de impunidade na sociedade. Porém, há várias propostas para que se promova uma maior efetividade dessas penas, assim gerando uma eficácia maior. É fundamental que o poder público tem que proporcionar uma estrutura adequada para a aplicação dessas penas, os recursos financeiros devem ser destinados corretamente para a manutenção desse sistema, levando-se em conta que ele ainda tem um custo menor do que o sistema de cárcere. As varas de execuções criminais podem buscar parcerias com as instituições que realizam trabalhos sociais para que elas também ajudem na aplicação e fiscalização das penas restritivas. É preciso que se adotem essas penas em casos que realmente haja possibilidade de recuperação do condenado, pois, muitas vezes, há casos em que ele é de alta periculosidade ou mesmo não tem o perfil de que vai cumprir as medidas impostas. Criar mecanismos para a fiscalização dessas medidas como as CEAPAs, é um grande exemplo de iniciativa para a execução e fiscalização das penas, tentando ampliar suas centrais onde ainda não há presença de sua atividade. Nas penas de limitação de final de semana, tentar criar casas de albergado para que se tenha vaga no cumprimento dessa medida, não deixando entrar em desuso e ficar sem utilidade como está acontecendo no momento por falta de vagas e estabelecimentos do gênero. Portanto, o importante e fundamental é que se tenha uma efetiva fiscalização da aplicação dessas penas, realizando mudanças como as citadas anteriormente, entre outras. Para isso, o poder público e as autoridades precisam se atentar as penas substitutivas investindo recursos na sua aplicação, para que se obtenha eficácia e que a sensação de impunidade por parte da sociedade e da vítima não ocorra. 6 CONCLUSÃO A finalidade desse trabalho foi mostrar as penas restritivas de direitos ressaltando principalmente sua aplicação e eficácia social no nosso ordenamento jurídico atual, sem deixar de mostrar sua relevância e importância social, mas pautando os problemas enfrentados na sua aplicação e efetividade. Inicialmente, foi tratada na pesquisa a evolução histórica dessas penas, como surgiram e se desenvolveram até chegar aos dias de hoje. Depois foi dado o conceito de penas restritivas de direito, que são aquelas penas que buscam a recuperação do condenado sem tirá-lo do seio da sociedade e que foi criada devido à ineficiência da pena privativa de liberdade na prevenção da criminalidade. São cinco modalidades de penas alternativas que podemos encontrar expressa no nosso código penal brasileiro, sendo elas: prestação de serviços à comunidade, pena pecuniária, perda de bens e valores, interdição temporária de direitos e limitação de final de semana. Essas penas são autônomas, não sendo aplicado conjuntamente com a pena privativa de liberdade e sim aplicada em substituição a pena corporal aplicada anteriormente. Ao longo do trabalho, tornou-se claro a importância da aplicação dessas penas no nosso ordenamento jurídico, pois tendo em vista a ineficiência da pena privativa de liberdade na prevenção da criminalidade e na recuperação do condenado, basta perceber o número alto de reincidências de condenados que cumprem essa pena, a criação das penas restritivas de direito foi um meio encontrado de superar essa ineficiência e mais do que isso, recuperar e reinserir na sociedade aquele que cometeu um crime, tentando diminuir a reincidência e a violência, além de ser um sistema mais barato e vantajoso para o Estado. 284
5 Porém, é necessário entender que ao se aplicar a pena restritiva de direitos vem a questão de como se procederá a fiscalização do cumprimento dessas penas, pois, se não for bem aplicada e fiscalizada seu resultado final não será alcançado. Como seu cumprimento se dá em meio aberto seu monitoramento será diverso do realizado no regime prisional. O grande problema que se enfrenta também é a falta de preocupação do poder público em criar mecanismos eficientes para a fiscalização das penas alternativas, com isso ainda há uma resistência por parte de operadores de direito em aplicar essas penas e há uma sensação de impunidade por parte da sociedade. Mas, temos no meio dessas deficiências por parte do poder público, um ponto relevante no aprimoramento da fiscalização dessas penas que foi a criação das CEAPAs (Central de Apoio às Penas e Medidas Alternativas), que busca criar condições institucionais para o acompanhamento e aplicação das penas alternativas, e já é usada em muitas comarcas. A criação das CEAPAs foi bem positiva e importante na fiscalização das penas alternativas, mas é necessário também que os estados garantam a destinação de valores para garantir o efetivo funcionamento deste importante órgão da execução penal. Pois, a falta de investimento do poder público, como os estados e municípios, a falta de criação de mecanismos para a fiscalização dessas penas ou de investimentos nos já criados tornam a efetividade e a eficácia dessas penas alternativas baixas. É preciso que os estados busquem soluções para promover uma maior efetividade e eficácia das penas restritivas, como proporcionar uma estrutura adequada para a aplicação delas, garantir a destinação de valores para assegurar o devido funcionamento das CEAPAs, as varas de execuções criminais podem buscar parcerias em instituições que realizem trabalhos sociais para ajudar na aplicação e fiscalização, entre outras medidas que podem ser tomadas para promover uma maior eficácia dessas penas em nossa sociedade. Portanto, ao final deste trabalho, podemos concluir que as penas restritivas de direito são uma forma mais eficaz de tentar garantir a reinserção social do condenado na sociedade, atribuindo ao cumprimento da pena uma finalidade social. Mas para que se obtenha o devido sucesso na aplicação dessa pena é necessária uma efetiva fiscalização no seu cumprimento e para isso o poder público deve investir e proporcionar uma estrutura adequada. Assim, os estados podem buscar maneiras de promover a real efetividade dessas penas, como algumas já exemplificadas neste trabalho e assim garantir a real efetividade e eficácia dessas medidas e tirar da sociedade a sensação de impunidade ainda gerada. REFERÊNCIAS BEZERRA, Adelly Karla Góes; MURARO, Celia Cristina. A aplicação das penas restritivas de direitos. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVII, n. 122, mar Disponível em: < site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=14607>. Acesso em: março BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal. Parte geral. São Paulo: Saraiva, Volume ESTEVES, Maria Fernanda de Lima. A eficácia das penas alternativas da redução da criminalidade (Mestrado em Direito) Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, GOMES, Geder Luiz Rocha. A substituição da prisão. Alternativas penais: legitimidade adequação. 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Publicação: 21/10/13 DJE: 18/10/13 Disponível em: REVISTA Eletrônica de Direito. Normas de Publicação. Revista eletrônica de Direito do Centro Universitário Newton Paiva - ISSN , disponível em acesso em 21 jun SILVA, Hugo Homero Nunes; SOBREIRO, Caio Cezar Amorim. Efetividade das penas Alternativas. 14 ed. Vade Mecum Rideel, Código Penal Brasileiro. article/viewfile/1723/1645. Acesso em: 17 de maio de SOARES JUNIOR, Antonio Coêlho. As regras de Tóquio e as medidas não privativas de liberdade no Brasil e na Itália: breves considerações. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XVI, n. 111, abr Disponível em: < Acesso em: 16 maio SOARES JUNIOR, Antonio Coêlho. Regras de Tóquio e medidas não privativas de liberdade: Brasil X Itália. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3594, 4 maio Disponível em: < Acesso em: 16 maio BRASIL. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPEA Rio de Janeiro COSTA, André de Abreu. Penas e Medidas de Segurança: fundamento e individualização. Rio de Janeiro: Lúmen Juris, Banca Examinadora Cristian Kiefer da Silva (Orientador) Laura Maria dos Fernandes Lima (Examinadora) 285
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