REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO CONCEITO INSETO DOS ESTUDANTES DAS SÉRIES INICIAIS DE UMA ESCOLA DE SÃO MATEUS, ESPÍRITO SANTO
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- Amália Filipe Barata
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1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO CONCEITO INSETO DOS ESTUDANTES DAS SÉRIES INICIAIS DE UMA ESCOLA DE SÃO MATEUS, ESPÍRITO SANTO Maisa de Carvalho Gonçalves (Universidade Federal do Espírito Santo, Campus São Mateus) Marcos da Cunha Teixeira (Universidade Federal do Espírito Santo, Campus São Mateus) Ana Paula Agrizzi (Universidade Federal do Espírito Santo, Campus São Mateus) RESUMO Objetivou-se verificar as representações sociais do conceito inseto dos alunos das séries iniciais de uma escola de São Mateus-ES. Para isso, as crianças foram estimuladas a produzirem desenhos e textos sobre a importância dos insetos e suas afinidades com os mesmos. Os resultados corroboram a hipótese da ambivalência entomoprojetiva e que os conhecimentos científicos demonstrados pelas crianças acessam apenas o sistema periférico das representações sociais, não sendo suficientes para modificar seu núcleo central, onde ainda resiste o significado social de inseto enquanto ser nocivo. Os resultados corroboram os discursos sobre a importância e o papel social da escola na (re)construção de uma perspectiva mais ecológica na abordagem dos assuntos relacionados aos insetos. Palavras-chave: educação, escola, ensino, ciências, zoologia. INTRODUÇÃO O termo representações sociais foi proposto por Serge Moscovici em 1961 em sua obra La Psychanalyse, sonimage, sonpublic, que contém a matriz da teoria (ARRUDA,2002).A teoria das representações sociais interessa-se pelas formas como se desenvolve a produção dos saberes sociais. Elaé especialmente dirigida aos saberes que se produzem no cotidiano e que pertencem ao mundo vivido pelo indivíduo (JOVCHELOVITCH, 1998). Nota-se, com isso, que as representações sociais vão se formando no seio social e se tornando verdades dentro de um contexto cultural. São essas verdades que constituem o núcleo central estável que persiste com o tempo e resiste às mudanças. Esse núcleo central, resultado da memória coletiva e do sistema de normas do grupo, é responsável pelo significado e pela organização interna da representação (ALVES- MAZZOTTI, 2005). As representações sociais podem ser utilizadas para explicar como as pessoaspercebem, identificam, categorizam, classificam e utilizam os animais de acordo com os costumes e percepções próprios de cada cultura, estabelecendo uma diversidade de interações com as espécies animais nas localidades onde residem (POSEY, 1986 apud COSTA NETO & CARVALHO, 2000). 6223
2 A interpretação dos estudos de etnociências utiliza a criação de etnocategorias como forma de articular as definições e conceitos da ciência ocidental com os conhecimentos tradicionais/locais (ANDRADE et al., 2014). Por exemplo, em várias sociedades, o lexema inseto é utilizado como uma etnocategoria classificatória ampla, na qual são incluídos organismos não sistematicamente relacionados com a classe lineanainsecta, tais como mamíferos, répteis, anfíbios e aracnídeos, além dos próprios insetos da classificação científica ocidental (COSTA NETO, 1994;PERONTI et al., 1998 apud COSTA NETO & RESENDE, 2004). Apenas 10% de todas as espécies de insetos descritas podem ser consideradas pragas ou vetores de doenças (Alves 2005 apud Souza Júnior et al., 2014). No entanto, é comum na sociedade representações negativas a esses insetos em função dessa característica. Smith (1934) em De Souza Junior (2014) afirma que a maioria das pessoas não consegue visualizar a real importância desses organismos, desenvolvendo um sentimento de medo ou pavor contra eles. No entanto, o autor alerta que na maior parte das vezes, o medo quase psicótico de insetos e outros animais é acompanhado por uma total falta de informação sobre o animal envolvido. Diante dessa realidade um aspecto importante na definição das estratégias para a conservação da biodiversidade é avaliar quais fatores têm contribuído para o desenvolvimento desses olhares negativos sobre os insetos, de forma a organizar processos capazes de minimizá-los. Nesse contexto, a escola representa o espaço social responsável pela promoção dos saberes científicos e por isso a necessidade de se investigar como os conceitos científicos podem contribuir para a (re)construção dos olhares da sociedade sobre os insetos. Nesse aspecto, a teoria das representações sociais pode ser uma abordagem importante na investigação dos fatores que influenciam na construção dos olhares e saberes da sociedade sobre os insetos nos diferentes contextos culturais. As representações sociais na Psicologia Social contribuem para o entendimento dos fenômenos sociais bem como classificar grupos culturais a partir da leitura do significado dos seus discursos. O conteúdo insetos é encontrado em praticamente todos os programas e propostas curriculares das disciplinas da área e está presente na maior parte dos livros didáticos de Ciências e Biologia voltados para a escola básica (TRINDADE et al., 2012). Contudo, esse grupo, assim como os artrópodes de maneira geral, constitui um grande desafio para o ensino de Ciências em função de sua grande diversidade taxonômica, de formas e de funções, pois essas características têm como consequência uma diversidade de equívocos conceituais sobre esse grupo (PINHEIRO et al., 2014). No ensino de Ciências os alunos confundem 6224
3 constantemente os insetos com outros invertebrados, e até mesmo vertebrados. Souza et al (2013) demonstraramque há diferenças significativas, embora sutis, da percepção entomológica entre educandos que já tiveram contato com o conteúdo sobre insetos, na disciplina de Ciências, em oposição àqueles que não tiveram Os autores concluíram que Para um efetivo aprendizado o ensino não deve levar em consideração somente os aspectos conceituais, é preciso considerar também as concepções dos alunos, as quais são influenciadas pela cultura. Além disso, o professor tem o desafio de desenvolver nos alunos o gosto por esses seres e para tal é preciso superar tanto barreiras culturais quanto até mesmo a própria distância filogenética entre esse grupo e o homem (p. 76). Nesse contexto, uma questão importante é como essas representações sociais atingem as crianças. Pinto e Sarmento (1997) destacam que as crianças são sujeitos ativos na produção e compartilhamento das representações entre seus pares, o que justifica a realização depesquisas sobre suas formas de construção de estratégias de relacionamento com o mundo que as rodeia. Segundo Lopes et al. (2013, p. 127) os primeiros contatos com insetos ocorrem na infância, sejam diretos ou indiretos, isto é, por citação originária de pessoas da família. Possivelmente, crianças de até os 10 anos já tenham recebido influências significativas de seus meios e pessoas de convivência e já compartilhem das mesmas representações destes grupos. Por outro lado, diversos materiais didáticos ou mesmo por iniciativa dos professores das séries iniciais já abordam o conteúdo insetos, seja de forma direta ou lúdica. Diante disso, uma questão importante e que orientou a presente pesquisa é: as representações sociais dos estudantes das séries iniciais já apresentam traços da sociedade em geral? Para refletir sobre essa questão, neste estudo, avaliaram-se as representações sociais de estudantes do 4º e 5º anos de uma escola do município de São Mateus, Espírito Santo. MATERIAL E MÉTODOS Participaram da pesquisa 36 estudantes do 4º e 5º anos do ensino fundamental I pertencentes a uma escola localizada no município de São Mateus-ES. O contato inicial com escola se deu através do estágio supervisionado I em agosto de Os estágios I e II representaram um período de observações e com pouco contato com os alunos. A partir do estágio III e IV, durante o ano letivo de 2014, houve uma maior aproximação e aceitação dos pesquisadores o que permitiu a coleta dos dados. Inicialmente, houve uma avaliação prévia acerca do conhecimento dos estudantes do 4º 6225
4 e 5º ano sobre os insetos, onde foi perguntado quais insetos que eles mais conheciam, se eles gostam dos insetos e por quê, e se eles consideravam os insetos importantes e por quê. Em seguida, as crianças foram incentivadas a desenharem os três insetos que eles mais conheciam. Derdyk (1989) salienta o poder de evocação e interpretação da imagem visual. Como pensamento visual, o desenho é estímulo para exploração do universo imaginário e também instrumento de generalização, de abstração e de classificação. A autora ainda ressalta que o desenhar envolve diferentes operações mentais, selecionando e relacionando estímulos, simbolizando e representando, e a partir disso, favorecendo a formação de conceitos. Em outro momento, foi realizada uma atividade de apresentação de uma caixa entomológica e outra caixa com animais equivocadamente relacionados aos insetos. Porem, essa atividade foi desenvolvida em parceria com a professora da turma, pois, a complexidade do contexto dos anos iniciais demanda que se desenvolva o trabalho por meio de parcerias com profissionais que já atuam na escola com essa faixa etária (MUNFORD, et al., 2011). A análise dos dados obtidos a partir dos textos e os desenhos das crianças considerou, inicialmente, os termos utilizados para definirem as características positivas e negativas dos insetos. Com base nesses termos cada criança foi incluída em uma das 3 categorias de representação dos insetos: (1) Positiva: quando a criança manifestou apenas características positivas sobre os insetos. (2) Negativa: quando a criança manifestou somente características negativas sobre os insetos e (3) Mista: quanto a criança apresentou tanto característica positiva quanto negativa sobre os insetos. Visando aprofundar a compreensão da estrutura cognitiva que dá suporte às representações sociais das crianças, procurou-se revelar as categorias conceituais presentes nos textos sobre a importância dos insetos. Para isso, submeteu-se os dados à análise de conteúdo. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nos resultados obtidos a partir da análise dos desenhos e das questões direcionadas às crianças foramrepresentados diversos insetos lineanos, conforme a tabela 1. Nos desenhos e textos foram identificados 26 grupos taxonômicos do quais 10 não são sistematicamente relacionados à classe Insecta e compreendem animais normalmente representados sob o aspecto negativo pela sociedade:caracol, minhoca, urubu, cobra, aranha, calango, centopeias, lesma, periquito e sapo.seguindo as conclusões de Lopes et al. (2013) é possível que muito 6226
5 da identificação que as crianças demonstraram se baseiam nos insetos conhecidos tanto pela experiência pessoal quanto pelo uso de certos insetos pela mídia, em especial nos desenhos animados e filmes infantis. Isso ajuda a explicar a presença de antropomorfização nos desenhos das crianças, com os insetos com olhos, nariz e boca sorrindo, além de pernas e braços. Quando aos grupos não sistematicamente relacionados, um aspecto que possivelmente dificultaessa diferenciação é a ausência de contato dos estudantes com esses animais em aulas de zoologia adequadas para essa finalidade. Tabela1: Grupos representantes dos insetos e respectivas frequências que apareceram nos desenhos de 36 crianças do 4º e 5º ano do Ensino fundamental de uma escola de São Mateus- ES. Os grupos com * não são sistematicamente associados à classe Insecta. Nº inseto 4º ano 5º ano Nº inseto 4º ano 5º ano 1 Borboleta Abelha Barata Calango* 1-3 Caracol* 6-16 Centopéia* Mosca Cupim 1-5 Mosquito Gafanhoto Formiga Lavadeira 1-7 Besouro Lesma* 1-8 Lagarta Louva-a-deus Minhoca* Marimbondo 1-10 Urubu* Periquito* 1-11 Cobra* 3-24 Cigarra 1-12 Aranha* 2-25 Sapo* 1-13 Grilo Joaninha - 9 As 36 crianças evocaram 15termos para se referirem às características dos insetos os quais foram retidos 96 vezes sendo que os termos para as características positivas foram repetidos 66 vezes contra 32 vezes para as características negativas. A partir da análise das características atribuídas aos insetos arepresentaçãopositiva foiatribuída a 16 crianças com base na evocação dos seguintes termos: importantes, legais, bonitos/coloridos, (pertencem/são importantes para/na) natureza e gosto. A representação negativa foi atribuída a 10 crianças que evocaram os seguintestermos: chatos, feios, perigosos, (causam) doenças, nojentos, barulhentos, bravos, sem importância, comem muito. As representações mistas, quando a criança atribuiu tanto qualidades positivas quanto negativas aos insetos, foramatribuídas para 10 crianças a partir dos mesmos termos citados 6227
6 nas representações acima além dos seguintes: limpos, interessantes e divertidos.nesse caso, mesmo aqueles que responderam que não gostavam dos insetos, também afirmaram que eles são importantes com destaque para a sua importância para as plantas. A análise de conteúdo revelou 75 manifestações dos estudantes sobre os insetos das quais emergiram 7 subcategorias sendo 4 de representações positivas e 3 negativas (tabela 2), conforme descritas a seguir. - Funções ecológicas: esta subcategoria foi representada por 11 manifestações acerca da importância dos insetos para as plantas. Especificamente, as crianças relacionaram a importância dos insetos à polinização, à produção de frutos e sementes e ao desenvolvimento geral das plantas. - Pertencem/ajudam a natureza: nesta subcategoria foram identificadas 7 manifestações nas quais as crianças consideraram os insetos importantes apenas por pertencerem à natureza, ou seja, passaram uma ideia de que os insetos fazem bem à natureza, mas não especificam os motivos para isso. - Estética/biofilia: a hipótese da Biofilia proposta pelo biólogo Americano Eduard O. Wilson (1984), defende a ideia da existência de uma necessidade intrínseca do ser humano manter algum vínculo com a natureza. Wilson sugere que essa ligação emocional deve estar nos nossos genes, ou seja, tornou-se hereditária, provavelmente porque 99% da história da humanidade não se desenvolveram nas cidades, mas em convivência íntima com a natureza (Wilson, 1993). Essa ideia de vínculo estético ou de empatia com os insetos sem um motivo aparente foi registrada 10 vezes nos textos que acompanham os desenhos das crianças. - Simplesmente importantes: Foram incluídas nesta subcategoria de representação positiva todos os casos em que as crianças responderam que os insetos são importantes, mas não indicaram os motivos para isso. Essa situação foi registrada 11 vezes. - Perigos/doenças: Nesta subcategoria foram incluídas as 19 manifestações que fizeram referências negativas aos insetos relativas aos perigos por ocorrência de acidentes e transmissão de doenças. - Nojo/repulsa: incluíram-se nesta categoria as 10 manifestações que indicaram os insetos como animais nojentos. - Não são importantes: um grupo de 10 manifestações reuniram declarações que não consideram os insetos importantes. Os motivos indicados para isso foram os perigos que eles acometem as pessoais bem o nojo que eles passam. 6228
7 Tabela 2: Representações e discursos de crianças do ensino fundamental I de uma escola de São Mateus-ES para se referirem à importância dos insetos e à suas afinidades com os mesmos. Representações POSITIVAS NEGATIVAS Categorias emergentes Funções ecológicas Pertencem/ ajudam a natureza Simplesmente importantes Estética/ Biofilia Perigo/ doenças Nojo/ repulsa Não são importantes Discursos registrados Total Ajudam as plantas a se desenvolverem - A2. são importantes para as plantas - A3 Fazem bem para as plantas - A4 Sem eles o mundo não seria assim (desenho de plantas). A5 Sem insetos não existiriam vegetais. Produzem frutas. A6 Ajudam as plantas a nascerem polinização. Ajudam as plantas 11 a virarem sementes - A9 Sem os animais não existiriam frutas. Produzem as sementes - A10,A6 Ajudam as plantas - A14 Polinização - A16 Ajudam as plantas - A18 São da natureza. Ajudam a natureza. - A1, A17, A23 São importantes/trabalham pela natureza. - A4, A24 7 São bonitos e fazem bem à natureza - A21,A22- Consideram importantes, mas não responderam por qual motivo. 11 A7, A15, A19, A20, A21, A22, A25, A32, A33, A34, A35 São coloridos - A2, A7 Não tenho nojo - A3 Borboletas enfeitam a natureza - A5 10 Gosto muito deles - A8 São bonitos e fazem bem à natureza - A21, A22 Bonitos e legais. - A19, A23, A24 Só vivem comendo as plantas - A11 Fazem mal para nós / Causam doenças - A12, A13, A14 O grilo é barulhento, marimbondo é bravo - A26 São feios, perigosos e (...)nojentos - A17, A18, A26, A28, A31, A32,A33, A34, A36, 19 O Calango, perigoso e fortes. - A29 A cobra e besouros nojentos e perigosos. - A30 Porque picam /mordem a gente - A15, A16 São chatos. - A35 (...) Sãonojentos. - A17, A18, A26, A28, A30, A31, A32,A33, 10 A34, A36. Não consideram importantes por serem perigosos ou nojentos. 07 A11, A12, A13, A28, A29, A30, A31 Total 75 Conforme se pode observar na tabela 2 as manifestações negativas não superaram as positivas, o que pode ser considerado um fator positivo, pois há, de forma generalizada na sociedade, uma representação negativa dos insetos. Mesmo assim, a presença de organismos não insetos com conotação de perigo ou repulsa nas respostas das crianças evidenciam a solidez do núcleo central das representações sociais que os estudantes carregam, como resultado da memória coletiva. 6229
8 A presença de diversos grupos não sistematicamente relacionados com os insetos nas respostas e desenhos das crianças corroboram a hipótese da ambivalência entomoprojetiva, segundo a qual os seres humanos tendem a projetar sentimentos de nocividade, periculosidade, irritabilidade, repugnância e menosprezo a animais não-insetos, associando-os à categoria inseto determinada culturalmente (COSTA NETO & PACHECO, 2004). Resultados semelhantes também foram registrados nos trabalhos de Silva & Costa Neto (2004), Costa Neto & Pacheco (2004), Costa Neto & Carvalho (2000) e Modro (2009). Esses resultados corroboram a afirmação de Trindade et al. (2012) de que isso acontece porque os seres humanos respondem à diversidade faunística de seu ambiente agrupando os animais pelas semelhanças e separando-os pelas diferenças. Além da herança social, que justifica a construção das representações sociais, outra explicação para o sentimento repulsivo das crianças em relação aos insetos, pode ser uma experiência ruim com esse grupo (LOPES et al.,2013), pois, se esse contato for carregado de conotação negativa, a criança, assimilando-a, formará um conceito equivalente dos insetos (p. 127).Os autores defendem que esse conceito pode perdurar além de seu aprendizado formal, seja pela ausência de acesso à informação mais ampla ou pelos equívocos das representações dos próprios educadores. De maneira geral, os resultados indicam que osconhecimentos científicos sobre a relação dos insetos com as plantas constituem elementos importantes presentes na estrutura cognitiva das crianças e corroboram com as ideias de objetivação e ancoragem, processos interdependentes,presentesna teoria das representações sociais. O processo de objetivação ocorre quando o sujeito torna acessível ao senso comum um esquema conceitual e lhe confere significado real. Sendo assim,entende-se que ocorreu a objetivação quandoum conceito como polinização, considerado abstrato para as crianças, passou a ser acessível e compreensível como significado real de função ecológica importante que os insetos desempenham na natureza. A partir dessa objetivação as crianças conseguem compreender, fisicamente, um processo ecológico envolvendo a interação entre insetos e plantas. Por outro lado, a ancoragem amarra as ideias e os sentidos que nos são estranhos às categorias e imagens que já nos são comuns, trazendo-as para um contexto conhecido (BARRA NOVA & MACHADO, 2013, p. 246). Assim, é um indicativo de ancoragem o fato de as crianças trazerem a ideia estranha e abstrata da polinização para algo concreto e familiar em sua estrutura cognitiva como produzir os frutos e semente. Apesar da aproximação conceitual com a realidade, esses conhecimentos parecem atingir apenas o sistema periférico das representações sociais das crianças, considerando que a ideia 6230
9 de nojo e nocividade ainda persiste. É por isso que Franco (2004, p. 175) afirma que o sistema periférico permite a adaptação à realidade concreta, determina sua organização e a diferenciação do conteúdo, protegendo o sistema central. Dessa forma, os conhecimentos científicos da escola são absorvidos pelo sistema periférico permitindo que os estudantes possam lidar com as novas situações sociais, com o contexto imediato. Mas, não transformam os reais significados que os insetos têm para eles. Sobre isso, Franco (2004, p. 176) complementa que os elementos do sistema periférico funcionam como esquemas organizados pelo núcleo central, garantindo o funcionamento instantâneo da representação como grade de leitura de uma dada situação e, consequentemente, orientando a tomada de posições. Dessa forma, fica evidenciada a força da construção coletiva dos conceitos e valores culturais sobre os insetos herdados socialmente como animais nojentos e perigosos. Essas categorias são os elementos que apresentam maior resistência à mudança, constituindo o componente que induz à predominância do significado pejorativo verificado para os insetos. A permanência dessas representações na estrutura cognitiva das crianças evidenciam que elas não se localizam apenas nos planos subjetivos ou intrapessoais, mas são circulantes, sociais, ou seja, são ideias construídas em interações intersubjetivas e transubjetivas, como demonstrou Jodelet (2007). CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos neste estudo permitiram verificar que os conhecimentos científicos estão presentes na construção das representações sociais do conceito inseto dos estudantes. No entanto, constatou-se ainda que as representações sociais estão sob efeito da ambivalência entomoprojetiva, resquícios do pensamento coletivo que permanece no núcleo central das representações sociais. Os resultados corroboram a importância das ações de conscientização e divulgação científica sobre os insetos para os alunos desde os primeiros níveis de ensino, podendo assim despertar interesse com relação aos insetos e popularizar o saber científico. Nesse contexto, a utilização da caixa entomológica foi relevante, pois permitiu às crianças o contato direto com o objeto em vez de apenas receber informações teóricas sobre o mesmo. Diante dos resultados, é importante destacar as responsabilidades dos pesquisadores diante da falta de conhecimento e dos constantes equívocos sobre os insetos. Além disso, considerando que o conhecimento prévio é uma variável importante na aprendizagem de novos conhecimentos, fica evidente a necessidade de que, cada vez mais, educadores e 6231
10 pesquisadores explorem as representações sociais que os alunos trazem para a sala de aula (TRINDADE et al, 2012). Portanto, torna-se relevante alertar para a importância da atuação da escola e da universidade na desmistificação das representações sustentadas pelos estudantes. REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTTI, A. J. Representações sociais e educação: a qualidade da pesquisa como meta política.representações sociais, uma teoria sem fronteiras, p , ANDRADE, R. C.; RODRIGUES e SILVA, F. A.; COUTINHO, F. A. Etnoentomologia em uma leitura ator-rede: implicações para o ensino de biologia junto a povos do campo.in: V Encontro Nacional de Ensino de Biologia, 2014, São Paulo, SP. V Encontro Nacional de Ensino de Biologia, II Encontro Regional de Ensino de Biologia, ARRUDA, A. Teoria das representações sociais e teorias de gênero. Cadernos de Pesquisa, n. 117, novembro/ 2002 Cadernos de Pesquisa, n. 117, p , novembro/ BARRA NOVA, T. de B.e MACHADO, L. B.. Crianças em processo inicial de escolarização e suas representações sociais de escola. Quaestio, Sorocaba, SP, v. 15, n. 2, p , dez COSTA NETO, E. M. Etnoentomologia alagoana, com ênfase na utilização medicinal de insetos (Monografia de Iniciação Científica Pibic/CNPq/Ufal) - Universidade Federal de Alagoas, Maceió, COSTA NETO, E. M. & P. D. de CARVALHO. Percepção dos insetos pelos graduandos da Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia, Brasil.Acta Scientiarum, 22(2): , COSTA NETO, E. M. A etnocategoria inseto e a hipótese da ambivalência entomoprojetiva.acta Biológica Leopoldensia, 21(1): COSTA NETO, E. M. Etnotaxonomia zoológica do grupo indígena Pankararé do Raso da Catarina, Bahia. In: Encontro de Zoologia do Nordeste, 11. Fortaleza. Resumos. Fortaleza: UFC/Sociedade Nordestina de Zoologia p. 126,
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